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MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em Análise do Discurso. 3. ed. Campinas, SP, Pontes-Ed. Unicamp, 1997.

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MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em Análise do Discurso. 3. ed. Campinas, SP, Pontes-Ed. Unicamp, 1997.
No livro “Novas tendências em análises de discurso”, Dominique Maingueneau questiona as fronteiras e as possibilidades para a análise de discurso como ciência, desde o seu ponto de partida até o que se constituiu como tal atualmente. Para sua análise, Maingueneau dividiu a obra em introdução, três partes argumentativas que se encarregam, seguidamente, de como se instituiu a análise de discurso; a complexidade da diversidade de discurso, conteúdo textual; e conclusão.
Na narrativa que constituiu a análise de discurso propriamente, Dominique Maingueneau apresenta as discussões que fundamentaram a necessidade de encontrar técnicas e métodos eficazes de compreender os elementos dos discursos para além do código de linguagem que legitimam a totalidade da produção discursiva, o que tornam que a disciplina não seja auto evidente, como podem pensar uma parcela de leitores iniciantes da temática. 
 Partindo desse pensamento, o fundamento da análise de discurso se principia pelo encontro da prática escolar com uma conjuntura intelectual em evidência, dada a necessidade insurgida pela complexidade de discursos das quais a filologia, sozinha, não conseguia dar conta, por conseguinte, a conjuntura intelectual que parte da ótica do estruturalismo que se firmava no final da década de sessenta, diagnosticava a “linguagem oculta” do texto das quais as práticas escolares, desde a própria escola à universidade, por meio da filologia não conseguia progredir na tarefa da explicação textual. A abordagem, portanto, surgiria como meio de compreender o oculto ou o que precisa ser desvelado e trazido para a superficialidade, pois, de acordo com o autor, esses sentidos ocultos produzidos “subtextualmente” são carregados de ideologias. 
A introdução da obra, então, faz uma diferença entre a escola francesa de análise de discurso e a anglo saxã, destacando os seguintes pontos: Tipos de discursos, objetos, métodos e origem. Nesta avaliação, é dado que a análise de discurso da escola francesa tem como, principal ponto de tipologia discursiva, a escrita que são produzidas em meios doutrinários, mas não se limitando no sentido de esgotamento de conteúdo. Enquanto que a escola anglo-saxã tem como origem a antropologia e, por esta razão, enfoque na oralidade e no cotidiano comum em viés da necessidade objetiva de compreender as relações de comunicações (a partir da perspectiva psicológica), a escola francesa se direciona na análise dos propósitos textuais – explicando sua forma e objeto – a partir da história e da linguística. Assim, a introdução apresenta a forma da análise de discurso, a partir da sua forma até seu objeto, tomando-a não só como uma analítica eventual de linguagem, mas de sentidos e produção das mesmas. 
Na primeira parte da sua argumentação, intitulada de “A instituição discursiva”, o autor elabora sistematicamente e enquadra em dois momentos: A cena enunciativa e a “uma prática discursiva”. No sentido mais abrangente dessa parte, podemos entender que em busca da “raiz” geral da análise de Discurso, Maingueneu encontra no pragmatismo os conceitos da linguagem trabalhadas na linguísticas modernas que desenvolvem às práticas discursivas. Assim, em aparatos mais técnicos de linguagem, o autor apresenta o ato de fala, a cena, o cenário que, anterior à constituição do discurso como objeto de análise. A pragmática, de acordo com o autor, não pretendia negligenciar as informações de atos de fala, ação e sujeito, na verdade, o enfoque estava em compreender como se molda a língua nesse âmbito, portanto, cada ato de fala é intrinsecamente ligado ao espaço em que está sendo emitido, ou enunciado. 
Nesse sentido, Maingueneau reconhece o conteúdo do discurso como uma organização que se situa para além de uma construção frasal, pois não depende dela para ser formado e sim de uma complexa relação entre as regras de organização social que se determinam, tal como narrativa ou diálogo. O discurso, portanto, carrega esta característica da qual permite com que se desenvolva linearmente em função de construir uma perspectiva, ou, corroborar com o sentido de ação do sujeito locutor, do contrário, não poderia ser possível a textualidade carregar sentido amplo e interpretativo. Prosseguindo a tese da fundação do discurso como instituição, o autor apresenta também a forma de ação do discurso, mostrando que a enunciação constitui um ato que visa modificar uma situação com fim de integrar discursos de determinado gênero (que pode ser qualquer texto, desde um simples bilhete à pôster público) e que tem como principal caráter, promover uma modificação naqueles que são os receptadores do conteúdo discursivo. 
Maingueneau reconhece, nesta a obra, os diversos caráteres de discurso da qual está vinculado ao cotidiano. Ao perceber, como já explorado acima, o caráter organizado, situado e ativo, consequentemente o discurso também pode ser interativo e contextualizado, em outras palavras, o discurso também envolve uma atividade oral entre os sujeitos, das quais promovem trocas de enunciados que podem explícitas ou não, dado que sua compreensão, ou o sentido dela, é compreendido em seu contexto. 
A análise do discurso, portanto, decorre da compreensão de que a própria apresenta uma diversidade de conteúdo e formas que variam de acordo com a atividade linguística (p.40), sendo assim, a atividade da linguagem é capaz de designar em que sistema a produção de textos está inserida e que tipo de conjunto é, em outras palavras, a análise de discurso tem noção de que a própria é um reflexo dessas constantes modificações de como a linguagem é dada. Essas modificações são, em suma, adversidades da pragmática que se constitui como maneira de apreensão da verbalização na práxis, ou seja, a prática do discurso per si. 
Avançando para a heterogeneidade do discurso, Maingueneau desdobra seu argumento em duas partes, a saber: A heterogeneidade mostrada e Discurso e interdiscurso. A primeira parte objetiva mostrar as possibilidades de discurso dentro de sua própria amplitude internalizada para com a relação que se estrutura no mundo exterior. Em suma, essa primeira parte tem pretensão de mostrar como são os discursos heterogêneos e suas diversas fontes de enunciação. Já a segunda parte, que se trata do discurso e do interdiscurso, o autor afirma que se encarrega de mostrar como é possível, pela análise de discurso, formular hipóteses sobre as fontes de enunciado dos discursos, mesmo estas sendo de caráter especulativo, para assim, demonstrar que o método de análise de discurso não se limita ao caráter superficial e adentra as raízes da produção de sentido das mesmas. 
Nesse momento da leitura da referida obra, o autor diagnostica que o discurso verbal podem ser vistos como enunciado e texto, utilizando a noção da primeira como o registro verbal do que acontece, tendo significado e significantes que não sofrem alterações da segunda, que o autor de extensão do enunciado, por outras palavras, podemos compreender como a unidade que sintetiza o significado e o simbólico carregado de sentido. Assim, o texto é uma produção verbal, oral ou não que se estrutura de maneira que pode se desvincular de seu sentido original ou passar pelo processo de interpretação com ilimitadas possibilidades de entendimento. Em caráter mais “técnicos”, o autor descreve que os textos são heterogêneos e contém signos linguísticos e ícones capazes de mostrar, explicitamente o sentido que pretende.
Na terceira parte argumentativa da obra, que o autor intitulou de “As palavras do discurso”, Maingueneau agora pretende compreender os limites temporais e históricas das palavras, dividindo a parte em dois capítulos, a saber: Para além dos termos-pivôs e Os conectivos Argumentativos. Na parte anterior, Maingueneau havia discorrido que o texto se envolve com os sujeitos na medida em que sua representação é mediada, situando um “ethos” que está para além do texto, o locutor e dointerlocutor, do qual transmite um enunciado que se oculta através de seu sentido inicial, implícito. Partindo disto, Maingueneau pretende elaborar um minucioso trabalho de análise dos conceitos comuns de palavras, de termos, extensões e outros conceitos de lugar comum da temática de análise de discurso. O autor, assim, pretende mostrar o lugar da reflexão da análise de discurso como disciplina e método, partindo de que é possível trazer à superfície a relação sujeito e texto que tem, em oculto, particularidades de sentidos que submergem no enunciado. Nessa ótica, Maingueneau afirma que o ethos do enunciado é o que caracteriza como o texto pode ser dado, vide ao comportamento do leitor e que evoca, no sentido mais profundo da estrutura textual, seu sentido oculto e sua argumentação torna-se em torno das possibilidades de evocação desses sentidos, sem perder a direção das mesmas ou trazer interpretações que não se assimilam.
Por fim, compreendendo que a análise de discurso é extremamente amplo, Maingueneau faz um verdadeira mapeamento da temática, trazendo para o leitor os momentos imprescindíveis da disciplina de análise de discurso, limitando às tendências recentes, mas sem perder como evidenciar os movimentos que deram o impulso para a efetivação da AD, tais como o pragmatismo e ainda assim, percebe-se pelo desenvolver da obra a recusa do autor de conceber a linguagem como mero instrumento de transmissão verbal e, demonstrar como a análise de discurso está diretamente relacionada com o desenvolvimento das ciências humanas.

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