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Surgimento do Currículo Mínimo do Estado do Rio de Janeiro

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Mas, antes de continuarmos é importante 
conhecermos dois personagens 
importantes, os quais através de suas 
ações frente a SEEDUC, possibilitaram o 
surgimento do CM e fizeram grandes 
mudanças na secretaria. A saber, Tereza 
Porto e Wilson Risolia. 
Currículo Mínimo (CM) surgiu a partir do 
intuito da SEEDUC de que toda escola da 
rede estadual estivesse conectada a partir do 
mesmo currículo. 
Gisele Lopes dos Santos 
2017 
TEREZA PORTO 
Tereza Porto é formada em Sistema 
de Informação e assumiu a 
SEEDUC, em 2008, na primeira 
gestão do então governador Sérgio 
Cabral. Informatizou toda a rede de 
ensino Estadual com novas 
tecnologias de informação e 
comunicação (TICs). 
Sim, ela criou o sistema conexão 
escola, onde professores e estudantes 
podem saber o que acontece na 
SEEDUC. Este sistema propõe a 
funcionar como uma ferramenta 
tecnológica com o objetivo de facilitar 
o trabalho docente. Este sistema 
propõe o uso de manuais a respeito 
do trabalho docente, da formação e 
do processo de avaliação. 
Ah, não se pode esquecer que 
através do Projeto Geração Futuro, 
a secretária também premiou vários 
estudantes que obtiveram bom 
desempenho no SAERJ (avaliação 
externa), eles receberam notebooks 
e tablets. O objetivo deste projeto 
foi fomentar a cibercultura na 
escola e introduzir as TICs 
Porto criou em 2008, o SAERJ (Sistema de 
Avaliação da Educação do Estado do Rio de 
Janeiro,) foi a avaliação externa criada para avaliar 
o desempenho dos estudantes. Embora tenha sido 
criada em 2008, só foi institucionalizada e obteve 
elementos que a sustentasse em 2010. 
Os professores também receberam 
notebooks e acesso a internet, o 
objetivo era melhorar suas aulas e 
ter oportunidade de buscar mais 
conhecimentos. 
Embora os esforços realizados 
pela gestão Porto estivessem 
afinados ao governo estadual, não 
foi suficiente para que a educação 
tivesse um bom desempenho no 
IDEB (Índice de Desenvolvimento 
da Educação Básica) e acabou 
ficando em 26º lugar (penúltimo) 
no ranking nacional em 2009. 
Com isso, no fim de 2010, Tereza 
Porto foi exonerada do cargo e 
Wilson Risolia assumiu seu lugar na 
SEEDUC. 
Com estes argumentos, sustentou-se 
o surgimento de uma cibercultura 
que embora os desejos oficiais 
fossem conectar a SEEDUC às escolas 
da rede e fomentar o conhecimento 
docente, foi vista pelos docentes 
como uma manobra de controle de 
sua autonomia 
Wilson Risolia é formado em 
economia e chegou à SEEDUC 
afirmando que em 2014, o Estado 
do Rio de janeiro estaria entre os 
cinco primeiros no ranking da 
educação nacional, do IDEB. 
Neste sentido, criou um novo 
programa para a educação. 
Diminuiu o número de 
coordenadorias (pela metade), 
cortou gastos e otimizou pessoal. 
Adotou uma nova avaliação 
externa, o Saerjinho, realizado todo 
bimestre. 
Risolia fez questão de marcar o período 
que passaria a frente da SEEDUC como 
um período voltado a gestão da 
educação, em suas palavras: “até por 
formação, tenho esse vício: penso em 
educação como um negócio”. Esta visão 
perpetuou suas ações frente à 
secretaria. 
Além disso, criou o sistema de 
bonificação, no qual o servidor 
receberia um bônus que poderia 
variar de 1 a 3 vezes o seu salário. 
Isso ocorria por meio dos méritos 
atribuídos ao professor, que deveria 
cumprir várias metas 
(meritocracia). 
Para ter certeza que os professores 
iriam cumprir seu papel, foi então 
criada a GIDE (Gestão Integrada da 
Escola) que fiscalizava de perto o 
docente. 
Completando o novo programa da 
educação, criou-se em 2011, o CM 
estadual – a princípio para seis 
disciplinas (Língua Portuguesa, 
Matemática, História, Geografia, 
Sociologia e Filosofia) e depois em 
2012, surgiu para as outras disciplinas. 
O CURRÍCULO MÍNIMO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
Quirino et al (2011) pondera que o 
CM surge sem uma ampla discussão 
com os atores envolvidos no 
processo educativo, surge como um 
processo de cima para baixo com a 
finalidade de atender aos objetivos 
propostos pela SEEDUC. 
Já para a SEEDUC, o CM foi um dos 
pontos mais importantes no 
programa de educação criado na 
gestão Risolia. O CM foi criado com 
o intuito de adequar a educação 
estadual às avaliações externas, 
como o Prova Brasil e ENEM. 
E sendo assim, melhorar o 
índice da educação básica, 
elevando a posição do 
estado no ranking nacional. 
Como aconteceram muitas reações 
negativas ao surgimento do CM, a 
SEEDUC institui, a resolução 4.866 de 
14 de fevereiro de 2013 – no intuito 
que os professores cumprissem na 
íntegra o CM. 
Neste sentido Pereira e Oliveira (2014) 
argumentam que “desde a sua 
implantação, em sua dimensão prática, 
o CM evoluiu, gradativamente, de 
parâmetro inspirador para os 
professores em seu trabalho a uma 
rígida Determinação a ser cumprida” 
(p.1675). 
Se por um lado, a resolução, artigo 2, é 
possível compreender uma relativa ideia 
a respeito da autonomia docente, nos 
artigos 4 e 5 desta mesma resolução são 
os mais propensos ao cerceamento do 
trabalho docente, quando tratam do 
cumprimento do CM em sua totalidade. 
O CM de Biologia foi implantado em 
2012, nas escolas estaduais. Possui 
uma breve apresentação e está 
distribuído em 3 anos letivos (Ensino 
Médio), subdivididos em bimestres. 
Não apresenta conteúdo e sim 
habilidades e competências que 
devem ser alcançadas pelos 
estudantes. 
Ressalta Apple (2011) que por trás 
da criação de um currículo de base 
comum “está uma perigosíssima 
investida ideológica [...] seus efeitos 
serão verdadeiramente perniciosos 
àqueles que já têm quase tudo a 
perder nesta sociedade” (p. 74). 
De acordo com a SEEDUC, as 
habilidades e competências 
presentes no CM de Biologia vão de 
um conhecimento mais simples 
para o mais complexo, ou do 
conhecimento concreto para um 
abstrato. 
Cabe destacar que este fato foi 
observado na análise do CM de 
Biologia, porém em alguns 
bimestres essa progressão não é 
vista; pelo contrário, ocorre o 
inverso, o estudante aprende do 
mais complexo para o mais 
simples. 
Em relação ao conjunto de 
conhecimento abordado no CM de 
Biologia, a SEEDUC acredita ser o 
mínimo a ser aprendido, podendo o 
professor lançar mão de assuntos 
que julgue ser relevante ao 
aprendizado do aluno. 
No entanto, observa-se que alguns 
temas são muito extensos, não 
permitindo ao professor fazer 
outras abordagens a construção do 
conhecimento 
Santos (2017) se aprofunda quando questiona o controle 
ideológico e pedagógico que os docentes sofrem ao não participar 
da elaboração desta política curricular e não serem considerados 
agentes decisores da construção de conhecimento do cotidiano 
escolar. 
FINALIZANDO 
Observando a estrutura da SEEDUC, foi 
possível notar as mudanças que ocorreram a 
partir a gestão Porto com as tecnologias 
implantadas e na gestão Risolia com o novo 
programa de educação. 
Apesar de muitas críticas recebidas 
principalmente pelo adoção da 
meritocracia, Risolia atingiu seu objetivo 
elevando a educação do estado, esta 
entrou para o 5º quadrante, ficando em 
quarto lugar no IDEB de 2013. 
Mas também, foi possível perceber que o ensino 
continuou fragmentado – quando volta-se com mais 
atenção ao CM de Biologia. Este currículo não permite 
uma associação entre a realidade do estudante e a 
escola. Dessa forma, o CM continua se apresentando 
como polêmico e ocupando o centro de debates das 
políticas curriculares existentes. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
QUIRINO, M. J. da S. de O., PEREIRA, C., LEAL, C., OLIVEIRA, V. L. de. Políticas 
Curriculares: Uma Breve Crítica ao Currículo Mínimo Implantado no Estado 
do Rio de Janeiro. In: VIII ENPEC Encontro Nacional de Pesquisa em 
Educação emCiências. Campinas, 2011. 
APPLE, Michael W. A Política do Conhecimento Oficial: Faz Sentido a Ideia 
de um Currículo Nacional? In: MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa; SILVA, 
Tomaz Tadeu da. Currículo, Cultura e Sociedade, 12ª Ed. São Paulo, Cortez, 
2011. 
SANTOS, R. M. Currículo e Avaliação de Larga Escala: Performatividade e 
Autonomia Docente na Rede Estadual do Rio de Janeiro. Dissertação 
(Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação. Niteroi: Universidade 
Federal Fluminense, 2017. 
PEREIRA, F. B.; OLIVEIRA, I. B. Ponderações ao Currículo Mínimo da Rede 
Estadual do Rio de Janeiro: Uma Contribuição ao Debate em Torno da Base 
Comum Nacional. Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 12, n. 03 p. 1669 - 1692 
out./dez. 2014

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