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USCS – UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL ESCOLA DE NEGÓCIOS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS - TURMA: 07AN DISCIPLINA: TÓPICOS DE CONTABILIDADE GERENCIAL Prof. Me. Ubiratã Tapajós Reis CUSTOS PARA DECISÃO CUSTO FIXO, LUCRO E MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO Problema da alocação dos Custos Indiretos Fixos Supor que uma empresa fabrique três produtos (A,B e C), e seja constituída de um único Departamento (apenas para simplificação), e que tenha as seguintes características: Custos Indiretos de Produção: R$ 3.100.000,00 em certo mês, dos quais R$ 2.455.000,00 são fixos, compreendendo Mão-de-obra Indireta (MOI) – maior parcela – Depreciações etc., e R$ 645.000,00 são variáveis. Esses Custos Indiretos Variáveis são a Energia Elétrica e os Materiais Indiretos, e totalizam R$ 645.000,00, por estar a empresa produzindo as seguintes quantidades: Quantidade Produzida (em Unidades) Custo Indireto Variável por Unidade (em R$) Custo Indireto Variável Total (em R$) A 2.000 80,00 160.000,00 B 2.600 100,00 260.000,00 C 2.500 90,00 225.000,00 Custos Diretos de Produção: Matérias-primas e Mão-de-obra Direta, no total de R$ 700,00/u para o produto A, R$ 1.000,00/u para o B e R$ 750,00/u para o C. A empresa está produzindo as quantidades do quadro e vendendo pelos preços de R$ 1.550,00/u o produto A, R$ 2.000,00/u o B e R$ 1.700,00/u o C. Esses preços de venda são os fixados pela empresa líder do mercado, e a nossa não pretende modificá-los, mas está fazendo um estudo para verificar qual o produto mais lucrativo para tentar incentivar sua venda. Para isso faz os seguintes cálculos: Custos Indiretos por Produto: já que a maior parte é constituída por MOI, decide por sua distribuição em função das horas de MOD (hMOD): Horas de MOD por Unidade Quantidade Produzida (em Unidades) Total de Horas de MOD A 20 2.000 40.000 B 25 2.600 65.000 C 20 2.500 50.000 CIT/Nº Horas MOD = R$ 3.100.000,00/155.000 hMOD = R$ 20,00/hMOD A partir desse Custo Indireto por hora de MOD, a empresa construiu o seguinte quadro de lucratividade por produto: Custo Direto (em R$) Custo Indireto (em R$) - hMOD x R$/hMOD Custo Total (em R$) Preço de Venda (em R$) Lucro (em R$) A 700,00 400,00 1.100,00 1.550,00 450,00 B 1.000,00 500,00 1.500,00 2.000,00 500,00 C 750,00 400,00 1.150,00 1.700,00 550,00 Tem-se agora o resultado por unidade de cada tipo de Produto, apresentando- se como prioritário para incentivo de venda o C, como o mais lucrativo, ficando o A em último lugar. Se outra análise for feita, o produto C seria o mais rentável? Supor que essa empresa tenha tido custos por hora de MOD diferenciados para cada produto e resolva atribuir, ao invés de por horas, por valor em R$ de MOD. Para isso verifica o quanto foi aplicado, desmembrando o Custo Direto: MOD (em R$) Matéria-prima (em R$) Custo Direto Total (em R$) A 195,00 505,00 700,00 B 300,00 700,00 1.000,00 C 276,00 474,00 750,00 Para a apropriação dos R$ 3.100.000,00 de CIF por reais de MOD, terá que fazer: R$ 195,00 x 2.000u = R$ 390.000,00 R$ 300.00 x 2.600u = R$ 780.000,00 R$ 276,00 x 2.500u = R$ 690.000,00 MOD Total = R$ 1.860.000,00 CIF/MOD = R$ 3.100.000,00/R$ 1.860.000,00 = 1,666666... Para cada real de MOD, deverá a empresa apropriar R$ 1,666... de CIF. A – 1,666 x R$ 195,00 = R$ 325,00 B – 1,666 x R$ 300,00 = R$ 500,00 C – 1,666 x R$ 276,00 = R$ 460,00 Este será o novo Quadro de Rentabilidade por produto: Custo Direto (em R$) Custo Indireto (em R$) Custo Total (em R$) Preço de Venda (em R$) Lucro (em R$) A 700,00 325,00 1.025,00 1.550,00 525,00 B 1.000,00 500,00 1.500,00 2.000,00 500,00 C 750,00 460,00 1.210,00 1.700,00 490,00 O produto B continua com o mesmo lucro unitário, mas o A e o C mudaram. E o mais importante é que se inverteu a ordem! O produto menos rentável tornou-se o melhor, e o que era mais lucrativo tornou-se o menos interessante! Com tão pequena mudança no critério de apropriação dos Custos Indiretos de fabricação tem-se tão dramática alteração. Seria o problema decorrente de se estar rateando todos os CIF sabendo que pelo menos os variáveis já são conhecidos por produto e não precisariam então desse tipo de rateio? (Vide 1º quadro) Refazendo todos os cálculos que levaram aos quadros de rentabilidade por produto, mas dessa vez apropriando para cada produto seu Custo Indireto Variável conhecido, rateando apenas os Fixos, tem-se: Primeiro, rateando à base de R$ de MOD, chega-se a: Custo Direto Variável (em R$) Custo Indireto Variável (em R$) Custo Indireto Fixo (em R$) Custo Total (em R$) Preço de Venda (em R$) Lucro (em R$) A 700,00 80,00 257,00 1.037,00 1.550,00 513,00 B 1.000,00 100,00 396,00 1.496,00 2.000,00 504,00 C 750,00 90,00 364,00 1.204,00 1.700,00 496,00 Novamente o produto A tem maior rentabilidade. Se fosse feito à base de horas de MOD, se chegaria aos seguintes valores: Custo Direto Variável (em R$) Custo Indireto Variável (em R$) Custo Indireto Fixo (em R$) Custo Total (em R$) Preço de Venda (em R$) Lucro (em R$) A 700,00 80,00 317,00 1.097,00 1.550,00 453,00 B 1.000,00 100,00 396,00 1.496,00 2.000,00 504,00 C 750,00 90,00 317,00 1.157,00 1.700,00 543,00 De novo a posição dada pelos primeiros cálculos. Afinal, qual o produto mais lucrativo, A ou C? Conceito de Margem de Contribuição O problema acima pode ser resolvido em função do seguinte: toda a dificuldade anterior residiu na apropriação dos Custos Indiretos, mormente os Fixos, já que os Variáveis são alocáveis sem problema. Para a apropriação dos Fixos, existem dois tipos de problemas: o fato de serem no total independentes dos produtos e volumes, o que faz com que seu valor por unidade dependa diretamente da quantidade elaborada, e também o critério de rateio, já que, dependendo do que for escolhido, pode ser apropriado um valor diferente para cada unidade de cada produto. No exemplo pode-se verificar que, supondo Matéria-prima e MOD totalmente variáveis, pode-se identificar como sendo realmente de cada produto a soma de seus custos Direto mais Indireto Variável; toda a dificuldade está residindo na apropriação dos R$ 2.455.000,00 de CIF Fixos. O Produto A traz à empresa uma receita de R$ 1.550,00/u, e provoca, obrigatoriamente, um custo de R$ 780,00/u, que é seu total variável por unidade. Cada unidade sua realmente provoca esse gasto e produz essa receita. Toda e qualquer parcela de Custo Fixo que lhe for imputado não será existente apenas se houver a produção e venda desse produto; existirá independente dele. De que adianta então imputar para cada unidade de cada produto uma parcela do Custo Fixo? Essa parcela dependerá da quantidade de produto e da forma de rateio, e não de cada unidade em si. Chega-se assim ao conceito de Margem de Contribuição por Unidade, que é a diferença entre a Receita e o Custo Variável de cada produto; é o valor que cada unidade efetivamente traz à empresa de sobra entre sua receita e o custo que de fato provocou e lhe pode ser imputado sem erro. Contribuição significa que contribui ou ajuda na cobertura das despesas fixas. Margem significa que é a diferença remanescente após deduzir-se da receita de vendas o custo das vendas e das despesas operacionais variáveis. A margem de contribuição deve ser suficientemente grande para absorver as despesas operacionaisfixas, as despesas financeiras e o Imposto de Renda e ainda deixar um valor residual com lucro (lucro líquido). Custo Direto Variável (em R$) Custo Indireto Variável (em R$) Custo Variável Total (em R$) Preço de Venda (em R$) Margem de Contribuição (em R$/u) A 700,00 80,00 780,00 1.550,00 770,00 B 1.000,00 100,00 1.100,00 2.000,00 900,00 C 750,00 90,00 840,00 1.700,00 860,00 Cada unidade de A contribui com R$ 770,00; não se pode dizer que isso seja lucro, já que faltam os Custos Fixos; trata-se de sua Margem de Contribuição, para que, multiplicada pelas quantidades vendidas e somada à dos demais, perfaça a Margem de Contribuição Total. Desse montante, deduzindo os Custos Fixos, chega-se ao Resultado, que pode ser então o Lucro. O fundamental é que, verificando o último quadro, nota-se que o produto que mais contribui por unidade é o B, seguido pelo C e, finalmente, pelo A. Cada unidade de B provoca de ato uma “sobra” de R$ 900,00, diferença entre receita e custo variável. Se existe um produto que deva ter sua venda incentivada é o B, que tem a maior Margem de Contribuição por Unidade. Uma Forma Alternativa de Demonstrar o Resultado Quando a empresa exemplo produz e vende as quantidades mencionadas de cada produto, chega ao seguinte resultado (supondo como custos os dados no 3º quadro): Produto A Produto B Produto C Total Vendas 3.100.000,00 5.200.000,00 4.250.000,00 12.550.000,00 Custo 2.200.000,00 3.900.000,00 2.875.000,00 8.975.000,00 Lucro 900.000,00 1.300.000,00 1.375.000,00 3.575.000,00 Já se sabe e não é mais necessário fazer outros cálculos para se provar que, caso houvesse mudança nos critérios de rateio, se chegaria a valores diferentes de Lucro total por produto, devido às variações nos custos de cada um. O resultado final seria o mesmo, não podendo variar no exemplo, já que as quantidades produzidas foram vendidas. Poder-se-ia elaborar uma demonstração igual utilizando os valores do custo de cada produto obtidos no 2º quadro de lucratividade. Todavia, os valores obtidos como Lucro de produto seriam diferentes dos acima demonstrados, mas o lucro total seria o mesmo. Tendo-se em vista o conceito novo, que é o da Margem de Contribuição, onde não está computado o custo fixo antes apropriado para cada unidade, basta apropriar o Resultado de cada produto seu Custo Variável, deixando os Fixos para serem diminuídos apenas da Margem de Contribuição Total. A B C Total Vendas 3.100.000,00 5.200.000,00 4.250.000,00 12.550.000,00 Custo Variável 1.560.000,00 2.860.000,00 2.100.000,00 6.520.000,00 Margem de Contribuição 1.540.000,00 2.340.000,00 2.150.000,00 6.030.000,00 Custos Fixos 2.455.000,00 Resultado 3.575.000,00 Nessa forma não existe “Lucro” por produto, mas sim Margem de Contribuição; os Custos Fixos são deduzidos da soma de todas as Margens de Contribuição, já que de fato não pertencem a este ou àquele produto, e sim ao global. Exemplo do uso da Margem de Contribuição Supor que uma indústria esteja operando no mercado brasileiro com as seguintes características: Capacidade de Produção 800.000 t/ano Capacidade que atende o mercado nacional 500.000 t/ano Custos Fixos de Produção R$ 35.000.000,00/ano Custos Variáveis de Produção R$ 110,00/t Despesas Fixas R$ 21.000.000,00/ano Despesas Variáveis: Comissões R$ 10,00/t Impostos R$ 15,00/t R$ 25,00/t Preço de Venda R$ 260,00/t Com isso, a empresa está obtendo o seguinte resultado: Vendas: 500.000 t x R$ 260,00/t = R$ 130.000.000,00 Custos Fixos R$ 35.000.000,00 Variáveis: 500.000 t x R$ 110,00/t = R$ 55.000.000,00 Lucro Bruto R$ 40.000.000,00 Despesas Fixas R$ 21.000.000,00 Variáveis: 500.000 t x R$ 25,00/t = R$ 12.500.000,00 R$ 33.500.000,00 Lucro Líquido R$ 6.500.000,00 Surge agora a oportunidade de uma venda ao exterior de 200.000 t, mas pelo preço de R$ 180,00/t com isenção dos impostos. Deve a empresa aceitar, mesmo sabendo que nessa hipótese não teria os impostos de venda? Com o uso do conceito de Margem de Contribuição; calculando-se para o caso, tem- se: Preço de Venda (Exportação) R$ 180,00/t Custo Variável R$ 110,00/t Despesa Variável R$ 10,00/t R$ 120,00/t Margem de Contribuição R$ 60,00/t Aceitando a encomenda, a empresa receberá uma Margem de Contribuição adicional de R$ 12.000.000,00 (200.000 t x R$ 60,00/t), e seu resultado será acrescentado dessa importância. Essa prática, aliás, é bastante usada internacionalmente. No mercado do próprio país consegue-se, com uma parte da capacidade de produção, amortizar os custos e despesas fixos, chegando-se inclusive a um resultado positivo. Ao vender para o mercado externo, qualquer preço acima do custo e despesa variáveis provocará acréscimo direto no lucro; qualquer valor de margem de contribuição é lucro, e o preço pode ser bastante inferior ao do mercado nacional onde está a indústria. Vendas: 500.000 t x R$ 260,00/t = R$ 130.000.000,00 200.000 t x R$ 180,00/t = R$ 36.000.000,00 R$ 166.000.000,00 Custos Fixos R$ 35.000.000,00 Variáveis: 700.000 t x R$ 110,00/t = R$ 77.000.000,00 R$ 112.000.000,00 Lucro Bruto R$ 54.000.000,00 Despesas Fixas R$ 21.000.000,00 Variáveis: 700.000 t x R$ 10,00/t R$ 7.000.000,00 500.000 t x R$ 15,00/t R$ 7.500.000,00 R$ 35.500.000,00 Lucro Líquido R$ 18.500.000,00 O resultado anterior era de R$ 6,5 milhões. Tal prática, uma das formas de “dumping” internacional, é realmente utilizada em larga escala, porque, dentro de um próprio país, seria praticamente impossível trabalhar-se com dois preços de venda tão diferentes para o mesmo produto.
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