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Historia da America Latina I

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o DRAMA DA CON STA 
NA FESTA: 
reflexões sobre resistência 
indígena e circularidade cultural 
1. Introdução 
os últimos anos ampliou-se de ma­
neira considerável o âmbito de inte­
resse da história. Não mais se observa a 
polarização nos grandes temas e nas mani­
festações dos grupos.dominantes oomo ob­
jeto da produção historiográfica. A este 
quadro oontrapõe-se uma tendência ao res­
gate da atuação de segmentos até então 
excluídos dessa produção, visando-se re­
cupernr Sllas manifestações e fonnas de 
resistência. Um sério problema decorre 
deste fato, devido à escassez e dispersâo 
dos registros relativos aos referidos seg­
mentos. Os feitos de sua existência pouoo 
chegam ao nosso oonbecimento, através de 
testemunhos escritos. Cabe ao historiador, 
nessas circunstâncias, valer-se de "ele­
mentos imponderáveis: o faro, o golpe de 
vista, a intuição", a fim de obter as pistas, 
OS indícios que lhe possibilitem superar a 
I EsIwlosHi.sf6tYos, RiodeJanci� val. S, D. 9,1992, p. 44-59 
Rachei Soihet 
opacidade e a fragmentação da documen­
tação e desvendaro universo daqueles seg­
mentos.1 
O campo cultural adquire significado 
especial para esta modalidade de aborda­
gem, pois, conforme as pesquisas têm de­
monstrado, este se constitui, via de regra, 
em canal privilegiado de expressão dos 
anseios, necessidades, aspirações dos su­
balternos. Também, a cultura se configura 
como o seu principal veículo de coesão e 
de construção de uma identidade própria.2 
Durante muito tempo o termo cultura 
foi empregado unicamente 1\0 sentido ilu­
minista, ou seja, referindo-se às chamadas 
expressões superiores do espúito humano 
- a arte, a literatura, a música ... Hoje, po­
rém, oom base na antropologia, a grande 
maioria dos historiadores compreende a 
cultura como "a história das ações ou n0-
ções subjacentes à vida cotidiana". Con­
vergem para uma visuali2JIção deste con­
ceito de maneira ampla, social e temalÍca-
o DRAMA DA mNQUlSTA NA FESTA 45 
mente; como uma totalidade complexa que 
inclui conhecimento, crença, arte, moral, 
lei, costumes, além de outras capacidades 
e hábitos adquiridos pelo homem como 
membro de uma sociedade. Uma noção 
holIstica mas também processual, voltada 
para a mudança cultural e suas fonnas de 
ocorrência? 
Robert Damton, um dos autores mais 
entusiasmados com o diálogo antropolo­
gia/história, esclarece que a história cultu­
ral trata a nossa civilização da mesma ma­
neira que os antropólogos estudam as cul­
turas exóticas. Cabe ao historiador etno­
gráfico estudar o modo como as pessoas 
comuns entendiam o mundo. Com tal ob­
jetivo busca descobrir sua cosmologia, 
apreender como organizavam a realidade 
em suas mentes e a expressavam em seu 
comportamento.4 
Este autor destaca, como contribuição 
fundamental da antropologia, a noção de 
diferença; com isto concorda Le Goff ao 
afirmar que nela reside uma das seduções 
fundamentais desta disciplina para os his­
toriadores. Consolida-se, a partir dessa 
perspectiva, a visão de que os outros povos 
são diferentes, não pensam da mesma ma­
neira que pensamos, o que, traduzido em 
termos do ofício do historiador, identifica­
se oom a recomendação contra o anaclu-. 5 D1Smo. 
Discorrendo acerca da similaridade en­
tre o trabalbo do historiador e do antropó­
logo, o historiador Carlo Ginzburg afIrma 
que 'lIas bases são textuais. Ambos se va­
Iem de textos, intrinsecamente, dialógicos. 
A estrutura dia lógica pode ser explícita, o 
que ocorre tanto na série de perguntas e 
respostas presentes num processo inquisi­
torial como na transcrição das conversas 
entre o antropólogo e o seu informador.1à1 
estrutura pode, também, ser implícita, co­
mo, por exemplo, nas notas etnográficas 
referentes a um ritual, um mito ou um 
utensílio. Para ele a e.«<ência de uma atitu­
de antropológica, ou seja, o confronto entre 
culturas diferentes, reside numa disposi­
ção dialógica.6 
Em trabalho anterior Ginzburg nos in­
forma sobre o empréstimo do termo cultu­
ra feito pela história à antropologia cultu­
ral, já num período relativamente tardio. 
Só através do conceito de "cultura primiti­
va" é que se chegou a reconhecer que 
aqueles indivíduos outrora definidos de 
forma paternalista como "camadas inferio­
res dos povos civilizados" possuíam cultu­
ra. Superou-se, assim, a posição daqueles 
que distinguiam nas idéias, crenças, visões 
de mundo das classes subalternas, nada 
mais do que um acúmulo desorgãnico de 
fragmentos de idéias, crenças, visões de 
mundo elaboradas pelas classes dominan­
tes, provavelmente, vários séculos antes7 
A concepção de circularidade cultural, 
que propõe como recíprocas as influências 
entre a cultura dos segInentos dominantes 
e subalternos, constitui-se numa outra im­
portante contribuição de Giowurg, inspi­
rado, como COnfCAA3, em Bakhtin, que bus­
caremos adotar em nossa abordagem. 8 
Dentre os autores que enfatizam o papel 
decisivo da cultura como força motivadora 
da transformação histórica temos Natalie 
Davis e E.P. Thompson. Este, inovando o 
marxismo e opondo-se à visão tradicional, 
ressalta a impossibilidade de se entender o 
que é classe sem que esta seja percebida 
como uma formação social e cultural.9 
Thompson reconhece a importância da 
utilização pelo historiador das contribui­
ções dos folcloristas e da antropologia so­
cial, particularmente, no trabalho com s0-
ciedades onde predominava o costume. Tal 
foi o seu caso ao se dispor a iCcuperar as 
formas de consciência plebéia na Inglater­
ra do século XVIII. Mantém porém uma 
atitude critica, tecendo considerações acer­
ca das precauções a serem tomadas para 
que este intercâmbio se revele proveitoso. 
A atenção às normas, valores e rituais 
pode proporcionar um significativo au­
mento do conhecimento histórico. Nesse 
, 
46 ES1lJJX)S IflSTÓRICDS - 199'1.19 
sentido, um novo olhar do historiador Cez­
se sentir, nos últimos anos, com relação a 
inúmeros aspectos da vida considerados 
sem maior importância, como o calendário 
de ritos e Cestas. O significado do ritual, 
contudo, só pode ser interpretado quando 
os dados deixam de ser considerados como 
fragmentos do Colclore, como "relíquias", 
e passam a ser contextualizados. Assim, na 
análise do ritual, importa ultrapassarmos a 
forma e atentarmos para as relações reais 
que nele se expressam. Verificamos que 
qualquer que seja a sua origem e seu sim­
bolismo maniCesto, este foi adaptado para 
um novo [un. 
Tais recomendações são da maior rele­
vância, pois, como lembra Tbompson: 
A história é a disciplina do contexto e 
do processo: todo significado é um sig­
nificado-no-rontexto, e quando as es­
truturas mudam as formas antigas 
podem expressar funções novas e as 
funções antigas podem encontrar sua 
expressão em fonnas novas. !O 
Colocando-se numa posição análoga à 
de Keith Tbomas e de Natalie Oavis, escla­
rece que para eles "o impulso antropológi­
co é percebido não na construção de mo­
delos, mas na identificação de novos pro­
blemas, na percepção de antigos proble­
mas sob novas perspectivas, na ênfase em 
normas ou sistemas de valores e rituais, na 
atenção às funções expressivas das diver­
sas fonoas de motim e revolta e nas expres­
sões sirobólicas da autoridade, do controle 
e da hegemonia".lt 
As modalidades de resistência desen­
volvidas pelos populares orupam papel 
central na obra de Tbompson e na de inú­
meros outros autores. Estes descartam a 
visão de uma ação unilateral do poder so­
bre os dominados passivos e impotentes. 
Os suba Itemos náo estariam à mercê de 
forças históricas externas e detenninantes, 
desempenhando um papel ativo e essencial 
na criação de sua própria história e na 
definição de sua identidade cultural. 
Como assinala Michel de Certeau, tor­
na-se necessário inverter as preorupaÇÕes 
de Foucault,ou seja, não mais trata de 
precisar como a violência da ordem trans­
rorma-se em tecnologia disciplinar, mas de 
"exumar as fonoas sub-reptícias que assu­
me a criatividade dispersa, tática e brico­
/euse dos dominados, com vistas a reagir à 
opressão que sobre eles incide".12 
Esta resistência não se apresenta, neces­
sariamente, de fonoa violenta, através de 
motins e outros confrontos. Pequenos fur­
tos, utilizações jocosas de signos do poder, 
cartas anônimas, canções, inversões, irre­
verências, representações teatrais, que em 
sua maioria encontram expressão nas fes­
tas, são exemplos das fonoas simbólicas 
nas quais pode se apresentar a resistência. 
2 . ... e a festa entra na história 
A festa se constitui num cenário privi­
legiado para a observação desses pressu­
postos. Em medida diversa, de acordo com 
a modalidade, na festa estão presentes as­
pectos expressivos do universo cultural 
dominante; por outro lado, aí encontram-se 
imbricados elementos próprios da cultura 
popular, com suas tradiçóes, seus símbo­
los, suas práticas. A resta é local de encon­
tro e lazer desses grupos, nela ocorrendo 
Ulna influência recíproca entre ambos os 
segmentos. 
O interesse dos historiadores pela festa 
é recente. Até hem pouco tempo, ela era 
foco de atenção apenas do Colclore e da 
antropologia. Os avanços na história cultu­
ral, como já Coi visto, contribuíram para a 
mudança desse panorama. De qualquer 
fonna, ao ingJessar nos domfnios de aio, 
a resta Coi por muitos considerada como 
um tema menor, periférico, desmobiliza-
o DRAMA DA OONQUISTA NA FESTA 47 
dor. O diálogo entre Pierre Vilar e Vovelle 
é sintomático. Vdar, embora amisto­
samente, questiona \bveUe - historiador 
de temas tão heterodoxos como a morte e 
a festa -se não seria muito mais proveitoso 
interessar-se pelos processos de tomada de 
ronsciência entre as massas. Ainda mais 
que VoveUe se dizia marxista!\3 
O fato talvez revele o desconhecimento 
de Vdar do "paradigma conjecturai" -um 
método discutido e batizado por Gin7hurg. 
Estudiosos tão diversos como Morelli -
voltado para a história da arte -, Arthur 
Conan Doyle-autorde célebres romances 
policiais -e Freud -criador da psicanálise 
- foram adeptos desse método. Devia-se, 
de acordo com esse método, que se revelou 
de fundamental importãncia para as ciên­
cias humanas, atentar, não para as caracte­
rísticas mais aparentes, mas para os deta­
lhes secundários, aspectos aparentemente 
insignificantes, capazes de fornecer as vias 
de acesso a uma realidade mais profunda, 
inatingível de outra forma.14 
Muitos autores consideraram a festa co­
mo uma válvula de escape para as tensões 
do cotidiano, pemútida, controlada e esti­
mulada pelos grupos dominantes. Consti­
tuir-se-ia, em última instância, em um re­
curso utilizado pelo poder para a manipu­
lação e o reforço da ordem vigente, capita­
lizando em proveito próprio os excessos 
nela manifestados. Esta é, porém, uma 
perspectiva simplista, unidimensional, que 
elide a complexidade dessa forma de ex­
pressão, de grande riqueza para o descor­
tino das atitudes, valores e comportamen­
tos dos diversos grupos sociais. A festa se 
const.itui num palco onde a dialética domi­
nação/resistência marca sua presença, pos­
sibilitando ao historiador, munido do mé­
todo acima, alcançar a essência de signifi­
cados sociais por vezes inacessíveis atra­
vés de outros caminhos.t5 
Micbel \bveUe concorda com esta po­
sição, ao afirmar ser a festa um maravilho­
so campo de observação para o historiador: 
momento de verdade em que um grupo 
ou uma coletividade projeta simbolica­
mente sua representação de mundo, e 
até filtra metaforicamente todas as suas 
tensões.t6 
Também para Natalie Oavis a festa pos­
sivelmente se constitui no 
elelnento fundamental da vida coletiva, 
porque exprime com marcante intensi­
dade as dimensões dos papéis sociais e 
o confronto dos simbolos que eles "sig­
nificam".l? 
Mikhail Bakhtin, no seu belíssimo tra­
balhosobre Rabelais, fazemergircom toda 
a força a cultura cômica popular da Idade 
Média e do Renascimento, que, para o 
autor, é fundamental na determinação do 
conjunto de seu sistema de imagens. Em­
bora Bakhtin focalire essencialmente o pe­
ríodo histórico citado, faz algumas genera­
lizações que o extrapolam. 
Assim, refere-se às festividades como 
uma forma primordial, marcante, da civi­
lização humana. Discorda daqueles que as 
explicam como um produto das condições 
e finalidades práticas do trabalho coletivo 
ou como um produto da necessidade bio­
lógica (fisiológica) do descanso periódico. 
Para ele as festas tiveram sempre um sen­
tido profundo, exprimindo uma concepção 
de mundo, vinculando-se ao mundo dos 
ideais.18 
Sob o regime feudal na Idade Média, a 
relação da festa com os fins superiores da 
existência humana - a ressurreição e a 
renovação - alcançava sua plenitude e sua 
pureza 110 carnaval e em outras festas po­
pulares e públicas. Nestas circunstãncias, 
a festa convertia-se na segunda vida do 
povo, o qual penetrava temporariamente 
no reino utópico da universalidade, liber­
dade e abundância. 
Estabeleciam-se na ocasião entre os in­
divíduos, separados por barreiras intrans-
.. 
48 ESTUDOS HISTóRICOS-199m 
poníveis na vida cotidiana, relações novas 
verdadeimmente humanas. Desaparecia, 
provisoriamente, a alienação.19 
As festas oficiais se revelavam total­
mente opostas a este quadro. Contribuíam, 
• • • apenas, para sancionar o regIme em vigor, 
para fortificá-lo. Olhavam para trás, para o 
passado, confinnando a ordem social pre­
sente. As distinções hierárquicas destaca­
vam-se intencionalmente, sendo finalida­
de destas festas a consagração da desigual­
dade, ao contrário do carnaval em que 
todos eram iguais.2° 
A festa revolucionária, visando COffiO­
lidar na população a memória da Revolu­
ção de seus heróis, tem seu ponto alto no 
século XIX. Comemorativa de um aconte­
cimento que assinala a instauração de um 
novo tempo, tem como preocupação, atra­
vés de seus símbolos e ritos, transmitir a 
mensagem de que a Revolução chegou a 
tenno, buscando garantir coesão social à 
-naçao. 
Reviver uma história remanipulada, re­
ajustada, reprimida; inventar uma nova sa­
crnlidade - o culto cívico em substituição 
à antiga religião -são alguns dos objetivos 
deste tipo de festa. Segundo Mona Ozouf, 
historiadora que com sua fina sensibilida­
de desvenda inúmeros significados de fes­
ta revolucionária, esta '101era mal a mu­
dança", esforçando-se por neutralizá-Ia em 
rito.21 
As festas religiosas, as execuções públi­
cas com seu teatro de controle e o contra­
teatro da multidão, são algumas outras mo­
dalidades de festa que empolgavam a po­
pulação e que passaram a se constituir em 
objeto da atenção dos historiadores. Estes, 
através da inventividade na busca de fontes 
e na utilização de métodos refinados, têm 
conseguido recuperar significativas infor­
mações acerca da cultura dos diferentes 
grupos sociais, dos conflitos e das fonoas 
de interpenetração cultural aí presentes. 
3. A originalidade da América 
Latina 
Após este intróito, que consideramos 
fundamental, chegamos enfim à América 
Latina, teatro desta abordagem, na qual por 
largo tempo buscou-se analisar a participa­
ção e organização dos trabalhadores, se­
gundo o modelo europeu. As especificida­
des do contexto latino-americano vinham 
sendo vistas de fonoa negativa. Atribuía- se 
aos populares de Sllas diferentes regiões 
características de passividade, inação, oque 
teria impedido a fonnação de conheci­
mentos novos e positivos a seu respeito.22 
Nenhuma preocupação se fez sentir so­
bre o conteúdo de classe das reivindicações 
populares expressas através de movimen­
tos aparentemente "apolílicos". Citam-se, 
entre eles, os quebra-quebras de transportescoletivos, os saques de lojas e annazéns de 
gêneros de primeira necessidade e os mo­
tins derivados dos motivos mais diversos. 
Ocorre, igualmente, que a situação de ten­
são e insatisfação destes segmentos tam­
bém pode expressar-se em fonnas de resis­
tência cotidiana, por vezes comedida, por 
outras carnavalesca. O deboche, a paródia, 
o teatro, a inversão, são algumas das ex­
pressões através das quais os populares tor­
nam explícita sua consciência da relativida­
de das verdades e das autoridades no poder. 
Os populares da América Lati na, cientes 
de sua marginalidade e das dificuldades na 
superação desta condição, como uma de 
suas opções preferenciais, investiram sua 
energia nestas fonnas algo metafóricas. Va­
lendo.>;e de fonoas alternativas de organi­
zação, ocorre sua intensa participação em 
grandes festas como o carnaval e festivida­
des religiosas nas quais a carnaval�ção 
também está presente - dentre elas, a de 
Nossa Senhora de Guadalupe no México e 
a de Nossa Senhora da Penha no Brasil. 
Nas áreas de predominância indígena a 
dramatização da conquista é um dos even-
o DRAMA DA CONQULST A NA FESTA 49 
tos mais freqüentados, até nossos dias. Em­
bora o conteúdo indígena se ache impreg­
nado de influências espanholas, muitos dos 
fatos históricos apresentam-se modifica­
dos, invertidos, sinalizando claramente em 
direção a uma fomla de resistência. 
Considerando a sua originalidade e ri­
queza simbólica, decidimo-nos pelo enfo­
que desse tipo de manifestação, na qual a 
tragédia indígena é o espetáculo. O fenô­
meno da conquista, marcado pelo cboque 
entre dllas culturas distintas, uma delas 
pretendendo a destruição da outra, é reme­
morado anualmente, deixando entrever, de 
fOffil3 significativa, a visão do indígena 
sobre o acontecimento. Esta representa­
ção, por si SÓ, constitui um testemunho do 
fracasso daquele objetivo. 
4. O drama: a versão popular 
da conquista 
Até os dias atuais, os indígenas do Peru, 
Guatefll3la e México encenam peças tea­
trais contendo recitaçÕes, cantos e danças 
sobre o tefll3 da conquista. Estas peças 
constituem-se em fontes, não apenas para 
deslindar a intelPretação indígena da con­
quista, mas também para avaliar suas for­
mas de resistência; ainda, para tentar ex­
trair elementos acerca da visão destes gru­
pos ante a dominação num sentido mais 
amplo, sem esquecer o contato que oos 
proporcionam com a sua riqueza simbóli­
ca. As peças apresentam alguma influência 
hispânica, em quantidade variável, reve­
lando a circularidade cultural; existem ver­
sões em que esta presença di ficilmente será 
identificada. 
Estas obras foram transmitidas oral­
mente, remontando ao século XVI. Desde 
então o tefll3 já constava do teatro indíge­
na, segundo o testemunho de Las Casas. 
Sua transcrição data apenas do século XIX. 
No Peru e na Bolívia temos a "Tragédia da 
morte de Atabualpa"; na Guatemala, a 
uDança da conquista"� e, no México, a 
"Dança das plumas" e a "Grande conquis­
ta". Todas elas, por sua vez, apresentam 
variaçôes regionais. Sua representação, via 
de regra, ocorre por ocasião das festas 
cristãs; apenas em Oruro também durante 
o carnaval ela é levada a efeito.23 
Decidimo-nos pela apresentação fll3is 
ponnenorizada do exemplo peruanolboli­
viano, apontando nos demais os traços que 
mais sobressaem. A exibição do drama é 
feita na praça central para Ufll3 multidão de 
espectadores, que são mantidos à distância 
por dois jovens portadores de máscaras 
diabólicas e affil3dos com tridentes. O 
acompanhamento musical é feito por ins­
trumentos indígenas, (Jautas e pequenos 
tambores. Os atores dividem-se em dois 
grupos: os indígenas e, à Ufll3 distância 
aproximada de vinte metros, os espanhóis. 
Os indígenas usam fantasias. Aqueles que 
fazem o papel de espanhóis llsam capace­
tes semelhantes aos do tempo da conquista 
e annaduras da época da independência, ou 
uni fonnes do exército atual; estão affil3dos 
de sabres, bastôes e fuzis de caça. 
Na Guatemala, é exaltada, numa parte 
do drafll3, a atuação de Tecum Uman, herói 
nacional que liderou a resistência aos espa­
nhóis. Todos llsam máscaras,sendo que as 
máscarns indígenas trazem um sorrlso, en­
quanto as espanholas, com longos narizes, 
têm um semblante fecbado. Os atores 
usam fantasias e adereços fll3is trabalha­
dos do que aqueles do Peru. A popularida­
de desta manifestação é tafll3nha que con­
tribuiu para o crescimento de um ativo 
artesanato no país. Confeccionam-se tra­
jes, máscaras e outros acessórios em ofici­
nas especializadas. Desenvolve-se, igual­
mente, um comércio bastante intenso. 
No Peru, a variação fll3is rica e expres­
siva da visão indígena sobre a conquista é 
a que apresentamos abaixo, que resume a 
primeira parte da ''Tragédia de Atabualpa": 
, 
• 
50 ESllJOOS HISTóRICOS - 199V1 
A ação COlllC"" com o anúncio de uma 
ameaça. Atabualpa relata às nustas24 
um sonho que o inquietou: durante dllas 
noites seguidas viu o Sol, seu pai, c0-
berto por uma fumaça negra, enquanto 
o céu e a montanha queimavam oomo a 
plumagem do pi/JaJ;'15 uma buaca26 
anunciava-lhe um acontecimento tem­
vel: a cbegada de guerreiros vestidos de 
ferro, vindos para destruir seu reino. A 
princesa Qhora Chinpu sugere-lhe pe­
dir ao grande sacerdote que interprete 
seu sonho: confrnnando-se o presságio 
funesto, deve reunir seus guerreiros pa­
ra rechaçar aos invasores. 
Atabualpa ordena ao adivinho HuayUa 
Huisa que vá donoir em sua habitação 
de ouro para interpretar o sonho. En­
quanto isso, o Inca evoca seus antepas­
sados: Manco Capac, filho do Sol e 
Viracoeha, que pela primeira vez anun­
ciou a vinda de homens barbudos. Jura 
derramar lagos de sangue para expulsar 
os inimigos. Ao voltar HuaylJa Huisa 
confinna o perigo: sonhou que vinham 
homens barbudos pelo mar, sobre em­
barcaçóes de ferro. O Inca ordena-lhe 
que observe o horizonte. O adivinho 
olha em todas as direções, porém nada 
descobre e decide donnir de novo. in­
tervém então o coro, que anuncia a che­
g a d a d o s i ni m i g o s (pelo mar). 
Sucedem-se episódios complexos: 
HuayUa Huisa, dificilmente desperta­
do, volta a dormir. Desperta-{) pela se­
gunda vez, com maior dificuldade 
todavia, Kishkis (depois de esforços 
vãos do coro e de outros personagens). 
O adivinho confirma a cbegada dos h0-
mens barbudos e os descreve minucio­
samente expressando, por sua vez, seu 
terror e sua estupefação. Porém o Inca 
tem todavia esperança. 
Certos temas, ou mesmo detalhes, re­
cordam fatos presentes nas C1Ônicas sobre 
a conquista. Em primeiro plano destacam-
se os temveis presságios, que antecederam 
à chegada dos espanhóis, anunciando uma 
catástrofe iminente. Aqui estes manifes­
tam-se no sonho de Atahualpa: o Sol, Deus 
Supremo, apresentava-se envolto em fu­
maça, o céu e as montanhas em chamas! 
OImprir-se-ia a predição do antepassa­
do V1f3coeha, Deus criador e civilizador? 
Homens desconhecidos viriam destruir o 
Império? O sonho do Inca é confinnado 
pelo adivinho. Homens estranhos estão 
chegando: barbudos, vestidos de ferro, sin­
gramo marem grandes embarcaçóes, tam­
bém de ferro, como de ferro são as fundas 
que carregam e que, ao invés de pedras, 
lançam fogo. 
O detalhe na descrição da aparencia dos 
espanhóis é outro dado presente em todas 
as CrôniClS e é revelador de um dos ma;o­
res abalos dos indígenas. Nunca haviam se 
deparado com seres tão bizarros! Alguns, 
como Huáscar, innão e rival de Atabualpa 
na disputa pelo poder, consideraram-DOS 
deuses. Armai, tenninada a sua obra civi­
lizadora, Viracocha retirara-se, andando 
pelo mar, na direção oeste. Mas prolnetera 
voltar. O mito é alimentado por alguns 
sacerdotes que o cercavam. Em situação de 
inferioridade ante seu rival, Huáscar reani­
ma-se. Ainda mais que a imagem de V1f3-
coeha, existente num temploem sua honra, 
era a de um homem de elevada estatura, 
barbudo, vestido com uma longa túnica. 
Este não era porém o caso deAtabualpa. 
Ele não teria chegado a aCleditar que os 
espanhóis fossem dellses e, como se veri­
fica no trecho da peça acima, ficara preo­
cupado. Na sociedade inca, porém, a p0-
tência na guerra era avaliada pelo número 
de homens. A desproporção entre o núme­
ro de guerreiros incas e espanhóis era 
imensa. Além disso, havia o rumor de que 
os cavalos perdiam a efICácia durante a 
noite. Daí, talvez, a referência no citado 
trecho à esperança do Inca?' 
Na "Dança da conquista" guatemalteca, 
hem como na "Dança das plumas" mexi-
o DRAMA DA mNQUlSTA NA FESTA 51 
cana, também ocorrem os sonhos premo­
nitórios. Na primeira, o velho rei Quicbé 
mostra grande temor, após sonhar com a 
sua própria morte que se seguiria à chegada 
de homeM com armas mágiCls, Seus fi­
lhos recomendam a resistêllCia, da qual se 
encarregará Terum. Quicbé confia seu es­
tandarte a Tecum, que recebe o apoio dos 
demais caciques e promete vencer os espa­
nhóis. Thcum, por sua vez, terá um sonho 
inquietante, na véspera do combate. Uma 
pomba a serviço dos espanhóis vence o seu 
exército; ele se vê levado três vezes pelos 
ares, cai as três vezes, e seu coração cinde­
se em duas partes sangrentas. 
O espanto com relaçãt> aos espanhóis 
apresenta-se aqui muito atenuado, mani­
festando-se em duas curtas passageM. Na 
primeira, esse espanto fica explicitado 
quando é dito que os príncipes, filbos de 
Quicbé, Uas.�ombram-se ante seu estranho 
semblante". Na outra, é evidenciado o me­
do experimentado por Quicbé com relação 
ao raio dos ufilhos do sol", ou seja às suas 
armas. Através dessa expressão, verifica­
se que os consideram deuses. 
Na "Dança das plumas", Montezuma 
sonha com alguM dos presságios contidos 
em documentos mexicanos do século XVI 
que se referem à conquista: "as águas cres­
cem e se elevam até o céu; uma estrela 
desconhecida brilha durante a manhã; uma 
águia tenta penetrar no palácio". Os seus 
vass.alos advertem-no de que ua tem, a 
áglla, o céu e os astros anuociam o fim do 
seu Império". Montezuma, porém, armna 
que não perdeu a esJl:'rança e diz ter o 
mundo em seu poder. 
A utilização do sonho como veículo 
para previsão dos acontecill-.zntos, uma 
coMtante nesses dramas, não revela gran­
de distAocia da concepção junguiana; se­
gundo ]ung, os sonhos possuem um aspec­
to prospectivo, ''uma antecipação incons­
ciente da realização consciente futura". 
Podem não presoagiar ou desafiar, mas 
resumiras tarefas neressárias iara o preen­
chimento de uma condição.2 
Ressalta-se, também, a presença de ele­
mentos de fundamental importância para 
tais grupos: os simbolos e os mitos, estes 
últimos expressões de formas de vida, de 
estruturas de existêocia, ou seja, de parâ­
metros que permitem ao home.n inserir- se 
na realidade. Deles se utilizam na decifra­
ção dos mistérios do mundo, o que lhes 
permite a leitura de sua realidade social. 
Dessa forma, apoderam-se de seu ambien­
te natural e social, sentindo-se parte inte­
grante deste mundo. Nas sociedades pré­
industrializadas o mito é, portanto, uma 
realidade viva e infIuellCiadora do compor­
tamento individual e coletivo. 
Na segunda parte da ''Tragédia de Ata­
hualpa": 
Celebram-se ellCOntros preliminares 
entre índios e espanhóis. Uma primeira 
entrevista reúne HuayUa Huisa e Alrna­
gro. O sacerdote pergunta a este último 
por que os home.lS barlJUdos invadem o 
pa�. Como resposta, Almagro só move 
os lábios. Felipillo traduz estas palavras 
silenciosas e declara que os espanhóis, 
enviados pelo Senhor mais poderoso da 
terra, vieram em busca de ouro e prata. 
Aparece então o padre Valverde, que o 
interrompe: os espanhóis vieram para 
dar a conhecer o verdadeiro Deus. Fi­
nalmente, Alrnagro entrega ao adivinho 
uma carta para Atahualpa. 
Desenvolve-se, a partir daí, uma longa 
série de episódios, rujo único tema é a 
estupefação e a incompwensão dos ín­
dios ante a misteriosa "Colha de milho" 
que Alrnagro envia ao Inca. A carta 
ci/CUla de mão em mão, porém ninguém 
pode decifrar sua muda mellS3gem. Fra­
cassam sucessivamente Atahua·lpa, 
HuayUa Huisa, e alguns dos seus gene­
rais como ChallkLochima e Kishkis. Por 
52 F.S1UJX)S HIST'ÓRIa:>s -199m 
ordem do Inca, Huaylla Huisa cai nova­
mente em sono profundo. 
Um último encontro preliminar reúne 
Sairi Túpaj e Pizam>. Atabualpa confia 
a seu emissário os emblemas reais (fun­
da, acha e serpentes de ouro). Sairi Tú­
paj ameaça Pizam> e o intima a deixar 
o país. Pizarro "só move os lábios"; 
Felipillo traduz que os espanhóis vie­
ram para levar Atahualpa, ou sua cabeça 
ao Rei de Espanha. Sairi Túpaj não 
compreende e sugere a Pizam> que ele 
mesmo fale a Atabualpa. Depois de Sai­
ri Túpaj retomar ao palácio, Atahualpa 
decide reunir seus guerreiros a fim de 
expulsar os invasores.30 
Um aspecto fundamental, apresentado 
neste trecho, re(ere-se à barreira na comu­
nicação entre elementos de culturas tão 
díspares. Tal fato é simbolizado, através 
das respostas mudas dos espanhóis aos 
questionamentos dos Ú1dios, na qual aque­
les limitam-se a "mover os lábios". No 
episódio da carta, a "folha de milho" que 
passa de mão em mão, também fica sim­
bolizado esse fato. O choque das culturas 
também manifesta-se na falta de com­
preensão do emissário de Atahualpa em 
relação à pretensão dos espanhóis de "levar 
Atahualpa, ou sua cabeça, ao Rei de Espa­
nha". O Inca era, aos olhos de seus súditos, 
o todo poderoso Filho do Sol, principal 
intermediário entre deuses e homens, nu­
ma posição superior inclusive à do Grande 
Sacerdote. Uma presunção desta natureza 
se afigurava impensável! 
A cobiça dos espanhóis, tão marcante 
na conquista, é expressa pela resposta de 
Almagro de que a razão da invasão do país 
era a busca de ouro e prata. O padre Val­
verde reage, sintomaticamente, a esta res­
posta. lntem>mpe Almagro dizendo que os 
espanhóis vieram, na verdade, para fazer 
conhecer aos indígenas o verdadeiro Deus. 
.. Tal afinnação levada a efeito de fonna 
arrogante denota a percepção dos indíge-
nas quanto ao autoritarismo da Igreja na 
sua pretensão de evangelizar as massas. 
Por outro lado, a resposta de Almagro de­
monstra a denúncia do índio ante à rapina 
cometida pelos espanhóis na sua ânsia de 
rique7JIs. Aliás, esta visão do comporta­
mento dos conquistadores ante à presença 
de riquezas pode ser constatada em outros 
depoimentos: "Como se fossem macacos, 
levantavam o ouro, faziam trejeitos de sa­
tisfação, era como se lhes renovasse e se 
lhes iluminasse o coração". De deuses pas­
sam a ser vistos como animaisl3! 
Uma nota a acrescentar diz respeito à 
simetria no relacionamento dos incas com 
os espanhóis. futo na atitude do sacerdote 
ao questionar Almagro sobre a invasão, 
como na intimação de Sairi Túpaj a Pizam> 
para abandonar o país, fica claro, na repre­
sentação do drama, que os indígenas não 
se subestimavam ante o invasor. 
Finalmente, na última parte da "Tragé­
dia de Atabualpa", ocorre: 
a irrupção de Pizam> no palácio de Ata­
hualpa (em Oruro e Toco, os espanhóis 
se precipitam disparando suas armas de 
fogo). O Inca resiste e ameaça Pizarro. 
Este, movendo sempre os lábios (e tra­
duzido por Felipillo), intima o Inca para 
que o siga até Barcelona. Atahualpa 
muda bruscamente de atitude e se ren­
de: os espanhóis lhe atam as mãos e o 
coro lamenta a sua sorte. Atabualpa ofe­
rece a Pizam> ouro e prata, numa quan­
tidade que cubra a planicie até o limite 
do tiro de sua funda. Pizarro exige que 
se recubra toda a planície. Atahualpa 
indigna-se, porém logo aceita tudo 
quanto se lhe exige e suplica que não se 
lhe tire a vida. Pizam> recusa. 
A tragédia alcança seu ponto culminan­
te. Atahualpa despede-se dos seus, legaseus emblemas reais às princesas e seus 
dignitários. Seu filho Inlcaj Churin quer 
morrer com ele; Atahualpa o faz prome­
ter que se retirará para Vilcabamba com 
o DIlAMA DACONQU1STA NA FESTA 53 
seus fiéis e não reco nhecerá a domina­
ção espanhola; um dia, seus descen­
dentes pers eguirão os i n i migos 
barbudos recordando que este país foi o 
de Atabualpa, seu pai e único Senhor. 
Atabualpa volta-se conb'a Pizarro e lan­
ça-lhe uma maldição: ficará eternamen­
te mancbado por seu sangue e os súditos 
do Inca jamais o respeitarão. O padre 
Valverde exorta Atabualpa para que 
aceite o batismo e confesse seus peca­
dos. O Inca não compiOende. O padre 
Valverde apresenta-lhe a Bíblia; "Não 
me diz absolutamente nada", diz Ata­
bualpa. O padre Valverde o amsa de 
blasfemo e exige seu C3stigo, porém lhe 
administra a extrema-unção. Pizarro 
atravessa Atabualpa com sua espada. 
Seguem-se lamentações do coro e dos 
súditos do Inca: o mundo inteiro parti­
cipa na morte de Atabualpa. O coro, por 
sua vez, lança uma maldição contra Pi-
13rro. A cena final reúne o Rei de Espa­
nha e Pizallo: este oferece ao seu 
soberano a cabeça e o [IourudeAtabual­
pa. O Rei de Espanha se indigna com o 
crime, elogia o Inca e anuncia que Pi-
13rro será castigado. Este maldiz sua 
espada e o dia que o viu nascer. Logo 
cai por terra morto. 
Alguns dos temas aqui se repetem e, 
lIlesmo, se acentuaOL A incomunicabilida­
de entre índios e espanhóis, símbolo do 
abismo entre as dllas culturas, está presente 
no jogo cênico do movimento dos lábios 
realizado por Pizarro, como também no 
episódio da Bíblia. 
Aliás, esta cena corresponde ao evento 
bistórico de Cajamarca, durante a entrevis­
ta entre Pizarro e Atabualpa. Segundo ou­
tras fontes, ao lbe ser proposta a religião 
C3tólica, Atabualpa rtalsa enfaticamente, 
alegando "que a sua é muito boa e se dava 
muito bem com ela"; além disso, "Jesus 
Cristo estava morto, mas o sol e a lua não 
morriam". Ao lbe ser entregue a Bíblia 
como reveladora dos segredos da criação 
do mundo, Atabualpa "pegou-a, abriu-a, 
olbou-a de todos os lados e a folbeou". 
Dizendo queo livro nada lhe falava,jogou­
o no chão. O Padre Vicente, como ocorre 
no trecho acima, exige vingança. Esta não 
se fez demorar, e o Inca termina por ser 
preso.32 
A cobiça dos espanhóis tem, igualmen­
te, espaço privilegiado no espisódio do 
resgate. O seu valor teria sido fabuloso, 
conforme muitos bistoriadores o atestam. 
Duas das principais fontes da extrema vio­
lência do conquistador, a intolerãncia pela 
religião do outro e a ambição desenfreada, 
são aqui desnudadas?3 
Aatitude digna de Atabualpa, sem qual­
quer b'aço de submissão mesmo nos piores 
momentos, é outro aspecto que extravasa 
da representação. Pode-se verificá-lo atra­
vés de alguns episódios como a exortação 
a seu filbo para resistir aos espanhóis; a 
rnaldição que lança a Pizarro e a sua rejei­
ção l Bíblia,já mencionada. lãl atitude não 
teria se distanciado da realidade, contra­
pondo-se à de Montezuma. Este teria se 
mostrado besitante e subserviente, não 
opondo resistência a Cortez. 34 
O alcance cósmiCo do assassinato do 
Inca também fica insinuado no drama em 
foco. O Império desmoronou, uma vez que 
ele assegurava a barmonia universal. O fi­
lho do Sol "protegia seus súditos com sua 
sombra, fazia falar as montanhas e seu s0-
pro punha o mundo em movimento". Per­
deram aqueles s"as referências, lamentan­
do o terrfvel acontecimento que desestrutu­
rara sllas vidas. Só o retorno do loca poderá 
devolver 80 mundo a barmonia perdida. 
Wacbtel informa que, na variante do 
drama em Oruro, o coro roga pela ressur­
reição do Inca. Em La Paz a representação 
frnaliza com a ressurreição e o triunfo de 
Atabualpa. Wachtel sugere que o castigo 
de Pizarro simbolizaria a expulsão dos es­
panhóis anunciada por Atahualpa. Desse 
conjunto depreende que um messianismo 
, 
• 54 ES'IUDOS IOSTÓRlCDS -1991/9 
acha-se esboçado na tragédia. Menciona 
uma possível associação dessa manifesta­
ção com o mito conente entre os índios do 
Peru e da Bolívia de que, depois da morte 
de Atahualpa, sua cabeça é cortada, levada 
a Cuzco e enterrada. Soh a terra, cresce um 
corpo; quando estiver inteiramente recons­
tituído, o Inca surgirá, a dominação estran­
geira terá fim, e será restaurado o antigo 
Império?5 
A "Dança da conquista" na Guatemala 
revela, ao contrário da versão acima foca­
lizada, forte influência espanhola, embora 
parcialmente conserve a tradição indígena. 
Esta tradição está presente no momento em 
que dois emissários deAlvarado exigem de 
Tecum o seu batismo, ameaçando-<l com a 
perda do seu reino. Tecum indignado ex­
pulsa� violentamente, afinnando ser o 
rei Dom Carlos algum louco delirante. A 
loucura é um tema presente na cultura in­
dígena da região, encontrada no Chilam 
Balam que expressa a tradição dos maias 
do Yucatán. A infelicidade que assolou o 
mundo deve-se à loucura dos espanhóis, 
segundo esta obra.36 
Na batalha decisiva, Tecum, depois de 
alçar VÔO duas vezes, tenta cortar a cabeça 
de A1varado, apenas conseguindo denubar 
seu cavalo; o espanhol disto se aproveita e 
o mata, concretizando-se as previsões oní­
ricas de Tecum. Este último fato, igual­
mente, coincide com as crônicas indíge­
nas?7 
Porém, em seguida, toda a atmosfera 
muda. Zunum, sucessor de Tecum, detém 
o combate e decide receber o batismo; 
todos os índios seguem seu exemplo. Os 
espanhóis dirigem-se a Utatlán, onde o rei 
Quiché recebe-<>s com humildade. Este de­
clara-se vassalo do rei de Espanha, narran­
do que se lhe apareceu o Espírito Santo em 
sonhos sob a fonna de uma pomba. Os 
antigos adversários confratemizam e os 
fudios recebem o batismo. A peça fUlaliza 
com louvações aos santos e à Virgem Ma-
• na. 
A tradição indígena está presente, ape­
nas, até a morte de Tecum. Em seguida a 
este acontecimento, modifica-se totalmen­
te o espírito da obra, que passa a integrar o 
aporte espanhol. Apesa r disso, atualmente, 
os fudios tem outra leitura; interpretam-na 
como bomenagem à heróica resistência de 
Tecum e não como uma glorificação do 
cristianismo. As palavras de um "mestre" 
guardião destas tradições traduzem esta 
percepção: 
A conquista recorda que as bostes espa­
nholas, não mais fortes, porém melhor 
armadas ... não tiveram outra missão se­
não destruir, para aumentar os domínios 
de sua pátria e os vassalos de seu rei ... 
E sem saber-se desde quando, anual­
mente representa-se a conquista do Rei­
no Quiché, como um merecido tributo 
à resistência que os antepassados fize­
ram ao invasor.38 
Já a "Dança das plumas" mexicana ca­
racteriza-se poruma total inversão da reali­
dade. MonteZllma, que se mostrou de enor­
me fraqueza ante os espanhóis, manifesta­
se destemido. Reage com determinação às 
propostas insólitas dos espanhóis, enquanto 
estes são humildes e bajuladores como po­
demos verificar no episódio abaixo. 
A1varado, levado à presença de Monte­
zum., beija seus pés e este o faz sentar à 
sua direita. Ao transmitir a mensagem de 
Cortez, que exige o seu batismo, Montezu­
ma muda bruseamente de atitude e expulsa 
A1varado. Cortez, informado do resultado 
da missão, prepara-se para o combate. 
Montezuma decide enviar um embaixador 
oferecendo ouro e prata aos espanhóis em 
troca de sua retirada. Cortez, por sua vez, 
rechaça-<l violentamente. 
Finalmente, MonteZllma e Cortez en­
contram-se. Depois de questionado, Cor­
tez desmente ter-lhe exigido o batismo. 
Montezuma indigna-se e o ameaça: "Pre­
tendes que meus deuses são falsos? Até 
o DRAMA DA CONQUISTA NA FESTA 55 
onde chega a tua insolência!" Inicia-se a 
batalha. Cortez é vencido e se rende. Mon­
tezuma o encarcera, porém recomenda que 
seja tratado com respeito. Cortez reconhe­
ce sua loucura e deseja a morte. Porém 
Montezumao indulta e é liberado. Cortez 
agradece o gesto de Montezuma e lhe su­
plica o seu perdão?9 
Realmente, temos a conquista do Méxi­
co pelo avesso, recurso muito presente na 
cultura popular. Aqui, porém, não aparece 
a irreverência que também lhe é típica. O 
resultado é a reconciliação entre índios e 
espanhóis, sob a superioridade indígena. 
Justamente, o inverso da realidade. Embo­
ra os fatos históricos aí estejam presentes, 
estes são recriados, segundo uma outra 
lógica. A "Dança das plumas", uma das 
variaÇÕes do drama relativo à conquista do 
México, revela-se o oposto da "Tragédia 
de Atahualpa". Nesta, como vimos, predo­
mina a hostilidade entre fudios e espanhóis 
e, ao final, observa-se uma situação de 
inferioridade indígena, embora prefigu­
rando uma vitória posterior de Atahualpa. 
A inversão aqui presente significaria uma 
forma simbólica dos indígenas se compen­
sarem do comportamento submisso de 
Monteruma? Este comportamento foi con­
siderado inexplicável por alguns dos cro­
nistas e outros testemunhos espanhóis do 
momento, e constrangedor para os ú,dios. 
A fragilidade demonstrada por Monte­
ruma frente aos espanhóis, conJO se prefe­
risse não usar seu imenso poder, é assim 
comentada por Gomara, capelão e biógra­
fo de Cortez: 
Nossos espanhóis nunca puderam saber 
a verdade, porque na época não com­
preendiam a lingua, e, depois, já não 
vivia nenhuma pessoa com quem Mon­
tezuma pudesse ter compartilhado seu 
segredo. 
Em alguns momentos o despreza: 
Montezuma deve ter sido um homem 
fraco e de pouca coragem, para ter se 
deixado prender assim e, mais tarde, 
preso, por nunca ter tentado fugir, mes­
mo quando Cortez lhe oferecia a liber­
d a d e e seus próprios h omens 
suplicavam que a aceiCaS5e. 
Conclui que este: 
ou era muito sábio, passando pelas coi­
sas assim, ou tão néscio que não as 
sentia.40 
Na verdade, os signos pnderiam em 
muito ter contribuído para tal comporta­
mento, na medida em que talvez tenham 
juslificado um certo fatalismo por parte 
dos indígenas. Embora, em face dos des­
mandos dos espanhóis, grande parte dos 
dirigentes astecas tenham passado a pregar 
e a travar uma luta encarniçada com os 
invasores, cbamando-os de bárbaros, der­
rubando-os do pedestal de deuse�. E este 
sentimento se manteria, através dos tem­
pos, perpetuando-se na sua memória. A tal 
ponto que, ainda hoje, assiste-se a uma 
representação em que Montezuma é mos­
trado como um herói a�errido e Cortez 
aparece servil e inglório. 1 
5. Considerações finais 
A manutenção pelos indígenas de gran­
de parte de Sllas tradições, entre elas as 
representaÇÕes por nós focalizadas, cons­
titui-se em algo digno de nota. Vivendo na 
área correspondente aos grandes impérios 
pré- colombianos, os indígenas sofreram, 
da parte dos espanhóis, um controle que 
estes pretendiam total, no qual a violência 
foi a tônica. A reação a esta dominação 
fez-se se)ltir de múltiplas formas; não ape­
nas através de revoltas, mas também de 
, 
56 ESnmos HlSTóRlCXlS - 1!>921'l 
outros tipos de resistência. Em grande me­
dida, os indígenas faziam das aÇÕC5 rituais, 
das representações, das leis que lhes eram 
impostas, algo diverso do que o conquista­
dor pensava obter. Eles as subvertiam, não 
rejeitando-as ou mudando-as, mas utili­
zando-as com fins e em função de influên­
cias estranhas ao sistema do qual não po-
d· fu ' 42 13m glf. 
Na aparência, aceitavam as normas im­
postas pelo colonizador, mas na intimidade 
do seu cotidiano mantinham seus valores, 
suas práticas, crenças. Dessa forma, obser­
va-se a persistência signi ficativa de sua 
cultura, entremeada por elementos de ori­
gem hispânica, configurando uma inter­
pretação cultural. A presença até os dias 
atuais destas dramatizações configura este 
fato, assim como a eficácia da resistência, 
levada a afeito por aqueles segmentos. 
Wachtel considera que esta presença 
revela o trauma provocado pela conquista, 
cujos efeitos se fazem sentir sobre os ín­
dios até hoje. Tal acontecimento estaria 
ínscrito profundamente em suas estruturas 
mentais, constituindo-se num vestígio do 
passado no presente.43 
Este autor parece conceber o fato de 
modo tradicional, vendo tais manifesta­
çóes como relíquias. Na verdade, a persis­
tência dos acontecimentos da conquista na 
memória popular não exclui o fato de que 
os seus sig.úficados foram sendo atualiza­
dos em função das mudanças no contexto 
mais amplo; pois qualquer que seja a ori­
gem e o seu simbolismo manifesto, este é 
adaptado para um novo fim. 
Deve-se destacar a organização criada 
pelos populares com vistas à realização 
desta manifestação. Tal fato sobressai ao 
lembrarmos que os indígenas nestes países 
ocupam o degrau mais baixo da escala 
social, numa posição equivalente aos ne­
gros no Brasil. Na Guatemala a tradição é 
conservada por um "mestre" de muito 
prestígio que possui um ou vários manus­
critos, e cuja funçao, geralmente, passa de 
pai para filho. Cabe-lhe ensinar a repre­
sentação aos atores; decidida a encenação 
pelos habitantes de uma determinada loca­
lidade, estes chamam-no e retribuem seus 
serviços. Pagam-lhe as aulas e o aluguel 
das fantasias. A função de organizador da 
encenação, por outro lado, implica nume­
rosos gastos: a hospedagem do "mestre" a 
rcalizaç.ão em sua casa dos ensaios e o 
fornecimento de bebida e alimento para os 
. . 44 partIcIpantes. 
O espetáculo se constitui numa fonte de 
significativa importância para detetar a vi­
são dos popu la res sobre os acontecimentos 
e personagens da conquista, em que pese a 
influência espanhola que modificou mais 
intensamente o texto de algumas versões. 
De qnalquer forma, através de um cotejo 
com outras fontes, podemos realizar uma 
decantação das respectivas matrizes. 
Emerge destes textos uma atitude de admi­
ração e respeito com relação aos soberanos 
indígenas. Estes são dignos, firmes, na sua 
rejeiçao às exigências dos conquistadores. 
Recusam com vccmência a imposição da 
religião cristã, sempre defendendo as sllas 
crenças, ao preço de suas vidas. AlguM 
deles têm sua postura confirmada por ou­
tros documentos. Tal é o caso de Atahualpa 
e de Tecum. No tocante a Montezuma, 
como já vimos, é realizada, numa das ver­
sões, uma invers.'io total no que tange ao 
seu comportamento ante os espanhóis. 
Apenas um deles, o rei Quiché na Guate­
mala, desde o início é apresentado como 
temeroso, claudicante. Sintomaticamente, 
ao fiml da "Dança da conquista", ocorre 
.. 
. - . . . sua apoteohca oonversao ao cnsllarusmo, 
quando confraterniza com os conquista­
dores entoando loas à Virgem Maria. Daí 
se pode especular que se pretenda relacio­
nar sua conversão à fragilidade por ele 
demonstrada. 
Em contraposição, os espanhóis são 
vistos como arrogantes, arbitrários, opres­
sores, ambiciosos e cruéis. A sua avidez 
pelo ouro é explicitada de forma até cari-
o DRAMA DA CONQUlST A NA FESTA 57 
caturnl, particulannente na "Trngédia de 
Atabualpa". Na uDança das plumasu, me­
xicana, na qual predomina a inversão, estes 
aparecem humildes, submissos e até ser­
vis, características que outra documenta­
ção atribui a Montezuma. Na "Dança da 
ronquista", guatemalteca, na qual a in­
fluência espanhola parece ser maior, os 
espanhóis são amáveis, atenciosos, embo­
rn não se desviem do seu proselitismo no 
tocante à religião cristã, indo até à guerrn 
parn alcançar seu objetivo. Apesardaquela 
influência, as máscarns indígenas apresen­
tam um sorriso e as espanholas têm longos 
narizes e um semblante carregado. 
Inúmeros elementos da mitologia e do 
simbolismo indígenas são encontrndos 
nestes drnmas. Nota-se uma atitude de re­
veréncia parn com os antigos deuses. Já os 
sacerdotes católicos, de maneirn idêntica 
aos demais espanhóis, são representados 
como intrnnsigentes, autoritáriose cruéis. 
Esclarecedor, neste particular, é atentar pa­
rn o comportamento do padre Valverde 
com relação a Atahualpa. Aliás, um aspec­
to importante é o realce dado no drnma à 
intolerância religiosa dos conquistadores e 
à recusa enérgica dos sobernnos indígenas. 
A ênfase neste aspedO sobrepuja as men­
ções relativas à excessiva· cobiça dos espa­
nhóis. Denotaria este fato a maior sensibi­
lidade dos índios aos esforços de extirpa­
ção de sua culturn, fator essencial de coe­
são e identidade desses grupos? 
A internção culturnl está presente em 
inúmeru situações. Destaca-se o fato des­
tas representações se realizarem em festas 
religiosas do calendário católico, das quais 
são a principal atrnção. Na Guatemala são 
antecedidas por ritos que lembrnm a antiga 
religião dos indígenas da região. Durnnte 
várias semanas os atores sobem, à meia 
noite, ao alto de uma montanha. Ali, pedem 
permissão parn encenar o drnma aos espí­
ritos dos reis que vivenciarnm a conquista 
e aos deuses da montanha. Queimam co­
paI, incenso, recitam o antigo calendário 
maia, fazem oferendas, acendem velas pa­
rn que nada de mal lhes aconteça. Entre 
outrns, a presença de elogios aos espanhóis 
e ã conversão dos índios, oomo ocorre na. 
própria Guatemala, denota esta internção. 
Finalmente, importa ressaltar que esta é 
uma forma original de expressão dos po­
pulares. Nao encontrnmos exemplo similar 
na historiogrnfia sobre culturn relativa aos 
referidos segmentos, calcada na experiên­
cia européia que nos serve de parâmetro. 
Acentua-se, assim, a importância de nos 
debruçarmos sobre a culturn popular lati­
no-americana, tão rica em simbolismos, 
em busca de alguém que os decodifique. 
Ton13-se necessário, em particular, obser­
var sua contextualização, ultrnpassando a 
fonna, atentando-se parn as relações reais 
que nela se expressam. A culturn dos po­
pulares dessa área em grnnde medida ainda 
se mantém virgem, vista como folclore 
com todos os aspectos negativos que esta 
noção carrega. Poderemos, então, discer­
nir se estes indígenas, ao encenar seus 
drnmas, pretendem apenas preservar a me­
mória de seus antepassados, ou então lhes 
acrescentando novos significados, trnns­
mutando os espanhóis de ontem naqueles 
que hoje os oprimem. 
Notas 
1 . Carlo Ginzburg, MiJos, emblema� sinais; 
morfologia e h ist6r;a, São Paulo, Campanhia 
das Lelras, t 989, p. 179. 
2. RacheI Soihet, Um ensaio sobre res;stên· 
cia e circularidade cuúural: a festa da Penha 
(1890-1920), Cadernos do 1CHF n' 31, Niterói, 
UFF, ICHF, 1990; Monica Pimenta Velloso,"As 
tias baianas tomam conta do pedaço: espaço e 
identidade cultural no Rio de Janeiro", Estudos 
Históricos nO 6, Rio de Janeiro, Editora da Fun· 
dação Getútio Vargas, p. 207-228. 
3. Peter Burke, Cultura popular na Idade 
Moderno, São Paulo, Companhia das Letras, 
, 
58 • FSlUDOS HISTÓRlCXlS -1992}} 
1989, p. 25; Oro F.S. Cardoso, A crise da uni· 
versidade ocidOlJal, Niterói, UFF, Dep� de His­
tória, p. 4 (mimeo). 
4. Robert Damton, O grande massacre de 
gaJos, Rio de Janeiro, Graal, 1986, p. XIn. 
5. Idem, ibidem, p. XV; Jacques Le Gorr, 
Refk:xõe.s sob,.. a história, Usboa, Edições 70, 
p. 49. 
6. Carlo Ginzburg,A micro-hist6ria e outros 
ensaios, Usboa, Direi, 1991, 207. 
7. Carla Ginzburg, O queijo eos vermes, São 
Paulo, Companhia das Letras, 1987, p. 17. 
8. Idem, ibidem, p. 21. 
9. E.P. Thompson, A formação da classe 
operária inglesa, vaI. 1, São Paulo, Paz e Terra, 
1987, p. 10. 
10. Idem, ibidem. Ver também "Folklore, 
antropologia e história n, Entrepassados,Ano U, 
rP 2, Buenos Aires, 1992, p. n. 
11. Idem, ibidem, p. 64. 
12. Michel de Certeau, L 'invenlion du quoti­
dien, Paris, Uniao Générale D'Editions, 1980, 
p. 14. 
13. Michel \bvelle, Ideologias e mentalida­
des, São Paulo, Brasiliense, 1987, p. 10. 
14. Carla Ginzburg, MÍlos, emblemas, si­
nais, p. 144. 
15. Georges Balandier é um exemplo de au­
tor que assume uma posição desta natureza no 
seu trabalho O poder em cena, Brasília, Ed. 
Universidade de Brasília, 1982. 
16. Michel Vovelle, op.cit., p. 246. 
17. Natalie Zemon Davis, Cu/Juras do povo, 
São Paulo, Paz e Terra, 1990, p. 87. 
18. Mik,hail Bakhtin, A cu/Jura popular na 
Idade Média e no RenascimenJo; o conlex/o de 
François RabeiDis, São Paulo, Hudtec/Ed. Uni­
versidade de Brasnia, 1987, p. 7. 
19. Idem, ibidem, p. 8. 
20. Idem, ibidem,. 
21. Mona Ozour, "A resta sob a Revolução 
Franc( ss" em História: 110\.108 objetos, Rio de 
Janeiro, Francism Alves, 1976, p. 230. 
22. José Alvaro Moisés, Reflexões sobre o 
estudo do populismo na América Latina, Nite­
rói, p. 10 (mimeo). 
23. Nathan Wacbtel, Los vencidos; los in­
dias dei Perú frente a la conquista espaiiola 
(1530-1570), Madrid, Alianza Editorial, p. 63 el 
• passlm. 
24. As nustas são princesas indígenas e com­
põem o coro na representação. 
25. Trata-se de um pássaro com plumagem 
vermelha. 
26. fdolo, lugar sagrado. 
27. Tais aspectos enoontram.-se mais detalha­
dos, enriquecidos rom citaçôes de fontes, no 
trabalho de Jorge Luiz Ferreira, Conquista e 
colonização da América Espanhola, São Paulo, 
Ática, 1992, p. 38. 
28. N. Wacblel, op.cit., p. 74,76, 82. 
29. Andrew Samuels et aI., Dicionário críti­
co de análise junguiana, Rio de Janeiro, Imago, 
1988, p. 208. 
30. O texto do drama em fooo enoontra-se na 
obra já citada de N. Wacblel à p. 67. 
31. O comportamento de Pizarro e seus com­
panheiros encontra-se descrito. a partir de fontes 
da éJX)C3, em Josetina Oliva de CoII,A resistên­
cia indígena, Porto Alegre, LPM, 1986, p. 209. 
32. F. Lopez de Gomara, Histoire génirale 
des lndes, 1568, apud Ruggiero Romano, Meca­
nismos da conquista espanhola, São Paulo, 
Perspectiva, 1973, p. 77. Também em Jorge Luiz 
Ferreira, op.cit., p. 39. 
33. Enlre outros, Miguel-Léon Portilla, A 
conquista da América Latina vista pelos índios; 
relatos astecas, maiase incas, Petrópolis, \bzes, 
1984. Através de sua obra verifica.-se que várias 
fontes referem-se aos referidos aspectos; segun­
do OJaunu, o resgate pago por Atabualpa, ao 
qual se refere o trecho, equivaleria a meio século 
de roda a produçáo européia. Henri Favreafirma 
que transformado em moeda atual, chegaria à 
cifra de rem milbões de dólares. Tais observa­
çôes encontram-se em Jorge Luiz Ferreira, 
op.cit., p. 41. 
34. Frei Bartolomé de Las Casas acentua a 
altivez de Atabualpa frente ao tratamento de que 
lhe deu Pizarro em Brevissima relaçdo da da­
truição das Indias; o paraíso destruído, Porto 
Alegre, LPM, 1984, p. 98. No tocante à hesitação 
e debilidade de Montezuma ante aos espanhóis, 
ver Tzvetan Todorov, A conquista daAINérica; 
a questão do outro, São Paulo, Martins Fontes, 
1988, p. 54; também, Josefina Oliva de CoII, 
op.cit., p. 67. 
35. N. Wachlel, op.cit., p. 69. 
o DRAMA DA mNQUlSTA NA FESTA 59 
36. O Chilam Balam de Chumayel é uma 
obra maia, coostaooo de vári05 1i\lTOS com textos 
que datam do século XVI, embora tenham sido 
transcritos posteriormente. 
37. Josefioa O. de CoII transcreve o relato 
promenorizado dos feitos de TeClJm, ClJlminan­
do com 8 ap(f seotação de sua morte na página 
97. 
38. Francisoo Javier Garcia, EI baile de la 
ClNlql'islll, Quezalleoango, 1934, .püd N. Wa­
chiei, op.cit., p. 83. 
39. Wachtel, p. 83. 
40. T. Todorov, op.cit., p. 55. 
• 
• 
41. Todorov faz um brilhante tratamento do 
comportamento de Montezuma, relaciooaodo-o 
com os signos próprios à cultura asteca. a partir 
da página 61. 
. 
42. M. de Certeau, op.cit., p. 12. 
43. N. Wachtel, op.cit., p. 63. 
44. Idem, ibidem, p. 74. 
Rachei Soihet é professora do Departamento 
de História da UFF .

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