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Bruno Pontes Aulas 11 e 12 Organização do Estado e dos Poderes

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AULAS 11 E 12 – ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES 
 
X. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES 
a) Notas preliminares 
b) União, Estados, Distrito Federal e Municípios 
c) Repartição de competências 
d) Poder Judiciário 
e) Poder Legislativo 
e.1) Poder de julgar 
e.2) Deputados e senadores 
e.3) Atribuições do Congresso Nacional 
e.4) Comissões parlamentares 
e.5) Garantias dos parlamentares 
e.6) Reuniões; 
e.7) Tribunal de contas; 
f) Poder Executivo 
f.1) Substituição e sucessão do Presidente da República 
f.2) Decreto autônomo 
f.3) Decretos regulamentares 
f.4) Crimes de responsabilidade 
f.5) Chefe de Estado, de Governo e da Administração 
g) Intervenção federal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo VIII 
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES 
 
 a) Notas preliminares 
Antes do estudo específico sobre os Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, faz-se 
necessário arregimentar alguns estudos e conceitos objetivos e preliminares, para a boa compreensão 
do Estado e da sua organização político-administrativa. 
 
Povo. Território. Governo. Soberania. Bem comum. Fato social. 
 
O próprio Estado deve ser visto como um agrupamento humano radicado em uma base 
espacial, que se submete ao comando de uma autoridade forte e que não se sujeita a nenhuma outra. O 
agrupamento humano é o povo; a base espacial é o território; a autoridade é o poder; a não sujeição 
deste a qualquer outro é a soberania. 
Este foi o conceito mais divulgado, depois que o italiano Nicolau Maquiavel 
(03.05.1469-21.06.1527) começou a escrever, nas suas principais obras (“O Príncipe” e “Discursos sobre 
a primeira década de Tito Lívio”), como são e como deveriam ser o Estado e o Governo. O Estado, então, 
é uma Instituição que se organiza soberanamente em determinado território, que um determinado 
povo e um governo. 
Hoje em dia, é comum acrescentar ao conceito de Estado, o elemento finalístico, no 
sentido de que ele só pode ser constituído para o bem comum. 
Também é comum, por ser a mais pura verdade, afirmar que o Estado é antes de tudo 
um fator social, porque é estefator que força o surgimento do Estado Os homens, percebendo que a “lei 
do mais forte” começava a deturpar a vida social, com ameaça e extinção de direitos básicos 
(propriedade, vida e liberdade, em especial), eles próprios forjaram a figura do Estado, para ser a 
autoridade para fazer-lhes a proteção devida. Assim, como negar que o Estado é um fator social? A 
comprovação está na história da humanidade: basta olhar para trás e perceber que o Estado surge, se 
desenvolve, se fortalece e se enfraquece em consequência dos movimentos sociais. 
Povo não se confunde com população, porque nele não estão inseridos os estrangeiros. 
População inclui os estrangeiros porque é o conjunto de habitantes do país, do estado, do município, da 
região, do bairro etc. Vê-se, pois, que o conceito de população é meramente geográfica: quantidade de 
seres humanos que estão em determinado território. 
Nação também se diferencia de povo e população, porque nação significa o conjunto de 
pessoas que estão fixados em determinado território, e que têm entre si um maior vínculo emocional, 
causado por questões culturais, históricas e até religiosas. Nação, então, pressupõe o agrupamento 
humano com consciência coletiva e sentimento de que todos têm a mesma origem. 
O que é, então, o povo? É o conjunto de cidadãos estabelecido em determinado 
território e governado soberanamente. Por isso é que só podem entrar no conceito de povo as pessoas 
que têm condições de transferir o poder para que o governo seja soberano, e esta condição se dá pela 
capacidade eleitoral ativa. Isto é assim porque o titular da soberania e do poder constituinte é o povo 
(não é nação ou a população). Não por outro motivo que o parágrafo único do art. 1º da CF/88 diz que é 
o povo o responsável por fazer emanar o poder para seus representantes. 
Apesar de não destacar expressamente os mesmos termos, a CF/88, art. 1º, parágrafo 
único, abarcou o espírito da Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, de 1776 (“Todo poder 
reside no povo e, por consequência, deriva do povo; os magistrados são seus mandatários e servidores 
são responsáveis a todo o tempo perante ele”), da posterior Declaração de Independência dos Estados 
Unidos (“Os governos são estabelecidos entre os homens para assegurar estes direitos e os seus justos 
poderes derivam do consentimento dos governados; quando qualquer forma de governo se torna 
ofensiva destes fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la, e instituir um novo governo, baseando-o nos 
princípios e organizando os seus poderes pela forma que lhe pareça mais adequada a promover a sua 
segurança e felicidade”) e da França Revolucionária de 1789 (“O princípio de toda a soberania reside 
essencialmente na Nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que 
daquela não emane expressamente”). 
A diferença primordial entre Estado e nação é que esta é uma realidade sociológica, e 
Estado é realidade sociológica e jurídica. 
 
Soberania e Estado Imperfeito 
 
O governo tem por característica a soberania, em relação aos poderes externos. 
Quando há restrição em qualquer dos elementos constitutivos do Estado, o Estado não é perfeito. 
Ocorre a figura do Estado imperfeitoem algumas formas estatais, hoje vigentes, como é o caso da 
pequena república de San Marino, cravada na Itália, com Constituição própria, e também de Porto Rico, 
denominado “Estado Livre Associado”, porque associado aos Estados Unidos (conquistado pela Espanha 
em 1493 e cedido aos EUA em 1898, com referendo em 1998 para manter este status). O caso mais 
conhecido de Estado imperfeito é o Principado de Mônaco, incrustado no território francês. 
Soberania se expressa conceitualmente na relação internacional, e não na relação 
interna. Assim, os Estados brasileiros têm autonomia, mas a República Federativa do Brasil, verdadeiro 
Direito das Gentes em relação ao mundo, tem soberania. 
No plano internacional, há quem defenda a limitação da soberania no princípio da 
coexistência pacífica das soberanias. No plano interno, o jusnaturalismo quer limitá-lo, mas é aceita a 
sua ausência de limitação. 
Por isso, é comum dividir a soberania do Estado, então, em interna e externa. Interna 
para sobrepor soberanamente as decisões e normas para todos que estejam no território nacional, e 
externa para revelar a capacidade do Estado em negociar com outros países em pé de igualdade, sem 
submissão, inclusive para fazer Tratados Internacionais. 
Não se pode negar, entretanto, que o conceito de soberania está em crise, visto que os 
países já estão chegando a um consenso de que, sozinhos, não conseguem resolver os inúmeros 
problemas globais que, de uma forma ou de outra, afetam as questões internas de todos eles (tráfico 
internacional de drogas, aquecimento global, escassez de alimentos e água etc.). Assim, ganha força 
cada vez mais um constitucionalismo global, em que parcelas das soberanias nacionais são limitadas ou 
divididas, permitindo Tribunais de Justiça com jurisdição para mais de um país, como é o caso do 
Tribunal de Justiça da União Europeia e o Tribunal Penal Internacional, além dos Blocos Econômicos com 
regras próprias (Mercosul, NAFTA, União Europeia, ALCA etc). 
 
A soberania, então, passa a ser dual: uma parcela para o Estado Nacional, e outra 
parcela para os demais Estados que compõem o mesmo conglomerado, ou ainda para o restante da 
humanidade. 
 
Formas de Estado. 
 
A formação de um Estado (daí “Formas de Estado”) pode se dá pela centralização da 
responsabilidade de prestar serviços e decidir politicamente sobre os principais temas nacionais. Ao se 
formatar um Estado, logo se pensa nas formas deexercício do poder político em determinado território. 
Se o exercício deste poder político for centralizado, o Estado é centralizador, e aí aparece o Estado 
Unitário; se o exercício for descentralizado, aparece o Estado Federado. A depender da intensidade 
desta descentralização, pode aparecer, por sua vez, o Estado Confederado. 
A compreensão da forma do Estado, então, passa necessariamente pela análise das 
formas e da intensidade da centralização ou da descentralização do poder político dentro do seu 
território. Daí porque, a depender da intensidade da descentralização, pode surgir novas formas que 
antigamente eram desconhecidas, como é o caso do Estado Regional da Itália, e do Estado Autonômico 
da Espanha. 
A doutrina costuma utilizar duas classificações das Formas de Estado. Uma, mais 
simples, e outra um tanto mais complexa. 
1ª Classificação das Formas de Estado: 
 
Estado Simples/Unitário e Estado Composto/Complexo. Será simples quando no 
território há concentração do poder político. Será composto quando há descentralização do poder 
político. O Estado Simples se subdividiria em Estado Unitário Puro, Estado Unitário Descentralizado 
Administrativamente e Estado Descentralizado Administrativamente e Politicamente. O Estado 
Composto se subdividiria em Estado Federado e Estado Confederado. 
 
a) Estado Unitário (centralização do poder político): 
a.1) Estado Unitário Puro (total centralização, o que é impossível porque há 
necessidade de descentralizar minimamente a prestação de serviços); 
a.2) Estado Unitário Descentralizado Administrativamente (as decisões políticas 
são tomadas no centro, mas a execução das decisões são realizadas pelos 
distritos ou departamentos, mas a mando do centro); 
a.3) Estado Unitário Descentralizado Administrativa e Politicamente (as decisões 
são tomadas no centro, mas a execução das decisões são realizadas pelos 
distritos ou departamentos, a mando próprio). 
 b) Estado Composto 
 b.1) Estado Composto Federado (descentralização do poder político, com vários 
entes com autonomia; a soberania será apenas da reunião de todos os entes, que geralmente forma 
uma República Federativa. É o caso do Brasil, cujos Estados, DF, Municípios e União, têm autonomia, e a 
reunião de todos é que forma a República Federativa do Brasil com soberania); 
 b.2) Estado Composto Confederado (descentralização mais intensa do poder 
político, com vários entes com soberania; geralmente se dá pela reunião de vários países, como no 
Reino Unido, que é a reunião da Inglaterra, da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte). 
 
2ª Classificação das Formas de Estado: 
 
Na segunda classificação, aparece as figuras dos Estados Regionais, que seria uma 
intermediação entre o Estado Unitário e o Estado Federado. Então, a classificação seria a mesma da 
anterior, porém acrescido do Estado Regional e desconsiderando as formas de Estado Unitário: 
 
b) Estado Unitário (centralização do poder político, porém com descentralização de 
parcelas de competência): 
c) Estado Regional e Autonômico (centralização do poder político, porém com mais 
intensidade na descentralização das parcelas de competência, para formar regiões 
com muita autonomia, geralmente por questões históricas e em países com 
problemas de unidade nacional); 
d) Estado Federado; 
e) Estado Confederado. 
 
Em face da constante exigência de novas formas de Estado para atender as complexas 
relações humanas e institucionais, especialmente após o surgimento de vários países depois da 2ª 
Guerra Mundial e da Queda do Muro de Berlim, melhor optar pela segunda classificação, que abarca 
estas mudanças. 
Em relação à quantidade, a forma mais adotada no mundo atual é a forma do Estado 
Unitário, ou Simples, até porque, cada dia mais, os grandes países são divididos para formas outros 
países com base territorial pequena. Se o país tem uma base territorial pequena, não há maior 
necessidade de cindir o território em várias parcelas autônomas com capacidades próprias. É o caso dos 
seguintes países, apenas para citar os mais conhecidos: (...) 
 
No caso de centralização, dá-se o Estado Unitário (ou simples), onde a responsabilidade 
está concentrada em um poder central. Se existe algum tipo de descentralização neste Estado Unitário, 
porque é impossível concentrar todos os serviços em um único lugar, ela é incompleta, porque pouco 
intensa, sem dar autonomia para os centros de competência inferiores; há desconcentração das 
competências sem desconcentrar o poder político (França, Bélgica, Portugal, onde não há a figura do 
Estado-membro como no Brasil). 
No caso de descentralização, dá-se o Estado Composto (ou agrupado), onde cada centro 
de competência tem autonomia, com personalidade jurídica própria, daí porque não há 
desconcentração (há descentralização completa). 
O mundo conheceu casos onde cada Estado, soberano, se agrupou a outro para formar 
uma Confederação (Estado Composto Confederado), mas hoje está em voga o Estado Composto 
Federado, que é a subdivisão do Estado em um poder central (União) e em vários entes da Federação, 
com autonomia e personalidade jurídica própria, como é o caso do Brasil, da Argentina etc. 
Importante lembrar que os Estados Federados se formam pela formação centrípeta ou 
pela formação centrífuga, que é o verdadeiro fundamento de intensidade da repartição de 
competência. Na centrípeta, ou por agregação, vários Estados se agrupam, “rumam para o centro”, para 
formar um só Estado (EUA, por exemplo, formado após a Guerra de Secessão, como o sentimento do “E 
Pluribus Unum” - De Muitos Um). Neste caso, quase sempre os entes da federação mantém a maioria 
das suas competências, daí porque, por exemplo, alguns estados dos EUA têm pena de morte e outros 
não. Na centrífuga (fuga do centro), ou por segregação, inicialmente existia um só Estado, e o poder 
central se desfaz em outros, o que explica, também, a permanência de muitos poderes e competências 
no poder central. Afinal, ninguém quer “largar o osso” (é o caso do Brasil, com muita competência na 
União). 
Ainda se fala em outros tipos de federalismo: 
a) dualista, ou dual – aqui, há repartição horizontal de competências constitucionais nas 
duas esferas de poder, uma para a União e outra para os Estados, com relação de coordenação. Há, 
então, duas competências básicas que se excluem; 
b) deintegração – neste federalismo, há uma sujeição dos Estados-membros à União, 
verdadeira relação de subordinação; 
c) cooperativo – a estrutura normativa constitucional e política dá ênfase à colaboração 
intensa entre os entes da federação, com repartição vertical de competências, sob a coordenação da 
União. Simboliza a transferência de maiores competências para a União, que no Brasil se verificou mais 
intensamente na Constituição de 1934, uma vez que a crise mundial de 1929 foi encarada como duro 
golpe à política puramente liberalista, impulsionando, assim, a concentração de competências para 
viabilizar o Estado provedor dos direitos sociais (WelfareState); 
d) simétrico- concepção que procura igualar a divisão de órgãos tanto no âmbito federal 
como no âmbito estadual, como forma de simetria para as entidades federadas, como é o caso do 
Judiciário dual – na União e nos Estados -, e nas competências comuns, além de previsão de 
instrumentos de aperfeiçoamento, como a intervenção. Quando o Judiciário imita a estrutura da União, 
prevendo um Judiciário e um Ministério Público estadual, assim como o mandato do Chefe do Executivo 
Estadual também em 4 (quatro) anos, estamos diante de exemplo simétrico. Esta simetria também 
ocorre em relação às limitações ao poder de tributar, adotado indistintamente para todos os entes da 
federação (art. 150); 
e) assimétrico - concepção que procura diferenciar as fórmulas adotadas por cada ente 
para regular e sistematizar seus órgãos, em umaverdadeira deformação das técnicas do federalismo 
simétrico. Na CF/88, há concepção simétrica, porém com alguns sinais desta assimetria. Quando a 
Constituição prevê o Município como ente federativo, mas não possibilita que ele imite a organização do 
Estado em que se encontra, e não tenha Judiciário, há exemplificação de federalismo assimétrico; o 
mesmo se dá quando o Estado não segue o modelo bicameral do Legislativo Federal; 
f) deequilíbrio – há uma preocupação em se priorizar o equilíbrio entre integração e 
autonomia, entre a unidade e a diversidade, tendo como fundamento as aspirações de independência e 
solidariedade dos homens; 
g) fiduciário -seria a maior possibilidade de ajuda financeira mútua entre os entes 
políticos da Federação (no Brasil, pode-se dizer que o art. 21, XIV, que possibilita a União prestar 
assistência financeira ao Distrito Federal, para a execução de serviços públicos). 
Diz-se que a Constituição de um Estado Federal possui natureza dúplice, na medida em 
que estabelece uma ordem jurídica central, válida para todo o território nacional, e outras ordens 
jurídicas locais, válidas para parte do território (para os Estados-membros). A ordem jurídica central 
estabelece, então, uma comunidade jurídica total, que engloba a todos, mas dá espaço para a existência 
de comunidades locais. 
A nossa Federação é cooperativa, com repartição horizontal de competências, o que é a 
regra, existindo exceções verticais, como é o caso da competência legislativa concorrente. Tem 
formação centrífuga e é simétrica, com alguns casos isolados de concepções assimétricas. 
 
Formas de Governo. 
 
Formas de governo referem-se ao modo de atribuir o poder aos governantes e a forma 
de exercer este poder. É, por assim dizer, a maneira como se organiza e se exerce o poder político na 
sociedade e, consequentemente, a relação que se trava entre governantes e governados. Formas 
normais de governo ficaram conhecidas inicialmente como: a) Monarquia – uma só pessoa; b) 
Aristocracia – poucas pessoas; c) Democracia – todas as pessoas. Formas anormais, então, seriam a 
Tirania, a Oligarquia e a Demagogia. As principais formas de governo, entretanto, foram sedimentadas 
com maior cientificidade por Maquiavel, que as concebeu:a) Monarquia; b) República. Apesar das 
subdivisões que ocorreram, o importante para a história foi a caracterização da república em requisitos, 
como a temporariedade do exercício do poder pelos governantes, a responsabilidade e a eletividade 
destes pelo povo. 
 
Sistemas de Governo. 
 
Já os sistemas de governo referem-se à conjugação dos poderes que existem no Estado. 
Daí a diferença entre “sistema” - de governo, que pressupõe um complexo de órgãos ou poderes para 
serem sistematizados, e “forma” – de governo, que pressupõe a maneira de exercício dos eventuais 
órgãos ou poderes do Estado. Não por outra razão, então, que os sistemas de governo são: a) 
presidencialista, onde o Presidente é Chefe de Estado e Chefe de Governo, não havendo transferência 
de nenhuma destas chefias para o outro Poder, razão porque o Legislativo não tem funções de executar 
as leis, daí ser típico da República; b) parlamentarista, onde o Presidente só é Chefe de Estado – 
representatividade internacional -, repassando para o Legislativo a Chefia de Governo, na pessoa do 
Primeiro-Ministro, daí ser típico da Monarquia; e c) diretorial, onde se convenciona sistematizar as 
funções executiva e legislativa em um só órgão. 
 
Regimes Políticos 
 
Ainda se fala em regimes políticos, da autocracia e da democracia, aquela de modo 
imposto pelo Chefe Maior, ou pelo grupo pequeno e apequenado de dirigentes, e esta de baixo para 
cima, pelo povo. 
 
Divisão de Poderes e o Sistema de Freios e Contrapesos 
 
Alfim, não menos importante é destacar que é acatada a ideia de que a divisão do 
Estado entre Poderes é um princípio geral do Direito Constitucional, na medida em que serve de base 
teórica para qualquer formação constitucional, e faz surgir, também, o Estado Democrático de Direito, 
onde a lei é a base não só para limitar a ação estatal, como também para servir de instrumento de 
transformação da sociedade. 
A divisão do poder em funções (na verdade, o poder é uno, e a existência de “Poderes” 
é meramente didática, porque diante da unidade do poder há uma divisão de funções) é uma garantia 
ao povo contra o arbítrio, na medida em que os Poderes se autorregulamentam, se autolimitam, sempre 
que há arbitrariedade de um em relação ao outro, ou até em relação ao próprio povo. 
Assim, os poderes fazem fiscalização mútua, freando o arbítrio e se contrapondo ao 
peso político e jurídico do outro. A consequência é o benefício que traz para o cidadão, pois o equilíbrio 
e a fiscalização recíproca evita que existam arbitrariedades estatais. O cidadão, então, vive com mais 
tranquilidade e segurança. Este sistema é chamado de sistema de freios e contrapesos. (“checkan 
balances system”. O sistema do “checkandbalances”, então, é um sistema que regula os Poderes da 
República Federativa do Brasil, contrabalanceando o exercício dos Poderes para equilibrar a 
independência e harmonia dos mesmos, afastando a possibilidade de arbítrio e autoritarismo de um 
Poder sobre o outro ou sobre os governados. Assim, há um sistema de freios e contrapesos entre os 
Poderes, cada um deles interferindo na atividade do outro para manter o equilíbrio e evitar o arbítrio e 
o despotismo no exercício de um dos Poderes da República. A independência dos Poderes serve para 
que cada um possa se autoadministrar, mas, também, que tenha a capacidade de fiscalizar o outro 
poder. 
É evidente, entretanto, que cada Poder tem funções administrativas, porque seria 
impensável, por exemplo, que o Judiciário não administrasse seus prédios, seus servidores e seu 
patrimônio. De modo que não há uma rigorosa divisão de poderes, até porque um poder poderá exercer 
de modo atípico (excepcionalmente), os poderes típicos do outro poder (Executivo legislando por 
Medida Provisória e leis delegadas, Legislativo fazendo investigação por CPI´s e julgando pelo Senado, 
por exemplo). 
Não se pode confundir, então, quando a Constituição estabelece um mecanismo de 
freios e contrapesos, e quando ela estabelece exceções à separação de poderes. Sempre que um Poder 
exerce uma função que, via de regre, é exercida pelo outro Poder, estaremos diante de uma exceção à 
separação de poderes. Porém, sempre que um poder apenas interfere no outro, sem exercer suas 
funções, estaremos diante do sistema de freios e contrapesos. 
 Os exemplos do sistema do “checkandbalances” na nossa Constituição são os seguintes: 
 1) Julgamento das contas do Presidente da República pelo Legislativo (art. 49, IX). Aqui 
há uma interferência do Legislativo no Executivo, para equilibrar os Poderes e evitar o arbítrio; 
 2) Controle de legalidade do ato administrativo pelo Judiciário (art. 5o, inciso XXXV – 
inafastabilidade jurisdicional). Aqui o Judiciário interfere no Executivo, e até no Legislativo, quando age 
administrativamente para se auto-organizar; 
 3) Convocação de Ministros de Estado e qualquer titular de órgão diretamente 
subordinado à Presidência da República (art. 50). Interferência do Legislativo nas funções executivas 
(José Afonso da Silva considera tal hipótese com exceção à divisão dos Poderes, mas ouso discordar, 
data vênia, já que aqui um Poder não exerce função típica de outro Poder, e sim função típica do próprio 
Poder Legislativo, já queeste poder tem a função de fiscalizar); 
 4) Escolha e aprovação de magistrados pelo Executivo e Legislativo (art. 52, III e IV). 
Interferência do Legislativo e do Executivo nas funções de auto-organização do Poder Judiciário; 
 5) Controle externo feito pelo Legislativo sobre os demais, com auxílio do Tribunal de 
Contas (art. 71). Interferência do Legislativosobre o Executivo e sobre o Judiciário; 
 6) Congresso autorizar o Presidente e Vice-Presidente para viajar por mais de 15 dias 
(art. 49, III). Interferência do Legislativo sobre o Executivo; 
 7) Sustação de atos normativos do Executivo pelo Legislativo (art. 49, V). Interferência 
do Legislativo em atos do Executivo. 
 Além desses casos, podemos citar ainda, dentro do sistema de freios e contrapesos, o 
veto (art. 66, §§1º e 2º), onde o Executivo interfere na função legislativa do Legislativo para fiscalizá-la e 
equilibrar os Poderes, evitando arbítrio e irregularidades, e a rejeição ao veto (art. 66, §4º), onde o 
Legislativo é que interfere na atividade do Executivo de vetar. 
 Nas exceções à separação dos poderes, um Poder realiza funções atípicas, como é o caso 
das leis delegadas (função legislativa exercida pelo Executivo), do mandado de injunção (função 
legislativa exercida pelo Judiciário, quando se aceita que a natureza da sentença é constitutiva, isto é, 
constitutiva de uma lei reguladora ainda não feita pelo legislativo – teoria concretista), do exercício da 
função de Ministro de Estado, Secretário de Estados, DF e Prefeitura de Capital por Deputados e 
Senadores (função administrativa-executiva exercida por membros do Legislativo), e do julgamento do 
Presidente, Vice-Presidente, Ministros do STF, AGU, PGR, Ministros de Estado e os Comandantes da 
Marinha, Exército e da Aeronáutica (função julgadora exercida pelo Legislativo), e no sistema de freios e 
contrapesos não há exercício de funções atípicas, e sim interferência de um Poder no outro. 
 Quando o Judiciário declara a inconstitucionalidade de uma lei aprovado pelo 
Legislativo, ele estará interferindo na função legislativa, considerando que a Constituição Federal 
reconhece o legislador como a figura expoente para realizar os intentos constitucionais e presume a 
constitucionalidade das leis. Se o Judiciário não faz o controle positivo da constitucionalidade, e sim 
negativo, ele não pode, assim, legislar quando declarar a inconstitucionalidade. O Judiciário, assim, 
quando declara a inconstitucionalidade, ele não exerce a função legislativa, e sim interfere em tal 
função. 
 O mesmo se dá com a nomeação de Ministros pelo Presidente e aprovação pelo Senado, 
já que há uma interferência do Executivo e do Legislativo nas funções do Judiciário de se auto-organizar. 
 José Afonso da Silva diz que a convocação de Ministros pelo Congresso Nacional para 
dar explicações e esclarecimentos faz parte das exceções ao princípio da separação de poderes. Porém, 
com o devido respeito, entendo que não se trata de exceção à separação de poderes, já que quando o 
Congresso Nacional convoca os Ministros, ele não estará exercendo função atípica, isto é, o Congresso 
Nacional não estará exercendo função administrativa ou judiciária, e sim sua própria função de fiscalizar 
os outros poderes. A exceção acontece quando um Poder exercer poderes de outro Poder, e no caso de 
convocação há uma interferência do Legislativo nas funções do Poder Executivo, de modo que faz parte 
do sistema de freios e contrapesos entre os poderes, e não exceção à divisão dos poderes. 
 b) União, Estados, Distrito Federal e Municípios 
Todos os entes da Federação formam uma união indissolúvel da Federação brasileira 
(art. 1º). Eles não têm direito de secessão, e não podem, por isso, se separarem do Brasil. Veja que o art. 
1º não fala na União, pois diz que a união indissolúvel é feita entre Estados, DF e Municípios, mas o art. 
18, complementando-o, diz que a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil 
compreende todos estes entes, e também a União. 
A União, apesar de possuir autonomia com os demais, é a única dos entes da federação 
com dupla posição, porque pode atuar tanto em nome próprio, como verdadeiro ente que compõe a 
Federação, como também em nome da República Federativa do Brasil. Quando atua em nome próprio 
(emissão de moeda, manutenção do serviço postal, decretação da intervenção federal etc.), ela é pessoa 
jurídica de direito público interno; quando atua em nome da República Federativa (manutenção de 
relação com estados estrangeiros, declaração de guerra e paz, garantia da defesa nacional, permissão de 
trânsito de forças estrangeiras no território nacional etc.), ela é pessoa jurídica de direito público 
internacional. Daí a República Federativa do Brasil é entidade do Direito das Gentes, e a União é 
entidade de Direito Constitucional. 
O termo “Direito das Gentes” refere-se ao ramo do direito que regula o relacionamento 
entre os Estados (“ius gentium” ou “Direito dos Povos”). Entretanto, a expressão é muito utilizada para 
englobar a República Federativa porque é ela que se mostra ao mundo exterior. 
As vezes a União é confundida com a própria República Federativa porque cabe à União 
a representação “do Brasil” (da República Federativa do Brasil) no exterior, para manter as relações 
internacionais, causando no mais precipitado a impressão de que a República Brasileira seria a própria 
União. Acontece que tal representação externa é apenas uma competência-função entregue, pelo 
legislador constitucional originário, a um dos entes federativos, por pura opção política, já que poderia, 
por exemplo, escolher o Estado-membro de São Paulo para desempenhar tal tarefa-competência. 
Ademais, mesmo que o território da União seja o mesmo que o território da República 
Federativa do Brasil, tal afinidade é meramente física,e não jurídica, pois os bens pertencentes a um não 
se igualam aos bens do outro, tendo-se em vista que os da União são delimitados constitucionalmente 
(art. 20), e os bens da República Federativa do Brasil abrange os bens da União e de todos os outros 
entes federados. Além disso, a eficácia e validade de atos da União não abrangem toda a República 
Federativa do Brasil, e tão somente aqueles que estão vinculados à União, enquanto que no caso da 
República Federativa envolve todos aqueles que estão no território brasileiro. 
A União possui bem público de uso comum (livre acesso e utilização por todos), de uso 
especial (utilização pela Administração Pública – prédios públicos para funcionamento da máquina 
estatal federal) e dominicais, ou dominiais (aqueles passíveis de alienação, após desafetação, em face da 
natureza jurídica próxima à dos bens privados). 
Os Estados-membros possuem autonomia, e em outros países têm outros nomes 
(Províncias, Cantões etc.). A autonomia, que é própria para todos os entes da federação, significa que o 
ente tem capacidade de auto-organização, auto-governo e autoadministração, além da capacidade de 
fazer suas próprias leis dentro da competência constitucional. 
A competência constitucional dos Estados é, no campo legislativo, a competência 
concorrente, e no campo administrativo, a competência residual. 
Aos Municípios foi concedida autonomia política, elevando-os à categoria de entes da 
Federação, caracterizando a Federação brasileira como “sui generis”. Enquanto no mundo, a maioria das 
Federações apenas concede subdivisões entre Estados pela descentralização (Federação Composta), e 
em muitos países desenvolvidos da Europa a Federação se subdivide pela descentralização, porque se 
utiliza a desconcentração, não concedendo sequer autonomia e personalidade jurídica (Federação 
Unitária), o Brasil adotou incluiu mais um ente. Daí porque este ente, que está fora dos padrões 
mundiais, denominado Município, é conhecido como uma entidade de terceiro grau (como se viu, a 
regra das Federações Compostas é a existência de dois graus: a União e os Estados). 
Há quem defenda que o Município não é ente federativo, porque não participa da 
vontade nacional (não tem representantes no Congresso, não pode propor ação direta de 
constitucionalidade ou inconstitucionalidade, não existe Federaçãode Municípios), e ele seria apenas 
uma subdivisão dos Estados. Porém, o texto constitucional é expresso em inserir o Município na 
Federação, elevando-o à categoria de ente federativo. 
O Distrito Federal tem governo próprio, e é pessoa jurídica de direito público, inclusive 
com capacidade administrativa, judiciária e legislativa. A sede do seu governo é Brasília, que é a capital 
federal. Existe afirmação corrente de que no Distrito Federal ocorre a sede da união dos Estados, e nele 
se manifestam agentes da Federação e agentes da União. O DF não pode ser subdivido em Municípios, 
ao contrário dos Territórios. Como a União tem competência material exclusiva de organizar e manter o 
Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios (art. 21, 
XIII), estes órgãos são administrados, e custeados, pela União. 
Interessante notar que a proibição de subdividir o Distrito Federal em Municípios é tão 
intensa que o STF negou, até, que Lei distrital passasse a administração de quadras residenciais para 
prefeituras comunitárias e associações de moradores, visto que isto seria uma verdadeira afronta ao art. 
32 da CF (ADI 1.706/DF, Rel. Min. Eros Grau, 09.04.2008), até porque a Lei distrital 1.713/97 até permitia 
a transferência, sem licitação, de serviços públicos, como a limpeza, colega de lixo, jardinagem, e ainda 
permitia a fixação de obstáculos para dificultar a entrada e saída de veículos em cada quadra e a 
cobrança de taxas de manutenção e conservação pelas prefeituras comunitárias. 
Os Territórios não fazem parte da Federação. São administrações descentralizadas da 
União. Atualmente, não existem Territórios, mas podem ser criados, de acordo com a regulamentação 
constante de lei complementar (art. 18, §2º), e parte de um Estado pode ser desmembrado para se 
tornar um Território (art. 18, §3º). Fernando de Noronha é um arquipélago brasileiro, e é distrito do 
Estado de Pernambuco desde 1988 (art. 15, ADCT) 
 
 c) Repartição de competências 
A Constituição de 1988 adotou um sistema bastante complexo de repartição de 
competências, muito em função da sua característica compromissória, baseada em intensa negociação e 
atendimento aos diversos matizes políticos e até ideológicos, além da característica sui generis da nossa 
Federação, que não é dualista como no resto do mundo, ao incluir os Municípios como entes 
federativos. Também isto ocorreu porque a própria relação entre os entes federativos envolve muita 
discussão histórica e política, sempre naquele pêndulo: poder e competência da União x poder e 
competência dos demais entes federativos. 
Não se pode negar, então, que a repartição de competência é a pedra de toque do 
federalismo. A depender da extensão, da qualidade e quantidade de competência é destinada à União, a 
forma de Estado pode ser considerada até mesmo unitária. Por outro lado, a destinação exagerada de 
competências para os estados, pode produzir aspectos culturais e políticos que acabe incitando 
movimentos separatistas, ou então pode provocar um perigoso enfraquecimento da União, sob o ponto 
de vista do exercício da soberania de toda a República, vez que é este ente (a União) que tem a 
atribuição de representar a República Federativa. 
Este tema, então, é muito sensível, e implica diretamente na conformação de 
determinado Estado. 
De uma forma geral, a Constituição absorveu e misturou o sistema dos EUA com o 
sistema da Alemanha. Nos Estados Unidos, o sistema básico é o das competências enumeradas e 
implícitas; na Alemanha, o sistema, chamado “sistema quadro”, baseia-se na definição específica de 
competências para todos os entes. Por isso, no sistema brasileiro de repartição de competências, é 
possível encontrar competência exclusiva, privativa, reservada, residual (ou remanescente), enumerada, 
comum (ou paralela ou cumulativa), concorrente, legislativa e administrativa (ou material). Não por 
outro motivo é que surgetanto a repartição horizontal quanto a vertical, e as dúvidas frequentes sobre 
qual lei (federal, estadual ou municipal) deve prevalecer sobre determinado assunto, e até se existe 
hipótese de hierarquia entre as leis dos entes. 
Tentaremos, então, esboçar as regras adotadas pela Constituição de 1988, para 
esmiuçar o complexo sistema brasileiro. 
 
Regra básica da preponderância do interesse 
A regra básica para a repartição de competências, adotada pela CF/88, é a 
predominância do interesse. Isto ocorre porque, geralmente, todos os entes da Federação têm interesse 
sobre todos os temas, mas sempre há de existir um dos entes que tem mais interesse no assunto. Por 
exemplo: a manutenção de relações com os Estados estrangeiros, a declaração de guerra, a defesa 
nacional e a emissão de moeda, certamente são assuntos em que todos os entes têm interesse, mas 
como há maior preponderância do interesse da União, por envolver todo o território, a Constituição 
destina estas competências administrativas para este ente (art. 21, I, II, III e VII). 
Também para legislar sobre determinados temas, o legislador constituinte originário, 
com base neste critério, e levando em consideração a unidade nacional e a tradição brasileira, deixou 
para a União a competência para legislar, por exemplo, sobre a definição de crimes, as relações de 
trabalho e as relações privadas entre os brasileiros (competência da União para legislar sobre Direito 
Penal, Direito do Trabalho e Direito Civil, conforme art. 22, I). Isto quer dizer que os estados e os 
municípios não têm interesse sobre os assuntos envolvendo estes temas? Evidentemente que eles 
possuem interesse, mas considerando aqueles aspectos históricos e tradicionais, além da preocupação 
com a unidade nacional, pode-se dizer que, dentre todos os entes interessados nestes assuntos, a maior 
interessada é a União. 
Veja, portanto, que a regra da preponderância do interesse é um critério político 
utilizado para definição das competências, mas também pode ser um critério de interpretação, quando 
houver dúvida a respeito de qual ente é o competente para tratar das diversas nuanças que envolve 
cada tema. 
 
As demais regras aplicadas na repartição de competência 
 
Na Constituição, constam dois tipos genéricos de competências: a) competência para 
legislar (competência legislativa); e b) competência para administrar (competência administrativa, ou 
material). 
 A competência legislativa refere-se ao processo de produção de normas de conduta, que 
se dá geralmente por leis formais após o processo legislativo no âmbito do Poder Legislativo, mas pode 
ser produzida também por Medidas Provisórias e ainda por normas secundárias, como os Decretos. 
 
A competência material, por sua vez, se atina à necessidade que o ente federativo tem 
de efetivar políticas públicas e promover os direitos sociais do art. 6º da Constituição (educação, saúde, 
alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à 
infância e assistência aos desamparados)1. 
 
Na competência legislativa, a Constituição estipulou, no art. 22, as competências da 
União, e no art. 30, I2, as competências dos Municípios. Para este dois entes, então, o legislador 
constituinte enumerou especificamente as competências. O mesmo não ocorreu para os Estados e 
Distrito Federal, pois lançou a cláusula geral residual, isto é, o que não for vedado e nem for previsto 
para a União e os Municípios, cabe aos Estados e ao Distrito Federal3, nos termos do art. 25, §1º. 
Na competência administrativa, a Constituição seguiu o mesmo caminho, porque 
enumerou especificamente as competências da União (art. 21) e dos Municípios (art. 30, III/IX), e o que 
sobrar ( que não for vedado), ficou com os Estados e o DF. Não há, então, previsão de competências 
administrativas específicas4 para os Estados e DF, aplicando-se para eles os arts. 25, §1º e 32, §1º.A primeira regra, como se vê, é esta: 
 
1ª regra: No campo da competência para legislar e administrar, a competência da União 
e dos Municípios é enumerada, e dos Estados e Distrito Federal é residual (ou 
remanescente). 
 
1
 A competência administrativa, na verdade, é uma responsabilidade. Na CF/88, ela foi fixada de modo comum, 
pois pertence a todos os entes da Federação brasileira, como se vê do art. 23. Esta competência administrativa 
comum cria um federalismo cooperativo, na medida em que os entes devem prestar auxílio uns aos outros para 
que as competências sejam efetivadas. Por isso, o parágrafo único do art. 23 diz “leis complementares fixarão 
normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o 
equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional”. Estas leis complementares ainda não existem. 
2
 É bem verdade que pode ser feita uma crítica, no sentido de que a Constituição não especificou os temas de 
competência legislativa dos Municípios, como fez com a União, já que o art. 30, I, diz que cabe aos Municípios 
legislar sobre os “assuntos de interesse local” (o art. 22 diz especificamente sobre quais temas a União deverá 
legislar). De todo modo, não podemos perder de vista que houve uma preocupação do legislador constituinte 
originário em inserir na Constituição a competência legislativa dos Municípios, mesmo que fosse desnecessária, 
vez que existe a regra básica da preponderância do interesse (claro que é preponderante para os Municípios 
legislar sobre os assuntos locais, como dar nome aos bairros, ruas e avenidas). 
3
 Ao Distrito Federal cabe a competência legislativa destinada aos Estados, daí porque cabe a ele a competência 
legislativa residual (ou remanescente). Há, entretanto, uma importante especificidade, porque como o DF não 
pode ser dividido em Municípios (art. 32, “caput”), a Constituição acabou repassando para ele as competências 
dos Municípios (art. 32, §1º, “in fine”). Daí porque a Câmara Legislativa do Distrito Federal tem competência 
legislativa que cabe aos Estados (como é o caso de legislar sobre os servidores públicos estaduais, ter seu próprio 
Código Tributário e fixar valor das custas judiciais para o seu Judiciário) e também que cabe aos Municípios 
(legislar sobre o nome dos setores, ruas e avenidas). O DF, então, tem competência legislativa residual, ao exercer 
competência dos Estado, e também competência legislativa enumerada, ao exercer competência dos Municípios. 
4
 A Constituição prevê competência administrativa comum para os Estados e para o DF (art. 24). Não se preocupou 
em definir competências administrativas específicas para tais entes, como fez para União e Municípios. 
 
 Diante da necessidade de colaboração entre os entes da federação, em especial para 
atingir os objetivos fundamentais da República (art. 3º), isto é, da união indissolúvel dos Estados, 
Distrito Federal, Municípios e União (art. 1º), a Constituição, com coerência, estabeleceu competências 
comuns para todos eles (art. 23), para efetivarem prestações materiais, como é o caso de cuidar da 
saúde, proteger o meio ambiente, proporcionar meios de acesso à educação, combater as causas da 
pobreza etc. 
Nesse sentido, criou uma segunda regra: 
 
2ªregra: No campo da competência material-administrativa, a competência dos entes da 
Federação é comum (ou cumulativa, ou paralela). 
 
 O próprio legislador constituinte originário, ao concentrar a competência legislativa na 
União, logo percebeu que, futuramente, os outros entes poderiam reclamar parte desta competência. 
Reconheceu, também, as diferenças culturais existente neste “caldo cultural” chamado Brasil, onde em 
determinada região o valor cultural sobre determinado assunto poderia sofrer diferentes visões e 
valorações (como o adultério, o roubo, o estelionato, no campo penal, as relações de vizinhança e o 
contrato verbal, no campo civil, o arrendamento e o pastoreio, no campo agrário). Esta diferença 
cultural poderia gerar uma tensão entre os demais entes e a União, na medida em que aqueles 
poderiam lutar por uma parcela da competência legislativa, em especial sobre questões específicas da 
suas regiões. 
Diante deste problema em potencial, sabiamente a Constituição criou a possibilidade de 
delegar parte da competência legislativa, que está claramente concentrada na União, para os Estados. 
Foi o que fez no parágrafo único do art. 22, ao prever que lei complementar poderá autorizar os Estados 
a legislar sobre questões específicas nas matérias de competência legislativa privativa da União5. 
Esta realidade motivou a criação da terceira regra sobre a repartição de competências: 
 
3ª regra: No campo da competência legislativa, as questões específicas das matérias 
afetas à União podem ser delegada aos Estados via lei complementar federal. 
 
 Como se percebe, no campo da competência legislativa, há uma grande concentração na 
União. Porém, o legislador constituinte originário percebeu que esta concentração não poderia ser 
absoluta, e deveria haver matérias onde tanto a União quanto os Estados e Distrito Federal poderiam 
legislar. Porém, para não haver confusão entre a lei federal e as leis estaduais que eventualmente 
dispusessem sobre o mesmo tema, a Constituição tentou resolver inserindo a competência da União 
para legislar sobre regras gerais, e os Estados e Distrito Federal com competência para especificar as 
normas gerais criadas pela União, em relação ao seu território. Os Estados e o DF, então, diante das 
regras gerais da União, passaram a ter competência para descrever minuciosamente, de modo mais 
preciso para suas especificidades. 
 É o que acontece com todas as matérias previstas no art. 24 da Constituição. Veja o caso 
do Direito Tributário. A União fixa regras gerais, daí porque existe o Código Tributário Nacional. No 
 
5
Não existe uma lei complementar geral que define e regula os casos e as competências que são delegadas para os 
Estados e Distrito Federal, com indica o parágrafo único do art. 22 da CF/88. Existe, entretanto, uma lei 
complementar que já efetivou esta delegação: trata-se daLei Complementar n. 103/2000, que delega para 
Estados e DF a competência para o piso salarial dos empregados que não tenham piso definido em lei federal, 
convenção ou acordo coletivo de trabalho). De todo modo, o fato de não haver várias leis complementares 
delegando a competência, e nem haver uma lei complementar geral que trate de todos os casos, se por um lado 
demonstra certa negligência do Congresso, também demonstra que há uma grande unidade nacional no Brasil, 
porque suas diferenças regionais e culturais não são tão intensas para forjar o Congresso a produzir esta lei 
complementar. A bem da verdade, não há uma autonomia cultural suficiente para que os Estados cultivem a ideia 
de legislar sobre temas que têm larga aceitação uniforme em todo o país, como ocorre com o Direito Penal, o 
Direito Civil, o Direito Processual e, enfim, com a grande maioria dos temas citados no art. 22. Em países com 
grandes diferenças culturais no mesmo território, como na Espanha, certamente a competência legislativa deve 
ser mais descentralizada, justamente para acalmar eventuais levantes contra a União. Portanto, viva a brasilidade! 
entanto, os Estados têm seus próprios tributos, como IPVA e ICMS, daí porque tem que especificar as 
regras gerais do CTN para suas próprias realidades, visando melhor dispor sobre a organização, a 
cobrança e a administração destes tributos. 
 Neste caso, costuma-se dizer que o art. 24 estabeleceu um verdadeiro condomínio 
legislativo, e, mais, houve uma repartição vertical de competências6, porque a União estabelece regras 
gerais que devem obrigatoriamenteser respeitadas pelos Estados e o Distrito Federal. 
 Surgiu, então, a quarta regra dentro do complexo sistema de repartição de 
competências: 
 
4ª regra: No campo exclusivo da competência legislativa, estabeleceu hipóteses de 
competências concorrentes para a União, para os Estados e para o Distrito Federal 
 
 
 Para evitar desorganização e sobreposição de leis, a efetividade e a lógica da quarta 
regra são sustentadas por outras cinco sub-regras: 
 1ª sub-regra) na repartição vertical e concorrente para a União, os Estados e o Distrito 
Federal, a União se limita a estabelecer normas gerais; 
 2ª sub-regra) na repartição vertical e concorrente para a União, os Estados e o Distrito 
Federal, a competência da União para estabelecer normas gerais não exclui a competência suplementar 
dos Estados; 
 3ª sub-regra) na repartição vertical e concorrente para a União, os Estados e o Distrito 
Federal, caso a União não legisle sobre normas gerais, os Estados poderão exercer competência 
legislativa plena, inclusive a respeito de normas gerais, para atender suas peculiaridades; 
 4ª sub-regra) na repartição vertical e concorrente para a União, os Estados e o Distrito 
Federal, caso a União inicialmente não legisle sobre normas gerais, os Estados venham a legislar sobre 
tais regras, a superveniência de lei federal suspende apenas a eficácia da lei estadual, no que for 
contrário com as normas gerais; 
 5ª sub-regra) na repartição vertical e concorrente para a União, os Estados e o Distrito 
Federal, resta ao Município suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. 
 À União, o legislador constituinte enumerou (daí “enumerada”) tanto a competência 
administrativa (prestações materiais para a sociedade) como a competência legislativa, como foi visto. 
Nestas enumerações, previu que suas prestações materiais poderiam ser feitas em comum com os 
Estados, DF e Municípios (art. 23), e também previu que, a respeito de determinadas matérias, somente 
ela, a União, teria competência para efetivar estas prestações materiais, como é o caso de assegurar a 
defesa nacional, decretar o estado de sítio, emitir moeda, administrar reservas cambiais, manter 
relações com Estados estrangeiros etc. (art. 21). Na competência legislativa, o legislador constituinte 
concedeu à União tanto a competência privativa (art. 22), isto é, concentrou nela determinadas 
hipóteses para legislar, sem retirar a possibilidade de delegação, e também a competência concorrente 
com Estados e Distrito Federal (art. 24). Como se não bastasse, no campo do direito tributário, o 
legislador constituinte ainda previu não só a competência exclusiva (art. 153), como também a 
competência residual (art. 154, I), extraordinária (art. 154, II) e concorrente (art. 145, II e III). 
 
6
 A regra, dentro da repartição de competências da CF/88, é a repartição horizontal, na medida em que a 
Constituição previu, expressa ou implicitamente, as competências de cada ente da Federação, sem produzir uma 
hierarquia entre tais competências. Por isso, não há hierarquia entre lei municipal, distrital, estadual ou federal, 
justamente porque, se há tensão entre elas, se resolve pela verificação de quem era o ente competente para 
discorrer sobre o assunto (não se resolve pela hierarquia). Diferentemente, entretanto, do que ocorre na 
repartição vertical, porque aqui a lei federal tem preponderância na medida em que deve ser respeitada pelos 
demais entes, quando estes desejarem legislar sobre o mesmo assunto. A bem da verdade, entendemos que não 
existe uma hierarquia, porque existe apenas o estabelecimento de competência para estabelecer regras gerais e 
competência para estabelecer regras específicas, tanto é verdade que a União não pode legislar de modo 
específico sobre os temas previstos no art. 24. Como é muito difícil estabelecer, com segurança, o que é regra 
geral e o que é regra específica, há uma generalização de que há hierarquia (daí se diz que há uma repartição 
vertical), e sempre que uma lei estadual entra em choque com a lei federal, prefere-se dizer que esta deve 
prevalecer do que buscar o que é geral e o que é específico. 
 É correto dizer que existe uma sexta regra: 
 6ª regra) a União tem competência enumerada administrativa tanto exclusiva quanto 
comum, e tem competência enumerada legislativa, tanto privativa quanto concorrente, e ainda, no 
campo do direito tributário, tem competência legislativa tanto exclusiva e quanto residual 
(extraordinária e concorrente). 
 Diante destas regras, algumas afirmações podem ser feitas: 
 1) no caso da competência legislativa vertical e concorrente da União, dos Estados e do 
Distrito Federal, o legislador federal, ao editar regras gerais, efetua um bloqueio de competências para 
os demais entes; 
 2) no caso de competência legislativa vertical e concorrente, a lei federal não 
prepondera sobre a estadual, uma vez que só traça normas gerais. O importante, então, é a delimitação 
do que vem a ser norma geral, o que nem sempre é fácil; 
 3) é possível dizer que, no Brasil, é viável diferenciar leis nacionais de leis federais, uma 
vez que leis nacionais seriam aquelas de interesse de toda nação, como as leis penais, civis e sobre 
licitação (Código Penal, Código Civil e Lei das Licitações), e leis federais seriam aquelas de interesse 
somente para o ente federal, a União, como ocorre com a Lei 8.112/90, que estabelece o Regime 
Jurídico Único para os servidores da União, ou as leis que criam autarquias federais. Esta diferenciação 
não “pegou” porque todas as leis de competência da União são editadas como “leis federais”, sem 
preocupação na edição como “lei nacional”; 
 4) apesar de a regra ser a União ter competência legislativa enumerada, e os Estados e o 
Distrito Federal, terem competência legislativa residual, ou remanescente, a União também tem 
competência legislativa residual, no campo do direito tributário; 
 5) Municípios não podem legislar, em nenhuma hipótese diante do sistema 
constitucional atual, sobre as matérias de competência privativa da União. Entretanto, os Estados 
podem legislar sobre questões específicas, caso haja autorização em lei complementar. Isto quer dizer 
que o Estado de Goiás poderá ter seu próprio Código Penal? A resposta é não, porque o parágrafo único 
do art. 22 diz claramente que a delegação por lei complementar só poderá ocorrer para “questões 
específicas” das matérias da competência privativa. Questões específicas, então, são aquelas que não 
envolvem toda a matéria, toda a essência do instituto ou do assunto. O legislador quis repassar para os 
Estados, questões específicas para atender alguma peculiaridade sobre determinado assunto. Da 
mesma forma, se a União já legislou sobre regras gerais sobre determinado assunto, fica a União sem a 
possibilidade de definir o objeto específico, o que torna ainda mais inviável a delegação de toda a 
matéria. 
 6) os Estados-membros não podem prever, em suas Constituições, que a nomeação de 
Secretários de Estado precisa ser aprovada pela Assembleia Legislativa. Isto feriria o espírito 
constitucional da simetria, uma vez que os Ministros da União são de livre nomeação do Presidente, 
além de ferir a independência do Poder Executivo estadual; 
 g) Os Estados-membros não podem prever, em suas Constituições, um sistema 
legislativo estadual bicameral, com divisão da Assembleia Legislativa em Câmara Alta (como o Senado) e 
Câmara Baixa (como a Câmara de Deputados), primeiro porque as Constituições dos Estados devem 
seguir o parâmetro da Constituição Federal, e a CF/88 não previu a divisão ou a possibilidade desta 
divisão nos Estados; pelo contrário, pois só previu a existência de Deputados Estaduais (art. 27); 
 7) apesar de alguma polêmica, é considerado possível aos Estados preverem, em suasConstituições, o regime parlamentar de Governo; 
 8) apesar de nos Estados não haver sistema bicameral, o processo legislativo previsto na 
Constituição Federal aplica-se aos Estados; 
 9) a CF/88 não prevê e nem enumera a competência dos Estados-membros, uma vez 
que suas competências são residuais; 
 10) a distribuições de competências legislativas é vertical, e não residual; 
 11) ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos 
Estados e Municípios (art. 32, §1º, e art. 24). Porém, o DF não conhece de todas as competências 
legislativas dos Estados, porque o parágrafo único do art. 22 previu que a delegação das competências 
legislativas privativas da União só pode ocorrer em benefício dos Estados, não prevendo o DF (o DF não 
poderá, nunca, no sistema atual, legislar sobre direito penal, por exemplo); 
 12) ao prever que a República Federativa do Brasil é uma união indissolúvel dos Estados, 
do DF e dos Municípios (art. 1º), além de prever a forma federativa de Estado com cláusula pétrea (art. 
60, §4º, I), e ainda a possibilidade de intervenção federal para manter a integridade nacional, vetou 
qualquer direito de secessão dos Estados e dos Municípios; 
 13) o Município pode legislar sobre “interesse local” (art. 30, I). Entretanto, “interesse 
local” é um conceito jurídico indeterminado, daí porque cabe ao Judiciário dizer qual o seu conceito no 
caso concreto; 
 14) serviços funerários constituem serviços municipais, daí porque lei estadual não pode 
prever a gratuidade de sepultamento e procedimentos a ele necessários, para os pobres ou que 
recebam até um salário mínimo (STF, ADI 1.221, Rel. Min. Carlos Velloso, RTJ 30/155); 
 15) “É competente o município para fixar o horário de funcionamento de 
estabelecimento comercial” (STF, Súmula 645); “Os Municípios tem competência para regular o horário 
do comércio local, desde que não infrinjam leis estaduais ou federais válidas” (STF, Súmula 419). Inclui 
interesse em regular tempo de fila em cartórios, agências bancárias e até impor sistema de segurança e 
sanitários em bancos (STF, RE 397094/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; AI-AgR 574296/RS, Rel. Min. 
Gilmar Mendes; AI-AgR 453178/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia); 
 16) os Estados podem legislar sobre o direito à “meia-entrada” em eventos esportivos e 
de lazer, já que tal assunto entra na competência legislativa concorrente da União, dos Estados e do 
Distrito Federal (STF, ADI 3512/ES, Rel. Min. Eros Grau, Pleno, DJ 23.06.2006, p. 03 – ratificou Lei de 
Santa Catarina que concede meia-entrada para doadores regulares de sangue; STF, ADI 1950/SP, Rel. 
Min. Eros Grau, Pleno, DJ 02.06.2006, p. 04 – ratificou lei de São Paulo que concede meia-entrada para 
estudantes regularmente matriculados em estabelecimento de ensino); 
 17) “São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade 
e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento” (Súmula não vinculante n. 722 
do STF); 
 Ainda sobre a repartição de competências, vale transcrever a ementa da ADI 3645/PR, 
Rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ 01-09-2006, p. 016: 
 
 
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 14.861/05, DO ESTADO DO PARANÁ. 
INFORMAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS 
EM ALIMENTOS E INGREDIENTES ALIMENTARES DESTINADOS AO CONSUMO HUMANO E 
ANIMAL. LEI FEDERAL 11.105/05 E DECRETOS 4.680/03 E 5.591/05. COMPETÊNCIA 
LEGISLATIVA CONCORRENTE PARA DISPOR SOBRE PRODUÇÃO, CONSUMO E PROTEÇÃO 
E DEFESA DA SAÚDE. ART. 24, V E XII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ESTABELECIMENTO 
DE NORMAS GERAIS PELA UNIÃO E COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR DOS ESTADOS. 1. 
Preliminar de ofensa reflexa afastada, uma vez que a despeito da constatação, pelo 
Tribunal, da existência de normas federais tratando da mesma temática, está o exame 
na ação adstrito à eventual e direta ofensa, pela lei atacada, das regras constitucionais 
de repartição da competência legislativa. Precedente: ADI 2.535-MC, rel. Min. Sepúlveda 
Pertence, DJ 21.11.03. 2. Seja dispondo sobre consumo (CF, art. 24, V), seja sobre 
proteção e defesa da saúde (CF, art. 24, XII), busca o Diploma estadual impugnado 
inaugurar regulamentação paralela e explicitamente contraposta à legislação federal 
vigente. 3. Ocorrência de substituição - e não suplementação - das regras que cuidam 
das exigências, procedimentos e penalidades relativos à rotulagem informativa de 
produtos transgênicos por norma estadual que dispôs sobre o tema de maneira 
igualmente abrangente. Extrapolação, pelo legislador estadual, da autorização 
constitucional voltada para o preenchimento de lacunas acaso verificadas na legislação 
federal. Precedente: ADI 3.035, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 14.10.05. 4. Declaração de 
inconstitucionalidade consequencial ou por arrastamento de decreto regulamentar 
superveniente em razão da relação de dependência entre sua validade e a legitimidade 
constitucional da lei objeto da ação. Precedentes: ADI 437-QO, rel. Min. Celso de Mello, 
DJ 19.02.93 e ADI 173-MC, rel. Min. Moreira Alves, DJ 27.04.90. 5. Ação direta cujo 
pedido formulado se julga procedente. 
 
 Norma de encerramento 
Quando o legislador arrola uma série de matérias, mas trata o rol como exemplificativo, 
e não taxativo, está-se diante de uma norma de encerramento, permitindo que o interprete vá além da 
exemplificação, ficando, assim, livre de eventuais limites restritos e tipificados no texto legal. 
Muitas vezes o próprio legislador constitucional tenta prever ao máximo as matérias, 
mas, sabendo que é conveniente deixar a possibilidade para novas previsões, ou sabendo que não tem o 
dom de prever todas as hipóteses, deixa para a legislação infraconstitucional encerrar a matéria 
inicialmente tratada. É o que ocorre com as atribuições do Ministério Público, porque o art. 129, depois 
de prever várias atribuições do “Parquet” nos incisos I ao VIII, ao final declara no inciso IX: “exercer 
outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a 
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas”. 
Por isso, o STF julgou constitucional o art. 66, “caput” e seu §1º, do novo Código Civil, 
que deu ao Ministério Público do Estado a função de velar pelas fundações, e ao Ministério Público 
Federal, se as fundações estiverem no DF ou em Território. Como se sabe, o Código Civil é lei ordinária, e 
ele deu nova atribuição ao Ministério Público, o que confrontaria com o art. 128, §5º, da CF/88, que 
impõe Lei Complementar para estabelecer as atribuições do “Parquet”. Porém, o art. 129, IX, da 
Constituição, estabelece que outras funções poderão ser estabelecidas, desde que compatíveis com a 
finalidade do Ministério Público. “Trata-se, como acentua a doutrina, de uma ´norma de encerramento´, 
que, à falta de reclamo explícito de legislação complementar, admite que leis ordinárias - qual acontece, 
de há muito, com as de cunho processual - possam aditar novas funções às diretamente outorgadas ao 
Ministério Público pela Constituição, desde que compatíveis com as finalidades da instituição e às 
vedações de que nelas se incluam "a representação judicial e a consultoria jurídica das entidades 
públicas” (ADI 2794/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Pleno, DJ 30.03.2007, p. 68) (o STF declarou 
inconstitucional o §1º, quando concedeu ao Ministério Público Federal a atribuição de velar pelas 
fundações estabelecidas no Distrito Federal, já que para esta localidade existe o Ministério Público do 
Distrito Federal, e ratificou a atribuição do MPF de velar pelas fundações públicas federais de direito 
público). 
Bem por isso, a “norma de encerramento”, apesar de concebida como forma de 
ampliação dos supostos limites legais, também pode ser vista como uma reserva de lei ordinária, 
colocando esta lei como “soldado de reserva”: sea matéria não foi reservada à lei complementar, a lei 
ordinária dela pode tratar. Esta conclusão é factível porque é uma verdade constitucional que se retira 
da nossa Lei Maior. 
 
 d) PODER JUDICIÁRIO 
 O Poder Judiciário é o conjunto de órgãos públicos, tanto estaduais quanto federais, aos 
quais a Constituição Federal atribui a função jurisdicional. 
 No Brasil, sua estrutura está dividida em quatro níveis: 
 a) Supremo Tribunal Federal; 
 b) Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE e STM); 
 c) Tribunais Regionais (TJ, TRF, TRT, TRE, TJM); 
 d) Juízos de 1º grau (Varas da Justiça Federal, Estadual, Trabalhista, Juntas Militares, 
Juizados Especiais Estaduais e Federais). 
 Esta divisão também dá ao nosso federalismo a concepção simétrica, na medida em que 
tenta igualizar a distribuição de órgãos no Estado e na União, em uma verdadeira simetria quanto à 
sistematização do Judiciário (Judiciário brasileiro é dual, porque existe na União e nos Estados). 
 Na esfera federal o Judiciário tem esta estrutura: 
 a) Supremo Tribunal Federal; 
 b) Conselho Nacional de Justiça; 
 c) Superior Tribunal de Justiça; 
 d) Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; 
 e) Tribunais Regionais do Trabalho e Juízes do Trabalho; 
 f) Tribunais Regionais Eleitorais e Juízes Eleitorais; 
 g) Tribunais Militares e Juízes Militares. 
 
 O Judiciário tem a função típica de dizer o direito, no exercício da jurisdição, 
substituindo as partes em conflito (caráter da substitutividade do Judiciário). Ele é fundamental para a 
básica noção de Estado, que surgiu justamente pela necessidade de que um terceiro, com poder, 
autoridade e soberania, julgasse as contendas entre os membros da sociedade. Hoje em dia, então, é 
difícil imaginar um Estado sem Judiciário independente e autônomo. 
 Apesar da função típica do “jus dicere”, o Judiciário também exerce, excepcionalmente, 
as funções de legislar, quando os Tribunais elaboram seus regimentos internos (art. 96, I, “a”), e de 
administrar (art. 96, I, “b”, “c” e “d”). 
 A CF/88 estabelece especificamente princípios norteadores do Poder Judiciário: 
 a) princípio da publicidade dos julgamentos (art. 93, IX); 
 b) princípio da fundamentação das decisões (art. 93, IX); 
 c) princípio da motivação das decisões administrativas (art. 93, X); 
 d) princípio da autonomia administrativa e financeira (art. 99). 
 Interessante lembrar que o art. 101 diz que o STF compõe-se de 11 Ministros, escolhidos 
dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber 
jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela 
maioria absoluta do Senado Federal. 
 Com o Conselho Nacional de Justiça, apesar da previsão de composição por 09 
integrantes do Judiciário, 02 do Ministério Público, 02 da OAB, também se previu mais dois, “de notável 
saber jurídico e reputação ilibada”, indicados pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado (art. 103-
B). 
 Já em relação ao Superior Tribunal Militar, o bacharelado em ciências jurídicas não é 
necessário, visto que sua composição é formada por Ministros Militares (três dentre oficiais-generais da 
Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica) (art. 
123). 
 Diferentemente ocorre com os Ministros dos demais Tribunais Superiores e Tribunais 
Regionais e Estaduais, que devem ser juízes de carreira, ou, pelo quinto, devem vir da Advocacia ou do 
Ministério Público (art. 104, 107, 111-A, 119). 
 
 Para ser Ministro do STF, é preciso ser formado em Direito? 
 É corrente a afirmação de que a Constituição de 1988, no art. 101, não exige que o 
Ministro do STF seja formado em Direito, uma vez que os requisitos apontados são: a) cidadão com mais 
de 35 e menos de 65 anos de idade; b) notável saber jurídico; e c) reputação ilibada. 
 Não há dúvida de que a Constituição de 1988 não exige, expressamente, ser bacharel 
em Direito. Mas exige implicitamente? Se exige implicitamente, mostra-se incorreto afirmar que “a 
CF/88 não exige a formação em Direito para ser Ministro do STF”. 
 Nesta perspectiva, a Constituição de 1988 exige, sim, que o Ministro do STF seja 
formado em Direito, de modo implícito, porque para interpretar as normas constitucionais é preciso 
utilizar o princípio da máxima eficiência (força normativa), para que se amplie ao máximo a intenção 
original da norma constitucional, dando a ela força normativa. Evidente que alguém possa ter 
conhecimentos jurídicos sem estar formado em Direito, inclusive mais conhecimento que alguém 
formado. Entretanto, possibilitar a nomeação de quem não é bacharel em Direito é minimizar o 
conteúdo da norma constitucional, reduzindo seu espírito e, assim, afrontando o princípio da máxima 
efetividade. “A contrario sensu”, se a Constituição exigisse notável saber médico para a nomeação para 
algum cargo, seria de todo incorreto possibilitar que alguém que tenha conhecimentos médicos seja 
nomeado para o cargo, sem ter bacharel em Medicina. 
 A boa doutrina entende que há exigência implícita de bacharelado em Direito, para ser 
Ministro do STF (vide Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Comentários à Constituição brasileira de 1988, 2ª 
edição, SP, Saraiva, 1997, p. 486; LêdaBoechat Rodrigues, História do Supremo Tribunal Federal – defesa 
das liberdades civis, 2ª edição, RJ, Forense, 1958; Ricardo Arnaldo Malheiros, Direito constitucional 
comparado, 3ª edição, BH, Del Rey, 1997, p. 205; Michel Temer, Elementos de direito constitucional, 11ª 
edição, SP, Malheiros, 1995, p. 165). 
 Um outro aspecto interessante, que confirma a exigência implícita aqui tratada, é o fato 
de que em 21.10.1893 foi nomeado para Ministro do STF, durante o recesso parlamentar, o médico 
clínico Cândido Barata Ribeiro, que exerceu o cargo durante quase um ano. Porém, o Senado Federal, 
em 22.09.1894, rejeitou a nomeação e esta rejeição, como lembrou Lêda Rodrigues (opus citado), 
consagrou o Senado a interpretação de que o notável saber refere-se a conhecimentos jurídicos; não 
basta ser diplomado em direito, mas é essencial ser notável pelo conhecimento das matérias que 
constituem as funções do Supremo Tribunal”. Portanto, ser bacharel em Direito é apenas um 
pressuposto básico, que sequer é suficiente, pois é preciso mais que isso, e, evidente, no mínimo isso. 
 
 Magistrado pode perder o cargo por decisão de outro Poder, que não o Judiciário? 
 Sim, existe a possibilidade do Legislativo, por decisão unicamente sua, determinar a 
perda do cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade por ele 
cometido, nos termos do art. 52, II, da CF/88 (“Compete privativamente ao Senado Federal: processar e 
julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do 
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União 
nos crimes de responsabilidade”). Ministro do STF, sem dúvida, é juiz, que julga as causas (art. 102, I), 
até porque é membro do STF, que por sua vez integra o Judiciário (art. 92, I), sendo declarado 
expressamente no art. 93, V, que o Ministro do STF é um magistrado (“... para os Ministros do Supremo 
Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados...”). 
 
 Garantias: 
 a) vitaliciedade. Depois de dois anos de exercício na carreira, o magistrado ganha 
vitaliciedade, e só pode perdê-la por sentença judicial transitada em julgado, diferentemente da grande 
maioria dos outros servidores públicos, que podem perder por decisão do superior hierárquico, via 
processo disciplinar administrativo. Quem entra nos Tribunais pelo quinto constitucional, ganha 
vitaliciedade automática com a posse, não necessitando de dois anos de exercício. Vitaliciedade se 
diferencia da estabilidade porque esta pode ser perdida: a) via processoadministrativo; b) por avaliação 
periódica de desempenho; e c) quando a despesa com ativos e inativos ultrapassar os limites 
estabelecidos em lei complementar. Estado não pode limitar ou mesmo ampliar a vitaliciedade, traçada 
especificamente na Constituição (não pode, por exemplo, impor a transferência obrigatória para a 
inatividade, do Desembargador que, com trinta anos de serviço público, completa dez anos no Tribunal 
de Justiça – STF, ADI 98/MT, Rel. Sepúlveda Pertence). Atualmente, a máxima punição que o juiz pode 
sofrer no âmbito administrativo é a disponibilidade por interesse público compulsório (art. 93, VIII), por 
decisão da maioria absoluta do Tribunal ou do CNJ; 
 b) inamovibilidade. Não se pode remover magistrados contra a suas vontades, salvo se 
houver interesse público, como é o caso de ameaça iminente de morte, revolta populacional contra o 
magistrado etc., mas só com votação da maioria absoluta dos membros do respectivo Tribunal. Existe 
dúvida, ainda não pacificada, sobre a extensão desta garantia para o Juiz Substituto. Apesar do art. 95, 
II, falar em inamovibilidade para os magistrados, sem fazer referência à condição de titular ou 
substituto, o art. 93, VII, diz que a residência na comarca é obrigação apenas do Juiz Titular, dando a 
entender que o Juiz Substituto pode ser removido e também pelo fato de que o cargo de Juiz Substituto 
existe justamente para fazer substituição do titular onde se fizer necessário, independentemente da 
Comarca. Esta discussão foi iniciada no STF, junto ao MS 27958/DF, onde o Relator, Ministro Ricardo 
Lewandowski havia concedido a segurança enfocando que a inamovibilidade era uma garantia também 
do Juiz Substituto, mas, após voto contrário do Ministro Marco Aurélio, pediu vista o Ministro Ayres 
Britto, em fevereiro de 2011, suspendendo o julgamento; 
 c) irredutibilidade de subsídios. A irredutibilidade não quer dizer que não possa haver 
adequação ao teto dos Ministros do STF. 
 
 Vedações: 
 a) não pode o magistrado exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério; 
 b) não pode receber custas ou participação em processo; 
 c) não pode exercer atividade político-partidária; 
 d) não pode receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de 
pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; 
 e) não pode exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, nos três anos 
subsequentes ao afastamento por aposentadoria ou exoneração; 
 f) não pode morar fora da Comarca, se Juiz-Titular, salvo por autorização do Tribunal 
(não há vedação ao Juiz-Substituto, até porque o mesmo não é titular de nenhuma Comarca); 
 
O Supremo Tribunal Federal enfrentou questão interessante, para saber se é possível, 
por Constituição do Estado, incluir como critério de antiguidade na carreira da magistratura, o tempo de 
exercício da advocacia privada, da mesma forma que se considera o tempo de serviço público. Apesar 
de deferir cautelar contra a Constituição do Estado de Mato Grosso, que assim previa, não pela questão 
de mérito, e sim porque a previsão deveria ser feita por lei complementar de iniciativa do STF, nos 
termos do art. 93 da CF/88 (ADI 4042/MC/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes), é possível enveredar pelo 
mérito, e entender que os critérios de antiguidade, para fins de promoção, devem ser razoavelmente 
anexados ao desenvolvimento das atribuições na carreira, e não fora dela. Não é razoável admitir que, 
para se promover em uma carreira, alguém possa se valer de experiências desenvolvidas em outras 
carreiras. No caso da magistratura, ainda com maior razão, tendo-se em vista que as peculiaridades da 
carreira faz presumir que a promoção pressupõe um bom desenvolvimento, seja por mérito seja por 
antiguidade, nos critérios específicos da magistratura. Ademais, o art. 93, III, da CF/88, fala em 
promoção por antiguidade, para chegar aos tribunais, com apuração do desenvolvimento na última ou 
única entrância, deixando patente que é pressuposto que tal desenvolvimento se dê, pelo menos para 
fins de acesso aos tribunais, na carreira, e não fora dela. No caso de exercício de advocacia particular, 
para fins de critério para promoção, o texto constitucional mostra-se arredio à ideia também porque 
veda, expressamente, o exercício da advocacia particular pelo magistrado, inclusive depois de três anos 
da saída da carreira, no tribunal ou juízo que oficiou (art. 95, p. único, V), mostrando que o exercício da 
advocacia privada não é afim ao exercício da magistratura, ao ponto de merecer tratamento privilegiado 
para promoção. 
 
Em relação à vedação de exercício de outro cargo ou função, salvo uma de magistério, 
veja que o STF interpretou no sentido de que o magistrado poderá atender a mais de uma função de 
magistério, não precisando ser apenas “uma”, porque o objetivo da norma constitucional é manter o 
magistrado focado na sua missão primordial. Assim, é possível o magistrado exercer duas funções de 
magistérios, desde que seja compatível com a função primordial da magistratura. 
 
 A SÚMULA VINCULANTEfoi um importante instrumento conferido ao Poder Judiciário 
pela Emenda Constitucional 45/04, e só terá efeito se aprovada por dois terços de seus membros e 
publicá-la na imprensa oficial, podendo o STF proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma 
prevista na Lei 11.417/06. Como há “efeito vinculante” para os demais órgãos do Judiciário e da 
Administração Pública, logo se vê que o efeito da súmula é igual ao das decisões em ADI e ADC: não 
vincula o próprio STF e nem o Legislativo. Nota-se que a súmula vinculante tem como pressuposto 
controvérsia atual entre órgãos judiciários e, o que é mais interessante, a controvérsia pode se dar 
entre órgãos judiciários e a Administração Pública, desde que cause insegurança jurídica e relevante 
multiplicação de processos sobre questão idêntica. Se um ato administrativo, ou uma decisão judicial 
contrariar a súmula, mas também que a aplicar indevidamente, caberá reclamação ao STF, que poderá 
anular o ato ou cassar a decisão judicial, com determinação para que outra seja proferida. 
 
 Os legitimados para propor a súmula vinculante são os mesmos legitimados para 
propor ADI e ADC. Porém, pela autorização contida no §2º do art. 103-A, a Lei 11.417/06 acrescentou 
mais dois legitimados: a) Defensor Público-Geral da União; e b) os Tribunais Superiores, os Tribunais de 
Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais 
Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares. 
 
 A referida Lei 11.417/06 ainda: 
 1) criou “amicuscuriae” no processo de edição, de revisão ou de cancelamento da 
súmula vinculante (o relator, por decisão irrecorrível, poderá admitir manifestação de terceiros na 
questão, nos termos do Regimento Interno do STF); 
 2) deu legitimidade para o Município propor, incidentalmente ao curso de processo em 
que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, sem 
suspensão do processo (o Município não pode iniciar processo autônomo de edição, revisão e 
cancelamento de SV, mas apenas iniciar a partir de um processo em que esteja envolvido, devendo, 
então, ter interesse na SV para que seja beneficiado); 
 3) assim como ocorre na ADC e na ADI, possibilitou a modulação temporal, porque, via 
de regra, a súmula vinculante tem efeito imediato, mas o Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3 
(dois terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia 
a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse 
público; 
 4) previu que a reclamação por descumprimento de súmula vinculante no STF, é feita 
sem prejuízo dos outros recursos ou outros meios admissíveis de impugnação; 
 5) previu,

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