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Descreva a regulação da glicólise e gliconeogênese no estado alimentado e no jejum prolongado. No período absortivo (pós-prandial), imediatamente após uma refeição rica em calorias, a glicose entra no fígado, a maior parte da glicose é absorvida no intestino e o excedente permanece na circulação. A insulina, liberada em resposta à alta concentração sanguínea de glicose, estimula a captação do açúcar pelos tecidos. A glicemia no sangue leva à liberação de insulina e redução dos níveis de glucagon. Parte da glicose é exportada para o cérebro para suas necessidades energéticas e parte para os tecidos adiposo e muscular. No fígado, o excesso de glicose é oxidado a acetil-CoA, que é usada na síntese de ácidos graxos que são exportados como triacilgliceróis, em VLDL, para os tecidos adiposo e muscular. A insulina favorece a entrada de aminoácidos nos tecidos e a síntese de proteínas, sendo o excedente oxidado e transformado em intermediários do ciclo de Krebs. A glicose é polimerizada a glicogênio. No período pós-absortivo a glicemia reduz a níveis normais e o glucagon é então liberado e a degradação do glicogênio hepático é iniciado, esse período dura em média 12h. A captação de glicose é inibida, sendo permitida nos tecidos insulino-dependentes (cérebro, hemácias e medula renal). Há a redução do ciclo de Krebs devido ao desvio do oxaloacetado para a gliconeogênese. No período de jejum a gliconeogênese é intensificada, há o aumento dos triacilgliceróis armazenados, os ácidos graxos circulantes fornecem energia para tecidos como músculos esquelético e cardíaco, fígado e tecido adiposo, sendo assim os processos degradativos são intensificados. Após algumas horas sem alimento, o fígado torna-se a principal fonte de glicose para o cérebro. O glicogênio hepático é degradado, e a glicose-1-fosfato produzida é convertida em glicose-6-fosfato e, a seguir, em glicose livre, que é liberada para a corrente sanguínea. Os aminoácidos procedentes da degradação das proteínas no fígado e no músculo e o glicerol oriundo da degradação dos TAGs no tecido adiposo são utilizados para a gliconeogênese. O fígado usa os ácidos graxos como seu combustível principal, e o excesso de acetil-CoA é convertido em corpos cetônicos exportados para outros tecidos; o cérebro é particularmente dependente deste combustível quando há deficiência de fornecimento de glicose. No período de jejum prolongado, após 24h sem a ingestão de alimentos, o glicogênio hepático está praticamente esgotado, sendo a gliconeogênese a única forma de manter a glicemia. O excesso de corpos cetônicos produzidos, mantém-se circulantes, causando um quadro de cetoacidose, com significativa redução dos níveis de bicarbonato plasmático. A degradação das proteínas provenientes do tecido muscular esquelético compõe a nova fonte para transformação de glicose. Alanina e glutamina são sintetizadas em maior quantidade. Após a depleção dos estoques de carboidratos (glicogênio), a gliconeogênese no fígado torna-se a principal fonte de glicose para o cérebro. Os aminoácidos glicogênicos provenientes da degradação das proteínas fornecem substratos para a gliconeogênese, e a glicose é exportada para o cérebro. A insulina opõe-se a níveis altos de glicose sanguínea Agindo por meio de receptores na membrana plasmática (ver Figuras 12-15 e 12-16), a insulina estimula a captação da glicose pelos músculos e pelo tecido adiposo (Tabela 23-3), onde a glicose é convertida em glicose-6-fosfato. No fígado, a insulina também ativa a glicogênio-sintase e inativa a glicogênio-fosforilase, de modo que grande parte da glicose-6-fosfato é canalizada para formar glicogênio. A insulina também estimula o armazenamento do excesso de combustível no tecido adiposo na forma de gordura (Figura 23-25). No fígado, a insulina ativa a oxidação da glicose-6-fosfato em piruvato pela glicólise e a oxidação do piruvato em acetil-CoA. O excesso de acetil-CoA não necessária para a produção de energia é utilizado para a síntese de ácidos graxos, exportados do fígado para o tecido adiposo como TAG de lipoproteínas plasmáticas (VLDL; ver Figura 21-40). A insulina estimula a síntese de TAG nos adipócitos, a partir dos ácidos graxos liberados pelos TAG da VLDL. Esses ácidos graxos são, em última análise, deri- vados do excesso de glicose captada do sangue pelo fígado. Em resumo, o efeito da insulina é favorecer a conversão do excesso de glicose sanguínea em duas formas de armazenamento: glicogênio (no fígado e no músculo) e triacilgliceróis (no tecido adiposo). Além de agir diretamente no músculo e no fígado, mudando seu metabolismo de carboidratos e gorduras, a insulina pode agir no cérebro, sinalizando indiretamente para esses tecidos, conforme descrito mais adiante. As células b pancreáticas secretam insulina em resposta a alterações na glicose sanguínea Quando a glicose entra na corrente sanguínea a partir do intestino após uma refeição rica em carboidratos, a quantidade aumentada de glicose no sangue provoca um aumento na secreção de insulina (e uma redução na secreção do glucagon) pelo pâncreas. A liberação de insulina é regulada basicamente pelo nível de glicose no sangue que irriga o pâncreas. Os hormônios peptídicos insulina, glucagon e somatostatina são produzidos por agrupamentos de células pancreáticas especializadas, as ilhotas de Langerhans (Figura 23-26). Cada tipo celular das ilhotas produz um único hormônio: as células a produzem glucagon; as células b, insulina; as células d, somatostatina. Conforme mostrado na Figura 23-27, quando a glicose sanguínea aumenta, ➊ os transportadores GLUT2 carregam a glicose para dentro das células b, onde é ime- diatamente convertida em glicose-6-fosfato pela hexocinase IV (glicocinase) e entra na glicólise. Com a taxa de catabolismo da glicose mais alta, ➋ a [ATP] aumenta, causando o fechamento dos canais de K1 controlados por ATP na membrana plasmática. ➌ O efluxo reduzido de K1 despolariza a membrana. (Lembre, da Seção 12.6, que a saída deste íon por um canal de K1 aberto hiperpolariza a membrana; por essa razão, o fechamento do canal despolariza a membrana.) A despolarização abre canais de Ca21 controlados por voltagem, e ➍ o aumento resultante na [Ca21] citosólica desencadeia ➎ a liberação da insulina por exocitose. O cérebro integra o suprimento e a demanda de energia, e os sinais dos sistemas nervosos parassimpático e simpático também afetam (estimulam e inibem, respectivamente) a liberação da insulina. Um circuito simples de retroalimentação limita a liberação do hormônio: a insulina reduz a glicose sanguínea estimulando sua captação pelos tecidos; a redução na glicose sanguínea é detectada pelas células b pelo fluxo diminuído na reação da hexocinase; isto reduz ou interrompe a liberação da insulina. Essa regulação por retroalimentação mantém a concentração da glicose sanguínea praticamente constante apesar da grande variação na captação dietética. A atividade dos canais de K1 controlados por ATP é fundamental para a regulação da secreção de insulina pelas células b. Os canais são octâmeros formados por quatro subunidades Kir6.2 idênticas e quatro subunidades SUR1 idênticas, e são construídos nos mesmos moldes dos canais de K1 das bactérias e das outras células eucarióticas (ver Figuras 11-47 e 11-48). As quatro subunidades Kir6.2 formam um cone ao redor do canal de K1 e funcionam como mecanismo de filtro de seletividade controlado por ATP (Figura 23-28). Quando a [ATP] aumenta (indicando aumento da glicose no sangue), os canais de K1 se fecham, despolarizando a membrana plasmática e desencadeando a liberação de insulina, como mostrado na Figura 23-27. As sulfonilureias, medicação oral utilizada no tratamento do diabetes melito tipo 2, se ligam às subunidades SUR1 (receptor de sulfonilureia, de sulfonylurea recep receptor) dos canais de K1, fechando-os e estimulando a liberação de insulina. A primeira geração desses fármacos (tolbutamida, por exemplo) foi desenvolvidana década de 1950. A segunda geração, incluindo gliburida (Micronase), glipizida (Glucotrol) e glimepirida (Amaryl), é mais potente e tem menos efeitos colaterais. (A porção sulfonilureia está destacada em vermelho-claro nas estruturas seguintes.) As sulfonilureias às vezes são usadas em combinação com injeção de insulina, mas muitas vezes conseguem controlar sozinhas o diabetes tipo 2. Mutações nos canais de K1 controlados por ATP das células b felizmente são raras. Mutações em Kir6.2 que causam a abertura permanente dos canais (resíduos em vermelho na Figura 23-28b) originam diabetes melito neonatal, com hiperglicemia grave, que requer insulinoterapia. Outras mutações em Kir6.2 ou em SUR1 (resíduos em azul na Figura 23-28b) resultam em canais de K1 permanentemente fechados e liberação contínua de insulina. Pessoas com essas mutações, se não forem tratadas, desenvolvem hiperinsulinemia congênita (hiperinsulinismo da infância); excesso de insulina causa hipoglicemia grave (baixa glicose sanguínea), levando a danos cerebrais irreversíveis. Um tratamento eficaz é a remoção cirúrgica de parte do pâncreas para reduzir a produção do hormônio. ■ O glucagon opõe-se a níveis baixos de glicose sanguínea Várias horas após a ingestão de carboidratos, os níveis de glicose sanguínea diminuem levemente devido à oxidação da glicose pelo cérebro e por outros tecidos. A diminuição da glicose sanguínea desencadeia a secreção do glucagon e reduz a liberação da insulina (Figura 23-29). O glucagon causa um aumento na concentração sanguínea da glicose de várias maneiras (Tabela 23-4). Como a adrenalina, ele estimula a degradação do glicogênio hepático por ativar a glicogênio-fosforilase e inativar a glicogênio- sintase; ambos os efeitos são o resultado da fosforilação de enzimas reguladas, desencadeada pelo cAMP. O glucagon inibe, no fígado, a degradação da glicose pela glicólise, e estimula sua síntese pela gliconeogênese. Ambos os efeitos resultam da redução da concentração da frutose-2,6-bifosfato, inibidor alostérico da enzima gliconeogênica frutose-1,6-bifosfatase (FBPase-1) e ativador da enzima glicolítica fosfofrutocinase-1. Lembre que a [frutose-2,6-bifosfato] é controlada em última análise por uma reação de fosforilação dependente de cAMP (ver Figura 15-19). O glucagon também inibe a enzima glicolítica piruvato-cinase (promovendo sua fosforilação dependente de cAMP), bloqueando a conversão do fosfoenolpiruvato em piruvato, e impedindo a oxidação do piruvato no ciclo do ácido cítrico. O consequente acúmulo de fosfoenolpiruvato favorece a gliconeogênese. Esse efeito é aumentado pela estimulação pelo glucagon da síntese da enzima gliconeogênica PEP-carboxicinase. Pela estimulação da degradação do glicogênio, prevenção da glicólise e promoção da gliconeogênese nos hepatócitos, o glucagon permite que o fígado exporte glicose, restaurando seu nível sanguíneo normal. Embora seu alvo principal seja o fígado, o glucagon (como a adrenalina) também afeta o tecido adiposo, ativando a degradação de TAG por causar fosforilação, dependente de cAMP, da perilipina e da lipase sensível a hormônio. As lipases ativadas liberam ácidos graxos livres, que são exportados como combustível para o fígado e outros tecidos, poupando glicose para o cérebro. O efeito final do glucagon é, portanto, estimular a síntese e a liberação da glicose pelo fígado e mobilizar os ácidos graxos do tecido adiposo para serem usados no lugar da glicose por outros tecidos que não o cérebro. Todos esses efeitos do glucagon são mediados por fosforilação proteica dependente de cAMP. O metabolismo é alterado durante o jejum e a inanição para prover combustível para o cérebro As reservas de combustível de um adulto humano saudável são de três tipos: glicogênio armazenado no fígado e, em menor quantidade, no músculo; grandes quantidades de triacilgliceróis no tecido adiposo; e proteínas teciduais que podem ser degradadas, quando necessário, para fornecer combustível (Tabela 23-5). Duas horas após uma refeição, o nível de glicose sanguínea está levemente diminuído, e os tecidos recebem glicose liberada a partir do glicogênio hepático. Há pequena ou nenhuma síntese de triacilgliceróis. Quatro horas após a refeição, a glicose sanguínea está mais reduzida, a secreção de insulina diminuiu e a secreção de glucagon está aumentada. Esses sinais hormonais mobilizam os triacilgliceróis do tecido adiposo, que agora se tornam o principal combustível para o músculo e o fígado. A Figura 23-30 mostra as respostas ao jejum prolongado. ➊ Para fornecer glicose para o cérebro, o fígado degrada determinadas proteínas – aquelas mais dispensáveis em um organismo que não está se alimentando. Seus aminoácidos não essenciais são transaminados ou desaminados (Capítulo 18), e ➋ os grupos amino extras são convertidos em ureia, que é exportada pela corrente sanguínea para os rins e excretada na urina. Também no fígado, e de certa forma nos rins, os esqueletos de carbono dos aminoácidos glicogênicos são convertidos em piruvato ou intermediários do ciclo do ácido cítrico. ➌ Esses intermediários (assim como o glicerol dos TAG do tecido adiposo) fornecem os materiais de partida para a gliconeogênese no fígado, ➍ gerando glicose para exportar para o cérebro. ➎ Os ácidos graxos liberados do tecido adi grupos amino extras são convertidos em ureia, que é exportada pela corrente sanguínea para os rins e excretada na urina. Também no fígado, e de certa forma nos rins, os esqueletos de carbono dos aminoácidos glicogênicos são convertidos em piruvato ou intermediários do ciclo do ácido cítrico. ➌ Esses intermediários (assim como o glicerol dos TAG do tecido adiposo) fornecem os materiais de partida para a gliconeogênese no fígado, ➍ gerando glicose para exportar para o cérebro. ➎ Os ácidos graxos liberados do tecido adi O transporte de glicose ocorre por transportadores GLUT2, os quais de modo eficiente mantêm a concentração de glicose no hepatócito na mesma proporção com que este nutriente existe na circulação sanguínea. No entanto, a glicose só poderá ser utilizada pelo tecido hepático após ser fosforilada. A enzima responsável por essa reação, a glicoquinase, possui baixa afinidade pela glicose, assim, o fígado só irá fosforilar e garantir a permanência da glicose dentro das células hepáticas, uma vez que haja concentração suficientemente alta de glicose na circulação. Isso ocorre, porque o fígado pode usar outros substratos energéticos como ácidos graxos ou aminoácidos como fonte energética. Apesar da insulina não influenciar a captação de glicose nas células hepáticas, influencia profundamente a utilização da glicose por estas células. A glicose só será utilizada pelo fígado como nutriente preferencial quando a razão insulina/glucagon for suficientemente alta para ativar a via glicolítica [1,3,6]. O alto aporte de glicose, juntamente com a presença de insulina também estimularão a síntese de glicogênio, e, neste momento, o fígado passa a ser um armazenador de glicose [1,3,6]. Caso contrário, o fígado fará exatamente o oposto, será um exportador de glicose. No momento de jejum, quando houver predomínio do glucagon sobre a insulina, a glicogenólise será ativada e o fígado passa a exportar a glicose que havia armazenado sob a forma de glicogênio. Como o glicogênio é uma reserva limitada e somente pode suprir a demanda de glicose no organismo por algumas horas, o fígado lança mão de outro recurso, a gliconeogênese [1,3,6]. A gliconeogênese ocorre predominantemente no tecido hepático pelo estímulo do glucagon e é simultânea a glicogenólise hepática [1,3,6]. Enquanto houver glicogênio, a velocidade da gliconeogênese é pequena, no entanto, esta via ocorrerá em velocidade máxima após a exaustão do glicogênio hepático [1,3,6]. Portanto, no jejum prolongado, a glicemia é mantida somente pela gliconeogênese, o que significa um custo metabólico importante, pois esta via está relacionada à perda significativade massa muscular e de tecido adiposo que acompanham o jejum [1,3,6]. É preciso lembrar que a síntese de glicose que ocorre no fígado durante períodos de jejum prolongados tem como principais precursores aminoácidos, advindos do músculo esquelético, glicerol, advindo da mobilização de triglicerídeos do tecido adiposo e lactato, advindo das hemáceas, e tendo como fonte de energia a intensa betaoxidação dos ácidos graxos liberados pela mobilização dos triglicerídeos [1,6]. Mesmo com a chegada de alimentos a produção de glicogênio a partir de aminoácidos provenientes da dieta pode continuar ocorrendo no fígado por algum tempo. Isto é chamado de gliconeogêse pós-prandial e ocorre para garantir um adequado armazenamento de glicogênio no fígado
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