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Resumo Livro Cidadania No Brasil

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Resumo 
Capitulo I: Primeiros Passos (1822-1930)
No primeiro capítulo da obra de José Murilo de Carvalho ele desenvolve um apanhado histórico, do
ponto de vista do progresso da cidadania, desde a Independência em 1822 até a Primeira República 
em 1930, citando ainda alguns fatos ainda na época da colonização.
De 1500 até 1822 o Brasil viveu sob os comandos da metrópole Lusa. O empreendimento de 
Portugal no Brasil era puramente comercial e a atividade lucrativa mais incidente foi a produção 
açucareira. No entanto, as características fundamentais dessa atividade exigia o acúmulo de capitais 
e mão de obra excessiva, o que acarretou dois pontos negativos: a intensificação da desigualdade e, 
sobretudo, o tráfico e escravidão dos africanos no país. A sociedade latifundiária e escravocrata não 
contribuiu para a formação de cidadãos. Segundo Carvalho, os escravos não eram cidadãos, pois 
eram considerados propriedade dos senhores; tampouco era os indivíduos livres que não usufruíam 
de seus direitos pois lhes faltava educação (o desestímulo à educação também contribuiu para o 
atraso da consciência da cidadania), até mesmo os senhores não era cidadãos pois faltava-lhes 
próprio sentido da cidadania e a noção de isonomia. O fato é que não havia o poder público stricto 
sensu, ou seja, o poder que garantisse os direitos civis e a igualdade de todos perante a lei. 
A independência trouxe grandes avanços no que tange aos direitos políticos, porém os direitos civis 
continuaram balizados devido a manutenção da escravidão. A Carta Magna outorgada em 1824 
previa o sufrágio universal masculino, isto é, votavam homens com 25 anos ou mais com renda 
acima de 100 mil réis, a lei previa ainda o sufrágio de analfabetos, o que era incomum naquele 
tempo. 
Ainda que tenha havido eleições continuamente de 1822 até 1930, os direitos políticos não eram 
exercidos de forma absoluta. Mais de 85% da população era analfabeta, não tinha noção do que era 
um governo representativo de fato, logo as eleições eram um mecanismo de dominação dos 
políticos locais e não um ato de cidadania. 
Em 1881, com a lei que introduzia o voto direto e excluía os analfabetos(90% do eleitorado), houve 
um retrocesso nos direitos políticos ao passo que na Europa acontecia o contrário. A proclamação da
República em 1889 não significou grandes mudanças, surgiu apenas uma nova forma de política 
fraudulenta com a descentralização dos poderes, fortalecendo alianças entre as oligarquias locais e o
governo (sistema de poder político conhecido como Coronelismo ou República doa Coronéis). 
Carvalho(2001) desenvolve reflexões acerca dos direitos civis(a escravidão, a grande propriedade e 
a cidadania operária), direitos sociais e dos cidadãos à época da Primeira República levando em 
conta a herança colonial e suas características profundamente marcadas na sociedade brasileira. 
No que tange à reflexão sobre os direitos civis, Carvalho disserta sobre influência da escravidão no 
retardo da consciência civil no brasileiro. Já em 1888, quando o número de escravos já não era 
significativo, a abolição foi prevista na lei. A persistência da cultura escravocrata mostra que esses 
valores eram aceitos por maior parte da sociedade, e eram aderidos até mesmo pelos escravos 
libertos. Segundo o autor, “libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa 
igualdade era afirmada nas leis mas negada na prática"(p. 53).
 Acerca dos direitos sociais – isto é, direitos de igualdade formal e material- é difícil considerá-los 
existentes àquela época. A assistência social estava a cargo de associações particulares. As leis 
trabalhista e a proteção ao trabalhador eram ignoradas pelo Estado. Para Carvalho, a primeira lei 
significativa visando a assistência social foi criada em 1923 com a Caixa de Aposentadoria e Pensão
para os ferroviários. Na zona rural a escassa assistência social que havia aos camponeses era 
proporcionada pelos coronéis, que em troca do trabalho e da lealdade, o camponês recebia proteção 
e assistência em momentos de necessidade. 
Ao fim do primeiro capítulo Carvalho questiona a real consciência civil do brasileiro ao cabo da 
Primeira República(1930). Para fundamentar sua reflexão o autor cita excertos do biólogo francês 
Louis Couty e do deputado Gilberto Amado acerca dessa questão. Para eles, tanto em 1881 quanto 
em 1925, respectivamente, não houve “no país povo politicamente organizado, opinião pública 
ativa, eleitorado amplo e esclarecido”(p. 65). No entanto, Carvalho faz duas considerações baseadas
nas afirmações dos autores citados. A primeira diz respeito a alguns movimentos políticos que 
significaram um início de consciência cívica como o movimento abolicionista em 1887 e o 
movimentos dos jovens oficiais do Exército em 1922. A outra ponderação diz respeito ao conceito 
estrito de cidadania levado em conta por Couty e Amado. Carvalho considera que a concepção de 
cidadania estreita e formal(aquela que supõe como manifestação política adequada aquela que se dá 
dentro dos limites previstos no sistema legal, sobretudo do direito do voto) não é a mais correta 
mais sim uma concepção levando em conta “outras modalidades de participação, menos 
formalizadas, externas aos mecanismos legais de representação”(p. 67). Para sustentar seu 
pensamento, Carvalho cita os fatos e as características de algumas rebeliões que ocorreram em 
várias regiões do Brasil durante o Período Regencial (1831 a 1840): Revolta dos Cabanos, Balaiada,
Cabanagem, Sabinada, Farroupilha, Revolta dos Malês. 
Nota-se que todas as manifestações populares a partir do Segundo Reinado, a população apresentou 
algum conhecimento sobre seus direitos e deveres. Para Carvalho, havia nesses indivíduos um 
projeto de cidadão, “mesmo que em negativo” (p. 75). 
Capítulo II: Marcha Acelerada (1930-1964)
No segundo capítulo, Carvalho disserta sobre os rumos da cidadania trilhando sobre os anos de 
Getúlio Vargas(1930) até o Golpe Militar(1964).A partir desta data houve uma aceleração nas 
transformações sociais e políticas e, consequentemente, nos direitos civis.
 No campo dos direitos sociais as mudanças ocorreram, sobretudo com a criação do Ministério do 
Trabalho, Indústria e Comércio e, com ele, a legislação trabalhista e previdenciária, completada em 
1943 com a Consolidação das Leis do Trabalho. 
Os direitos políticos tiveram um cenário conturbado ao longo desses 34 anos, o governo alternava-
se entre ditaduras e regimes democráticos. Até a ditadura em 1964, o voto havia sido estendido e as 
eleições se tornaram mais honestas. 
Os direitos civis se desenvolveram mais lentamente. Durante a ditadura muitos deles foram 
suspensos, sobretudo a liberdade de expressão e de organização. “O nacionalismo, incentivado pelo 
Estado Novo, foi o principal instrumento de promoção de uma solidariedade nacional, acima das 
lealdades estaduais”(p.88). 
A Revolução Constitucionalista, comandada pelos paulistas descontentes como governo ditatorial, 
teve como principal reivindicação a convocação de eleições para escolher uma assembleia 
constituinte. Ao fim da revolta, apesar da derrota dos paulistas, o país ganhou grandes avanços nos 
direitos políticos pois o governo federal concordou em convocar eleições para a assembleia 
constituinte que deveria eleger também o presidente da República, introduziu o voto secreto e criou 
uma justiça eleitoral.”Houve também avanços na cidadania política. Pela primeira vez as mulheres 
ganharam o direito ao voto”(p. 101). Em 1934 a Assembleia Constituinte confirmou Getúlio Vargas 
como presidente e elaborou uma nova constituição. 
Após muitas disputas travadas entre os dois movimentos políticos criados com o início da 
constitucionalização, a Aliança Nacional Libertadora (ANL, liderada por Luís Carlos Prestes, de 
orientação comunista)e a Ação Integralista Brasileira (AIB, dirigida por Plínio Salgado, de 
orientação fascista), e considerandoo cenário mundial com a difusão do comunismo, a ANL foi 
fechada e seus seguidores foram cassados. 
O golpe de 1937, que instaurou o Estado Novo, não contou com graves revoltas. Carvalho cita 
algumas razões que proporcionou a passividade geral: o apoio dos integralistas, a postura 
nacionalista e industrializante do governo de Getúlio mas, sobretudo, o temor ao comunismo e à 
guerra iminente. 
Durante o Estado Novo(1937 até 1945), o Brasil viveu sob um regime autoritário, mas não 
totalitário. Getúlio fechou o congresso, repreendeu os inimigos do regime, censurou e controlou a 
imprensa, ao mesmo tempo que pregou o desenvolvimento econômico e industrial. 
Carvalho compara a situação dos direitos políticos e sociais entre os anos de 1930 a 1945. Enquanto
os primeiros foram altamente prejudicados pela instabilidade do poder, os outros sobressaíram. No 
entanto o autor assinala que embora eles tenham se sobressaído, foram implantados num momento 
de pouca ou nenhum a participação política e em que os direitos civis eram limitados. Este pecado 
de origem e a maneira como foram distribuídos os benefícios sociais tornaram duvidosa sua 
definição como conquista democrática e comprometeram em parte sua contribuição para o 
desenvolvimento de uma cidadania ativa”.(p.110)
Vargas criou o Ministério do trabalho, Indústria e Comércio ainda em 1930.O ministério agiu 
rapidamente em três direções: trabalhista, previdenciária e sindical. 
Entende-se que, apesar do grande avanço que a legislação significou, houve também pontos 
negativos. O sistema excluía categorias de trabalhadores, como os autônomos, os domésticos e 
todos os trabalhadores rurais, a maioria na época. “Tratava-se, portanto, de uma concepção da 
política social como privilégio e não como direito”(p.114). O autor cita o neologismo feito por 
Wanderley G. dos Santos para caracterizar essa política social:“cidadania regulada”, ou seja, uma 
cidadania limitada por restrições políticas. 
Carvalho afirma que os investimentos na área sindical consistiu no principal ponto estratégico do 
governo reformista. No primeiro decreto sobre sindicalização em 1931, estava embutida a filosofia 
do governo, conforme a visão dos positivistas ortodoxos( fieis ao pensamento de Augusto Comte)e 
também com a doutrina social da Igreja Católica, em que onde “as relações entre capital e trabalho 
deveriam ser harmônicas, e cabia ao Estado garantir a harmonia, exercendo o papel de regulação e 
arbitramento”(p. 115). Desta forma o sindicato deixava de ser órgão de representação dos interesses 
dos operários para ser “órgão consultivo e técnico” do governo. 
Ele conclui que o Estado exercia efeitos positivos e negativos. Ora ressaltava o trabalhador com a 
legislação trabalhista, ora o reprimia com a legislação sindical. Assim sendo, “o movimento 
operário viveu o dilema: liberdade sem proteção ou proteção sem liberdade. O ponto central era o 
desequilíbrio de forças entre operariado e patronato” (p.118).
Ainda considerando os desajustes, não pode negar que o período de 1930 a 1945 contribuiu para 
que se formasse a primeira fase do que hoje chamamos de direitos sociais. O aperfeiçoamento, a 
racionalização e a extensão da legislação a um número maior de trabalhadores foram conseguidos 
ao longo dos anos. 
Carvalho conclui o segundo capítulo assinalando que a relação entre cidadãos e governo era 
ambígua, pois a medida que o governo os apresentava aos direitos sociais, ele os tornava 
dependentes. “A cidadania que daí resultava era passiva e receptora antes que ativa e 
reivindicadora”(p.126).
A primeira experiência democrática do Brasil se deu com a Constituição de 1946, a qual manteve as
conquistas sociais do período anterior e garantiu os tradicionais direitos civis e políticos. Em 1950 
Vargas foi eleito presidente pelo voto popular. A nova fase de seu governo foi marcada pela política 
nacionalista e populista. “De um lado ficavam os nacionalistas, defensores do monopólio estatal do 
petróleo e de outros recursos básicos(...);(...)do outro lado estavam os defensores da abertura do 
mercado ao capital externo,(...)os que queriam uma política externa de estrita cooperação com os 
Estados Unidos”(p. 128-9)
Depois do suicídio de Getúlio Vargas em 1954, Juscelino Kubitschek foi eleito em 1955 sob forte 
contestação das forças antivargas. Sua habilidade permitiu que conduzisse o país de uma forma 
dinâmica e democrática jamais vista na História do país. As taxas de crescimento atingia 7% ao ano,
o que não significou o desaparecimento dos conflitos herdados do governo Vargas, mas amenizou a 
estrutura social pois distribuiu benefícios a todos, operário, patrões, industriais nacionais e 
estrangeiros. 
Já no governo de João Goulart, em 1963, o governo promulgou um Estatuto do Trabalhador Rural, 
que pela primeira vez estendia ao campo a legislação trabalhista, através do impacto causado pelas 
Ligas Camponesas compostas por trabalhadores rurais. 
O afloramento do sindicalismo rural, suas ligações com Cuba, a vinculação a grupos de esquerda e 
as reivindicações por reforma agrária, constituía uma ameaça aos proprietários, que passaram a se 
organizar e preparar para resistência armada ao que consideravam um perigo de expropriação de suas 
terras ao estilo soviético ou cubano. 
No fim do segundo capítulo, faz-se a pergunta: diante dos avanços obtidos nos direitos civis e 
políticos, porque, afinal, a democracia se dissolveu em 1964? Carvalho afirma que a falta de 
convicção democrática tanto dos grupos de direita, quanto dos de esquerda, fizeram com que ambos
se envolvessem em uma corrida pelo controle do governo, deixando de lado a prática da 
democracia. O golpe do grupo de direita pretendia impedir as reformar e eliminar as ameaças 
comunistas iminentes. A esquerda pretendia eliminar os obstáculos às reformas de base e evitar que 
o outro grupo se sobressaísse. “Para ambos os lados, direita e esquerda, a democracia era, assim, 
apenas um meio que podia e devia ser descartado desde o momento que não tivesse mais utilidade”(p. 
151). 
Capítulo III: Passo atrás, passo adiante (1964-1985)
A emergência desenfreada da participação política em 1937, considerando o cenário mundial em alerta, 
levou o país em 1964 ao golpe militar de caráter defensivo e impositivo. A repressão política foi mais 
violenta do que a do Estado Novo, sobretudo entre os anos de 1964 e 1965 e entre 1968 e 1974, por 
meio os Atos Institucionais(AI's). Foram cassados mandatos e suspenso direitos políticos de grande 
número de líderes políticos, sindicais e intelectuais e de militares. 
O autor assinala o paradoxo que viveu o país nessa época, onde a repressão política era extremamente 
violenta, porém obteve índices jamais vistos de crescimento econômico.Foi a época em que se falou no 
“milagre econômico” brasileiro
O autor assinala ainda que durante esse tempo, houve um grande aumento da migração do campo para 
as cidades no país. A urbanização significava para muita gente o progresso, devido à facilidade ao 
acesso à tecnologia. Os efeitos negativos desse rápido crescimento só apareceriam mais tarde. Houve 
outras mudanças. Ainda que os direitos políticos e civis fossem limitados, os governos militares 
investiram na expansão dos direitos sociais, completando o que foi feito nos governos de Vargas e 
Goulart. Em 1966 foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), universalizando e 
unificando o sistema de previdência. Em 1971, em pleno governo Médici foi criado o Fundo de 
Assistência Rural (Funrural), que efetivamente incluía os trabalhadores rurais na previdência. Em 1972 
e 1973, respectivamente, foram incorporados os trabalhadores autônomos e empregados domésticos ao 
sistema da previdência. “Como coroamento das políticas sociais, foi criado em 1974 o Ministério da 
Previdência e Assistência Social”(p.172).
Em 1974, o General Ernesto Geisel começou a promover o lento retorno à democracia.O autor cita 
algumas razões pelas quais Geisel e seus aliados tomaram a iniciativa de desmontar o sistema 
autoritário: a ligação do general ao grupo dos liberais conservadores, a crise do petróleo em 1973, que 
comprometia a continuidade do milagre, a preocupação com a imagem e a moral dos profissionais das 
forças armadas devido a ambição do poder e do lucro em detrimento das suas obrigações. 
A abertura começou com o fim do AI-5 em 1978 que estabeleceu o fim da censura prévia no rádio e na 
televisão, e o restabelecimento do habeas corpus para crimes políticos. Em 1979 foi abolido o 
bipartidarismo forçado, o Arena e MDB desapareceram dando lugar a seis novos partidos. Como ato 
final da transição não houve imposição dos militares para a sucessão presidencial em 1985 e José 
Sarney assumiu a presidência depois da morte súbita do candidato eleito Tancredo Neves. 
No fim do terceiro capítulo, Carvalho faz um balanço, do ponto de vista da cidadania, nos 21 anos de 
ditadura militar. Em relação aos direitos sociais e políticos, os governos militares repetiram o que 
aconteceu no Estado Novo, ampliaram os direitos sociais e cercearam os políticos. Pode-se dizer que o 
autoritarismo brasileiro pós-30 sempre procurou compensar a falta de liberdade política com 
paternalismo social. O apoio ao governo só durou enquanto durou o “milagre econômico”, após o 
declínio do crescimento, o prestígio dos militares esgotou-se rapidamente. O descaso com o regime 
mostrou maior independência política da população, “a população mostrou que, no momento oportuno, 
era capaz de revalorizar a representação e usá-la contra o governo”(p. 192). 
Ainda na visão positiva da população, pode-se dizer que o desenvolvimento das cidades no período 
militar e a expansão do mercado consumidor, contribuíram para a mobilização a favor das eleições 
diretas em 1984, o que significou uma forte demonstração de iniciativa cidadã. 
Numa visão negativa, o autor explica que os AI's limitaram a função do poder judiciário, garantidor dos 
direitos civis, a uma minoria da população, a maioria ficou fora do alcance da proteção das leis e dos 
tribunais. Os efeitos negativos do rápido crescimento urbano citado anteriormente favoreceu o aumento 
de populações marginalizadas, e, consequentemente, a expansão do tráfico de drogas e violência. 
Capítulo IV: A cidadania após a redemocratização.
A constituição de 1988 pode ser considerada a mais liberal e democrática que o país já teve, recebendo 
por isso a denominação de Constituição Cidadã. Em 1989 aconteceu a primeira eleição direta para 
presidente desde 1960. No entanto, a democracia política não resolveu os problemas econômicos mais 
profundos como o desemprego e a desigualdade. “Continuam os problemas da área social, sobretudo na 
educação, nos serviços de saúde e saneamento, e houve agravamento da situação dos direitos civis no 
que se refere à segurança individual” (p.199). 
A ação democrática sofreu avanços e retrocessos. Um dos avanços citados pelo autor diz respeito ao 
surgimento do Movimento dos Sem terra (MST), composta por trabalhadores rurais que se organizaram 
e pressionaram o governo em busca de terra para o cultivo. Apesar de fazerem uso de métodos ilegais, o 
MST é um grupo que contribuiu para o fortalecimento da democratização do sistema, forçando sua 
entrada na vida política, através do direito de organização. Os retrocessos na democratização dizem 
respeito à corrupção pelos políticos, partidos e legislativo. Em busca de uma “salvação” a população 
acabou elegendo Fernando Collor que se dizia estar desvinculado dos vícios dos velhos políticos. 
“As eleições diretas, aguardadas como salvação nacional, resultaram na escolha de um presidente 
despreparado, autoritário, messiânico e sem apoio político no Congresso”(p. 204). Descobriu-se que ele 
e seu tesoureiro planejavam um esquema sórdido de corrupção jamais visto. O movimento popular em 
prol do impeachment de Collor representou um ato cívico importante e “deu aos cidadãos a sensação 
inédita de que podiam exercer algum controle sobre seus governantes”(p. 205).
No âmbito dos direitos sociais, embora a Constituição de 1988 tenha trazido alguma evolução, como a 
redução da mortalidade infantil e do analfabetismo através da educação formal, as maiores dificuldades 
sociais dizem respeito às grandes desigualdades sociais que caracterizam o país desde sempre. “A 
escandalosa desigualdade que concentra nas mãos de poucos a riqueza nacional tem como consequência
níveis dolorosos de pobreza e miséria”(p.208). 
No que concerne os direitos civis, a Constituição de 1988 estabeleceu inovações legais e institucionais 
de forma prática no país. No entanto, Carvalho assinala que dos direitos que compõem a cidadania(civis,
políticos e sociais) no Brasil, “os civis apresentam as maiores deficiências em termos de seu 
conhecimento, extensão e garantias”(p.210). 
No fim do último capítulo o autor enumera algumas deficiências dos direitos civis e assinala que a falta 
de garantia desses direitos se verifica sobretudo no que se refere à segurança individual, à integridade 
física e ao acesso à justiça. 
Em conclusão, o autor escreve que uma das razões para o dificultoso progresso no longo caminho à 
cidadania plena pode ter a ver com a própria cronologia da História do país. Baseado no pensamento de 
Marshall, Carvalho afirma que “a pirâmide dos direitos foi colocada de cabeça para baixo” no Brasil. 
Ele ainda reflete sobre quais poderiam ser as consequências para a eficácia da democracia em uma 
nação que tem os direitos sociais na base da pirâmide. Ele enumera a excessiva valorização do Poder 
executivo, herança dos períodos ditatoriais. Em correspondência com a valorização do Executivo está a 
desvalorização do Legislativo, “o papel dos legisladores reduz-se, para a maioria dos votantes, ao de 
intermediários de favores pessoais perante o Executivo” (p.223). Ainda há o problema da ausência de 
ampla organização autônoma da sociedade que faz com que os interesses corporativos consigam 
prevalecer. 
O cenário internacional traz empecilhos para o progresso da cidadania, a globalização da economia 
provoca mudanças importantes nas relações entre Estado, sociedade e nação, que eram o centro da 
noção e da prática da cidadania ocidental. Os direitos sociais são afetados pois a necessidade de reduzir 
o deficit fiscal implica reformas no sistema previdenciário, resultando em cortes de benefícios, 
descaracterizando o estado de bem-estar social. 
Numa visão otimista, Carvalho aponta as organizações governamentais como sendo uma orientação para
a relação entre sociedade e Estado. No início eram enxergadas como sendo adversas ao governo e 
dependentes de apoio financeiro externo. Após a ditadura, as ONG's estreitaram suas relações com o 
Estado em busca de fontes internas de recursos. A colaboração entre elas e os governos municipais têm 
resultado experiências inovadoras no encaminhamento e na solução de problemas sociais, sobretudo nas
áreas de educação e direitos civis. “Essa aproximação não contém o vício da “estadania‟ e as limitações 
do corporativismo porque democratiza o Estado”(p.227). O autor assinala ainda como mudança(dessa 
vez do lado do governo) em relação a administração petista e suas formas alternativas de envolver a 
população na formulação e execução de políticas públicas. 
No desfecho o autor disserta que o mal que atrasa o avanço democrático através da cidadania são os 
reflexos adquiridos pelos valores do capitalismo, sobretudo a cultura consumista, que reivindica uma 
desigualdade vazia e abstrata em detrimento da desigualdade social de fato. Esse fato agregado à 
incapacidade do sistema representativo de produzir resultados que impliquem na redução da 
desigualdade solidifica a sociedade brasileira divida conforme a educação, a renda e cor. Carvalho em 
analogia com o pensamento do naturalista José Bonifácio, afirma que “adesigualdade é a escravidão de 
hoje, o novo câncer que impede a constituição de uma sociedade democrática” (p.229).

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