Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2017 - 05 - 25 Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil: artigo por artigo - Edição 2016 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL PARTE ESPECIAL. LIVRO II. DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TÍTULO II. DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO CAPÍTULO II. DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA Capítulo II DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA Sumário: 1. Execução de obrigação de entrega de coisa. Título extrajudicial. 2. A obrigação de entrega coisa no plano do direito material. 1. Execução de obrigação de entrega de coisa. Título extrajudicial. Os dispositivos seguintes ocupam-se da disciplina própria da execução das obrigações de entrega de coisa constantes de um título executivo extrajudicial. Quando se tratar de título executivo, seu cumprimento será processado conforme o art. 536. 2. A obrigação de entrega de coisa no plano do direito material. Antes de mais nada, cabe situar tal tipo de obrigação no plano do direito material. O Código Civil regula nos arts. 233 a 246 as obrigações de dar coisa, consistentes na obrigação do devedor em entregar coisa certa ou incerta. 2.1. “Obrigação de dar é aquela em que o devedor compromete-se a entregar uma coisa móvel ou imóvel ao credor, quer para constituir um novo direito, quer para restituir a mesma coisa a seu titular.”6 2.2. Entende-se por coisa certa aquela que pode ser individualizada, que se distingue por características próprias. Já a coisa incerta é aquela indeterminada, mas determinável, ao menos, pelo gênero e pela qualidade. Seção I Da entrega de coisa certa Art. 806. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo extrajudicial, será citado para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação. § 1º Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. § 2º Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo que lhe foi designado. * Correspondência legislativa: arts. 621, caput, e parágrafo único, e 625 do CPC/73. Outras ref. normativas: V. arts. 233 a 242 e 313, CC; art. 35, I, Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Sumário: 1. Prazo para entrega da coisa; 2. Multa diária (técnica coercitiva); 3. Ordem de imissão na posse ou busca e apreensão (técnica sub-rogatória). 1. Prazo para entrega da coisa. O art. 806 inaugura a disciplina que versa sobre a entrega de coisa certa. Com efeito, nos termos do caput, o devedor será citado para, em quinze dias, satisfazer a obrigação, ou seja, entregar a coisa. 2. Multa diária (técnica coercitiva). Nos termos do § 1.º, ao despachar a petição inicial poderá o juiz, desde logo e independentemente de pedido da parte, fixar multa por dia de atraso (astreinte) no cumprimento da obrigação. O valor desta multa pode ser alterado, para mais ou para menos, caso se revele insuficiente ou excessivo. Trata-se de técnica coercitiva, que visa compelir o devedor ao cumprimento da obrigação. É de se registrar que esta multa poderá ser executada neste mesmo processo, sem necessidade de nova execução. 3. Ordem de imissão na posse ou busca e apreensão (técnica sub-rogatória). Por sua vez, o § 2.º abandona a técnica coercitiva do parágrafo anterior e investe na sub-rogatória, visando garantir o cumprimento da obrigação independentemente da atitude do devedor. Por isso mesmo, o mandado de citação já contempla ordem para imissão na posse (se imóvel) ou de busca e apreensão (se móvel), que será cumprida pelo oficial de justiça, sem necessidade de novo requerimento ou deferimento, caso o devedor não entregue a coisa no prazo de quinze dias. Art. 807. Se o executado entregar a coisa, será lavrado o termo respectivo e considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se houver. * Correspondência legislativa: art. 624 do CPC/73. Outras ref. normativas: V. arts. 233, 234 e 236, CC. Entrega da coisa. Caso o executado entregue voluntariamente a coisa, ter-se-á por satisfeita a obrigação específica, prosseguindo-se, se for o caso, a execução para o pagamento de frutos ou ressarcimento de prejuízos. Nessa hipótese, a execução deixa, pois, de ser específica e passa a ser uma execução de obrigação de pagar, independentemente de nova ação. Art. 808. Alienada a coisa quando já litigiosa, será expedido mandado contra o terceiro adquirente, que somente será ouvido após depositá-la. * Correspondência legislativa: art. 626 do CPC/73. Sumário: 1. Alienação da coisa a terceiros. Fraude à execução; 2. Embargos de terceiro e crítica à locução “somente será ouvido após o depósito da coisa”. 1. Alienação da coisa a terceiros. Fraude à execução. A norma em foco traz a previsão de que a coisa almejada poderá ser buscada mesmo nas mãos do terceiro adquirente. Assim, tal adquirente sofrerá as consequências do mandado de imissão na posse ou de busca e apreensão quando, por força da aquisição consumada depois de instaurada a lide, tiver em seu poder o objeto da entrega almejada. Presume-se que esta aquisição se tenha dado em fraude à execução. 2. Embargos de terceiro e crítica à locução ““somente será ouvido após o depósito da coisa””. A locução final deste dispositivo, “somente será ouvido após depositá-la”, é mera repetição do CPC/73 e, diante da lógica admitida pelo Novo Código de Processo Civil, não faz sentido e, por isso, merece ser criticado. 2.1. O Novo Código de Processo Civil, ao disciplinar os embargos à execução – válido tanto para a execução de uma obrigação de pagar quanto para as execuções específicas (obrigações de entrega de coisa, fazer e não fazer) – manteve a regra da desnecessidade de prévia penhora, depósito ou caução. Se é assim, não faria sentido a norma exigir do terceiro prévio depósito para abrir a via dos embargos à execução, se não o faz para o executado. 2.2. Conquanto haja vozes em sentido contrário,7 não parece que os embargos à execução sejam o veículo mais apropriado in casu. O terceiro, segundo pensamos, não se torna parte apenas porque os atos executivos voltaram-se contra um bem que está em seu poder; ele continua sendo terceiro e, portanto, deve, querendo, manejar embargos de terceiro e não embargos à execução. Curioso é que também para o ajuizamento dos embargos de terceiro, cuja natureza jurídica indiscutivelmente é de ação, não há qualquer necessidade de prévio depósito. 2.3. Ora, se não se exige para os embargos à execução nem para os embargos de terceiro o depósito da coisa, como interpretar esta exigência do depósito para que o terceiro seja ouvido? Trata-se de locução inútil e, portanto, inaplicável diante do fato de que tanto os embargos à execução quanto os embargos de terceiro, não exigem prévio depósito. Art. 809. O exequente tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, quando essa se deteriorar, não lhe for entregue, não for encontrada ou não for reclamada do poder de terceiro adquirente. § 1º Não constando do título o valor da coisa e sendo impossível sua avaliação, o exequente apresentará estimativa, sujeitando-a ao arbitramento judicial. § 2º Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos. * Correspondência legislativa: art. 627, §§1.º e 2.º, do CPC/73. Outras ref. normativas: V. arts. 402 a 405, CC. Sumário: 1. A opção da tutela ressarcitória. 2. Liquidação do valor da coisa e das perdas e danos. 1. A opçãoda tutela ressarcitória. Este dispositivo reconhece o direto do exequente receber, além das perdas e danos, o valor da coisa em quatro hipóteses: (a) quando esta se deteriorar; (b) quando não for entregue; (c) quando não encontrada; e (d) se o exequente optar por não reclamá-la no poder do terceiro adquirente. 1.1. Em tais situações, faculta-se ao exequente abdicar da execução específica e convertê-la em execução por quantia certa, a fim de obter o equivalente em dinheiro e, bem assim, as perdas e danos porventura existentes. Indispensável, nessa hipótese, a prévia apuração do quantum, por estimativa do credor ou por arbitramento. Sem essa liquidação, fica inviável a conversão da execução para entrega da coisa em execução por quantia certa. 2. Liquidação do valor da coisa e das perdas e danos. Se no título não constar o valor da coisa, ou sendo impossível a sua avaliação, o exequente apresentará a sua estimativa, sujeitando- se ao arbitramento judicial. A liquidação para quantificar o valor da coisa e as perdas e danos podem, diante das particularidades do caso concreto, coexistir, possibilitando, uma liquidação conjunta e simultânea. Art. 810. Havendo benfeitorias indenizáveis feitas na coisa pelo executado ou por terceiros de cujo poder ela houver sido tirada, a liquidação prévia é obrigatória. Parágrafo único. Havendo saldo: I - em favor do executado ou de terceiros, o exequente o depositará ao requerer a entrega da coisa; II - em favor do exequente, esse poderá cobrá-lo nos autos do mesmo processo. * Correspondência legislativa: art. 628 do CPC/73. Outras ref. Normativas: V. arts. 96, 242 e 1.219 a 1.222, CC. Sumário: 1. Benfeitorias indenizáveis. 2. Benfeitorias voluptuárias, úteis ou necessárias. 1. Benfeitorias indenizáveis. Impõe o art. 810 que havendo benfeitorias indenizáveis feitas pelo executado na coisa, torna-se obrigatória a liquidação prévia para apurá-las. 1.1. A norma está em harmonia com aquela prevista no inc. IV do art. 917 do NCPC que prevê, como matéria alegável em sede de embargos à execução a “retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa”. 1.2. É importante considerar que não se nega propriamente ao exequente a possibilidade de ingressar com a execução antes de liquidar previamente o valor de tais benfeitorias, mas se o fizer, estará sujeito aos embargos invocando o direito de retenção. 2. Benfeitorias voluptuárias, úteis ou necessárias. Regime de indenização. Pelo regime do Código Civil, as benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. São voluptuárias as que proporcionam mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor; são úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem e são necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore (CC, art. 96).8 2.1. Ainda nos termos da legislação civil (CC, art. 1.219),9 o possuidor de boa-fé tem direito à retenção ou indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis. Já o possuidor de má-fé não terá direito de retenção, devendo apenas ser ressarcido pelo valor das benfeitorias necessárias (CC, art. 1.220).10 2.2. Verificada, portanto, a existência de benfeitorias indenizáveis, a liquidação prévia é necessária para se apurar o quantum desta indenização. Uma vez concluída a liquidação, havendo saldo em favor do devedor, o credor o depositará ao requerer a entrega da coisa. Se, ao contrário, houver saldo em favor do credor, este o executará nos mesmos autos. FOOTNOTESFOOTNOTES 6. Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. v. 2. p. 58. São Paulo: Atlas, 2008. 7. Araken de Assis entende que o terceiro pode, sim, manejar embargos à execução: “Ora, ao terceiro também se afigura lícito simplesmente entregar a coisa, livrando-se de quaisquer incômodos e, contra ele, encerrada a atuação do meio executório. Desejando opor a aquisição da coisa ao credor, o adquirente reagirá através de embargos” (Manual da execução. n.173, p. 618. São Paulo: Ed. RT, 2013). 8. “Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. § 1.º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. § 2.º São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. § 3.º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.” 9. “Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.” 10. “Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.” © desta edição [2016]
Compartilhar