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Aula 4 A Polícia Civil no Braisil

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Aula 4 – A Polícia Civil no Brasil
A Polícia Civil está prevista, na Constituição Federal de 1988, no artigo 144, como força policial estadual com funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais (exceto as militares) estando subordinada aos governadores dos estados e Distrito Federal, que são os responsáveis por definir a sua estrutura organizacional, resultando em Polícias Civis com características diferente
Conforme visto na aula anterior, em cada unidade da federação, a Polícia Civil compõe com a Polícia Militar o ciclo de polícia.
Em um esquema simplificado pode-se considerar que a Polícia Civil atua depois da ocorrência de um fato que se supõe ser um crime. Cabendo a ela a função de investigar e realizar o inquérito policial.
A investigação e o inquérito policial
O “fato” chega à Polícia Civil, principalmente, através de um denunciante ou queixoso, do encaminhamento de um suspeito detido pela Polícia Militar, Guarda Municipal, ou ainda, decorrente da investigação da própria Polícia Civil. 
Diante disso, a Polícia Civil realiza o registro do Boletim de ocorrência, no qual converte o fato narrado em linguagem jurídica. 
Como durante a realização do inquérito ainda não há a acusação, esse procedimento de busca pela “verdade dos fatos”, é unilateral da ação policial (inquisitorial), podendo ser realizado em segredo, sem o conhecimento do investigado, não tendo, portanto, a possibilidade do “contraditório”, que é um dos princípios assegurados ao indiciado durante o processo judicial (Kant de Lima, 1999). 
O inquérito policial visa à sistematização de indícios e provas da culpa do suspeito. 
No Brasil, é comum dizer que a confissão é a “rainha das provas”, que explicita a percepção da supremacia da oralidade sobre outras formas de produzir ou encontrar provas, o que, está relacionado à tolerância histórica a procedimentos informais e ilegais de pressionar a confissão do investigado. 
Ratton, Torres e Bastos (2011) a partir dos relatados dos policiais pernambucanos identificaram os principais desafios à realização do inquérito policial. 
	A principal é a “lei do silêncio”, que, sob a égide do medo e ameaça, impede que testemunhas relatem crimes, principalmente em áreas onde a presença do estado é frágil, e como a investigação está centrada nas provas testemunhais, resulta em baixa elucidação de crimes. 
	Outro desafio, segundo os policiais entrevistados, é a falta de recurso para informação que faz com que policiais transformem em estratégico, até mesmo essencial, a criação e a manutenção de uma rede de informantes, que são indivíduos situados em lugares estratégicos e que “colaboram” com o policial fornecendo-lhe informações sobre criminosos, a partir de uma relação pessoal e de confiança entre informante e o agente de polícia. 
	A escassez e a demora nos laudos periciais para embasar o inquérito também foi uma dificuldade apontada. Outro ponto levantado pelos entrevistados foi o ordenamento jurídico permitindo que o suspeito “minta” durante a oitiva, o que geraria desperdício de tempo dos policiais, uma vez que se a lei possibilita o suspeito mentir é “natural” que ele mentirá para se proteger, nessa lógica ele só estaria falando a verdade se confirmasse as suspeitas dos policiais.
Política de segurança operacional
Embora a Polícia Civil seja subordinada ao executivo estadual, durante a realização do inquérito policial, como um procedimento judiciário policial, ela se submete a solicitações do judiciário por novas diligências policiais.
Esse inquérito será encaminhado ao Ministério Público, no qual o promotor aceitará a denúncia iniciando, então, o processo judicial (podendo ainda, ser devolvido à Polícia Civil solicitando mais informações sobre o caso). O inquérito – realizado de forma inquisitorial, sem a ampla defesa e o contraditório – fornece ao processo judicial indícios e provas que contribuem para que o juiz possa se convencer da culpa ou não do acusado.
O Polícial Civil 
A Polícia Civil tem o recurso humano composto por delegados de polícia – que são, pelo menos, bacharéis em Direito e responsáveis pela coordenação do trabalho policial nas delegacias ou distritos policiais – e investigadores, inspetores, agentes, carcereiros, guardas prisionais, auxiliares técnicos de Polícia Civil, comissários, escrivães – conforme a unidade da federação. 
Em 11 estados brasileiros a Polícia Técnico-Científica é subordinada à Polícia Civil, de forma que, nesses estados, os peritos criminais também fazem parte do quadro da Polícia Civil.
Em pesquisa sobre o currículo de formação profissional da Polícia Civil do Rio de Janeiro, apontou que há predomínio dos aspectos normativo-legais da Polícia Judiciária, com ênfase no Direito Penal e rotinas das Delegacias de Polícia, e ausência de disciplinas que focam o desenvolvimento de habilidades interpessoais, evidenciando, segundo Paula Poncioni (2007, p.60) “uma concepção do trabalho policial em uma perspectiva exclusivamente legalista, sugerindo que as atividades desenvolvidas pelo policial civil se restringem ao trato meramente técnico de execução plena da lei”.
As Delegacias de Polícia Civil
A Secretaria Nacional de Segurança Pública realizou uma pesquisa sobre o perfil da Polícia Civil no Brasil, e conseguiu mapear as diferenças existentes entre as estruturas organizacionais das polícias judiciárias. 
A começar pela relação entre número de delegacias por habitantes pelas unidades da federação. 
Assim, no Rio de Janeiro, há 1 delegacia para 93.137 habitantes, enquanto em 10 estados há 1 delegacia para 20 mil habitantes ou menos.
Embora seja uma tendência à desativação das carceragens, nas delegacias de polícia, 7 estados declararam que possuem mais da metade das delegacias com carceragem, o que, na maioria dos casos, desloca o policial civil do trabalho de investigação para a guarda de presos.
15% das delegacias brasileiras são especializadas, sendo que, nesse universo as principais são: especializadas no Atendimento à Mulher (correspondendo à aproximadamente 27%), Criança e Adolescente (10%), Entorpecentes (9%), Operações Especializadas (7%), Idoso (6%) e Homicídio (6%).
Perícia Criminal 
Em 11 unidades federativas, a perícia criminal está subordinada à Polícia Civil. Ainda há pouca informação sobre a Polícia Técnico-Científica que trabalha normalmente em 3 grandes áreas: Criminalística, Medicina Legal e Identificação. 
No mapeamento da perícia criminal, feito pela Secretaria de Segurança Pública, chamou atenção dos pesquisadores às informações sobre a escala de trabalho e a ausência de previsão de tempo para confecções de laudos, havendo um grande número de laudos pendentes em quase todos os estados. As escalas de trabalho variam entre os estados, sendo que em algumas, basta o perito ir uma vez por semana.
Na maioria das polícias civis brasileiras o sistema de registro de ocorrências é informatizado, gerando um banco de dados, porém 14% das delegacias não tem acesso à internet e menos da metade das polícias civis têm seu sistema de registro integrado ao da Polícia Militar. 
Os dados e a informação
A natureza do trabalho da Polícia Civil faz com que a informação seja de extrema validade. A base de dados das delegacias deveria ser um importante instrumento para a realização das investigações.
Na polícia civil, os policiais que atuam na ponta sabem muito; a instituição (quase) nada sabe. Isso significa que a instituição carece de conhecimento qualificado sem o qual não há gestão: falta diagnóstico, planejamento, avaliação e monitoramento. Quando há dados confiáveis, as dinâmicas criminais podem ser bem descritas e, em parte, antecipadas, dada a regularidade que caracteriza estes fenômenos sociais. Antecipadas, podem ser evitadas. Desde que haja planejamento em lugar de reatividade, do voluntarismo instado pela mídia ou da inércia que apenas repete padrões.
A afirmação anterior aponta para vários desafios colocados para o aperfeiçoamento do trabalho
da polícia judiciária. Investigadores, inspetores e agentes dominam o conhecimento sobre a dinâmica criminal e social de uma localidade que, não raro, não subsidia o planejamento da ação policial da sua própria delegacia, não alimenta a atuação da Polícia Militar nem é compartilhada com outras unidades da Polícia Civil, em suma, torna-se um conhecimento particular e intransferível do policial – a informação pertence ao policial e não a Polícia.
Embora muitas polícias civis já contem com um sistema informatizado de dados ainda falta aperfeiçoar esse processo e estabelecer uma cultura de produção de conhecimento, ou seja, interpretar dados transformando-os em informação. Não raro, a “produção de informação” através da informatização do sistema tem se limitado a publicização do número de registro de ocorrências, pouco se sabe do fluxo da denúncia e das dinâmicas criminais.
A falta de uma discussão aprofundada sobre a produção de dados e informação causa uma ausência de padronização que possibilite a troca de informação e a comparação entre os estados, uma vez que cada unidade da federação adota categorias, metodologias e procedimentos próprios para registrar, organizar e quantificar a criminalidade a partir do trabalho da Polícia Civil.
Controle Interno e Externo 
A Polícia Civil, pelo mesmo motivo do que a Polícia Militar possui mecanismos de controle interno e externo da sua atividade.
A Corregedoria da Polícia Civil, através de uma equipe de policiais, é responsável pelo controle interno, enquanto a Ouvidoria, normalmente coordenada por um não policial, é responsável pelo controle externo da atividade policial. 
Nos dois órgãos, o objetivo é investigar desvio de condutas. 
A Ouvidoria e a Corregedoria são mecanismos capazes de identificar e punir desvio de condutas, com potencial para provocar o debate sobre.

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