Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ARGILAS Definição Por definição argila é um material de ocorrência natural composto primariamente por partícula muito finas de minerais, os quais se tornam plásticos com a adição de água e depois endurecem se secos ou queimados**. A argila natural é proveniente da alteração de rochas silicatadas, constituída essencialmente por silicatos hidratados de alumínio, ferro, metais alcalinos e alcalinos terrosos, além de matéria orgânica e outras impurezas tais como, sais solúveis e partículas de quartzo, pirita, mica, calcita, dolomita e outros. Uma vez que a origem do material não faz parte da definição, podemos dizer que os argilominerais (ao contrário das argilas) podem ser sintéticos. Argila e argilo mineral A alteração das rochas pegmatíticas pode ocorrer por ação hidrotermal ou por ação do intemperismo. Alteração hidrotermal: gases quentes, vapor superaquecido ou soluções aquosas quentes levam à alteração de rochas e à formação dos argilominerais. Neste processo os feldspatos sódicos e potássicos presentes nas rochas, se decompõem pela dissolução do sódio e posteriormente do potássio em águas ácidas, originando a caulinita - argilomineral predominante na constituição dos caulins. Se a movimentação das águas for restringida, o potássio pode permanecer e formar a mica moscovita. A formação da caulinita pode ser representada pela equação química a seguir: K2 O. Al2 O3. 6 SiO2 + CO2 + H2O K2CO3 + Al2O3. 2SiO2. 2H2O + 4SiO2 caulinita Intemperismo: a água da chuva e as águas em movimento à temperaturas próximas da ambiente decompõem os minerais ferromagnesianos seguido dos feldspatos e depois das micas. Se a movimentação não for suficiente os minerais ferromagnesianos dão origem a montmorilonita enquanto os feldspatos podem originar a mistura de caulinita e haloisita e ao hidróxido de alumínio. Assim, sob a influência de agentes externos a rocha mãe se decompõe em minerais secundários que podem permanecer ou serem transportados. No primeiro caso, o mineral é denominado residual e no segundo caso sedimentar. Em virtude deste transporte observa-se diferenças no tamanho e a mistura diferencia-se pela agregação de produtos procedentes de outras transformações. Deste modo acordo com a sua formação as argilas são denominadas argilas residuais se permanecem no mesmo local da rocha da qual derivou, ou podem ser argilas secundárias, transportadas ou sedimentares se forem transportadas por águas, geleiras ou pelo ar para serem depositadas em rios de baixa correnteza, lagos, pântanos ou mares Constituição e Estrutura das Argilas - Constituição Fisicamente a argila é caracterizada por: Apresentar textura terrosa e conteúdo elevado de partículas com diâmetro esférico equivalente (d.e.e.) 2m; Desenvolver plasticidade quando pulverizada e misturada com uma quantidade adequada de água; Tornar-se consistente e rígida, após secagem e Adquirir grande dureza após a queima em temperatura superior a 10000C. As argilas naturais são formadas essencialmente por: a) Minerais de argila ou argilominerais, de composições variadas que incluem substituições de íons que fazem parte do retículo cristalino ou inclusões de íons estranhos ao mesmo. Dentre os argilominerais, os mais comuns são: caulinita - Al2O3. 2SiO2.2 H2O montmorilonita - [(Mg,Ca)O. Al2O3. 5SiO2.nH2O)] e ilita - ( K2O, MgO, Al2O3, SiO2, H2O em proporções variáveis) juntamente com o hidróxido de alumínio, óxidos e hidróxidos de ferro, sílica e feldspato. Estrutura dos argilo minerais Os argilominerais pertencem à classe mineral dos filossilicatos, são silicatos hidratados com estrutura cristalina em camadas superpostas de folhas contínuas de tetraedros de SiO4,(T) ordenados de forma hexagonal e folhas octaédricas de hidróxidos de metais di e trivalentes (O). Estas camadas podem estar ordenadas em folhas segundo as seqüências T-O ou T-O-T e entre elas podem estar diversos cátions de K, Na e Ca. Os argilominerais podem ser agrupados conforme a sua composição química e a seqüência do agrupamento das folhas tetraédricas e octaédricas. Os argilominerais mais importantes encontrados nos solos são os do tipo 1:1 e 2:1. A caulinita é o argilomineral mais freqüentemente encontrado na natureza, sendo formado pelo empilhamento de camadas 1:1, ou seja, em cada camada encontra-se uma folha de tetraedros SiO4 e uma folha octaédrica de Al2(OH)6 ligadas entre si pelo oxigênio comum, o que pode ser visto na figura 1 Figura 1- Estrutura dos tetraedros (a) e octaedros(b) Figura 2: Amostra de caulim Na folha octaédrica ou folha de gibsita, cada átomo de alumínio é circundado por 6 hidroxilas, formando um octaedro. Na folha de sílica ou folha tetraédrica, cada átomo de silício está ligado a quatro átomos de oxigênio, dos quais 3 são compartilhados com os tetraedros vizinhos e em cada tetraedro há um átomo de oxigênio com uma valência livre. A figura 2 apresenta um pedaço de caulim, argilomineral representativo deste tipo de estrutura. A ligação entre as camadas adjacentes é feita por ligações de H + entre átomos de O 2- e grupos de OH - , ligações estas consideradas fracas, embora os íons dentro das folhas estejam ligados fortemente. Veja figura 3. Figura 3- Esquema das ligação entre as folhas Estas ligações entre as camadas são responsáveis pela fácil clivagem paralela. Examinando uma amostra de argila num microscópio eletrônico pode-se perceber que ela é formada por pequenos cristais. Em média um cristal de caulinita, que se apresenta como pequena plaqueta hexagonal de tamanho que varia entre 0,1 a 20m (1m=10- 6 m), sendo formado por 40-50 camadas estruturais. A espessura da camada 1:1 (TO) fica em torno de 0,7nm e a camada 2:1 (TOT) é de mais ou menos 1nm. Veja a figura 4. Figura 4- Microscopia eletrônica de varredura de caulinita. b) Minerais não filossilicatos, tais como carbonatos, feldspatos e quartzos juntos com (hidr)oxi de ferro e alumínio. Uma vez que não conferem plasticidade à argila, são chamados “constituintes não-argila” ou “minerais associados”. A presença de minerais associados nos depósitos de argila reduz seu valor comercial. Classificação das Argilas. As argilas podem ser classificadas segundo vários aspectos, tais como o geológico, o mineralógico, suas propriedades e uso. 1) De acordo com a sua composição mineralógica, ou seja, o mineral argiloso predominante: a) Argilas Cauliníticas; b) Argilas ilíticas, c) Argilas montmoriloníticas, etc.. Para indústria a classificação de maior utilidade é a realizada segundo as propriedades e, portanto o uso das argilas. Assim, as argilas usadas na indústria cerâmica podem ser divididas em três grupos: a) Caulim ou china clay: são argila cujo argilomineral predominante é a caulinita. São formados a partir da decomposição de rochas com teores de SiO2 acima de 65 %, tais como granitos, gnaisses e pegmatitos. Junto ao caulim bruto são encontrados quartzo, feldspatos, micas, óxidos de titânio, óxidos e hidróxidos de ferro trivalente, pirita, siderita, marcassita, ilmenita, biotita, fluorita, etc. Alguns caulins apresentam hidróxidos de alumínio que aumentam o conteúdo de alumina. Os que resultam de decomposições que permanecem no mesmo local são denominados caulins residuais ou primários enquanto aqueles caulins formados por produto de decomposição transportadoe sedimentado em outro local são os caulins sedimentares. Os caulins sedimentares apresentam via-de-regra, granulometria inferior àquela observada nos caulins residuais. Apresentam teores mais elevados de TiO2, geralmente sob a forma de anatásio e rutilo, assim como de Fe2O3, sob a forma de hematita, goethita e limonita. Os caulins residuais apresentam, por sua vez, maior contaminação com minerais como mica e quartzo, concentrados na fração granulométrica >20m. Outros minerais presentes ocasionalmente no caulim são a nacrita, dickita, haloisita, etc. Os caulins haloisíticos são de consideráveis interesses para os fabricantes de cerâmica branca porque são capazes de dar pastas muito brancas, são mais refratários e têm maior resistência mecânica em verde e em seco devido a trama desenvolvida pelos cristais tubulares mais ou menos alongados da haloisita. Forma esta que pode ser revelada pelo microscópio eletrônico. Sua estrutura tem por fórmula Al2(Si2O5) (OH)4..2 H2O. Aquecida à 50°C perde as duas moléculas de água e se transforma em metahaloisita de estrutura similar a da caulinita. . a) b) Figura 5- Microscopia de transmissão (a) e de varredura (b) da haloisita. Podem entrar em adição ou em substituição às argilas plásticas. Apresentam plasticidade e resistência mecânica à seco inferiores a estas mas com comportamento na queima semelhante ou superior. Geralmente entram na massa cerâmica para completar uma distribuição granulométrica e melhorar a permeabilidade além de contribuir para o clareamento da cor e a mutilização do material queimado em temperaturas mais elevadas. A amplitude e a diversidade do uso industrial do caulim são consequência de uma série de propriedades dentre as quais se destaca a brancura, a inércia diante de alguns compostos químicos, sua ausência de toxidade, o pequeno tamanho de suas partículas, etc.. b) Argilas de cor branca após o cozimento: São argilas com baixa proporção de óxidos de ferro (menor que 3% em peso) e geralmente com alto teor de caulinita. Usadas na indústria cerâmica para a fabricação de cerâmica decorativa, cerâmica técnica e sanitária e para a produção de revestimentos. De acordo com as características químicas, físicas, mineralógicas ou genéticas que apresentam podem ser divididas nos seguintes tipos: b.1) Argilas do tipo ball clay ou argila "bola" são argilas cauliníticas-ilíticas de plasticidade extremamente elevada, granulometria fina, No estado natural variam da cor creme-escura ou rosada até várias tonalidades de cinza e preto, entretanto após queima acima de 1000°C , apresentam cores claras, porém mais escuras que as dos caulins; após queima na faixa de 1000-1250°C, tornam-se bastante densas e vitrificadas. Cinquenta a noventa por cento das partículas apresentam d.e.e menor que 1m, e conferem à massa cerâmica elevada resistência mecânica á crú e após a queima. Além da indústria de cerâmica branca, as "ball clay" são muito utilizadas na indústria de refratários devido suas propriedades ligantes e refratárias, estas devidas aos teores relativamente elevados em Al2O3 e aos baixos teores em álcalis e ferro. Essas argilas são geralmente cauliníticas, ricas em matéria orgânica e ácidos húmicos que lhes conferem grande plasticidade antes da queima e a coloração escura. Podendo apresentar teores de esmectita, sendo a caulinita, geralmente mal cristalizada. Na indústria cerâmica são apreciadas por fornecer alta plasticidade, alta resistência a seco, cor branca após a queima e propriedades reológicas ideais para colagem, sendo empregadas em massas para confecção de azulejos, porcelanas domésticas, louça de mesa, louça sanitária e isolantes elétricos de porcelana e produtos onde a brancura é um requisito importante. b.2)Argilas refratárias ou " fire clay": são argilas sedimentares cauliníticas e/ou haloisíticas, plástica que contêm baixos teores de óxidos e hidróxidos de Fe, Mg e álcalis e que podem suportar temperaturas acima de 1500ºC. São usadas na fabricação de louça de mesa, de forno e de cerâmica ornamental. b.3) Argila do tipo flint; são argilas encontradas sob lençóis de carvão, são duras e compactas. São compostas de caulinita relativamente ordenadas e com baixos teores em fundentes: Fe2O3 < 5%, CaO +MgO < 5% e K2 O+ Na 2O < 3%. São muito abrasivas e estão altamente qualificadas como matéria prima para refratários. c) Argilas de queima vermelha: são argilas ilítica-caulinítica com uma proporção média ou alta de óxidos de ferro São argilas usadas para fabricar materiais do tipo tijolos de alvenaria e furados, telhas, ladrilhos de piso, objetos de adorno (elementos vazados) e outros. Neste segmento as argilas usadas contêm demasiado material fundente para fabricação de refratário e demasiado ferro para o emprego em cerâmica branca. As argilas utilizadas para fabricação de tijolos de alvenaria, tijolos e telhas de vários tipos são geralmente sedimentares recentes, de deposição em várzeas e margens de rios. Estas argilas devem apresentar fácil modelagem, ter valor médio ou elevado de tensão de ruptura a flexão antes e após a queima (950°C) com um mínimo de trincas e empenamentos. Um teor excessivo de ferro divalente, elementos alcalinos e alcalinos terrosos aumentam a retração, reduzem a faixa de vitrificação e causam colorações indesejáveis. Na fabricação de telhas as argilas devem possuir plasticidade adequada para a moldagem, tensão ou módulo de ruptura à flexão elevado quando secas, para permitir seu manuseio durante a fabricação e após a secagem, porosidade aparente e absorção de água baixas e não devem apresentar trincas ou empenamentos após secagem e queima. Quanto à composição mineralógica as argilas usadas em tijolos e telhas apresentam uma mistura de caulinita com ilita e montmorilonita, além de teor apreciável de ferro na forma de hidróxidos de férricos. Nos ladrilhos de pisos as argilas devem ser plásticas, de fácil moldagem, com elevados teores em ferro e de metais alcalinos, que vitrificam em temperaturas relativamente baixas (1000 a 1100°C), sem tendência a empenar. A cor vermelho vivo, sem manchas, valores baixo de absorção de água e porosidade aparente abaixo de 5% são as características desejáveis a este material além da elevada resistência à abrasão devido ao elevado grau de vitrificação atingido. As argilas que satisfazem estas condições são essencialmente ilíticas que no Brasil recebem o nome de "taguá". São ricas em potássio e em ferro, de baixa granulometria, o que lhes dá teor elevado de fundentes e boa plasticidade na moldagem. Classificação das argilas para fins cerâmicos. Para prever o uso das argilas (cerâmicos ou não) os laboratórios de análises seguem três etapas, que são as seguintes: 1) Classificação de argila em três grupos cerâmicos pela cor apresentada pelo corpo de prova após secagem a 110°C e após queima em três temperaturas; 2) Classificação em subgrupos pelas propriedades físico-mecânicas ou propriedades cerâmicas e 3) Classificação em um dos tipos de argilas industriais. Na classificação para fins cerâmicos, os corpos de provas seguem normas padronizadas pela American Ceramic Society. Estes corpos são queimados nas temperaturas de 950°C , 1250°C e 1450°C durante três horas, em atmosfera oxidante. Após resfriamento observam-se as cores adquiridas em cada queima, conforme esquema da tabela a seguir: Tabela 1- Classificação preliminar de argilas para uso cerâmico com base nas cores apresentadas após queima em três temperaturas. Grupo Cerâmico Cores dos corpos de prova 110°C 950°C 1250°C 1450°C C erâm ic a v er m el h a Vermelha, marrom, creme,verde,violácea e outras cores, exceto branca. Vermelha com diversas tonalidades; amarela, marrom-clara. Creme amarelada, vermelha, vermelha escura, marrom escuro, marrom clara e preta Marrom -escura, com ou sem perda de forma; cinza esverdeada, cinza escura, preta com fusão. C er âm ic a b ra n ca Branca, creme-clara, creme-escura, rosa- claro, rosa-escura, cinza-claro, preta. Branca, creme- clara, rosa-clara, rosa-escura, amarelo-clara Branca, creme-clara, creme-escura, cinza- clara, cinza-escura, marrom, amarela. Branca, creme-clara, cinza-clara, cinza- esverdeado, cinza com perda de forma. P ro d u to s re fr at ár io s Branca, creme-clara, cinza, cinza-clara,, cinza-escuro, preta. Branca, rosa, creme-clara, marrom-clara, branca-cremosa, branca-rosada. Amarela-clara, creme, creme- clara,cinza-clara Branca, cinza-clara, creme-clara, cinza- escura, marrom-escura sem perda de forma. As argilas para cerâmica vermelha podem apresentar fusão parcial (arredondamento das arestas) ou total; pode apresentar inchamento produzido por desprendimentos de gases que deforma totalmente o corpo de prova, sendo este o indício que a argila pode ser estudada para produção agregado leve. A fusão completa em 1450°C exclui o uso destas argilas em cerâmica branca ou na fabricação de refratários de boa qualidade. As argilas para cerâmica branca queimam com cores claras a 1250° C que é a temperatura usual de queima da cerâmica branca da melhor qualidade ou de maior responsabilidade. A 1450°C as cores são iguais ou então escurecem e também podem fundir. Neste ponto é possível fazer a distinção entre os três tipos de matéria -prima usada na cerâmica branca: os caulins, as argilas plásticas e os filitos cerâmicos. Escurecendo a esta temperatura significa que o caulim só pode ser usado em temperaturas abaixo de 1300°C, a exemplo do material sanitário que é queimado entre 1250 e 1280°C. As argilas plásticas para cerâmica branca são argilas de resistência mecânica elevada no estado cru, sendo empregadas para dar às peças cerâmicas uma resistência à verde, após secagem à 110°C e durante a queima, que permita o manuseio e o empilhamento no forno, além da plasticidade quando isto é importante. A 1450°C tendem escurecer para as cores cinza ou marrom. Se forem ricas em fundentes, especialmente potássio, podem vitrificar totalmente a 1250°C e fundir a 1450°C; as de granulometria fina e pobres em fundentes podem vitrificar a 1250°C mas não fundem em 1450°C e neste caso podem ser utilizadas como material refratário. Os "filitos cerâmicos" (rochas metamórficas estratificadas ou laminadas constituída por uma mistura de caulinita, mica muscovita finamente dividida - a sericita - e quartzo ) apresentam cores claras com uma tonalidade amarelada ou esverdeada, devido a mica. Quando queimados a 1250°C adquirem tonalidade cinza esverdeado que os caracterizam além da vitrificação (devido ao potássio ) total ou quase total que os torna úteis como fundentes na cerâmica branca. Suas propriedades plásticas e não plásticas permitem compor até 50% de muitas massas cerâmicas. As argilas refratárias apresentam cores claras a 950 e 1250°C e cores escuras a 1450°C que neste ponto se diferenciam dos caulins para porcelanas que queima com cor branca e que também podem ser usados na fabricação de material refratário silico-aluminoso e aluminoso. Este ensaio serve apenas para orientar os ensaios posteriores mais completos e específicos.
Compartilhar