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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias Campus XXIV – Professor Gedival Sousa Andrade BACHARELADO EM ENGENHARIA DE PESCA ECOLOGIA GERAL Professora: Taiana Guimarães Araujo E-mail: taianagaraujo@gmail.com Conteúdo proposto Do indivíduo ao ecossistema: Ecologia de populações e relações intraespecíficas: • Introdução à Ecologia de populações; • Importância ecológica e evolutiva das populações: benefícios e custos em se viver agrupado; • Propriedades emergentes do nível de população: densidade/abundância e padrões de distribuição espacial,; • Heterogeneidade ambiental, barreiras geográficas e especiação; • Dinâmica populacional (natalidade, mortalidade, imigração e emigração) e distribuição etária, crescimento populacional logístico e exponencial, espécies “r” e “k” estrategistas e capacidade de suporte do meio; • Relações intraespecíficas, fatores denso-dependentes e denso- independentes e conceito de recurso. DINÂMICA POPULACIONAL Dinâmica Populacional A dinâmica populacional está relacionada a fatores que regulam a densidade populacional: Emigração (E) x imigração (I). Natalidade (N) x mortalidade (M); A densidade instantânea (Di) é dada pela interação destes quatro fatores; Di = (N - M) + (I - E) TAXA = razão entre a variação de duas grandezas, das quais a primeira (numerador) é dependente da segunda (denominador). Em geral, a grandeza da qual se depende é o tempo. Emigração e Imigração Emigração: movimentação de indivíduos de uma região para outra, saída de indivíduos ou grupo de indivíduos de uma população para outra. O n° de emigrantes corresponde a quantos indivíduos deixaram a população que se está considerando; Imigração: entrada de indivíduo ou grupo de indivíduos em uma população, vindos de outra região/população. O n° de imigrantes corresponde a quantos indivíduos chegaram à população que se está considerando. Natalidade A natalidade é expressa por nascimentos, eclosão, germinação ou fissão. A taxa de natalidade (TN) é a relação entre o número de descendentes viáveis (n) e o total da população (N) em um dado lugar, num dado período de tempo. Basicamente, quantos indivíduos nascem num dado período de tempo em uma população. Fertilidade é o desempenho reprodutivo potencial da população (a máxima capacidade de gerar filhos) diretamente proporcional à maturidade sexual e inversamente proporcional ao cuidado parental; Fecundidade é o desempenho reprodutivo efetivo de um indivíduo, população ou espécie (quantidade de descendentes viáveis). Mortalidade A mortalidade é o número de mortes por unidade de tempo. A taxa de mortalidade (TM) é o percentagem de organismos que morrem entre o momento da fertilização parental e o momento da reprodução pela nova geração. Mortalidade bruta: mortalidade de toda a população sem discriminar grupos; Mortalidade específica: discrimina sexo, idade ou estádio (= estágio) de desenvolvimento; As taxas de mortalidade são mais variáveis do que as de natalidade. É por isto que grandes variações populacionais são expressas em termos de mortalidade e não de natalidade. Assim, os fatores chave responsáveis pelas variações populacionais são aqueles que causam altas e variáveis mortalidades de geração para geração. Distribuição Etária Total de indivíduos de uma população distribuídos por faixas/classes de idade; Importante para se verificar a estratégia de vida e/ou a estabilidade /equilíbrio da população. Pirâmides etárias com bases muito largas e topo fino (e.g. Costa Rica) indicam alta taxa de natalidade, mas também de mortalidade. Já as pirâmides mais homogêne- as (e.g. Sweden = Suécia) sugerem populações menos variáveis. Idades reprodutivas Dinâmica Populacional A análise da dinâmica ou das variações populacionais se torna bastante complicada em populações em que há sobreposição de gerações (Ex.: peixes, mamíferos, aves...) Nos casos acima, os adultos produzem diversas ninhadas e seus descendentes mais velhos se reproduzem enquanto a geração parental continua reprodutivamente ativa; Já boa parte dos insetos e outros invertebrados têm gerações discretas, com os pais morrendo no momento da reprodução; Muito do que conhecemos da dinâmica populacional vem das populações de insetos, cujo estudo, com gerações discretas e ciclos anuais, é muito mais simples e pode ser muito mais facilmente acompanhado. ECOLOGIA DE POPULAÇÕES Crescimento Populacional Crescimento populacional Pode ser entendido como o aumento do tamanho da população, ou seja, um aumento da densidade populacional; O crescimento populacional é regulado por FATORES DENSO- DEPENDENTES E DENSO-INDEPENDENTES os quais vão atuar sobre a mortalidade e/ou sobre a emigração dos indivíduos de uma população; A mortalidade só chega a influenciar, efetivamente, o crescimento populacional quando atua sobre indivíduos em idade reprodutiva ou pré-idade reprodutiva (ou seja, futuros reprodutores). Crescimento populacional Vimos que a densidade populacional instantânea, ou seja, o tamanho da população em um dado momento é dado por: Di = (N - M) + (I - E) ou Di = N + I - M - E Assim, o crescimento populacional ocorre quando o n° de nascimentos e imigrantes é maior do que o n° de mortes e emigrantes; Em inglês, as palavras para nascimento e morte são, respectivamente, “birth” e “death”. Por isso, convencionou-se utilizar B para se referir aos nascimentos e D para as mortes. A equação anterior seria então reescrita da seguinte forma: Di = B + I - D - E Considerando que o crescimento populacional seja representado pela letra N e conhecendo-se: a taxa de natalidade (B) = n° de nascimentos/tempo; a taxa de mortalidade (D) = n° de mortes/tempo; a emigração (E) e a imigração (I); ... Podemos então calcular o crescimento populacional (N) como uma mudança no tamanho da população (i.e., em sua densidade) em função do tempo (t): Crescimento populacional Para simplificar, desconsidera-se I e E. O delta (Δ) representa variação. Crescimento populacional Imaginemos agora um organismo qualquer que produza dois filhotes por geração e morra logo depois da reprodução. Imaginemos que cada um destes filhotes produza, por sua vez, dois outros descendentes e morra, e assim por diante. O que acontecerá com esta população? Ela sofrerá um crescimento geométrico ou exponencial, dobrando a cada geração; Muitas populações tendem a gerar um “excesso” de descendentes ao longo do tempo, processo contraba- lançado pela mortalidade e emigração; Este crescimento corres- ponde ao potencial biótico da espécie, no caso de ausência de fatores limitantes; Crescimento populacional – EXPONENCIAL ou GEOMÉTRICO Para determinar a equação da curva de crescimento exponencial inclui-se uma taxa de crescimento “r ”, que é função da taxa de natalidade menos a taxa de mortalidade Assim temos: e Equação da curva de crescimento exponencial Crescimento populacional – EXPONENCIAL ou GEOMÉTRICO Mas será que essa população pode continuar a crescer desta forma/neste ritmo? Existe um limite? O que determina este limite? O crescimento exponencial não se sustenta indefinida- mente na natureza papel dos “freios” / limites ambien- tais taxas de mortalidade variáveis (competição, parasitismo, patologias) e recursos ambientais finitos; Capacidade de suporte do ambiente (k) A capacidade de suporte do ambiente (k ) é o limite imposto pelo ambiente ao crescimento de uma dada população, devido à limitação no suprimento de recursos; Um exemplo para se entender k é imaginar que cada casal de reprodutores de uma população produz, em um dado momento, 4 filhotes/indivíduos pro evento reprodutivo, os quais vão crescer e se reproduzir na mesma taxa; À medida que o tamanho da popula- ção se aproxima da capacidade de suporte (k ), essa taxa de crescimen- to tende a cai para 3, 2 e 1 filhotes/ indivíduos produzidos por evento re- produtivo. Crescimento populacional – LOGÍSTICO ou SIGMOIDAL Nesse tipo de crescimento, o tamanho populacional tende a se manter próximo da capacidade de suporte do ambiente (k ) onde vivem; A manutenção do tamanho da população na k é equivalente, por exemplo, a manter uma solução salina no seu ponto de saturação (quantidade máxima suportada). Equação da curva de crescimento logístico Para a equação logística devemos acrescentar o parâmetro k, que se refere à capacidade de suporte do ambiente. Assim teremos: EQUAÇÃO DO CRESCIMENTO EXPONENCIAL EQUAÇÃO DO CRESCIMENTO LOGÍSTICO Equação da curva de crescimento logístico EQUAÇÃO DO CRESCIMENTO LOGÍSTICO Quando o tamanho da população (N) for igual à capacidade de suporte do ambiente (k), a população para de crescer; Mas o que acontece quando N < k e N > k? Crescimento populacional O tipo de crescimento da população está relacionado com a estratégia de vida; Estratégia de vida tem relação com a idade de maturação sexual (ou seja, idade em que o indivíduo está apto a se reproduzir); com a fecundidade, a expectativa de vida, as formas de uso dos recursos e outros eventos da vida de um indivíduo que influenciam na reprodução. Estratégias de vida r vs k ECOLOGIA DE POPULAÇÕES Espécies r e k estrategistas Espécies r estrategistas São aquelas que seguem o crescimento populacional geométrico ou exponencial (r). CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Curto ciclo de vida e capacidade de produzir um grande n° de ovos; Em geral, os indivíduos apresentam tamanho reduzido; Não apresentam cuidado parental, de forma que a prole sofre alta mortalidade, por isso o grande n° de descendentes. IMPORTANTE: espécies r estrategistas são excelentes competidores em ambientes que sofreram perturbações. Por isso são conhecidas como espécies oportunistas e na sucessão ecológica são, em geral, as espécies pioneiras. Espécies r estrategistas Exemplos de espécies r estrategistas espécies semelpáreas ou semélparas Espécies r estrategistas Espécies r estrategistas e conceito de semelparidade: Semelparidade: do latim semel = “apenas uma vez”, e parare = “produzir, dar a luz”. Em ecologia, diz-se da característica daquelas espécies que se reproduzem apenas uma vez na vida e morrem em seguida. Os semélparas são animais que concentram seu esforço reprodutivo em apenas uma tentativa. Acasalam e depois da deposição dos ovos, as fêmeas morrem. Nesses casos, são realizadas reproduções em massa seguidas de morte “programada”. Parte das espécies semélparas, são também “r” estrategistas. Semelparidade é o inverso de iteroparidade. Exemplos de espécies semélparas: várias espécies de insetos, muitas espécies de répteis e peixes como o salmão. Espécies k estrategistas Espécies adaptadas ao crescimento logístico (k), lembrando que o k se refere à capacidade de suporte do ambiente. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS: Ciclo de vida longo e produzem poucos descendentes por período reprodutivo; Apresentam cuidado parental, e baixa mortalidade da prole; Ao contrário das r estrategistas, as espécies k estrategistas conseguem viver e prosperar muito próximo à capacidade de suporte do meio; São adaptadas a viverem em ambientes maduros, ou seja, estáveis (CLIMAX). Espécies k estrategistas Exemplos de espécies k estrategistas Espécies iteropáreas ou iteróparas Espécies r estrategistas Espécies r estrategistas e conceito de iteroparidade: Iteroparidade: (itero do latim “várias vezes”) é o termo que descreve aquelas espécies que aqueles que apresentam vários eventos reprodutivos ao longo da vida. Essas espécies tendem a apresentar a estratégia de vida k. Exemplos de espécies iteróparas: mamíferos. Estratégia de vida e estrutura etária A estrutura etária se refere a proporção relativa de indivíduos em cada classe de idade. Populações em crescimento acelerado, possuem mais indivíduos em idade próxima da reprodução ou em idade reprodutiva apresentando uma estrutura etária em forma de pirâmide. Podem, portanto, crescer rapidamente, a medida que os jovens maturam e se reproduzem. Já as populações estáveis, têm relativamente os mesmos números em cada classe de idade. Estratégia de vida e estrutura etária População humana Desde 200.000 anos atrás, nossa espécie tem se proliferado e ocupado todo o planeta. A partir de 1650, o nosso crescimento populacional passou de lento para exponencial. Novas tecnologias para caça e agricultura permitiram esta expansão. Levamos 1800 anos para atingir a população de 1 bilhão, mas apenas 130 anos para atingir 2 bilhões, e “míseros” 45 anos para atingir 4 bilhões. Apesar dos avanços tecnológicos, os fatores que influenciam o crescimento populacional irão limitar a expansão da população humana. Isto envolverá limitações de recursos físicos e biológicos uma vez que, atualmente, a população humana já passa dos 7 bi. População humana População humana O que controla k (capacidade de suporte do meio) da população humana? Na população humana r (taxa de crescimento) está aumentando continuamente em função da tecnologia; Assim, a população humana “burla” a capacidade de suporte do ambiente, adiando a limitação do seu crescimento. Isso tem levado e pode levar a muito mais extinções de várias outras espécies para acomodar o nosso uso (“ilimitado”) dos recursos do planeta. População humana ECOLOGIA DE POPULAÇÕES Fatores denso-independentes e denso dependentes e conceito de recurso Interação entre indivíduos da população Populações são usualmente tratadas como agregados de indivíduos “equivalentes”, embora saibamos que os indivíduos são diferentes entre si; Indivíduos de uma população podem cooperar entre si (relações positivas ou harmônicas), competir por recursos limitantes (relações negativas ou desarmônicas) ou manter relações de neutralidade; A forma mais evidente de interação no nível de organização de população é a reprodução, que garante a continuidade da espécie e a variabilidade genética. Interação entre indivíduos da população RELAÇÕES INTRAESPECÍFICAS POSITIVAS OU HARMÔNICAS As relações harmônicas são aquelas que trazem benefício para os seres que dela participam; intraespecíficas são relações que ocorrem entre seres da mesma espécie. As relações harmônicasintraespecíficas são duas: a sociedade e a colônia. As sociedades constituem-se em aglomerados de indivíduos da mesma espécie que executam suas funções com a finalidade de beneficiar a população; Nas colônias, a exemplo do que ocorre nas sociedades, todos os indivíduos trabalham por objetivos comuns à coletividade, com uma diferença: os seres estão fisicamente unidos. Interação entre indivíduos da população RELAÇÕES INTRAESPECÍFICAS POSITIVAS OU HARMÔNICAS Tanto as sociedades quanto as colônias podem ser ainda: ISOMORFAS: quando os indivíduos apresentam as mesmas formas, ou seja, a forma não influencia na função, por isso qualquer indivíduo pode realizar qualquer função na sociedade ou colônia; HETEROMORFAS: quando os indivíduos possuem a forma diferenciada, portanto adaptadas as suas respectivas funções, em outras palavras, cada indivíduo apresenta atributos morfológicos restritos a função que desempenham dentro as sociedade ou colônia. Fatores denso-independentes Em geral fatores abióticos: Luminosidade; Temperatura; Latitude Altitude Umidade / pluviosidade Podem ser: previsíveis (cíclicos ou sazonais, ou seja, de periodicidade conhecida e em geral constantes) períodos secos e chuvosos, mudanças das estações do ano, fenômenos climáticos cíclicos (Ex: El Niño); ou imprevisíveis (estocásticos, aleatórios, ao acaso) asteroides, erupções vulcânicas, grandes secas ou inundações Fatores denso-dependentes Em geral fatores bióticos: ENTRE INDÍVÍDUOS DA MESMA ESPÉCIE: Espaço para reprodução; Parceiro; Alimentação / áreas de alimentação. ENTRE INDÍVÍDUOS ESPÉCIE DIFERENTES: Predação; Parasitismo; Competição. A noção de recurso RECURSO é qualquer substância ou fator consumido ou utilizado por um organismo um recurso não é apenas alimento, espaço e refúgios também são recursos; Alimento / nutriente; Espaço e refúgio; Parceiros reprodutivos; Luz; Oxigênio dissolvido na água; Recursos renováveis e não renováveis. A noção de recurso Recursos limitantes: quando um recurso é finito e a demanda por ele aumenta em função do aumento da densidade de uma população, por exemplo, o tamanho desta população será controlado pela disponibilidade deste recurso limitante, assim o tamanho da população tende a se estabilizar ou mesmo diminuir. No entanto, nem todos os recursos são limitantes, apesar de necessários. Seu potencial para limitar o desenvolvimento de uma população depende da sua disponibilidade; Populações inteiras podem ser limitadas por um único recurso mais escasso (LEI DO MÍNIMO DE LIEBIG). BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Michael BEGON, John L. Harper, Colin R. Townsend. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4ª Ed., Editora Artmed, 2007. Aulas dos professores do curso de Oceanografia da UFPR, Dr. Paulo da Cunha Lana e Dra. Érica Vidal. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA Michael BEGON, John L. Harper, Colin R. Townsend. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4ª Ed., Editora Artmed, 2007. Eugene P. ODUM. Ecologia. Editora Guanabara Koogan. 2009 Robert E. RICKLEFS. A economia da natureza. 6ª Ed., Editora Guanabara Koogan. 2010 OBRIGADA e BOA TARDE !!!
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