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CURSO: Direito DISCIPLINA: Direito Ambiental CARGA HORÁRIA: 45h CRÉDITOS: 03 OBJETIVOS Proporcionar condições à compreensão da evolução e da moderna construção do Direito Ambiental e dos meios, instrumentos e mecanismos à prevenção e à defesa do meio ambiente em face de danos, crimes e ilícitos administrativos, a fim de assegurar, aos agentes da aprendizagem, base teórica a elementos à prática advocatícia como futuros operadores do Direito, sob fundamentos da ética nas relações entre os homens e dos homens com os bens ambientais da vida. EMENTA Evolução histórica do Direito Ambiental. Conceitos básicos. Princípios fundamentais. A política nacional de meio ambiente. Órgãos do sistema nacional de meio ambiente e competências. Legislação aplicada à política nacional de meio ambiente e dela decorrente. Leis especiais sobre matérias de relevante interesse ambiental. A tutela jurídica ao meio ambiente. A proteção aos bens ambientais nas várias esferas projetivas e sua classificação. Bens especialmente protegidos. Prevenção ambiental: estudo prévio de impacto ambiental e o relatório de impacto do meio ambiental. Licenciamento ambiental. Zoneamento ambiental. Termo de compromisso. Normas técnicas sobre gestão e auditoria ambiental. Defesa: responsabilidade civil por danos e prejuízos ambientais, responsabilidade criminal e responsabilidade administrativa. A proteção à pessoa em face do mau uso de bem ambiental. Reflexões sobre questões ambientais críticas na atualidade. Conteúdo Programático UNIDADE I - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL. I.1 - A associação/ dissolução: Homem – Natureza. I.2 - As etapas à percepção da problemática ambiental. I.3 - Equilíbrio / Desequilíbrio. I.4 - Direito Ambiental. I.5 - A evolução histórica da Legislação de Proteção. I.6 - Tutela internacional do meio ambiente. I.7 - Meio ambiente e o desenvolvimento sustentável/direito ambiental de sustentação. Declaração do rio/92. I.8 - Protocolo de Kyoto. I.9 - Meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. I.10 - A vida como destinatária do direito ambiental. UNIDADE II - OS FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. II.1 - Meio Ambiente. II.2 - A Lei 6.938/81. II.3 - O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. II.4 - Meio Ambiente / Direito ao meio ambiente. II.5 - Bem ambiental: bem de uso comum do povo. II.6 - Desapropriação direta e indireta. II.7 - Funções sociais da cidade e da propriedade rural. UNIDADE III - DIRETRIZES, PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E FINALIDADES DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. III.1 – Diretrizes. III.2 - Princípios e objetivos. III.3 - Finalidades e aspectos conceituais. III.4 - Espaços territoriais especialmente protegidos. III.5 - Órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). III.6 – Competências. III.7 - Indicações para reflexão preventiva ao desenvolvimento da matéria. UNIDADE IV - LEIS ESPECIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. IV.1 - A problemática da água e a Lei N. 9.433/97 – outorga pelo uso da água. IV.2 - A Lei N. 9433/97 – Lei das águas. IV.3 - Outorga do uso da água. IV.4 - Estatuto da cidade. IV.5 - Lei de biossegurança. UNIDADE V - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL. V.1 - Conceitos básicos. V.2 - Conceito jurídico segundo a idéia de relação. V.3 - Fontes do Direito Ambiental. V.4 - Princípios de Direito Ambiental. V.5 - Tutela protetiva de interesses difusos. V.6 - Em benefício de todos. UNIDADE VI - BENS AMBIENTAIS: PREVENÇÃO E RESPONSABILIDADE. VI.1 - Bens de uso comum do povo. VI.2 – Prevenção. VI.3 – Responsabilidade. VI.4 - Responsabilidade penal e administrativa. VI.5 - Conflito de interesses entre a propriedade privada e o meio ambiente. VI.6 - Atuação do Estado. VI.7 - Subsídios para complementação de conteúdo e fins práticos. UNIDADE VII - DEFESA AMBIENTAL VII.1 - Defesa em decorrência de fato lesivo. VII.2 - Defesa em face de ato lesivo. VII.3 - Mandado de segurança coletivo ambiental. VII.4 - Mandado de injunção ambiental. VII.5 - Proteção a pessoas em face do mau uso de bens ambientais. VII.6 - Relações distintas de direito. VII.7 - Crimes ambientais e ilícitos administrativos. BIBLIOGRAFIA BÁSICA MILARÉ, ÉDIS. Direito do Ambiente. São Paulo: RT, 2006. FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2006. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR SAMPAIO, F. J. M. Responsabilidade Civil e Reparação de Danos ao Meio Ambiente. 1ª edição. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1998. TOSTES, A. Sistema de Legislação Ambiental. 1ª edição. Petrópolis (RJ): Vozes, 1994. MUKAI, T. Direito Ambiental Sistematizado. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitário, 1998. ANTUNES, Paulo Bessa. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: 2001. MORAES, Luís Carlos da Silva. Curso de Direito Ambiental. São Paulo: 2001. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. 1 DIREITO AMBIENTAL www.universo.edu.br DIREITO AMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Direito Ambiental. Uma apresentação... Os textos, a seguir, nas várias unidades em que se desdobram, são aberturas a um diálogo que se inicia. Estamos, a partir de agora, estabelecendo relação entre o conhecimento que se transmite e a resposta que retorna. Mesmo à distância, estamos bem próximos. E por que a proximidade mesmo à distância? Porque nos une natural identificação com a causa a que aderimos: a do meio ambiente. Nossa luta é pela manutenção das condições do que está equilibrado e pelo reequilíbrio do que está desequilibrado. E haja desequilíbrio! Então, o que fazer pelo que nos cabe visando ao equilíbrio ecológico? O estudante de Direito, no seu campo de estudo, tem responsabilidade social muito grande porque, antes de se tornar operador do Direito, deve dominar conteúdos e reunir informações a fim de se preparar para desempenho profissional eficaz. O desafio, sem dúvida, é complexo. No caso do Direito Ambiental, além do domínio dos princípios e das técnicas jurídicas, requer-se dele consciência da problemática social e de suas implicações para a “vida em todas as suas formas”. Até a 4ª Unidade, destaca-se a Política Nacional do Meio Ambiente cujas linhas contêm todos os elementos à determinação do Direito Ambiental. Sendo regulada por lei, sua disciplina legal integra a legislação de Direito Ambiental. Na 4ª Unidade três leis especiais, por se enquadrarem à Política Nacional do Meio Ambiente e por sua importância, são objetos de destaque. A partir da quarta unidade, com as suas bases assentadas, passa-se ao Direito Ambiental como um complexo de relações visando à proteção de bens ambientais em face de ações e omissões de que resultam a degradação e a poluição. A linguagem e a distribuição da matéria buscam facilitar a leitura sem comprometer a qualidade dos conteúdos. E sempre que se mencionam termos técnicos, coloca-se o respectivo significado, para que as atenções não se desviem de pontos essenciais de conteúdos sob exame e, assim, não se dispersem. Evitam-se, ao máximo, dissociações, às vezes, inevitáveis, dando-se força a associações temáticas: se um assunto está ligado a outro e um concorre para o melhor entendimento do outro, os dois são tratados em conjunto ainda que comportem abordagem em separado. Exemplo: ajuíza-se Ação Civil Pública por danos ambientais; fornecem-se indicações sobre a Ação Civil Pública sob o aspecto processual e acrescentam-se elementos sobre responsabilidade civil visando à necessária reparação. 1 DIREITO AMBIENTAL www.universo.edu.br DIREITOAMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL U N ID A D E 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL É nesta nossa primeira unidade de estudo que todas as portas se abrem para que você penetre nas questões e nos assuntos relativos ao meio ambiente e ao direito ambiental. Dá-se ênfase às relações do homem com a natureza, à percepção da gravidade da problemática ambiental inclusive tendo em vista os desequilíbrios que afetam este planeta. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Compreender com base na evolução histórica do Direito Ambiental, elementos para uma visão concreta de como as questões relativas ao meio ambiente resultaram em legislação de proteção. • Identificar as etapas da percepção crítica da problemática ambiental. • Evidenciar a tutela ao meio ambiente como um dado evolutivo na medida em que, de uma relação inicialmente benéfica ao meio natural, a intervenção humana, com a industrialização e o crescimento populacional dos séculos XVIII a XX, se faz de modo nocivo à natureza. • Evidenciar o direito ao meio ambiente como uma resposta do homem consciente ao homem degradador e poluidor. PLANO DA UNIDADE: • A associação/ dissolução: Homem – Natureza. • As etapas à percepção da problemática ambiental. • Equilíbrio / Desequilíbrio. • Direito Ambiental. • A evolução histórica da Legislação de Proteção. • Tutela internacional do meio ambiente. • Meio ambiente e o desenvolvimento sustentável/direito ambiental de sustentação. Declaração do rio/92. • Protocolo de Kyoto. • Meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. • A vida como destinatária do direito ambiental. Bem-vindo à primeira Unidade de Estudo. Sucesso! UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL A ASSOCIAÇÃO/DISSOLUÇÃO: HOMEM - NATUREZA Meio ambiente, é claro, tem tudo a ver com natureza. E com a natureza. Portanto, é a natureza que se revela no meio ambiente. Os seus bens, ou seja, tudo o que é natural, ora se mostram intactos, sem lesões, ora refletem as lesões de que têm sido “vítimas”. Você, que se inicia ou se aprofunda na matéria ambiental, precisa, antes de tudo, conhecer como a natureza vem sendo tratada pelo homem. E isto, como você verá, aos poucos, neste trabalho, é a base da compreensão de um processo na relação homem - natureza – que começou com a natureza em vantagem, a colocou depois em desvantagem e se espera que, por fim, o que se desequilibrou no meio natural volte a reequilibrar-se com a natureza recuperando aquilo que, com o tempo, veio a perder. Tanto quanto possível, é claro. De início, você deve ter essa “visão de processo” sem uma idéia de como, exatamente, tudo terminará. O esquema a seguir nos traz essa “visão”: No princípio, o homem necessita da natureza e se identifica com ela. Sob certo aspecto, pode-se dizer que o homem é controlado por ela e depende dela. A fúria dos elementos tem de ser aplacada por rituais e sacrifícios. O desconhecido gera crença e mitos. O inexplicável encontra algum tipo de explicação, mas o homem é frágil na sua defesa ante as agressões do “meio” (fenômenos naturais; animais) e a luta pela subsistência alimentar e pela sobrevivência. O homem começou a exercer algum controle sobre a natureza com a “descoberta”1 do fogo, o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Esse controle foi aumentado, aos poucos, mas a intervenção humana no meio natural e na construção de seu ambiente é tímida e não tem grande significação até as transformações posteriores que mudam sua vida e sua história. DIREITO AMBIENTAL É importante considerar que, da interação homem-natureza, passa- se, progressivamente, à ação do homem sobre a natureza. O que acontece, então? Essa interferência se dá em vários níveis, age de diferentes maneiras sobre os componentes do meio: ar, solo, água e seres vivos. Grandes reflexos deste processo podem ser verificados, por exemplo, nas atividades agrícolas e florestais que, praticadas extensivamente, tornam-se responsáveis por alterações significativas. Por outro lado, o ecossistema urbano traz, sem dúvida, marcas bastante profundas da intervenção humana. Os autores destacam que: “Uma das aptidões cada vez maior do ser humano para modificar e criar seu próprio ambiente foi a capacidade de manter um crescimento populacional constante. No entanto, foram as novas tecnologias industriais, agrícolas e medicinais dos últimos 200 anos que propiciaram o aumento das taxas de expansão demográfica. A ocupação do solo de forma inconseqüente e acelerada no último século, sem a implantação de uma infra-estrutura adequada, contribuiu bastante para vários danos ambientais. As alterações provocadas podem ser mais ou menos abrangentes, localizadas ou extensivas, criando gradientes de interferência nos macrocompartimentos da biosfera.” Todavia, com a revolução industrial (séculos XVIII-XX), um tipo de industrialismo é adotado sem consideração qualquer à qualidade da intervenção humana na natureza; as “influências e interferências”2 poluidoras e degradadoras adquirem extensão e profundidade. Problemas ambientais em escala global se acentuam devido aos padrões de consumo dos países industriais do Primeiro Mundo. Como constata Elmo da Silva Amador na introdução à obra Avaliação e Perícia Ambiental: “O desmantelamento dos sistemas naturais apresenta muitos aspectos, mas o que caracteriza o homem moderno e o distingue das sociedades não industriais é a sua agressão total. Enquanto os estragos causados pelas culturas primitivas eram limitados e localizados, permanecendo a maior parte do globo intacta, hoje nada escapa. A crise ecológica que atualmente abala o planeta não mais se resume à morte deste ou daquele rio, no desaparecimento dessa ou daquela espécie ou no envenenamento do ar das grandes cidades. O mal afeta a ecoesfera como um todo. (citando Lutzemberg, 1978). E concluindo: “O modelo vigente de desenvolvimento é o responsável pela crise ecológica. Há quatro séculos todas as sociedades mundiais são reféns de um mito: o do “progresso e do crescimento ilimitado”.” (p. 12). UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL ETAPAS À PERCEPÇÃO DA PROBLEMÁTICA AMBIENTAL De todas essas referências que pertencem à história, constata-se que o homem, ao tomar consciência delas, veio a perceber, criticamente, as etapas da problemática ambiental, isto é, de como os problemas ambientais evoluíram. Barbieri identifica três etapas fundamentais à percepção da problemática ambiental e ao equacionamento e adoção de soluções compatíveis: “A primeira etapa baseia-se em problemas ambientais localizados e atribuídos à ignorância, negligência, dolo ou indiferença das pessoas e dos agentes produtores e consumidores...; numa segunda etapa, a degradação ambiental é percebida como um problema generalizado, porém confinado nos limites territoriais dos Estados nacionais. Gestão inadequada dos recursos, além das causas anteriormente citadas, é apontada como causa básica dos problemas percebidos...; na terceira etapa, a degradação ambiental é percebida como um problema planetário que atinge a todos e que decorre do tipo de desenvolvimento praticado pelos países.” (Barbieri, 1997: 15-16). Fala-se, agora, em desenvolvimento sustentável e o conceito de sustentabilidade, conforme Barbieri (1997, p. 32-33) “tem suas origens nas ciências Biológicas aplicáveis aos recursos renováveis, principalmente os que podem se exaurir por exploração descontrolada. (...) Para os recursos não-renováveis, como os combustíveis de origem fóssil, por exemplo, a sustentabilidade seria sempre uma questão de tempo.” A sustentabilidade decorre da utilização adequada dos recursos disponíveis com a preservação do meio ambiente (CF/88,art. 185, II). EQUILÍBRIO/DESEQUILÍBRIO A esta altura, você deve estar perguntando: mas o que é meio ambiente? É claro que, por intuição, nós sabemos o que é, mas estamos iniciando estudo de Direito Ambiental e a expressão “meio ambiente” deve ter significado técnico apropriado a este campo do Direito. Você tem toda razão. Meio Ambiente, assim definido pela Lei 6.938/81, a ser estudada nas Unidades 2 e 3, consite em: “Lei 6.938/81: ‘Art. 3º - Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” DIREITO AMBIENTAL Portanto, o Meio Ambiente é constituído por bens que resultam, nas suas interações – uns agindo sobre os outros –, de condições, leis e influências na determinação da vida. Assim, o meio ambiente, como um todo, é bem de uso comum do povo. Mas é composto de bens ou recursos ambientais. Talvez você esteja ainda em dúvida quanto ao conceito de Meio Ambiente. Vamos reforçar ou aclarar o que foi dito: Diante da degradação e da poluição, ocasionando danos à saúde e ao equilíbrio das condições de vida, uma das mais significativas respostas do homem consciente ao homem poluidor consistiu em estabelecer legislação de proteção ao meio ambiente em geral (proteção = tutela) e aos bens ambientais especificamente considerados. Degradação: alteração ad- versa da qualidade do meio ambiente. Poluição: alteração adver- sa da qualidade ambiental provocada por certas ativi- dades humanas. UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL Mas, com que objetivo se estabelece a tutela ao meio ambiente (em geral) e aos bens de que especificamente se compõe? (tutela específica) Se o meio ambiente está em equilíbrio, a proteção tem o propósito de mantê-lo equilibrado; se está em desequilíbrio, a tutela legal se destina a reequilibrá-lo. Observamos o que é tutela geral ao meio ambiente. É a proteção à integridade de todas as forças e elementos da natureza que, para o benefício da vida, devem ser, em conjunto, resguardados da degradação e da poluição. Mas você quer um exemplo para liquidar, de vez, todas as dúvidas a respeito. Pois bem: Agora, com referência à tutela específica, vimos que os bens especificamente protegidos são: o ar, a água, o solo, a fauna e a flora. Mas a esses bens se acrescentam bens do patrimônio histórico-cultural. Por que razões? Por que é na história, na cultura e movimentos da vida humana em relação com o meio-ambiente que podemos identificar e compreender condutas inclusive nas relações entre homem e o meio natural. As descobertas arqueológicas contribuem para assinalar os momentos da vida do homem em seu ambiente e os bens paisagísticos concorrem para o bem-estar como parte de uma “sadia qualidade de vida”. Temos, portanto: DIREITO AMBIENTAL DIREITO AMBIENTAL A legislação de proteção forma, em conjunto, o direito ambiental; que é um complexo sistemático (um sistema) de leis e princípios no contexto de ordenamento jurídico. O campo de aplicação do direito ambiental, assim, se define como um regime legal tutelar que abrange, em primeiro plano, as normas constitucionais em sintonia com os tratados e convenções internacionais de que o Brasil é signatário e, em segundo, regras e disposições regulamentares de proteção. Mas você precisa, com redobrada atenção, ter em vista que a proteção ao meio ambiente se destina: UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL Por conseguinte, a proteção do Direito ao Meio Ambiente ou Ambiental, como destinatário o “bem” ambiental e os “bens” que o compõe. O art. 225, da CF/88, assegura a todos “o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. Portanto, é um direito de todos. Com que finalidade segundo esse mesmo dispositivo constitucional? “Visando a uma qualidade de vida”. Assim, o fim do último e maior a ser alcançado é “a sadia qualidade de vida”. E de “vida em todas as suas formas”. (art. 3º, Lei 6.938/81) O termo “sadia” pode ser entendido como relativo à saúde, ao que é saudável do ponto de vista do bem-estar resultante, ao que está em equilíbrio. Então, você deve notar que a tutela imediata do Direito Ambiental incide sobre o bem e os bens ambientais: Mas, em certos casos, há proteção a pessoas em face do mau uso do bem ambiental. Importante: com vistas à tutela específica, você deve sempre se recordar que: DIREITO AMBIENTAL • pode acontecer que, lesado um bem, o dano repercuta em outros. Se árvores são abatidas, prejudica-se o solo, o ar, a água. Mas, na tutela específica, o que se considera, em plano principal, é o bem imediato e diretamente lesado. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO Toshio Mukai e Georgete Nacarato Nazo, em trabalho publicado na Revista de Direito Ambiental (nº 28), apresentam levantamento minucioso da evolução histórica da legislação ambiental no Brasil colônia, passando pelo Império, mergulhando na década 60-70 e na década 70-80 e chegando à década 80-90 em que as leis ambientais, diversificadas, assinalavam avanços consideráveis em sua atualização. Exemplo: • tutela geral ao meio ambiente (década 80-90): trata-se de etapa evolutiva decisiva à fase atual do direito ambiental. A política nacional do meio ambiente (ver Unidades 2 e 3), instituída pela lei 6.938/81, é regulamentada (Dec. 99.274, de 06.06.90); cria-se o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (Lei n. 7.7735/89) cuja estrutura básica está disposta no Dec. 97.946/89 e, como se trata de tutela ao meio ambiente, várias matérias de relevante interesse do meio ambiente se incorporam à legislação de direito ambiental: localização de estações ecológicas e usinas nucleares (Dec. 84.973/80); criação de áreas específicas e de locais de interesse político (Lei n. 6.513/77); reservas ecológicas áreas de relevante interesse ecológico (Dec. 89.336/84); instituição do plano nacional de gerenciamento costeiro (Lei n. 7.735/89); criação de estações ecológicas e áreas de proteção UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL ambiental (Dec. 99.274/90); programa de defesa do complexo de ecossistemas da Amazônia Legal (Decreto 96.944/88). Com referência a agrotóxicos a Lei n. 7.802, de 11.07.89, “dispõe sobre pesquisa, experimentação, embalagem e rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, propaganda comercial, utilização, implantação, exportação, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle, infração e fiscalização” (...). O Dec.4074/02 regulamentou a Lei n. 7.802/89. A legislação ambiental, em princípio, acentua proteção ao meio ambiente segundo a visão de tutela geral. Aos poucos, delineia-se legislação voltada para a tutela específica. Exemplo: timidamente, delineia-se proteção específica de bens ambientais, exemplo: obrigatoriedade de licença para a comercialização ou utilização de motosserra (na proteção à flora). (Lei 7.803/ 89). Na tutela específica, tem-se em vista, principalmente, a proteção a determinado bem ambiental mesmo considerado que a lesão a um bem repercute na integridade de outros (ex. Lesão a árvores afeta o solo, o ar, a água) Diploma legal em que a tutela específica foi (e, em parte é) relevante é o chamado Código Florestal (Lei n. 4771/65), referente a processamento de crimes ambientais, com as alterações da Lei n. 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais). Altera-se e há atualização à Lei 6.938/81 que estabelece a Política Nacional do Meio ambiente em 07.02.2000; alterações; Lei 9.960 de 28.01.2000; Lei n. 10.165, de 27.12.2000. Consagra-se a responsabilidade civil objetiva por danos ambientais (lei nº 6.938/81,art. 14, § 1º, e art. 907, parágrafo único do CC), com o advento da Lei n. 9.605/98 (de crimes ambientais) e o decreto 3.179/99 (imposição de sanções por ilícitos administrativos) acrescentam-se à responsabilidade civil a responsabilidade penal por crimes ambientais e a administrativa por ilícitos desta natureza. DIREITO AMBIENTAL TUTELA INTERNACIONAL AO MEIO AMBIENTE “O Direito vai até onde a fumaça alcança.” Vilson Rodrigues Alves O Direito Ambiental reflete a globalização inevitável de relevantes questões ambientais e de soluções amplas a essas questões. Problemas ecológicos de magnitude, como os relativos ao ar e ao mar, não se localizam uma vez que se irradiam para muito além dos pontos em que ocorrem em suas manifestações iniciais. Temos, entre nós, no Brasil, o caso típico da floresta Amazônica cuja preservação é considerada essencial ao equilíbrio ecológico do próprio planeta. Em conseqüência, a problemática ecológica, não podendo ser equacionada isoladamente, requer a integração dos Estados em suas relações de Direito Internacional Público – DIP, com que se institui normatividade própria em escala internacional. Essa normatividade se consubstancia em Tratados ou Convenções Internacionais cujas regras e disposições se incorporam ao Direito interno. Para a celebração de Tratados ou Convenções Celso Albuquerque Mello diz serem condições de validade: a) a capacidade das partes contratantes – reconhecida aos estados soberanos, às organizações internacionais, aos beligerantes, à Santa Sé e a outros entes internacionais; b) habilitação dos agentes signatários; c) objeto lícito e possível; d) “consentimento mútuo.” (1991-1:178/181). Em matéria de Tratados é de grande importância o tema relativo às reservas e objeções. Conforme Celso Albuquerque Mello: a convenção de Viena define reserva do seguinte modo: “uma declaração unilateral, qualquer que seja sua denominação ou redação, feita por um estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um Tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar os efeitos de certas disposições do Tratado em sua aplicação a esse estado.” 208/9). Contudo, ressalva-se que em determinadas convenções ambientais, a exemplo da Convenção da Biodiversidade, Convenções sobre as Mudanças Climáticas Globais, não admitem nenhum tipo de “reserva”. Observa Celso Albuquerque Melloque “Os Tratados possuem uma conclusão imediata com as seguintes fases: negociação, assinatura, ratificação, promulgação e registro...”. E ainda segundo Celso Albuquerque Mello(223-226) “há as hipóteses de revisão” (...); “nulidade” (...); “anulação” (...) “. UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL Algumas das principais Convenções Internacionais. O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL/DIREITO AMBIENTAL DE SUSTENTAÇÃO – DECLARAÇÃO DO RIO/92 Agora, você está diante de “princípios” e de “diretrizes” para orientar a solução de problemas ambientais. A Declaração do Rio/92 não é um documento jurídico, mas “político”; não é jurídico no sentido de que seus enunciados desobrigam à observância pelos países signatários e político porque expressa a “vontade” do movimento ambiental e tomada-de-posição diante das questões ecológicas da atualidade. Em linhas gerais, a Declaração do Rio/92 confere prioridade ao desenvolvimento sustentável, sob o aspecto técnico-econômico de que a adaptação das legislações ambientais nacionais é parte essencial. Pode-se, até, falar de um direito ambiental de sustentação. Chega-se, assim, à visão da problemática ambiental relacionada ao desenvolvimento técnico-econômico e social. A Agenda 21 é uma das mais elaboradas expressões da interconexão meio ambiente e desenvolvimento tal como consubstanciada na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. E como o Direito Ambiental se coloca na perspectiva da sustentabilidade? Adaptando-se às mudanças técnico-econômicas e sociais 1954. “Convenção para A Prevenção de Poluição do Mar por Petróleo”. 1958. “Convenção para Pesca e Recursos Vivos do Alto Mar”. 1963. “Tratado de Banimento de Testes Nucleares na Atmosfera, no Espaço Exterior e Embaixo da Água”. 1967. “Tratado sobre os Princípios que Governam as Atividades de Exploração do Espaço Exterior, Incluindo a Lua e Outros Corpos Celestes”. 1971. “Lei do Mar”. 1971. “Convenção sobre Alagados de Importância Internacional especialmente como Habitat de Aves Aquáticas”. 1972. “Convenção Relativa à Proteção da Cultura Mundial e Herança Natural”. 1973. “Convenção sobre o Comércio Internacional de Aves Ameaçadas de Extinção”. 1979. “Convenção da Conservação de Espécies Migratórias de Animais Selvagens”. 1982. “Carta Mundial da Natureza”. 1983. “Assunção Internacional sobre Recursos Genéticos Vegetais”. 1983. “Acordo Internacional de Madeira Tropical”. 1985. “Acordo sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais”. 1985. “Plano de Ação das Florestas Tropicais”. 1992. “Convenção sobre Diversidade Biológica”1. 1992. “Convenção sobre Mudança do Clima”. 1994. “Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento”. 1994. “Convenção Internacional de Combate à Desertificação”. 1 Convenção sobre Diversidade Biológica – “Acordo Internacional celebrado na Rio/92, que objetiva a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável de seus componentes e o compartilhamento eqüitativo e justo dos benefícios oriundos da utilização de fontes genéticas. Esta convenção entrou em vigência em 29 de dezembro de 1993”. (fonte referida). Fonte: Lima e Silva, Pedro Paulo de e outros. Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais. Rio de Janeiro: Thex, 1994. DIREITO AMBIENTAL que repercutem no meio ambiente e oferecendo respostas jurídicas a problemas de renovada complexidade. A Rio/92, além de corroborar o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (§ 17), indica princípios para a evolução do Direito Ambiental em sua atualização à realidade de novos padrões de desenvolvimento. A Declaração do Rio, sendo declaração, não tem força vinculante como Tratados ou Convenções, ou seja, não obriga os signatários à estrita observância de suas disposições que se apresentam como princípios. Não obstante, uma vez subscrita, indica propósito de adesão que antecipa posições futuras; nesse propósito, há uma aceitação de determinadas condições que implica, de imediato, num referencial de soluções que serve de base às relações entre os que a firmaram. Da Rio/92, selecionamos apenas três princípios diretores para o Direito Ambiental, a título de exemplificação. O primeiro aponta na direção da adaptação das legislações nacionais ambientais segundo as particularidades e possibilidades de cada país, num quadro geral de desequilíbrio diante dos diversos estágios de desenvolvimento (§ 11); o segundo, não necessariamente pela ordem, enfatiza a prevenção ambiental (§ 15) e o terceiro a defesa do meio ambiente (§ 13): “§ 11 – Os Estados deverão promulgar legislações ambientais eficazes. As normas, os objetivos e as prioridades ambientais devem refletir o contexto ambiental e de desenvolvimento em que se aplicam. Normas aplicadas por alguns países podem ser inadequadas e representar custos sociais e econômicos injustificáveis para outros, principalmente para os países em desenvolvimento. § 15 – Para proteger o meio ambiente, os Estados devem aplicar do modo mais amplo os princípios da prevenção conforme suas capacidades. Diante da ameaça de dano grave ou irreversível, a falta de uma considerável certeza científica não deverá ser usada como motivo para adiar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental em decorrência dos seus custos. § 13 - Os Estados devem desenvolver uma legislação nacional dispondo sobre a responsabilidadee a indenização às vítimas da poluição e de outros danos ambientais. E devem também cooperar de modo mais eficaz para a elaboração de novas normas internacionais suplementares sobre responsabilidade e indenização pelos efeitos adversos dos danos provocados em áreas situadas fora de sua jurisdição pelas atividades realizadas dentro de sua jurisdição e sob seu controle.” Estes três princípios diretores constituem, em verdade, os fundamentos naturais e lógicos de toda e qualquer política legislativa que tenha em vista a prevenção e a defesa do meio ambiente. Sob este aspecto, podem ser UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL considerados irreversíveis, dada a dimensão de perenidade de sua essência e da efetividade de seu conteúdo. A Agenda 21 constitui-se de inúmeros temas, por capítulos, com as correspondentes áreas-programas. Os temas se relacionam a questões de interesse do meio ambiente, em geral e não apenas a matérias pertinentes ao Direito Ambiental. Há propostas para a produção e o consumo, a sustentabilidade econômica, a saúde, o desenvolvimento social, com indicativos de soluções necessárias à problemática ambiental. O PROTOCOLO DE KYOTO É fundamental que você tenha refletido e esteja refletindo sobre a Declaração do Rio /92 porque exprime a “vontade política” do movimento ambientalista mundial acerca do que se pre-tende alcançar para se resolverem problemas ambientais, através do enunciado de princípios e diretrizes. O chamado Protocolo de Kyoto, in casu, trata-se de protocolo-acordo. Logo, cria normas jurídicas, portanto, obriga os signatários. (GUERRA, Sidney, Direito Internacional Público, 2ª ed. RJ: Freitas Bastos, 2005, p. 36). Mas há uma diferença entre ambos os documentos ou “cartas”: a Declaração do Rio/92 decorre de mobilização consciente e determinada do ambientalismo internacional como instrumento de influência, a fim de que os Estados ajustem suas políticas públicas às exigências das pressões que emanam da consciência ecológica. Sua reflexão deve considerar estes aspectos, mas você, prosseguindo, há de verificar que o Protocolo de Kyoto não guarda qual-quer semelhança com a Eco-92. Com efeito, enquanto a Declaração do Rio/92 é produto de uma vontade consciente do ambientalismo e de mobilização para se alcançarem resultados desejáveis, o Protoco-lo de Kyoto constitui documento que consagra os interesses dos Estados, em sua autonomia, na questão atualíssima da emissão de gás carbônico e do efeito-estufa responsável pelo aquecimento global. O mundo emite, atualmente, 23 bilhões de toneladas de gás carbônico. A população de todo o mundo respira 700 toneladas de gás carbônico a cada segundo o que equivale a 80% da poluição mundial. Os Estados Unidos respondem por 26% do gás carbônico liberado; a União Européia, por 15%. Ou seja, os Estados Unidos respondem por quase 6 bilhões de toneladas e a União Européia por cerca de 3,5 bilhões anuais. O Protocolo de Kyoto estabeleceu que, durante o período de 2008- 2012, os países terão de reduzir em 5% a quantidade de gás carbônico que emitirem em relação a 1990. Em artigo para a Folha de São Paulo, Opinião, 24.02.2002, A 2, Antonio Ermírio de Moraes constata que apenas 47 países ratificaram o Protocolo de Kyoto, os quais, no total, respondem por apenas 2,4% da emissão mundial. DIREITO AMBIENTAL Comenta Antonio Ermírio de Moraes: “Os Estados Unidos não assinaram o tratado e disseram que não vão assinar porque pretendem reduzir a emissão de gás carbônico até o ano 2012 por meio de mecanismos voluntários, e não por meio de medidas impositivas... Os países da Europa não gostaram da idéia... Mas até agora nada fizeram para reduzir a sua própria poluição...” Nessas condições, se o país signatário adotar o protocolo, tem força vinculante. Há, portanto, conflito internacional de interesses entre os países que emitem gás carbônico em níveis toleráveis, como o Brasil, que é um dos subscritores do Protocolo, e os Estados Unidos e União Européia. Em entrevista à grande imprensa americana e européia, retransmitida no Brasil, o atual Presidente dos EUA, George Bush, declarou que a questão ambiental envolvida nesse problema tem de ser solucionada sem afetar a produção industrial norte-americana em razão do que significa para a economia mundial. As conquistas do ambientalismo mundial estariam, nesse episódio, seriamente comprometidas ou se trata de desafio que requer uma nova postura de mobilização e uma renovada consciência de percepção de respostas amplas e criativas?3 MEIO AMBIENTE NATURAL, CULTURAL, ARTIFICIAL E DO TRABALHO Um outro ponto de reflexão, à sua consideração, é o relacionado à classificação do meio ambiente. Entendemos que o meio ambiente se classifica em natural e artificial. Há quem faça distinção entre meio, como meio natural, e ambiente, como ambiente artificial, este compreendendo as manifestações de ambientação cultural e do trabalho. A doutrina, em geral, aceita a classificação abaixo dos vários aspectos do Meio Ambiente: • Meio ambiente natural é constituído por solo, água, ar, flora efauna. Conforme Fiorillo (2006, p. 20) – “Concentra o fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem.” • Meio ambiente artificial – “(...) é compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)(...)” Fiorillo (2006, p. 21). • Meio ambiente cultural -– Fiorillo(2006, p. 22) cita José Antonio da Silva para quem “o meio ambiente cultural é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem, UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial” O conceito de meio ambiente cultural está previsto no art. 216, da Constituição Federal: “Art.216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos for-madores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticoculturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.” A rigor, nós poderíamos agrupar os vários aspectos do Direito Ambiental em natural e artificial. Quanto a meio ambiente do trabalho com que vários autores concordam, veremos na Unidade 7 que, em ambiente do trabalho, o que se tem em vista é a proteção ao trabalhador nas relações trabalhistas e não tutela ao meio ambiente ou a bens ambientais da vida. A VIDA COMO DESTINATÁRIA DO DIREITO AMBIENTAL O objeto do Direito Ambiental é á tutela ao meio ambiente e aos bens ambientais de que se compõe. Vimos que, em certas hipóteses, do mau uso de bens ambientais pode decorrer de proteção a pessoas por ele prejudicadas. Tem razão Fiorillo (2006, p. 18) quando sustenta que “a vida em todas as suas formas...” é a destinatária do Direito Ambiental. No seguinte sentido: “O art. 225, da CF/88, assegura o direito ao meio ambiente a todos, indistintamente, na medida em que todos têm interesse em uma vida saudável; para que esse direito se torne efetivo, é preciso manter o equilíbrio ecológico ou reequilibrar as condições do meio ambiente nas circunstâncias em que estiver desequilibradoe, para isso, assegura-se proteção ao meio ambiente e aos recursos ambientais que o integram, visando a uma “sadia qualidade de vida.” Portanto, o resultado final pretendido é a “sadia qualidade de vida” em todas as suas formas. É a isto que se destina a aplicação de regras e disposições de Direito Ambiental. DIREITO AMBIENTAL CONCLUINDO O conceito de meio ambiente é a base de toda a construção de Direito Ambiental. Vemo-lo associado à expressão “bem de uso comum do povo” e à consideração de bens que integram o bem ambiental em sentido amplo. Historicamente, é recente o contínuo agravamento da degradação e da poluição ambientais, que se intensificaram com a expansão demográfica e a industralização nos séculos XVIII-XX. Por isto, também é recente a evolução da legislação de Direito Ambiental. Com a degradação e a poluição, desequilibra-se o meio ambiente em pontos importantes no planeta. A legislação de Direito Ambiental, em conseqüência, vem a contemplar a manutenção do equilíbrio ecológico onde quer que o meio ambiente esteja salvaguardado de lesões e o reequilíbrio das condições ambientais onde esteja desequilibrado. A legislação ambiental é de proteção: ao meio ambiente em geral, como “bem de uso comum do povo”, e aos bens de que se compõe a que se confere tutela específica. Disse Vilson Rodrigues Alves que, em matéria ambiental, “o Direito vai até onde a fumaça alcança”. Expressão que reflete a dimensão internacional dos problemas ambientais, motivo pelo qual são eles objeto de tutela por Tratados ou Convenções. Na lei interna, as normas de proteção estão estabelecidas constitucionalmente. Há questões ambientais que são alvos de mobilização do movimento ambientalista, como em referência à Declaração do Rio/92 e outras que têm solução na pendência dos interesses dos Estados: a exemplo das que consubstanciam o Protocolo de Kyoto. A doutrina, em regra, classifica o meio ambiente como natural, cultural, artificial e do trabalho. Torna-se claro que a “vida, em todas as suas formas” é a destinatária das regras de proteção do Direito Ambiental. Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! Chegamos ao final desta nossa primeira unidade. Esperamos que você tenha compreendido a relevância do estudo do Direito Ambiental através dos argumentos apresentados e que a partir desta unidade, você se sinta estimulado a prosseguir com mais confiança e segurança ao exame das questões fundamentais da disciplina. Então, te espero na próxima unidade. Ainda temos muito que estudar! UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL NOTAS 1 “Descoberta” é aquilo que o homem identifica nas leis da natureza. Exemplo: ao ver cair a maçã de árvore, Newton “descobriu” a lei da gravidade. Ao contrário de ‘invenção” que decorre de criação humana. 2 No contexto das relações de vizinhança, imissões, influências e interferências têm significado técnico peculiar. imissões – o pó, a fuligem, o vapor, por exemplo, são coisas que se imitem. Já interferência se opera com luz, ruído, calor, umidade, trepidação, odor. Influências, em sentido amplo, são apenas as imissões e interferências. Em sentido estrito, é a que se verifica com a perturbação do vizinho, de tal modo que ele não pode desfrutar do imóvel. Sem invasão e privação. (Alves, 1992, p. 348, 349 e 151) 3 A Rússia, que não havia aderido, subscreveu o Protocolo. Ainda não o firmaram os Estados Unidos da América e o Canadá. Esta observação e a referência ao Presidente dos Estados Unidos da América datam de 19.11.06. 1 DIREITO AMBIENTAL DIREITO AMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL 31 U N ID A D E 2 OS FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Nesta unidade, estudaremos a Política Nacional do Meio Ambiente do ponto de vista de seus fundamentos, isto é, daquilo em que se funda para tornar-se eficaz. Reforçaremos o conceito de Meio Ambiente em associação aos subconceitos de Biodiversidade, Ecossistema e Biosfera. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Consolidar o conceito de Meio Ambiente para o qual concorrem os subconceitos de Biodiversidade, Ecossistema e Biosfera, entre outros. • Identificar o direito constitucional ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e as garantias jurídicas à efetividade desse direito. • Verificar no contexto da Política Nacional do Meio Ambiente, as formas de atuação e intervenção do Poder Público de acordo com disposições da Constituição brasileira de 1988, visando à eficácia da execução da Política Nacional do Meio Ambiente. • Estabelecer conexão entre o conceito de Meio Ambiente, como “bem de uso comum do povo” e o Direito ao Meio Ambiente. Analisar o termo “uso” visando à delimitação de direitos em matéria ambiental. • Evidenciar outros instrumentos e mecanismos que, decorrentes da Política Nacional do Meio Ambiente em seus fundamentos, destinam-se a contribuir para o equilíbrio ecológico, a saber: a desapropriação direta e indireta; as funções sociais da cidade e da propriedade rural e a reserva legal. PLANO DA UNIDADE: • Meio Ambiente. • A Lei 6.938/81. • O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. • Meio Ambiente / Direito ao meio ambiente. • Bem ambiental: bem de uso comum do povo. • Desapropriação direta e indireta. • Funções sociais da cidade e da propriedade rural. Bons Estudos! UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 32 MEIO AMBIENTE A Lei n. 6.938/81, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, define-o: “Art. 3º: (............) Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” Para os fins desta definição, condições são fatores determinantes do modo como a vida se desenvolve e evolui; leis são leis naturais; influências, fatos naturais de que pode resultar uma conseqüência; e interações representam, no caso, a maneira pela qual agem uns sobre os outros, os elementos químicos, físicos e biológicos. A definição de meio ambiente, expressa no artigo 3º da Lei n. 6938/ 81, dá idéia precisa da totalidade de todos os elementos naturais e de suas mutações na configuração da vida; mas não incorpora o sentido de relações, que será examinado mais à frente do ponto de vista de relações do homem com o ambiente. Em conexão com a definição de meio ambiente incluímos, principalmente, sem, é claro, exclusão de outras, as definições de biodiversidade, ecossistema e biosfera: A Política Nacional do Meio Ambiente se relaciona à totalidade de todos os elementos de caráter físico, químico e biológico e suas interações (uns agindo sobre os outros em constantes mutações) sob condições, leis e influências que os determinam em relação, sobretudo, com matérias referentes à biodiversidade, ecossistema e biosfera: DIREITO AMBIENTAL 33 Você, agora, tem os elementos necessários ao domínio do conceito de Meio Ambiente. Meio Ambiente, em sentido próprio, é um bem ou um valor indispensável à vida, resultante de elementos naturais, de suas combinações ou interações e de suas mutações. Mas é um bem extremamente sensível a alterações provocadas artificialmente que, sem critérios de contenção, o degradam. Qualquer interferência ou intervenção que o retire de seu equilíbrio natural modifica, para pior, as condições de vida. Então, você deve ter em vista que as premissas para a legislação ambiental se encontram na constataçãode que a questão do Meio Ambiente é a da violação de suas leis (naturais) pelo homem e da necessidade de proteção do Meio Ambiente no interesse do próprio homem e do equilíbrio do meio em que vive. UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 34 Observe que o § 1º, do art. 225, da Constituição Federal de 1988, dispõe sobre incumbências ao Poder Público para assegurar a efetividade do “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. E o Direito se torna efetivo, uma vez observadas as regras de seus incisos I a VI. Estes dispositivos terão grande importância para a determinação de regras e disposições de Direito Ambiental e é fácil avaliá-los pelo que significam, examinando-se atentamente o quadro sinótico anteriormente apresentado. O interessante é que, nas suas várias dimensões, o disposto nos incisos I a VI revelam incumbências diferenciadas que podem se expressar pelos verbos preservar e restaurar; fiscalizar; definir; exigir, controlar e promover. Trata-se, pois, de regras para tornar o direito ao meio ambiente efetivo, todas elas, em conjunto, se contemplando. A LEI 6.938/81 A Lei n. 6938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, dispõe sobre “os fins, mecanismos de sua formulação e aplicação”. Funda-se nos incisos VI e VII, do artigo 23 e no artigo 235 da Constituição brasileira de 1988: “Art. 23: É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII – preservar as florestas, a fauna e a flora.” Na proteção de que trata o artigo 23, no inc. VI, supra a CF/88 estabelece a tutela jurídica do meio ambiente como um todo, associada ao combate à poluição, que é degradação da qualidade ambiental causada por atividade humana, a que nos referiremos com base na Lei n. 6938/81. A preservação, por sua vez, consiste em “conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem à proteção a longo prazo de habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais”. “Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” A constituição brasileira de 1988 refere-se a um direito de todos - portanto, de toda a sociedade – ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. E impõe, a todos, o dever – referente, portanto, ao exercício consciente da cidadania como algo de que ninguém pode se eximir – de DIREITO AMBIENTAL 35 defendê-lo (em face de agressões) e de preservá-lo (uma vez equilibrado ou reequilibrado, deve ser mantido em sua integridade). E é um dever consubstancial ao Poder Público. “§ 1º: Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e dos ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas a pesquisas e manipulação do material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará publicidade2; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” A Lei n. 9.795, de 27/04/1999, “dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental. No artigo 1º diz em que consiste a educação ambiental; no artigo 2º, a destaca como componente essencial e permanente da educação nacional; no artigo 3º, coloca-a como parte do processo educativo”. O § 1º, antes reproduzido, estatui o que incumbe ao Poder Público a fim de assegurar a efetividade do direito aplicado ao meio ambiente. Trata- se de instrumentos e mecanismos de intervenção e atuação do Poder Público a partir da constatação de que é indispensável “verificar se os princípios e normas relativos ao meio ambiente estão, realmente, sendo cumpridos (...)”. É imprescindível sua real aplicação. Em última análise, sua efetividade que, no dizer de Luiz Roberto BARROSO, é “o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social” (Freitas, 2002, p. 11). O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO O artigo 225 da Constituição brasileira de 1988 assegura a todos “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 36 Em associação ao direito ao meio ambiente, há o termo ecologia, cujo significado deriva da palavra grega oikos, que quer dizer “casa” ou “lugar onde se vive”. Em sentido literal, ecologia é o estudo dos organismos em sua casa. Em sua acepção técnica, como entendida atualmente, ecologia “é a ciência que estuda a dinâmica dos ecossistemas, ou seja, os processos e as interações de todos os seres vivos entre si e destes com os aspectos morfológicos, químicos e físicos do ambiente, incluindo os aspectos humanos que interferem e interagem com os sistemas naturais do planeta. É o estudo do funcionamento do sistema natural como um todo e das relações de todos os organismos vivendo no seu interior.” (LIMA E SILVA, e outros, 1999)3. No âmbito da ecologia cultural, deve ser considerado dado importante que veio a determinar o perfil do Direito ao Meio Ambiente. DIREITO AMBIENTAL 37 O art. 225, da Constituição brasileira de 1988, fala em equilíbrio ecológico. O Direito Ambiental busca manter o equilíbrio ou o reequilíbrio do que, no meio ambiente, esteja desequilibrado. Você pode notar que a expressão “equilíbrio ecológico” reforça, em nós, o entendimento de que o conceito de ecologia se enquadra ao conceito e ao campo de aplicação do Direito Ambiental. Mas esse enquadramento se dá, com mais propriedade, se se tem em vista os subconceitos de ecologia humana e cultural. Você poderá levantar outros subconceitos de ecologia que podem interessar ao Direito Ambiental, mas secundariamente, e não em caráter principal. MEIO AMBIENTE / DIREITO AO MEIO AMBIENTE Pode-se ter, agora, visão esquemática de associações entre definições técnicas e os respectivos campos de aplicação. De um lado, há associações ao conceito de meio ambiente e, de outro, à idéia inicial do direito ao meio ambiente: UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 38 BEM AMBIENTAL: BEM DE USO COMUM DO POVO O art. 225 da Constituição Brasileira de 1988 também declara que o meio ambiente é “bem de uso comum do povo”. Em que sentido se pode entendê-lo como bem? E bem de uso comum do povo? Sobre “bem ambiental” observa Sirvinskas (2006, p. 30-31)4 “Bem ambiental é aquele definido constitucionalmente (art. 225, caput) como sendo de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Qual é o bem do uso comum do povo? Bem ou recurso ambientalé aquele definido no art. 3º, V, da Lei n. 6.938/81, ou seja, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. É, em outras palavras, o meio ambiente ecologicamente equilibrado... O bem ambiental não pode ser classificado como bem público nem como privado (art. 98, CC), ficando numa faixa intermediária denominada bem difuso. Difuso é o bem que pertence a cada um e, ao mesmo tempo, a todos. Não há como identificar o seu titular e seu objeto é insuscetível de divisão...”. (2003, p. 30- 31) E quanto ao termo uso? Esclarece Bessa Antunes (2004, p.67-68)5 “(...) não estamos diante de um bem que possa ser incluído entre aqueles pertencentes a uma ou outra pessoa jurídica de direito público, pelo contrário, o meio ambiente é integrado por bens pertencentes a diversas pessoas jurídicas, naturais ou não, públicas ou privadas. O que a Constituição fez foi criar uma categoria jurídica capaz, a todos quantos se utilizarem de recursos naturais, de impor uma obrigação de zelo para com o meio ambiente. Trata-se de uma modalidade de intervenção econômica que visa garantir a todos o acesso aos bens ambientais. Não se olvide, contudo, que o conceito de uso comum do povo rompe com o tradicional enfoque de que os bens de uso comum só podem ser bens públicos. Não, a Constituição Federal estabeleceu que, mesmo no domínio privado, podem ser fixadas obrigações para que os proprietários assegurem a fruição, contudo, é mediata, e não imediata. O proprietário de uma floresta permanece proprietário da mesma, pode estabelecer interdições quanto à penetração e permanência de estranhos no interior de sua propriedade. Entretanto, está obrigado a não degradar as características ecológicas que, estas sim, são de uso comum, tais como a beleza cênica, a produção do oxigênio, o equilíbrio térmico gerado pela floresta, o refúgio de animais silvestres etc.” (2004, p. 67-68). DIREITO AMBIENTAL 39 Em resumo: O bem é que é de uso, de tal modo que todos a ele têm direito, em condições de usufruir de sadia qualidade de vida. Assim, mesmo que uma área rural ou urbana seja de propriedade particular, o proprietário tem o dever – dever, e não mera obrigação – de não degradá-la ou poluí-la. E todos podem ser afetados pela degradação ou poluição que na propriedade ocorra. Se um bem ambiental é lesado – exemplos: água, ar, solo, fauna, flora – o prejuízo afeta mesmo os que ali, na propriedade, não estejam. No Direito Ambiental brasileiro, O DIREITO PÚBLICO AO MEIO AMBIENTE SE SOBREPÕE AO INTERESSE PRIVADO. Você precisa atentar bem para o termo uso. O uso, para nós, em matéria ambiental, se relaciona a um critério de necessidade. É o que utilizo diretamente (o ar, a água, por exemplo) ou de que em benefício indiretamente (solo, fauna e flora, se não estou em relação direta com eles, mas só para exemplificar). Você não deve perder de vista o comentário de Bessa Antunes sobre o significado da expressão “uso comum do povo”. Nem todos têm a propriedade ou a posse de certos bens ambientais, mas sua danificação pode ser lesiva a todos. Em sentido positivo, pois, uso é o direito de todos, proprietários, possuidores ou não de serem beneficiados, direta ou indiretamente, pelo bom estado do bem. E, em sentido negativo, é o direito de todos de não serem prejudicados pelo mau estado ou mau uso de bens ambientais da vida. DESAPROPRIAÇÃO DIRETA E INDIRETA O Poder Público, na salvaguarda do meio ambiente, pode expropriar áreas para dar, a elas, destinação ambiental: é a chamada desapropriação direta: “Segundo Flávio Dino da Costa (Revista de Direito Ambiental, 18, Doutrina Nacional, p. 139-145) ensejam desapropriação direta por ato do poder público (certamente mediante prévia e justa indenização) a criação de: DICA UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 40 a) Estações Ecológicas como áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista (art. 1º, da Lei n. 6.902/81, cujo art. 2º prevê sua criação por Estados e Municípios); b) Reservas Extrativistas (Lei n. 7.804/89, que altera a Lei n. 6.938/ 81) destinadas à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por população extrativista (art. 1º, Decreto n. 98.897/90) cabendo, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), promover as desapropriações necessárias à sua implantação, sendo a exploração, pela população destinatária, autorizada por concessão real de uso, a título gratuito, que será rescindida quando houver quaisquer danos ao meio ambiente ou a transferência de concessão inter-vivos; e c) Hortos Florestais (Decreto n. 4.439/39), Jardins Botânicos e Zoológicos.” (Lei n. 7173/83). Há, também, a hipótese de desapropriação indireta: “Caracteriza-se por ato do Executivo que impõe, a determinada área, destinação ambiental. É o chamado apossamento administrativo.” Questão importante é a que se refere à indenização ao proprietário em caso de desapropriação indireta em que se verifica o apossamento administrativo de espaço da propriedade privada para submetê-lo à destinação ambiental. Caso, por exemplo, em que certa área, tendo características ambientais relevantes, precisa ser especialmente protegida. Decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), no Recurso Extraordinário n. 134.297-8, de que foi relator o Ministro Celso de Mello: “Ementa – Recurso Extraordinário – Estação ecológica – reserva florestal na Serra do Mar – patrimônio nacional (CF, artigo 225, § 4º). Limitação administrativa que afeta o conteúdo econômico do direito de propriedade. Direito do proprietário à indenização. Dever estatal de ressarcir os prejuízos de ordem patrimonial sofridos pelo particular. RE não reconhecido. Incumbe ao Poder Público o dever constitucional de proteger a flora e de adotar as necessárias medidas que visem a coibir práticas lesivas ao equilíbrio ecológico. Esse encargo, contudo, não exonera o Estado da obrigação de indenizar os proprietários cujos imóveis venham a ser afetados, em sua potencialidade econômica, pelas limitações impostas pela Administração Pública.” Observe o seguinte: Na desapropriação direta, considerando as hipóteses em que permitida, o bem se transfere do domínio privado ao domínio público mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Na indireta, o Poder Público se apossa de determinada área de propriedade para dar, a ela, destinação ambiental, o que, na decisão transcrita anteriormente, obriga o Poder Público a indenizar os proprietários. DIREITO AMBIENTAL 41 Então, você entende, claramente, que, na desapropriação direta, é toda uma área que tem o seu domínio transferido; na indireta, dá-se algo como, por exemplo, uma reserva de espaço à sua utilização para fins ambientais. Na direta, o direito de propriedade cessa em função do interesse público; na indireta, dá-se limitação ao direito de propriedade que deixa de ser objeto de fruição e gozo em sua plenitude. FUNÇÕES SOCIAIS DA CIDADE E DA PROPRIEDADE RURAL No interesse de toda a sociedade, a propriedade deve exercer função social. E por função social entende- se, também, a função social ambiental. Significa que há limitações e restrições ao direito de propriedade privada para que ela se subordine a uma função social – também ambiental – observando exigências e requisitos relacionados ao meio ambiente. Como disse Bessa Antunes, nestas hipóteses o proprietário continua proprietário, mas à propriedade se atribui função que, no interesse de todos, torne o bem ambiental privado de “uso comum do povo”.Exemplos básicos de função social: Propomos, a você, o exame ou o reexame, na doutrina, do conceito de função social – sem qualquer requinte doutrinário e para fins didáticos, podemos dizer que consiste numa função, atribuída a um bem ou a uma coisa, que deve ser exercida no interesse da sociedade. Uma empresa desativada ou uma propriedade rural improdutiva não desempenham função social porque deixam de gerar riqueza (valores; circulação de produtos ou mercadorias; empregos; impostos). Em matéria ambiental, deixa-se de exercer função social quando o bem ou a coisa não estão em conformidade com os propósitos de preservação de qualquer influência que os comprometa. Sendo o meio ambiente “bem de uso comum do povo”, o uso deve ser resguardado de qualquer efeito prejudicial a todos e o exercício de função UNIDADE 2 - OS FUNDAMENTOS DA PLIÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 42 social ambiental assegura a integridade do bem ou da coisa, evitando-se os efeitos de sua degradação ou poluição. CONCLUINDO Os fundamentos da Política Nacional do Meio Ambiente, como se pode concluir, são constitucionais. A Constituição brasileira de 1988 os estabelece e dispõe sobre como assegurar a efetividade do direito ao “meio ambiente ecologicamente equilibrado” como “bem de uso comum do povo”. Dispõe, para a eficácia da Política Nacional do Meio Ambiente, acerca da atuação e intervenção do Poder Público em matéria ambiental. Esta unidade tem particular importância sob vários aspectos, mas um deles se refere à conexão Meio Ambiente e Direito ao Meio Ambiente. Este, o Direito ao Meio Ambiente “ecologicamente equilibrado” como “bem de uso comum do povo” enseja a distinção entre proteção ao meio ambiente através de tutela geral e proteção a bens de que se compõe o Meio Ambiente ou recursos ambientais por meio de tutela específica. Delineiam-se, assim, no contexto da Política Nacional do Meio Ambiente e da legislação a ela aplicada, as bases para um conceito de Direito Ambiental. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, vamos estudar as Diretrizes , Princípios, Objetivos e Finalidades da Política nacional de Meio Ambiente. Até lá!! NOTAS 1 A lei faz distinção conceitual entre Degradação e Poluição. A Lei n. 6.938/71 dispõe em seu art. 3º; “Para os fins previstos nesta lei, entende-se: I – (...); II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.” Recorde-se, com referência à biota, que biótico é tudo o que pertence ou se relaciona a organismos vivos. 2 Entre os institutos jurídicos e políticos previstos na Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto das Cidades), que regulamentou os artigos 182 e 183 da CF/88, destacam-se no artigo 4º: “VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV)”. 3 LIMA E SILVA. Dicionário brasileiro de ciências ambientais. 1ª edição. R>J.Thex, 1999, 253p. 4 SIRVINSKAS, L.P. Manual de direito ambiental. 2ª edição: Saraiva, 2006,422 p. 5 ANTUNES, P. de Bessa. Direito ambiental. 8ª edição, 2004. 988p. 1 DIREITO AMBIENTAL DIREITO AMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL 43 U N ID A D E 3 DIRETRIZES, PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E FINALIDADES DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Conhecidos os fundamentos da Política Nacional do Meio Ambiente e as condições sob as quais é estabelecida e se desenvolve, direta e indiretamente, o modo de torná-la concreta, na sua execução, relaciona-se às suas diretrizes, princípios, objetivos e fins, nesta terceira unidade de estudo. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Compreender os fundamentos da Política Nacional do Meio Ambiente, diretrizes, princípios, objetivos e fins a ela relativos. Conhecidos os seus fundamentos, as diretrizes, princípios, objetivos e fins, apontam-lhe os rumos. É a direção corre-ta à sua execução. • Relacionar como destaque o espaço à criação, implantação e gestão de unidades de Conservação e, por analogia, de espaços territoriais especialmente protegidos. • Reconhecer que as diretrizes, princípios, objetivos e fins da Política Nacional do Meio Ambiente requerem órgãos competentes para o exercício de funções e atribuições as mais variadas, cujas competências, segundo Toshio Mukai, se baseiam no federalismo cooperativo. PLANO DA UNIDADE • Diretrizes • Princípios e objetivos • Finalidades e aspectos conceituais • Espaços territoriais especialmente protegidos • Órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) • Competências • Indicações para reflexão preventiva ao desenvolvimento da matéria UNIDADE 3 - DIRETRIZES, PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E FINALIDADES DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 44 No contexto de sua implementação, a tutela jurídica ao meio ambiente na proteção aos recursos ambientais é parte fundamental ao equilíbrio ecológico. Neste quadro, estipulam-se regras para a ação governamental, para o setor privado, para instituições de pesquisa e ensino e se consagra o princípio internacionalmente reconhecido como o do poluidor-pagador. Um de seus destaques se refere à proteção a espaços territoriais especialmente protegidos. Para executá-la, instituíram-se órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente e se estabeleceram as respectivas competências. O Direito Ambiental, no contexto da Política Nacional do Meio Ambiente, dela decorre porque é em função dessa política que se prevêem recursos ambientais submetidos à tutela jurídica de proteção. Mas toda a legislação que a estabelece, integra o Direito Ambiental e todas as suas linhas, mesmo não sendo específicas de direito, são, por este, disciplinadas. Um dos grandes avanços verificados é o referente à instituição da Política Nacional de Educação Ambiental. DIRETRIZES A lei n. 6.938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, foi atualizada em 07/02/2000; alterações: Lei n. 9.960, de 28/01/2000; Lei n. 10.165, de 2000. Diretrizes (artigo 5º e § único, Lei n. 6.938/81): Art. 5º: As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no artigo 2º desta Lei. § Único: As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente. A Lei n. 6.938/81 dispõe sobre “os fins e os mecanismos de sua formulação e aplicação”. Funda-se nos incisos VI e VII do artigo 23 e no artigo 225, e incisos da Constituição Federal brasileira de 1988. PRINCÍPIOS E OBJETIVOS No artigo 2º estatui que a Política Nacional do Meio Ambiente tem “por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, ao País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade humana”. DIREITO AMBIENTAL 45 Os princípios e objetivos dessa Políticaestão especificados nos incisos I a X, do artigo 2º: I – ação governamental na garantia e proteção do meio ambiente como patrimônio público, tendo em vista o uso coletivo; II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV – proteção dos ecossistemas com a preservação de áreas representativas; V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e à proteção dos recursos ambientais; VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII – recuperação de áreas degradadas; IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação; X – e, educação ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade (...). FINALIDADES E ASPECTOS CONCEITUAIS As finalidades da Política Nacional do Meio Ambiente estão elencadas no artigo 4º, da Lei n. 6.938/81: “I – compatibilização do desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e o equilíbrio ecológico; II – definição de áreas prioritárias de ação governamental; IV – proteção dos ecossistemas com a preservação de áreas representativas; V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI – preservação e restauração dos recursos ambientais”. O termo preservar é mencionado reiteradamente; significa: “manter uma área ou um bem natural específico protegido contra a degradação ou a destruição. Preservação – ato de proteger contra a destruição ou qualquer forma de dano ou degradação um ecossistema, uma área geográfica definida ou espécies animais ou vegetais ameaçadas de extinção, adotando- se as medidas preventivas legalmente necessárias e as medidas de vigilância adequadas. Difere de conservação por preservar a área de qualquer uso que possa modificar sua estrutura natural original” (LIMA E SILVA et al, 1999)1. (grifo nosso) A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente define a base normativa do Direito Ambiental em pontos fundamentais: a) ao estatuir sobre proteção UNIDADE 3 - DIRETRIZES, PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E FINALIDADES DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 46 ambiental, determinando tutela ao meio ambiente; b) ao se referir a áreas e a recursos ambientais, permitindo, além da tutela geral, tutela ambiental específica. No artigo 3º, da lei n. 6.938/81, definem-se, em seu inciso V, recursos ambientais: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora” (redação dada pela Lei n. 7.804/89). Mas, para fins do direito, quem é o poluidor? Dispõe o art. 3º, inc. IV da Lei n. 6.938/81: (...) a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS A Lei n. 9.985 de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão de unidades de conservação. Para os fins dessa Lei, entende-se por: “Art. 2º: (...) I – Unidade de Conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.” Este dispositivo é importante porque define critérios gerais relacionados à: DIREITO AMBIENTAL 47 Observam-se, com vistas à sua proteção: Por serem essas Unidades conservacionistas, o significado de conservação é da maior importância porque se refere, de modo especial, à sua destinação: • Unidades de Conservação (Lei n. 9.985, de 18.07.2000) Conservação da Natureza”O manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.” (art. 2º, II). Conservação in situ”Conservação dos ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvimento de propriedades características” (art. 2º, VII). Objeto de menção, no tópico relativo à conservação da natureza, o termo preservação deve ter seu significado recordado: “Ato de proteger, contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação um ecossistema, uma área geográfica definida, ou espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, adotando-se as medidas preventivas legalmente necessárias e as medidas de vigilância adequadas. Diferente de conservação por preservar a área de qualquer uso que possa modificar sua estrutura natural original.” Preservar: manter uma área ou um bem natural específico protegido contra a degradação ou destruição.” (LIMA e SILVA et al, 1999) Quando se refere a espaços territoriais especialmente protegidos, as chamadas Unidades de Conservação, a abordagem segue a Lei 9985/2000, especialmente ao agrupar as Unidades em dois grandes blocos: 1) UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL ( Parques nacionais, as reservas biológicas, estações ecológicas, etc.), de uso indireto; 2) UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL ( APAs, RPPN, estações ecológicas, entre outras), de uso direto. • Proteção (Unidades de Conservação)- Lei n. 9.985/2000 - Proteção mediante vigilância adequada; - Tutela ambiental via medidas preventivas, no plano jurídico, ante a iminência de dano; UNIDADE 3 - DIRETRIZES, PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E FINALIDADES DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 48 - Proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido, apenas, o uso indireto de seus atributos naturais. (Inc. VI, art. 2º) Nós classificamos as Unidades de Conservação como espaços territoriais especialmente protegidos segundo o critério de destinação. São espaços que se destinam à conservação do meio ambiente natural. Há outros espaços territoriais especialmente protegidos, de que destacamos os exemplos a seguir: – Estações ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental (APAs): a Lei n. 6.902 de 27 de abril de 1981 dispõe sobre: Estações ecológicas: trata-se de áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de pesquisas de ecologia, à proteção natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista (art. 1º) com 90% ou mais de cada Estação Ecológica destinado, em caráter permanente, por ato do Poder Executivo, à preservação da biota (§ 1º), podendo, na área restante, serem autorizadas pesquisas ecológicas que acarretem modificação ao meio ambiente natural (§ 2º), desde que não coloquem em perigo a sobrevivência das populações das espécies existentes ali (§ 3º). – Áreas de Proteção Ambiental (APAs): o art. 8º autoriza o Poder Executivo a declarar determinadas áreas para a preservação ambiental, desde que haja relevante interesse público, a fim de assegurar o bem-estar das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais. O art. 9º diz que, nessas áreas, dentro dos princípios constitucionais que regem o exercício do direito de propriedade, o Poder Público estabelecerá normas limitando ou proibindo: a) a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras capazes de afetar mananciais de água; b) a realização de obras
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