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Relatório ESTUDO DE CASO: AS DIFERENTES VISÕES MÉDICAS REPRESENTADAS NOS LAUDOS DE UMA MENINA DE TREZE ANOS

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CENTRO SUL-BRASILEIRO DE PESQUISA,
EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO
FACULDADE ESTADUAL DEEDUCAÇÃO, 
CIÊNCIAS E LETRAS DE PARANAVAÍ
ESTUDO DE CASO: AS DIFERENTES VISÕES MÉDICAS REPRESENTADAS NOS LAUDOS DE UMA MENINA DE TREZE ANOS
VALDENEZA APARÍCIO FERNANDES GONÇALVES
Brusque
2013
VALDENEZA APARÍCIO FERNANDES GONÇALVES
ESTUDO DE CASO: AS DIFERENTES VISÕES MÉDICAS REPRESENTADAS NOS LAUDOS DE UMA MENINA DE TREZE ANOS
Relatório de Estágio Supervisionado, apresentado ao Curso de Neuropsicopedagogia Clínica e Educação Inclusiva da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí – FAFIPA - , como requisito para a obtenção do título de Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica e Educação Especial , orientado pelo professor Msc. Alicio Schiestel.
Brusque
2013
ESTUDO DE CASO: AS DIFERENTES VISÕES MÉDICAS REPRESENTADAS NOS LAUDOS DE UMA MENINA DE TREZE ANOS
Valdeneza Aparício Fernandes Gonçalves
Graduada em Educação Especial atua como Educadora Especial no município de Brusque.
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo apresentar um estudo de caso realizado, durante o estágio supervisionado da pós graduação em Neuropsicopedagogia Clínica e Educação Inclusiva, com uma menina de treze anos de idade que frequenta regularmente o sexto ano de uma escola municipal da cidade de Brusque, e possui diferentes laudos médicos, sendo eles de mutismo seletivo, autismo, trauma emocional. 
Palavras - chave: Autismo, Mutismo Seletivo, Trauma Emocional. 
DESCRIÇÃO DO CASO 
	Maria está com treze anos de idade, mora com sua mãe, padrasto e dois irmãos, sendo a filha do meio. 
	É vaidosa, cuida de sua aparência, é detalhista em seus trabalhos escolares, apesar de não gostar de se expor.
	 Comunica-se apenas com algumas pessoas próximas, como padrasto, mãe irmãos, duas primas, e uma tia. Em casa quando contrariada apresenta crises de fúria, onde quebra objetos e destrói utensílios.
	Na escola apesar da não utilização da fala, não possui problemas de aprendizagem e comportamento. Por não comunicar-se de maneira verbal, faz uso de sinais de positivo ou negativo com a cabeça quando necessita responder algo.
	Nos documentos médicos que a família repassou para escola, constam os seguintes registros: No período de junho de 2009 a agosto de 2010, a aluna realizou acompanhamento psicológico, solicitado pela escola onde estudava na cidade de Goioerê-PR, pois a mesma não apresentava comunicação verbal e possuía problemas comportamentais. 
	O parecer da psicóloga que a atendeu não registra sua conclusão sobre o provável diagnóstico. Realizou em Brusque acompanhamento no Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS no período de 2010 a 2012. Durante os atendimentos, alguns profissionais tiveram contato com Maria. 	Em 2011, a mesma foi atendida por uma equipe técnica, onde o Psicólogo conseguiu alguns avanços através de troca de cartas com a menina. Porém este deixou o setor, onde ela ficou alguns meses sem dar continuidade ao acompanhamento psicossocial.
	Em 2012, nova equipe técnica assumiu, permanecendo da equipe anterior apenas a pedagoga. A psicóloga em acompanhamento, percebendo a dificuldade em criar um vínculo com a menina, em função da mudança de profissionais, realizou o encaminhamento da mesma para o Psicólogo Clínico da rede pública de saúde do município. 
	Diante do quadro de Maria, o mesmo verificou a necessidade de uma avaliação com Neuropediatra, realizando desta forma, o encaminhamento.		 Em dois de fevereiro de 2012, a aluna foi atendida por uma Neuropediatra que passou a acompanha-la por apresentar Mutismo seletivo. 
	Em dezembro de 2012, Maria foi atendida por uma neurologista que a diagnosticou com inabilidade social com espectro autista. 					Em março de 2013, a aluna foi atendida por uma psicóloga que enviou a escola uma declaração onde consta que a mesma possui diagnóstico de Autismo, com CID F 84 e fazia uso de medicamento. 
	No dia 31/07/2013, em função das constantes crises diárias da aluna foi realizada consulta com novo psiquiatra, que receitou medicamento, e segundo seu comentário à Ed. Especial que acompanhou Maria, a mesma tem demonstrado reações causados por trauma.
	No dia 15/08/2013, ocorreu nova consulta com clínico geral que a encaminhou a outro psiquiatra. O atendimento ocorreu no dia 27/08/2013, no CAPS-AD(Centro de atenção psicossocial – álcool e drogas), juntamente com um psicólogo.
	 De acordo com a fala da mãe, laudo médico e da educadora especial que acompanhou a consulta, o médico coloca que Maria não se enquadra no público para atendimento no CAPS, que suas reações são causadas por trauma, necessitando com urgência de terapia e clínica, encaminhando-a para psicólogo voltado a adolescência, bem como para reavaliação neurológica. 
	Todavia a mãe coloca que a menina já foi atendida pelo especialista e que não conseguiu avanços, pois a menina não manteve nenhum tipo de comunicação nos atendimentos clínicos.
1.ANÁLISE DAS INDIVIDUALIDADES DO SUJEITO
	Em razão da dificuldade de Maria em se comunicar, estabelecer relações e deixar-se analisar, foram realizadas algumas entrevistas com pessoas do seu convívio familiar e escolar, na tentativa de termos subsídios para realizar uma análise do sujeito através das diferentes falas sobre o comportamento de Maria nos seus diversos locais de convívio.
	1.1 ANAMNESE
	A primeira anamnese foi desenvolvida na casa de Maria, com a mãe,chamada Graça, na busca de maiores informações a respeito de seus desenvolvimento neonatal até os dias atuais.
	1Para não expor a família faremos o uso de nomes fictícios
Maria tem treze anos, mora com a mãe o padrasto e dois irmãos. Sua família é humilde, onde quem trabalha para o sustento é o padrasto, e as crianças recebem o BPC(benefício de prestação continuada), pois a mãe foi orientada pelo conselho tutelar a permanecer com os filhos, pois um deles é autista e Maria passa por crises inesperadas.
	Durante entrevista dona Graça, nos relatou que Maria foi uma filha desejada, apesar de estar passando por dificuldades no casamento. Antes de sua gestação a mãe teve um aborto ocasionado por uma queda em escada.
	 Maria é a segunda filha de três irmãos, sendo que seu irmão mais velho é autista de alta funcionalidade. Durante o quinto mês de gestação sua mãe foi agredida fisicamente e teve sangramento, necessitando ficar hospitalizada por três dias. Sua gravidez foi bem conturbada, porém apesar da situação Maria nasceu bem, com 3,600Kg, de parto cesária, pois a mãe não teve dilatação.
	Após o parto Maria teve apenas uma gripe, não necessitando permanecer hospitalizada por mais dias, além do normal.
	Seu desenvolvimento ocorreu dentro do esperado. Sua mãe a amamentou até dois anos de idade, não apresentando problemas para se alimentar, para caminhar e falar. A menina era carinhosa e muito apegada a mãe.
	Quando Maria estava com um ano e dois meses, nasceu seu irmão mais novo e neste mesmo período seus pais se separaram, levando a família a morar com a avó materna. Em decorrência dos fatos, dona Graça passou por um período de depressão, necessitando fazer uso de medicamentos, o que a deixava muito sonolenta.
	Ao saber da situação o pai das crianças pediu a guarda dos filhos, alegando que a mãe não poderia cuidar deles em razão do seu estado emocional, ficando com eles por duas semanas na casa da avó paterna. 
	A mãe conseguiu reaver a guarda das crianças, pois segundo ela a avó não estava tendo os cuidados básicos necessários com seus filhos.
Quando a mãe chegou para vê-los, estavam com fome e sujos, o que a levou a dar um banho e comida ainda na casa da avó paterna. A mãe relata que quando as crianças a viram ficaram muito felizes, mas Maria se destacou por ficar segurando-a forte por certo tempo.
	Após este episódio a mãe de Maria começou a trabalhar em uma escola e seus filhos ficavam
em uma creche até o término do seu expediente. Nesta época Maria falava muito, apesar de ser bastante tímida e gostar de brincar sozinha.
No ano de 2006, quando Maria estava com cinco anos, ela juntamente com seus dois irmãos foram novamente retirados da mãe, porém agora ficaram em uma casa de passagem , na cidade de Cianorte.
	A mãe de Maria relatou que as crianças foram retiradas dela em razão de ter um primo que estava envolvido com drogas no mesmo pátio, além de haver uma “rixa” antiga entre ela e uma assistente social, que fez queixa contra ela, alegando que a mãe mantinha relação sexual com seu novo parceiro na presença dos seus filhos.
	 Durante todo o período em que dona Graça ficou sem a guarda dos filhos ela não foi autorizada a visitar seus filhos, segundo ela, principalmente por causa de Maria que sentia muito a sua falta, pois se visse a mãe seria muito mais difícil para ela permanecer na casa.
	Neste tempo a avó materna ia visitar as crianças todo final de semana, mas procurava não falar na mãe, para não entristecer as crianças.
Maria com seus irmãos permaneceram nesta casa até o ano de 2007, quando foram transferidos para Aldeia SOS na cidade de Goioerê.
	De acordo com relatos da mãe, as crianças permaneciam em casas com uma mãe social, responsável por oito crianças. Lá as crianças precisavam auxiliar nas tarefas, tinham seus horários previamente definidos, ex. Hora de levantar, comer, estudar e dormir. 
	No ano de 2006, depois que as crianças foram para casa de passagem, a mãe, dona Graça, veio embora para a cidade de Brusque, onde permaneceu por alguns meses voltou ao Paraná e se instalou aqui definitivamente no ano de 2007.
	Em 2009, dona Graça e sua mãe ainda continuavam tentando restituir a guarda das crianças, porém não obtiveram sucesso. Neste mesmo ano dona Graça conheceu seu atual esposo que a ajudou a conseguir outro advogado para realizar nova tentativa de recuperação da guarda de seus filhos. 
	Este profissional teve acesso ao processo e conseguiu marcar uma audiência para o final de agosto de 2010, concedendo o juiz permissão para mãe visitar seus filhos, que não via a quatro anos. Maria completou dez anos na sexta-feira e recebeu a visita no domingo. A avó das crianças morreu no mesmo ano, não podendo compartilhar da alegria de ver seus netos novamente com a família.
	De acordo com dona Graça, ao reconhecerem a mãe, seus filhos a abraçaram e ficaram muito felizes, Maria porém não manteve diálogo. 
	Ao questionar os profissionais da instituição sobre a situação de sua filha, dona graça recebeu informações e um encaminhamento da psicóloga que estava atendendo Maria, para que ela desse continuidade ao tratamento, que havia começado pela inabilidade da menina em se comunicar.
	 Na terça-feira dona Graça já estava com seus filhos, pois o juiz lhe concedeu a tutela.
	Enquanto se preparavam para vir conhecer a nova residência, cidade, a mãe das crianças contava sobre como seria a nova realidade deles, que teriam um novo pai, estudariam perto de casa. Ao chegarem na cidade, o esposo de dona Graça foi busca-los na rodoviária e naquele momento Maria o abraçou, mas não falou com ele.
	Quando entraram em casa a família estava esperando a todos com uma festa e com presentes. As crianças ficaram muito alegres com a recepção.
Apesar da felicidade perceptível no rosto de Maria, ela evitava falar com a mãe e padrasto, interagindo apenas com seus irmãos, suas duas primas e uma tia.
	No primeiro dia útil da semana, dona Graça procurou a escola mais próxima de sua casa para matricular as crianças, levando consigo todos os documentos que tinha dos acompanhamentos médicos já realizados.
	Ao ter conhecimento sobre a história de vida e das necessidades das crianças, a equipe orientou a mãe sobre como deveria reagir diante da negação de Maria em comunicar-se com ela, orientaram professores sobre como Maria deveria ser tratada e avaliada, realizando os encaminhamentos para os serviços necessários como psiquiatra e psicólogo, neste momento via CREAS(Centro de Referência Especializado de Assistência Social). 
	No CREAS Maria foi atendida por uma equipe técnica, entre eles um psicólogo que conseguia comunicar-se com ela através de cartas. Na escola a menina foi encaminhada para participar do Atendimento Educacional Especializado, porém não compareceu aos atendimentos.
	Maria mostrou-se muito resistente a permanecer no ambiente escolar, realizando tentativas de fuga pelo portão, não se comunicando com nenhum colega, professor ou outro funcionário da escola.
	Os dias foram passando e a menina quase não se comunicava, falando apenas com os irmãos. Passados uma semana Maria começou a conversar com a mãe, comunicando-se com ela, dois irmãos, padrasto, uma tia e as primas.
	Depois de a escola ter encaminhado família para a assistência social, o irmão mais velho de Maria começou a frequentar uma escola especial Charlotte (associação de atividades Psicofísicas), além da escola regular.
	Com o passar dos dias Maria começou a confiar mais em sua mãe, falou que apanhou muito na casa de passagem e mostrou as marcas ainda existentes no corpo. Com estas conversas a mãe passou a ter uma relação mais próxima a ela, no entanto Maria também passou a ter crises de raiva, ansiedade, em casa. 	Quando em confronto com a mãe passou a agredi-la verbalmente e fisicamente, quebrando os móveis e utensílios domésticos.
	De acordo com dona Graça as brigas geralmente são geradas através da cobrança da mãe para que a filha ajude nos serviços diários, onde há a negação da menina e o princípio do “confronto”.
	Maria também se nega a ir para a escola, principalmente nos dias em que tem aula de matemática, pois diz que não gosta do professor.
No ambiente escolar, mesmo já tendo passados alguns anos, ela ainda não conversa com nenhum colega ou professor, tendo de ser avaliada de maneira diferenciada nos momentos da participação oral, porém apesar disso, não apresenta dificuldades de aprendizagem.
	Quando perguntado a mãe se ela sabia o motivo da revolta de sua filha com ela, a falta de vontade em ir para a escola, ela nos respondeu que havia tentado conversar com a filha a este respeito, questionando sobre fatos que poderiam ter ocorrido na casa de passagem, explicando sobre os motivos que a levaram para lá e que não permitiam que ela os visse, porém a menina apenas respondia que estes fatos eram “águas passadas”, que não queria falar sobre o assunto. Relativo as faltas na escola ela falou para a mãe que haviam escrito “coisas” a seu respeito na cadeira, por isso ela estava com vergonha e não queria voltar para a escola e confessou a prima que queria reprovar de ano para poder estudar com ela.
	O relacionamento de Maria com o padrasto é diferente. Segundo fala da mãe quando ele pede ela obedece, não desafia, fica mais tranquila, faz comida, entre outros. Ela também afirmou que tudo que ele pode, dentro das possibilidades, compra para a menina, assim como ela.
	Maria também apresenta insônia, medos noturnos, características de síndrome do Pânico, segundo Neuro pediatra que a atendeu. Por não conseguir dormir a noite, a menina fica olhando TV até a madrugada, porém não fica sozinha, sua mãe muitas vezes precisa ficar com ela, pois se não ficar ela tem crises em que começa a bater portas, quebrar as coisas,levantar volume da TV, entre outros. Dona Graça diz que muitas vezes cede as vontades da filha para tentar amenizar a situação, visto que o padrasto trabalha muito durante o dia e precisa descansar a noite.
	Durante o dia Maria fica constantemente olhando TV e comendo. Por vezes brinca de boneca, recorta vestidos de revistas. Quando suas primas vão até sua casa elas brincam juntas, posam uma na casa da outra. Em determinados momentos entram em atrito, mas nada diferente do que ocorre com todas as meninas de sua idade.
	Apesar das crises apresentadas por Maria, ela também demonstra carinho, abraçando o padrasto, ficando triste e chorando quando a mãe está doente.
Por causa destas constantes crises, que
ocorrem de acordo com a mãe, semanalmente, ela procurou auxílio da escola e dos profissionais de saúde para saber o que estava acontecendo com sua filha, fato que aumentou o número dos diferentes laudos emitidos, anteriormente citados.
1.2 ENTREVISTA I
	Após relato da mãe realizamos, as dependências da escola onde Maria estuda, entrevista com o padrasto. Optamos por realizar em um ambiente neutro para que não ocorressem interferências, em suas respostas, além dele ter a possibilidade apenas no horário em que a aluna já estava em casa.
	As perguntas realizadas a seu Áureo foram conduzidas de modo que pudéssemos perceber a disposição em reaver a guarda das crianças até sua visão sobre o caso de Maria nos dias de hoje.
	Seu Áureo conheceu a mãe de Maria no ano de 2009, onde nas primeiras conversas já teve conhecimento sobre a existência dos filhos de dona Graça e da situação em que se encontravam.
	Ao falar sobre as crianças, a mãe falou de sua luta para tentar reaver sua guarda, da falta que ela sentia, das lembranças que tinha de cada um, como do apego de Maria, do bom comportamento dos meninos.
	Seu Áureo tem um filho de 18 anos, e quando ele e dona Graça resolveram se casar o menino foi morar com o casal. A relação familiar entre eles, de acordo com o padrasto, era muito boa.
	Compadecido com a situação da esposa seu Áureo resolveu ajuda-la, contratando novo advogado para conseguir a guarda das crianças.
	Com o ganho de causa, a mãe foi buscar os filhos e quando chegaram na rodoviária o padrasto foi busca-los. Ao vê-lo Maria, assim como seus irmãos o abraçaram, e sua mãe disse que ele era o novo pai deles, Maria chorou, porém permaneceu calada.
	Semanas mais tarde, Maria começou a falar com o padrasto, perguntando se ele ia casar com sua mãe, disse que estava feliz com o casamento. Também contou a ele que apanhava no abrigo para dormir, pois lá havia horário para tudo.
	No tempo em que a menina não falou com o padrasto e com a mãe ela comunicava-se somente com o irmão mais novo.
	Com o passar do tempo a família começou a ter maior afinidade e com isso começaram as desavenças. Os meninos passaram a responder para seu Áureo, Maria começou a ter crises principalmente com a mãe. 
	O padrasto relata que estas crises acontecem geralmente quando a mãe pede para a menina ajudar nas tarefas domésticas. As reações dela são gritar, bater as portas, se trancar no quarto, quebrar as coisas. Maria já teve mais respeito pelo padrasto, quando ele chamava sua atenção ela obedecia mais, agora porém ela rebate. 
	Em sua fala ele diz que a noite ela não dorme, fica fazendo barulhos, levantando o volume da televisão, sendo necessário sua mãe ficar acordada com ela para ficar mais tranquila. O médico receitou medicamento para ela e para o irmão mais velho, porém ela não toma, chegando a não permitir que sua mãe sirva sua comida para colocar o medicamento no meio.
	Muitas das vezes em que Maria tinha os acessos de fúria, foi necessário que o padrasto chamasse a atenção dos irmãos, pois eles ficavam rindo dela. 
De acordo com seu Áureo os três irmão não brincam juntos, Maria fica assistindo TV o dia inteiro. No final de semana pede para ir na casa da avó(mãe do padrasto), ou do filho do padrasto que casou-se e tem um menino com quem Maria gosta de brincar.
	Para ele Maria faz as coisas muito bem quando tem vontade, como por exemplo comida. Também limpa a casa da tia onde costuma passear, demostrando comportamento diferente do que apresenta com sua mãe. A menina não apresenta as crises fora de casa, nem quando tem alguma visita em casa. Quando chega alguém que não conhece se tranca no quarto.
	Os pais nunca receberam reclamações da escola a respeito de Maria, a não ser das faltas que tem apresentado, que segundo a menina são por causa do que escreveram a seu respeito na cadeira de sua sala.
	Quando seu Áureo comenta da possibilidade de mudarem-se de bairro, de casa e de escola ela diz que não vai. 
	Maria é carinhosa, principalmente depois que chega da aula, é vaidosa, toma em média três banhos por dia, organizada com suas coisas, apesar de quebra-las em momentos de crise.
	Segundo a fala do padrasto a menina tona-se muito mais tranquila quando está longe dos irmão, fato que remete ao entendimento de seu Artur, de que grande parte de suas birras e crises são decorrentes da influência dos meninos. 
1.3 ENTREVISTA II
	Esta entrevista foi realizada com as primas de Maria, com as quais ela teve contato quando criança e desde o primeiro momento do reencontro ela sempre manteve comunicação.
	As duas foram descritas juntas, pois as respostas foram muito próximas. As meninas tem treze e onze anos de idade, a mais velha estuda no sétimo ano e a outra no quinto ano da mesma escola.
	As meninas se conheceram quando eram bebês. Maria morava com seus pais enquanto Júlia e Joana moravam na casa da avó materna, local que mais tarde também foi o lar de Maria.
	Júlia lembra quando Maria ia para a creche e as vezes ficava chorando porque não gostava de frequentar.
	No ano de 2005 Júlia e Joana vieram morar em Brusque e ainda lembram quando a mãe comentou em casa, no ano de 2006, que os primos haviam sido levados para o abrigo.
	Antes da chegada das crianças do abrigo, as primas de Maria dormiam na casa de dona Graça, pois ela sentia muito a falta de seus filhos.
	Em 2010 quando Maria chegou, as primas a estavam esperando, então ao se reencontrarem se abraçaram e logo foram brincar. 
	Desde este primeiro instante em que elas estiveram juntas já conversaram, falando sobre muitos assuntos, inclusive sobre sua vida no abrigo. 
	Maria contou para suas primas que no abrigo haviam muitas regras. Ao levantar precisavam arrumar o quarto antes de irem para a escola, era permitido olhar TV somente depois das duas horas da tarde, precisavam dormir entre as seis e sete horas, e quando estas ordens eram desobedecidas as crianças eram punidas.
	A menina ainda tem muitas marcas em seu corpo dos castigos que sofreu, ela tenta esconde-las com roupas compridas.
	Nesta casa que ela ficava com mais sete meninas sendo que apenas duas eram suas amigas. As meninas brigavam muito com Maria, a xingavam, fato que que fez, segundo ela, com que parasse de falar, pois ficou com medo das pessoas. 	Após este período Maria passou a selecionar com quem iria se comunicar, reduzindo significativamente seus pares. Nos momentos de conversa, quando chega alguém diferente, ela rapidamente se cala.
	Maria frequenta a casa das primas, dorme e faz as refeições, porém não conversa com a mãe das meninas, pois diz que a tia é muito brava, no entanto fica feliz quando ela participa de suas brincadeiras.
	A relação de Maria com suas primas é boa, não se diferindo das meninas da sua idade, onde discutem por ciume, e logo estão bem. Gostam de brincar de esconde-esconde, pega-pega, boneca, escola, onde Maria é professora ou diretora, que inclui nas suas aulas o ensaio para homenagem cívica e passeio.
	Segundo Júlia e Joana a prima se irrita com muita facilidade , sendo facilmente perceptível sua mudança de humor. Quando fica brava com as meninas para de falar por alguns instantes, diferentemente da reação com sua mãe, onde, ela xinga, fala palavrão, diz que a odeia, que é chata, pois a culpa de tudo que acontece. Maria nestes momentos de raiva afirma que preferia voltar para o orfanato, pois lá ela tinha mais carinho. 
	Durante estas desavenças Maria joga o que tem na mãos depois se tranca no quarto. Segundo as meninas dona graça a trata muito bem, sempre compra o que Maria deseja. Dona Graça fica muio desapontada quando isso ocorre e afirma que a menina reagirá de diferente forma quando quiser alguma coisa.
	Relativo a escola, houve uma proposta por parte de Maria, de que a prima mais velha, Júlia, reprovasse de ano para poderem estudar juntas, diante da negativa ela se dispôs a ser retida para então frequentar a mesma turma de Joana. Sabendo desta situação dona Graça ameaçou colocar Maria em uma escola especial, se isto ocorrer.
	Tratando-se
dos relacionamentos escolares ela afirma para as primas que gosta de dos professores, exceto o de matemática, onde falta na maioria de suas aulas. Diz que não suporta duas de suas colegas, que tem vontade de bater nelas, mas não demonstra suas intenções. Maria fala que ficou com vergonha e com raiva do que escreveram dela em uma cadeira, mas não comenta o que foi.
	O sonho de Maria é ser estilista, gosta de olhar revistas de moda e brincar de recortar os modelos de vestidos.
	Ela como toda menina, apresenta interesse por um menino que mora perto de sua casa e trabalha em uma padaria.
1.4 ENTREVISTA III
	Esta entrevista foi realizada nas dependências da escola com a coordenadora que acompanha o caso de Maria desde sua chegada.
	No ano de 2010 quando Maria chegou, seu comportamento foi muito difícil de mediar, pois ela não queria entrar na escola, sendo necessário deixar o portão fechado para não ir embora.
	Apesar desta situação até hoje apresentou apenas uma crise, que ocorreu no seu primeiro ano. O fato ocorreu durante um passeio de algumas turmas ao SESC(Serviço Social do Comércio). Havia uma menina que estudava na turma ao lado da sua que foi ao passeio, Maria tinha medo dela, apesar de nunca te-la visto antes e não ter nenhum contato, e quando ela a viu vindo em sua direção teve uma crise se debatendo no chão e gritando muito, sendo necessário o professor de educação física e a coordenadora para acalma-la e leva-la novamente para a escola. 
	Ainda neste período certa vez teve um atrito entre Maria e a coordenadora, porque foi para a escola sem uniforme e teria que assinar um documento de justificativa, a aluna ficou muito nervosa, baixou a cabeça, se escorou na porta e chorou.
	Nestes momentos de adaptação de Maria a nova escolar e da escola a ela, foram organizadas reuniões com os professores para saberem como dispensar mais atenção, afeto e compreensão, mesmo sabendo que não teriam reciprocidade, sendo explicado explicado o caso a todos e se estudando os encaminhamentos que poderiam ser realizados.
	Com estas ações a aluna melhorou muito seu comportamento, tendo boa relação e com todos, apesar da falta de fala.
	A reclamação dos professores, em geral, são porque Maria não realiza as tarefas, não tendo relação com o comportamento ou descumprimento de regras
	Dentre todas as atividades oferecidas na escola, percebe-se que a aluna mais aprecia é o jogo de pingue-pongue e fazer desenho. 
Todos os inícios de ano,a equipe pedagógica da escola se organiza para repassar informações a respeito de Maria, para que seja dada continuidade ao trabalho. 
	O contato da escola com a família de Maria é muito eficaz e auxilia os encaminhamentos que ainda ocorrem. Maria apresenta comportamentos diferenciados da escola e de casa, mas sempre que algo ocorre dona Graça procura a equipe pedagógica para informar e pedir auxílio.
1.5 ENTREVISTA IV
	A quinta entrevista foi realizada com a professora do ESPIN(espaço informatizado), local muito apreciado por Maria, além ter sido ela a professora da aluna quando a mesma chegou na escola.
	Quando Maria chegou, começou a frequentar o terceiro ano. Sílvia era sua professora e conta que no princípio não aceitava ninguém encostasse nela. 
	Com o tempo foi sentindo -se mais segura, em alguns momentos em que estava realizando atividades que gostava distraía-se, e ficava tão a vontade, que quase falava. Quando ela percebia que estava prestes a falar calava-se.
	Atualmente Maria cumpre as regras da sala de informática, realiza as atividades de acordo com que consegue. Quando sente dificuldades não pede auxilio mas aceita a ajuda dos colegas que percebem sua necessidade.
	A professora tem boa interação com a aluna, sempre que passa mexe com ela, toca em seu cabelo e a menina por vezes sorri. Quando Sílvia a toca ela permite, apesar de ainda se assustar com o toque. 
Quando Maria não quer realizar alguma atividade, fica de braços cruzados e fisionomia fechada.
	1.1.1 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES E ENTREVISTAS
								Após avaliação, notou-se que muito das reações de Maria, tem relação direta com sua estrutura emocional, formada a partir de suas experiências. 
Nos relatos das entrevistas realizadas, percebe-se, através de suas reações, que a menina ainda sofre quando passa por situações que retomam sentimentos negativos já experimentados. 
					A separação de sua mãe, a saída do seu grupo de convivência e o tempo em que permaneceu longe de sua família, foi causador de muitas experiências negativas, que quando revividas causam raiva, fuga, agressividade e retraimento social
Ansiedade, depressão ou até mesmo suicídio são os tipos mais comuns de problemas atribuídos aos rompimentos dos laços afetivos. Sabemos que crianças separadas das mães até os primeiros cinco anos de idade são frequentes em pacientes mais tarde diagnosticados como psicopatas ou sociopatas. Sabemos, também, que grandes perdas afetivas (poderão acarretar) acarretarão, mais tarde, problemas potencialmente perigosos.(GOOS, 2000,p.48)
	Maria tem dificuldade em reconhecer e lidar com seus sentimentos, tendo reações que a prejudicam e prejudicam as pessoas próximas a ela. Nega-se a estabelecer qualquer vínculo com outras pessoas além de seu pequeno grupo familiar de convivência.
	No período que ficou longe de sua mãe, seu lar foi o abrigo e neste ambiente a menina sofreu agressões físicas, privação, entre outros.
	Segundo Reichenheim, Hasselmann e Moraes, (apud KELLING, 2006, p.21), as consequências psicológicas da violência familiar na saúde de suas vítimas podem aparecer sob a forma de... repercussões psicoemocionais, como ansiedade ou depressão, dificuldade de relacionamento e comportamento manifestados por agressividade, timidez, isolamento social progressivo e distúrbios do sono e do apetite; ou ainda, problemas na esfera de atividades como, por exemplo, baixa performance social e intelectual, pode ser consequência emocional da violência física.
	Seus maiores conflitos ocorrem com a mãe, com a qual não demonstra pudor, nem controle durante as brigas. Demonstrando que quanto maior o vínculo menor o controle sobre suas excitações.
	Não temos conhecimento do que a menina ouviu a respeito de dona Graça durante o tempo que não tiveram contato, mas podemos mensurar o que sentiu como consequência da separação: sentimentos como saudade e desamparo.
	De acordo com Bwlby (apud GOSS, 2000) quando a criança é separada da mãe ela tem a capacidade de guardar a imagem da mãe durante certo período de tempo, passado este período se a mãe retorna e a criança sente o vínculo reatado, o comportamento de ligação se estabelece, no entanto se compreende que a mãe não está disponível, a criança torna-se muito hostil e com comportamento negativista. 
	 A mãe de Maria em contrapartida sente-se culpada pela situação a que os filhos foram expostos, cedendo a todos os caprichos da menina, tendo portando dificuldade em estabelecer regras e limites a filha.
	O medo que ela apresenta em perder o amor de Maria a paralisa diante das situações de confronto, fato que acaba por não auxiliar no desenvolvimento emocional de sua filha.
	A escola é interpretada por Maria como ambiente inseguro, na qual não pode confiar, fazendo com que a menina não crie vínculos nem com professores nem com colegas.
	Sendo assim, pode-se dizer que Maria tem dificuldades em administrar seus sentimentos e suas reações, precisando recuperar sentimentos que foram intensamente vividos na infância, para a partir destes conseguir resolver seus conflitos, pois se estes sentimentos forem bem resolvidos ela saberá lidar com atuais e com novas situações indesejosas que vão surgindo.
2.SESSÃO DE VÍNCULO E OBSERVAÇÃO
	Pela dificuldade de aproximação, conversação, entre outros, a sessão de vínculo não pode ser organizada de forma convencional. As observações ocorreram com a aluna em meio a seus grupos de convívio e a análise realizou-se através das entrevistas com as pessoas
que a rodeiam e durante as intervenções.
	Apesar de termos conhecimento das características da aluna, tentamos aproximação na escola, em sua residência, através de conversa e bilhete, porém não obtivemos resultados satisfatórios.
	Durante tentativa de aproximação em sua casa a menina trancou-se em seu quarto, não respondendo a nenhum questionamento verbal nem escrito, não demonstrando interesse em manter contato.
	Foram realizadas algumas visitas a família, mas nenhuma com retorno por parte de Maria. 
	Na escola as observações e intervenções ocorreram durante o período de aula, em meio a turma, para que assim Maria não percebesse que estava sendo avaliada e em processo de intervenção.
3.DIAGNÓTICO NEUROPSICOPEDAGÓGICO
	Maria está com treze anos, no sexto ano do ensino fundamental, não apresenta dificuldades de aprendizagem, demonstrado boa compreensão dos conteúdos conceituais. 
	Sua maior dificuldade ocorre com os conteúdos que exigem abstração, expressão oral ou exposição física.
	Resolve problemas, contas de somar e multiplicar, dividir e diminuir, não apresentando melhores resultados em razão das faltas as aulas. Por vezes demonstra desinteresse por trabalhos que não entrega no prazo.
	Tem boa leitura de mundo, leitura e interpretação de texto, verificado através de respostas escritas em provas e trabalhos. Sua escrita, apesar de sucinta não apresenta muitos erros ortográficos. Sua letra é pequena, mas compreensível, conseguindo realizar cópia do quadro sem problemas.
	Seu desenho ainda é pobre em detalhes, construído apenas com as partes básicas, como por exemplo da figura humana.
	Em relação as suas relações interpessoais, demonstra dificuldade em desenvolver relacionamentos e vínculos na escola, com professores e alunos, apesar de participar dos trabalhos em grupo, jogar tênis de mesa, participar de todas as atividades escolares, exceto passeios.
	Contudo, não tem problemas de comportamento na escola, cumprindo regras estabelecidas no pequeno e no grande grupo. 
	Maria demonstra bom desenvolvimento psicomotor, com grande interesse pelas atividades corporais que são trabalhadas nas aulas de educação física. Identifica-se com jogo de pingue-pongue, jogando sempre quando possível, inclusive, na hora do recreio. 	
	Possui muitos medos e demonstra insegurança, permanecendo por longos períodos com a cabeça baixa, geralmente apoiada em uma parede.
	Seu comportamento no meio familiar é muito distinto, tendo um seleto grupo com quem conversa e desenvolve relações de vínculo, porém apesar de estabelecer relacionamento tem crises de birra e fúria, não conseguindo controlar seus impulsos e revoltando-se principalmente com sua mãe.
	Maria gosta muito de moda, brincar com recortes de roupas de revistas e comenta com a família que deseja ser estilista.
4.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Serão apresentadas breves descrições das características dos diagnósticos emitidos a Maria, para que assim possa se ter uma melhor visão sobre o caso.
	4.1 AUTISMO OU (TEA)TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
	O autismo é uma síndrome definida por alterações presentes, geralmente antes dos três anos de idade, que causam desvios na comunicação, na interação social e no uso da imaginação, podendo ser encontrado em suas diferentes formas, sendo classificado em leve, moderado ou profundo.
	Estudos apontam que o autismo está mais ligado a um prejuízo orgânico neurológico central que apresenta alterações cerebrais, as quais, por sua vez, acabam por acarretar problemas não só cognitivos, como também psicomotores, que combina causas hereditárias e ambientais
	De acordo com Melo, (2007) Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatria Bleuler, em 1911, para designar a falta do contato com a realidade no quadro da esquizofrenia, e consequente dificuldade ou impossibilidade de comunicação.
	As primeiras publicações sobre o autismo foram feitas por Kanner no ano de 1943, Kanner (1943, apud Melo 2007), onde comenta sobre o que lhe chamou a atenção foi o fato do autismo gerar uma incapacidade de relacionar-se com as pessoas e com as situações. 
	Asperger (1944, apud Melo) sem conhecimento do trabalho de Kanner, em 1944 publicou suas observações realizadas com crianças na Clínica Universitária de Viena. Sua percepção foi que a principal caraterística demonstrada por estas crianças era a limitação das relações sociais.
	Os dois estudos apresentaram caraterísticas semelhantes e outras distintas o que difere as crianças com a antiga denominação Síndrome de Asperger e Autismo.
	 Asperger acreditava que o autismo era ocasionado por um erro inato e congênito, Kanner, dizia que poderia ser resultado de falta de estímulos e distanciamento dos pais (mãe geladeira). 
	Ainda não se conhece a causa do autismo, mas se reconhece que tem indícios genéticos, onde em alguns casos começa a se perceber os indícios logo que a criança nasce, como rigidez corporal, dificuldade em sugar no peito da mãe, em olhar e interagir com o outro, em outros casos as alterações tornam-se perceptíveis através da observação do atraso da linguagem, ecolalia, fala robotizada, na interação com outras crianças, nos movimentos repetitivos.
	Uma das características do autismo é a ausência de habilidades sociais, o que não permite que o autista compreenda fisionomias, perceba emoções alheias e interprete sentimentos, fato que dificulta a criação de vínculos afetivos. A inabilidade social faz com que o autista sinta medo de contatos mais íntimos, pois não consegue perceber o desejo e a intenção do outo. 
	Outra característica marcante é a dificuldade na linguagem, que para Jerusalinsky (2012) ocorre por que o autista não constitui seu consciente através dela, e sim pelo que ele chama de automatismos, que fazem com que o autista forme-se fora da linguagem, fato que gera os desvios do olhar do outro semelhante e fazem-se de surdos ao ouvir o som da fala humana.
	O desenvolvimento da linguagem varia de autista para autista e é usado como comparativo para designar o grau de autismo da criança, pois alguns tem uma fala compreensível, outros realizam apenas repetições e alguns não chegam a falar.
	Para Kearney:
Para que o autismo possa ser diagnosticado, as crianças devem apresentar atraso no funcionamento normal, ou funcionamento inadequado antes dos três anos. A extensão desses atrasos podem no entretanto, variar consideravelmente. Além disso, as áreas social, comunicativa e comportamental devem estar muito prejudicadas.(2012, p.143)
	Além destas existem outras características que podem nortear o diagnóstico de autismo. 
	O diagnóstico, que é realizado através do quadro clínico, não existindo exames laboratoriais, deve ser feito o mais cedo possível para um melhor resultado de intervenção:
	Reduzida manutenção do contato visual; 
	Atraso na aquisição da linguagem; 
	Não responder ao ser chamado pelo nome, parecendo surdo; 
	Risos e movimentos pouco apropriados e repetitivos, constantemente ou quando entusiasmado; 
	Manipulação de dedos ou mãos de forma peculiar; 
	Repetição constante, para si mesmo, de frases e conteúdos que ouvem de diálogos, desenhos animados, filmes, documentários, etc. 
	Produção frequente de vocalizações sem uso funcional; 
	Isolamento social, interagindo menos do que o esperado para crianças da sua idade; Preferência por interações com adultos, conversando por muito tempo sobre tópicos avançados para a sua faixa etária; 
	A intenção comunicativa e a interação ocorrem preferencialmente para suprir as suas necessidades e/ou explanar os tópicos de seu interesse; 
	Manipulação de objetos e brinquedos de maneira não habitual; 
	Presença de respostas anormais a barulhos e tato; 
	Prejuízo da crítica em relação a situações de perigo; 
	Capacidade de imaginação, fantasia e criatividade reduzidas; 
	Interesses específicos muito exagerados, que comprometem as interações sociais com colegas; 
	Rigidez no comportamento e rotinas. 
4.2 MUTISMO
SELETIVO (MS)
					O mutismo seletivo (MS) é uma desordem psicológica, descrita com o nome de afasia voluntária em 1877, pelo médico Kussmaul. É caracterizado pela recusa em falar em determinadas situações, e pessoas. Geralmente envolve crianças tímidas, introvertidas e ansiosas, fazendo parte do quadro de características de crianças com fobia social, autismo, trauma, entre outros.
	As crianças com MS não apresentam problemas de comportamento ou aprendizagem, falam com um pequeno e determinado grupo de pessoas mais íntimas, com os animais, mas não falam com adultos desconhecidos ou que não tenham afinidade.
		Apresentam características semelhantes a extrema timidez, porém com um tempo de duração e intensidade muito maiores. Por ser uma desordem psicológica não apresentam problemas na linguagem, de compreensão nem de fala, sendo outra a causa do MS.
	Para Meyers (1999, apud Peixoto 2006), mutismo seletivo se refere a uma forma de comportamento relativamente raro, na qual crianças que apresentam desenvolvimento da linguagem apropriado para a idade elegem permanecer em silêncio, falando unicamente com pessoas que ela seleciona. 
		O pequeno círculo íntimo com quem o mutista seletivo fala é frequentemente formado por membros familiares, parentes e amigos íntimos. 
	Os sintomas do MS aparecem geralmente quando a criança começa a frequentar a escola, por volta dos três anos de idade, quando ela passa a ser exposta a situações antes não vivenciadas. Antes deste período a criança é considerada como tendo um perfil de personalidade tímido, ficando mais difícil o diagnóstico do MS.
			Conforme Barbirato (2009), a dificuldade de interação, socialização e verbalização da criança com MS, faz com que ela não participe de peças teatrais, roda de conversa, apresentação de trabalhos orais, que torna seu desenvolvimento prejudicado, interferindo inclusive nas questões psicológicas de segurança, autonomia, pois estas não verbalizam seus sentimentos, não expõem suas frustrações, dúvidas, o que gera dificuldades psicológicas.
	Em uma pesquisa realizada foram encontradas características comuns a crianças com mutismo seletivo, sendo entre estas a de maior prevalência a fobia social, seguido por timidez, ansiedade e por fim comportamento desafiador opositor.
	De acordo com alguns autores existem subtipos de mutismo seletivo assim como variadas possibilidades de causa.
	Conforme consta em (Peixoto, 2006), o Ms pode ser enquadrado nestes subtipos dependendo da variação do comportamento: 
	a) mutismo simbiótico, caracterizado por uma relação simbiótica com aquele(a que cuida dele e por uma relação negativista e manipuladora controlando os adultos em volta dele; 
	b) mutismo com fobia para falar, caracterizado por um medo de escutar sua própria voz, acompanhado de comportamento obsessivo-compulsivo; 
	c) mutismo reativo, caracterizado por timidez, retraimento e depressão, que aparentemente parece ser resultado de algum evento traumático na vida da criança; 
	d) mutismo passivo-agressivo, caracterizado por um uso hostil do silêncio como se fosse uma arma. 
	Para Stein (2001, apud Peixoto, 2006), nos últimos trinta anos houve uma mudança na concepção dos pesquisadores sobre a causa do MS, onde este era descrito como consequência de um trauma emocional, familiar ou ambiental, como por exemplo abuso sexual e morte de familiar.
	Atualmente para se achar a causa levam-se em consideração um conjunto de fatores como:relação familiar(superproteção ou dominação materna, pai distante e severo), fatores biológicos, temperamento ansioso, inibido, timidez.
4.3 TRAUMA
	Muitas pessoas demonstram atitudes que não compreendemos em razão de traumas, palavra encontrada no dicionário virtual Wikipédia, que vem do grego e significa ferida, lesão causada por agente externo, ou seja, experiências ruins que foram vividas que deixaram marcas, trazendo medos e reações inesperadas para determinadas situações. 
	Freud (1920, apud Borges, 2009) já estudava este tema em 1985, e em 1920 caracterizou o trauma como um “afluxo de excitações que é excessivo em relação a tolerância do indivíduo e a sua capacidade de dominar e elaborar excitações”.
	Sendo assim, uma situação de conflito,(evento estressor), poderá ser sentida de maneiras diferentes, dependendo da tolerância psicológica da pessoa, levando a formar ou não um trauma. 
	Quando estas vivências com experiências ruins transformam-se em trauma o indivíduo passa ter e sentir a vida de uma forma diferente depois do ocorrido.
	Esta nova forma de interpretar o mundo causa sofrimento, levando a situações que prejudicam sua auto-imagem, auto-confiança, formação de vínculo, convivência nos círculos sociais, autonomia, entre outros. 
	No Manual de Diagnóstico e estatística de Doenças mentais, DSM IV, o trauma é definido como sendo: 
Experiência pessoal direta com um acontecimento que envolva a morte ou ameaça de morte ou ferimento grave, ou outra ameaça à integridade física; ou observar um acontecimento que envolva a morte, ferimento ou ameaça à integridade de outra pessoa; ou ter conhecimento acerca de uma morte violenta ou não esperada, ferimento grave ou ameaça de morte ou ferimento vivido por um familiar ou amigo íntimo. A resposta da pessoa ao acontecimento deve envolver um medo intenso, sentimento de incapacidade de ter ajuda ou horror(DSM-IV, APA,1994.p. 435).
	O trauma pode ser causado por vários tipos de eventos aterrorizantes, que tornam-se lembranças impressas nos circuitos emocionais que invadem a consciência em momentos inesperados e incontroláveis. 
	Segundo Goleman(1995) estas lembranças traumáticas são como “gatilhos sensíveis”que disparam ao menor sinal de que outro evento possa ocorrer, gerando o medo, pânico e outros transtornos.
	A situação traumática é constantemente imposta ao indivíduo, sendo apresentada inclusive durante o sono através de sonhos. Estas imposições que reportam a lembrança da situação vivida começam a afetar o indivíduo no seu dia a dia, interferindo nas atividades cotidianas. 
	Esta lembrança do trauma deixa o cérebro em prontidão para reagir a qualquer estímulo que se pareça com a situação traumática, trazendo à tona sentimentos já vividos anteriormente como a raiva, a angústia, o medo, sentimento de impotência frente a situação, tornando incontrolável suas excitações.
	Apesar de existirem vários fatores que podem provocar um trauma, os maiores e mais prejudiciais são os que envolvem maus tratos, pois nestes casos, para Goleman(1995) a vítima sente como se tivesse sido escolhida como alvo de uma maldade, e isto destrói sua confiança nas pessoas com as quais se relaciona. 	Para estas vítimas o mundo torna-se como uma ameaça em potencial a segurança, fazendo com que a mesma esteja sempre em super vigilância, apresentando atitudes inesperadas e anormais para determinadas situações, principalmente no convívio social.
	Conforme Goleman(1995), a perturbação de Stress Pós-Traumático- (PTSD) é o que mais provoca danos na pessoa, pois esta causa uma mudança orgânica no cérebro, fazendo com que a extinção do medo se torne muito mais difícil, havendo uma anormal persistência de lembranças emocionais, sendo necessário maior tempo de experiências adequadas para este trauma desaparecer. 
	Para que ocorra a recuperação de um trauma é necessário que a pessoa traumatizada obtenha uma sensação de segurança, consiga lembrar da situação vivida e lamente a perda que ela trouxe, sem o sofrimento causado.
	Para chegar a este estágio a psiquiatra Judith Lewis, (apud Golemann,1995) comenta sobre algumas alternativas para se ter a “cura” do trauma através da reaprendizagem emocional:
		1º-É necessário que a pessoa compreenda que os pesadelos, a hipervigilância, fazem parte dos sintomas do trauma;
	2º-Precisa desaprender o que o trauma ensinou, ou seja, a impotência diante das situações;
	3º-Falar sobre a situação, expressando através de palavras os sentimentos que teve, o que faz que reviva o trauma de forma segura
e controlável, modificando a memória em relação a emoção;
	4º- Lamentar o trauma, para reconstruir nova vidas
Estas alternativas para se levar a pessoa a vencer suas dificuldades necessita de um profissional que auxilie nos passos que devem ser seguidos, para que se obtenha sucesso em todo o processo, levando o indivíduo a reconhecer e trabalhar suas emoções.
	
5.INTERVENÇÃO
	Os sentimentos e emoções afetam todo nosso organismo. Como não é algo que podemos visualizar, é abstrato, muitas vezes temos dificuldade em identificá-los ou entendê-los e assim, organizá-los. Sentimos angústia, cansaço, uma grande confusão que nos impede até de pensar e, fugimos. Não queremos pensar e muito menos enfrentar, ainda que inconscientemente. Mas logo a angústia insiste em retornar como se fosse para nos lembrar de que há algo mal resolvido dentro de nós. 
	Pelas dificuldades de Maria em administrar, compreender e expor seus sentimentos, comportamento característico de trauma, a intervenção foi realizada com base na teoria de Alfabetização Emocional, discutida por alguns autores, em especial Daniel Goleman, em seu livro intitulado Inteligência Emocional(1996). 
	De acordo com Santos (2000, p.46 ):
A Educação Emocional consiste em utilizar-se a energia psíquica disponível do pensamento, atenção e vontade, para a identificação e avaliação das emoções, bem como da atuação da pessoa no sentido de interferir no curso natural da parte consciente do processo emocional.
	A partir do treinamento emocional a criança passa a ter subsídios para conhecer-se melhor e analisar suas emoções, pensamentos, atenção e vontade.
	Estabelecido o autoconhecimento a criança passa a conseguir verificar qual qual sentimento está causando determinada emoção e tem a capacidade de atuar conscientemente sobre este, não acarretando em prejuízos a ela nem ao outro. 	Com a alfabetização emocional, pretende-se alcançar na criança uma capacidade de auto gerir seus sentimentos, controlando seus impulsos e adianto suas satisfações, gerando sentimentos que facilitam o pensamento, e como consequência trazendo melhorias no seu bem estar e socialização.
	Sendo assim, as atividades sobre alfabetização ou Educação emocional são organizadas com o intuito de promover o auto conhecimento, avaliação, expressão das emoções, para promover o controle de maneira consciente destes sentimentos. 
	Portanto, as intervenções foram discutidas e planejadas no intuito de oferecer subsídios para que Maria pudesse se autoconhecer, percebendo e discriminando seus sentimentos, através de uma autoanálise, para que assim pudesse agir sobre eles, encontrando a melhor alternativa para lidar com estes sentimentos sem causar prejuízos a ela e ao seu semelhante. Promovendo desta forma seu crescimento emocional e intelectual.
5.1 PRÁTICA DA INTERVENÇÃO:
A) Intervenção1:
Objetivo: Apresentar a proposta de trabalho a ser desenvolvido na turma
Material:Retroprojetor
Metodologia: Apresentação da proposta através de fala e visualização de um vídeo sobre os sentimentos:Os sentimentos e os tesouros do arco íris.
	Reflexão:Todos temos dificuldades, que nos deixam tristes, com raiva, com medo. Isso porque, na vida, nem sempre conseguimos tudo o que queremos ou precisamos. Quando sentimos coisas assim, precisamos entender o que estamos sentindo para podermos lidar melhor com os sentimentos. É então que nossas emoções começam a existir. Emoções são coisas que sentimos dentro de nós que podem ser boas e ruins. Se aprendermos a perceber quando estamos com tristeza, raiva ou alegria podemos aprender a pensar porque estamos sentindo essa emoção e então pensar em alguma saída; assim estaremos resolvendo nossos problemas no momento, sem deixarmos para resolver depois. Isso nos faz sentir mais tranquilos.
Tempo da intervenção: 1h e 30 minutos
Resultado: A primeira intervenção foi realizada com todos os alunos da turma. Como esta era apenas a apresentação da proposta do trabalho, Maria não se manifestou, ficou apenas observando a fala da professora e o vídeo. Seus colegas foram mais enfáticos e já realizaram algumas conversas sobre o assunto. Discutiram sobre recompensa e demonstraram interesse pelo trabalho.
O fato da proposta ter sido bem aceita pelo grupo, incentiva Maria a participar das atividades, embora ela não estabeleça conversação com os colegas ela é influenciada por eles, pois se importa com o que pensam.
B) Intervenção 2 :
Objetivo:Tornar possível através da prática de dinâmica e desenho, o reconhecimento dos nossos sentimentos a partir de nossas escolhas em situações do cotidiano, pois para poder aprender sobre nossas emoções, precisamos conhecer como somos, o que gostamos e o que não gostamos de fazer.
Material: Papel, lápis ou caneta
Metodologia: Dinâmica e desenho sobre o que lhe da prazer
Dinâmica: Leilão
Os alunos deverão sentar em círculo, onde todos poderão se enxergar. Serão oferecidas várias coisas que possuem valores diferenciados, onde os alunos deverão dar um lance, comprando o que está sendo oferecido de acordo com seu interesse. Todos terão em mãos simbolicamente doze reais (R$12,00) para gastar com as coisas que lhe são importantes. Se derem um lance de R$12,00 compram apenas um “desejo”, lances menores podem comprar mais de um. 
Os itens são os seguintes: amizade, tristeza, alegria, medo, ciúme, nervosismo,esportes, raiva, férias, família, amor, viagem.
Após a compra os alunos deverão expor porque compraram determinado “desejo”, e em seguida serão questionados sobre o significado de cada um daqueles sentimentos e quando o sentem.
Questionar e explicar o que significa cada sentimento (amizade, tristeza, alegria, medo, ciúme, nervosismo, amor, raiva) e quando que os sentimos.
Tempo da intervenção: 1h e 30 minutos
Resultado: Na segunda intervenção Maria sentou com o grande grupo, participou da atividade, porém sem manifestar-se oralmente. Esboçou sorrisos, virava-se de costas para que os colegas não a vissem sorrindo, apesar de não ter comprado nenhum item. 
Na segunda parte da dinâmica, onde deveria realizar o desenho das coisas que gosta de fazer, mostrou que as práticas com exercício físico, que incluem, os jogos de tênis de mesa e basquete são as que lhe proporcionam prazer.
C) Intervenção 3:
Objetivo: Mostrar que todos somos muito importantes, necessários e que sempre precisamos de alguém
Material: folha em branco e caneta
	Metodologia: Dinâmica 
Dinâmica do autógrafo: Os alunos deverão pegar uma folha em branco, onde terão a função de conseguir o maior número de autógrafos possível dos colegas.
Após a dinâmica questionar quem dá autógrafos? Por que se dão autógrafos?Colocar que nós também somos importantes para alguém e assim como gostamos de receber devemos gostar de dar.
	Tempo da intervenção: 1h 
Resultado:Na terceira intervenção, Maria retraiu-se, teve dificuldades em sair do seu lugar, não tendo a iniciativa de ir em busca do solicitado.
Nesta atividade foi necessário os colegas irem ao seu encontro para que ela participasse. Isto fez com que ela percebesse como ela é importante, não deixando de assinar as folhas dos colegas.
		Durante esta dinâmica teve um momento em que todos estavam em torno de sua mesa, situação diferente do seu cotidiano, que não lhe causou grande estranheza.
D) Intervenção 4: 
Objetivo:Pensar sobre as pessoas são importantes, que se pode confiar, partilhar seus momentos de alegria, tristeza, etc.
Material: Papel e lápis
Metodologia: Pensar em todas as pessoas que são importantes para cada cada um e escrever seus nomes em uma folha em branco, colocando qual o parentesco ou afinidade, isto em ordem de preferência.
Após atividade ouvir dos alunos por quais motivos escolheram determinadas pessoas, e pedir que escrevam ao lado do nome, logo após comentar que existem pessoas que gostamos muito e que sabemos que podemos confiar em qualquer momento pois estão sempre dispostas a nos ajudar.
Que estas pessoas são muito importantes para nós
desabafarmos quando estamos passando por um momento de raiva, tristeza, rancor, pois elas nos auxiliarão a nos sentirmos melhor e tomar as decisões mais coerentes, sem nos prejudicar ou prejudicar o outro.
	Tempo da intervenção: 2h
Resultado:Na quarta intervenção foi possível perceber que Maria possui vínculo com poucas pessoas, sendo que as nomeadas durante a dinâmica foram as pessoas de sua família. Na sua relação de importância a tia apareceu em primeiro lugar, sendo considerada a pessoa mais confiável, por quem Maria tem apreço. Nos relatos das entrevistas consta que esta mesma tia é a que foi visitá-los no abrigo. Após a tia, Maria citou seu irmão mais novo e depois sua mãe e padrasto.
E) Intervenção 5:
Objetivo:Perceber o que eu não aceito em mim, criando alternativa para a situação
Material:Papel e lápis
Metodologia:Dinâmica 
Dinâmica da autoaceitação: Escrever em um pedaço de papel uma coisa que não gostam em si e gostariam de mudar, colocar em uma caixa, onde a professora irá sortear e discutir com os alunos.
Após atividade comentar com os alunos que todos temos defeitos e qualidades, que existem atitudes e características que nós não aceitamos nos outros e nem em nós, mas que podemos encontrar alternativas para melhorar a situação. Se o que não gostamos é da aparência física, existem muitos métodos, e maneiras de melhorar a beleza, se for de ordem atitudinal devemos repensar sobre que atitudes estamos tendo diante dos enfrentamentos da vida, com isso estaremos melhorando como pessoas.
	Tempo da intervenção: 1h e 20 minutos
Na quinta atividade Maria não participou, todavia ficou atenta a discussão.
F) Intervenção 6:
Objetivo: Reconhecer quando se sente bravo , com raiva, feliz, frustrado, entre outros, e como reage a estes sentimentos.
Material:Questionário, lápis
Metodologia:Reflexão e discussão a partir das respostas escritas dos questionamentos
a) O que você não gosta em você?
b) Como você gostaria de ser?
c) Como você é em sentimentos? (alegre, triste, nervoso,...) 
d) Você já fez alguma coisa que deixou alguém feliz? O quê?
e) O que você faz que entristeça outras pessoas?
f) O que te diverte?
g) Como você está se sentindo?
h) Que coisas deixam você com raiva.
i) O que você faz quando está com raiva?
j) Como você se sente quando você quer assistir à televisão e a sua mãe diz que é hora de dormir ou fazer a tarefa?
k) Como você se sente quando você tenta entender uma história e não consegue?
l) O que te deixa com medo.
m) O que você faz quando está com medo?
n) Como você se sente depois de conseguir alguma coisa que tinha dificuldade?
o) Escreva outras coisas que você não sabe e quer aprender.
p) Em qual situação na sua vida que você se sentiu incapaz, triste, com raiva ou frustrada? Por quê?
	Tempo da intervenção: 1h e 40 minutos
Resultado:Esta foi a intervenção que conseguimos um maior retorno de Maria, pois apesar de ter dado respostas curtas não deixou de responder. Pode-se perceber através das respostas do questionário que Maria na maior parte do tempo sente-se nervosa, triste, brava, com raiva e medo, colocou que a situação de sua vida que se sentiu incapaz, triste, com raiva ou frustada foi no lugar onde morava, ou seja, no abrigo. Esta foi a única vez que mencionou algo desagradável em relação ao tempo em que esteve afastada da mãe.
G) Intervenção 7:
Objetivo: Encontrar soluções para as questões que não tenho dificuldades em lidar
Material:Questionário respondido, caixa , lápis e papel
Metodologia: Dinâmica
Caixa dinâmica das soluções: Cada aluno pensando em suas respostas das questões 5, 8,10,11,12 e 16 deverão apresentar soluções para estes problemas. Estas soluções devem ser escritas junto com o problema citado. Este papel deverá ser colocado em uma caixa para sorteio e posterior discussão com o grupo.
Tempo de intervenção: 2 horas
Resultado: Neste momento Maria mostrou-se com dificuldade em descrever as possíveis soluções para as questões. A alternativa que encontrou para a raiva que sentia quando lembrava das brigas no abrigo, foi a de não brigarem com ela, pois assim não teria este sentimento.
H) Intervenção 8:
Objetivo:Compreender que não conseguimos resolver todos os problemas sozinhos, devemos repartir nossas frustrações pois assim as coisas tornam-se mais fáceis de serem resolvidas
Material: Balão, lápis e papel
Metodologia: Dinâmica 
Dinâmica dos balões: Pensar em alguns problemas que ocorrem na sua vida, escrever em pequenos papéis esses problemas, colocar dentro de balões (cada problema um balão), encherem o balão e largar no centro da sala, após os alunos deverão pegar quantos balões conseguirem, sem estourar. Depois discutir com eles que não conseguimos resolver todos os problemas, assim como não conseguimos pegar todos os balões, por isso precisamos dividir com alguém. Após um de cada vez estourar um dos balões. Enquanto eles estouram, explicar que quando estourado, o balão, ou seja, o problema fica mais fácil de se resolver. Após estourado o balão discutir como se pode resolver o problema indicado.
	Tempo da intervenção: 1h e 30 minutos
Resultado: Nesta intervenção Maria participou timidamente da dinâmica, colocou uma situação no balão, mas não teve iniciativa para buscá-los após serem soltos, ficou apenas observando, na discussão apenas ouviu os colegas.
I) Intervenção 9:
Objetivo:Conhecer outro colega através da história contada a partir do seu amuleto, percebendo que todos passamos por momentos bons e ruins
Material: Objetos pessoais
Metodologia: Dinâmica Meu amuleto
Dinâmica:
a)Cada participante é convidado a apresentar algum objeto que lhe seja especialmente significativo (uma medalha, a foto de alguém querido, qualquer coisa que guarde em si uma história que faça do objeto algo especial).
b)Reunidos em dupla, cada um contará a história de seu “amuleto” e por que foi o objeto escolhido. Quem escuta, deverá reter a maior quantidade de informações.
c)Depois, trocarão objetos e irão ao encontro de outro participante a quem transmitirão a história do objeto que receberam.
d)Repete-se o exercício mais duas ou três vezes e depois em roda, cada um/a apresenta o objeto que tem e conta sua história, comparando-a com a original.
	Tempo da intervenção: 2h
Resultado: na nona intervenção Maria trouxe como amuleto, objeto da intervenção, uma foto sua de quando criança, do tempo que morava com os pais e irmãos, todavia não participou da atividade de contar a sua história e ouvir a do amigo para depois reproduzir, apenas observou os demais.
J) Intervenção 10:
Objetivo: Realizar o fechamento das intervenções com uma premiação que servirá de canal de desabafo, onde poderão expressar e reconhecer seus sentimentos, minimizando os efeitos negativo que podem trazer
Material:Caderno pequeno(diário das emoções)
Metodologia:Será entregue um caderno/diário para os alunos, para que este serva de amuleto, onde eles poderão escrever tudo o que estão sentindo, seus momentos de raiva, tristeza, alegria, entre outros.
	Tempo da intervenção: 30 minutos
Resultado: Após terminada as intervenções em conversa com a família, foi possível constatar que Maria escreve diariamente em seu “amuleto” (diário).
5.2 CONCLUSÃO DAS INTERVENÇÕES
	As intervenções foram organizadas de modo a levar os alunos a realizarem uma análise sobre a importância do reconhecimento de seus sentimentos, sendo que as e moções regem o bem estar humano, podendo ser “manipuladas” quando reconhecidas e compreendidas.
	Logo após, foram discutidos meios de aliviar os sentimentos negativos, que causam conflitos internos, aprendendo que podem ser partilhados com outras pessoas, pois o ser humano vive em um meio social onde constantemente auxilia e pode ser auxiliado.
	Também procuramos demonstrar que não se pode dominar e resolver as situações conforme o desejo pessoal de cada um, mas que existem soluções e alternativas de resolução como partilhar com pessoas de confiança,
escrever sobre o que está sentindo no momento, e assim poder identifica-lo e criar a melhor alternativa de resolução.
	Com o término das intervenções percebemos que embora Maria não tenha participado efetivamente de todas as dinâmicas propostas, ela passou a conhecer um novo caminho para vencer suas frustrações, pois estava presente enquanto as situações eram propostas, analisadas e discutidas, fato que provavelmente a auxiliará nas resoluções de seus questionamentos mais íntimos.
	Após este período sua mãe retornou a escola para comunicar que estava conseguindo conversar mais tranquilamente com Maria, contudo não temos a pretensão de pensar que conseguimos resolver algo, mas sim que contribuímos para uma melhor qualidade de vida da aluna.
	Com isso percebemos que apesar do pouco tempo de intervenção, algumas conquistas foram alcançadas a curto prazo, porém temos por certo que as novas aprendizagens de Maria terão influência em suas decisões por um longo período em sua vida.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	A vida nos proporciona momentos com diferentes emoções e sentimentos, cabendo a nós interpreta-los e direciona-los da melhor maneira possível.
	Todavia quando estes nos causam dores e sofrimento em fazes da vida em que não estamos preparados e/ou maduros, suas consequências são de lembranças carregadas de frustrações, desamparo e impotência que sentimos por toda nossa existência e nos constituem com medos e atitudes que não conseguimos controlar ou explicar.
	No caso acima apresentado procuramos elucidar alguns fatos vividos por uma menina de treze anos, organizando através de anamnese e entrevistas, recortes de situações vivenciadas por ela, na tentativa de encontrar respostas para suas atitudes, discernimento sobre a fundamentação dos laudos médicos emitidos, para assim auxilia-la no seu desenvolvimento emocional através de intervenção, no caso, fundamentada na alfabetização emocional.
	Procuramos situar a família como sendo um fator de fundamental importância no desenvolvimento de Maria, estabelecendo conversas e orientações abaixo descritas.
	Neste ínterim, desenvolvemos a intervenção sem nos apoiarmos em um laudo específico, pois muito nos intriga a disparidade entre os laudos médicos apresentados, não havendo conexão entre a abordagem dos profissionais.
	No entanto, cabe a nós não decidirmos qual profissional está correto ao analisar a situação de Maria, mas aprofundar nosso conhecimento a respeito do laudos emitidos de: mutismo seletivo, autismo, trauma, comparando-os com a vivência da menina e buscando através deste encontrar estratégias para auxilia-la no seu desenvolvimento, ressaltando a importância de se conhecer a história de vida do paciente para que se tenha laudo fundamentado, não ficando arraigados a situações imediatistas de consultório.
	Por fim, ao término do período de intervenção obtemos respostas positivas, embora ainda de pequeno porte; Nos alegra o conhecimento de uma nova prática nas relações interpessoais de Maria frente a sua mãe, que mostra um novo caminho que começa a ser trilhado .
	6.1ORIENTAÇÕES A PAIS PROFESSORES
	Maria precisará constantemente de apoio para que consiga caminhar em direção a seu desenvolvimento emocional, e consecutivamente ao seu desempenho das capacidades emocionais e de socialização. Para isso pesquisamos e elencamos de acordo com o livro Educação Emocional na escola, alguns Itens necessários de serem lembrados durante o período em que estivermos com a menina.
	Sempre que possível, diga que ela tem valor e enalteça suas qualidades e seus comportamentos;
	Expresse claramente suas necessidades e desejos, dizendo o que realmente sente ou necessita;
	Preste atenção ao que a outra pessoa está dizendo e à sua comunicação não verbal: sua voz, gestos, corpo e expressão facial;
	Procure saber o que quer a outra pessoa. Sugira a ela, quando julgar apropriado, maneiras diferentes de fazer as coisas.
	Deixe claro para a outra pessoa que compreendeu seus sentimentos;
	Mostre sua afeição pelo outro, quando ela for verdadeira, abraçando-o, dando tapinhas nas costas e nos ombros ou apertando seu braço;
	Procure a melhor maneira de apresentar a crítica. Escolha cuidadosamente o local da conversa. Quanto mais à vontade estiver o criticado, mais receptivo será;
	Nunca faça críticas na presença de outras pessoas, pois quem as recebe pode se sentir constrangida e humilhada;
	Procure não atingir a auto-estima da outra pessoa. Nunca faça afirmações que a menosprezem ou humilhem, do tipo "Não gostei mesmo de seu trabalho, que está todo errado. Você fracassou";
	Esclareça qual o comportamento que está sendo criticado e o que deve ser mudado.
	Se uma mãe critica seu filho porque sempre deixa o quarto desarrumado, livros pelo chão e roupas emboladas, deve deixar bem claro que está criticando o comportamento dele, em vez de dizer-lhe irritada:"Você é um irresponsável mesmo! Não tem jeito, todo dia lhe falo e você nunca se emenda”;
Isto pode gerar revolta na pessoa criticada, devido à agressão à sua auto-estima. E ela pode não modificar seu comportamento. Este tipo de crítica só faz azedar o relacionamento entre as pessoas.
	Quando fizer uma crítica, controle suas emoções. Durante o processo de crítica, a outra pessoa pode tornar-se muito defensiva e enraivar-se, induzindo raiva em você, que deve controlar-se.
NOTA DA AUTORA
O presente relatório de estágio foi realizado nas dependências da Escola de Ensino Básico Gonzaga Stainer em parceria com a colega e Educadora Especial Vivian Cossentino Campelo. 
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
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MELLO, Ana Maria S. Ros de, Autismo: guia prático. 5 ed. São Paulo: AMA; Brasília: CORDE, 2007
MENTE E CÉREBRO. Doenças do cérebro: autismo, São Paulo Duetto, n.6, 2012. Coleção.
Peixoto, A. (2006). Mutismo Seletivo: prevalência, características associadas e tratamento 
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SANTOS, Jair de Oliveira. Educação Emocional na Escola: a emoção na sala de aula. 
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ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma 
abordagem didática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

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