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Introdução à Antropologia Cultural

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A ntropologia Cultural 
 
 
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Sumário 
Introdução aos estudos 
antropológicos | 7 
Delimitações da Antropologia Cultural | 7 
Trabalho: atividade humana | 8 
Cultura: definição | 8 
Principais acepções do termo Cultura | 15 
Cultura material | 15 
Cultura imaterial | 16 
Exemplo de cultura imaterial (crenças) | 16 
Cultura real (ação e pensamento) | 19 
Cultura ideal (filosofia correta em termos teóricos) | 20 
Endoculturação | 20 
Aculturação | 20 
Subcultura | 20 
Sincretismo cultural | 20 
Raça | 21 
Etnia | 21 
Relativismo cultural | 21 
Etnocentrismo | 21 
Mito: elemento da cultura | 25 
Mitologia nórdica | 26 
Folclore | 26 
 
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Psicologia social | 27 
A questão do outro | 33 
A conquista da América | 33 
Colombo: o observador da natureza | 34 
Colombo e os indígenas | 34 
A conquista da Cidade do México | 35 
A comunicação como arma do dominador | 36 
A conquista da América e as formas de dominação espanhola 
| 41 
Os espanhóis e os signos | 41 
A escravidão gerada pelo colonialismo | 42 
O indígena como o “alien” (estranho) para os espanhóis | 
43 
Diego Durán e a cultura asteca | 43 
Bernardino de Sahagún | 44 
Onde estava o povo civilizado? | 45 
Conquista do Brasil: historiografia e educação | 49 
O conflito entre indígenas e 
portugueses | 49 A 
conquista e a proteção da 
“Nova Terra” | 50 
A história dominante nos livros didáticos | 51 
O educador e o ensino crítico | 52 
 
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O enfrentamento dos mundos | 57 
A chegada do europeu na “Ilha Brasil” | 57 
Fontes oficiais | 59 
A Carta, de Pero Vaz de Caminha | 60 
Composição étnica do Brasil | 67 
Os brasilíndios | 67 
Os afro-brasileiros | 68 
Os neobrasileiros | 75 
Que país é esse? | 75 
O mito da democracia racial | 77 
Cultura nacional e identidade | 83 
A busca da identidade nacional na década de 1920 | 83 
A configuração da nação | 84 
A história do Brasil e os livros didáticos | 85 
O modernismo e a identidade brasileira | 86 
A intolerância gerada pelo etnocentrismo | 93 
Nazismo: um breve relato | 93 
A figura de Hitler | 96 
Subculturas | 101 
Tribos urbanas | 101 
Referências | 109 
 
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em cada aula. Além disso, há indicações 
bibliográficas importantes, para que você possa 
se aprofundar nos estudos e buscar outras 
fontes para o seu aprimoramento intelectual. 
 
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Espero que você, por meio da reflexão 
antropológica, amplie sua consciência de 
que todos nós seres humanos estamos 
unidos, embora tenhamos maneiras 
 
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diferentes de viver. Aprender com o diferente 
é aceitá-lo e amá-lo incondicionalmente. 
Somente assim poderemos vencer a 
intolerância que é fruto do 
desconhecimento. 
 
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Introdução aos estudos antropológicos 
Priscila Rezende* 
Delimitações da Antropologia Cultural 
A palavra Antropologia deriva do grego άνθρωπος – 
anthropos, (homem / pessoa) e λόγος (logos – razão / 
pensamento). A Antropologia analisa as características 
biológicas, culturais e sociais dos seres humanos. Por ser um 
estudo muito complexo iremos privilegiar, nesse curso, o 
aspecto cultural. A Antropologia Cultural é o estudo do 
comportamento do ser humano, das crenças religiosas e dos 
sistemas simbólicos. 
Podemos definir a Antropologia Cultural como uma 
possibilidade de compreendermos quem somos por 
intermédio da observação atenta do comportamento do 
outro. O outro deixa de ser visto como um indivíduo 
ameaçador/estapafúrdio que não tem nada para acrescentar, 
ou seja, o “alien”. Esse olhar diferenciado possibilita uma 
mudança muito relevante, posto que o outro passa a ser visto 
como alguém que possui hábitos, costumes e valores 
diferentes que os nossos e justamente por este motivo pode 
ensinar muitas coisas para nós, assim sendo, o outro é o 
“Alter” (diferente) e não o “alien” (estranho). 
A Antropologia Cultural analisa a essência humana e o que 
determinados grupos sociais criam historicamente. 
 
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Entendemos que o homem é onto-societário, ou seja, ele é 
um ser social, portanto, ele aprende sempre com outros 
indivíduos. Assim, o ser humano ao utilizar suas inúmeras 
habilidades e competências perscruta a sua realidade e tenta 
explicar a mesma. 
 Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em História, 
Sociedade e Cultura pela PUC-SP. Bacharel e licenciada em 
História pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). 
Quando descobrimos que somos essencialmente 
coletivos, percebemos que o individualismo exacerbado que 
existe atualmente em nossa sociedade foi algo historicamente 
construído, ou seja, o ser humano não possui uma essência 
solitária, mas ele precisa do outro para poder sobreviver. 
Entretanto se não fôssemos inseridos em nenhum grupo 
social desde o nosso nascimento poderíamos aprender a 
falar, andar e gesticular? Será que existe a possibilidade de 
iniciarmos o processo de humanização de uma forma isolada 
de um grupo social? 
Temos características e hábitos essencialmente humanos 
porque fomos inseridos em um grupo social e aprendemos a 
reconhecer determinados símbolos, expressar os nossos 
sentimentos como chorar, rir etc. 
 Introdução aos estudos antropológicos |
 9 
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Trabalho: atividade humana 
O que distingue os homens dos animais é a nossa 
capacidade de pensar e utilizar a nossa inteligência para sanar 
as nossas vicissitudes por meio do trabalho. 
O conceito trabalho é, na maioria das vezes, entendido 
como algo penoso que fazemos para ganhar um salário no fim 
do mês e assim continuarmos sobrevivendo. No entanto, essa 
conceituação (criada pelos economistas do século XIX) não 
explica a complexidade desse conceito. Trabalho é toda ação 
humana sensível com valor de uso, ou seja, todo ser humano 
trabalha quando desempenha qualquer ação que acontece na 
realidade (escola, casa, igreja) com uma finalidade. O lazer é 
considerado um trabalho, pois, quando alguém vai ao parque 
já está realizando uma atividade que tem um objetivo que 
pode ser diversão, entretenimento ou descanso. Assim sendo, 
a capacidade que o homem tem de raciocinar está 
intrinsecamente ligada à capacidade que ele tem de trabalhar 
e são essas potencialidades humanas que nos diferenciam dos 
outros animais. 
O ser humano sempre trabalhou, ou seja, transformou a 
natureza para atender as suas necessidades. Por intermédio 
da sua inteligência e da capacidade que tem para criar, a 
espécie humana evoluiu e continuará evoluindo. 
10 |Introdução aos estudos antropológicos 
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Cultura: definição 
Outro conceito que vamos trabalhar nesse 
curso é o de Cultura. O que é cultura? Essa 
não é uma pergunta fácil, pois, ainda hoje, 
entre os antropólogos, há diversas definições 
para esse conceito. Será que todos possuem 
cultura? Você tem cultura? 
Muitasvezes ouvimos falar que uma determinada pessoa 
tem cultura por ter lido muito livros ou por ter conhecimento 
apurado na área artística. Também já ouvimos falar de 
manifestações culturais que são relacionadas ao folclore, 
crenças, danças, lendas de uma determinada região. E um 
termo muito difundido atualmente é o de cultura de massa 
que faz referência ao cinema, televisão, rádio etc. 
Observaram como é difícil definir Cultura?Edward Burnett 
Tylor. 
O primeiro intelectual a 
formular um conceito de cultura foi 
Edward B. Tylor (1871) em sua 
obra Cultura Primitiva. Para Tylor o 
conceito cultura engloba todas as 
coisas e acontecimentos relativos ao 
homem. Já para Ralph Linton (1936), a cultura “consiste na 
soma total de ideias, reações emocionais condicionadas a 
padrões de comportamento habitual que seus membros 
adquiriram por meio da instrução ou imitação e de que todos, 
Cali
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. 
 Introdução aos estudos antropológicos |
 11 
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em maior ou menor grau, participam” (LINTON, 1965, p. 17-
20) 
Franz Boas. Franz Boas (1938) entende cultura como “a totalidade 
das reações e atividades mentais e físicas que 
caracterizam o 
comportamento dos indivíduos que compõem um grupo 
social [...]” (BOAS,1964, Malinowski. p. 166) 
Malinowski (1944) define cultura como “o todo global 
consistente de implementos e bens de consumo, de cartas 
constitucionais para os vários agrupamentos sociais, de ideias 
e ofícios humanos, de crenças e costumes.” ( MALINOWSKI, 
1962, p. 43) 
Como vimos, são várias definições acerca da cultura, e 
podemos perceber que elas variam com o passar do tempo: 
para Tylor, Linton, Boas e Malinowski cultura é o conjunto de 
ideias; para Kroeber e Kluckhohn, Beals e Hoijer cultura é 
abstração do comportamento; para Keesing e Foster cultura é 
comportamento aprendido. Leslie A. White apresenta uma 
abordagem diferenciada: cultura, segundo ele, deve ser vista 
não como comportamento, mas em si mesma, fora do 
organismo social. White, Foster e outros entendem cultura 
como elementos materiais e não materiais. A definição de 
Geertz propõe a cultura como um “mecanismo de controle” 
do comportamento (MARCONI; PRESSOTTO, 1989, p. 42-43). 
12 |Introdução aos estudos antropológicos 
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O elemento fundamental das preocupações com cultura 
foi a constatação da variedade de modos de vida entre povos 
e nações. No final do século XV e início do XVI os europeus 
começaram a buscar novos mercados, ou seja, lugares onde 
pudessem explorar as riquezas naturais e levá-las consigo. Os 
portugueses conquistaram o Brasil e tiverem contato com os 
nativos e a mesma coisa aconteceu com os espanhóis quando 
conquistaram outras áreas da América. Os povos encontrados 
pelos europeus tinham hábitos, costumes e valores muito 
diferentes dos que eram aceitos na Europa, então era 
necessário conhecer as especificidades dessas culturas para 
explorar os nativos com mais facilidade. 
Há alguns séculos atrás essa dificuldade de definir cultura 
já existia e intelectuais na Alemanha no século XVIII tentaram 
definir o que seria esse conceito. Há uma explicação para 
isso: a Alemanha, neste momento, era uma nação dividida em 
várias unidades políticas. Discutir cultura era relevante, 
porque poderia corroborar para a criação de um sentimento 
de identidade entre os alemães na ausência de uma unidade 
política. Assim, os alemães poderiam identificar um modo de 
vida comum para todos que pertenciam àquela nação. 
Embora existam várias definições para o termo cultura, 
duas concepções são mais discutidas e aceitas: 
 ::::cultura são todos os aspectos de uma realidade 
social; 
 Introdução aos estudos antropológicos |
 13 
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 ::::cultura é o conhecimento, ideias e crenças de um 
povo. 
Vamos englobar essas duas concepções para definir qual 
conceito de cultura iremos utilizar neste curso. Cultura, 
portanto, será entendida por nós como a variedade de modos 
de vida, crenças, hábitos, valores e práticas de diversos povos. 
Assim, o termo cultura também pode ser entendido como 
modo de produção já que ambos significam o jeito de ser de 
uma determinada sociedade e o que ela produz. 
Aprendemos que o ser humano é coletivo e que necessita 
do grupo para dar início ao seu processo de humanização e 
que, por meio do trabalho e da sua capacidade de pensar 
modifica a natureza para sanar as suas necessidades. Além 
disso, cria códigos de comunicação que são utilizados pelo 
grupo ao qual pertence. 
A história nos mostra inúmeras culturas, ou seja, modos de 
vida. Ao analisarmos, por exemplo, os rituais dos maias, 
civilização mesoamericana pré-colombiana com uma 
existência de 3 000 anos, podemos perceber que essa 
civilização realizava alguns rituais, entre eles o sacrifício 
humano. 
Os espanhóis criticaram a crença dos maias com base na 
doutrina da Igreja Cristã e disseram que tinham por missão 
ensinar a religião “certa” para os “primitivos”. Para os 
espanhóis, esses rituais eram selvagens e demoníacos: 
14 |Introdução aos estudos antropológicos 
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[...] Colombo age como se entre as duas ações se 
estabelecesse um certo equilíbrio: os espanhóis dão a 
religião e tomam o ouro. Porém além de a troca ser 
bastante assimétrica, e não necessariamente interessante 
para a outra parte, as implicações desses dois atos se 
opõem. Propagar a religião significa que os índios são 
considerados como iguais (diante de Deus). E se eles não 
quiserem entregar suas riquezas? Então será preciso 
subjugá-los, militar e politicamente, para poder tomá-las à 
força; em outras palavras, colocá-los, agora do ponto de 
vista humano, numa posição de desigualdade (de 
inferioridade). (TODOROV, 1999, p. 53) 
Assim, criticamos a cultura do outro partindo do 
pressuposto de que a nossa cultura é a correta. Por não 
querermos compreender o outro, que é visto como o “alien” 
(estranho), cometemos um pré- -conceito, ou seja, julgamos 
antes de conhecermos algo ou alguém. Essa postura é muito 
perigosa, pois gera intolerância. 
Os maias faziam rituais em favor do grupo, ou seja, o 
sacrifício humano era uma entrega para o bem-estar coletivo, 
segundo as suas crenças. Os espanhóis supervalorizaram a 
cultura europeia e rejeitaram a cultura dos indígenas. Essa 
rejeição resultou em assassinatos, exploração e crueldades 
das mais diversas cometidas contra os povos conquistados: 
[...] Os espanhóis cometeram crueldades inauditas, 
cortando as mãos, os braços, as pernas, cortando os seios 
 Introdução aos estudos antropológicos |
 15 
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das mulheres, jogando-as em lagos profundos, e 
golpeando com estoque as crianças, porque não eram tão 
rápidas quanto as mães. E se os que traziam coleira em 
torno do pescoço ficassem doentes ou não caminhassem 
tão rapidamente quanto seus companheiros, cortavam-
lhes a cabeça, para não terem de parar e soltá-los. 
(TODOROV, 1999, p. 169) 
Esses exemplos mostram o quão nocivo é pensar que o 
seu modo de vida (valores, crenças, ideologias, práticas etc.) é 
o único correto e que o outro sempre está errado. É o caso, 
por exemplo, quando nós ocidentais julgamos a cultura 
oriental, especificamente do árabe muçulmano. As mulheres 
ocidentais criticam a forma como as mulheres árabes 
muçulmanas se vestem, ou seja, cobertas como uma burca 
deixando, muitas vezes, só os olhos à vista. Asmulheres 
árabes muçulmanas, por outro lado, criticam a postura das 
mulheres ocidentais, pois, segundo elas, as mulheres do 
ocidente preocupam-se em demasia com a estética do corpo 
e sofrem por causa desta busca desenfreada ao corpo 
perfeito passando por inúmeras cirurgias como lipoaspiração, 
inserção de próteses mamárias etc. Veja o choque cultural! 
Não podemos julgar culturas, pois cada grupo social constrói 
seu jeito de viver de acordo com o que acha certo, assim 
devemos apenas buscar compreender as diversidades 
culturais e respeitá-las acima de tudo. Portanto, somente 
16 |Introdução aos estudos antropológicos 
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através da tolerância podemos construir um mundo melhor 
onde todos terão direito de expressar suas verdades. 
Texto complementar 
As meninas-lobo 
Na Índia, onde os casos de menino-
lobo foram relativamente numerosos, 
descobriram-se, em 1920, duas crianças, 
Amala e Kamala, vivendo no meio de 
uma família de lobos. A primeira tinha 
um ano e meio e veio a morrer um ano 
mais tarde. Kamala, de oito anos de 
idade, viveu até 1929. Não tinham nada 
de humano e seu comportamento era 
exatamente semelhante àquele de seus 
irmãos lobos. 
Amala e Kamala. 
 Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se 
sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos 
trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos 
longos e rápidos. 
Eram incapazes de permanecer de pé. Só se 
alimentavam de carne crua ou podre, comiam e 
bebiam como os animais, lançando a cabeça para a 
frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde 
foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e 
prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas 
durante a noite, procurando fugir e uivando como 
 Introdução aos estudos antropológicos |
 17 
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lobos. Nunca choraram ou riram. 
Kamala viveu durante oito anos na 
instituição que a acolheu, humanizando-se 
lentamente. Ela necessitou de seis anos 
para aprender a andar e pouco antes de 
morrer só tinha um vocabulário de 50 
palavras. Atitudes afetivas foram 
aparecendo aos poucos. 
Ela chorou pela primeira vez por ocasião 
da morte de Amala e se apegou lentamente 
às pessoas que cuidaram dela e às outras 
crianças com as quais con- 
Kamala. viveu. 
A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com 
outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras 
de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar 
ordens simples. 
(B. Reymond. Le développement social de l’enfant et 
de l’adolescent. Bruxelas: Dessart, 1965, p.12-14) 
Atividades 
1. Como podemos definir a Antropologia Cultural? 
 
 
 
18 |Introdução aos estudos antropológicos 
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2. O ser humano pode iniciar o seu processo de humanização 
sozinho? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Introdução aos estudos antropológicos |
 19 
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3. Explique o comentário a seguir: “Uma aranha executa 
operações que se assemelham às manipulações do 
tecelão, e a construção das colmeias pelas abelhas poderia 
envergonhar, por sua perfeição a um mestre de obras. 
Mas há algo em que o pior mestre de obras é superior à 
melhor abelha, e é o fato de que, antes de executar a 
construção, ele a projeta em seu cérebro.” (Karl Marx) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 |Introdução aos estudos antropológicos 
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Gabarito 
1. Podemos definir a Antropologia Cultural como uma 
possibilidade de compreendermos quem somos por 
intermédio da observação atenta do comportamento do 
outro. 
2. Não. O texto “Meninas Lobos” nos mostra que Amala e 
Kamala por não terem sido inseridas num grupo social e 
terem sido criadas por lobos não apresentavam 
características do comportamento humano e possuíam 
hábitos semelhantes daqueles animais selvagens. 
3. O texto ratifica que o ser humano utiliza a sua inteligência 
para criar e não faz como os insetos e animais que 
reproduzem mecanicamente o mesmo comportamento. 
 Introdução aos estudos antropológicos |
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22 |Introdução aos estudos antropológicos 
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 Introdução aos estudos antropológicos |
 23 
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Principais acepções do termo Cultura 
O conceito cultura1 varia muito na sua essência, no tempo 
e no espaço. Tylor, Linton, Boas e Malinwski consideram a 
cultura como ideias. Para Kroeber e Kluckhohn, Beals e Hoijer 
cultura é abstração do comportamento. Keesing e Foster a 
definem como comportamento aprendido. Leslie A. White 
afirma que a cultura deve ser vista em si mesma, fora do 
organismo humano. Leslie A. White e Foster inserem no 
conceito de cultura os elementos materiais e não materiais 
de cultura. Geertz propõe a cultura como um “mecanismo de 
controle” do comportamento. Essas definições divergentes 
permitem que aprendamos cultura por meio de seus diversos 
nexos constitutivos: 
A cultura, portanto, pode ser analisada, ao mesmo 
tempo, sob vários enfoques: ideias (conhecimento e 
filosofia); crenças (religião e superstição); valores 
(ideologia e moral); normas (costumes e leis); atitudes 
(preconceito e respeito ao próximo); padrões de conduta 
(monogamia, tabu); abstração do comportamento 
(símbolos e compromissos); instituições (família e 
sistemas econômicos); técnicas (artes e habilidades) e 
artefatos (machado de pedra, telefone). 
 
1
 Referenciais teóricos dessa aula: Maria de Andrade Marconi e Zélia Maria Neves Pressoto. 
24 |Principais acepções do termo Cultura 
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(MARCONI; PRESSOTO, 1989, p. 44) 
Segundo Leslie A. White cultura situa-se no tempo e no 
espaço e pode ser classificada em “intraorgânica” (conceitos, 
crenças, atitudes, emoções, etc.); “interorgânica” (interação 
social entre os seres humanos) e “extraorgânica” (objetos 
materiais, ou seja, localizada fora de organimos humanos). 
Para os antropólogos cultura consiste em ideias 
(concepções mentais de coisas abstradas ou concretas – 
crenças religiosas, míticas, científicas etc.); abstrações (aquilo 
que se encontra no campo das ideias, da mente – 
acontecimentos não observáveis, não concretos, não 
sensível) e comportamento (modo de viver comum de um 
determinado grupo humano). 
Cultura material 
São coisas materiais, concretas, que foram criadas pelo ser 
humano com uma finalidade. São, por exemplo, vestuários, 
arco e flechas, vasos, talheres, alimentos, habitações etc. 
Cultura imaterial 
São elementos não concretos da cultura como valores, 
hábitos, crenças, potencialidades, normas, valores, 
significados etc. 
 Principais acepções do termo Cultura | 25 
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Exemplo de cultura imaterial (crenças) 
A morte é o lastro da maioria das crenças e superstições. 
Não existe incógnita maior do que a morte. Nas crenças ela é 
relatada como algo sobrenatural e temido. Ela representa 
uma sentença eterna. Os povos da antiguidade como, por 
exemplo, os egípcios; acreditavamque o indivíduo ao morrer 
dormiria até o dia do julgamento final. Na mitologia egípcia, 
Anúbis, o deus mais popular e venerado quarenta e cinco 
séculos antes de Cristo, era filho de Osíris e de Néftis, sua 
irmã. Anúbis instituirá, segundo a mitologia, uma espécie de 
culto aos mortos, através de ritos funerários e 
embalsamamento, pois o corpo deveria estar intacto para 
abrigar a alma que retornaria no dia do julgamento decisivo. 
Anúbis estava presente em todas as celebrações funerárias, e 
dirigia todos os detalhes das homenagens dirigidas ao 
falecido. Todos os indivíduos, independente da riqueza que 
possuíam, teriam por direito sagrado uma morada física. Ou 
seja, um sepulcro, fosse este, uma pirâmide real, cova 
simples, mastaba rica etc. Quem fosse contra esta regra seria 
amaldiçoado pelas mãos de Anúbis. O bem e o mal são as 
forças antagônicas que decidem o destino das almas. Na 
mitologia egípcia, o julgamento das almas era feito por Osíris, 
pai de Anúbis. Osíris possuía uma balança de ouro onde se 
pesava as obras do réu. 
Vemos a relevância da morte nas concepções de crenças. 
Passaram-se muitos séculos, para que, em Roma fosse 
26 |Principais acepções do termo Cultura 
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estabelecida após vários fatores, a religião cristã. Na religião 
cristã também existe um juiz e guardião das almas. Refiro-me, 
a São Miguel Arcanjo, que como Anúbis na crença egípcia, 
também guarda e, diante de Deus, apresenta as almas 
pesando em sua balança os atos das mesmas. Se as obras más 
pesarem mais que as boas, esta alma padecerá no inferno, 
sofrendo eternamente os flagelos que serão impostos pelo 
senhor do abismo negro, ou seja, o demônio. 
Algumas crenças pregam que as almas voltam ao mundo 
físico, ou ficam vagando, para pagarem os males que fizeram. 
Desta maneira, surgem várias concepções ao respeito. As 
superstições que englobam o sobrenatural são tão infindas 
que seria impossível relatar todas elas “nesta vida”. 
Em Mariana, cidade de Minas Gerais, por exemplo, o 
sobrenatural faz parte do imaginário dos moradores. Dizem 
até, que os espectros que vivem na cidade, são mais 
numerosos que os moradores vivos. As superstições se 
proliferam, como sinal de proteção e aviso ao seres vivos. 
Citarei algumas superstições dos moradores do local. 
Vejamos. 
“Botar feijoada no fogo, à noite, é preciso antes botar sal. 
Pois, o sal protege o caldeirão das almas que foram 
assassinadas com arma de fogo indo, desta maneira, lavar 
suas enfermidades no caldeirão, azedando toda a feijoada”. 
“Para o pai e a mãe não falecerem, o filho não deve 
pentear os cabelos à noite”. 
 Principais acepções do termo Cultura | 27 
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“Quando o espelho quebra sem nenhum motivo, uma 
pessoa da casa morrerá dentro de poucos dias”. 
“Jamais olhe seu reflexo nas águas de um rio, pois o diabo 
vem e lhe rouba a alma, e você morrerá na beira do mesmo.” 
“O espírito comparece diante de São Miguel, e tomando 
este a sua balança, coloca na concha as obras boas e na outra 
as obras más, e profere seu julgamento em face da 
superioridade do peso das mesmas, quem for salvo vai junto a 
Jesus, quem passou por um pouquinho, vai para o purgatório, 
para se purificar, e quem foi ruim demais, não tem jeito, essa 
alma vai para junto do ‘encardido’ no inferno.” 
“Se o morto ficar com o corpo mole é porque a alma dele 
vai voltar para buscar alguém da casa em que morava. 
Quando o falecido morre de olho arregalado, a primeira 
pessoa que fitá-lo morrerá junto dele”. 
“A criança que morre antes de ser amamentada é um 
serafim.2 Entretanto, se esta tiver sido amamentada e depois 
falecer, comparecerá ao purgatório para vomitar o leite que 
tomou na terra.” 
“Quando entra besouro preto em casa é sinal de morte 
breve.” 
“Quando a coruja (Matinta-Pereira) canta é sinal que 
morrerá alguém naquela mesma noite”. 
 
2
 É comumente aceito como a primeira posição na hierarquia celestial dos anjos, sendo os que estão mais próximos de Deus. A palavra hebraica Saraf (ףרש) 
significa “queimar” ou “incendiar”, talvez uma alusão a tradições bíblicas onde Deus é comparado a um “fogo” ou mesmo “fogo consumidor”. A referência 
bíblica para “serafim” está em Isaías 6:1-2. Extraído do site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Serafim>. 
28 |Principais acepções do termo Cultura 
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“Deve lavar os sapatos quando chega de um cemitério, 
pois, se ele entrar em casa e levar a terra do cemitério nos 
sapatos, uma legião de almas irá buscar o descuidado”. 
“Colocar na criança o mesmo nome do pai, um dos dois 
morrerá logo”. 
“Ouvir chamar pelo nome, fora de casa, sem saber quem 
foi não se deve responder; pois a morte chama e leva quem 
responde”. 
“Quando morre uma pessoa devem-se abrir todas as 
portas da casa para a alma sair. A casa não deve ser fechada 
antes do sétimo dia, pois este é o tempo para se arrebentar 
as vísceras do defunto. Depois disto, a alma dele sai de dentro 
da casa e vai para a morada dos mortos”. 
“Quando uma procissão para em frente a uma casa é sinal 
que ali morrerá uma pessoa em breve”. 
“Quando a pessoa sente um tremor ou um calafrio é sinal 
de que a morte está do lado dela e quer levar sua alma para o 
além”. 
“Quando uma pessoa cobrir o corpo do defunto com terra, 
deve pedir ao mesmo, que lhe arranje um bom lugar no 
além. Se ele for para um bom lugar, com certeza, estará bem 
quem pede; se for para uma mal lugar, azarado é aquele 
quem pediu.” 
“Quem amanhece com a boca salivosa e amarga é por ter 
comido mingau das almas.” 
 Principais acepções do termo Cultura | 29 
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“Um clarão ou pontos luminosos vistos do nada, é aviso 
das almas amigas para não fazer o que o indivíduo estiver 
pensando no momento.” 
“O fantasma se tornará cada vez mais visível, para quem 
tem medo”. 
“As almas de tradição antiga nunca aparecem para pessoa 
nua. Pois elas exigem respeito e compostura.” 
“O espelho não reflete a imagem do corpo da pessoa, 
porém, é a sua alma que se torna visível”. 
“O diabo fica atrás do espelho, por isso, não se deve olhar 
no espelho nas horas abertas, ou seja, meio dia, seis da tarde 
e meia noite. Se o indivíduo for descuidado poderá ter sua 
alma roubada. “ 
Essas são algumas das inúmeras superstições que são 
narradas pelos moradores de Mariana. Esses mineiros 
possuem um profundo respeito em relação à morte. Todos 
participam dos velórios que ocorrem na cidade. Mesmo se o 
falecido era apenas conhecido de vista. Uma tradição muito 
interessante na cidade, é que em todos os velórios deve ser 
servido às pessoas pão com salame e café. Servir refeições 
nos velórios é uma tradição antiga que pertencia aos deveres 
domésticos em Roma, Grécia e Egito. Foram os colonizadores 
portugueses que trouxeram este costume para o Brasil, 
poucas regiões possuem esse costume atualmente, porém, os 
deveres domésticos de Mariana continuam. 
30 |Principais acepções do termo Cultura 
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Existem histórias muito interessantes que são narradas em 
relação à morte em Mariana. Contarei duas fascinantes: 
[ “Havia um fazendeiro muito rico, possuía muitos bens e 
era dono, de uma extensa boiada. Gostava muito de cuidar de 
seus animais. Tudo para ele era motivo de festa, e não 
cansava de narrar aos seus amigos a sua valentia em encarar 
o boi, e pegá-lo pelo chifre. Um dia este fazendeiro resolveu 
se consultar com uma cartomante que havia chegadona 
cidade. Ele queria que ela lhe previsse seu futuro, ela porém, 
negava-se em falar. Ele, por sua vez, insistia. Até que a 
cartomante, olhou-lhe nos olhos e disse: – ”Tu vais morrer 
com uma chifrada de boi”. Ele ficou muito assustado e 
comprou uma casa na cidade, deixando que seus empregados 
cuidassem do gado. Passaram-se muitos anos, e o fazendeiro, 
junto com sua família, foi passar um fim de semana na sua 
fazenda. Ele pediu a um de seus empregados para matar um 
boi e trazê-lo para assar. Chamou todos os seus amigos. O boi 
estava esticado em cima de uma mesa grande, ainda com os 
chifres. O fazendeiro estava correndo de um lado para o 
outro para servir as bebidas aos seus convidados. Quando de 
repente, o pobre do fazendeiro escorrega no capim e cai 
direto sobre os chifres do boi. Os chifres ultrapassaram o seu 
corpo e este, obviamente, morreu na hora” ]. 
Esta é uma história muito interessante, que mostra a 
impossibilidade de fugir da morte. Outra história muito 
curiosa é a da comadre morte. Vejamos: [ “ Um homem e sua 
 Principais acepções do termo Cultura | 31 
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mulher estavam a conversar, lamentando profundamente a 
fatalidade da morte. – Se eu arranjasse um meio de ser amigo 
da morte, – dizia o marido, – talvez assim eu não teria medo 
dela. – Isso você consegue facilmente, – replicou-lhe a 
mulher, – basta para tanto, que você a convide para madrinha 
de nosso filho, que deve ser batizado na outra semana. E 
certamente ela não lhe recusará nenhum favor, qualquer que 
seja. 
A Morte foi convidada e veio. Após a cerimônia e acabada 
a festa, já se ia retirando, quando o compadre aproximou-se, 
e assim disse: – Comadre Morte, como há muita gente no 
mundo para a senhora levar embora, eu espero e desejo que 
a senhora nunca venha me buscar. Replicou-lhe a Morte: – 
Isso que vos me pede eu não posso fazer. De Deus eu sou 
mandada, e quando recebo ordens de aqui buscar alguém, 
não tenho remédio senão obedecer. Em todo caso, farei por ti 
tudo o que estiver ao meu alcance, comprometendo-me lhe 
avisar oito dias antes de vossa morte para que possa lidar 
melhor com as emoções. 
Vários anos se passaram, até que chegou por fim, a vez de vir 
fazer-lhe a Morte a visita fatal. 
– Boa noite compadre! – disse ela, o dia da visita chegou. 
Recebi ordens para vir buscá-lo daqui oito dias, hoje aqui 
venho somente para lhe dar este aviso. 
– Ah, comadre! – exclamou o homem, – você voltou muito 
depressa! Agora que eu vou indo mui-to bem em meus 
32 |Principais acepções do termo Cultura 
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negócios; acho que houve um erro lá nos documentos do 
além. Daqui uns poucos anos poderei me tornar um homem 
muito rico. Tenha piedade, comadre! E leve um indivíduo 
desiludido da vida em meu lugar. 
– Sinto deveras, – replicou lhe a Morte; – mas, agora 
preciso cumprir ordens, e não posso deixá-lo aqui neste 
mundo. Agora preciso ir, digo-lhe que me verás daqui oito 
dias, até logo! 
Passaram-se os tão desesperados oito dias. 
O homem, andava angustiado e certo de que desta vez 
não escaparia. A sua mulher, porém, traçou um plano, que 
decidiram logo pôr em prática. 
 Havia na casa um velho escravo, o qual era encarregado 
de cuidar dos afazeres da cozinha. Então, o casal, decidiu 
usar este pobre homem. 
Fizeram com que o escravo vestisse as roupas do seu 
senhor e mandaram-no, em seguida, para a cidade. 
Por sua vez, o dono, tingindo o rosto de preto, ficou muito 
parecido com o seu velho escravo. 
A comadre Morte, conforme havia prometido, retornou 
na noite do oitavo dia. 
– Ah, comadre! – indagou a mulher, – meu marido não 
esperava mais o vosso regresso hoje, em vista disso, ele foi à 
cidade tratar dos negócios... Decerto, voltará muito tarde. 
 Principais acepções do termo Cultura | 33 
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A Morte ficou furiosa e replicou-lhe: – Eu não esperava 
que o compadre ia me aprontar uma desta... Que 
desrespeito! Deus já me chamou a atenção... Agora terei que 
levar outra pessoa no lugar de seu marido. Ouço ruídos, quem 
se encontra nos fundos da casa? 
A mulher então se desesperou, pois ela pensou que a 
Morte iria até à cidade procurar o seu marido. Dominando as 
suas emoções, a mulher ‘calmamente’ respondeu-lhe: 
– Aqui em casa encontra-se somente um negro velho que 
cuida dos afazeres da cozinha. Estou muito embaraçada com 
a senhora por causa desta situação, assenta-se um pouco, e 
tente ficar mais calma, comadre! 
– Não posso me demorar,– retrucou-lhe a Morte, – tenho 
uma lista bem grande de almas que te-rão que me 
acompanhar. Levarei comigo qualquer outra pessoa. Nesse 
caso... Poderá ir no lugar do compadre o negro velho! 
A comadre morte se dirigiu rapidamente à cozinha, lá 
encontro aquele homem a fingir que cuidava do jantar. 
Antes que a mulher proferisse alguma palavra, a Morte 
ergueu sua foice fatal e deu-lha na cabeça do homem. A 
mulher estende seus braços e acolheu seu marido que 
morreu com o rosto tingido de preto” ]. 
Estas duas histórias fazem parte das inúmeras narrações 
da cidade de Mariana. 
34 |Principais acepções do termo Cultura 
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Através das superstições que foram observadas, os 
costumes, tradições e comportamentos condicionados pelas 
crenças, percebemos a relevância da observação destas 
práticas, para se conhecer as peculiaridades de uma 
determinada sociedade. 
Cultura real (ação e pensamento) 
A cultura real só pode ser percebida parcialmente, posto 
que ela representa aquilo que todos os membros de uma 
sociedade praticam ou pensam nas suas tarefas cotidianas. A 
cultura real é subjetiva, por este motivo, os estudiosos da 
cultura não podem ter uma única visão da realidade, pois a 
mesma é apresentada de diversas maneiras de acordo com o 
ponto de vista de cada indivíduo. 
Cultura ideal (filosofia correta em termos teóricos) 
Representa um conjunto de comportamentos que são 
propagados como corretos, perfeitos, no entanto, na prática 
não são seguidos por todos os membros de um grupo social. 
Endoculturação 
É a aprendizagem e estabilidade de uma cultura, ou seja, 
cada indivíduo recebe as crenças, os modos de vida da 
sociedade a que pertence, o comportamento, hábitos e 
valores. 
 Principais acepções do termo Cultura | 35 
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A sociedade controla os atos, comportamentos e atitudes 
de seus membros. 
Aculturação 
É a fusão duas culturas diferentes, ou seja, dois grupos 
que entraram em contato. Esse contato, quando contínuo, 
engendra alterações nos padrões de cultura de ambos os 
grupos. Paulatinamente, essas culturas fundem-se e formam 
uma sociedade e cultura nova. 
Subcultura 
É um meio peculiar de vida de um grupo menor dentro de 
uma sociedade maior. 
Exemplo: a cultura do Nordeste brasileiro; a cultura do 
vodu na Jamaica; skinheads; punks; emocore etc. 
Sincretismo cultural 
É a fusão de dois elementos culturais análogos (práticas e 
crenças), de culturas diferentes ou não. 
Exemplo: a cultura africana que entra em contato com a 
cultura cristã. 
36 |Principais acepções do termo Cultura 
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Raça 
A palavra raça foi introduzida há aproximadamente 200 
anos nos estudos científicos. No entanto, pouco se sabe sobre 
a sua origem. Etimologicamente a palavra raça viria de 
“radix”, palavra latina que quer dizer raiz ou tronco. 
Em vários estudos a palavra raça temsido empregada para 
fazer referência a indivíduos que são identificados como 
pertencentes a um determinado grupo. Assim sendo, são 
indivíduos que pertencem a uma mesma linhagem ancestral e 
possuem os mesmos hábitos, ideais, crenças, costumes e 
tradições. 
A palavra raça, entretanto, tem uma conotação muito 
mais ampla. Cientificamente ela significa o que é único 
biologicamente. Assim, não existem subdivisões raciais 
quando falamos em seres humanos, pois, neste caso, só 
existe uma raça que nos distingue dos outros animais, ou seja, 
a raça humana. 
Etnia 
É um grupo de seres humanos unidos por um fator comum 
(língua, religião, costumes, valores, nacionalidade) e possuem 
afinidades culturais e históricas. 
 Principais acepções do termo Cultura | 37 
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Relativismo cultural 
Mostra as particularidades de cada modo de vida. Os 
indivíduos possuem modos de vida específicos adquiridos 
pela endoculturação. Assim, possuem suas próprias ideologias 
e costumes: 
Toda a cultura é considerada como configuração saudável 
para os indivíduos que a praticam. Todos os povos 
formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes 
dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda 
com a ideia de normas e valores absolutos e defende o 
pressuposto de que as avaliações devem ser sempre 
relativas à própria cultura onde surgem. (MARCONI; 
PRESSOTO, 1989, p. 51) 
Exemplo: a figa é utilizada por algumas pessoas como um 
amuleto da sorte. No entanto, para os antigos romanos ela 
significava uma relação sexual. 
Etnocentrismo 
É a supervalorização da própria cultura em detrimento das 
demais. O etnocentrismo gerou e ainda gera muita 
intolerância, preconceito e discriminação. Quando julgamos a 
cultura do outro, entendemos que a nossa cultura é a única 
correta e que o outro precisa modificar-se e seguir os nossos 
“ideais perfeitos”. O nazismo é um exemplo de 
etnocentrismo, posto que os alemães supervalorizaram a sua 
38 |Principais acepções do termo Cultura 
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cultura e afirmavam pertencer a uma “raça pura”, assim, 
praticaram atrocidades contra todos aqueles que não 
pertenciam ao mesmo modelo de perfeição que eles. 
Inúmeros judeus foram assassinados em campos de 
concentração durante a Segunda Guerra Mundial, vítimas 
dessa intolerância. 
Texto complementar 
Religião e Cultura Popular: estudo de festas populares 
e do sincretismo religioso 
(FERRETE, 2008) 
Sincretismo 
Sincretismo é palavra para muitos considerada maldita, 
que provoca mal-estar em muitos ambientes e autores. 
Diversos pesquisadores evitam mencioná-la considerando 
seu sentido negativo, como sinônimo de mistura confusa de 
elementos diferentes, ou imposição do evolucionismo e do 
colonialismo. O Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda 
apresenta cinco sentidos desta palavra. O primeiro deles 
como “reunião dos vários Estados da Ilha de Creta contra o 
adversário comum”. Como explica Canevacci (1996, p. 15): 
“Dizia-se que, de fato, os cretenses, sempre dispostos a 
 Principais acepções do termo Cultura | 39 
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uma briga entre si, se aliavam quando um inimigo externo 
aparecia.” 
Segundo o antropólogo holandês André Droogers (1989) 
o termo sincretismo possui duplo sentido. É usado com 
significado objetivo, neutro e descritivo, de mistura de 
religiões, e com significado subjetivo que inclui a avaliação 
de tal mistura. Devido a essa avaliação muitos propõem a 
abolição do termo. Droogers informa que o termo 
sincretismo sofreu mudanças de significado com o tempo e 
que a distinção entre a definição objetiva e subjetiva tem 
raízes históricas. Na Antiguidade significava junção de 
forças opostas em face ao inimigo comum, de acordo com o 
primitivo sentido político apresentado pelo Dicionário do 
Aurélio. A partir do século XVII, tomou caráter negativo, 
passando a referir-se à reconciliação ilegítima de pontos de 
vista teológicos opostos, ou heresia contra a verdadeira 
religião. Hoje no Brasil este sentido encontra-se muito 
difundido. 
Embora alguns não admitam, todas as religiões são 
sincréticas, pois representam o resultado de grandes 
sínteses integrando elementos de várias procedências que 
formam um novo todo. No Brasil, quando se fala em 
religiões afro-brasileiras pensa-se imediatamente em 
sincretismo, como “ ‘aglomerado indigesto’ de ritos e mitos, 
ou como ‘bricolagem’ no sentido de mosaico as vezes 
incoerente de elementos de origens diversas.” (POLLAK-
40 |Principais acepções do termo Cultura 
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ELTZ, 1996, p. 13). Costuma-se atribuir também o termo 
sincretismo em nosso país, quase que exclusivamente ao 
catolicismo popular e às religiões afro-brasileiras. Mas o 
sincretismo está presente tanto na umbanda e em outras 
tradições religiosas africanas, quanto no catolicismo 
primitivo ou atual, popular ou erudito, como em qualquer 
religião. 
Consideramos que o sincretismo pode ser visto como 
característica do fenômeno religioso. Isto não implica 
desmerecer nenhuma religião, mas em constatar que, como 
os demais elementos de uma cultura, a religião constitui 
uma síntese integradora, englobando conteúdos de diversas 
origens. Tal fato não diminui mas engrandece o domínio da 
religião, como ponto de encontro e de convergência entre 
tradições distintas. 
No campo das religiões afro-brasileiras, diversos 
dirigentes e militantes, sobretudo os mais intelectualizados, 
tendem atualmente a seguir a estratégia de condenar o 
sincretismo. Esta atitude defendida por alguns há tempos, 
difundiu-se entre nós principalmente após a realização, em 
1983 na Bahia, da II Conferência Mundial da Tradição dos 
Orixás e Cultura. Desde então alguns líderes bastante 
conhecidos das religiões afro-brasileiras passaram a 
condenar o sincretismo afro-católico, afirmando não ser hoje 
mais necessário disfarçar as crenças africanas por trás de 
uma máscara colonial católica [...] 
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Atividades 
1. O que é cultura para o estudioso Leslie A. White? 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. O que é subcultura? Dê exemplos. 
 
 
 
 
 
42 |Principais acepções do termo Cultura 
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3. O que é etnocentrismo? 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gabarito 
1. Orientação: segundo Leslie A. White cultura encontra-se 
no tempo e no espaço e estão classificadas em 
“intraorgânica” (conceitos, crenças, atitudes, emoções 
etc.); “interorgânica” (interação social entre os seres 
 Principais acepções do termo Cultura | 43 
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humanos) e “extraorgânica” (objetos materiais, ou seja, 
localizada fora de organismos humanos). 
2. Orientação: é um meio peculiar de vida de um grupo 
menor dentro de uma sociedade maior. exemplos: a 
cultura do nordeste brasileiro; a cultura do vodu na 
Jamaica; skinheads; punks; emocore etc. 
3. Orientação: é a supervalorização da própria cultura em 
detrimento das demais. 
Mito: 
elemento da cultura 
A superioridade do mito sobre a 
explicação científica é que ele lida 
com sentimentos opostos, 
representações irracionais, é o 
próprio discurso da contradição. 
Monique Augras 
O homem desde sua origem tenta explicar situações que 
ocorrem ao seu redor. Eis a contumácia da humanidade. Ou 
seja,saber o fundamento da sua existência, como ocorreu a 
criação do mundo, o que é a vida e a morte. Questões não 
muito fáceis de serem respondidas. Porém, de certo modo, o 
homem inventa maneiras de explicar fatos abstratos, 
44 |Mito: elemento da cultura 
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partindo do obséquio a ajudar o seu grupo social fazendo 
com que aceitem, através destas explicações, situações ainda 
sem respostas. Estou me referindo a lendas, mitos, contos 
que são inventados pelo homem que busca, desta maneira, 
uma explicação “mágica”, para concluir um fato real. Nas 
narrações de diversos mitos são encontrados: feitos 
heroicos, milagres, castigos, amores, lutas etc. 
Nos mitos encontram-se as experiências de vida de uma 
determinada sociedade em uma determinada época. É a 
busca de uma intimidade interior, através da capacidade que 
o homem tem de criar e cultivar o que há de comum no seio 
de toda humanidade. Ou seja, não explicar fatos de uma 
forma racionalmente analítica, contudo, entender o sentido 
genuíno do existir. 
Há um acervo de mitologias, umas muito conhecidas, 
outras nem tanto; o importante, no entanto, é que todas elas 
implicam no social, criando padrões de comportamento de 
uma certa sociedade. Podemos citar, como exemplo, a 
sociedade da antiga Grécia. A mitologia grega, uma das mais 
afamadas, mostra em seus contos, deuses poderosos, 
porém, envoltos em imperfeições humanas. 
Ora, os poetas ao escreverem os mitos gregos quiseram 
retratar, sem culpa alguma, que até mesmo os seres 
aparentemente perfeitos, possuem limites e desejos como o 
homem. 
 Mito: elemento da cultura | 45 
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Creio que os mitos gregos até hoje são muito aceitos por 
descreverem essas imperfeições. O que é imperfeito causa 
amor. O que quero dizer é que, a ideia de pecado, cria no 
homem mazelas pungentes, e faz com que se sinta culpado 
por atender seus anseios e desejos. Descrever seres 
especiais, porém imperfeitos, ressalta a ideia que falhar é 
próprio dos seres “racionalmente pensantes”, notar isto, faz 
com que nos sintamos menos culpados de nossos “terríveis” 
pecados. 
Mitologia nórdica 
A mitologia retrata a realidade de um certo grupo. Na 
mitologia nórdica essa realidade é bem notável. Os povos 
denominados bárbaros eram guerreiros por excelência, seus 
deuses eram fortes e os ajudavam nas batalhas. Na mitologia 
nórdica, Odin é o mais poderoso de todos os deuses. Vejamos 
o que essa mitologia mostra da realidade dos povos bárbaros: 
O Valhala, na mitologia nórdica e escandinava era a 
habitação dos deuses e dos heróis mortos em combate. 
Estava situado no Paraíso escandinavo. Ali os heróis 
mortos combatiam todos os dias, mas ao meio dia 
ressuscitavam, cicatrizando também todas as feridas dos 
combatentes. Ajudados pelas Valquírias, eles se lavavam 
em hidromel, que brotava dos úberes da cabra Heidrum. A 
seguir participavam de um lauto banquete presidido por 
Odin, durante o qual, as Valquírias serviam aos heróis 
hidromel e cerveja, dentro de crânios de inimigos mortos 
46 |Mito: elemento da cultura 
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por ele. As Valquírias que quer dizer “que escolhem os 
mortos” eram nove louras, virgens guerreiras, auxiliares 
de Odin, companheiras de combate. Sobrevoavam os 
campos de batalhas, cavalgando em lindos corcéis, 
usavam elmo e portavam lança e escudo. Escolhiam e 
transportavam os heróis mortos para o Valhala [...]3 
Observando a mitologia nórdica, percebe-se que a 
essência das suas narrações é a realidade em que viviam os 
povos bárbaros. Estes viviam nos combates entre distintas 
tribos e acreditavam que numa vida após a morte, onde, se 
porventura tivessem morrido honrosamente, podiam 
desfrutar dos regozijos da recompensa de Odin. O que busco 
mostrar é que todo mito vem carregado de uma essência real 
de um certo grupo. Entendendo a função principal do mito, 
podemos partir para os saberes que o invocam. Ou seja, 
crenças, danças e tradições. Enfim, o folclore de um 
determinado grupo social. 
Folclore 
A palavra folclore foi usada pela 
primeira vez pelo arqueólogo inglês 
 
3
 Mitologia Nórdica: Disponível em: < www.luaecia.hpg.ig.com.br/cultura_e_curiosidades/89/_pri_index.htm >. Acesso em 8 set. 2007. 2 As influências e o 
significado do folclore se encontram perfeitamente abordados nas obras de ALMEIDA, Renato ( Inteligência do Folclore. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Ed. 
Americana, 1974 ); BRANDÃO, Carlos Rodrigues ( O Que é Folclore. 10ª. ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1982); CHRISTENSEN, Erw in. O. (Arte Popular e 
Folclore. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1934); FERNANDES, Florestan ( O Folclore em Questão. 2ª. ed. São Paulo: Ed.Hucitec, 1989) e MÔNICA, 
Laura Della (Manual do Folclore. 2ª. ed. São Paulo: Ed. Edart, 1982). 
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William John Thoms (Londres-1846). Ele solicitou apoio 
à revista The Athenaeun, no sentido de se fazerem 
pesquisas para se conhecer os costumes, as crenças e 
os hábitos das diversas regiões da Inglaterra. Essa carta 
foi publicada em 22 de agosto de 1846, daí esta data 
para se comemorar o dia do folclore até os nossos dias. 
Folclore vem de Folk-Lore que quer dizer, literalmente, 
“povo-conhecimento”. William John Thoms sugeriu esta 
denominação, substituindo as expressões usadas por 
alguns eruditos da época William Thoms. 
como “antiguidades populares” e “literatura popular”. 
Atualmente, considera- 
-se relevante o registro das crenças, costumes, hábitos, 
cerimônias, músicas, superstições etc., não como 
“antiguidades do povo” (expressão que veicula uma ideia de 
primitivismo), mas como conhecimentos adquiridos por um 
grupo social: é a sabedoria do povo desagrilhoada de 
qualquer intenção erudita.2 
O folclore é o conjunto de mitos, ritos, crenças religiosas, 
danças, linguagem, música, artesanato etc. Folclore, portanto, 
vai muito além da ideia de tradição popular; ele está 
associado à vida do povo, à sua disposição de criar e recriar 
algo. Não é somente as celebrações populares, mas o lastro 
da vida cotidiana de um determinado grupo. O folclore é uma 
criação subjetiva; entretanto, sua reprodução tende a ser 
coletivizada. Ele perdura de uma geração a outra, portanto, 
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também é reconhecido como tradição e não modismo. É uma 
identidade do modo de vida de uma determinada classe 
produtora de sua própria cultura. 
O folclore tem sua representação nas tradições e crenças 
populares expressas de diversas maneiras. É denominado 
folclore algo que tenha origem anônima, algo que ninguém 
sabe quem criou. Além disso não deve possuir cronologia 
alguma; sendo divulgado e praticado por um grande número 
de pessoas ao longo do tempo. É o caso dos provérbios, por 
exemplo. 
O Brasil é o berço de um riquíssimo acervo folclórico, 
personificado em crenças, culinária, linguagem, danças 
regionais etc. Ele é formado por distintas etnias que foram 
protagonistas da nossa formação; o negro, os ameríndios e o 
branco europeu. Cada um destes grupos possuía diferentes 
crenças, saberes, tradições, religião, costumes etc. Com esta 
amálgama de culturas, eis que surge o incomensurável saber 
do povo brasileiro. O estudo das diferentes culturas é assaz 
relevante, pois ele possibilita conhecer as práticas e costumes 
específicos de uma determinada sociedade. 
Psicologia social 
A psicologia socialé uma ramificação da psicologia que 
estuda a influência do ambiente social no comportamento 
dos indivíduos. É comprovado que o ser humano sofre 
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influências dos estímulos sociais que o rodeiam e o 
condicionam. 
 A psicologia social compartilha área de estudo com a 
sociologia e a antropologia cultural. Entretanto, elas se 
diferem: o sociólogo estuda os grupos sociais e as instituições, 
o antropólogo estuda as diversas culturas humanas e o 
psicólogo social analisa como os grupos sociais, as instituições 
e a cultura afetam o comportamento do indivíduo. 
Segundo os psicólogos sociais as crenças influenciam de 
uma forma significativa, o behaviorismo (comportamento) 
humano. As pessoas de um determinado grupo conservam 
crenças semelhantes, relacionando-se e agindo socialmente, 
trabalhando coletivamente em favor de intenções conectadas 
a essas crenças. 
O indivíduo, para ser aceito em um determinado grupo, 
tende ser acrítico. Ou seja, não analisar os fatos 
racionalmente, porém dar-lhes crédito, por mais irracional 
que sejam. Se acaso um indivíduo não compartilhar crenças 
semelhantes às do grupo social em que está inserido, os 
membros integrantes deste grupo se unirão para persuadi-lo, 
de modo que ele mude de opinião e se ajuste à opinião 
coletiva. A maioria das pessoas respondem do mesmo modo 
que o resto do grupo. São submetidas às opiniões 
coletivizadas, desta forma, evitam ser tratadas com desprezo 
por serem exceção. Chegam ao ponto de praticar persuasão 
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subjetiva para se convencerem de ter visto o que o resto do 
grupo aparentemente vê. 
Para a persuasão coletiva dá-se o nome de sugestão. Ou 
seja, a influência exercida sobre uma pessoa, de modo que ela 
aceite uma ideologia, crença e atitudes comuns. Entretanto, o 
indivíduo adota uma crença vigente, contribuindo 
pessoalmente com seus métodos carregados de emoção. Por 
este motivo, ao entrevistar pessoas de um mesmo grupo, 
tratando de um mesmo assunto, verifica-se uma carga 
subjetiva que distingue e faz com que as narrações se tornem 
mais vívidas. 
Situações não comprovadas cientificamente podem obter 
alguma credibilidade? Será que existe poder de cura nas 
crenças? Para responder essas questões, vamos analisar a 
curiosa medicina dos excretos: 
O negro nem sempre tinha a saúde cuidada pelo seu 
senhor. Daí lançar mão de tudo que se dizia então 
favorável aos males do corpo. A medicina dos excretos 
dominava as senzalas [...] A falta de médico e farmácia era 
absoluta [...] De modo que então, mais que agora, o 
escravo tinha de voltar-se para os remédios que a própria 
experiência aconselhava como ótimos. Assim é que os 
doentes de olhos, quando não se serviam de cuspo, se 
utilizavam da própria urina para lavá-los de manhãzinha. 
As inchações eram curadas com emplastos de fezes de 
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vaca, enquanto o sezão desaparecia com o purgante de 
‘batata, cabeça de negro e urina de menino macho’. Se 
eram as dores de estômago e fígado, tinham lá sua 
receita: urina de dois dias, fermentada, além de um pouco 
de água morna para temperar [...] Quando acontecia uma 
pessoa sofrer luxação a velha escrava vinha com um 
novelo de linha e uma agulha, colocando-os sobre o lugar 
desconjuntado. Então fingia coser atravessando a agulha 
no novelo em diversos sentidos, benzendo-se e dizendo 
em voz baixa: ‘o que coso eu? carne quebrada, nervos 
tortos, já desconjuntado, atufá’. Botava um unguento no 
qual entrava urina de menino e azeite de dendê. Essa 
operação de carne quebrada se faz ainda com ligeiras 
modificações [...]4 
Observando os métodos citados, percebe-se o quanto as 
crenças influenciam no psicológico das pessoas. Todos esses 
procedimentos não são comprovados cientificamente. 
Entretanto, era uma forma encontrada pelos negros escravos 
para a cura de suas enfermidades. Ora, se a medicina dos 
excretos não possui nenhuma comprovação científica de 
cura, eis que o psicológico possui um papel fundamental 
neste caso. Acreditar que benzeduras prosseguidas por 
libações de urina, ou, emplastos com fezes de animais curam, 
 
4
 VIDAL, Ademar (2000). A estranha medicina dos excretos. Costumes e práticas do negro. In. CARNEIRO, Edison. Antologia do negro brasileiro. Jornal 
Jangada Brasil [On-line]. Disponível em: <www.jangadabrasil.com.br/maio21/cd21050c#carneiro.htm >. Acesso em: 4 set. 2007. 
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é sanar doenças por meio desta crença, e não por tais 
ocorrências. 
 Veja o quanto as crenças podem influenciar o psicológico 
das pessoas. Alterando, desta maneira, comportamentos. A 
crença em superstições é algo que realmente influencia ações 
no modo de vida das pessoas. Fazer um gesto, usar um objeto 
para a realização de um desejo, ou até mesmo, para evitar 
desgraças são práticas comuns para qualquer supersticioso. 
Ao observar práticas supersticiosas, conclui-se que não 
possuem fundamento científico nenhum. Pois, o uso de um 
objeto não trará mais ou menos sorte para alguém. Porém, 
esta prática pode obter um resultado positivo. Por exemplo, 
pessoas inseguras ao realizarem uma entrevista de trabalho, 
podem ficar muito nervosas e acabam tendo um resultado 
ruim. No entanto, ao acreditarem que existe algum poder no 
objeto que levam consigo, por exemplo, uma figa, um dente 
de alho etc., elas se sentem protegidas e, até mesmo, mais 
seguras no que fazem. Desta maneira, não é o pseudopoder 
do objeto que lhes atribui confiança. Porém, essas pessoas, 
inconscientemente, trabalham a mente, convencendo o 
psicológico de que não há mais o que temer, pois a falsa 
confiança, conscientemente, se encontra no objeto, todavia, 
ela sempre esteve na mente desta pessoa, somente não foi 
subjetivamente trabalhada. 
As pessoas, igualmente, que acreditam em duendes 
precisam praticar um ritual para que o ser mágico lhes 
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indique riqueza. Segundo estas pessoas, os duendes exigem 
que lhes deem maçãs grandes e vermelhas, assim sendo, a 
pessoa que cuidar dessa exigência sem falhar, saberá onde se 
encontra um grande tesouro. 
No antigo Testamento pode-se observar as atitudes do 
povo hebreu, em relação a sua crença. Para obterem 
proteção de Deus, eram necessárias oferendas realizadas por 
inúmeros rituais. Vamos observar esses procedimentos 
realizados pelos hebreus para obterem proteção de Deus, 
Êxodo XXIX; 37: [ “Eis o que sacrificarás sobre o altar: dois 
cordeiros de um ano cada dia perpetuamente. Oferecerás um 
desses cordeiros pela manhã e o outro entre as duas tardes 
[...] Isto é um sacrifício de agradável odor consumido pelo 
fogo em honra do senhor[...]” ] 
Conclui-se, então, que as crenças condicionam ações 
concretas que afetarão diretamente no modo de vida dos 
indivíduos que se apegam às mesmas. Assim, as crenças de 
um determinado grupo social pertencem à Cultura Imaterial e 
revelam traços psicológicos, históricos e culturais de uma 
sociedade. 
Texto complementar 
O popular e sua cultura 
(MORENO DE MELO, 2008) 
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Para tratar da questão da cultura popular é preciso de 
início saber que se está lidando com um termoesquivo, 
dado a muitas definições e repleto de ambiguidades. 
Tentaremos, portanto, circunscrever essa expressão de 
modo a não deixá-la demasiadamente ampla e vaga. 
Se fôssemos tomar como definição o que dizem os 
verbetes dos dicionários, pelo menos em suas primeiras 
acepções, correríamos o risco de não avançarmos muito. 
Isso porque tanto no Dicionário Aurélio de Língua 
Portuguesa como no Dicionário Eletrônico Houaiss de 
Língua Portuguesa, encontramos primeiramente a ideia de 
povo enquanto totalidade de um território ou de uma 
região. Somente na sexta acepção do primeiro e na oitava 
do segundo encontramos a ideia de que “povo” se refere a 
uma determinada parte do conjunto total de participantes 
de uma sociedade. Assim conceitua o segundo dicionário 
mencionado: “conjunto dos cidadãos de um país, excluindo-
se os dirigentes e a elite econômica”. Há nessa perspectiva 
a conceituação de popular por oposição, ou ainda, pela sua 
negativa. Cultura popular seria então um conjunto de 
práticas culturais levadas a cabo pelos estratos inferiores, 
pelas camadas mais baixas de uma determinada sociedade. 
[...] 
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Atividades 
1. Por que é importante o estudo dos mitos? 
 
 
 
 
 
 
2. Leia o texto abaixo com atenção: 
O Valhala, na mitologia nórdica e escandinava era a 
habitação dos deuses e dos heróis mortos em combate. 
Estava situado no Paraíso escandinavo. Ali os heróis mortos 
combatiam todos os dias, mas ao meio dia ressuscitavam, 
cicatrizando também todas as feridas dos combatentes. 
Ajudados pelas Valquírias, eles se lavavam em hidromel, que 
brotava dos úberes da cabra Heidrum. A seguir participavam 
de um lauto banquete presidido por Odin, durante o qual, as 
Valquírias serviam aos heróis hidromel e cerveja, dentro de 
crânios de inimigos mortos por ele. As Valquírias que quer 
dizer “que escolhem os mortos” eram nove louras, virgens 
guerreiras, auxiliares de Odin, companheiras de combate. 
Sobrevoavam os campos de batalhas, cavalgando em lindos 
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corcéis, usavam elmo e portavam lança e escudo. Escolhiam e 
transportavam os heróis mortos para o Valhala [...] 
(Mitologia Nórdica. Disponível em: 
<www.luaecia.hpg.ig.com.br/ 
cultura_e_curiosidades/89/_pri_index.htm>. 
Acesso em: 8 
ago. 2007.) Segundo o texto o que revela a mitologia 
nórdica? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. Explique o que é folclore. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gabarito 
1. Orientação: nos mitos encontram-se as experiências de 
vida de uma determinada sociedade em uma determinada 
época. É a busca de uma intimidade interior, através da 
capacidade que o homem tem em criar e cultivar o que há 
de comum no seio de toda humanidade. Ou seja, não 
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explicar fatos de uma forma racionalmente analítica, 
contudo, entender o sentido genuíno do existir. 
2. Orientação: observando a mitologia nórdica, percebe-se 
que a essência das suas narrações é a realidade que 
viviam os povos bárbaros. Estes viviam nos combates 
entre distintas tribos. E acreditavam que numa vida após a 
morte, onde, se porventura tivessem morrido 
honrosamente, podiam desfrutar dos regozijos da 
recompensa de Odin. O que busco, é mostrar que todo 
mito vem carregado de uma essência real de um certo 
grupo. Entendendo a função principal do mito, podemos 
partir para os saberes que o invocam. Ou seja, crenças, 
danças e tradições. Enfim, o folclore de um determinado 
grupo social. 
3. Orientação: o folclore é o conjunto de mitos, ritos, crenças 
religiosas, danças, linguagem, música, artesanato etc. 
Folclore, atualmente, vai muito além da ideia de tradição 
popular; ele está associado à vida do povo, à sua 
disposição de criar e recriar algo. Não é somente as 
celebrações populares, porém é o lastro da vida cotidiana 
de um determinado grupo. O folclore é uma criação 
subjetiva; entretanto, sua reprodução tende a ser 
coletivizada. Ele perdura de uma geração a outra, 
portanto, ele também é reconhecido como tradição e não 
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modismo. É uma identidade do modo de vida de uma 
determinada classe produtora de sua própria cultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A questão do outro 
A conquista da América 
Tzvetan Todorov, filósofo e linguista búlgaro radicado na 
França desde 1963 em Paris, fez um estudo muito 
interessante sobre a conquista da América por intermédio do 
olhar não do dominador (europeu) e sim do dominado 
(indígena). 
O estudo de Todorov trata da conquista da América no 
século XVI, ou seja, os cem anos que seguem a primeira 
viagem de Colombo. Delimita-se também um local – a região 
do Caribe e do México (mesoamérica). Sua pesquisa procura 
mostrar o confronto de culturas entre indígenas e espanhóis. 
Todorov ressalta a coragem que Colombo teve em 
enfrentar algo latente aos olhos dos europeus. Muitas eram 
as crenças, naquela época, concernentes aos mistérios 
infindos do mar. No entanto, este homem intrépido se lançou 
ao mar com o intento de “descobrir” novas terras e, assim, 
encontrar ouro para a realeza. Ora, Colombo usa deste álibi 
62 |A questão do outro 
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para conseguir patrocínio para a viagem; haja vista que seu 
plano seria impossível sem estes grandes investimentos. 
A nobreza, no entanto, não investiria em algo que não lhe 
trouxesse lucro, neste caso, Colombo procura convencer aos 
nobres de que haveria um lugar abundante em ouro que 
esperava para ser descoberto. 
A persuasão de Colombo soava como um canto mavioso 
aos ouvidos da nobreza, suscitando um enaltecimento 
ambicioso geral. Desta maneira, Colombo conseguiu o 
investimento que esperava para lançar-se a procura de novas 
terras. Durante as suas viagens, Colombo escreveu aos nobres 
dando a entender que estava muito próximo da descoberta 
de riquezas. Claramente estes manuscritos de Colombo eram 
dissimulados, pois não descreviam a verdadeira situação. Ou 
seja, quando Colombo escrevia dando esperanças à nobreza, 
a mesma continuava investindo na sua aventura. Digo 
aventura, pois segundo Todorov, para Colombo não era o 
ouro que importava, porém, a capacidade de conhecer 
situações da natureza que poderiam ser instigantes. Acima 
deste espírito aventureiro, Colombo se intitulava enviado de 
Deus. Portanto, a sua suposta missão era propagar a religião 
católica ao mundo todo. Vejamos: 
[...] A expansão do cristianismo é muito mais importante 
para Colombo do que o ouro, e ele se explicou sobre isso, 
principalmente numa carta destinada ao papa [...] 
Portanto, seu objetivo é: ‘Espero em Nosso Senhor poder 
 A questão do outro | 63 
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propagar seu santo nome e seu evangelho no Universo. 
(TODOROV, 1999, p. 11) 
Colombo: o observador da natureza 
O objetivo religioso de Colombo era fazer 
uma Cruzada, paraque assim pudesse levar o 
cristianismo no mundo todo e acabar com as 
heresias. Ora, a ideia de implantar uma 
Cruzada nesta época já era obsoleta, porém, para Colombo 
era sua missão. No entanto, algo mais começava a chamar a 
atenção de Colombo: a natureza. A natureza trazia regozijo 
para Colombo e fazia com que este se sentisse intérprete de 
seus desígnios. A natureza pura fazia com que Colombo 
imaginasse que ali existisse seres diferentes como: ciclopes, 
homens com cauda e focinho de cachorro etc. Cristovão 
Colombo. 
Os escritos de Colombo revelam que ele era mais paciente 
quando observava a natureza do que quando tentava 
compreender os indígenas. Seus manuscritos descrevem 
minuciosamente tudo o que havia na terra “descoberta”. 
Mosén Jaume Ferrer, um dos correspondentes de Colombo 
havia escrito em 1495 que as regiões muito quentes com 
habitantes negros e onde se encontram muitos papagaios, era 
local de riquezas inexauríveis, desta maneira, Colombo não se 
cansava em descrever nos seus manuscritos estes fatores 
naturais da “nova terra”. 
64 |A questão do outro 
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As terras que Colombo encontrava já tinham nomes 
naturais, no entanto, ele não se importava com isso e fazia 
questão de nomeá-las novamente. Isto também era uma 
forma de se apossar destes locais. Até os indígenas eram 
renomeados por Colombo. O primeiro gesto de Colombo 
quando entrou em contato com as terras “descobertas” foi a 
declaração segundo a qual elas passariam a fazer parte do 
reino da Espanha. 
Colombo e os indígenas 
Colombo não aceitava a cultura dos povos que viviam nas 
“terras descobertas”, por este motivo, não considerava os 
hábitos, costumes, crenças e língua dos indígenas. O desprezo 
pelos indígenas era exacerbado, tanto que Colombo nem 
procurava compreendê-los. 
Podemos perceber que os manuscritos de Colombo falam 
dos indígenas porque simplesmente faziam parte da 
paisagem. Suas menções sobre eles aparecem sempre no 
meio de anotações sobre a natureza. A imagem que Colombo 
nos dá dos indígenas era basicamente física, ou seja, descreve 
seus belos corpos, rostos etc. 
Os indígenas e espanhóis não se comunicavam 
verbalmente, porém, trocavam objetos entre si. Colombo se 
divertia com esta situação dizendo que os indígenas davam 
 A questão do outro | 65 
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tudo por nada. Isto porque os espanhóis só lhes concediam 
“bugigangas” sem valor nenhum. 
O sentimento de superioridade fez com que Colombo 
proibisse essas trocas. No entanto, o próprio Colombo 
continuou oferecendo “presentes” para os indígenas, sem 
mencionar que foi ele mesmo que ensinou os indígenas a 
apreciarem e exigirem tais “presentes”. 
Os costumes eram distintos, os indígenas viviam em 
comunidade, ou seja, tudo era de todos. Os espanhóis, por 
sua vez, viviam numa sociedade individualista, calcada na 
acumulação de riquezas; estas diferenças causaram embates 
entre eles. 
A conquista da América teve para os espanhóis como 
justificativa principal a referência aos cristãos que vieram 
para o “Novo Mundo” imbuídos da religião, levando em troca, 
ouro e riquezas. 
Colombo age como se entre as duas ações se 
estabelecesse um certo equilíbrio: os espanhóis dão a religião 
e tomam o ouro. Se os indígenas se recusassem a entregar o 
ouro, seriam subjugados militar e politicamente, numa 
posição de seres inferiores. Nota-se que esta relação não era 
nem um pouco equilibrada e sim precursora de grande 
desigualdade. Encontra-se aí o germe da ideologia 
escravagista. 
Os primeiros contatos já revelavam o interesse dos 
espanhóis em escravizar os nativos das “terras descobertas”, 
66 |A questão do outro 
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pois julgavam serem eles inferiores. No espírito de Colombo, 
fé e escravidão estavam intrinsecamente ligadas. 
A história da conquista da América foi marcada pela 
recusa da alteridade humana. Colombo e seus homens não 
reconheceram a identidade indígena e se opuseram a tudo 
que não era da cultura deles. 
A conquista da Cidade do México 
Colombo abriu caminhos para outras conquistas por 
intermédio de outros conquistadores. 
A conquista da cidade do México, feita por Cortez5 e sua 
tripulação revela ainda mais a intolerância dos espanhóis. 
A expedição de Cortez em 1519 foi a terceira que chegou à 
costa mexicana. Ela era composta de algumas centenas de 
homens. Cortez se submeteu à Coroa Espanhola e foi em 
nome do rei da Espanha que decidiu explorar a Cidade do 
México. Após algum tempo estabelecido na cidade dos 
astecas (os mexicas), para consolidar seu poder sobre eles, 
Cortez prendeu o soberano asteca – Montezuma. Começou, 
então, a dominação pelos meios mais torpes. Montezuma 
morreu provavelmente apunhalado por seus carcereiros 
espanhóis. Os sucessores de Montezuma travaram uma 
batalha feroz contra os espanhóis. Como os espanhóis sendo 
 
5
 Hernán Cortés ou Fernando Cortez, como é mais conhecido em português, (1485-1547) (Hernando ou Fernando Cortés durante sua vida, que assinava 
suas cartas Fernán Cortés) conquistou o território do México a favor da coroa espanhola. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hern%C3%A1n_ 
Cort%C3%A9s (Acesso em: 15 jan 2008) 
 A questão do outro | 67 
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tão poucos conseguiram dominar uma população tão 
numerosa? 
Cortez usou de todos os artifícios para conseguir a vitória. 
Primeiramente ele percebeu o descontentamento de muitos 
povos conquistados pelos astecas que deveriam pagar 
impostos a eles. Desta maneira, Cortez fomentou lutas 
internas entre facções rivais e conseguiu o apoio de muitos 
indígenas que vão lutar ao lado deles contra os mexicas. 
Os espanhóis dominaram os mexicas e impuseram suas 
normas. Queimaram os livros dos mexicas para apagar a 
religião deles e destruíram seus monumentos. 
Cortez e seus homens foram incapazes de perceber a 
importância e riqueza da cultura asteca. Os mexicas foram 
pressionados para aceitarem a religião e os hábitos europeus 
tidos como “civilizados”. 
Outro fator significativo para a dominação dos astecas foi 
a utilização de armas de fogo desconhecidas pelos indígenas. 
Além disso, os espanhóis trouxeram consigo uma arma muito 
mais devastadora que é a bacteriológica. A varíola, por 
exemplo, matou milhares de indígenas. 
Observemos que além destes fatores que propiciaram a 
vitória dos espanhóis há outro muito valioso e eficaz para os 
espanhóis: decodificar a cultura asteca para dominá-la e 
destruí-la. 
68 |A questão do outro 
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A comunicação como arma do dominador 
Os indígenas e os espanhóis não falavam a mesma língua. 
Cortez se preocupava em interpretar o que eles diziam e 
faziam em relação aos rituais que realizavam para que assim 
pudesse ter domínio maior sobre eles. 
Os mexicas buscavam em todo momento interpretar as 
diversas mensagens para obterem respostas 
sejam elas do presente ou do futuro. As 
adivinhações eram praticadas pelos 
sacerdotes que eram muito respeitados. 
Vejamos como os rituais eram relevantes para os astecas: 
[...] Os astecas dispõem de um calendário religioso 
composto de treze meses com duração de vinte dias, cada 
um desses dias possui um caráter próprio, propício ou 
nefasto, que é transmitido aos atos realizados nesse dia e, 
principalmente, às pessoas que nele nasceram. Saber a 
data do nascimento de alguém é conhecer o seu destino; 
por isso, assim que nasce uma criança, procura-se

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