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É possível TRABALHAR e ESTUDAR sério ao mesmo tempo - Revista Consurseiros - por Alex Meirelles

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oram incontáveis as vezes que escutei essa pergunta. E para não
deixá-lo curioso, vou logo respondê-la: é claro que sim.
Contudo, não é só por que eu já respondi à pergunta que não precisarei
escrever mais sobre o assunto, então vou aprofundar um pouco mais.
Obviamente, este artigo é mais direcionado para os concurseiros que
A R T I G O
Por ALEXANDRE MEIRELLES,
Fiscal De Rendas Da Secretaria Da Fazenda
do Estado De São Paulo
É POSSÍVEL TRABALHAR
E ESTUDAR SÉRIO PARA
CONCURSOS PÚBLICOS?
F
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cada disciplina, fazer mais cursos e “enrolar” um pouco mais. Já quem
trabalha e sabe se organizar devora o melhor livro de cada disciplina e
seleciona melhor os cursos que fará.
Sei que há outras explicações, mas considero essas duas como as
principais.
E como gosto de estatísticas, lá vai mais uma: quase todos os primeiros
colocados que conheci trabalhavam enquanto estudavam.
O concurseiro que trabalha tem de aprender a conseguir pedaços de
tempo durante seu dia para estudar. Hora de almoço não é para enrolar,
é para almoçar o mais perto possível do trabalho e conseguir pelo
menos uns 30 minutos de estudo. O horário dedicado ao lazer deve ser
reduzido, mas nunca extinto por completo, porque assim ninguém su-
porta o estresse por meses.
Outra dica interessante é tentar perder menos tempo de estudo por
causa do trânsito. Exemplificando, se você trabalha até 17h ou 18h e
depois perde uma hora ou mais voltando para casa, devido ao rush,
seria legal arrumar um lugar para estudar perto do seu trabalho, para
evitar pegar um baita trânsito, ônibus ou metrô lotado. Tente arrumar
uma sala vazia, uma biblioteca ou algo parecido e estude até o trânsito
diminuir consideravelmente. Assim você estudará com cabeça menos
cansada e poderá estudar por mais tempo.
É só fazer a seguinte análise: se você sai do trabalho às 18h e só chega
em casa umas 19h30, cansado do trânsito, só vai conseguir estudar no
mínimo lá pelas 21h e ainda por cima com o cérebro e o corpo cansa-
dos, não é? Até que horas vai conseguir estudar para acordar cedo no
dia seguinte? Esse estudo será de boa qualidade? Será que não é mais
fácil sair do trabalho às 18h, fazer um lanche e/ou tomar um café, lavar
o rosto e começar a estudar por volta das 19h, com a cabeça mais leve,
e depois, por volta de umas 21h30 ou 22h30 voltar para casa sem pegar
trânsito? Eu fiz isso e achei importantíssimo para o meu resultado. O
ganho é duplo, uma vez que você perderá menos horas de estudo por
dia no trânsito, evitando os horários de rush, e estudará com a cabeça
menos cansada.
Ganhar uma hora de estudo por dia representará 30 horas em um mês,
360 horas em um ano. Caramba, em 360 horas dá para estudar algu-
mas disciplinas por completo. E estas 360 horas farão MUITA falta no
futuro, eu garanto.
Um inglês chamado Charles Buxton disse: “Você nunca encontrará tem-
po para nada. Se quiser mais tempo, terá de criá-lo”. Se ele já dizia isso
há uns 150 anos, imagine nos dias de hoje.
Agora vou entrar em outro tópico, e desculpe-me desde já por pegar
mais pesado e escrever palavras mais duras, mas eu não seria sincero se
não escrevesse isso, ok?
Se você trabalha, e desculpe-me pela sinceridade, considero muito difícil
ser aprovado em um concurso concorrido estudando menos que duas ou
trabalham, mas possui alguns toques interessantes para quem não tra-
balha também.
Quando resolvi voltar a estudar, no já longínquo ano de 2005, eu tam-
bém me fazia esse questionamento. Afinal, já tinha sido aprovado em
concursos na primeira metade da década de 1990, mas quando não
trabalhava, era somente, por assim dizer, um “filhinho do papai”, com
tudo bancado e todo o tempo do mundo disponível.
Bem, resumindo o meu ano de 2005, não só foi possível ser aprovado,
como consegui obter um desempenho muito superior ao de antigamen-
te. A essa altura você deve estar se perguntando: “Que se dane esse cara,
eu quero saber o resto do pessoal, será que muita gente também conse-
gue? Será que eu consigo?”.
Prefiro responder analisando as coisas do jeito que mais gosto, em
cima de números, e para meu deleite, logo no primeiro dia do curso de
formação para o Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB) em
2006, foi apresentado um estudo do perfil dos mil aprovados naquele
certame, sabidamente um dos mais difíceis do País. Nele havia várias
informações interessantes, das quais me arrependo amargamente não
ter tomado nota. Entre elas, uma mostrava que dos 1.000 aprovados,
700 estavam trabalhando no período imediatamente anterior ao da pro-
va. Destes, aproximadamente metade na iniciativa privada e a outra
metade na pública (esses números são aproximados, ok?).
Resumindo e arredondando, um terço não trabalhava, um terço traba-
lhava no setor público e um terço no privado. E ainda faço uma ressalva:
não quer dizer que esses que não trabalhavam tinha vida mansa, pois
conheci vários aprovados desse tipo que foram muito mais guerreiros
que os que trabalhavam, pois cuidavam de filhos ou dos pais, sem
emprego, fazendo bicos etc. Bem, basta ler o livro Como vencer a mara-
tona dos concursos públicos, de Lia Salgado, para você perceber que
muitas vezes alguém que não trabalha e que teoricamente tem todo o
tempo disponível para estudar está em piores condições do que quem
trabalha e possui menos tempo.
Confesso que fiquei encucado quando vi esses números. Era diferente
do que imaginava, pois sempre vi os cursinhos lotados de pessoas que
não trabalham e achei que eram no mínimo uns 75% dos aprovados nos
concursos mais concorridos. Como dos “meus” 75% eles passaram a
ser só 33%? Então comecei a buscar explicações para isso.
A primeira que encontrei foi a do “concurso escada”, como o William
Douglas o apelidou. São aqueles concursos que fazemos não como
nosso objetivo final, mas sim para garantir uma relativa paz financeira e
emocional para prosseguirmos nos estudos para os concursos mais
concorridos. Isso explicava a grande maioria dos um terço de aprova-
dos que trabalhavam no setor público.
A outra é saber otimizar o tempo disponível para estudar. Generalizando,
quem tem muito tempo para estudar costuma utilizar mais livros para
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três horas por dia, e isso vale tanto para os gênios quanto para os que não
são. E mais: estudando somente duas ou três horas diárias durante a
semana, no fim de semana terão que ser no mínimo umas seis a oito horas
por dia. Simplesmente afirmo que não acredito no seu sucesso de outra
forma porque a quantidade de assuntos é imensa e, se estudar menos do
que isso, não chegará ao fim deles nunca. Conheço pessoas que conse-
guiram agindo assim, mas são a exceção da exceção, mais difíceis de
encontrar que um torcedor do Vasco no meio da torcida do Flamengo.
“Puxa, mas eu só tenho uma hora por dia e o domingo para estudar um
pouco mais, então será que não conseguirei passar?” Bem, você pode até
calar minha boca depois, mas será muito difícil você ser aprovado em um
concurso muito concorrido. Eu acredito nos números, e foram raríssimos
os casos de aprovados que conheci tendo feito assim. Pense seriamente
em tentar primeiro um concurso menos concorrido (“concurso escada”)
ou então remaneje sua vida para obter mais horas de estudo, mas estudar
somente uma hora por dia para concorrer a um concurso bem pesado e
passar vai ser como acertar na loteria. Talvez seja mesmo o caso de pensar
em estudar para um cargo menos concorrido e obter mais tranquilidade
para estudar para um concurso mais difícil após ter entrado nesse cargo
“intermediário”. Foi isso que a maior parte daquele um terço dos aprova-
dos no AFRFB de 2005 que já trabalhavam no setor público fez.
Desculpe-me, mas não concordo com a ideia de que se estudarmos uma
hora por dia, no futuro acumularemosconhecimento suficiente para
passar, só levaremos mais tempo que os demais concurseiros. Eu não
acredito nisso porque o esquecimento será imenso, afinal, o conheci-
mento não se acumula sem que esqueçamos o que já estudamos. As
pessoas acham que acumulamos conhecimento como construímos uma
casa, tijolo em cima de tijolo, mesmo que aos pouquinhos, e assim um
dia a casa ficará pronta. Ou então que é um quebra-cabeças de 500 peças
que montamos aos poucos. Não é assim. É o mesmo que construir uma
casa em um local muito chuvoso e cheio de ladrões roubando tijolos,
cimento, janelas e ferramentas, ou então montar o quebra-cabeças aos
poucos no meio de uma creche. Eles não vão ficar prontos nunca, e
esses exemplos se aplicam ao seu conhecimento também.
Outra pergunta que os concurseiros sempre me fazem é se deveriam
deixar o trabalho para se dedicar inteiramente aos estudos. Isso eu não
respondo nunca, pois não interfiro em decisões pessoais, e não adianta
insistir, porque nisso eu não opino nem para os meus melhores amigos.
Só deixo umas perguntas no ar. Se você não for aprovado em dois ou
três anos, você tem condições de voltar ao mercado de trabalho, caso
desista do estudo em tempo integral? Você tem grana para se sustentar
nesse período? É muito fácil largar o trabalho hoje e se dedicar mais
para o concurso que acontecerá dentro de poucos meses, mas e se você
não passar? O mundo desabará para você ou dará para continuar vivo e
na vida de concurseiro? Reflita, converse com seus familiares e, por
favor, “me inclua fora dessa”!
Se você não trabalha, considere-se em melhores condições de ser apro-
vado. Porém, cuidado com o excesso de cursos e livros e seja mais
direcionado, organizado e compromissado. Não basta estudar mais horas
do que os outros, tem de estudar horas realmente proveitosas, que
acumulem conhecimento útil e crescente para você. Está cheio de gente
querendo furar sua fila.
Resumindo este artigo, é claro que um concurseiro que trabalha pode
ser aprovado, pois em todos os concursos vemos que a maioria dos
aprovados trabalhava, e os números dificilmente mentem. Porém, terá
de ser compromissado e muito objetivo. E se seu trabalho for daqueles
de estresse total e com mais de 10 ou 12 horas de trabalho diárias,
deixando somente uma hora de estudo livre para estudar por dia, e
sempre de cabeça muito cansada, pense seriamente em prestar um
concurso escada antes.
Bem, após ter lido estas palavras, você acredita que é possível trabalhar
e ser aprovado? Se sim, então o que está esperando para acumular mais
horas de estudo?
Alguns trechos deste artigo foram retirados do meu livro lançado em
maio de 2011 pela Editora Método/Gen, no qual abordo mais profunda-
mente este assunto, entre diversos outros.
Abraços e bons estudos.
Alexandre Meirelles
alexmeirelles@gmail.com
Depois do sucesso do best-seller Manual do concurseiroManual do concurseiroManual do concurseiroManual do concurseiroManual do concurseiro, Alexandre Meirelles lança o livro
Como estudar para concursosComo estudar para concursosComo estudar para concursosComo estudar para concursosComo estudar para concursos, abordando temas clássicos e recorrentes do “mundo dos
concursos”, assuntos já tratados no seu manual e velhos conhecidos dos concurseiros como "A
temida relação candidato por vaga: um grande engodo", "Concurso é só para gênios?", "Como
organizar o estudo? Utilizando os ciclos". Além desses e de outros interessantes temas, o autor
traz várias dúvidas como: "Passei! O que eu faço além de comemorar muito?", "Não passei! E
agora, é o fim do mundo?" e "Quadro de controle de estudo: que bodega é essa?".
Como estudar para concursosComo estudar para concursosComo estudar para concursosComo estudar para concursosComo estudar para concursos - Por: Alexandre Meirelles - Editora Método, 352 págs

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