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64 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Unidade II A consultoria como espaço qualificado de reflexão e intervenção do serviço social Discutiremos acerca da relação estabelecida entre o serviço social e sua atuação prestando assessoria/ consultoria. Para isso, iniciamos com um breve percurso do desenvolvimento histórico de nossa profissão no Brasil. 5 O ServiçO SOcial na aSSeSSOria e cOnSultOria Observação O serviço social brasileiro, como profissão, surgiu em meados de 1930. O serviço social surgiu no Brasil nos anos 1930 como formação técnica especializada, no ápice da revolução industrial e urbana. A primeira escola de serviço social do país foi fundada em 1936, em São Paulo. É interessante observar que a primeira turma dessa escola formou-se em 1938 e era composta somente por mulheres. Isso não foi por acaso. Há que se ter presente a influência do repertório valorativo da Igreja Católica, que, em relação à educação, por exemplo, não admitia a formação conjunta entre os sexos. O discurso da oradora dessa turma, Lucy Pestana da Silva (1938, p. 29-30), já manifestava atenção em relação à determinada condição de mulher e a implicação desta no campo do serviço social naquele período. Neste contato, porém, um aspecto bom veio juntar-se: a mulher aprendeu a tomar uma atitude mais definida em face da vida. Uma corrente, procurando igualar o papel social feminino ao papel masculino [...] definiu-se de modo falso e errôneo. Ao seu lado, porém, outra mentalidade surgiu: a de formar a personalidade feminina, dando-lhe pleno desenvolvimento, tornando-a apta a cumprir de modo eficaz o seu papel dentro e fora do lar. [...] Costuma- se ver o padrão da civilização do povo pelo nível de formação feminina. É desse aspecto que falo em segundo lugar. Se são muitas hoje na carreira que se nos oferecem não me parece feminino torná-las indistintamente. De acordo com a sua natureza mulher só poderá ser profissional numa carreira em que suas qualidades se desenvolvam, em que sua capacidade de dedicação e de devotamento seja exercida. [...] Como educadora é conhecida a sua missão. Abre-se-nos agora, também, como movimento atual, mais um aspecto de atividades: o serviço social, que apresenta alguns setores especiais de atividade feminina. 65 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial A qualificação em serviço social, portanto, nem sempre era condição suficiente para o exercício da profissão, pois se havia alguns setores especiais de atividade apropriadas às assistentes sociais femininas, outros se constituiriam apropriados ao masculino, o que evidencia como as relações de gênero foram constituintes desse campo profissional e esboroa, em parte, a “imagem feminina” de que foi revestido. Em março de 1938, na cidade de São Paulo, à mesma época que se realizava a solenidade de colação de grau das primeiras assistentes sociais diplomadas no Brasil, iniciava-se o ano letivo da primeira turma mista da ESS/SP. Os cursos mistos foram criados para atender a uma solicitação do Departamento de Serviço Social do Estado de São Paulo, que necessitava, para alguns de seus serviços, de assistentes sociais masculinos. Durante a formação dos assistentes sociais na ESS/SP, foi sendo gestada a constituição de um espaço de formação exclusivamente masculino, o Instituto de Serviço Social de São Paulo, fundado em março de 1940 – primeira unidade de ensino, desse campo profissional, masculina da América Latina (BERTELLI, 2009). Bertelli (2009) nos diz ainda que isso ocorreu para que homens pudessem compor a categoria profissional sem preconceitos. O serviço social desvencilhava-se, assim, da ideologia católica para formarem-se profissionais de ambos os sexos, mas continuou sendo uma profissão formada, em sua maioria, por mulheres. Mesmo com todo esse modelo histórico tradicional (prática burocratizada, empirista e paliativa), o serviço social no Brasil, por meio de sua categoria profissional formada predominantemente por mulheres, iniciou um processo de questionamento a essas bases tradicionalistas, ainda, infelizmente, apreendidas pela sociedade. Com esse questionamento, a categoria procura distanciar-se desse modelo, iniciando, assim, o processo de renovação crítica da profissão, apoiada na conjuntura sócio-histórica e contextual, fundamentada na teoria e na prática do método dialético de Marx. Para ocorrer esse processo histórico de renovação crítica da profissão, o serviço social pontuou e denunciou o conservadorismo tradicionalista, entre as décadas de 1960 e 1980, sob a influência do movimento da reconceituação latino-americana (GUIDORIZZI, 2008). No Brasil, o movimento de reconceituação é compromissado com os interesses dos sujeitos sociais, intervindo por meio de pesquisas, qualificação na formação acadêmica e com a interlocução com outros saberes das ciências, constituindo uma ruptura com o modelo tradicional e apropriando-se de uma nova roupagem, identidade e ações para a consolidação e ampliação da cidadania e da democracia. Desde então, a atuação dos assistentes sociais no primeiro, no segundo e no terceiro setores, e também como prestadores de serviços, é orientada para formular, gestar e intervir nas políticas públicas. Os profissionais também atuam como consultores e assessores, auxiliando gestores e derrubando o mito de caridade e paternalismo, demonstrando, assim, que o profissional de serviço social é um estrategista social. 66 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Vejamos as principais áreas de atuação em que o assistente social vem sendo requisitado a atuar, inclusive por meio da prestação de assessoria/consultoria. Na área do desenvolvimento da sustentabilidade pública, o serviço social vem subsidiando os órgãos públicos na formulação de políticas sociais e na gestão de pessoas. O mesmo acontece nas corporações: ao subsidiar as formulações de política de gestão das pessoas, é possível demonstrar a ambos os setores os impactos e os indicadores de resultados de produtividade, qualidade, imagem corporativa e lucratividade, auxiliando nas decisões estratégicas proativa e preventivamente. Nesse novo fazer, o assistente social vem sendo compreendido como um profissional de habilidades que sabe identificar condicionantes internos e externos e como gestor que sabe diagnosticar e enfrentar situações sociais de risco. Ele também sabe analisar ações integradas em rede apoiadas na transdisciplinaridade, que significa transpassar e transitar pelas fronteiras disciplinares, isto é, colocar em conexão os conhecimentos já produzidos e, por meio da articulação e da qualidade dialógica, produzir novos conhecimentos. Serviço Social Objeto de estudo História Psicologia Antropologia Direito Figura 2 – Prática transdisciplinar Além disso, o assistente social precisa estar sempre atualizado, pois sua prática deve ser pautada em pactos e normas globais, o que tem relação direta com a área social e ambiental sob o mesmo patamar. Nas últimas décadas, temos nos deparado com o “despertar” de organizações para a cidadania empresarial, de acordo com a gestão social. Referimo-nos às empresas privadas e às ONGs, que vêm desempenhando responsabilidade social – sem segundas intenções e de forma séria e coerente –, tendo em sua equipe técnica o profissional de serviço social, pois se trata de uma categoria profissional socialmente responsável tanto em sua atuação com o público interno como também com o público externo de interesse das organizações. 67 SS OC - R ev isão: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Observação Refilantropização faz menção às novas formas de filantropia gestadas no mundo e no Brasil. No processo de refilantropização, de que nos falou Iamamoto (2001), no as empresas privadas e organizações não governamentais passam a atuar na área social por meio de uma série de projetos sociais. Essa nova configuração das empresas oferece ao profissional um novo espaço laboral, muitas vezes por meio de assessoria e de consultoria. Outro ponto importante a ser colocado aqui é que são alvos da ação dos profissionais de serviço social tanto o terceiro setor como também o público-alvo, que demandaram ações inclusivas e efetivas de projetos desenvolvidos. O profissional, para desempenhar o papel na gestão social em consultoria e assessoria, necessita profissionalizar-se em gestão e em voluntariado, pois eles recebem assessoria e consultoria na formulação de projetos sociais. Desde a década de 1990, a consultoria e a assessoria vêm sendo abordadas e praticadas por assistentes sociais para melhorar estrategicamente as políticas públicas e aperfeiçoar a profissão. Assim, o profissional de serviço social se coloca no papel de executor, de gestor e elaborador de políticas sociais. Para compreender melhor a inserção da consultoria e da assessoria no papel do assistente social, é preciso voltar um pouco na história literária do serviço social. Na década de 1980, começaram a aparecer na literatura do serviço social questões sobre o tema assessoria. Vieira (1981) escreveu o primeiro artigo que retratava a supervisão. Nesse artigo, a autora apresentava experiências vivenciadas pelos cursos de serviço social do Brasil e a importância da assessoria para os profissionais da área. Somente após a promulgação da Constituição Federal de 1988 cresceu o interesse e se deu a devida importância a esse tema, que afirma a política de assistência social como política social no Brasil, além de fomentar a criação da LOAS, que oferece diretrizes para a profissão do serviço social. Observação Também é possível realizar consultoria em políticas sociais públicas e privadas. Na atualidade, a temática continua presente, mas é pouco problematizada pelos profissionais que atuam nessa área e estão inseridos nesses processos. Os profissionais que estão em outras atuações têm apenas o conhecimento de que a assessoria e a consultoria se dão na perspectiva da política pública e na política privada. 68 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Os temas assessoria e consultoria vêm crescendo, mas pouco se tem de literatura no serviço social. Isso faz com que muitos profissionais que atuam nesse ramo procurem em outras literaturas das áreas do saber, como administração, comunicação social, antropologia e sociologia, entre outras ciências, informações para fundamentar sua ação. Saiba mais Recomendamos a visita ao site: <http://www.caranconsultoria.com. br/>, pois será possível uma aproximação a uma prática desenvolvida na área de consultoria. Cabe ressaltar, entretanto, que o exercício de assessoria/consultoria está fortemente ligado ao status de reconhecimento intelectual que se dispensa ao profissional assessor/consultor. Esses profissionais estão ligados às ações desenvolvidas com conhecimento na área em que atuam e tomam como objeto de estudo de ação a realidade em sua totalidade e a realidade que estão inseridos para fundamentar seu trabalho. Isto é, o assessor não atua como interventor, mas traça caminhos e estratégias para que os profissionais e/ou equipe que está assessorando tenha autonomia e capacidade para realizar a leitura e implementar a ação/projeto, sempre monitorado pelo assessor/consultor. Sem contestação, o assessor/consultor desempenha um papel intelectual vinculado à proposta para a qual foi contratado. lembrete O assistente social que atue como consultor no terceiro setor precisa profissionalizar-se em gestão e em voluntariado. Vimos, no início desta unidade, o conceito de assessoria e de consultoria, mas para fixação seguem as distinções entre elas. Consultoria é mais pontual, por assim dizer, que a assessoria que remete à ideia de auxiliar. Para fundamentar os conceitos de consultoria, dialogamos com Vasconcelos (1998, p. 128-129), que expõe: Amiúde para que uma equipe ou assistente social (primeiro, segundo ou terceiro setor) solicite um processo de consultoria a outros profissionais de serviço social ou de outras áreas, é necessário que já se tenha passado, ainda que precariamente, pela elaboração de um projeto de prática, objetivando o encaminhamento deste. [...] As assessorias são solicitadas ou indicadas, na maioria das vezes, com o objetivo de possibilitar a articulação e a preparação de uma equipe para a construção do seu projeto de prática por meio de um expert que venha auxiliá-la teórica e tecnicamente. 69 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Contudo, cabe aqui ressaltar que assessoria não é sinônimo de supervisão, não é um trabalho hipotético ou temporário e não deixa de ser uma assistência social. Segundo Vieira (1981, p. 108): O que distingue assessoria da supervisão é sua natureza temporária, eventual (o supervisionado procura o assessor quando necessita) e ampla liberdade do assessorado em aceitar ou não, em seguir ou não as indicações do assessor. Mais do que supervisor, o assessor tem autoridade de “ideias”, ou de ”competências”, e não ”de mando”. Logo, assessoria e consultoria em serviço social, segundo Mattos (2010, p. 31), constitui-se em “ação desenvolvida por profissionais com conhecimentos na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade”. lembrete O assistente social, para ser um bom assessor/consultor, precisa realizar um diagnóstico sobre os condicionantes internos e externos do lócus de sua atuação. O assistente social deve refletir e aprimorar-se constantemente sobre as particularidades que envolvem o fazer profissional, levando em conta os condicionantes internos e externos, estudados anteriormente, pois dizem respeito ao contexto social no qual o assistente social está inserido. O profissional deve compreender que o exercício da profissão como trabalho exige mudanças de concepções devido às transformações constantes que ocorrem no cenário contemporâneo, e ele precisa acompanhá-las. Iamamoto (2001, p. 95) explica tal particularidade: Geralmente é chamado de prática e corresponde a um dos elementos constituídos do processo de trabalho que é o próprio trabalho. Mas para existir trabalho são necessários os meios de trabalho e a matéria-prima ou objeto sobre o que incide a ação transformadora do trabalho. Mesmo ao desempenhar assessoria e consultoria, o assistente social intervém nas múltiplas questões sociais em sua totalidade, carregadas de contradições que demandam sua ação profissional. Por isso essa atividade requer que o profissional de serviço social apresente habilidades e estratégias focadas na garantia de direitos, conforme nos mostra Vasconcelos (1998, p. 123) por meio de sua reflexão sobre o agir e o pensar do serviço social nos processos de consultoria e assessoria: Diante da complexidade das situações vivenciadas pela categoria [serviço social], considero a assessoria e a consultoria necessárias, possíveis e viáveis, ainda que reconheçamos que não sejam suficientes, nem possamos assegurar as reais consequências de um processo que envolve unidades formadoras 70 SS OC - R ev isã o: C arla - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II de meio profissional, nas suas respectivas complexidades e diferenças, mas antes de tudo na sua unidade. A atuação em assessoria e consultoria vem sendo ampliada em seu espaço de trabalho e ação profissional, pois suas ações estão relacionadas: à implantação e orientação de conselho nas três esferas de governo de políticas públicas; à capacitação de conselheiros, que encontram nelas espaços para fiscalizar e formular essas políticas; elaboração de planos, também nas três esferas de governo; acompanhamento, monitoramento e avaliação de projetos e programas sociais. Esses trabalhos e ações são resultados de exigências de qualificação profissional, tais como: • domínio para realização de diagnósticos socioeconômicos dos espaços governamentais e não governamentais; • leitura e análise de orçamentos públicos governamentais e não governamentais; • identificação de recursos disponíveis para tencionar suas ações profissionais; • domínio nos processos de planejamento organizacional e, principalmente, estratégico; • competência no gerenciamento de monitoramento e avaliação de programas e projetos sociais; • capacidade de negociação. Os aspectos da atividade de assessoria e consultoria, recursos utilizados pelos profissionais de serviço social e/ou equipes, estão objetivados numa prática pensada e projetada, isto é, o profissional que não projeta e não produz a sua prática não leva adiante sua tarefa, nem mesmo as tarefas burocráticas (VASCONCELOS, 1998). Essa nova atividade de assessoria/consultoria contribui, por assim dizer, para a categoria profissional de serviço social, pois ocorrem enfrentamentos diversos das questões sociais dentro desse universo, o que auxiliará toda atividade de assessoria/consultoria. O profissional vai aprimorando seu trabalho, técnica e, teoricamente, a cada ação desenvolvida vai qualificando as ações do profissional atuante e também para a categoria. A assessoria e a consultoria estão direcionadas em trazer a totalização da metodologia da prática profissional com a intenção de apontar, resgatar e trabalhar as lacunas, os limites, os recursos e possibilidades da equipe, socializando conteúdos, instrumentos de investigação e análise. Isso para que, mais adiante, se produzam estudos e análises que fazem parte do papel profissional do assessor/ consultor, abrangendo respostas concretas e imediatas de que necessita e respondendo às demandas que a realidade impõe à sua ação (VASCONCELOS, 1998). A assessoria, nesse contexto, deve ser desenvolvida conforme a ação profissional também da equipe que vem sendo assessorada, revelando competências de cada uma das partes. É necessário estar atento às atividades de estratégias da assessoria, sem reduzi-las, para que o assessorado 71 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial execute as ações de acordo com o assessoramento. Por isso, as proposições de estratégias, a crítica, a busca das alternativas, a formulação das políticas, a avaliação e o monitoramento desenvolvidos como ação pelo serviço social são um processo de reflexão a ser elaborado pelo assessor e pelo assessorando. Fica evidente que o profissional de serviço social que atua em assessoria e consultoria, segundo Fonseca (2005, p. 14), vem sendo chamado para: • Pensar a prática, o que significa analisar e entender as contradições da realidade dos espaços profissionais ocupados pelo serviço social, elaborar estratégias e ações para enfrentá-las, visando uma ação profissional pensada, consciente. • Conservar as preocupações éticas do fazer profissional através da preservação de espaços de exercício democrático e de viabilização do projeto ético-político profissional nas mais variadas esferas de sua atuação. • Estabelecer uma relação horizontal entre assessor e assessorado, sem considerar o primeiro como superior em detrimento do segundo. Deve sim abranger os dois polos interagentes, em que assessorado e assessor contribuem com o universo de seus respectivos conhecimentos para o alcance de um único objetivo. Nesse processo o assessor contribui por ser um agente externo com um olhar diferenciado e especializado sobre a questão problemática; enquanto o assessorado contribui com o mapeamento das demandas e a facilitação das informações mais íntimas a ele em suas rotinas, necessárias à desconstrução do problema. Ao assessor cabe a responsabilidade de verificar a amplitude do trabalho e dar um diagnóstico a respeito, atestando a real necessidade dele ou não. Muitas vezes o encaminhamento prático que uma determinada equipe espera ou indica não é aquele que o assessor irá propor para se alcançar determinados objetivos de maneira mais eficaz e eficiente. Esse olhar é que singulariza a atividade do assessor. Ratifica-se que é necessário que o assistente social em sua atuação como assessor, e também como consultor, se adeque às exigências do mercado e tenha habilidades teóricas e técnicas. O assistente social deve apresentar competência para atuar na atividade de assessoria/consultoria para não se perder na oportunidade de trabalho que poderá bater à sua porta tanto na sua área como em outras áreas que podem se favorecer da particularidade do trabalho do assistente social. Essa diversificação de demanda do profissional de serviço social abrange campos de “pesquisa, planejamento, capacitação, treinamentos, gerenciamento de recursos e projetos e a assessorias e consultorias” (IAMAMOTO, 2002, p. 80). Cada vez mais, essas demandas e os campos vêm se expandindo, 72 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II fazendo crescer os trabalhos, as parcerias institucionais (tanto no setor privado quanto no público), e agregam-se à assessoria os movimentos parlamentares e sociais e as organizações sindicais. Para tanto, cabe ressaltar os fatores que determinam a assessoria/consultoria para ficarmos atentos a essas demandas. Conforme nos expõe Fonseca (2005, p. 14): Primeiro fator: aspectos da estrutura de organização do trabalho, em que as equipes não conseguem ter tempo, ou condições de fugir da rotina de trabalho para adquirirem determinada competência, que poderia exigir às vezes um ano de capacitação, formação ou treinamento. A assessoria cumpriria esse papel de uma forma mais rápida e mais urgente. Segundo fator: quando as dinâmicas institucionais não favorecem o avanço de determinadas questões, que precisa de um agente externo que auxilie nesse processo de conseguir um conhecimento, um olhar diferente sobre a realidade. Terceiro fator: um aspecto de ordem social, que é a exclusão de certos segmentos daquela tecnologia ou daquele conhecimento, que só pode ser acessado com a ajuda da assessoria. Cabe, então, dizer que é importante a condensação de reflexões sobre assessoria/consultoria e a sistematização dos desafios que essas experiências apontam. Esse caminho merece ser sempre alimentado com estudos, análise crítica da realidade e capacidade de proposições, pois, segundo Iamamoto (1979, p. 79), o assessor/consultor deve ser: “um profissional informado, culto, crítico e competente”. Saiba mais Recomendamos a leitura do texto a seguir para aprimorar as discussões sobre a atuação do assistente social como assessor e/ou consultor: GIAMPAOLI, M. C. Serviço social em empresas: consultoria e prestação de serviço. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 114, jun. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 66282013000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 1 dez. 2014. 5.1 as possibilidades da atuação profissionalna área da assessoria/ consultoria A assessoria/consultoria possibilita aprofundar a passagem entre o conhecimento teórico e a renovação crítica das suas estratégias técnico-operativas da profissão: desafio do atual projeto do assistente social. 73 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Analisa-se ainda que a demanda de assessoria/consultoria do serviço social vem sendo um processo de trabalho para a profissão, pois essas atividades são consideradas de forma indireta nas prestações de serviços a órgãos governamentais, não governamentais e empresas privadas, conforme já citamos anteriormente. O profissional responsável pela execução dessa atividade instrumental, normalmente, não tem vínculo empregatício e atua como prestador de serviço para a organização demandatária. A assessoria/consultoria, mesmo em outros espaços, como nas universidades, conselhos tutelares, conselhos municipais (de descentralização e fiscalização), empresas, ONGs, órgãos públicos, entre outros, encontra o ambiente a ser desenvolvido pelos assistentes sociais no conjunto das atribuições que efetuam em seus locais de trabalho. Os assistentes sociais podem ser excelentes assessores, desde que garantam a sua capacitação profissional continuada, esta, aliás, uma necessidade intrínseca para atuação competente em qualquer área de trabalho. A formação profissional e a experiência possibilitam, especialmente, um domínio sobre as políticas sociais e de práticas educativas com a população. Se observarmos a atual Lei de Regulamentação da Profissão, Lei nº 8.662/1993, identificamos o exercício da assessoria/consultoria como uma atribuição privativa do assistente social e também como uma competência desse profissional: Art. 4º Constituem competência do assistente social: VIII – prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; IX – prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; Art. 5º Constituem atribuições privativas do assistente social: III – assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de serviço social (BRASIL, 1993). Partindo disso, temos trabalhado com a perspectiva de que existem na atualidade três frentes de assessoria, em potencial, a serem desenvolvidas e/ou aprofundadas pelos profissionais de serviço social (MATTOS, 2009). No campo das atribuições privativas, identificamos como importante reforçar e ampliar as atividades de assessoria dos assistentes sociais aos profissionais da mesma profissão. Essa frente de assessoria visa qualificar a intervenção profissional e traz o compromisso, em tese, da universidade com a formação profissional continuada dos assistentes sociais. Análise relevante sobre essa frente de assessoria é desenvolvida por Vasconcelos (1998). A partir de uma reflexão sobre a dicotomia entre teoria e prática na profissão e preocupada com a viabilização de 74 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II um projeto profissional competente que se posicione contra o avanço do projeto neoliberal, a autora propõe como caminho uma articulação concreta entre a academia e o meio profissional. Para tanto, segundo a autora, faz-se necessário romper com o raciocínio, na profissão, de que em um espaço se elabora teoricamente e, em outro, aplica-se/intervém-se. É nessa perspectiva que a autora propõe como caminho a assessoria e/ou consultoria como uma estratégia possível. Na perspectiva de Vasconcelos (1998), a assessoria/consultoria seria um desdobramento de uma relação mais próxima entre a academia e o meio profissional, por meio da disciplina “estágio supervisionado”, pois é no trabalho de supervisão que os docentes envolvidos tomam contato com a realidade institucional e, a partir daí, podem pensá-la e problematizá-la. Também nesse processo é possível ao assistente social tomar contato (e interagir) com o debate posto na academia. Almeida (2010) trata da experiência de assessoria aos profissionais de serviço social por meio da disciplina “estágio supervisionado”, articulada ao projeto de extensão que coordena. Interessante, porque nessa sua proposta os alunos de serviço social integram junto com o autor a equipe de assessoria. No campo das competências profissionais, identificamos duas frentes de assessoria/consultoria. Uma delas, os profissionais de serviço social vêm desenvolvendo mais: a assessoria à gestão das políticas sociais. Atualmente, várias são as experiências de assessoria prestadas por assistentes sociais aos diferentes sujeitos envolvidos nessa área, como aos gestores públicos, privados e filantrópicos; aos conselhos tutelares, conselhos de direitos e de políticas; aos profissionais que atuam nos setores públicos e privados; aos movimentos sociais, entre outros. É importante que os integrantes da categoria profissional tenham clareza dos objetivos e intenções dessa demanda e sobre os contraditórios interesses de assessoria, desenvolvida por Freire (2010), por meio da sua experiência de assessoria a empresas, gestores e trabalhadores. A outra frente de assessoria das competências profissionais é a assessoria à organização política dos usuários. Essa rica frente pode ser desenvolvida no bojo das atividades que os profissionais de serviço social desenvolvem nos seus locais de trabalho. Ela tem potencial, mas é pouco explorada. Para que a assessoria não seja uma ação eventual ou um acúmulo de trabalho, é necessário que haja um grande debate sobre seu exercício profissional. Essa frente de assessoria pode aprovar uma contribuição concreta da categoria por meio do seu exercício profissional, para a rearticulação e/ou fortalecimento dos movimentos sociais. A assessoria deve privilegiar os usuários dos serviços das organizações, buscando seu fortalecimento, como um desdobramento da natureza do serviço social, que é buscar a viabilização dos direitos dos usuários e intermediar seu acesso aos serviços e políticas sociais. 75 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial A demanda por assessoria/consultoria aos assistentes sociais deriva de sua própria dinâmica na atuação profissional, que também interage com constantes e novas necessidades reivindicadas pela população ou instituição. Visualizar o assistente social como prestador de serviços de assessoria, remete-nos à necessidade de melhor preparo técnico, teórico e o comprometimento ético-político. A categoria deve mobilizar-se para a ocupação desse novo espaço que se abre no mundo do trabalho. O momento atual exige um profissional que apresente propostas e não apenas tenha o papel de executor, que seja capaz de desenvolver projetos de trabalho, negociá-los com empregadores e seja apto a defender seus espaços ocupacionais em um mercado cada vez mais competitivo, conforme destaca Iamamoto (2001). Ou seja, o profissional deve estar capacitado para formular, gerir, programar, monitorar e avaliar políticas e projetos sociais, elaborar estudos e pesquisas, e assessorar movimentos sociais e conselhos de políticas sociais e de defesa de direitos, contribuindo para a implantação e o funcionamento do processo de acessibilidade às políticas sociais. A demanda por assessoria à gestão das políticas sociais é solicitada por diversos sujeitos representantesdo Estado, dos poderes executivo, legislativo e judiciário, conselheiros de direitos e de política, gestores empresariais, profissionais que atuam nos setores públicos e privados etc. Essa demanda expressa o reconhecimento da capacidade profissional do assistente social. Netto (1996) afirma que isso é reflexo da atuação profissional exclusivamente pautada na execução terminal das políticas sociais para uma atuação profissional competente na gestão da totalidade do processo da política social, incluindo as suas dimensões de formulação, gestão e de sua operacionalização. Nesse conjunto de habilidades e competências profissionais, os espaços que contratam os assistentes sociais para atuarem como consultores/assessores passaram a colocar de lado os modelos hierárquicos rígidos fundamentados em cargos, substituindo-os por modelos de trabalho em equipe, criatividade, dinamismo e inovação: combustíveis para que se apresentem resultados dentro da economia contemporânea. Isso acontece, principalmente, nos espaços empresariais (segundo setor) para que se permita que os profissionais, sejam os funcionários que prestam consultoria/assessoria interna, ou o assessor/consultor externo, fundamentem-se em movimentos estratégicos. Sendo a competitividade a palavra de ordem dentro do mercado de trabalho, a visão estratégica tem um peso determinante. Nesse caso, o profissional deve saber gestar por competência – gestão organizacional –, tendo como referência a estratégia da organização, que direciona as ações, o treinamento e o fortalecimento com as parcerias, as alianças e fundamentando a rede para alcançar os objetivos organizacionais. É a competência que define o conjunto de habilidades, conhecimentos e experiências acumulados pelo profissional. Eles devem ser reconhecidos pela liderança e empregados de forma a oferecer resultados positivos para espaços de atuação de assessoria e consultoria. 76 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II 5.2 espaços de atuação de assessoria/consultoria do serviço social O serviço social é uma profissão regulamentada como liberal e tem autonomia, conforme vimos anteriormente, para gerir seu atendimento aos públicos-alvo, sejam eles indivíduos ou grupos sociais. Agora, trataremos do elemento central do serviço social: os espaços de atuação de assessoria e consultoria existentes para os assistentes sociais no primeiro, segundo e terceiro setores. Contudo, deve- se ressaltar que esses espaços não são de exclusividade do serviço social, pois há espaços de processos de trabalhos coletivos que não foram elaborados por esse profissional, mas isso não implica a perda da autonomia ética e técnica que o assistente social possui (IAMAMOTO, 1999). Iamamoto (1999) ainda aponta que mesmo que os assistentes sociais estejam inseridos nesses espaços de processo de trabalho coletivo, eles precisam se questionar sobre como devem atuar sem perder sua particularidade e identidade profissional. Por serem diversos os espaços onde os profissionais de serviço social, sem perder sua identidade profissional, podem desenvolver a atividade de assessor/consultor, esta se apresenta como recurso estratégico de intervenção profissional. 5.3 atuação nas universidades No espaço universitário, o profissional intervirá por meio da sólida base teórico-metodológica e uma experiência prática diversificada e consistente, pois é o lugar onde ocorrem reflexões e discussões que possibilitam o aprofundamento da teoria-prática. O acesso a esses debates contemporâneos da categoria profissional oferece oportunidade à implementação das atividades de assessoria/consultoria, proporcionando a articulação dos conteúdos teórico-empíricos, as atividades de pesquisa, ensino e extensão. Sendo a universidade um organismo de formação de indivíduos e também de grupos sociais no que diz respeito ao conhecimento e aos valores quanto à produção de conhecimento, esta também auxilia no processo de construção de visão de mundo. Iamamoto (2000, p. 163) considera que ao espaço acadêmico: Remetem à formação de profissionais qualificados para investigar e produzir conhecimentos sobre o campo que circunscreve sua prática, de reconhecer o seu espaço ocupacional no contexto mais amplo da realidade socioeconômica e política do país teórica e metodologicamente (e, portanto, tecnicamente) para compreender as implicações de sua prática, reconstituí- la, efetivá-la e recriá-la no jogo das forças sociais presentes. Então cabe dizer que a assessoria/consultoria no espaço acadêmico acontece como forma de articulação teoria/prática no âmbito da universidade; e por meio das atividades de pesquisa, ensino e extensão para que o discente desenvolva e entenda os conteúdos teóricos que o habilitarão e ampliarão o seu conhecimento teórico para prestar a atividade de assessoria/consultoria. 77 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Essa qualificação, segundo Iamamoto (1999, p. 202), implica: Uma estreita articulação entre as atividades de pesquisa da realidade que é objeto de intervenção, o ensino teórico – adensando referências para a análise das condições e da dinâmica da ação profissional – e o treinamento para o fazer profissional. Decorrente desse importante espaço de atividade de assessoria/consultoria, desenvolvido pelos docentes, Fonseca (2005, p. 22) aponta: Que com o avanço tecnológico e científico, torna-se necessária uma série de novas atribuições e competências ao assistente social, que irão instrumentalizá-lo a tratar das demandas a ele apresentadas. Compreendemos que as implicações advindas desse processo contribuem para a reflexão do profissional sobre a importância de se ter uma intervenção mais qualitativa e um direcionamento teórico-metodológico e ético-político mais efetivo. Fundamentando, apresentamos Cardoso (1997, p. 32), que expõe: O serviço social vem acumulando acervo de conhecimento teórico-político e de técnicas de intervenção que é caudatário do conhecimento social gerado pela e sobre a sociedade e se concretiza na intervenção do serviço social enquanto campo de habilidades e de saberes que expressam um determinado reconhecimento social do trabalho profissional. Significa, então, dizer que as atividades no espaço acadêmico propiciam, segundo Fonseca (2005, p. 23): O acesso dos alunos aos níveis de conhecimento mais complexos, que exigem um grau maior de elaboração e podem ser produzidos e socializados através da atividade experimental de assessoria, visando à qualificação de todas as esferas do trabalho profissional. É importante ainda colocar que o distanciamento dos assistentes sociais já formados da universidade faz com que, muitas vezes, se desqualifiquem por não acompanharem as literaturas, que vão surgindo decorrentes das necessidades da realidade social que estão em constante movimento. Segundo Fonseca (2005), esse espaço de conhecimento fornece capacitação continuada, além de ofertar aos alunos e aos novos alunos de pós-graduação a possibilidade de reger o conhecimento que, coligado à longa investigação da proposta apresentada pela universidade, produzirá resultados anteriormente imaginados. Essa perspectiva é manifestada na legislação das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Serviço Social: 78 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais e à garantia dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade(CRESS, 2001, p. 333). Portanto, o serviço social proporciona uma dinâmica na vida social dos alunos por meio do ensino- aprendizagem, e estabelece parâmetros curriculares para que esses alunos estejam preparados e implicados na capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, para melhor “enfrentar” o tão exigente mercado de trabalho. Esta nova estrutura curricular deve refletir o atual momento histórico e projetar-se para o futuro, abrindo novos caminhos para a construção de conhecimentos, como experiência concreta no decorrer da própria formação profissional. Esta é a grande moldura da configuração geral das diretrizes gerais aqui expressas (ABESS/CEDEPSS, 2001, p. 100). Considerando as competências regularizadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Serviço Social e pela Lei de Regulamentação Profissional, o assistente social está habilitado ao exercício da função (CRESS, 2001), inclusive no que diz respeito ao conteúdo da assessoria e da consultoria. 5.4 atuação em espaços públicos como os conselhos de direitos e secretarias Os espaços públicos, hoje descentralizados da política social e que também servem para implementação do controle social na gestão da política, admitem a introdução de novos sujeitos sociais, como os conselheiros; é outro espaço para desenvolver a assessoria e a consultoria. Nesses espaços, a atuação do assistente social está ligada aos movimentos sociais. A assessoria surge como uma nova demanda a ser enfrentada por esses profissionais na luta pela defesa e pela efetivação dos direitos de cidadania e da democracia, em conformidade com os princípios do código de ética profissional. A importância da inserção do assistente social nesses espaços se dá pelo fato de a profissão se constituir na dinâmica sócio-histórica das relações entre Estado e as classes sociais no enfretamento da questão social. Sua necessidade histórica e seu significado social estão, assim, diretamente ligados às formas de enfrentamento da questão social, sendo o exercício profissional desenvolvido no campo contraditório de interesses e necessidades de classes sociais distintas e antagônicas (IAMAMOTO, 2000), como as que formam um conselho. A ampliação e as conquistas no campo dos direitos sociais implementadas nesse bojo se apresentam como novas possibilidades que necessitam serem apropriadas, decifradas e desenvolvidas por diversos profissionais que lidam com a garantia dos direitos e requerem, portanto, ir além da rotina da instituição e apreender as tendências e possibilidades presentes na realidade. 79 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Verifica-se que há a necessidade de ter conhecimento desse espaço de controle, no que diz respeito às suas principais questões, assim como estar atento aos desafios a serem enfrentados. Assim, o profissional em serviço social assume também esse papel tendo em vista seu conhecimento crítico acerca da dinâmica da sociedade, uma vez que se encontra em contato direto com as políticas públicas. Citamos o exemplo de uma pesquisa realizada no Conselho Municipal de Saúde de Maceió, no ano de 2004, por Freire e Silva (apud TORRES, 2001), na qual foi observado que a inserção de assistente social na assessoria técnica desse órgão colegiado se dá de forma bastante significativa. Destacam-se, dentre outros avanços, a obtenção da revisão do Regimento Interno que legalizou a assessoria técnica como atividade própria do serviço social e a formação de grupos de estudo com conselheiros para discutir e avaliar o impacto causado na política de saúde municipal resultante de ações do conselho, como deliberações e conferências municipais, além de manter a articulação com/entre conselheiros (FREIRE; SILVA apud TORRES, 2001). Soares (2005, p. 10) afirma: No município de Maceió, a assessoria do assistente social nos conselhos teve início em 2001 quando a então secretária municipal de saúde, Genilda Leão, inseriu, através da Coordenação de Controle Social, uma assistente social no Conselho Municipal de Saúde e criou o Grupo de Referência em Controle Social. Outro fato importante ocorrido devido à ação da assessoria técnica do assistente social no Conselho Municipal de Saúde, foi a elaboração, em 2002, de uma normatização para eleição dos conselheiros para 2003-2004. Essa normatização definia regras como a de que conselheiro usuário não pode ter vínculo empregatício com a mesma esfera de governo (como aprovado na 5ª Conferência Municipal de Saúde) para participação dos fóruns de eleição de usuários e trabalhadores de saúde. A normatização baseada nas deliberações das conferências e em solicitações dos próprios conselheiros foi aprovada em reunião e transformada em resolução. Hoje o Conselho Municipal de Saúde de Maceió conta com quatro assistentes sociais para assessorá- lo, que desenvolvem ações por meio das seguintes atividades: elaboração, coordenação, execução e avaliação, juntamente com conselheiros, dos planos de trabalhos do conselho; prestação de assessoria técnico-consultiva aos conselheiros e comissões do conselho; elaboração de relatório de atividades do conselho; organização da documentação do conselho; facilitação do fluxo de comunicação do conselho e outros setores da Secretaria Municipal de Saúde e entre o conselho e outras instituições; organização de Conferências de Saúde Municipais e de cursos de capacitação de conselheiros; realização de grupos de estudos com conselheiros, demais profissionais da saúde e Ministério Público Estadual. Podemos considerar vários avanços obtidos no Conselho Municipal de Saúde de Maceió, ocorridos após a intervenção da assessoria técnica do assistente social, mas o maior deles sem dúvida foi a posse de um usuário como presidente do Conselho Municipal de Saúde de Maceió. Hoje, o Conselho possui uma mesa diretora composta da seguinte forma: Presidente – Usuário – Representante da Associação Força Jovem do Vergel, Vice-Presidente – Usuário – Representante da Associação dos Moradores do 80 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Residencial Casa Forte/Serraria –, 1ª Secretária – Trabalhador – Representante do Sindicato de Serviço Social do Estado de Alagoas e 2º Secretário – Gestor – Representante da Secretaria Municipal de Saúde. Para finalizar os espaços públicos, apoiamo-nos em Gomes (2000 apud TORRES, 2001), que expõe que nesses espaços de políticas sociais desenvolve-se um trabalho coletivo que não pode prescindir das articulações, alianças e parcerias com os diversos atores envolvidos. Há que exercitar a capacidade política de agregar parceiros e adesões a uma agenda comum, valendo-se de sua bagagem profissional. É necessário que o assistente social possua um bom conhecimento da legislação para viabilizar o exercício do controle social, de forma a possibilitar a participação da população de fato e de direito. Portanto, o trabalho de assessoria/consultoria nos espaços dos conselhos deve se revestir de um caráter muito mais político e técnico por ser um espaço inserido na esfera política, garantindo um posicionamento ético do profissional, democratizando a relação entre os sujeitos/atores que estão envolvidos, aprofundando-se no exercício da cidadania e estabelecendo um diálogo constante entre os diferentes segmentos sociais envolvidos nessa relação. 5.5 atuação em movimentos sociais Entremos em outro espaço de atuação de assessoria/consultoria: os movimentos sociais, seus processos, sua estruturação interna e suas estratégias e resultados. Os movimentos sociais, principalmente os movimentos populares, enfrentam dificuldades de mobilização frente aos desafiosdas mudanças econômicas e políticas que culminam no desemprego, mas não têm deixado de reagir e de se rearticular, seguindo o que nos coloca Fonseca (2005, p. 18). Daí a importância da atuação de assessoria e consultoria do profissional de serviço social para esclarecer aos integrantes dos movimentos populares sobre quais os direitos dos cidadãos e quais são os serviços propiciados pelas mais variadas instituições e os mecanismos de acesso a elas. Se as políticas sociais e os programas delas derivados são respostas a um processo de lutas acumuladas historicamente pelas classes trabalhadoras, na busca de conquista de seus direitos de cidadania, tais programas – ao serem institucionalizados e administrados pelo Estado – são burocratizados, esvaziados de seus componentes políticos, de modo a diluir o conteúdo de classe das lutas reivindicatórias, que são assim ”recuperadas” e ”apropriadas” pelo bloco no poder. Os programas sociais e a participação social neles preconizados transformam-se, desse modo, em meio de controle das lutas sociais e das sequelas derivadas do crescimento da miséria relativa da população trabalhadora (IAMAMOTO, 2002, p. 106). Esse espaço de atuação profissional é também importante para o reconhecimento profissional e precisa ser apropriado por nossa categoria profissional, conferindo maior visibilidade às possibilidades de intervenção do assistente social contemporâneo. 81 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial 5.6 atuação em empresas privadas Para atuar como assessor/consultor em empresas privadas, o assistente social: Precisa ter uma leitura crítica da lógica capitalista e dos parâmetros institucionais a serem enfrentados estrategicamente pelo assistente social, a fim de que não se reproduza a condição excludente e antagônica do mercado. Sabemos que os serviços sociais criam condições favoráveis à reprodução da força de trabalho e a profissão situa-se no processo de reprodução das relações sociais; portanto consideramos o espaço empresarial como um dos espaços institucionais mais complexos de intervenção profissional devido à manifestação patente da exploração e manutenção da força de trabalho. Por isso o profissional que dispõe do poder atribuído institucionalmente deve apropriar-se de um rigoroso trato teórico-metodológico que propicie uma análise e compreensão dos problemas e desafios com os quais se defronta (FONSECA, 2005, p. 20- 21). Essa necessidade se dá, pois: A participação nos programas derivados das políticas sociais aparece assim como meio de antecipar e controlar possíveis insatisfações e/ou focos de conflito e tensão, que desarticulem ou obstaculizem as iniciativas do bloco no poder (IAMAMOTO, 1999, p. 106). No entanto, como assistentes sociais, nossa intervenção sempre deverá estar voltada para a atenção das necessidades apresentadas pelos segmentos vulneráveis, buscando dar visibilidade às demandas desses grupos, independente do grupo que esteja no poder da empresa privada. 5.7 atuação em organizações não governamentais Saiba mais Visitando o site será possível conhecer uma organização não governamental que atua com assessoria e consultoria. Confira a experiência. <http://www.fundacaosemear.org.br/>. Conforme já estudamos, as ONGs decorrem de processos de movimentos sociais e, para alguns autores, também para sanar a falência do Estado. Desde a década de 1990, por conta das mudanças sociais, as ONGs vêm respondendo, por meio da sua atuação, às questões sociais. É nesse espaço, no qual emergem novos desafios para a concretização do projeto ético-político e profissional, que o assistente 82 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II social vem sendo cada vez mais inserido e exigido em relação à qualificação, competência, criatividade, dinamismo e flexibilidade. São exigências essenciais para que o profissional desenvolva um trabalho qualificado com estudo social sobre o público-alvo, conhecimento de políticas sociais da assistência social, saúde e educação e de questões administrativo-financeiras, o que explica a cobrança crescente de profissionais para gestar e coordenar esses espaços. Além dessas exigências, espera-se que os profissionais saibam atuar em equipe multidisciplinar, analisar orçamentos públicos, identificar alvos e metas, captar recursos, realizar prestação de contas, elaborar, planejar, executar, monitorar e avaliar ações e projetos, além de ter visão crítica da realidade. Os profissionais que apresentarem essas competências e habilidades são os que possuem perfil para gestar, coordenar e até mesmo para ser um assessor/consultor desse espaço denominado organização não governamental, as ONGs. [...] a forma e a natureza das relações sociais determinam as tendências das práticas sociais ao priorizar necessidades que, no âmbito da experiência profissional, assumem o estatuto de objetos de intervenção, materializando as exigências do mercado de trabalho e o lugar da profissão na divisão sociotécnica do trabalho (MOTA; AMARAL, 1998, p. 42). Nesse contexto de competências e habilidades: [...] o assistente social, mesmo realizando atividades partilhadas com outros profissionais, dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação dos mesmos processos sociais e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações. [...] Cada um dos especialistas, em decorrência de sua formação e das situações com que se defronta na sua história social e profissional, desenvolve sensibilidade e capacitação teórico-metodológica para identificar nexos e relações presentes nas expressões da questão social com as quais trabalham e distintas competências e habilidades para desempenhar as ações propostas (IAMAMOTO, 2002, p. 41). Não podemos deixar de esquecer que para tanto, há, segundo Iamamoto (2001, p. 352), [...] uma interferência direta dos empregadores na definição do trabalho profissional, uma vez que a relação estabelecida entre o profissional e o objeto de intervenção depende do prévio recorte das políticas definidas pelos empregadores, que estabelecem demandas e prioridades a serem atendidas. 83 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Nós, como assistentes sociais, em qualquer área de atuação, precisamos sempre ter em mente que estamos transitando entre as necessidades de nossos contradores e a população usuária de nossos serviços. Na sequência, indicaremos quais são as estratégias a serem consideradas, de forma genérica, para assistentes sociais que irão atuar com assessoria e/ou consultoria. 6 eStratégiaS para atuaçãO dO aSSiStente SOcial na área de aSSeSSOria/cOnSultOria Apresentaremos algumas estratégias para o desenvolvimento de assessorias/consultorias. Elas são generalizantes, pois não pretendem ser um rígido roteiro do que e como fazer. Ao contrário, a assessoria/ consultoria só pode ser desenvolvida a partir de uma acurada leitura, pois possui particularidades. Aqui, o que faremos é socializar parte das reflexões desenvolvidas – em continuidade ao diálogo feito com os autores citados no item anterior – como forma de apontar caminhos para outros processos de assessoria e consultoria. O primeiro ponto a ser tratado pelos assessores é o esclarecimento da razão da assessoria. Em geral, uma assessoria, quando solicitada, é porque o profissional, a equipe ou o movimento social identifica a necessidade de alguma mudança. Por isso, Vieira (1981), na concepção tradicional, trata da importância da assessoria na mudança de hábitose depois de congelamento das ações julgadas corretas para aquelas equipes assessoradas. Assim, o assessor propõe a solução por meio da correção de problemas. Contudo, a assessoria pode ser entendida como um processo que gera mudança, mas a partir de uma relação em que assessores e assessorados possuem distintas contribuições a serem dadas. Isso fica claro no texto de Vasconcelos (1998), quando a autora propõe que a universidade desenvolva assessoria às equipes de serviço social por meio do estágio supervisionado. Esse processo se dá como uma troca de saberes diferenciados, em que a universidade tem, ou teria, um papel na formação profissional continuada. Portanto, não necessariamente a assessoria é apenas para aqueles sujeitos ou equipes com problemas e sim um processo, que pode ser continuado, de aperfeiçoamento da ação desenvolvida pelos assessorados. O assessor, na sua privilegiada posição de agente externo e a partir da sua capacidade profissional, pode contribuir apontando caminhos e auxiliando no desvelamento de questões que a equipe e o profissional, sozinhos, não podem identificar. Assim, esse primeiro passo não é pouca coisa, é um momento em que o assessor, ou a equipe da assessoria, clareiam para si, na realidade, a concepção política e teórica de assessoria. Contudo, não basta estar claro isso para o assessor, é necessário também que esteja claro para quem irá ser assessorado. Ou seja, é fundamental que seja cuidadosamente avaliada a realidade, preferencialmente em conjunto com a equipe assessorada. 84 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Só a partir daí é que se poderá construir um projeto de assessoria, no qual aquelas demandas originais e outras serão debatidas, pactuadas e apresentadas. Esse processo de estudo da realidade pode ser desenvolvido por meio de diferentes procedimentos. Somente a partir da proposta de assessoria, da pesquisa sobre a instituição ou dos movimentos sociais que se poderá iniciar o assessoramento ou consultoria e consequente apresentação e discussão do processo junto ao assessorado. Por vezes, há a tentação de “pôr logo a mão na massa”, ou seja, iniciar logo a assessoria, sobretudo pela habitual ansiedade de quem será assessorado. Contudo, essa fase inicial é fundamental, pois, invariavelmente, os assessorados apresentam demandas de assessoria que não são as reais, como nos casos em que as equipes solicitam a assessoria para elaboração de pesquisas, mas sequer fizeram uma discussão sobre o trabalho profissional e sobre a relevância de sistematização da prática profissional (ALMEIDA, 2010). As demandas pela prestação de serviços de assessoria/consultoria são motivadas por diferentes necessidades, tais como: • empresas solicitam assessoria para a adesão dos trabalhadores à mudança, quando no fundo é importante uma discussão sobre a reestruturação produtiva, e assim desvelar o impacto do atual forma de produção na vida do trabalhador (FREIRE, 2010); • conselheiros de saúde reivindicam cursos de capacitação, enquanto o fundamental é a discussão da organização política e articulação junto às bases (BRAVO; MATOS, 2010). Esses são exemplos reais tirados de artigos sobre assessoria/consultoria. Uma vez definidos os pressupostos da assessoria, cabe o início do processo em si. Esta etapa, talvez a mais importante, é a operacionalização das intenções. É preciso ter claro que o assessor não é um porta-voz do que deve ou não ser feito. Não está em cena aqui a figura de um assessor que estuda a realidade, ouve e acolhe as sugestões de quem o contratou, que propõe alterações do fluxo de trabalho e depois busca convencer a quem assessora congelar as suas ações para que assim possa ter o perfeito desempenho. Ao contrário, o processo de assessoria é cotidianamente construído com os sujeitos fundamentais – os assessorados – e estes têm autonomia em acatar ou não as proposições da assessoria. Esse processo deve ser franco e aberto, por ambos os lados. O assessor é um sujeito propositivo, mas que só terá êxito nessa atividade se tiver interlocução com quem assessora. Para tanto, fundamental é a adoção de estratégias de trabalho participativas. Pouco tem se produzido no serviço social sobre práticas participativas. As experiências de assessorias – as pautadas nos princípios do atual projeto ético-político do serviço social – têm frequentemente lançado mão dessas estratégias. 85 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Almeida (2006), na sua experiência de assessor de equipes de serviço social, ao encontrar com a demanda de pesquisa, tem provocado uma reflexão sobre o trabalho profissional. Ele constrói um fluxograma da trajetória do usuário nos serviços. Assim, o autor identifica – junto com a equipe que assessora – as diferentes lacunas do trabalho coletivo (portanto, não só da atuação profissional dos assistentes sociais) que, em geral, impactam negativamente a vida do usuário e que devem ser tratadas antes mesmo da constituição de equipes de pesquisa. Nesse processo, segundo o autor, várias das lacunas são enfrentadas por meio da capacitação, no bojo do processo de assessoria. Freire (2006) toma como referência as solicitações de empresas para assessoria na implantação de novos projetos ou de reestruturações, em que a demanda está na busca de adesão dos trabalhadores ou na construção de um controle diferenciado, muitas vezes aparentando um controle social de fato. Nesse tipo de assessoria é também importante que o assessor desvele a demanda original (por exemplo, a suposta busca de participação dos trabalhadores). Essa assessoria se dá, explicitamente, num espaço contraditório, tendo empresários e trabalhadores com interesses distintos e, como tal, passível de conflitos e de consensos, a partir da aliança ou tensão em determinados pontos, que podem ou não ser negociados. A par de sua capacidade profissional, mesmo com a relativa autonomia que aqui detém, o assistente social assessor poderá contribuir efetivamente para o favorecimento dos interesses dos trabalhadores. Em todo esse processo, a autora trabalha com a: pesquisa participante, em que os assessorados participam de todo o processo de assessoria, como o levantamento das informações e a análise institucional e, por isso, faz a autora, em seu texto, uma defesa destes, entendidos como um meio de trabalho importante para a constituição de sujeitos políticos (FREIRE, 2006, p. 190-191). Bravo e Matos (2010) relatam que a partir da demanda, que geralmente gira em torno da solicitação de capacitação de conselheiros, inicia junto com os solicitantes uma problematização sobre o tema. O que está no cerne é a desmistificação de que a capacitação resolveria problemas que são de ordem política. Enretanto, por outro lado, os autores sabem, contraditoriamente, do potencial da capacitação e, por isso, na maioria das vezes, desenvolvem-na, mas, num contexto de assessoria, com discussão dos conteúdos do curso e não como uma ação episódica. O curso costuma ser uma ação, junto com outras, como a construção de planos municipais de saúde, por exemplo. Por isso, estratégias importantes têm sido o recurso ao planejamento estratégico-situacional e à pesquisa participante. 86 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Em geral, o curso é uma estratégia de articulação entre os militantes, tanto que, não por acaso, em geral no seu encerramento, tem se criado fóruns populares de políticas públicas. Muitos não vão à frente, mas isso está vinculado ao potencial da participação políticana atualidade. Os exemplos anteriores demonstram a riqueza das possibilidades de estratégias participativas. Estas devem ser criativas e não normativas, sendo a realidade e os objetivos que determinam como e de que forma o referencial teórico e os objetivos determinam a escolha de uma ou outra técnica. Esse raciocínio fica claro com os aportes de Guerra (2006), quando lembra que, a partir da necessidade de transformar a natureza, o homem define por quais meios constrói os instrumentos de trabalho. Analogia que podemos tomar para a reflexão sobre o porquê de determinada técnica ou metodologia. Contudo, é importante que os profissionais saibam das possibilidades existentes e é por isso que elas aqui são socializadas. Sim, a centralidade cai sobre o sujeito que a empreende. Uma vez atingido o objetivo, principal ou não, da assessoria, esta, necessariamente, não se acaba. Entendemos que o processo pode ter continuidade ou não. Afinal, na nossa concepção não está em cena uma adaptação a um modelo ideal de atuação. A realidade é dinâmica e apresenta permanentemente desafios, que podem ser mais bem encarados por meio da troca de conhecimentos que a assessoria propicia. Importantes espaços para isso são as avaliações que devem ser periodicamente realizadas. Mas isso não quer dizer que o assessor seja um sujeito neutro. Ao contrário, se o profissional é credenciado para ser assessor é porque há um reconhecimento da sua capacidade. O profissional que atua com assessoria e consultoria não deve abrir mão do que referendamos como uma garantia constitucional – a liberdade de expressão – não omitindo ou minimizando sua avaliação sobre a viabilidade ou não de cada ação, abrindo espaço e estimulando o debate entre assessor e assessorado. Acreditamos que todo o processo da assessoria – planejamento, desenvolvimento, seus impasses, avanços etc. – deve ser avaliado e registrado. Há um conjunto de conhecimentos que a prática da assessoria gera que merece ser socializado. Assim, se o assessor estiver atento, pode, em conjunto com quem assessora, construir documentos com diferentes perfis e profundidades, como textos educativos, panfletos, artigos. Esse material deve alimentar o conhecimento acadêmico, mas, em especial, deve ser socializado com os sujeitos fundamentais desse processo, que são as equipes ou profissionais assessorados. 87 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial 7 reSpOnSabilidade SOcial cOmO um cOndiciOnante para O trabalhO cOmO aSSeSSOr/cOnSultOr dO aSSiStente SOcial Saiba mais Para ampliar seus conhecimentos a respeito do assunto tratado, indicamos o texto: MENEZES, F. C. de. O serviço social e a “responsabilidade social das empresas”: o debate da categoria profissional na Revista Serviço Social & Sociedade e nos CBAS. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 103, set. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 66282010000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 dez. 2014. Atualmente, assistentes sociais vêm desenvolvendo atividades de assessoria/consultoria em responsabilidade social empresarial. Esse novo “modismo”, conforme Gomes (2005), não pode ser explicado e esclarecido fora do contexto histórico, pois a responsabilidade social vem ganhando espaço no cenário do mercado de trabalho, devido à: crescente complexidade que vem permeando as práticas comerciais e industriais, o que tem obrigado as empresas a adotarem gradualmente parâmetros para identificar e atender aos interesses dos stakeholders (principais grupos envolvidos sejam eles fornecedores, clientes, colaboradores e/ou acionistas) (BRANCHINI, 2003, p. 32). No Brasil, a responsabilidade social surge por meio de movimentos empresariais que tinham como objetivo estudar as atividades econômicas e sociais do meio empresarial na década de 1960 e 1970. Da década de 1990 até os dias atuais, a responsabilidade social vem se fortalecendo por meio de movimentos de grupos e instituições que objetivam transformar o interesse empresarial em investimento social privado. No decorrer da história, o Brasil vivenciou inúmeras crises sociais, econômicas e políticas. Uma delas ocorreu no período de 1980 a 1994, com os seguintes acontecimentos: • esgotamento do modelo econômico vigente, representando taxas reais de crescimento em torno de 1%; • crescimento do endividamento externo e consequente dependência financeira, obrigando altos níveis de exportações para atender às exigências dos bancos credores; • prostração do poder tributário do Estado que, somado ao endividamento interno, reduz sua disponibilidade de recursos e possibilidade de intervenção; 88 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II • aumento da máquina estatal de forma desordenada e ineficiente, buscando fazer frente aos baixos índices de crescimento econômico; • maior espaço para ações reivindicatórias por parte da sociedade; • perda de credibilidade dos governantes, partidos políticos e instituições estatais; • aumento da marginalidade por ineficiência das intervenções estatais e absorção da força de trabalho. Decorrente dessas crises, a partir de 1997, o sociólogo Betinho lançou o modelo de balanço social e, em parceria com a empresa de mídia Gazeta Mercantil, criou o “selo do balanço social“, com a “Campanha nacional de ação da cidadania contra a fome e a miséria e pela vida“, apoiada pelo Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). Depois desse evento começaram a surgir outros selos e institutos, como o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, em 1998, fundamentado na ética, na cidadania, na transparência e na qualidade das relações da empresa com seus stakeholders. Esse instituto foi criado com o objetivo de promover a responsabilidade social de forma agregada de diversas empresas privadas. A partir disso, muitos outros institutos e grupos foram criados no cenário empresarial, com intuito de difundir a responsabilidade social. Para melhor compreensão do que se trata a responsabilidade social, Ashley (2002, p. 6) define responsabilidade social como: O compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela. A responsabilidade social, no limiar desta década, passa a ser utilizada frequentemente por empresas ”cidadãs” e ”socialmente responsáveis”, decorrente do significativo crescimento do marketing social no Brasil. Uma empresa ”socialmente responsável”, isto é, que desenvolve atividade de responsabilidade social, é uma empresa que realiza ações para uma comunidade na áreas da assistência social, educação, saúde e meio ambiente. Com o aparecimento da responsabilidade social, do balanço social e com a Norma de Gerenciamento Social (SA 8000), o profissional de serviço social fica frente ao desafio de instalar-se nesse novo processo de criação e elaboração coerente de estratégias e é qualificado para gerenciar as propostas e metodologias, para que responda positivamente às exigências desse novo espaço de atuação. 89 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial Tal trabalho de consultoria e assessoria em responsabilidade social, dentro de uma empresa ou em espaços públicos, deve ser somado ao terceiro setor, no qual esses espaços empresariais e órgãos públicos estão inseridos, ou em espaçosonde há uma grande concentração de funcionários para que se trabalhe a autoestima das comunidades e o voluntariado nos funcionários de empresas, por exemplo, indo além do intento acadêmico, abrangendo a ética. Citamos alguns exemplos de empresas que desenvolvem responsabilidade social no Brasil: Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) Criado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em 1981, tem se destacado por valorizar os movimentos de responsabilidade social empresarial no Brasil por meio do balanço social, isto é, tem como finalidade evidenciar a conduta empresarial brasileira nas ações de responsabilidade social empresarial. Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) Surgiu no final da década de 1980 e tem como finalidade a troca de experiência e incentivo às ações filantrópicas. O Gife é pioneiro, na América Latina, em reunir empresas, institutos e fundações de origem privada que têm exercícios voltados ao repasse de recursos privados para fins públicos, por meio de projetos sociais, culturais e ambientais. Uma de suas atribuições é estimular parcerias entre o setor privado, o Estado e a sociedade civil organizada e, ainda, é um espaço considerado, por muitas multinacionais instaladas no Brasil, como braço filantrópico de empresas multinacionais e fundações de grandes empresas nacionais, o que lhe confere caráter proeminente no cenário brasileiro e faz com que seus associados tenham popularidade ao possuir uma qualidade bem-definida na área da responsabilidade social. Na concepção do Gife, responsabilidade social empresarial é a condução dos negócios da empresa de forma que a torne parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social. Saiba mais Para conhecer mais sobre o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, acesse: <http://www.gife.org.br>. O Instituto Ethos Criado em 1999, tem como objetivo ”constituir parâmetros para as empresas interessadas em desenvolver ações de responsabilidade social”, abrangendo em seu caráter a mobilização, a promoção, a disseminação e a contenda a respeito da gestão socialmente responsável. 90 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Merece ser apontado que esse instituto investe em campanhas publicitárias, e a sua aproximação do meio político e acadêmico acontece, principalmente, por meio de cursos de administração e marketing. Cabe ressaltar que o Instituto Ethos defende que independe se a empresa é de grande, médio ou pequeno porte e, até mesmo, se é nacional ou multinacional, pois o que importa é que suas ações estejam voltadas para a responsabilidade social, bastando apenas que tenham vontade política. Há, ainda, outras empresas multinacionais, de diversos ramos de atuação, instaladas no Brasil que vem desenvolvendo institutos para desenvolver responsabilidade social, tais como: Bosch e seu Instituto Robert Bosch; C&A e o Instituto C&A e muitos outros. Decorrente dessa expansão de empresas que vêm atuando com responsabilidade social, citamos alguns autores, que fazem a seguinte análise sobre o tema: [...] a perspectiva de que responsabilidade social se constitui no compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetam positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela. Nesse contexto, assume obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em lei, mesmo que não diretamente vinculadas às suas atividades, mas que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável (ASHLEI, 2002, p. 6-7). Enquanto Montaño (2002, p. 60) faz o seguinte alerta: Responsabilidade social do empresariado não pode ser compreendida sem fazer referência à sempre presente necessidade de aumentar a produtividade e com ela o movimento de “relações humanas“ e diversas formas de tornar o trabalho mais ameno para conquistar o trabalhador, bem como a necessidade de conquistar o consumidor. Parte do pressuposto que a “filantropia empresarial“ nada mais é do que um novo modismo do capital, objetivando incrementar a sua lucratividade. Independente de quaisquer questões sociais, políticas ou econômicas, a responsabilidade social vem crescendo no cenário brasileiro em todos os seus setores: primeiro, segundo e terceiro setores, como também no setor acadêmico. Em 2000, o Ipea realizou uma pesquisa, no estado do Espírito Santo, intitulada: “Iniciativa privada e o espírito público: ação social das empresas privadas no Brasil”, na qual pode-se constatar Entre o final da década de 1990 e 2004, observa-se um crescimento generalizado na proporção de empresas que declararam realizar algum tipo de ação social para a comunidade (por região, por setor de atividade econômica e por porte). Ao se analisar o conjunto de empresas brasileiras nota-se que 91 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Consultoria em trabalho soCial a participação empresarial na área social aumentou 10 pontos percentuais, passando de 59%, em 2000, para 69%, em 2004. [...] Assim, entre aquelas que realizam atividades sociais, 50% encontram-se no Sudeste e 29% no Sul; em 2000 essas proporções eram de 64% e 16%, respectivamente. [...] No que se refere ao porte das empresas é mister destacar o aumento significativo no período analisado da participação de microempresas no conjunto daquelas que beneficiaram as comunidades com sua atuação voluntária. Com efeito, entre 2000 e 2004, essa participação cresceu 10 pontos percentuais, indo de 58%, no início da série, para 68%, no final (IPEA, 2006). O Ipea também identificou os fatores de motivação dos empresários quando estabelecem suas empresas como socialmente responsáveis para desenvolverem ações sociais, ressaltando o lado filantrópico: • motivos humanitários; • razões religiosas; • aumento da produtividade e qualidade no trabalho; • visibilidade da marca; • clientelismos (ações sociais motivadas por solicitação de amigos e políticos). E as áreas beneficiadas que os motivaram foram: • assistência social, com ênfase para alimentação e abastecimento; • saúde; • educação; • cultura; • segurança. O principal foco foram os segmentos família, criança e adolescente, mas as doenças graves, como aids, tuberculose e câncer, foram quase que deixadas de fora, pois as empresas não querem seu logo associado a esse tipo de projeto que poderia reverter-se de forma conflitante aos seus negócios. Um exemplo grotesco é imaginarmos a Souza Cruz (fabricante de cigarros) investindo em projetos de ações sociais de combate ao câncer. Apesar do exemplo anterior, não há limites para a responsabilidade social empresarial. A motivação para ser uma empresa ”cidadã” vem do espaço aberto por conta do repasse de incentivos dados pelo Estado. Isso leva à intensa atuação da empresa na área social. 92 SS OC - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 01 /1 5 Unidade II Conforme estudamos anteriormente, com a falência do Estado, as empresas assumiram as ações sociais, que veem nesse campo a possibilidade de aumentar sua lucratividade, ou melhor, corroboram os preceitos neoliberais que pregam a iniciativa privada, ocupando o espaço que é de dever do Estado. A responsabilidade social empresarial tem como intenção, diferente do mercadológico, ”agregar valores à marca”, o que demonstra nessa postura que as empresas são estimuladas por estratégias de negócio e não somente pela filantropia. Isso porque, em um mercado globalizado, a responsabilidade social concebe uma estratégia de sobrevivência e busca junto à
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