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Revolução Francesa

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A REVOLUÇÃO FRANCESA
A revolução na França marcou a transição do Estado Absolutista pro Estado Liberal e teve um impacto no mundo ocidental como nenhuma outra. O ocidente se transformou em outro após a Revolução Francesa, não apenas em termos políticos, mas também no Direito. O ideário constitucionalista que impregnou as várias fases da revolução foi exportado para todo o ocidente, a ponto de não mais ser concebível um país sem uma Constituição.
Baseada em princípios e ideias liberais, além de nacionalistas, foi um movimento que eclodiu na França no final do Século XVIII. O caldo que fervilhava aquelas ideias consistia numa série de privilégios e discriminações inaceitáveis para os ares iluministas que sopravam na Europa. 
CONJUNTURA POLÍTICO-ECONÔMICA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA
Às vésperas da Revolução Francesa o país ainda era agrário e o capitalismo já estava presente, mas a organização social era baseada em estamentos, como na Idade Média.
A sociedade era dividida em três estados: o primeiro estado, no qual se encontrava o Clero (alto clero e baixo clero); no segundo estado estava a nobreza (nobreza palaciana, nobreza provincial e a nobreza de toga); o terceiro estado abrangia 98% da população e era formado por inúmeros grupos subdivididos como classes sociais (baseados no poder econômico: alta burguesia, média burguesia e baixa burguesia, além de outro grupo heterogêneo formado por artesãos, aprendizes, empregados e a enorme massa rural).
Apenas o terceiro estado pagava imposto, porém quem vivia à custa do dinheiro público que vinha desses impostos eram o primeiro e o segundo estado, o que acabou levando o terceiro estado a reivindicar igualdade civil e política. 
A injusta contabilidade francesa acabou por tornar a economia do país um caos, o déficit no orçamento era imenso e a dívida externa era o dobro de todo o dinheiro em circulação na França. Além disso, a indústria sofreu um sério dano, uma seca diminuiu a produção de alimentos o que acarretou no aumento do preço, o povo passava por dificuldades e, mesmo sem poder gastar, o governo Francês apoiou a independência norte-americana.
Tentando vencer a crise, o governo convocou a Assembleia dos Notáveis de 1787: representantes do Clero, da Nobreza e da Alta burguesia, que teve como proposta o aumento dos impostos territoriais, mas foi recusada pelos nobres. O que levou o rei Luis XVI a nomear então um novo ministro e convocar a “Assembleia dos Estados Gerais”.
O terceiro estado tinha mais deputados que os outros dois juntos, porém perderia todas as votações que era feitas por estado e não por deputado. Com o terceiro estado se recusando a aceitas esse sistema de votação, os representantes desse estamento se autoproclamaram “Assembleia Nacional” e sob oposição do rei receberam adeptos do Iluminismo que eram também representantes dos outros dois estados.
ASSEMBLEIA CONSTITUINTE E A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO 
Em 9 de julho de 1798 a Assembléia constituinte, sob o juramento dos deputados, decidiu só se dispersarem após criarem para França uma Constituição.
A força da mudança começa a alcançar também o povo, inicia-se então o caráter popular na revolução.
No dia 26 de agosto é aprovada a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão que Luis XVI recusa-se a aprovar gerando uma maior reação popular. O símbolo da monarquia absolutista francesa, o Palácio de Versalhes, é então invadido pelo povo.
Para aqueles que produziram a Declaração de Direitos, havia a necessidade desta, já que a partir da ignorância ou não-aplicação de direitos é que são gerados os males da sociedade.
Isto é afirmado no prefacio da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão:
“Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.”
O Iluminismo, somado às necessidades de igualdade presentes na sociedade gerou o primeiro artigo:
Art.1º. “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.”
A Declaração invoca também a fonte de poder e o objetivo de governos, levando em consideração o que os revolucionários consideravam como direitos naturais: 
Art. 2º. “A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão.”
Art. 3º. “O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.”
Define a lei e seus objetivos:
Art. 4º. “A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.”
Art. 5º. “A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.”
Art. 6º. “A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.”
O princípio da legalidade:
Art. 7º. “Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.”
O princípio da necessidade das leis: 
Art. 8º. “A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.”
O In Dubio Pro Reo:
Art. 9º. “Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.”
A liberdade de opinião:
Art. 10º. “Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.”
Art. 11º. “A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.”
A Declaração explicita a necessidade de impostos por causa da manutenção de uma força publica e de uma administração capaz de manter os direitos do cidadão. Mas toma cuidado de impor regras para que isto seja feito de forma aberta:
Art. 12º. “A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.”
Art. 13º. “Para a manutenção da força pública e para asdespesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.”
Art. 14º. “Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração.”
Art. 15º. “A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.”
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA MULHER E DA CIDADÃ
As mulheres tiveram grande importância na Revolução, isso porque lutaram como e com os homens revolucionários, porem elas não tinham espaço, era possível visualizar isso na Declaração dos Direitos dos Homens e de Cidadão.
Na bela França o direito das mulheres ficou em segundo plano. As mulheres só puderam votar a partir de 1944. A França foi a penúltima a dar esse direito a mulher.
A mulher era colocada na esfera particular e não poderia tomar parte da esfera pública, o que era considerado espaço exclusivamente dos homens. Assim as mulheres e crianças eram taxadas como incapazes para tal.
As francesas revolucionárias então, foram em busca da igualdade, para ganhar espaço, porém a Comissão de Segurança Geral em relatório, regido pelo deputado André Amar, sustentou que a mulher não deveria sair da família para interferir no que dizia respeito ao assunto do governo. Ele argumentava que “as funções privadas a que as mulheres são destinadas pela própria natureza são inertes à ordem geral da sociedade: essa ordem social é resultado da diferença que existe entre o homem e a mulher”. O mesmo segue a linha da “natureza”, ou seja, justifica a não inclusão das mulheres em resposta as que se organizavam para pressionar os Chefes da Revolução e os que produziam documentos que mesmo não tendo valor legal objetivava a inclusão feminina.
Em 1791, com a decepção das revolucionárias, Olympe de Gouges redigiu a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, que se tornou um marco na história de ideias de igualdade. Baseou-se na Declaração do Homem e do Cidadão buscando incluir tanto homens como mulheres.
Em uma analise feito por Ute Gehard é notório que o texto mostra a importância dos direitos femininos, e foi destinado a esclarecer que, os direitos dos indivíduos reivindicam com validade e consequências para a posição jurídica de homens e mulheres. 
	Olympe questiona a diferença que existe entre homens e mulheres e diz que somente o ser humano impõe essa diferença, pois em todos os outros campos machos e fêmeas são cooperativos e se encontram em harmonia.
Já que homens e mulheres haviam lutado juntos para derrubar a monarquia era justo que possuíssem os mesmos direitos e não manter as mulheres na mesma situação de quando se iniciou a revolução. Assim Olympe de Gouges coloca homens e mulheres lado a lado. 
Artigo 1º “A mulher nasce livre e tem os mesmos direitos do homem. As distinções sociais só podem ser baseadas no interesse comum.”
 Os artigos VI,VII,VII,IX demonstram toda a igualdade exigida por Olympe tanto na feitura quanto na aplicação das leis:
 Artigo 6º “A lei deve ser a expressão da vontade geral. Todas as cidadãs e cidadãos devem concorrer pessoalmente ou com seus representantes para sua formação; ela deve ser igual para todos. 
Todas as cidadãs e cidadãos, sendo iguais aos olhos da lei devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, segundo as suas capacidades e sem outra distinção a não ser suas virtudes e seus talentos.”
 
Artigo 7º “Dela não se exclui nenhuma mulher. Esta é acusada., presa e detida nos casos estabelecidos pela lei. As mulheres obedecem, como os homens, a esta lei rigorosa.”
 
Artigo 8º “A lei só deve estabelecer penas estritamente e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada às mulheres.”
 
Artigo 9º “Sobre qualquer mulher declarada culpada a lei exerce todo o seu rigor.”
Olympe de Gouges exigia a igualdade de fato independente das perdas ou ganhos e com relação a liberdade de expressa ela inclui a mulher como agente expressivo de opiniões 
AS CONSTITUIÇÕES REVOLUCIONÁRIAS
A França Revolucionária conheceu mais de uma constituição, cada qual com sua característica, de acordo com a fase da revolução em que o país se encontrava. As leis foram redigidas de forma a atender à ideologia do grupo que se encontrava no poder. Em um curto espaço de tempo muitos grupos alternaram-se no comando do país.
A princípio a Revolução apresenta-se como uma mudança não muito radical a subordinar o rei à lei e a instituir uma maior igualdade social, encontra-se na primeira constituição de 1791 da revolução chamada Monarquia constitucional. O rei não admitia perda de poder inclusive tentou fugir da França para preparar um exército para acabar com a revolução. 
Após o início da Guerra contrarrevolucionária de outros países europeus contra a França, a Assembleia acabou apoiando a Convenção Nacional devido não conseguir conter a insatisfação do povo. A Convenção condenou o rei à morte e proclamou a República.
A convenção buscou reinventar a França: um novo calendário, uma nova constituição, a constituição de 1795 foi curta e indicava apenas a condição do momento da França. A convenção Instituiu um Tribunal para julgar os contrarrevolucionários, a guilhotina foi utilizada em grande escala e esse período ficou conhecido como o do ‘’Terror’’.
Referências
CASTRO, Flávia Lages. Historia do Direito Geral e do Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2005.
PEDROSA, Ronaldo Leite. Direito em História. Nova Friburgo: Imagem Virtual. 1999.

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