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O Processo de Construção das Políticas Sociais ?????. ?? Autor: Prof. José Aparecido Batista Junior Colaboradores: Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome Nome O Processo de Construção das Políticas Sociais Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Professor conteudista: José Aparecido Batista Junior José Aparecido Batista Junior é de Sorocaba – SP. É assistente social graduado pelo Instituto Manchester Paulista de Ensino Superior. Atuou como coordenador de projetos sociais em uma ONG de São Paulo e como educador social da Guarda Mirim em cidades próximas a Sorocaba, é assistente social da Prefeitura de Sorocaba, professor do curso de Serviço Social da Universidade Paulista na modalidade presencial e EaD, além de ocupar o cargo de coordenador geral de estágio, coordenador auxiliar dos campi da UNIP de Pinherios – SP e de Sorocaba – SP, todos referentes ao curso em Serviço Social. Tem MBA em Gestão de Projetos, é mestre em Políticas Sociais e doutorando em Educação. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Z13 Zacariotto, William Antonio Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230. 1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título 681.3 ? Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Virgínia Bilatto Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Sumário O Processo de Construção das Políticas Sociais APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7 INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 A QUESTãO SOCIAL, SEUS REFLEXOS E AS INFLUêNCIAS DOS MODELOS ECONôMICOS ..........................................................................................................................................................9 1.1 modelos econômicos .............................................................................................................................9 1.2 As questões sociais frente aos modelos econômicos ............................................................ 46 1.3 Políticas públicas sociais e suas demandas conforme legislação nacional. Os avanços e desafios das Constituições nacionais ....................................................................... 74 Unidade II 2 A OPERACIONALIZAçãO E GESTãO DAS POLíTICAS SOCIAIS NA LóGICA DA GARANTIA DE DIREITO: UM ESPAçO EM CONSTRUçãO ...................................................................102 2.1 O sistema de proteção social integral na lógica da garantia de direitos ....................102 2.2 Os critérios estabelecidos para a inclusão nas políticas publicas sociais ....................115 2.3 Organização nas três esferas de governo para o desenvolvimento das políticas publicas sociais .........................................................................................................................126 2.4 A efetivação da municipalização das políticas publicas sociais ......................................139 Unidade III 3 DIREITOS SOCIAIS COMO FERRAMENTA PARA A EFETIVAçãO DA CIDADANIA ...................151 3.1 Direitos sociais .....................................................................................................................................151 3.2 Direitos socioassistenciais ...............................................................................................................161 3.3 Direitos individuais e sociais na lógica do Sistema de Garantia de Direitos nas Políticas Intersetoriais ......................................................................................................................175 7 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 IntrOduçãO Dentro da história sociocultural da civilização, este livro tem a intenção de expor como os países se organizam diante das desigualdades sociais decorrentes do modelo econômico para atender às demandas dos sujeitos sociais. Muitas políticas públicas sociais são discutidas para atender à demanda da população, entretanto, apesar de muitas existirem na legislação, não são executadas. Para tal, pretende-se percorrer o caminho de sua elaboração, execução e implementação nas três esferas de governo e identificar sua operacionalização em nível específico dos municípios com identificação da peculiaridade de acordo com o porte destes. Nossa disciplina tem como objetivos: • Compreender o usuário das políticas sociais, como cidadão histórico, de sistemas econômicos, vitimados pelas desigualdades sociais. • Reconhecer a histórica construção do processo de garantia de direitos individuais e sociais. • Identificar a lógica da descentralização da gestão das políticas sociais e a atuação exigida do profissional que nela atua. Ao operacionalizar as ações técnicas frente às políticas sociais, torna-se necessário o aprimoramento das interpretações que estão diretamente relacionadas no campo dos direitos legalmente instituídos. Neste sentido, buscou-se trazer a reflexão e análise crítica da construção das políticas públicas brasileiras, bem como a luta dos trabalhadores em prol do acesso a serviços e produtos que permitam garantir a continuidade da vida, respeitando a singularidade do sujeito. Como marco histórico, enfatizou-se a Revolução Industrial, por ser uma forma política e econômica que transformou a sociedade contemporânea em detrimento dos interesses particulares dos detentores do meio de produção, o qual se denomina de sistema capitalista, estabelecendo a concentração da riqueza socialmente produzida e promovendo o conflito entre o capital e trabalho, o que gera contradições no cotidiano da massa populacional de cunho material, social e econômico. O Brasil teve influência de potências capitalistas mundiais, como a Inglaterra e os Estados Unidos, posteriormente; neste aspecto foi pertinente compreender o processo de construção socio-histórico brasileiro, já que teve importantes ações desenvolvidas em detrimento dos interesses burgueses, como o fim da escravidão, que gerou e gera influências na operacionalização dos direitos. Para que não se tenha uma interpretação fragmentada sobre a necessidade de haver políticaspúblicas de caráter protetor, estabelecemos uma inter-relação com diferentes políticas sociais para que seja possível a identificação do dever do Estado na viabilização de ações que permitam a continuidade da vida e garanta o preceito maior contido na Constituição Federal de 1988, que preconiza a vida como direito de todos os sujeitos, pois não é possível transferir toda a responsabilidade ao indivíduo quanto à sua proteção, já que a única forma de ser alcançada é mediante o trabalho, que contemporaneamente não se traduz como mecanismo para a autoproteção. Com isso, gera-se um movimento similar entre os demais que se encontram na condição de trabalhadores assalariados. 8 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 É pertinente construir, nos técnicos que trabalharão com as políticas sociais de maneira direta ou não, a análise do processo de construção destas, para que seja possível o distanciamento de práticas que visem cercear o acesso aos direitos instituídos na Constituição Federal e legislações específicas, tomando como base o artigo 6º da Carta Maior em vigência, que estabelece os direitos sociais, fundamentais para a manutenção da vida; porém é preciso sua materialidade, crítica realizada em diferentes momentos desta disciplina. As políticas públicas foram fragmentadas devido à influência exercida com maior evidência pelo mercado econômico, liberalismo, neoliberalismo e globalização mercadológica e industrial, que potencializam a transferência da responsabilidade ao sujeito e ao mercado quanto à proteção, além de garantir a liberdade econômica. Todavia, não é possível ser admitida tal interpretação por profissionais que intervêm para a viabilização dos direitos, visando a uma nova sociedade, livre de diferenciações de todo tipo, bem como mais justa e igual, interpretações descritas na Constituição Federal de 1988; porém é possível verificar a fragilidade em sua operacionalização. Outra observação realizada nesta disciplina foi estabelecida pela dificuldade de gestão das políticas sociais, característica fundamental para os que atuam em tal realidade, sendo pertinente apontar diversas considerações sobre a administração dos direitos sociais e não apenas suas conceituações. 9 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais Unidade I 1 A queStãO SOCIAl, SeuS reflexOS e AS InfluênCIAS dOS mOdelOS eCOnômICOS 1.1 modelos econômicos Ao remeter as indagações acerca da conceituação dos modelos econômicos, faz-se necessário um ensaio a respeito da política e sua terminologia. Neste aspecto, o termo em destaque origina-se do adjetivo grego polis, palavra associada a uma cidade-estado, ou seja, espaço privilegiado geograficamente e visualmente, possibilitando maior segurança para os que estiverem instalados. O Estado – e, de um modo geral, o poder instituído em uma sociedade – é sempre e em todo lugar, ao mesmo tempo, instrumento de dominação de certas classes sobre outras [...] e um meio de assegurar certa ordem social, certa integração de todos na coletividade para o bem comum. A proporção de um e outro elemento é muito variável, segundo as épocas, as circunstâncias e os países; mas os dois coexistem sempre (DUVERGER apud PEDROSA, 1988, p. 25). A polis tinha característica similar a uma cidade, comparada na contemporaneidade; seu surgimento possibilitou o desenvolvimento significativo da civilização grega. Na polis havia grupos urbanos que viviam em aglomerados, nos quais se tomava a responsabilidade de tratar do cotidiano público de todos que faziam parte da polis, porém era evidente a exclusão dos que estavam na situação de escravos e julgados como não pertencentes à polis, como os metecos, que eram estrangeiros que viviam nesses espaços. O surgimento da polis foi influenciado pelo progresso mercantil, principalmente a agricultura, o comércio e locais que produziam tecidos, fazendo com que as pessoas se sentissem seguras em residir próximos às fortalezas que eram feitas nas polis; assim, a acrópole, ponto mais alto da polis onde ficavam os governantes, tornava-se seu centro político, ou seja, onde eram revolvidos os problemas. Portanto, ao referenciar o termo polis, o associamos a uma organização entre as pessoas livres (social) que interagiam a respeito das legislações relativas ao território; e era na ágora que se discutiam as questões cotidianas, onde havia manifestações e ações comerciais, por ser um espaço para um fácil encontro entre os indivíduos, sendo comparada a uma praça. [...] a polis nasce por convenção entre os seres humanos quando percebem que lhes é mais útil a vida em comum do que em isolamento. Convencionam regras de convivência que se tornam leis, nomos. A justiça é o consenso quanto às leis, e a finalidade da política é criar e preservar esse consenso (CHAUI, 1995, p. 381). 10 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Com a convivência coletiva e a necessidade da resolução dos problemas que surgiam no cotidiano, formava-se a necessidade de se pensar a estrutura urbana, a vida pública e civil; porém a terminologia política surge para representar a condução do governo, contando com intenções que normatizariam ou descreveriam suas ações. Concomitante a esta interpretação do termo, podem ser associadas aos estudos direcionados as ações humanas que influenciavam o Estado; neste sentido, para fins de exemplificação, tem-se a obra de Aristóteles denominada A Política, que é considerada por grande parte da sociedade acadêmica como a incipiente abordagem do Estado – divisão, funções e objetivos. Aristóteles (384–322 a.C.) representou um marco tendo em vista a futura formação da Ciência Política. Isso porque, mesmo no âmbito da filosofia e orientado pela Política ideal, adotou o método indutivo, realçando a observação das diversas formas de poder (e não poder) político, conforme atesta a sua análise das constituições e dos regimes políticos gregos e das constituições e dos regimes impolíticos ou não políticos (BARBOSA, s.d.). Aristóteles acreditava que a política associava-se à moral, devido ao objetivo central das ações do Estado ser a virtude, já que teria como responsabilidade a formação moral das pessoas. Para isso, deveria promover condições para tal operacionalização. Para o estudioso, o Estado é superior ao indivíduo, por representar a coletividade; neste sentido, o bem comum se sobrepõe ao interesse particular, e apenas o Estado pode proporcionar todas as necessidades do indivíduo. Como o Estado é formado pelo coletivo e este pelo conjunto de famílias que, consequentemente, é formado por inúmeras pessoas, tal fato nos faz refletir que o homem surge primeiro que o Estado, mas troca sua liberdade para viver em comunidade. A família para Aristóteles tinha característica patriarcal, sendo composta por quatro elementos básicos: • mulher; • filhos; • bens e escravos; • chefe. Ao chefe cumpre o dever de conduzir a mulher e os filhos, pois eram considerados imperfeitos em relação ao pai, e este também tinha que multiplicar as posses da família, pois é um item relevante para sua manutenção. Para isso, contava com os escravos, que eram analisados como seres animados. A política começa a ser associada ao poder; neste sentido, a tirania é utilizada como instrumento de dominação, fortalecida pelo aspecto da diferenciação entre os indivíduos na sociedade. Há na espécie humana indivíduos tão inferiores a outros como o corpo é em relação à alma, ou a fera ao homem; são os homens nos quais o emprego da força física é o melhor que se obtém. Partindo dos nossos princípios, 11 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessOde cOnstruçãO das POlíticas sOciais tais indivíduos são destinados, por natureza, à escravidão; porque, para eles, nada é mais fácil que obedecer. Tal é o escravo por instinto: pode pertencer a outrem [...] e não possui razão além do necessário para dela experimentar um sentimento vago; não possui a plenitude da razão (ARISTóTELES, s.d., cap. II, p. 7 e 13). O estudioso não nega a essência humana ao escravo, porém discursa que devem ser favorecidos os bens por meio dos trabalhos materiais desenvolvidos por pessoas tidas como “particulares”. Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades materiais de tais indivíduos. Daí a escravidão (MOURA, s.d.). Como a política é feita por meio do Estado, Aristóteles estabelece três formas de Estado: • monarquia: governo unitário, apenas de um indivíduo, tendo como característica a tirania, pois suas vontades se estabelecem na coletividade; • aristocracia: governo de poucos, concentrando o poder nas mãos de indivíduos selecionados e considerados superiores aos demais pela condição que ocupam, formando-se a oligarquia; • democracia: governo de muitos, em que é prevalecida a liberdade. Como constituição e governo significam a mesma coisa, e o governo é o poder soberano da cidade, é necessário que esse poder soberano seja exercido por um só, por poucos ou por muitos. Quando um só, poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum, temos necessariamente as constituições retas; quando o exercem no seu interesse privado, temos desvios [...]. Chamamos reino ao governo monárquico que se propõe a fazer o bem público; aristocracia, ao governo de poucos [...] quando tem por finalidade o bem comum; quando a massa governa visando ao bem público, temos a república, palavra com que designamos em comum a todas as constituições [...]. As degenerações das formas de governo precedentes são a tirania, com respeito ao reino; a oligarquia, com relação à aristocracia; e a democracia, no que diz respeito à república. Na verdade, a tirania é o governo monárquico exercido em favor do monarca; a oligarquia visa ao interesse dos ricos; a democracia, ao dos pobres. Mas nenhuma dessas formas tem vista à utilidade comum (ARISTóTELES, Livro Terceiro, capítulo V, apud BARBOSA, s.d.). 12 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Aristóteles acreditava que era primordial, para uma constituição das ações do Estado de forma positiva, o atendimento aos interesses do bem comum, sem privilegiar os interesses particulares dos governantes. Ponto primordial para a democracia, já que visa proporcionar o poder coletivo para que, assim, possa-se pensar de maneira ampla os interesses particulares que se transformam em comuns ao se estabelecerem socialmente. Platão afirmava que a polis e as pessoas tinham a mesma base, assim os seres humanos tinham três almas, que são: A alma concupiscente ou desejante, situada no ventre, que busca a satisfação dos apetites do corpo, tanto os necessários à sobrevivência, quanto os que causam prazer. [...] A alma irascível ou colérica, situada no peito, que defende o corpo contra as agressões do meio ambiente e de outros humanos, reagindo à dor na proteção de nossa vida. [...] A alma racional ou intelectual, situada na cabeça, que se dedica ao conhecimento, tanto sob a forma de percepções e opiniões vindas da experiência quanto sob a forma de ideias verdadeiras, contempladas pelo puro pensamento (CHAUI, 1995, p. 381). Já as cidades, possuíam três tecidos sociais que eram direcionados a determinadas almas que tinham os indivíduos, como observamos a seguir: 1. A classe econômica dos proprietários de terra, artesãos e comerciantes, na qual predomina a alma concupiscente ou desejante, dos que garantem a sobrevivência material da cidade. 2. A classe dos guerreiros, na qual predomina a alma irascível ou colérica, responsável pela defesa da cidade. 3. A classe dos magistrados, na qual predomina a alma racional ou intelectual, que garante o governo da cidade sob a lei (BARBOSA, s.d.). Para Platão havia a divisão das funções das pessoas na polis, pois deveriam existir os que garantiriam a manutenção da existência material, os que defenderiam a cidade e os que conduziriam seu governo por meio das leis, sendo este último mais forte que os demais; assim, o superior deve cumprir o papel de dominar os considerados inferiores. Platão defendia que uma sociedade justa deveria ser hierarquizada, com rigidez no cumprimento dessa divisão; desta forma, no topo estaria o clero, tendo a incumbência de governar os demais, se baseando nas literaturas sagradas; logo após, deveria estar a nobreza, com o dever de garantir a integridade das pessoas; e por fim, os que estariam na condição de trabalhares, sendo responsáveis pela produção dos bens cotidianos, necessários para a manutenção da vida. 13 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais Após o desmoronamento do Império Romano devido às crises provocadas por questões internas e devido à invasão de povos bárbaros, foi estabelecida uma nova atividade comercial, denominada feudalismo, ou seja, a terra começa a ter valor de comércio, bem como nos territórios dos feudos, começavam a surgir poderes locais, individualizados. Com a caída do Império surge outra instituição que tinha seu poder crescente: a Igreja. Após a queda do Império Romano a Igreja torna-se formuladora das teorias políticas cristãs para os reinos e para o Sacro Império Romano-Germânico. Tais teorias elaborarão a concepção teológico-política do poder, isto é, o vínculo interno entre religião e política (BARBOSA, s.d.). No feudalismo a divisão do trabalho era evidente, pois os senhores feudais possuíam a propriedade de terras e instalações, enquanto os camponeses detinham as ferramentas para exercer o trabalho, situação que proporciona determinada liberdade para estes; este sistema é denominado senhorial-feudal. Mesmo que incipiente no decorrer da construção da sociedade, há a presença de atividades econômicas que estabelecem as relações entre as pessoas, nas quais é possível incluir a transformação que a política teve em relação a sua aplicabilidade, como veremos nos próximos itens. O sistema feudal encontra-se em formação desde o Baixo Império Romano. A crise do Império fez com que os claríssimos (descendentes da nobreza senatorial) superem a sua condição absenteísta e tornem a habitar o campo. Os domínios (villa) são então divididos em reserva senhorial, explorada e comandada diretamente pelo senhor, e manso, loteado e explorado por seus protegidos que, em contrapartida pagam em produtos, dinheiro e serviços ao senhor. O manso é dividido, ainda, em manso livre ou ingênuo (ingénuile), cultivado pelos colonos (cuja lei proíbe camponeses de abandonar a terra, trabalhadores de abandonar a profissão, e filhos são obrigados a seguir a atividade do pai), e manso servil, cultivado pelos escravos assentados na terra, chamados servi casatti (BARBOSA, s.d.). Devido ao surgimento do feudalismo, estabelecia-se nova realidade social, que desenvolvia relações políticas entre Estado e sociedade inovadora, como a vassalagem: Na vassalagem, tão comum durante a Idade Média, o Estado vassalo tem seu território próprio, sua Constituição independente, mas é obrigado a pagar tributo pecuniário e prestar serviço militar ao Estado soberano que, em compensação, lhe dá auxílio e proteção. A vassalagem é uma etapa no caminho da independência,como disse Lapadelle, uma transição entre a condição inferior de província e a condição superior de Estado (AZAMBUJA, 2008, p. 168). 14 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I A crise do feudalismo começa na Baixa Idade Média (século XIV), com os problemas climáticos e pelo uso do solo objetivando apenas sua exploração. Com isso, não eram tomadas iniciativas para cultivação: O determinante mais profundo dessa crise provavelmente estará num “emperramento” dos mecanismos de reprodução do sistema até o ponto das suas capacitações básicas. Em particular, parece claro que o motor básico da recuperação dos solos, que impulsionara toda a economia feudal por três séculos, acabou ultrapassando os limites objetivos da estrutura social e das terras disponíveis. A população continuou a crescer e a produção caiu nas terras marginais ainda disponíveis para uma recuperação aos níveis da técnica existente, e o solo deteriorava por causa da pressa e do mau uso (ANDERSON, 1985, p. 191-192). Todavia, outros condicionantes levaram ao declínio do feudalismo, como, por exemplo, doenças, perda do valor da moeda local, inflação, conflitos entre governadores e governados, conflitos armados locais e regionais, problemas sociais, como a fome, entre outros, como observamos a seguir: A superfície agitada da crise revela-se: a escassez monetária decorrida da grande expansão urbano-mercantil leva reis a adulterar o valor das moedas cunhadas em ouro e em prata, desencadeando desvalorização monetária e inflação; o conflito entre senhores e reis pelos excedentes é responsável por infinitos conflitos e guerras locais e regionais e por conflitos amplos e duradouros (Guerras dos Cem Anos, Guerras das Duas Rosas etc.); levantes e rebeliões urbanas e rurais, a exemplo, respectivamente, da Jacquerie, revolta camponesa na França em 1358, e do Ciompi, levante dos trabalhadores assalariados de Florença em 1378; a Peste Negra manifesta nos surtos de 1348, de 1350-60 e 1373-75, que ao ceifar aproximadamente 30% da população desarticula a produção pela carência de mão de obra e abandono de atividades; e a fome, a exemplo da cidade francesa de Ypres em 1316, quando aproximadamente 15% da sua população morre de fome, também concorrendo para desarticular a produção, intensificar conflitos e ceifar vidas (BARBOSA, s.d.). Com a crise do feudalismo, a Europa Ocidental externava potencialidades em relação ao seu desenvolvimento, devido ao estabelecimento das cidades em ritmo frenético, concomitante com a ampliação da economia de mercado. As cidades começam a possuir novas características no período moderno devido à economia que era influenciada pela atividade comercial-manufatureira, aumento da população, em função do êxodo rural e liberdade política. Devido à vinda do homem do campo para as cidades, a região rural começou a atender aos interesses das regiões urbanizadas, iniciando sua dominação, urbanização e independência de outros espaços territoriais. Neste sentido, o campo passa a servir, tendo o engendramento de uma nova forma de utilização da terra: arrendamento, ou seja, os que arrendam (trabalhadores) pagam uma quantia para utilizar o solo. 15 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais O processo de cercamento dos campos na Europa, a partir dos séculos XV e XVI, tem como grande efeito a separação do produtor direto dos bens naturais (terra, madeira etc.) e dos meios de produção (ferramentas, excedentes etc.). Dessa forma, é lançada definitivamente a base das relações capitalistas de produção – na medida em que separa riqueza e capital, concentrado em poucas mãos que gera uma população desprovida de propriedade e bens para o capital e passiva de contrato via assalariamento – e do controle progressivo do capital sobre a produção em geral – na medida em que articula atividades produtivas sob as novas relações de produção (manufatura, agricultura comercial etc.) e desarticula atividades tradicionais (corporações, economia senhorial feudal etc.) (BARBOSA, s.d.). Com as características mencionadas, surge o Estado absolutista, que refere-se a um Estado feudal reformulado para garantir a aristocracia feudal, sendo que esta continua dona dos meios de produção de base, possibilitando a dominação política e econômica. O Estado absolutista é uma resposta da hegemonia aristocrática devido ao processo intensificado de urbanização, atividades econômicas e a relação entre o campo e a cidade, como já informado. Portanto, é estabelecido o convívio baseado na desigualdade entre as classes. Quando se respalda em Hobbes, é possível perceber que o homem tem na sociedade civil mecanismo para sua proteção, pois é estabelecido que a melhoria da qualidade de vida é interferida pela ordem social legal, transferindo a liberdade inerente ao ser humano para um órgão soberano, que tem a responsabilidade de criar e operacionalizar as legislações, por meio de um contrato social. [...] na teoria jurídica romana, o contrato ou pacto é válido somente quando estabelecido entre as partes reconhecidas como livres e iguais e se livre e voluntariamente for estabelecido. A teoria do direito natural garante estas condições, isto é, reconhece que as partes contratantes possuem os mesmos direitos naturais e são livres, possuem o direito e o poder para transferir a liberdade a um terceiro, e se consentem voluntária e livremente nisso, então dão ao soberano algo que possuem, legitimando o poder da soberania. Assim, por direito natural, os indivíduos formam a vontade livre da sociedade, voluntariamente fazem um pacto ou contrato e transferem ao soberano o poder para dirigi-los (CHAUI, 1995, p. 400). No final do século XVII, na Inglaterra, houve a Revolução Gloriosa, marcada pelo golpe do parlamento, pois queriam que o trono fosse assumido por Guilherme de Orange e não por Jaime II, como se esperava após a morte de seu irmão Carlos II. Esta Revolução não contou com nenhuma espécie de violência e Jaime II se refugiou na França após a mudança política. 16 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Com o episódio, a política da Inglaterra começa a adotar novos caminhos, pois permitiu a introdução da ordem liberal1 burguesa; desta maneira, o novo rei, que tinha características liberais, tomou posse e aceitou reconhecer a Toleration Act (Ato de Tolerância) que objetivava a tolerância religiosa exceto entre os católicos, e a Bill of Rights (Declaração de Direitos), que buscava a transformação das características liberais. Os dois documentos foram redigidos pelo parlamento e se tornaram importantes para a instalação e posterior desenvolvimento do capitalismo britânico. Neste momento, trataremos de questões oriundas da formação do sistema econômico baseado no capital, principalmente devido ao fato de estar em vigência no Brasil e em grande parte dos países existentes; todavia, iniciaremos as interpretações no final do século XVII, quando: Foi, então, assinado a Bill of Rights, “Declaração de Direitos”, que reiterou os direitos individuais e firmou a supremacia institucional de um parlamento bicameral na Inglaterra. Implantou-se a liberdade de imprensa, a livre iniciativa econômica desvencilhou-se de restrições anteriores, e logo desenvolveram-se outras reformas que permitiram a acumulação privada de lucro erigir-se em meta dominante das políticas governamentais. Os resquícios do problema camponês foram “resolvidos” pelo Enclosure Acts (“Decretos de Cercamentos”), pelos quais as antigas terras de uso comum foram cercadas e interditadas aos camponeses, forçando seu êxodo massivo para as cidades e dando lugar ao surgimento de extensas fazendas para a produção de lã (TRINDADE, 2002, p. 82-83).Durante o século XVIII, houve fatos históricos que marcaram o período: os ideais iluministas, objetivando a liberdade econômica e o término das amarras políticas próprias da monarquia; além do objetivo de estabelecer a economia em todo globo, influenciada pelo capitalismo industrial. Neste contexto, a França presenciava uma situação conflituosa, pois era berço para os iluministas, tinha um Estado monárquico e apresentava costumes oriundos das tradições feudais; o que fazia com que a sociedade neste país fosse dividida em tecidos sociais conforme sua situação econômica, principalmente. No topo da pirâmide social ficava a nobreza e o alto clero, que usufruía da posse de terras e era isento de impostos; havia também a família real, que vivia com os impostos recolhidos pelo governo, oriundos da sociedade; mas, nos centros urbanos, havia a classe burguesa, que não recebia nenhum auxílio do governo, sendo cobrada destes alta carga tributária, e os operários viviam em situação vulnerável. 1 Politicamente, o liberalismo apresenta-se no seu início como o grande promotor dos governos constitucionais, da liberdade individual, e campeão da luta pela liberdade de expressão. Historicamente, é com o liberalismo que pela primeira vez se criam oposições sustentadas ao centralismo e ao absolutismo políticos, sabendo-se que os primórdios da criação da economia como ciência são contemporâneos dos primeiros levantamentos liberais em diversos países. Em termos relativos, estaria situado à esquerda dos regimes tradicionais de então. Para os economistas, o conceito clássico de liberalismo econômico rompe com o sistema secular de organização econômica medieval, baseado em princípios e regras estreitas a que os grêmios de ofícios tinham que obedecer, e despolitiza a liberdade individual de decidir e atuar, que encontra eco numa racionalidade natural de cada agente econômico, conceito que induz mais tarde à concepção de racionalidade de todo o sistema capitalista, filho bastardo e braço econômico do liberalismo político (COSTA, s.d.). 17 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais No campo, tínhamos os camponeses, que ficavam sujeitos aos poderes econômicos dos senhores feudais e seus interesses; por consequência, as condições de vida eram precárias. Devido a tal situação, ocupavam os espaços urbanos visando dirimir os problemas, como a fome e o desemprego, porém nem todos adequavam-se aos interesses do capitalismo industrial que surgia. Na segunda metade do século XVIII, a França perdeu alguns conflitos militares e presenciou colheitas ruins, o que culminou em crises econômicas e desconforto social, iniciando manifestações populares descrentes das ações dos governantes – ações que eclodiram a Revolução Francesa. Essa Revolução contou com a participação de diferentes atores da sociedade, como desempregados, camponeses, pobres e pequenos comerciantes, pois estes deveriam custear as despesas do clero (1º estado) e nobreza (2º estado). Ela teve seu início em 1789, pois viram que estavam sendo ameaçados em relação aos seus privilégios, pressionando o rei para convocar uma Assembleia dos Estados Gerais para que fosse exigido do povo que custeassem os tributos. A Assembleia formava-se por representantes dos três grupos, cada um com direito a um voto; assim, tinham vantagens o clero e a nobreza, que somavam dois votos por combinarem as opiniões. Após a reunião, começou o conflito do 1º e 2º estado contra o 3º estado (povo), pois perceberam que o povo tinha vantagens, já que contava com a maioria dos deputados. Assim, pleiteavam que as votações fossem através da ordem social, e o povo vislumbrava o voto individual, mas, para que isso fosse viável, a constituição deveria sofrer alterações, sem o consentimento do 1º e 2º estado, o que fez com que o povo se revoltasse, deixasse os Estados Gerais e formasse a Assembleia Nacional Constituinte. Houve a tentativa de reação do rei Luís XVI, mas o povo com a união não cedeu e a Revolução teve como base a “liberdade, igualdade e fraternidade”. Ao analisar os modelos econômicos na perspectiva dos direitos sociais e do bem comum, precisamos evidenciar quais são os reais interesses existentes neles. Perceptível na interpretação de Trindade (2002), na Inglaterra houve um preparo para a implantação da Revolução Industrial no século XVIII, porém esta pagou o preço: a massa populacional, ou seja, camponeses, em função do interesse individual dos detentores da terra, se viram obrigados a irem para as cidades, favorecendo diretamente a produção de lã e a formação de uma mão de obra tida como “livre” para o mercado, diferentemente do Brasil, que ainda vivia a escravidão. Com a mão de obra livre, surge o trabalhador que vende sua força de trabalho a um valor bem inferior ao que de fato valeria, com o estabelecimento de exigências feitas pelo comprador deste serviço, que na essência era visto como mercadoria: Formou-se assim na Inglaterra, à força e em poucas décadas, uma numerosa classe operária urbana: economicamente, “livre” de seus antigos meios de produção, e, juridicamente, “livre” para locomover-se do campo para os bairros miseráveis das cidades e lá abraçar a perspectiva de vida que lhe restava; vender as força de trabalho a baixíssimo preço a quem quisesse empregá-la (TRINDADE, 2002, p. 83). 18 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Neste momento, o “trabalhador livre” começa a perder autonomia sobre sua vida, já que para tê-la depende do comprador de sua mão de obra, situação que o deixa em posição inferior comparado ao empregador que detinha poder sobre o trabalhador, que carecia de recursos para sua subexistência, ficando alijados a situações sub-humanas, tendo que morar em locais inapropriados, sem saneamento básico, espaços insalubres e ou construções precárias. Surge o trabalho assalariado, o qual deixa na posição de submissão os que estão nesta situação, promovendo uma transformação ou o início nas relações de trabalho, pois era de responsabilidade do comprador da força de trabalho disciplinar e estabelecer o horário de trabalho dos seus empregados. Em paralelo, ainda no século XVIII, nos Estados Unidos, ocorria a Revolução Americana, que visava à independência das colônias da América do Norte da Grã-Bretanha e, com a vitória, constituíram a república independente, com princípios democráticos, e tinham força de Estado. O país tornou-se referência com o ideário libertador às demais colônias ibero-americanas. Este panorama faz-nos compreender simultaneamente o retrocesso em que o Brasil vivia sob a interpretação inglesa, pois o trabalho escravo era um impeditivo para que houvesse a liberdade econômica e de produção. Com suas ações, a Inglaterra tinha grande império colonial e havia se tornado potencial comercial, sendo intensificado tal desenvolvimento no final do século XVIII com o [...] intenso desenvolvimento tecnológico – invenção da fiandeira e do tear mecânicos, produção de ferro com carvão de coque, fabricação de navios e locomotivas movidas a vapor etc. -, a burguesia britânica pôde tirar partido da reunião privilegiada dessas duas condições (abundância de força de trabalho “livre” e monopólio quase solitário do mercado mundial) para promover a substituição das antigas manufaturas pela indústria mecanizada moderna. O país ganhou dianteira no desenvolvimento do capitalismo e, em 1780, já iniciava o grande salto produtivo dessa Revolução Industrial, que converteria a Inglaterra na principal potência econômica, militar e colonial do planeta por mais de cem anos (TRINDADE, 2002, p. 83). A partir da economia, a Inglaterra tinha conseguido sua hegemonia; com a ascensão na produção e mecanismos que fortalecem tal objetivo, levou a sua centralidade, não apenas a economia, mas tornou-sepotência militar e colonial. Paralelamente, no Brasil, ainda havia a escravidão, como informado, e a Inglaterra, por meio de sua autoridade, recomendou a abolição da escravatura no país. Assim, diversos fatores favoreceram tal questão, como a existência de alguns grupos heterogêneos abolicionistas no Brasil e as pressões inglesas que pleiteavam um aumento do mercado consumidor, pois estavam no auge do processo de industrialização (Revolução Industrial) e a escravidão do seu parceiro comercial não proporcionava poder de aquisição, que por sua vez não vinha de encontro com o interesse inglês, já que a Inglaterra já havia findado a escravidão, potencializando efetivação para o fim desta no território brasileiro. Os grandes latifundiários das colônias britânicas estavam se sentindo lesados, já que, devido ao aparecimento nessas regiões do trabalho assalariado, aumentara o custo da produção inglesa e, como o Brasil não tinha tal 19 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais custo, acabava tornando seus produtos mais baratos. Assim, os donos de terras inglesas pressionaram o parlamento para que fosse tratado o fim da escravidão de maneira mais direta. Em 1845, foi aprovada a Lei Aberdeen Act (Lei Bill Aberdeen), que autorizava a Marinha Real Britânica a apreender qualquer navio envolvido no tráfico negreiro; como consequência, cinco anos mais tarde em solo brasileiro, foi aprovada a Lei Eusébio de Queirós, que proporcionou substancialmente a diminuição do tráfico, que era a forma mais usada para conseguir escravos. Somente não o fez totalmente em função de alguns senhores contrabandearem ilegalmente escravos africanos, mas tal medida já proporcionou o aumento significativo do preço a ser pago para obtenção de escravos, causando sua redução em relação à procura. Em 1871, foi promulgada a Lei do Ventre Livre, que garantia a liberdade dos filhos dos escravos, mas como a criança viveria sozinha e indefesa? Os senhores com o apoio do governo resolveram tal questão, já que os nascidos “ficariam em poder dos senhores de suas mães até a idade de oito anos. A partir dessa idade, os senhores podiam optar entre receber do Estado uma indenização ou utilizar os serviços do menor até ele completar 21 anos” (FAUSTO, 2006, p. 121). Intelectuais e políticos da época ajudaram na campanha abolicionista e, devido às pressões internas e externas, o movimento escravista continuou em decadência. A Lei dos Sexagenários, de 1885, que previa a libertação de todos os escravos com idade superior a 60 anos, potencializou-o; no entanto, eram poucos que conseguiam alcançar esta idade, em função de como eram tratados no decorrer de sua vida. Em 5 de maio de 1888, o Papa Leão XIII, na encíclica2 In Plurimis encaminhada aos bispos brasileiros, solicita o apoio do Imperador e da sua filha Princesa Isabel na luta contra a abolição da escravatura. Oito dias depois, a princesa assina a Lei Áurea, extinguindo oficialmente a escravidão no Brasil, havendo a libertação de todos os escravos sem a oferta de condições para que pudessem se manter. Apenas para realizar um paralelo desse momento histórico, ou seja, fim do século XIX, deve ser apontada a crise do capitalismo na década de 1870, em função da elevada especulação, sobretudo alemã, que fez com que a Bolsa de Valores de Viena entrasse em colapso. Em 8 de maio de 1973, devido ao excesso de investidores, acabou a entrada de dinheiro nos bancos falidos, o que culminou na falência das empresas que recebiam o auxílio desses locais, promovendo grande taxa de desemprego dos que estavam tanto nas cidades como no campo. Voltando para a realidade brasileira, os “ex-escravos” ganharam liberdade burocrática somente, pois não foram alteradas em nada as suas condições socioeconômicas, porque eles continuavam na miséria, não tinham acesso à escola e todos exerciam preconceito contra os agora vistos como negros, ponto que se percebe até a contemporaneidade. Isso agravou suas condições, por haver preferência pelo trabalhador imigrante nas áreas regionais mais dinâmicas da economia e escassas oportunidades abertas aos ex-escravos, restando a exploração exaustiva desta mão de obra e acarretando assim o aumento do abismo no campo da desigualdade social da população negra em relação aos brancos. Fausto (2006, p. 124-125) relata que “sobretudo nas regiões de forte imigração, ele foi considerado um ser inferior, útil quando subserviente ou perigoso por natureza, ao ser visto como vadio e propenso ao crime”. 2 Documento pontifício dirigido aos cardeais de todo o mundo e, por meio deles, a todos os fiéis com recomendações de ações. 20 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Após este paralelo em relação à influência da Inglaterra na abolição da escravatura e o início da Revolução Industrial, que culminou na industrialização que apenas no século XX teve grande ascensão no Brasil, faremos o resgate histórico dos principais pontos após a Proclamação da República, fazendo uma interlocução com as questões econômicas que estão direcionadas no processo histórico brasileiro. Concomitantemente, as indústrias transformavam-se na medida em que houvesse a possibilidade de maior produtividade, bem como a diminuição das despesas, incluindo os salários dos trabalhadores. Um bom exemplo disso é o fordismo que: Hoje, o termo tornou-se a maneira usual de se definirem as características daquilo que muitos consideram constituir-se um modelo/tipo de produção, baseado em inovações técnicas e o consumo em massa. Nesse sentido, referindo-se ao processo de trabalho propriamente dito, o fordismo caracterizar-se-ia como prática de gestão na qual se observa a radical separação entre concepção e execução, baseando-se esta no trabalho fragmentado e simplificado, com ciclos operatórios muitos curtos, requerendo pouco tempo para formação e treinamento dos trabalhadores. O processo de produção fordista fundamenta-se na linha de montagem acoplada à esteira rolante, que evita o deslocamento dos trabalhadores e mantém um fluxo contínuo e progressivo das peças e partes, permitindo a redução dos tempos mortos, e, portanto, da porosidade. O trabalho, nessas condições, torna-se repetitivo, parcelado e monótono, sendo sua velocidade e ritmo estabelecidos independentemente do trabalhador, que o executa através de uma rígida disciplina. O trabalhador perde suas qualificações, as quais são incorporadas à máquina. Na concepção de Ford, o operário da linha de montagem deveria ser recompensado por esse tipo de trabalho através de um salário mais elevado – o famoso Five dolars Day proposto na fábrica de Ford (LARANJEIRAS, 1997, p. 89-90). Neste aspecto, o fordismo pode ser considerado como um conjunto de atividades que envolvem a economia, a administração, o gerenciamento, políticas e sociabilização; assim, mediante técnicas, é possível potencializar a reprodução do capital em detrimento dos interesses da classe dos detentores do meio de produção. Em 15 de novembro de 1889, houve a Proclamação da República, na qual foi presenciada grande disputa para obter o poder da República Federativa do Brasil. Não tendo consenso de como seria sua organização, os representantes da classe dominante que atuavam principalmente nas províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul defendiam a ideia da República Federativa, pois proporcionaria autonomia significativa às unidades regionais. Já o Partido Republicano Paulista (PRP) e os políticos mineiros entendiam que o melhor era o modelo liberal; os republicanos gaúchos, por sua vez, eram positivistas; não se tem uma certeza do motivo por preferirem esta linha de atuação, tendo uma das possibilidades enfatizada por Fausto: 21 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as Man sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais É possível que para isso tenha ocorrido a tradição militar naquela área e o fato de que os republicanos era aí uma minoria, em busca de uma doutrina capaz de lhes dar forte coesão. Eles teriam de se impor a uma corrente política tradicional, representada no Império pelo Partido Liberal (FAUSTO, 2006, p. 139). Os militares também exerceram influência nos primeiros anos da República, tendo como representante do Governo Provisório o Marechal Deodoro da Fonseca (Presidente da República), e contavam com um número expressivo de oficiais no Congresso Constituinte, mas não poderia ser atribuída característica de um grupo homogêneo, já que havia inúmeras rivalidades entre o exército e a marinha, pois esta última era associada à Monarquia, além de existirem conflitos pessoais e de entendimento entre os partidários de Deodoro e Floriano Peixoto (vice-presidente), uma vez que os seguidores do Marechal não concordavam com os ideais positivistas por não terem frequentado a Escola Militar. Já que possuíam a formação influenciada pelo positivismo e eram inseridos na sociedade como soldados-cidadãos, com a missão de dar um sentido ao rumo do país, foram um grupo que teria ajudado a derrubar a Monarquia, com o intuito de manter a honra do exército. Floriano Peixoto não era positivista, mas os oficiais que estavam presentes ao seu lado haviam frequentado a Escola Militar. Fausto relata que “A República deveria ter ordem e também progresso. Progresso significava a modernização da sociedade através da ampliação dos conhecimentos técnicos, do industrialismo, da expansão das comunicações” (FAUSTO, 2006, p. 139). Embora existissem tais contradições, esses grupos não expressavam interesses de uma determinada classe social, como faziam os defensores da República liberal. O primeiro decreto do novo regime é assinado por Rui Barbosa. A proclamação comunicava que “o povo, o exército e a armada nacional” haviam deposto a família imperial e que o Governo Provisório dirigia a nação até que fosse escolhido um governo definitivo [...]. O decreto declarava “proclamada provisoriamente e decreta como forma de governo da nação brasileira a República Federativa”. As províncias, reunidas em federação, constituiriam os Estados Unidos do Brasil. Cada Estado faria sua Constituição, elegeria seus governantes. Os compromissos internacionais contraídos durante o Império seriam respeitados (ALENCAR, 1996, p. 219). Outras medidas desse governo foram influentes no cotidiano do povo, como a grande neutralização, ou seja, a facilidade de mudança da naturalidade dos estrangeiros residentes no Brasil, a reforma do ensino que seguiu os ditames positivistas e a separação da Igreja Católica do Estado. Além disso, o Governo Provisório criou símbolos para efetivar sua legitimação e afirmação, como a nova bandeira a ser adotada, contendo o lema positivista “ordem e progresso”, e o hino nacional, escolhido mediante concurso; com passos lentos, resgata-se a figura de Tiradentes como herói nacional. A Monarquia deixou heranças difíceis para a República, pois era grande o desequilíbrio das transações econômicas do Brasil com o exterior e sobretudo os gastos com importação eram enormes. Assim: 22 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I No final do século, as despesas com o desenvolvimento de atividades urbanas e industriais eram elevadas: expansão da rede ferroviária, melhoria dos portos, instalação de fábricas, tudo exigia mais e mais recursos. A abolição também representou aumento dos déficits do Tesouro Nacional: os fazendeiros – escravocratas ou não – precisavam de recursos (em forma de créditos), sobretudo para a remuneração da nova força de trabalho, os assalariados (ALENCAR, 1996, p. 232). A população vivenciando tais questões cada vez mais ficava a mercê da sorte, pois inexistiam políticas públicas protetivas; como dito anteriormente, existia um enorme contingente de ex-escravos que não possuíam meios para se manter, em especial, no que tange aos itens essenciais para a manutenção da vida: moradia, alimentação e vestuário, não necessariamente nesta ordem. Devido a esta realidade, a massa de “trabalhadores livres” ou ex-escravos se sujeitava a atividades desumanas em troca de um pouco de comida e ou moradia; os analfabetos, as mulheres, os membros de ordens religiosas e os soldados (“praças de pé”) eram impedidos de votar, além de se retirar a obrigação do Estado em fornecer ensino primário a população. Marechal Deodoro da Fonseca assume a presidência mediante eleição indireta e teve seu governo constituído por crises, visto que herdara conflitos anteriores que intensificou por não representar exclusivamente as camadas médias e urbanas nem diretamente as oligarquias mais poderosas nos estados. Contudo, sua linha de atuação falhou e imediatamente houve reações, que foram ajudadas pelo vice-presidente Floriano Peixoto e por militares liderados pelo Oficial da Marinha; trabalhadores da Central do Brasil entraram em greve para protestar contra o fechamento do Congresso, e o presidente renuncia em 23 de novembro de 1891, posto assumido posteriormente por Floriano Peixoto, que tinha o apoio de boa parte do exército e possuía como objetivo o estímulo da industrialização. Para a próxima disputa, a função de representante maior do governo Floriano iria enfrentar o representante da burguesia do café Prudente de Moraes, do Partido Republicano Paulista. Tais oligarquias já estavam mais solidificadas e organizadas em partidos estaduais, controlando os votos da maioria, sobretudo dos camponeses; por outro lado não era viável e fácil manter o Marechal de Ferro (nome dado a Floriano Peixoto por não ter tido medo de enfrentar turbulências difíceis durante seu governo) como presidente, como destaca Alencar: [...] não seria fácil para o “Marechal de Ferro” transgredir as leis da república que ele acabara de consolidar. Os militares acataram a legalidade, mas com ressentimento: quando o “casaca” Prudente de Moraes chegou ao palácio do Itamarati, no Rio de Janeiro, para tomar posse, havia apenas um representante do governo anterior para recebê-lo. E secamente. [...] Mesmo conseguindo concluir seu mandato, Prudente de Moraes não governou em paz. Foram anos agitados, que culminaram com uma tentativa de assassinato realizado contra ele, quando morreu o Ministro da Guerra, marechal Carlos Bittencourt. A república, porém, já estava nas mãos da oligarquia paulista. Restava organizar e consolidar a dominação (ALENCAR, 1996, p. 236-237). 23 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais Prudente de Moraes foi eleito em 1 de março de 1894, passagem que trouxe o fim da presença do Exército na Presidência da República, com exceção do Marechal Hermes da Fonseca, eleito para o período de 1910 a 1914. O novo presidente era representante do café que se expandia. Em 1890 o Estado de São Paulo tinha cerca de 200 milhões de cafeeiros e, 15 anos depois, o número ultrapassava 680 milhões. Em 1930, atingiu a marca de mais de um bilhão, fazendo com que São Paulo fosse responsável pela comercialização da metade do consumo mundial deste produto. No entanto, o café realmente trazia muitos benefícios, mas não para a população de massa, ou seja, aos trabalhadores rurais, mas, sim, aos plantadores, comerciantes e banqueiros que investiam capital com o intuito de fazer crescer as lavouras, obtendo lucro das transações comerciais e financeiras. O café trouxe inúmeros benefícios para o país na área econômica, como maior empregabilidade, arrecadação fiscal e alargamento do mercado interno, além de promover o desenvolvimento da rede ferroviária e a ampliação dos portos e serviços urbanos, seduzindo o desenvolvimentoda imigração, pois, conforme a indústria ia crescendo nos países europeus e havia a substituição da mão de obra por máquinas, europeus vinham ao Brasil para tentarem uma vida melhor. Contudo, o setor social foi esquecido, pois acabara a escravatura, mas não o trabalho exploratório, o que criou disparidades entre as regiões do país e diferentes classes econômicas, uma vez que a burguesia detinha a concentração do capital junto com as casas exploradoras estrangeiras que acentuavam as desigualdades, principalmente nos períodos de crise. Sales destaca que era a [...] cultura da dádiva, que é a expressão política de nossa desigualdade social, mediante a relação de mando/subserviência cuja manifestação primeira se deu no âmbito do grande domínio territorial que configurou a sociedade brasileira nos primeiros séculos [...]. A dádiva chega a nossa república substituindo os direitos básicos de cidadania, que não nos foram outorgados pelo liberalismo caboclo que aqui aportou na passagem do século. E, nessa medida, a saída para as relações de mando/subserviência que estão na base da cultura da dádiva, contribuindo para aprofundar nossas desigualdades, tem se dado em duas direções: em situações de fuga ou itinerância por parte do trabalhador rural e das populações pobres em geral, do que a história das migrações internas no Brasil é o exemplo mais contundente; e na reificação em todas as situações, dos que permanecem no local de origem ou dos que buscam saída na itinerância, do fetiche da igualdade. O fetiche da igualdade, para a definição do qual me vali dos conceitos “democracia racial” de Gilberto Freyre e “homem cordial” de Sergio Buarque de Holanda, são os fatores mediadores de nossas relações de classe, que têm ajudado a dar uma aparência de encurtamento das distâncias sociais, contribuindo, dessa forma, para que situações de conflito frequentemente não resultem em conflito de fato, mas em conciliação (SALLES, 1993). Com o início do processo transitório das atividades agrícolas para as industriais, teve-se também o da urbanização, formando as classes econômicas médias: funcionários públicos, profissionais liberais, empregados das firmas de serviços públicos e do comércio. Outro grande número fazia parte da classe baixa, pertencente ao proletariado, que começava a se formar; estima-se que em 1910 a população de São Paulo girava em torno de 375.000 habitantes, e a do Rio de Janeiro cerca de 850.000. 24 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Havia um grande número de imigrantes, muitos ex-operários, que eram mantidos como trabalhadores de reserva, usados também nas indústrias, principalmente nos momentos da crise do café; como diz Alencar (1994, p. 249) “Portanto, apesar da dependência, a economia cafeeira acabaria favorecendo, indiretamente, o crescimento industrial no Sudeste”. Como é sabido, essa realidade não era para todos, pois ainda havia aqueles destacados por Freyre (1973, p. 35-36): São milhões que se acham nessa condição intermédia, que não é o escravo, mas também não é o cidadão [...]. Párias inúteis vivendo em choças de palha, dormindo em rede ou estrado, a vasilha de água e a panela seus únicos utensílios, sua alimentação a farinha com bacalhau ou charque; e “a viola suspensa ao lado da imagem”. Nesta primeira fase da República, final do século XIX até 1930, a imigração foi um dos traços mais significativos no patamar socioeconômico, pois acredita-se que entraram no Brasil nesta época cerca de 3,8 milhões de estrangeiros. Houve um declive durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), que causou o medo nos latifundiários, já que temiam a falta de mão de obra, pois acontecia o desenvolvimento da indústria neste período no Brasil e no início do século XX. Contava-se com os operários estrangeiros, principalmente italianos, portugueses e espanhóis, que se instalavam na região Centro-Sul do país; no entanto, após o fim da guerra houve novamente a procura dos emigrantes pelo país. O aparecimento da indústria não trouxe melhoria para a vida dos, então, operários; eram excluídos e marginalizados, uma vez que não tinham a fortuna da burguesia, sobrando para eles morarem em favelas e cortiços. Os salários ofertados flutuavam, variando de acordo com a vontade do empregador, e com isso a vida do operário ficava cada vez mais vulnerabilizada e propensa a piorar, não permitindo que vivessem com dignidade devido aos baixos e miseráveis salários pagos, realidade igual a dos ingleses no início deste subitem. Os patrões não tinham problemas com seus empregados por dois principais fatores, que são: um que estava associado à imigração e o outro na vinda do homem do campo para a cidade, formando uma massa trabalhadora, ou seja, o exército de reserva de mão de obra destacado por Marx. Era fácil trocar de empregado caso houvesse descontentamento, devido a sua grande oferta. Homens, mesmo trabalhando exaustivamente junto com suas mulheres e filhos que mantinham o mesmo ritmo de trabalho, não conseguiam prover meios para suprirem suas necessidades emergenciais, já que ficavam à mercê desse sistema controlador e manipulador. Como dito anteriormente, o salário não era suficiente para as despesas básicas da família, como enfatiza Silva: As fábricas podiam ser comparadas a verdadeiros presídios, com seus guardas armados, com os operários trabalhando doze, quatorze e até dezesseis horas diárias, com os mestres e contramestres que abusavam sexualmente das meninas e mulheres e agrediam fisicamente os menores, forçando-os à pederastia. A impunidade aumentava o grau de prepotência e a violência daqueles indivíduos (SILVA, 1992, p. 227). Acredita-se que os operários ganhavam somente 50% do que necessitavam para o sustento de sua família. Com todos estes problemas, os operariados urbanos constantemente estavam em greve 25 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais buscando melhores condições de vida para si e sua família; percebendo a falta de interesse do Estado na melhoria da condição de vida desta parcela da população, eram vistos pelos empregadores como mera extensão das máquinas que serviam somente para dar lucro. Observação Pederastia: palavra de origem grega para representar a relação sexual forçada de homens jovens com mais velhos. Em 1934, foram convocadas novas eleições para uma Assembleia que rapidamente proporcionou uma nova Constituição Federal, culminando no fim da República Velha, que: Desmoronara-se, mais pelo deterioramento das instituições do que pelo impacto do acontecimento revolucionário. Tornava-se velha, no sentido da caducidade, sem ter sido jamais República. Mas, assim como os males do Império, tornaram-se os vícios da República, porque a renovação revolucionária apenas começara (SILVA, 1998, p. 25). A vinda de Getúlio Vargas à presidência da república se deu em meio aos conflitos, pois os militares mais graduados haviam deposto o governo do Presidente Washington Luís (1926-1930) e impediram que Júlio Prestes assumisse a presidência, já que este derrotara Getúlio na eleição presidencial de março, ou seja, pela primeira vez desde a proclamação da República, em 1889, o ganhador não conseguiria chegar ao governo, então, Vargas assume o cargo em caráter provisório em novembro de 1930. O número era tão grande de pessoas sem trabalho que em 1931 girava em torno de 2 milhões de desempregados e subempregados no país, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Estes esperavam em praças para saber sobre alguma oportunidade de emprego. A força animal utilizada no campo gradativamente foi sendo substituída pelas máquinas e o alimento, também antes colhido da terra para subsistência, agora começava a ser comercializado em armazéns e supermercados. Os colonos foram dispensados e obrigados a ir paraa cidade, faltando assim espaço físico e alimento para todos; a falta de comida e não ter como a prover obrigava as famílias em meio ao desespero da fome a saquearem armazéns e lojas, muitos eram presos, sumiam e nunca mais eram vistos. Neste momento, a questão social era analisada como pobreza, portanto ela era vista pelos burgueses como caso de polícia, pois a elite se sentia ameaçada pelas manifestações operárias e passaram a aceitar o Estado como mediador dos conflitos. O governo de Vargas teve como uma das principais características o populismo3, e neste momento a classe trabalhadora admite ser controlada pelo Estado populista, por acreditar ser seu defensor frente à classe dominante. 3 O populismo pode ser definido, em síntese, como a política estatal de controle das classes trabalhadoras urbanas (operariado, classes médias assalariadas, pequena burguesia proprietária). Em outras palavras, no populismo os grupos burgueses que exercem o poder, incapacitados de controlar as camadas populares, recorrem ao Estado para que este intermedeie os conflitos de classes, como relata Silva (1992, p. 253). 26 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Vale ressaltar que houve o declínio do tenentismo, visto que desde a Constituinte de 1933 e a promulgação da Constituição Federal de 1934 apresentava este quadro e, neste mesmo ano, o tenentismo já tinha deixado de existir como movimento organizado. Em seu lugar, novas organizações políticas começaram a surgir, influenciadas pelos acontecimentos europeus. Destacando na época, como representantes das forças repressoras, Eduardo Gomes e Eurico Gaspar Dutra. Os direitos sociais estavam afincados aos interesses econômicos do país e conjuntamente ao da classe burguesa, uma vez que a massa era dada pela classe trabalhadora. Portanto o governo de Getúlio Vargas pretendia disciplinar o capital e o trabalho por meio do controle dos sindicatos e pela concessão lenta das Leis Trabalhistas, como enfatiza Santos (1979) “[...] política social do Estado teria instaurado, no pós-trinta, uma anomalia – a ‘cidadania regulada’ –, ao invés de uma cidadania verdadeiramente universal”. Como exemplo, tem-se: • jornada de trabalho de oito horas; • descanso semanal obrigatório; • férias remuneradas; • regulamentação do trabalho da mulher e do menor; • assistência médico-hospitalar; • indenização por dispensa sem justa causa; • instituição do salário mínimo em 1940, tendo como base uma pesquisa que verificou quanto era necessário ganhar para que uma família pudesse atender às necessidades básicas como alimentar, de transporte, habitacional e de vestuário. Em 10 de novembro de 1937, Getulio Vargas outorgou uma nova Constituição com o apoio dos generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra; o Estado Novo não dependia de apoio popular organizado na sociedade e não tinha nenhuma base ideológica consistente, pois para Vargas sua criação era de cunho absolutamente pessoal. Como Skidmore (1982, p. 54) discursa “A despeito das roupagens corporativistas, o seu Estado Novo era uma criação altamente pessoal”, o país não fora capaz de encontrar soluções democráticas para solucionar os problemas que acarretou no fim da República Velha. Francisco Campos, um dos seus idealizadores, acreditava que a liberal-democracia não era aceitável, pois atendia a problemas pessoais, locais, de alguns grupos, e o grande medo que pairava era que essas medidas estimulassem o comunismo. A nova Carta Constituinte transferia poder absoluto ao então presidente, como se percebe com Silva: 27 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais A Polaca4 suprimia a autonomia dos estados e dava a Vargas o poder de dissolver o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais e as Câmaras Municipais, substituir governadores e nomear interventores [...]. Facultava também ao governo reformar a própria Constituição, controlar as Forças Armadas e concentrar em suas mãos o controle dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo (SILVA, 1992, p. 255). O Estado Novo trouxe importantes reflexos à vida política e administração pública, como, por exemplo, na transformação das relações entre o poder federal e estadual e, com isso, aproximou o Brasil para um governo nacional, pelo fato de os governos estaduais e municipais exercerem muitas funções que eram da alçada do poder federal, e assim se distribuiu tais atribuições para esta última esfera, como a educação e o trabalho. Vargas acreditava que o Estado tinha que ser controlador e não participante. Com os novos órgãos federais que se instalavam, os estados e municípios, por sua vez, iam perdendo cada vez mais seus poderes e, com o crescimento da responsabilidade federal, crescia na mesma proporção a burocracia, assumindo um papel ditador. No inicio de 1940, intelectuais e políticos manifestavam-se contra essa forma de aplicar o poder e estavam querendo de volta a democracia. Escritores pediam a liberdade de expressão, os protestos populares ganhavam dimensões maiores, os estudantes formaram agremiações para manifestar o descontentamento; mas os conflitos foram atenuados quando Vargas anunciou que não iria se candidatar a presidência. Então, a campanha presidencial teve três principais nomes: o Brigadeiro Eduardo Gomes (União Democrática Nacional), o General Eurico Gaspar Dutra (Partido Social Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro) e Yedo Fiúza (Partido Comunista Brasileiro), já que o Mario Rolim Teles não tinha expressividade se comparado aos outros candidatos. No entanto, Getúlio não esperava o golpe, como escreve Silva: O golpe articulado pela UDN e pelas Forças Armadas, em que se destacavam os generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, foi finalmente desfechado em 29 de outubro de 1945. Naquele dia tropas comandadas por Góis Monteiro cercaram o Palácio Guanabara e forçaram Getúlio a renunciar. Era o fim do Estado Novo (SILVA, 1992, p. 259). Devido às manifestações populares que se faziam em 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi obrigado a deixar o cargo que imediatamente foi entregue a José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, o qual imediatamente tratou de alterar o código eleitoral e instituiu eleições para 2 de dezembro desse mesmo ano apenas para presidência da República e para o Congresso Nacional, que posteriormente se transformaria na Assembleia Nacional Constituinte. 4 Nome dado à nova carta, pois “era uma verdadeira colcha de retalhos, na medida em que seu conteúdo era mesclado por elementos fascistas italianos, alemães, austríacos e poloneses, o que lhe valeu o nome de Polaca, segundo alguns historiadores” (SILVA, 1992, p. 254). 28 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I O general Dutra ganhou as eleições contando com grande vantagem em relação ao seu principal concorrente Eduardo Gomes. Ele tinha apoio da elite do país que representava 80% dos constituintes e vinha com ideias também autoritárias; porém, como Silva (1992, p. 265) expôs, “Não nos esqueçamos de que essas mesmas forças derrubaram o ditador e que, por isso mesmo, apareciam, aos olhos do povo, como as novas forças democratas”. Acredita-se que o novo presidente Dutra manteve em vigor a Lei de Segurança Nacional e a Constituição de 1937 para evitar problemas maiores com os comunistas, trabalhadores e socialistas; no entanto, em setembro de 1946 era promulgada a nova Constituição, propondo, dentre outras coisas: • manter a República Federalista Presidencialista; • estabelecer cinco anos de mandato para o presidente e seu vice; • conservar a autonomia dos três poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo; • estabelecer o direito de voto secreto e universal para todo cidadãomaior de dezoito anos, exceto analfabetos, soldados e cabos; • conceder ampla autonomia política e administrativa aos estados e municípios; • garantir liberdade de opinião e de pensamento; • assegurar o direito de greve e da livre associação sindical; • defender a propriedade privada, conservando a antiga estrutura da propriedade de terra. Há aspectos nesta nova Constituição que satisfaziam os anseios dos liberais-democráticos da sociedade; no entanto, em função de ter tido o apoio da classe burguesa, o que na realidade se pretendia nas entrelinhas era manter a classe operária sob controle, pois algumas palavras poderiam ser confundidas, como, por exemplo, livre negociação sindical com autonomia sindical, coisa que estava longe de acontecer, já que os sindicatos ficavam sujeitos a uma legislação que os subordinavam ao Estado e só se tinha o direito à greve mediante parecer da Justiça do Trabalho. Porém, a massa trabalhadora, mesmo sendo reprimida, adquiria consciência de classe e buscava autonomia em relação ao Estado, pois os descontentamentos vividos eram inúmeros, tendo como maior reivindicação a falta de moradia, condições de trabalho, falta de meios para suprir as necessidades alimentares e liberdade. Os problemas apresentados eram cada vez mais evidentes devido ao processo de industrialização que intensificava a urbanização, por proporcionar emprego urbano à população rural, mas o número oferecido era inferior aos de candidatos para as vagas, e os centros urbanos não estavam preparados para receber esse excesso de contingente, tendo, como consequência “a miserabilização da população urbana e uma pressão enorme na competição por empregos” (RIBEIRO, 2003, p. 198). O campo, por sua vez, não sofria a falta de mão de obra porque gradativamente também estava trocando os trabalhadores por máquinas, que faziam mais rápido e melhor as atividades. 29 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 O PrOcessO de cOnstruçãO das POlíticas sOciais Nesta época São Paulo e Rio de Janeiro contavam com uma das maiores populações do mundo, possuindo o dobro da de Paris e Roma. A falta de serviços urbanos adequados e de oportunidades empregatícias fez com que a população trabalhadora urbana gerasse pressões em busca de oportunidades, e o governo Dutra queria satisfazer os interesses dos detentores do capital, sendo que estas manifestações dificultariam a modernização do país, pois “[...] a população deixada ao abandono mantém sua cultura arcaica, mas muito integrada e criativa. Dificulta, porém, uma verdadeira modernização, porque nenhum governo se ocupa efetivamente da educação popular e da sanidade” (RIBEIRO, 2003, p. 200). O caso brasileiro da massa urbana tinha que ser diferentemente tratado se comparado aos da Europa, pois lá era comum exportar mão de obra para outros países, característica que não era empregada no Brasil; então o problema deveria ser tratado e resolvido no próprio país, estava no limite em relação aos problemas sociais, mas a prioridade dada no governo Dutra foi para o desenvolvimento da industrialização com o liberalismo econômico, organizando o crédito bancário e liberando o câmbio, abrindo o país às importações de bens manufaturados no exterior. No entanto, essa ação foi catastrófica, porque todo o ouro guardado por Vargas nos bancos americanos foi gasto na importação de produtos de luxo e supérfluos – o que culminou, em julho de 1947, na reintrodução do controle cambial, fazendo com que o governo selecionasse os produtos a serem importados, acabando com o entusiasmo das importações. Era facilitada somente a entrada de produtos que eram necessários ao crescimento industrial, como máquinas, combustíveis e equipamentos em geral. Porém, com essa medida, a vida dos operários não mudou em nada – pelo contrário, em função da dificuldade de exportação pela alta valorização do cruzeiro em relação ao dólar, tais transações ficavam com um custo elevado e foi necessário desviar capital ao setor industrial, acarretando no achatamento salarial da classe trabalhadora. O governo, por meio do Plano Salte, mostrou certo interesse em investir nos setores da saúde, alimentação, transporte e energia, mas em 1949 veio o fracasso de tal plano, depois de um ano de existência, devido à falta de recursos financeiros para a continuidade, mesmo sem nunca ter sido inteiramente aplicado. Chegando próximo das eleições de 1950, Getúlio Vargas decide assumir outra postura para uma possível recandidatura, ou seja, procurava estar entre a democracia ao invés da ditadura e, para isso, precisava de um partido com esse perfil. Assim, filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), pois este grupo populacional estava ganhando força frente à sociedade devido ao descontentamento vivido pelos trabalhadores, e virou líder do partido. Uma das grandes marcas de Getúlio na sua campanha eleitoral foi a intenção de expandir e fortificar a legislação da previdência social, que começara em 1930 e, segundo Skidmore (1982, p. 107) “em 1946, pronunciara a sentença de morte da ‘velha democracia liberal e capitalista’, a qual tem ‘fundamento na desigualdade’”, pois pretendia fazer a democracia dos trabalhadores e Dutra já havia perdido seu campo eleitoreiro mediante sua atuação na presidência. Getúlio candidatou-se para as eleições de 1950 e ganhou com 48,7% dos votos totais, confirmando o interesse do povo em sua volta, já que estava sendo eleito pela vontade do povo. Então, em 31 de janeiro de 1951, a faixa presidencial foi passada a Getúlio Vargas por Dutra, que receberia o nome pelos simpatizantes de “pai dos pobres”. 30 Re vi sã o: V irg ín ia B ila tt o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 18 -0 3- 20 14 Unidade I Já no poder, notou um país diferenciado daquele de seu primeiro mandato, pois as diferenças entre as classes econômicas (industriais, operários e classe média urbana) estavam mais latentes devido ao processo de industrialização que era vivido, porém nenhum destes grupos tinha criado a autoconsciência política que poderia exercer a seu favor por questões múltiplas, tais como o desinteresse, desarticulação e falta de liderança. Todas as classes estavam produzindo para uma finalidade: o crescimento; no entanto, para benefício de uma pequena minoria detentora de capital, a burguesia. Conforme estes três grupos iam aumentando seu número, outras faziam o caminho inverso, por exemplo, os fazendeiros de café, os comerciantes de exportação e importação, os produtores nacionais de artigos alimentícios e os produtores de subsistência. Pequenos proprietários rurais nunca tiveram importância para o desenvolvimento político e no processo de industrialização, pois havia grande número de analfabetos, e não tinham expressividade nas eleições, uma vez que analfabetos eram proibidos de votar. O presidente já tinha claro que havia vários “’Brasis’ dentro do Brasil”, o da desigualdade, indiferença, exclusão, subalternidade, ganância, exploração e tantos outros; por tal motivo ele precisaria ser cauteloso quanto ao método utilizado para o desenvolvimento do país frente a industrialização. Os desequilíbrios regionais, especialmente entre o centro-sul, industrializado, e o nordeste, empobrecido, havia tornado o Brasil um dos principais exemplos de “economia dual”. A correção desses desequilíbrios requeria uma política de investimentos ponderada. A solução mais lógica deveria conjugar a promoção de empresas estatais com o uso de meios para coordenar e dirigir os investimentos particulares (SKIDMORE, 1982, p. 122). Vargas, entre o fim de 1953 e o início do próximo ano, marcou seu governo com o nacionalismo mais duro e a busca de apoio político e retomou as denúncias levantadas em meados de 1951 referente às excessivas remessas de lucros para outros países, já que estariam liberadas, acusando empresas de outros países de fraudarem seu faturamento
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