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I LEI INTRODUÇÃO CC

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II - Lei de Introdução ao Código Civil
1 - NOÇÕES GERAIS
1.1 - Finalidade da LICC
1ª - Regular a forma de aplicação das leis em geral: 
a) 	o início e a duração de sua obrigatoriedade (arts. 1º e 2º); 
b) 	os mecanismos de integração em caso de lacuna (art. 4º);
c) 	os critérios de interpretação (art. 5º); e 
d) 	os meios de preservação da segurança jurídica em face da edição de novas normas (art. 6º).
2ª - Regular o direito internacional privado brasileiro (arts. 7º a 17).
3ª - Regular os atos civis praticados no estrangeiro pelas autoridades consulares brasileiras (arts. 18/19).
A primeira finalidade incide não só sobre a aplicação das normas de Direito Civil, mas sobre o Direito como um todo, ressalvada a existência de uma lei especial dispondo em contrário. Por incidir sobre todo as normas, a LICC é considerada uma “norma sobre normas”, uma lex legum. 
Assim é que, o DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942, que se intitulava Lei de Introdução ao Código Civil, ter nova redação dada pela Lei 12.376/2010, passando a intitular-se Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro.
2- FONTES DO DIREITO
Quanto às variadas fontes, temos as seguintes:
a) fontes criadoras do Direito (legislador, por exemplo); 
b) fontes históricas do Direito (fatos históricos marcantes que deram origem à modificação de uma lei);
c) fontes informadoras ou meramente intelectuais, do Direito (doutrina e jurisprudência);
d) fontes formais do Direito (a lei, por exemplo).
2.1 - Fontes Formais
São aquelas que vinculam o aplicado do Direito, podem ser divididas em duas espécies: 
2.1.1 - Fontes formais principais : a lei, a analogia, o costume e os princípios gerais do direito.
Como adotamos o sistema romano-germânico, de início, só a lei é fonte formal principal. Apenas em caso de lacuna é que se admite que o aplicador se valha da analogia, do costume e dos princípios gerais, nessa ordem, como fonte formal jurídica (art. 4º da LICC).
Para completo entendimento do assunto, é importante destacar que, por lei, deve-se entender norma constitucional, lei ordinária, lei complementar, lei delegada, resolução legislativa, decreto legislativo e medida provisória.
2.1.2 - Fontes formais secundárias ou acessórias: os decretos, as resoluções administrativas, as instruções normativas, as portarias etc. São acessórias, pois guardam obediência a uma fonte principal.
A Emenda Constitucional 45/04 estabeleceu que o Supremo Tribunal Federal poderá, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula, que terá efeito vinculante e incidirá sobre a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas acerca das quais haja controvérsia (art. 103-A, CF). Tais súmulas, ainda que declarativas em relação ao que é Direito, poderão ser consideradas verdadeiras fontes formais, já que vinculam erga omnes.
3 – LEI: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
3.1 - Conceito: Em sentido estrito, pode-se conceituar a lei como o ato do Poder Legislativo imperativo, geral, originário e autorizante de se exigir do Estado a garantia de seu cumprimento mediante o uso de coação física, se necessário.
a) Criação pelo Poder Legislativo: somente este Poder pode criar a lei em sentido estrito. A medida provisória, em que pese ter força de lei, não se confunde com esta. O Legislativo é quem dirá se poderá ou não ser convertida em lei. A única hipótese em que a lei não será criada pelo Poder Legislativo é a da lei delegada. Instrumento raro em nossos dias, a lei delegada é elaborada pelo Presidente da República, após delegação do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo, os termos do seu exercício e eventual apreciação do projeto pelo Legislativo (art. 68, CF).
b) Imperatividade: a lei prescreve condutas às pessoas. É uma ordem, um comando. Até uma lei que permite que alguém faça alguma coisa tem essa característica, mas não basta a imperatividade ou a existência de uma sanção para que se esteja diante de uma lei. Normas morais, por exemplo, também são imperativas e têm sanções. São necessários outros requisitos.
c) Generalidade: a lei se dirige às pessoas em geral, e não à determinada pessoa. 
d) Originalidade: ressalvados os preceitos constitucionais, a lei tem o condão de inovar na ordem jurídica. A lei tem o poder de criar direitos e deveres. Isso a difere dos atos infralegais, como os que vêm ao mundo jurídico por decretos, resoluções ou portarias. Ressalvadas as exceções que admitem regulamento autônomo (vide art. 84, VI, da CF), os atos infralegais não inovam na ordem jurídica, mas apenas possibilitam a aplicação da lei, facilitando seu entendimento e sua operacionalização.
e) Autorizante: a lei autoriza que o lesado pela sua violação exija do Estado que este faça cumprir os preceitos legais, inclusive com o uso da força, se necessário. Ou seja, autoriza-se que o lesado peça ao Estado que se valha até da coação física para que a lei seja cumprida. 
3.2 – Classificação
3.2.1 – Quanto à imperatividade
Cogentes: são as leis cuja incidência não pode ser afastada pela vontade dos interessados. São também chamadas de leis imperativas ou de ordem pública. Existem quando o Estado não quer deixar que a questão seja resolvida segundo o livre arbítrio do interessado. Essas normas podem ser identificadas pelo seu teor mandamental ou proibitivo. São exemplos grande parte das normas sobre a família, as sucessões e as coisas; as normas do Código do Consumidor (art. 1º, Lei 8.078/90); e as normas da Lei de Locações (art. 45, Lei 8.245/91). 
O desrespeito às normas de ordem pública acarreta sanções graves, como a de nulidade, que priva o negócio jurídico de efeitos. O parágrafo único do art. 2.035 do CC dispõe que “nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.
Não cogentes: são as leis cuja incidência pode ser afastada pela vontade dos interessados. São também chamadas de dispositivas ou de imperatividade relativa. Dividem-se em duas espécies: 
Permissivas são as que facultam aos interessados dispor como lhes aprouver, como a que permite que os contratantes escolham se o contrato de depósito não profissional será remunerado ou gratuito (art. 628, CC). 
Supletivas são as que se aplicam na falta de manifestação dos interessados, como a que dispõe que, não convencionados os juros moratórios, incidirão os que estiverem em vigor para devedores da Fazenda Nacional (art. 406, CC). É possível identificar as leis supletivas por expressões como “salvo estipulação em contrário” e “salvo convenção entre as partes”. As normas não cogentes são mais comuns em matéria de obrigações e contratos.
3.2.2. Quanto à intensidade da sanção
Mais que perfeitas são as que estabelecem mais de uma sanção para o seu descumprimento. Exemplo é a norma que proíbe a bigamia. Dá ensejo a nulidade do segundo casamento (sanção civil) e a configuração do crime previsto no art. 235 do CP (sanção penal).
Perfeitas são as que estabelecem sanção que torna o ato inválido. Exemplo é a norma que considera nulo o negócio jurídico celebrado por absolutamente incapaz. 
Menos que perfeitas são as que estabelecem uma sanção que não seja a de tornar o ato inválido. Exemplo é a norma que impõe o regime de separação obrigatória para o viúvo ou a viúva, com filho do cônjuge falecido, que se casa antes de fazer inventário e dar partilha dos bens aos herdeiros dos cônjuges (art. 1523, I, e 1.641, I, CC). O casamento não será considerado inválido, mas será aplicada a sanção acima exposta.
 Imperfeitas são as que não estabelecem sanção para o seu descumprimento. Exemplo são as normas que trata de dívidas de jogo e de dívidas prescritas. Não há obrigação de pagá-las (art. 814. CC), daí a inexistência de sanção para o seu descumprimento. Por outro lado, se forem pagas, não podem ser objeto de pedido de restituição pelo que pagou (art. 882, CC).
	CLASSIFICAÇÃO QTO INTENSIDADE DA SANÇÃO(+) QP
	S + AI
	SANÇÃO
	TORNA ATO INVÁLIDO
	P
	AI
	
	TORNA ATO INVÁLIDO
	(-) QP
	S
	SANÇÃO 
	NÃO INVALIDA ATO
	I
	------
	NÃO HÁ SANÇÃO
	NÃO INVALIDA ATO
3.2.3. Quanto à sua natureza
Substantivas são as que estabelecem os direitos e deveres das pessoas em suas atividades e relações pessoais e profissionais. São também chamadas de materiais.
Adjetivas são as que regulamentam os atos de um processo, o qual tem por objetivo fazer valer as normas materiais. São também chamadas de normas processuais ou formais.
3.2.4. Quanto à hierarquia
São escalonadas em constitucionais, complementares e ordinárias. 
As normas complementares estariam em posição superior às ordinárias, não só porque exigem quorum especial (art. 69 da CF), como porque, segundo a Constituição, têm o condão de dispor sobre a elaboração das leis (art. 59, parágrafo único), o que se deu com a edição da Lei Complementar 95/98.
3.2.5. Quanto à competência ou extensão territorial
São federais, estaduais/distritais e municipais.
3.2.4. Quanto ao alcance
Gerais são as que regulam uma dada relação jurídica, a par de outra lei que regula um determinado aspecto daquela relação. Assim, o Código Civil, ao tratar do contrato de locação é uma lei geral (arts. 565 e ss), ao passo que a Lei 8.245/91 é uma lei especial, pois trata apenas de um determinado aspecto da locação, no caso a locação de imóvel urbano. 
Especiais são as que regulam sozinhas uma relação jurídica por inteiro ou um determinado aspecto de uma relação jurídica regulada de modo genérico por outra lei. Além da Lei de Locações, podem ser citados o Código do Consumidor e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Entre uma lei especial e uma lei geral, ainda que a lei geral seja posterior, deve-se aplicar a lei especial. Isso porque se presume que esta tratou com mais detalhe do assunto, de modo a tratar o desigual de modo desigual, respeitando o princípio da isonomia.
É importante ressaltar que uma lei pode ser especial em relação a uma e geral em relação a outra. Por exemplo, em relação à compra e venda prevista no Código Civil, as normas sobre o assunto previstas no CDC são especiais. Mas em relação à Lei de Alienação Fiduciária (Decreto-Lei 911/69), as normas do CDC são consideradas gerais. Exemplo disso é o entendimento do STJ, que, mesmo diante do art. 54, § 2º, do CDC, que em tese permite ao consumidor escolher entre a do contrato e sua continuação com a purgação da mora, asseverou que, em matéria de alienação fiduciária, só se admite a purgação da mora se já tiver sido pago 40% do valor financiado (Súmula 284), dando prevalência ao que dispõe o art. 3º, § 1º, do Decreto-Lei 911/69. Esse é um exemplo apenas para fins de didáticos, pois a Lei Federal 10.931/04 não mais exige que o devedor tenha pago 40% da dívida para que possa purgar a mora.
Outra observação importante é que uma lei pode ser especial e ao mesmo tempo principiológica. É o caso do CDC. Em relação ao CC, trata-se de uma lei especial. Em relação a outras leis especiais, como se viu acima, pode ser considerado lei geral. Nada obstante, como o CDC traz uma série de princípios, e como os princípios são normas que se sobrepõe a meras regras, é possível que o CDC prevaleça em relação a uma lei que, em princípio, traz normas especiais em relação às suas. Só que isso só acontecerá quando houver um conflito entre um princípio do CDC e uma mera regra da lei especial. É o que aconteceu em matéria de indenização por extravio de bagagens. Em que pese haver leis estipulando um tabelamento na indenização, prevalece na jurisprudência do STJ o princípio da reparação integral dos danos (art. 6º, VI, CDC).
- ELABORAÇÃO DAS LEIS
O processo de elaboração das leis tem os seguintes trâmites: iniciativa, discussão, votação, sanção (ou recusa ao veto), promulgação e publicação.
A sanção, que pode ser expressa ou tácita (CF, art. 66, §2º), é a aquiescência dada pelo Chefe do Poder Executivo ao projeto de lei aprovado. Permite-se também o veto, motivado pela inconstitucionalidade ou pela contrariedade do projeto ao interesse público, hipótese em que o Poder Legislativo poderá rejeitá-lo (derrubá-lo), por voto da maioria absoluta dos deputados e senadores, em voto secreto e sessão conjunta.
Após a sanção ou a recusa ao veto, passa-se à promulgação, que é o ato pelo qual o Poder Executivo autentica a Lei, atentando sua existência e validade, e determinando sua obediência. O Executivo tem 48 horas contada da sanção ou da comunicação da recusa ao veto para proceder à promulgação. Caso não o faça, o Presidente do Senado o fará e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado faze-lo (CF, art. 66, §7º).
Feita a promulgação, vem a publicação, que é a divulgação oficial da nova lei, possibilitando o seu conhecimento público.
Em seguida à publicação, temos uma situação eventual pela qual pode passar uma lei, o chamado período de vacância, que é o lapso temporal entre a data da publicação da lei e um termo pré-fixado na própria lei ou em outro diploma legislativo, em que aquela não pode ainda produzir efeitos. Esse intervalo entre a data da publicação da lei e sua entrada em vigor chama-se vacatio legis.
- VALIDADE, VIGÊNCIA, VIGOR E EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS
5.1 – Existência da lei 
Segundo a maioria dos doutrinadores, a existência da lei ocorre após a sanção ou a rejeição ao veto (Pontes de Miranda, José Afonso da Silva, Manuel Gonçalves Ferreira Filho, Michel Temer, Luiz Alberto David Araujo e Alexandre de Moraes). 
A própria Constituição dá a entender que isso ocorre ao mencionar a “lei” (e não o “projeto de lei”) como ato a ser promulgado (CF.,art. 66, § 7º). A promulgação, apenas atesta a existência da lei. Nesse sentido é ato declaratório. A promulgação é uma verdadeira autenticação, ou seja, uma declaração de que a lei existe, é válida e que deverá ser cumprida, pois tem aptidão para vir a produzir efeitos.
A existência, todavia, não se confunde com a validade. Quando se tem existente uma lei, tem-se também uma presunção de que também é válida. A própria promulgação já atesta a existência e a validade da lei. Nada obstante, pode ser que o Poder Judiciário reconheça a inconstitucionalidade da lei. Se tal reconhecimento se der no bojo de uma ação direta de inconstitucionalidade, após o seu trânsito em julgado, será desfeita definitivamente a presunção de validade que a lei detinha. 
5.2 – Validade da lei 
A noção de VALIDADE é aspecto dogmático fundamental, pois significa a sua identificação como compatível ao sistema jurídico que integra, sendo um critério puramente lógico-formal (critério de pertinência da norma ao ordenamento jurídico). O descumprimento das regras de validade importará no reconhecimento da inconstitucionalidade ou ilegalidade (a depender do âmbito em que foi prefixada a premissa validante) da norma estabelecida, considerando-a não pertinente ao sistema. 
A validade pode ser: 
formal (observância das normas referentes ao processo de criação da lei, exemplo: artigo 60, §§ 1o. e 2o., CF); ou 
material (verificação da matéria passível da codificação está sendo observada, exemplos: artigos 21 a 24, CF/88, artigos que estabelecem as matérias que podem ser objeto de regulação e por quem).
5.3 – Eficácia da lei 
Eficácia é a qualidade da lei de poder produzir efeitos jurídicos. A lei só a terá se cumprir as chamadas condições de eficácia do ato normativo, que são: a) a promulgação; b) a publicação; c) o decurso do período de vacância, quando existir. As duas primeiras condições também são chamadas de atos de integração de eficácia da lei. 
Tércio Sampaio afirma que a eficácia possui graus e esses graus podem ser verificados de acordo com as funções da eficácia no plano da realização normativa. São as funções eficaciais das normas: 
Função de bloqueio – normas punitivas e proibitivas.
Função de programa – normas que visam à realização de um objetivo do legislador (artigo 218, CF/88).
Função de resguardo– normas que visam a assegurar uma conduta desejada (artigo 5o., XXVII, CF/88).
As normas em relação à eficácia podem ser ainda (classificação de José Afonso Da Silva), de acordo com a dependência de outras normas:
Normas de eficácia plena – função eficacial é IMEDIATAMENTE concretizada.
Normas de eficácia limitada – a função eficacial depende de uma outra norma.
Normas de eficácia contida – a função eficacial será restringida por outra norma (artigo 5o., XIII, CF/88).
Diante de tais noções, passemos aos conceitos de vigor e de vigência.
Vigor é a qualidade da lei de poder produzir efeitos jurídicos. Vigor quer dizer força. A lei só tem força quando pode produzir efeitos. E a lei só pode produzir efeitos depois de preenchidas as condições de eficácia, acima aludidas. É por isso que o art. 1º da LICC dispõe que a lei começa a “vigorar” após publicada.
O vigor está relacionado à uma realização efetiva concreta da norma, está relacionado com o conceito da ULTRATIVIDADE, ou seja, uma norma que não está mais vigente, mas continua a reger todas as relações jurídicas consolidadas em sua vigência. EXEMPLO: alguns artigos do CC/16 .
Vigência é o tempo em que lei existiu, é válida e pode produzir efeitos. Para alguns é simplesmente o tempo em que a lei é válida. Vigência não é qualidade. Vigência é período de templo. 
Perceba que a vigência requer dois elementos: “validade” e “efeitos”. Assim, uma lei promulgada, mas não publicada esteve em vigência, vez que, apesar de existir e ser válida, não pode produzir “efeitos”.
O mesmo se dirá de uma lei que ainda estiver em período de vacância. Uma lei que ainda produz efeitos, mas se já estiver revogada, não está em vigência. Isso porque, apesar de produzir efeitos, não tem mais “existência”. Isso ocorre com o Código Civil anterior. Ele ainda regula algumas relações (produz “efeitos”), mas está revogado (não têm mais “existência”).
Assim, pode ser que uma lei tenha vigor, mas não tenha mais vigência. O CC antigo ainda produz efeitos, pois regula, por exemplo, a validade de contratos anteriores à sua revogação (tem vigor), mas não existe mais (não tem vigência).
5.4 – Ineficácia da lei 
Ocorre quanto a lei perde a sua validade, deixando de ser aplicada ao caso concreto, mas ela ainda conserva a sua vigência, em razão de inexistir lei superveniente revogadora.
São hipóteses de ineficácia:
1) Caducidade:
Ocorre pela superveniência de uma situação cronológica ou factual (ex. lei em caso de tempestade em sp), que torna a lei inválida, sem que ela tenha sido revogada, por exemplo, leis temporárias.
Alguns autores, no entanto, sustentam que essas leis são auto revogáveis.
2) Desuso 
É a cessação do pressuposto de aplicação da norma, por exemplo: o das tartarugas marinhas (fim das tartarugas e depois vem mais) – (Alguns autores usam as expressões caducidade e desuso com sinônimos).
3) Costume contra legem
Que é aquele que contraria a lei, o costume não revoga a lei, mas ele pode gerar a sua ineficácia, desde que não se trate de lei de ordem pública, por exemplo, emissão de cheque pré-datado (a lei de cheque diz que é ordem de pagamento a vista).
4) Decisão do STF declarando a lei inconstitucional, em ação direta de inconstitucionalidade.
5) Resolução do Senado cancelando a eficácia de lei, declarada incidentalmente inconstitucional pelo STF.
6) Princípio da anterioridade da lei tributária (fica suspensa até o próximo exercício).
7) Lei que altera o processo eleitoral, art. 16 da CF (só vale para a eleição um ano depois).
SÍNTESE:
Quanto às normas:
Validade é sempre um conceito relacional, porque será verificada a validade da norma diante de outras normas.
Vigência é critério puramente temporal da norma, vai desde o início da validade da norma até a perda de sua validade. Nesse aspecto, não há que fazer qualquer relação com outra norma.
Eficácia refere-se à possibilidade de produção concreta de efeitos pela norma, a eficácia pode ser classificada pela ineficácia. 
- PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DAS LEIS
Uma vez em vigor, a lei é uma ordem dirigida à vontade geral. A esta generalização da força impositiva dá-se o nome de princípio da obrigatoriedade das leis. 
Iura novit cúria: Como consequência não se faz necessário provar em juízo a existência da norma jurídica invocada, pois se parte do pressuposto de que o juiz conhece o direito. Esse princípio não se aplica ao direito Estadual, Municipal, Estrangeiro e Consuetudinário.
A lei é obrigatória, a lei tem de ser obedecida, pôr motivo de um conhecimento “presumido ou ficto”, mas para que seja possível a convivência social. 
Três teorias procuram justificar o preceito:
TEORIA DA PRESUNÇÃO LEGAL: esta teoria presume que a lei, uma vez publicada, torna-se conhecida de todos. É criticada por basear-se em uma inverdade.
TEORIA DA FICÇÃO: pressupõe que a lei publicada torna-se conhecida de todos, muito embora em verdade tal não ocorra. 
TEORIA DA NECESSIDADE SOCIAL: é a mais aceita, porque sustenta que a lei é obrigatória e deve ser cumprida por todos, não por motivo de um conhecimento presumido ou ficto, mas por elevadas razões de interesse público, ou seja, para que seja possível a convivência social.
OBS.:
O erro de direito (alegação de ignorância da lei) só pode ser invocado quando não houver o objetivo de furtar-se o agente ao cumprimento da lei. Serve para justificar, por exemplo, a boa fé em casos de inadimplemento contratual, sem a intenção de descumprir a lei.
7 – VIGÊNCIA DA LEI NO TEMPO
Neste tópico estuda-se o princípio da continuidade e a revogação das leis e também o conflito da lei no tempo.
7.1 – Princípio da Continuidade
É aquele pelo qual a lei terá vigência enquanto outra não a modifique o revogue. Ou seja, a regra geral é a de que as leis têm caráter permanente. Mas há exceções à regra. 
7.2 – Cessação da Eficacia das Leis 
No direito brasileiro, a lei perde vigência nos casos:
7.2.1 – Decurso de prazo: Lei temporária. Quando a própria lei estabelece prazo determinado de vigência, que cessará nas seguintes hipóteses: 
advento de termo (prazo) fixado para sua duração; 
implemento de condição resolutiva (leis circunstanciais);
consecução de seus fins.
7.2.2 – Suspensão da Execução : decorre de ato do Senado Federal e tem pôr objeto a lei declarada inconstitucional, em termos definidos pelo STF.
7.2.3 - Trânsito em julgado de ação destinada ao controle concentrado de constitucionalidade: em caso de reconhecimentob da inconstitucionalidade;
7.2.4 - Não recepção: em função de nova ordem constitucional
7.2.5 - Revogação: força capaz de retirar a eficácia, a vigência de lei posterior. Consiste na votação de outra lei, com a força de fulminar a sua obrigatoriedade. Pode ser:
- Ab-rogação: revogação total da lei – absoluta.
- Derrogação: revogação parcial. A lei não fenece, não sai de circulação jurídica, mas é amputada nas partes ou dispositivos atingidos, que apenas estes perdem a obrigatoriedade.
- Expressa ou direta: consiste na declaração inserta na lei, pela qual o legislador fulmina a lei velha, quer ao declará-las extinta em todos os seus dispositivos, quer ao apontar aqueles dos seus artigos que teve em vista abolir. 
- Tácita ou indireta: forma de revogação mais freqüente, porém mais sujeita a sutilezas. O princípio cardeal em torno da revogação tácita é o da incompatibilidade. Não é possível que o legislador, sufragando uma contradição material de seus próprios comandos, adote uma atitude insustentável e disponha diferentemente sobre um mesmo assunto. Na impossibilidade da existência simultânea de normas incompatíveis, toda a matéria da revogação tácita sujeita-se a um princípio genético, segundo o qual prevalece a mais recente. Mas é bem de ver que nem toda lei posterior derroga a anterior, senão quando, uma INCOMPATIBILIDADE se erige dos seu dispositivos.
OBS.:
O princípio da hierarquia, não tolera que uma lei ordinária sobreviva a uma disposição constitucional, que a contrarie, ou uma normaregulamentar subsista em ofensa à disposição legislativa.
Também em face do princípio da hierarquia, a Constituição é o diploma fundamental. Assim, não se pode dizer que a Constituição revogou as leis anteriores que lhe eram contrárias, apenas estas deixaram de existir no plano do ordenamento jurídico estatal, pôr haverem perdido seu fundamento de validade.
7.3 – Conflito de leis no tempo
O critério cronológico ou temporal (lex posterior derogat legi priori) cede em função dos critérios hierárquico (lex superior derogat legi inferiori) e da especialidade (lex especialis derogat legi generali). Uma lei nova não revoga um dispositivo constitucional que com ela esteja em contrariedade, pois a norma constitucional, em que pese mais antiga, tem hierarquia superior à norma infraconstitucional. Prevalece o critério hierárquico sobre o cronológico.
Uma lei geral nova não revoga uma lei especial velha, pois o critério da especialidade prevalece. A norma é especial quando possui em sua hipótese de incidência todos os elementos da norma geral e mais alguns especializantes. Prevalece o critério da especialidade sobre o cronológico.
Deve-se tomar cuidade:
Muitas vezes uma lei preponderantemente geral, como é o Código Civil, contém normas especiais, que assim, podem revogar normas anteriores com ele incompatíveis. É o caso da matéria referente ao Condomínio Edilício, que é uma questão única, não passível de tratamento estanque, e que foi regulada por inteiro no atual CC. Por trazer normas especiais, os art. 1.331 a 1357 do CC revogaram substancialmente a Lei 4.591/64, mesmo sendo esta uma lei especial.
Às vezes, a lei especial apenas está regulando uma das categorias abrangidas pela lei geral, não revogando, portanto. O CC anterior, de modo geral, regulava os vícios redibitórios. Veio o CDC e regulou os vícios do produto ou do serviço para uma relação de consumo. A lei geral não ficou revogada. Continua a ser aplicada de modo genérico. Apenas não se aplica aquela categoria de negócios considerados de consumo. Ou seja, a lei especial não revogou a geral. Apenas retirou um espectro de sua incidência.
7.4 – Lei repristinatória
Efeito restaurador: questão relativa ao problema da revogação que se traduz na indagação se a lei revogadora de uma outra lei revogadora tem o efeito de restaurar automaticamente a primeira lei revogada. LICC art. 2º § 3º - proclama que, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura pôr ter a lei revogadora perdido a vigência, ou seja, exigi-se o pronunciamento expresso, sem o qual a lei revogadora não tem a qualidade de repristinar a antiga.
OBS.:
Há um detalhe fundamental: quando a lei não é revogada, e sim nulificada (inclusive mediante declaração de inconstitucionalidade), o que se dá é o efeito repristinante, e não a repristinação: a lei anterior, revogada por aquela que foi nulificada, vai voltar a ter vigência, pois a lei que a revogara, quando nulificada, simplesmente não produziu efeitos quaisquer, inexistindo, inclusive, o efeito da revogação da lei original – é como se nunca houvesse sido revogada (guardando a ressalva quanto à possível modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade).
É simples: na repristinação, há três diplomas envolvidos, um inicial, um outro que o revoga, e um terceiro que revoga o segundo, que, se mencionar expressamente, faz com que o primeiro volte a viger. No efeito repristinante, há apenas dois diplomas: um inicial, e um que o revoga e que, posteriormente, é nulificado, declarado inconstitucional pelo STF.
7.5 – Disposições Transitórias 
Adequação da ordem jurídica a uma nova prescrição legal, protegendo e preservando situações que demandam proteção no período de transição de uma ordem para outra. EXEMPLO: ADCT – estabilidade. São provisórias, têm limitação temporal na amplitude da norma jurídica. TRF1: esse regime legislativo tem um nome próprio.
7.6 – Ato jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa julgada 
Sobre o tema aplicação da lei no tempo, é importante anotar que a lei nova, apesar de ter efeito imediato e geral, respeitará o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada ( LICC art. 6º e CF art. 5º, XXXVI).
Trata-se do Princípio da Irretroatividade da lei. 
OBS.: 
É importante destacar as hipóteses de relativização da coisa julgada, que pode ocorrer nos casos de: inconstitucionalidade da sentença ou de exame de DNA. Nessa última hipótese, quando foi declarado pai e não o era (cabe a relativização); se, espontaneamente, declarou-se pai, mas não o era (não cabe a relativização).
A diferença entre o ato jurídico perfeito e o direito adquirido é muito difícil de ser estabelecida. Conceito básico de:
Ato Jurídico Perfeito – ato que já se consuma segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou (LICC, art. 6º § 1º).
Direito Adquirido – direito incorporado ao patrimônio do particular. Para o LICC “consideram-se adquiridos assim os direitos que seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem (ar. 6º, § 2º).
A norma jurídica (sentença, ato administrativo) deve respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Mas o Poder Constituinte Originário NÃO tem limites, podendo afastá-los, mas o Poder Constituinte Derivado não pode, porque eles são direitos fundamentais protegidos como cláusulas pétreas. 
Entretanto, o STF afirma que o direito adquirido não poderia ser levado aos extremos, já que se fosse assim não poderia ter havido a abolição da escravatura, já que os senhores teriam direito adquirido aos seus escravos.
8– VIGÊNCIA TEMPORAL DAS LEIS
O artigo 1o. trata o início de vigência temporal das leis.
Decreto-lei 4.657/42 – Lei de introdução às Normas do Direito Brasileiro:
“Art. 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada.”
Esse prazo será válido desde que a lei não divulgue um, podendo vigorar a lei a partir de sua publicação, ou haver um prazo maior ou menor do que os 45 dias. Esse intervalo para a lei entrar em vigor (vacatio legis) é um tempo para que a sociedade possa ter conhecimento dessa nova norma. 
O prazo de 45d. não se aplica aos decretos e regulamentos, que tem sua vigência a partir da publicação.
A forma de contagem do prazo da “vacatio legis” é a dos dias corridos, com exclusão do de começo e inclusão do de encerramento (art. 132 do CC), computados domingos e feriados, de tal maneira que, no termo certo, inicia a sua obrigatoriedade, sem interrupção ou suspensão.
Existem três hipóteses de vacatio legis:
ter sido fixada data posterior para momento de início de efeitos;
dever entrar em vigor 45 após publicada, em face de omissão de norma explícita;
estar pendente de regulamento, explícita ou implicitamente (normas de eficácia limitada).
Adotou-se o princípio da vigência sincrônica, já que haverá vigência simultânea em todo o território nacional, ou seja, prazo único para entrada em vigor no país. Tal princípio se contrapõe ao da vigência progressiva, pelo qual a lei vai entrando em vigor no país segundo prazos que variam de acordo com a região .
§ 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses (03 meses) depois de oficialmente publicada. 
§ 3o  Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Estando a lei em vatio legis, durante este período havendo uma ressalva, uma alteração, sendo a lei republicada, o prazo da vatio legis é zerado e começa a correr da nova publicação.
No curso do período de vacância, sendo necessária nova publicação da lei destinada a alguma correção, o prazo de vacância começará a correr mais uma vez a partir da data da nova publicação (art. 1º, § 3º).
§ 4o  As correçõesa texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
Correção a texto de lei já em vigor é considerada lei nova. Velha lei já em vigor, com nova roupagem por ter sido alterada, é lei nova.
Após o período de vacância, sendo necessária nova publicação da lei, nesse caso, como a lei já estava em vigor, os efeitos que ela produziu até aquele momento serão respeitados. A LICC é expressa no sentido de as correções serão consideradas lei nova (art. 1º, § 4º), de modo que novo período de vacância deverá ser computado
Art. 2o  Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1o  A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
Hipóteses de sensação de vigência:
a. Advento do Termo: rompe a vigência da lei – Leis Temporárias
b. Advento de lei Modificativa: lei nova que altera texto de lei já em vigor.
c. Advento de lei Revogadora: lei nova que regula inteiramente a matéria, extinguindo a exposição precedente, eliminando o texto anterior.
§ 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o  Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Normalmente a norma vige para o futuro, entretanto, como exceção pode existir o fenômeno da ULTRATIVIDADE, ou seja, por meio do qual uma norma, não mais vigente, continua a vincular os fatos anteriores à sua saída do sistema.
Ocorre a intertemporalidade conflitual de normas jurídicas quando duas normas - a lei revogada e a lei revogadora - parecem se colocar em posição potencial de regular um mesmo fato da realidade. Cabe ao direito intertemporal dar solução a este conflito, fixando o alcance das normas que se sucedem. 
O princípio básico dessa matéria é o princípio da não-retroatividade das leis (Lex prospicit, non respicit) (Tempus regit actum), ou seja, a idéia de que a lei nova não atinge os fatos anteriores ao início de sua vigência. Em consequência, os atos anteriores à vigência da lei nova regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram praticados..
Porém, podem existir casos que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei nova. Entretanto, algumas leis afastam-se excepcionalmente desta regra e retrocedem no tempo, alcançando fatos pretéritos ou os seus efeitos. Para disciplinar essas hipóteses a doutrina efetuou uma clássica distinção entre retroatividade máxima, média e mínima (MATOS PEIXOTO), porque a força retroativa da lei não tem sempre a mesma intensidade.
A Corte Suprema há muito afastou a doutrina que restringia o conceito de direito adquirido apenas aos fatos consumados, bem como, aquela que emprestava às leis de direito público efeito imediato, incompatível com o princípio do art. 5º, XXXVI da CF. De fato, na Adin nº 493-0-DF, Tribunal Pleno, de que foi Relator o Min. Moreira Alves (Lex JSTF, 168, p. 70) ficou assentada a tese de que haverá: 
	RETROATIVIDADE
	MÁXIMA OU RESTITUTÓRIA OU RESTITUTIVA
	MÉDIA
	MÍNIMA ou TEMPERADA ou MITIGADA
	a lei nova abrange a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou os fatos jurídicos consumados
	a lei nova atinge os direitos exigíveis mas não realizados antes de sua vigência. (efeitos pendentes)
	a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos anteriores, verificados após a data em que ela entra em vigor
	EXEMPLO 01: lei canônica que aboliu a usura e obrigava o credor solúvel a restituir ao devedor, aos seus herdeiros ou, na falta destes, aos pobres os juros já recebidos
	EXEMPLO: uma lei que diminuísse a taxa de juros e se aplicasse aos já vencidos mas não pagos
	EXEMPLO 01: constituição de Justiniano que limitou a 6% em geral, após a sua vigência, taxas de juros dos contratos anteriores
	EXEMPLO 02: a lei francesa de 12 brumário do ano II (3 nov. 1793), que admitiu os filhos naturais à sucessão paterna e materna, em igualdade de condições com os filhos legítimos, desde 14 de julho de 1789. A retroatividade operava radicalmente no passado até a data referida, refazendo mesmo as partilhas definitivamente julgadas
	
	EXEMPLO 02: o Dec. nº 22.626, de 7 de abril de 1933 (lei de usura), que reduziu a 12% em geral as taxas dos juros vencidos após a data da sua obrigatoriedade
Várias são as doutrinas que procuram fundamentar a idéia da irretroatividade das leis e dar conta dessa noção de possível retroatividade na aplicação da lei nova. Podemos agrupá-las fundamentalmente em três tipos de teorias distintas: as objetivas, as subjetivas e as ecléticas.
	TEORIAS OBJETIVAS
	TEORIAS SUBJETIVAS
	TEORIAS ECLÉTICAS
	englobam as doutrinas fundadas preponderantemente sobre critérios do direito objetivo, tais como o objetivo da lei, a distinção entre direito absoluto e relativo, a estrutura da norma jurídica
	a irretroatividade da lei está ligada à definição de direito adquirido, entendido este como o que pertence a alguém em caráter definitivo e não mais pode lhe ser tirado. Sua principal característica é o liame entre o direito e seu titular
	visam à conciliar esses dois pontos extremos
	Planiol defende a tese de que a lei é retroativa somente quando alcança o que já ocorreu no passado. No caso da chamada retroatividade mínima não ocorreria retroatividade mas tão-somente aplicação imediata da lei.
	fundam-se na concepção de direito adquirido, entendidos estes como sendo aqueles que entram em nosso domínio, dele constituindo parte integrante
	ROUBIER: concepção francesa de "situação jurídica". a base fundamental da ciência do conflito das leis no tempo é a distinção entre efeitos retroativos e imediatos da lei. Uma lei apenas poderia ser reputada retroativa quando viesse a possuir a pretensão de ser aplicada a fatos passados (facta praeteria) . Quando se aplicasse aos fatos presentes haveria apenas efeito imediato da lei e não retroatividade
	teorias dos fatos realizados
	Gabba: é perfeitamente justa a aplicação da lei nova a relações constituídas anteriormente, desde que se respeitem todos aqueles direitos adquiridos por qualquer das partes que nestas estejam envolvidas
	princípio do efeito imediato da lei comporta, contudo, uma importante exceção: trata-se dos contratos sucessivos ou de execução continuada. Neste caso deve sobreviver a lei pretérita que o regeu originariamente
É princípio assente também, com base na natureza constitucional da irretroatividade que a lei nova não alcança os efeitos futuros dos contratos celebrados anteriormente a ela e que só atingirá os facta pendentia no que não contrariar direito adquirido.
Deste modo, fica claro que as Constituições brasileiras a partir de 1934, com exceção da de 1937, adotaram em matéria de direito intertemporal, a teoria subjetiva dos direitos adquiridos e não a teoria de Roubier, a teoria objetiva da situação jurídica, com o que se firmou o primado absoluto da idéia de intangibilidade do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada em nosso ordenamento jurídico.
Caio Mário: não há distinção prática entre ambas, os efeitos são os mesmos, mas a segunda tem mais rigor científico.
9 – APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS
A norma jurídica tem uma estrutura formada por dois elementos: a hipótese de incidência e a conseqüência.
É importante ressaltar quatro pontos:
a) 	para aplicar a lei, deve-se antes identificar a lei ( dogmática analítica);
b) 	em seguida, deve-se interpreta-la (dogmática hermenêutica)
c) a partir das normas jurídicas apreendidas da observação das leis, passa-se à fase crítico-argumentativa (dogmática da decisão), porcedendo-se à subsunção, passando-se ao reconhecimento da respectivia consequência jurídica;
d) 	findo o procedimento, ter-se-á aplicado a lei.
Para aplicação das normas são fundamentais: a INTERPRETAÇÃO e a INTEGRAÇÃO.
	AUTOR
	INTERPRETAÇÃO
	HERMENÊUTICA
	PEDRO NUNES
	Método pelo qualo hermeneuta procura apreender o pensamento do legislador, expresso na norma que examina, e em seguida explica a sua verdadeira inteligência, o seu justo e conveniente sentido técnico-jurídico.
	Ciência da interpretação dos textos de lei. Conjunto sistemático de regras que ensinam a conhecer e esclarecer o sentido e o alcance das normas jurídicas, ou a sua inteligência, e adaptá-las aos fatos sociais.
	MARIA HELENA DINIZ
	É um momento de intersubjetividade no sentido de se apoderar de um significado objetivamente verdadeiro da norma
	É a teoria científica da arte de interpretar.
9.1 - INTERPRETAÇÃO
A finalidade interpretativa da norma é: 
a) revelar o sentido da norma e 
b) fixar o seu alcance. 
São métodos de interpretação (não são excludentes e nem exclusivas entre si) das normas (Caio Mário fala em interpretação quanto aos elementos das normas jurídicas):
9.1.1 - Quanto ao meio empregado - HLST
Gramatical ou Literal : é aquela em que se preocupa, simplesmente, em saber o real e efetivo significado das palavras. Deve-se buscar o verdadeiro sentido e alcance das palavras. É a busca do sentido pela observação da linguagem.
Lógica: procura-se apurar o sentido e o alcance da norma, a intenção do legislador por meio de raciocínios lógicos, com o abandono dos elementos puramente verbais.
Sistêmica ( ou sistemática): o exegeta analisa o dispositivo legal dentro do sistema no qual ele está contido, e não de forma isolada. Interpreta-se com os olhos voltados para o todo, e não somente para as partes. 
Teleológica ( ou sociológica ) : tem por objetivo adaptar o sentido ou finalidade da norma às novas exigências sociais, com abandono do individualismo que preponderou no período anterior à edição da LICC. 
9.1.2 - Quanto à origem ou quanto ao intérprete
Judicial: é causuística. Realizada pelos aplicadores do Direito, ou seja, pêlos Juizes de primeiro grau e magistrados que compõem os Tribunais. Somente a interpretação, para aplicação de uma lei, feita nos autos de um processo é que pode ser considerada como judicial, “intra autos”. Qualquer julgado, decisão dentro dos autos.
Autêntica: é genérica. A interpretação realizada pelo próprio texto legal, pôr via de um provimento legislativo. É aquela feita pelo próprio legislador, por intermédio de lei interpretativa. Emana do próprio órgão que formulou a lei interpretada.
contextual: realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal que se procura interpretar.
Posterior: realizada pela lei, após a edição de um diploma legal anterior.
Doutrinária: é genérica. É aquela realizada pêlos estudiosos do Direito – Jurisconsultos, em trabalho teórico ou em parecer. Não é de obediência obrigatória.
9.1.3 - Quanto aos resultados do alcance eficacial
Declarativa: o intérprete não amplia nem restringe o seu alcance, apenas declara a vontade da lei. Perfeita correspondência entre a denotação gramatical do texto e sua compreensão pelo intérprete.
Extensiva: para que se possa conhecer a exata amplitude da lei, o intérprete necessita alargar o seu alcance, haja vista Ter aquela deito menos do que efetivamente pretendia. 
Restritiva: o intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que esta, à primeira vista, disse mais do que efetivamente pretendia dizer. 
Ab-rogante
Não há hierarquia em relação aos critérios acima, e um não exclui o outro, há inclusive quem afirme que não existem várias espécies de interpretação, mas, na verdade, uma INTERPRETAÇÃO ÚNICA, que combina vários meios de interpretação (FERRARA). 
A interpretação judicial, sempre com fundamento no dispositivo acima, busca também atualizar o entendimento da lei, dando-lhe uma interpretação atual que atenda aos reclamos das necessidades do momento histórico em que está sendo aplicada. Exemplo: a presunção de inocência do estupro e do atentado violento ao pudor, sempre foi uma presunção absoluta, mas, atualmente, o STF relativizou essa presunção.
Cândido Rangel Dinamarco: a regra de ouro em toda a interpretação jurídica consiste na atenção ao BEM-COMUM, ou seja, às projeções da lei sobre a vida das pessoas, dos grupos e da própria sociedade, com a responsabilidade de causar-lhes sensações felizes segundo critérios de justiça (os fins sociais da lei, artigo 5o., LICC: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.)
INTERPRETAÇÃO LEIS
Qto órgão – sujeito: 	JAD
Qto meio : 		GLSTH
Qto ao resultado: 		DER
No processo crítico que se faz da interpretação até a decisão (aplicação da lei), há também a figura dos argumentos jurídicos, que tem grande valia no processo que vai da interpretação à aplicação do direito. A dogmática da decisção estuda esses argumentos.
Argumento “ab absurdo ou reductio ad absurdum”: propõe que o resultado absurdo deve ser afastado;
Argumento “ab auctoritate” : se funda no prestígio de uma pessoa. São os argumentos fundados na doutrina, na jurisprudência e em pareceres de juristas renomados.
Argumento “a contrario sensu”: propõe que mencionada uma hipótese, ficam excluídas as outras. O argumento deve ser utilizado com cuidado, pois o fato de mencionar uma hipótese não implica necessariamente que as outras estão excluídas. Muitas vezes, fazendo-se uma interpretação sistemática, descobre-se que um outro dispositivo legal também regula a outra hipótese de modo idêntidco ao primeiro dispositivo consultado. Outras vezes pode se estar diante de uma verdadeira lacuna ou de situação que recomenda, numa interpretação teleológica, um resultado extensivo. O argumento terá utilidade quando a lei enumera hipóteses de modo taxativo ou traz uma exceção. Nos demais casos, argumento melhor é o que lhe é oposto – “positio unius non est exclusio alterius”: a especificação de uma hipótese não redunda em exclusão das demais.
Argumento “a maiori ad minus”: se é permitido o mais, é permitido o menos. Esse argumento tem relação com direitos, com poderes. 
Argumento “a fortiori” propõe a construção de hierarquias, verificando o que é mais e o que é menos, de modo a ordenar, pela força, os objetos. Usar o argumento “a fortiori” é utilizar as seguintes expressões “com tanto mais razão, por mais forte razão”.
Argumentos “a pari” ou “a simili” propõem que o preceito formulado para uma hipótese também se estende a hipótese igual ou fundamentalmente semelhante. O brocardo seguinte também traz esse idéia: “ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio” (onde existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma regra de direito).
A lei não permite que o juiz se exima de decidir. Deve o magistrado aplicar a norma legal, e, na sua falta, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito, sucessivamente (CPC, art. 126).
	MARIA HELENA DINIZ
	É um momento de intersubjetividade no sentido de se apoderar de um significado objetivamente verdadeiro da norma
	É a teoria científica da arte de interpretar.
10 - INTEGRAÇÃO
Plenitude Lógica do Sistema Jurídico: quando inexiste lei a ser aplicada diretamente ao caso, deve o magistrado se valer de outras fontes do Direito para encontrar a regra que efetivamente deve disciplinar a relação jurídica submetida à sua apreciação. 
A LICC permite a integração na hipótese de lacunas (falta de previsão legal sobre uma matéria). Nos termos do artigo 4o. (REGRA DE OURO para a integração das leis):
Artigo 4o. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Essas são as fontes supletivas do direito, juntamente, com a DOUTRINA, a JURISPRUDÊNCIA e a EQÜIDADE, que são também métodos de integração da norma jurídica. 
A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara (isso é um dogma). Já a integração depende da existência de lacunas. A lacunas podem ser de dois tipos: 
AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma hipótese
NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre o assunto. EXEMPLO:cabimento de embargos de declaração contra decisão interlocutória.
Há outras espécies de lacuna reconhecidas pela doutrina:
normativa: quando não houver lei regulando determinado caso;
ontológica: quando houver norma regulando o caso, mas esta não corresponder à realidade fático-valorativa, tendo em vista modificações substanciais nos fatores sociais;
axiológica: quando houver norma, mas esta for injusta, levar a situações iníquas, aburdas.
Silêncio Eloqüente – o legislador quis excluir a possibilidade, é a possibilidade de se restringir a aplicação da lei com base na LACUNA NÃO-AUTÊNCIA. Exemplo: competência constitucional da Justiça Federal, não pode ser ampliada pelo legislador, sob a alegação de tratar-se de lacuna. Trata-se de rol taxativo (numerus clausus).
A integração da lacuna deve ser aceita em razão do princípio que determina que o juiz não pode se eximir de julgar sob alegação de lacuna (“Princípio do nom liquet” que, no Direito Romano, permitia ao pretor eximir-se de julgar alegando que o caso não está suficientemente claro).
10.1 – Analogia 
Analogia pode ser dividida em:
analogia legis – a relação da semelhança toma por base a lei; 
analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em um caso concreto julgado pelo Judiciário. estriba-se num conjunto de normas, para extrair elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso concreto não previsto, mas similar. Quando o princípio para o caso omitido se deduz do espírito e do sistema do ordenamento jurídico.
A analogia não pode ser confundida com a INTEPRETAÇÃO EXTENSIVA. Exemplo: poligamia sendo enquadrada no crime de bigamia, ou seja, o legislador disse menos do que queria e o intérprete amplia a interpretação.
10.2 – Costume 
Costume pode ser: 
secundum legem – quando sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei, como nos casos dos arts. 1297, § 1º, 596 e 615 do CC
praeter legem – o costume tem um caráter supletivo, complementar da lei. Ex.: pós-datado, como garantia de pagamento.
contra legem – costume que tem caráter abrogativo, ou seja, revogação total. isso é complicado, já que costume é fonte secundária do direito e não pode revogar a lei. Mas existem alguns exemplos que demonstram a aplicação do princípio contra lei. Ex.: reconhecimento jurisprudencial da possibilidade de comprovação de contrato por testemunha no caso de venda de gado. Trata-se no máximo de perda da eficácia da lei e não da perda da sua validade (DESUSO) 
O art. 4º da atual Lei de Introdução, situa o costume imediatamente abaixo da lei, pois o magistrado só poderá recorrer a ele, quando se esgotarem todas as potencialidades legais para preencher a lacuna. O costume é uma fonte jurídica, porém em plano secundário. O costume é composto de 02 elementos: 
o uso: elemento externo;
e a convicção jurídica: elemento interno.
10.3 – Princípios Gerais de Direito 
Princípios Gerais de Direito: Abrangem investigações sobre o sistema jurídico, recaindo sobre os subsistemas normativos, fáticos e valorativos concernentes à questão omissa que deve solucionar, preenchendo as lacunas, podendo até penetrar , para tanto, no campo da Ciência do Direito, bem como no da Filosofia Jurídica.
Equidade: é muito polêmica esta questão. A equidade é o senso natural de justiça ; é permitir ao juiz dicidir com base no seu senso de justiça. A doutrina clássica, depois da Constituição 1934, entende que o juiz não pode julgar por equidade, a menos que a lei expressamente autorize. 
A LICC, não previu a equidade como método de integração. A equidade, não constitui meio supletivo de lacuna da lei , sendo mero recurso auxiliar de APLICAÇÃO desta. É utilizado quando a lei expressamente o adminte (art. 127 do CPC);
Doutrina Clássica: toda sentença tem que ser legal e, se possível, justa ( primeiro está a legalidade, mesmo que prejudique a justiça social. Privilegia a segurança jurídica);
Direito Alternativo: Privilegia a justiça social em detrimento da legalidade.
 Hoje em dia, duas leis admitem que o juiz julgue com base na equidade: Lei 9.099/95 ( o juiz está autorizado a dar a decisão mais equânime), e a Lei de Arbitragem (as partes podem autorizar o árbitro a julgar por equidade). No CC podemos citar o art. 1586, que autoriza o juiz a regular por maneira diferente dos critérios legais, se houver motivos graves e a bem do menor; o art. 1740, II, que permite ao tutor reclamar do juiz que providencie, “como houver por bem”, quando o menor tutelado haja mister correção, entre outros.
Em matéria de prova, ou seja, no que concerne a questões de “fato” (e não de “direito”), “em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial”.
11 – CORREÇÃO DAS ANTINOMIAS 
Muitas vezes o problema não é de ausência de lei ou de normas, mas de existência de mais de uma norma conflitando entre si. Não se tem nesse caso lacuna, a ensejar uma integração, tem-se antinomia, a ensejar uma correção, que também só terá efeito para o caso concreto em que o Direito será aplicado.
Pode-se conceituar o instituto da antinomia como a situação de conflito entre duas ou mais normas jurídicas. Quanto ao critério de solução do conflito, a antinomia pode ser dividida em duas espécies:
	Aparente
quando a própria lei tiver critério para a solução do conflito;
	Genérica
a solução dos conflitos não é dada pela nova lei, e sim pelo sistema de regras genéricas.
	Específica
o próprio legislador ao criar a lei estabelece soluções a eventuais conflitos que possam surgir.
	Real:
quando não houver na lei critério para a solução do conflito.
	Genérica
	1º grau:
a solução do conflito opera-se por critérios isoladamente considerados.
	Hitóteses
	Solução
	CF. X Lei infraconstitucional
	critério da hierarquia – se a lei for anterior à CF. diz-se que esta lei não foi recepcionada, se for posterior ela será inconstitucional;
	Lei Geral Velha X Lei Geral Nova:
	critério da atualidade ou cronológica - Leis de mesma hierarquia e espécie 
	Lei Geral Velha X Lei Especial Nova:
	critério da especialidade – há uma derrogação da lei geral, naquilo que a lei nova inovar onde for ela for especial.
	2º grau
aquela em que a solução do conflito de lei, se opera por critérios cumulativamente considerados
	Hipótese
	Solução
	Lei Especial Velha X Lei Geral Nova
	1ª corrente: (LFG, Damásiio): 1º Hierarquia; 2ª Atualidade ou cronológico; 3º Especialidade. Corrente MAJORITÁRIA. Ex.: Separação Consensual – Prazo no NCC: 1 ano e na Lei Divórcio: 02 anos. Se adotarmos a especialidade como critério predominante sobre o da atualidade, deve prevalecer o prazo de 02 anos, mas na jurisprudência é pacífico o entendimento que o prazo para a separação consensual é de 01 ano.
	2ª corrente: (Flavio M. Barros, Tartuce, Marcato): 1º Hierarquia; 2º Especialidade; 3ª Atualidade ou cronológico.
	3ª corrente: (Gustavo Tepedino -): a ordem dos critérios dependerá da análise do juiz no caso concreto. Traduz-se no Princípio da Máxima Eficiência da Justiça: devendo ser aplicado o critério que o juiz considerar mais justo. Maria Helena Dinis, segue este principio e chama este princípio de Princípio da Estabilidade Jurídica. A crítica a 	este critério é de deixar ao arbítrio do julgador (critério totalmente subjetivo) a escolha da solução do conflito.
11.1 – Critérios para a solução de antinomias aparentes 
a. Hierárquico: 
(lex superior derogat legi inferiori), pelo qual a lei superior prevalece sobre a de hierarquia inferior,
b. Cronológico ou atualidade: 
(lex posterior derogat legi priori), pelo qual a lei posterior prevalece sobre a anterior; 
c. Especialidade: 
(lex specialis derogat legi generali), pela qual a lei especial prevalece sobre a geral.
O critério cronológico ou temporal (lex posterior derogat legi priori) cede em funçãodos critérios hierárquico (lex superior derogat legi inferiori) e da especialidade (lex specialis derogat legi generali).
Assim, uma lei nova não revoga um dispositivo constitucional que com ela esteja em contrariedade, pois a norma constitucional, em que pese mais antiga, tem hierarquia superior à norma infraconstitucional. Prevalece o critério hierárquico sobre o cronológico.
Do mesmo modo, uma lei geral nova não revoga uma lei especial velha, pois o critério da especialidade prevalece. A norma é especial quando possui em sua hipótese de incidência todos os elementos da norma geral e mais alguns especializantes. Presume-se que, na elaboração da lei especial, procurou-se tratar com mais detalhe das particularidades do tema, da questão. 
O princípio da isonomia, que impõe tratar os desiguais de modo desigual fundamenta a idéia de que o especial prevalece sobre o geral. Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor não ficaram revogados pelo novo Código Civil, já que trazem normas especiais em relação a este. Prevalece o critério da especialidade sobre o cronológico.
Deve-se tomar cuidado, todavia, com um aspecto. Muitas vezes uma lei preponderantemente geral, como é o Código Civil, contém normas especiais, que, assim, podem revogar normas anteriores com ele incompatíveis. É o caso da matéria referente ao Condomínio Edilício, que é uma questão única, não passível de tratamento estanque, e que foi regulada por inteiro no atual Código Civil. Por trazer normas especiais, os arts. 1.331 a 1.357 do CC revogaram substancialmente a Lei 4.591/64, mesmo sendo esta uma lei especial.
Cuidado com a afirmativa de que “a lei especial revoga a lei geral”. As vezes, a lei especial apenas está regulando uma das categorias abrangidas pela lei geral, não revogando, portanto. O Código Civil anterior, de modo geral, regulava os vícios redibitórios. Veio o CDC e regulou os vícios do produto ou do serviço para uma relação de consumo. A lei geral não ficou revogada. Continua a ser aplicada de modo genérico. Apenas não se aplica aquela categoria de negócios considerados de consumo. Ou seja, a lei especial não revogou a geral. Apenas retirou um espectro de sua incidência.
No tema aplicação da lei no tempo é, ainda, importante anotar que a lei nova, apesar e ter efeito imediato e geral, respeitará o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada (LICC, art. 6º). A Constituição, em seu art. 5º, XXXVI, reforça o princípio ao dispor que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Trata-se do princípio da irretroatividade da lei.
A lei não pode prejudicar, mas poderá beneficiar. É por isso que a lei penal que beneficia o acusado retroage (CF, art. 5º, XL) e que a lei tributária também retroage em alguns casos (CTN, art. 105).
Caso não seja possível solucionar o conflito pela utilização dos critérios acima, estaremos diante de uma de um conflito de segundo grau, já que o conflito não será entre simples normas, mas entre os critérios (hierárquico, cronológico e de especialidade). 
11.2 – Metacritérios para a solução de antinomias aparentes 
Entre o: 
a)	hierárquico e o cronológico, prevalece o hierárquico (norma superior-anterior), pois a competência é mais forte que o tempo; 
b) 	da especialidade e o cronológico, prevalece o da especialidade (norma especial-anterior), em face do princípio da igualdade, admitindo-se exceções no caso concreto; 
c)	hierárquico e o da especialidade, não é possível estabelecer um metacritério de antemão, com alguma vantagem para o critério hierárquico, em virtude da competência.
Caso não se consiga resolver o conflito pelos metacritérios, deve-se recorrer ao critério dos metacritérios, o princípio da justiça: escolhe-se a norma mais justa.
12 - APLICAÇÃO ESPACIAL DE NORMAS JURÍDICAS
Pela LICC, serão solucionados os conflitos decorrentes da aplicação espacial de normas, que estão relacionadas à noção de soberania dos Estados, por isso, é que a LICC é considerada o Estatuto de Direito Internacional Privado brasileiro.
Deve ser estudada no DIPr, mas vale registrar que o Brasil adota o princípio da territorialidade moderada, ou seja, é lei brasileira adotada, mas admite-se a aplicação, em certos casos, de lei estrangeira. 
O critério da extraterritorialidade é admissão de aplicação no território nacional de lei de outro Estado de acordo com os tratados internacionais. 
ESTATUTO PESSOAL é quando as normas de um Estado acompanham o seu nacional para regular seus interesses em outro país, o Brasil admite isso em algumas relações. 
A decisão proferida em país estrangeiro será homologada desde que não contrarie a soberania nacional e os princípios basilares do ordenamento jurídico pátrio (exequatur = autorização para cumprimento, no Brasil, da sentença estrangeira).
No Brasil, em virtude do disposto no art. 7º da Lei de Introdução ao Código Civil, funda-se na lei do domicílio, predominante hoje na apreciação do fato anormal. 
O princípio domiciliar não pode ter caráter absoluto, nem em pura doutrina, nem no terreno prático, uma vez que sua finalidade específica é a apreciação do fato anormal. Admite portanto, a Lei de Introdução , como exceção à lei do domicílio, a aplicação da “lex rei sitae”, para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes (art. 8º), mas manda que se aplique a lei do domicílio do proprietário, tanto aos bens móveis que ele trouxe, ou se destinarem a transporte para outros lugares.
Para que se saiba qual será a lei aplicável, em havendo um elemento estrangeiro em nosso país, a LICC trabalha com as noções de “matérias” e de “critério”. É a partir desses dois elementos que se chegará à lei aplicável a um caso concreto.
O critério antigo era o da nacionalidade. Assim, aplicava-se a uma dada matéria a lei da nacionalidade do interessado. Esse critério era muito criticado, pois não resolvia o problema dos apátridas e fazia com que um estrangeiro há muito tempo já residente aqui continuasse a ter como estatuto pessoal as leis da sua nacionalidade. 
O critério atual gira em torno do domicilio da pessoa (lex domicilii). Quanto aos bens e obrigações, o critério é o lugar em que aqueles (bens) se encontrem e estas (obrigações) foram constituídas. Tudo a demonstrar um afastamento do critério da nacionalidade da pessoa. Por exemplo, para reger questões de família de um estrangeiro, aplica-se a lei do seu domicílio. Agora, para saber qual é o domicílio da pessoa, a fim de poder descobrir qual é a lei aplicável àquele caso, deve-se partir do conceito de domicílio previsto na nossa lei civil, ou seja, da chamada lex fori (lei do foro competente, da jurisdição onde se deva processar a demanda, no caso o Brasil). Vejamos agora os critérios ou elementos de conexão e as matérias a serem regidas , previstos na Lei de Introdução ao Código Civil.
a)		Lei do país em que a pessoa for domiciliada: aplica-se quanto ao começo e fim da personalidade, ao nome, à capacidade e aos direitos de família (art. 7º). Se o casamento for realizado no Brasil, aplica-se a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração (lex loci actus). Se os nubentes tiverem domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. Se a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontrar.
b) 	Lei do país em que os bens estiverem situados: qualifica os bens e regula as relações a eles concernentes (art. 8º). Trata-se da lex rei sitae (lei da situação da coisa). Exceções: será aplicada a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares; e será aplicada a lei do possuidor da coisa, q uando esta estiver empenhada. 
c) 	Lei do país em que as obrigações tiverem sido constituídas: qualifica e rege as obrigações (art. 9º). Trata-se da regra locusregit actum. Para se descobrir onde a obrigação se reputa constituída, deve-se verificar o lugar em que reside aquele que fez a proposta, o proponente. Anote-se que, caso a obrigação tenha que se executada no Brasil e nossa lei exija forma essencial (uma escritura pública, por exemplo), esta será observada, sem prejuízo de se cumprir as peculiaridades da lei estrangeira.
d) 	Lei do país em que o defunto ou desaparecido era domiciliado: rege a sucessão por morte ou ausência (art. 10). Exceção: é a lei do domicílio do herdeiro (e não do falecido) que regula a capacidade para suceder, que deve ser entendida como legitimidade para suceder. Outra exceção é prevista na LICC e na Constituição Federal, que assevera: “a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus” (art. 5º, XXXI, CF).
Não se devem confundir as questões acima trazidas com as normas atinentes ao processo civil que correr em nosso país (vide os arts. 88 e 89 do CPC, que trazem as hipóteses em que a autoridade judiciária brasileira é competente). As normas processuais aplicáveis serão, sempre, as normas brasileiras (lex fori), o que decorre do art. 1º do CPC. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir daquele que a invoca prova do texto e da vigência (LICC, art. 14; CPC, art. 337).
Quanto às sentenças proferidas no estrangeiro, estas dependem, para serem executadas no Brasil, do preenchimento dos seguintes requisitos estabelecidos no art. 15 da LICC: 
a)	 haver sido proferida por juiz competente; 
b)	 terem sido as partes citadas ou legalmente se verificado a revelia; 
c) 	estar transitada em julgado e revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; 
d) 	estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (este item foi alterado, em função da Emenda Constitucional nº 45 – art. 105, I, “i”, da CF).
Segundo o parágrafo único do mesmo dispositivo, não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas. Importantíssimo registrar que, apesar da redação do PU do art. 15 da LICC, toda e qualquer decisão judicial estrangeira para ser cumprida no território brasileiro exige o exequatur do STJ, inclusive as decisãoes meramente declaratórias do estado das pessoas, de acordo com a exigência constitucional, bem como do art. 483 do CPC. É que a norma do aludido PU é incompatível com o Texto Consititucional por subtrair a competência do STJ. Neste sentido: STF, Ac. Tribunal Pleno, Petição Avulsa nº. 11/MG, rel. Min. Celso de Mello, in Informativo STF 121, set./98).
Finalmente, nenhuma lei, ato ou sentença de outro país, e nenhuma declaração de vontade, poderá ter eficácia na Brasil, quando ofender a soberania nacional, a ordem pública, e os bons costumes.
13 – O DIREITO DE FAMILIA E SUA APLICAÇÃO NO ESPAÇO
O ordenamento jurídico brasileiro acolhe a lei do domicílio como elemento de conexão para nortear as questões de família (art.7º, LICC). Com isso, submete-se à lei nacional o estrangeiro aqui domiciliado, sendo irrelevante a sua nacionalidade. Identicamente, o brasileiro domiciliado no exterior será regido, em suas relações familiares, pela lei do lugar de seu domicílio.
O casamento realizado no território nacional deve atender às regras do CC quanto às formalidades na celebração (art. 1,533 a 1.542) e aos impedimentos (art. 1.521).
O nubente divorciado, que pretenda novas núpcias, precisa comprovar o desimpedimento. 
Se o divórcio foi decretado no exterior, há necessidade de prévia homologação da sentença, pelo STJ, como pressuposto da habilitação para o casamento.
O casamento de brasileiro (ainda que domiciliado no exterior), com consorte brasileiro ou estrangeiro, celebrado fora do território nacional, por autoridade estrangeira, tem que ser aqui registrado (art. 32, §1º, da LRP) para ter eficácia entre nós. Trata-se de exceção ao princípio da lei do domicílio (art. 7º, LICC), prestigiando-se o critério da nacionalidade como norma de regência.
Casamento consular celebrado no Brasil (art. 7º, §2º da LICC) é celebrado perante a autoridade diplomática ou consular do país de ambos os noivos (que devem ter a mesma nacionalidade), e produz efeitos regulares em nosso país. É dispensado o registro do ato matrimonial consular no Cartório do Registro Civil, porém, exige-se o atendimento da regra que norteia a validade dos documentos estrangeiros em geral (art. 129, §6º, Lei 6015/73) para produzir regulares efeitos em território nacional.
Quanto à dissolução do casamento pelo divórcio, algumas situações merecem vir à baila:
1º) - 	apesar de o matrimônio ter sido realizado no exterior, com regular registro no Brasil, o casal aqui domiciliado, compete à Justiça brasileira processar e julgar a ação dissolutória, de acordo com as regras do CC (arts. 1.571 a 1.582) e da Lei nº. 6.515/77 – Lei do Divórcio (que permanece em vigor no que concerne aos dispositivos de índole processual);
2º) - 	considerando que o divórcio tenha sido decretado por autoridade judiciária estrangeira, exige-se a homologação pelo STJ para que possa produzir regulares efeitos no território brasileiro.
3º) - 	nas hipóteses de homologação de sentença estrangeira de divórcio, nada impede que a partilha dos bens situados no Brasil também seja aceita, não ocorrendo violação ao art. 89, II do CPC. É que a referida norma processual alude à competência exclusiva da Justiça brasileira para promover a partilha dos bens situados no Brasil, transmitidos pela morte do titular , não abrangendo a partilha de bens decorrentes do término da relação afetiva.

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