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prova de Mesopotâmia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
CURSO DE HISTÓRIA – LICENCIATURA
HISTÓRIA ANTIGA 1
PROF: ALEXANDRE GALVÃO
29.08.16
IOLANDA ALMEIDA MATOS
PROVA DE HISTÓRIA ANTIGA 1
QUESTÃO 1 - Ao longo da história da civilização mesopotâmia do quinto ao primeiro milênio as organizações centrais exerceram papel fundamental na organização social, política e econômica, passando por transformações significativas. Aponte as mudanças e as características das organizações centrais do protodinástico ao período paleobabilônico , em particular, as mutações da estrutura palatina, ressaltando também, as razões de seu declínio. 
Para responder essa questão optei por dividi-la em tópicos referentes aos livros lidos da bibliografia básica.
Protodinástico
Liveranni, M. El Antiguo Oriente. Barcelona: Crítica,1995
 Será só a partir desse período que teremos o que autor denomina de policentrismo, que se conceitua em cidades-estados de dimensões parecidas, que serão governadas por uma dinastia local, cujo título variava de cidade para cidade, em Uruk por exemplo usava-se o ‘’en’’ em Lagash “ensi”, é importante salientar que não é só a nomenclatura que varia, mas também o papel exercido por cada um, por exemplo, essas duas já citadas são anteriores ao protodinástico e remetem funções mais religiosas, em contrapartida surgirá em Ur e Kish o termo “lugal” que está muito mais voltado para funções administrativas do que as outras. Embora a origem dessa última esteja no protodinástico, notaremos adiante que essa estrutura administrativa se preservará nos impérios posteriores, ora perdendo ora ganhando autonomia. 
 Liverani usa o termo “realeza laica” (aspas nossa) para evidenciar uma certa separação entre o templo e o palácio, cada um terá sua própria autonomia, isso não significa que serão totalmente independentes um do outro, uma vez que o rei necessitará manter uma ideologia religiosa, pautada na decisão divina de torna-lo rei, portanto temos neste momento uma subordinação do palácio (rei) ao templo (deus), característica essa que se modificará nos impérios posteriores, em compensação tem-se também um papel de submissão do templo à administração estatal.
 Cada cidade Suméria tem seu deus local, e cada uma tentará sobrepor o poder de seu deus sobre as demais, marcando dessa maneira um clima de constantes hostilidades, pondo de lado, nesse sentido, possíveis tendências unificadoras, essa pluralidade de deuses não permitirá uma relação de iguais para iguais, tendo sempre uma que se ache superior à outra, nesse contexto surgirá reis mais poderosos com pretensões centralizadoras que usarão a desculpa de diminuir esses conflitos entre as cidades, colocando-as sobre seu manto protetor.
 O rei só se manterá no trono se o deus local assim permitir. Quando uma cidade ia guerrear contra outra e saia vencedora, tinha-se com isso a certeza da superioridade do seu deus e a convicção de que o monarca de fato ainda estava em conexão com o divino, mas caso ela perdesse a luta, os cidadãos entenderiam que essa derrota significava a inconexão entre o rei e o deus, esse primeiro sem dúvida não estaria acatando as ordens do segundo. Essa ideologia não se fará presente só na guerra, mas também em possíveis desastres ecológicos, epidemias e outros, esse tipo de pensamento permitia também a legitimação de usurpadores que podia estar ali tanto para punir a cidade desobediente como para pôr fim ao reinado que não andava sobre os preceitos divinos.
 Embora a propaganda real tenha seu ápice posteriormente, será no protodinástico que ela se originará, o monarca irá utiliza-la para repassar sua imagem de homem forte e justo e de sua ininterrupta conexão com o cosmo, para isso ele recorrerá à estatuas, tumbas e festas.
 É destacado também as funções da religiosidade por todo livro; na revolução neolítica ela estará ligada a fertilidade, a reprodução tanto animal como vegetal, já na revolução urbana ela será o reflexo da organização dissidente, enquanto a sociedade se baseava nas profissões especializadas perceberemos que os deuses também serão influenciados por isso, tendo agora deuses para todos os ramos possíveis.
Acádia
Liveranni, M. El Antiguo Oriente. Barcelona: Crítica,1995.
 O império acadiano foi o primeiro a realizar uma unificação de mar á mar, no entanto o autor alerta que esse pensamento de um império universal já existia no período protoimperial, o que Acádia promove é a concretização dessa ideia.
 A princípio as rotas comerciais são as mesmas do protodinástico, na primeira fase irá do Mediterrâneo á Anatólia e posteriormente de maneira muito perigosa intervirão nas rotas do golfo Pérsico, como já dito essas rotas já eram utilizadas, a grande diferença é que os reis acádios farão a esfera comercial e política se coincidirem para que dessa maneira eles cheguem diretamente as fontes de matéria prima, para isso será necessário a anexação das redes comerciais de Ebla-Elam e do golfo.
 Liverani usa a expressão “firme e monolítica” para caracterizar a ideologia imperial, afinal a unificação abrange territórios extremamente plurais em todos os aspectos, (linguístico, político, demográfico, ecológico.) Tendo a urgente necessidade de encontrar uma ideologia capaz de amenizar esses contrastes, pela primeira vez todos os deuses mesmo que indiretamente concederão ao rei acadiano o domínio sobre todo o mundo, nasce com isso a ideia de que tudo que se encontra fora desse terreno não exista dentro de um plano real.
 Evidente que as sucessivas vitorias imperiais cumpram a ideia de que os deuses, sobretudo Enlil estão abençoando Acádia; as vitórias deixam de ser apenas expressões das disputas dos deuses locais e passam a ser também sinônimos da concretização de um rei forte e vencedor, no entanto como é de se esperar nem todas as cidades “engole esse papo furado’’ sobretudo quando surge o processo de divinização dos reis que culminará em Naram-Sin.
 É importante salientar que mesmo havendo uma unificação, as cidades vão continuar conservando uma certa autonomia, o ensi local continuará desempenhando sua função, só que agora subordinado ao rei de Acádia, poucas serão as vezes em que o ensi será de origem acadiana, mas de qualquer modo haverá uma relação de subordinação entre o ensi e o rei acadiano, isso provocará conflitos internos tanto administrativos quanto religiosos, uma vez que Acádia provocará uma penetração na economia da cidade comprando terras da coroa local e anexando terrenos do templo, além da tentativa de Sargão em abrir uma brecha no sistema político-religioso, com o intuito de pôr os deuses que encabeçam o panteão sob os deuses locais.
 Sobre a relação com as zonas periféricas nesse momento há uma necessidade em controlar as suas vias de comunicação que será feita com o auxílio dos ensi locais e das bases acadianas, surge também a visão centralista de mundo, na qual a periferia é sinônimo apenas de matéria-prima e é nisso que consistirá sua queda, uma vez que não respeita os seus habitantes, explorando-os e subestimando-os. Nesse período já se trabalha com a ideia de autonomia entre palácio e templo, mesmo o templo sendo dependente politicamente do palácio.
 A administração também passará por mudanças, por exemplo as inscrições reais e os textos administrativos deixaram de estar em sumério para estarem em acádio, ocorrerá também a diversidade do uso e das tradições jurídicas das terras. Em suma o advento da primeira unificação trouxe consigo mudanças comercias (o império agora vai diretamente as fontes), renovações na ideologia imperial e administrativa, além de permitir que as cidades continuassem a usufruir de sua autonomia. 
Leick, G. Mesopotâmia. A invenção da cidade. Rio de Janeiro: imago,2003.
 Não bastasse ser o primeiro império unificado, seria também o mais bem-sucedido, tao prestigiado que os reis babilônicos usariam o título de “rei de Acádia”.
 Segundo a autora, no período acadiano surgirá uma nova prática política que consisteem perpetuar a memória do indivíduo e o seu elevado status, isso se dava por meio da inscrição do nome do rei num vaso de alabastro oferecido ao templo, haveria também uma outra prática originária do protodinástico, mas potencializada em Akkad, eram os registros reais ritualizados como espetáculo, uma espécie de “desfile da vitória” na qual os textos eram lidos em voz alta, numa tentativa de fazerem com que a população soubessem dos bons atos de seu rei, os escribas cumpriam a função de ideólogos que desenvolvia argumentos para contra-atacar a oposição resistente ao controle central. Portanto não há dúvidas de que havendo uma mudança política (unificação) também deveria haver uma mudança ideológica.
 O estado acadiano foi a primeira entidade supra regional do antigo Oriente próximo, o primeiro a dinamizar a administração pública e apresentar uma realeza carismática, para a autora uma das grandes transformações deste período teria sido a fundação de Acádia como capital do império.
 A utilização da arte/literatura como propaganda política não era novidade, o grande diferencial será o estilo acadiano, nada sutil (como a cultura uruquiana) pelo contrário, a sua arte será caracterizada pela sua grandiosidade e pela diferença de tamanho em torno da figura real que tinha como função fazer com que o rei se tornasse a figura principal de estela, deixando de lado a imagem do deus, a propaganda também se responsabilizará em intitular o rei de “rei universal”, “ rei do mar inferior ao mar superior”.
 Com a morte de Sargão, as cidades ao sul veem a oportunidade de sua independência, nesse momento teremos várias revoltas, ficando a cargo dos sucessores reais abafa-las, Naram-Sin usa a expressão “todos os quatro cantos do mundo rebelaram-se contra mim” de maneira bem dramática ele sintetiza a generalização das revoltas, quando ele consegue acalma-las ele passará a utilizar títulos com teor divino, culminando assim o processo de divinização real “...o rei tinha se transferido oficialmente para uma categoria superior de ser – a de deidade – e declarou-se o canal de comunicação entre os grandes deuses do país e seus súditos...” (Leick,2003:122)
Yoffe, N. Mitos do estado arcaico. São Paulo: Edusp, 2013.
 O Yoffe compartilha a ideia de Leick de que a construção de Acádia foi a grande transformação do período, uma vez que ela simbolizava uma nova estrutura política que visava a união; era uma tentativa bem arquitetada de fazer com que todas as cidades entendessem que agora participavam de “um sistema político mais elevado”, ele não pretendia uma ideologia de dominação (como irá acontecer com os impérios que o sucederão) , mas sim uma ideologia embalsada na união, ele mandará sua filha ser sacerdotisa de uma deusa em Ur, na tentativa de estreitar os laços com as cidades do sul, outro exemplo que reafirme esse posicionamento defendido pelo Yoffe, é o fato de que mesmo o rei nomeasse seus funcionários, os governantes das cidades continuavam em sua maioria sendo locais, um outro exemplo de seu poder carismático se dá em tabuletas que dizem que ele muitas vezes entregava salmão como ração para alegrar seus súditos, não há dúvidas de que tudo que ele pôde fazer para ser bem aceito, ele fez. No entanto os sinais de instabilidade estavam presentes desde o início da unificação e em cada transição de reinado haverá rebeliões nas cidades que almejam a sua independência.
Terceira Dinastia de Ur
Liveranni, M. El Antiguo Oriente. Barcelona: Crítica,1995
 O império de Ur lll dará continuidade as aspirações universalistas e expansionistas, só que diferente do que aconteceu na unificação acadiana, as cidades de Ur perderão sua autonomia, elas continuarão tendo seus governantes locais, só que esse título não representa mais que ele seja um sucessor da dinastia, mas sim um funcionário de carreira designado pelo rei.
 Ur-Nammu e seus sucessores não herdarão de Acádia apenas a ideia de unificação, mas também a deificação real, a única alteração feita é a dissociação do caráter heroico do rei acadiano por um rei com caráter administrativo e de culto. Eles tentarão tirar o poder dos deuses locais para reter em suas mãos toda organização produtiva e redistributiva, tudo isso faz parte do plano de centralização, só que Ur-Nammu diferente de Sargão não se preocupará tanto com sua imagem de ‘’bom moço’’, a substituição que ele fez do administrador local pelo do palácio, trará consequências dolorosas, no entanto os registros históricos não contribuem muito para essa visão, uma vez que os reis de Ur lll tentaram passar a imagem de uma Mesopotâmia unida e pacifica, cabe aqui fazer um paralelo com o historiador Marc Bloch que já previa essa possibilidade de documentos feitos com o intuito de deixar para a posterioridade a imagem de um império forte e protetor.
 O império de Ur lll se dedicará a fazer grandes obras, entre ela a abertura de novas rotas de comércio, várias construções pelo império, além é claro dos códigos de leis que tinham como principal objetivo organizar o modo de administrar a justiça de uma forma sistemática e estável, percebe-se nos textos encontrados uma ânsia por reformas, o rei fixará medidas de capacidades e peso, estabelecerá indenizações e se declarará o estabelecedor da justiça.
 Também fará parte da propaganda política hinos que exaltem os dotes reais de escriba, administrador e juiz, virtudes essas extremamente necessárias para reafirmar o slogan imperial, que pretendia passar aos súditos a ideia de um monarca unificador, pacífico, justo e sobretudo de defensor do país, uma vez que o inimigo não estava dentro (entre as cidades mesopotâmias) mas fora do império, especificamente ao norte, onde habitavam os comedores de carne crua; os bárbaros, os quais possuíam rotas comerciais ambicionadas por Ur.
 Será cinquenta anos de administração homogênea jamais vista na Mesopotâmia, consolida-se assim a ideia de que a separação política não deve ser feita entre sumérios e semitas, mas sim, entre esse conjunto unificado e os bárbaros ao redor.
 Liverani afirma que esse lll dinástico não apresenta nenhuma novidade, exceto uma ânsia por uma racionalização e unificação da gestão administrativa e econômica, essa percepção se dá pela quantidade de textos administrativos encontrados nesse período, esse é um dos grandes diferenciais entre Ur e o império acadiano, ambos tinham capacidade de centralização e subordinação, mas apenas Ur gestionará diretamente os recursos de todo o império, não se trabalha mais com a ideia de cidades tributárias, elas se transformarão em simples províncias apoiado numa burocracia homogênea que se conservará unida graças ao intenso trânsito dos mensageiros reais.
 No reinado de Ibin-Sin a dependência que as cidades tinham do império vão se deteriorando aos poucos, tendo várias causas desde a invasão dos bárbaros, até crises de produção por conta das calamidades naturais, o rei não será capaz de reverter a situação, desse modo perceberemos uma sequência de cidades que declararão independência.
Leick, G. Mesopotâmia. A invenção da cidade. Rio de Janeiro: imago,2003.
 Diferente das duas dinastias anteriores, Ur lll para Leick não era apenas uma entidade administrativamente organizada, mas sim um estado centralizado que dominava toda a Suméria e Acádia, desde o golfo Pérsico até Jezirah meridional, devido a sua concentração de povos se torna extremamente heterogênea e só se mantém coesa ao deixar de lado o poderio militar e voltar-se principalmente para o controle burocrático, essa sem dúvida é um marco divisório entre a administração acadiana e a de Ur.
 Todo esse conhecimento que temos acerca de Ur é devido as inúmeras quantidades de plaquetas escavadas, as quais registram todo tipo de transação desde a compra de uma única ovelha até as mais impostantes, eles registravam a entrada e saída de produto, a mão-de-obra contratada, o trabalho realizado, as rações pagas, entre outros.
 A autora afirma que o estado tinha o monopólioda produção de alguns artigos, sobretudo os têxteis, uma vez que em Ur o vestuário assinalava o status do indivíduo. Quando Ur-Nammu fixa as várias medidas-padrão o objetivo dele era potencializar a produtividade, isso aconteceu porque antes cada cidade tinha seu padrão de peso e medida, com essa fixação ele consegue aumentar o rendimento e simplificar a economia através dessa tabela que seria consultada por toda cidade.
 Percebe-se também uma modificação na forma de se fazer a propaganda real, enquanto em Acádia utilizava-se principalmente as composições literárias para glorificar os atos do rei, os hinos de Ur mostrarão o respeito que ele tem pelas tradições e pelos costumes religiosos, além do que com a criação do calendário passou-se a dar o nome dos anos às vitorias e conquistas do rei ( “Ano em que o templo xy foi inaugurado’’ ). Isso sem dúvida evidencia a ênfase que é dada ao papel religioso do rei – quase ausente no império acadiano – uma reinterpretação do sacerdócio com a finalidade de tonificar suas funções religiosas, além é claro de controla-la tomando para si propriedades do templo.
 A imagem do rei como mediador do supremo já havia se tornado uma tradição e o culto acadiano da realeza foi revivido tendo como consequência o encalço indispensável para implementar as radicais mudanças políticas e econômicas.
 A autora finaliza dizendo que o antídoto de Ur acabou sendo seu veneno; seu êxito em controlar um território tão amplo foi também a causa de sua queda, a complexidade da sua burocracia prejudicava a rápida tomada de decisões; a superprodução esgota o solo de tal forma que a produtividade cai drasticamente, a tributação se tornava opressora e a população se revoltava desestabilizando assim o equilíbrio político. 
 Não bastasse tudo isso, os reis de Ur também teriam que enfrentar a invasão dos recém-chegados, que de bárbaros não possuíam nada, eram grupos tribalmente organizados, que nada tinham de selvagens comedores de carne crua, como eram chamados pelos mesopotâmios, assim que se instalavam nas cidades de Ur, iam buscar estabelecer uma base sólida entre a população local, recebendo aos poucos poderes de influência que seguirá por hostilidades por pastagens, terras aráveis e predomínio político, o rei Shu-Sim numa tentativa de amenizar o problema construirá uma muralha de 270km para impedir a imigração, a ideia foi boa, mas não o suficiente para resolver o problema, não tardou muito e Ur lll foi saqueada e queimada e os sobreviventes morreram de fome e sede, pelo menos é isso que o poema sumério de 520 versos diz.
Yoffe, N. Mitos do estado arcaico. São Paulo: Edusp, 2013.
 Durante o reinado de Ibin-Sin a administração começa entrar em colapso (por motivos que já vimos anteriormente) e várias cidades vão declarar sua independência, destaca-se aqui o governador Ishbi-Erra de Mari que anexou a cidade de Isin que posteriormente dominará parte da região por se considerarem herdeiras de Ur, as cidades recém independentes negarão o fornecimento de impostos à capital que levará fome, e a burocracia estéril se dissolverá, não bastasse tudo isso os inimigos de Ur realizarão uma expedição que a destruirá. 
 
Paleobabilônico
Liveranni, M. El Antiguo Oriente. Barcelona: Crítica,1995.
 Quando Hamurabi sobe ao trono da Babilônia e consegue submeter Isin, Larsa e Uruk ele se torna o protagonista absoluto da Mesopotâmia, mas é importante salientar que diferente das outras unificações essa terá um curto período e não dominará os reinos dos países altos.
 O rei terá que lutar contra uma economia privada que traz consigo vários problemas sociais, tendo agora a função que antes era destinado aos juízes do templo, essa talvez seja uma das maiores mudanças no império paleobabilônica, dar ao rei uma imagem de juiz justo e bondoso.
 O seu famoso código servirá para potencializar seu slogan imperial de rei que se importa com o bem-estar de seus súditos, afirmando a ideia de um grande promovedor da justiça em todo o império, além é claro de ser um meio que ajudará a potencializar o poder do palácio.
 Liverani ressalta que o período paleobabilônico não teve uma originalidade criativa, a grande mudança se dá no âmbito religioso na qual haverá uma tentativa de agradar todas as cidades-estados, encontrando uma característica presente no rei e em cada deus local, teremos também uma mudança no panteão, uma vez que o deus Marduk, deus local da Babilônia, tomará o lugar do deus Enlil.
 Hamurabi semelhante a Sargão fará uma política visando a imagem de um rei preocupado com seus súditos, ele concederá várias parcelas de terra aos menos favorecidos que lhe serão extremamente gratos, dessa maneira ele conseguirá frear o empobrecimento e a escravidão, além de ter uma mão-de-obra disposta a trabalhar no campo, que vinha sofredo um grande êxodo. Sobre os problemas agrícolas ele terá as mesmas atitudes que os seus sucessores, sem dúvida uma das grandes características desse império é a ativa intervenção estatal aos problemas sociais, concedendo anistias à dividas e liberando escravos.
 Embora a estratificação social já se fizesse presente desde a revolução urbana com a fixação das grandes organizações, será no império paleobabilônico que se encontrará nomenclaturas diferenciando as classes sócias: os awilum representando os homens livres e independentes, os muskenum que também são livres, no entanto são dependentes do rei, e por último os wardum que serão os escravos.
 Não sabemos como os hititas conquistaram a Babilônia, os documentos apenas nos revelam a demolição e a reconstrução de obras defensivas, com isso entendemos que a unificação passava por problemas, o que não é de se admirar já que a Babilônia submeteu ao seu poder cidades com grande poder econômico que obviamente não aceitariam por muito tempo a sua falta de independência, e para complicar ainda mais a situação, as cidades do sul declararão sua autonomia tão desejada e barrariam o comercio babilônico no golfo Pérsico.
Leick, G. Mesopotâmia. A invenção da cidade. Rio de Janeiro: imago,2003.
 O governo central babilônico tentava manter o controle direto das cidades – tal como Ur - em Sippar por exemplo, ele instaurará uma guarnição e as principais instituições serão submetidos a autoridade real, percebe-se também uma grande circulação de correspondência que tinha como objetivo manter o rei informado, em contrapartida os documentos revelam que o Hamurabi também se preocupava em beneficiar as cidades sobre seu domínio, construindo instalações de defesa, canais, templos, uma outra novidade que não sabemos se os impérios anteriores também o faziam é a parceria entre a autoridade local e o estado para dividiam os custos das manutenções das instalações feitas. 
 Durante o período em que o Hamurabi governou ele manteve os conselhos de anciões locais presidido por um prefeito, só que o seu sucessor mudará o corpo governamental em Sippar, que será constituído pelo representante do porto local e por um funcionário nomeado pelo rei, notamos aqui uma importante mudança administrativa, marcada por uma grande fiscalização que estava sob o comando direto do rei.
 Uma outra grande alteração será feita no âmbito religioso, além do vínculo característico que o rei tinha com cada deus local e da ascensão de Marduk ao panteão, notaremos também uma tentativa de controlar as atividades dos templos que se concretiza quando os funcionários do templo deixam de ser chamados “servos do deus x” para serem chamados de “servos do rei”.
 Será também nesse período que teremos conhecimentos das naditu que eram sacerdotisas que viviam no gagum, todas eram descendentes de famílias ricas e não dependiam das ofertas dos templos como os outros funcionários, pelo contrário, elas tiravam suas rendas das suas propriedades privadas, participando ativamente da economia da cidade, as naditu terão características diferentes de acordo com as cidades que elas vivem, na Babilônia por exemplo elas eramlivres para se casar já em Sippar, não. Embora suas principais funções fossem pro âmbito religioso, resolvemos destaca-la pela sua atuação na economia do império, afinal mulheres e religião já estavam em sintonia nos impérios anteriores, não tínhamos visto até então a participação feminina em outro âmbito que não fosse o do templo “... o envolvimento ativo das naditus nos assuntos econômicos da cidade está bem documentada. Fica-se com a impressão de as naditus eram mulheres de negócios astutas e empreendedoras...” (Leick, 2003: 203)
Yoffe, N. Mitos do estado arcaico. São Paulo: Edusp, 2013.
 O Yoffe adverte o equívoco pensamento de que o código de Hamurabi tenha sido o primeiro conjunto de leis legais na Mesopotâmia, como já vimos Ur-Nammu também as utilizarão, além de outros exemplos que ele cita no livro. A estela na qual se encontra as leis percebemos o desenho em relevo do rei Hamurabi venerando o patrono da justiça, percebemos com isso uma inversão se compararmos com as estelas acadianas, as quais se quer tinham a imagem de algum deus, esse contexto paleobabilônico trabalha com a ideia de um soberano submisso aos deuses.
 A partir dos textos na estela notamos o caráter ideológico que elas carregam, posicionando o Hamurabi como o implantador da igualdade e destruidor dos perversos, há também citações que evidenciam a sua preocupação com todas as cidades que estão sob seu comando. Enquanto os outros éditos já citados visavam reestabelecer o equilíbrio econômico da terra o do Hamurabi terá objetivos mais amplos como o de retratar a sua dominação como algo justo e positivo, querendo dessa maneira conquistar os corações das cidades anteriormente autônomas.
 Ao longo do governo os reis babilônios tentarão frear o empobrecimento das classes menos favorecidas, além das anistias a coroa se tornará uma instituição de créditos, sabemos que as grandes organizações desde o protodinástico já praticavam empréstimos, mas desde o terceiro dinástico de Ur as empresas familiares passam a ter quase o monopólio nesse setor, o que levará a grande quantidade de escravos por dívidas, portanto essa iniciativa do palácio visa diminuir os excessos dessas empresas privadas.
 A sua política não se resume ao código e a essas concessões de crédito, ele irá promover grandes obras pelas cidades, inclusive em momentos de crise o que acaba tendo resultados negativos, uma vez que para sustentar essas obras ele teve que explorar intensamente as matérias-primas e a mão-de-obra. O estado regional imposto por ele teve conflitos desde o começo, a sua administração que se sobrepunha a autoridade local procurando sempre enriquecer a distante capital deixava os súditos enfurecidos, o Yoffe acredita que se o sistema político tivesse tentado satisfazer as percas e não explorasse ainda mais, possivelmente ele teria sobrevivido mais tempo.
 Os sucessores de Hamurabi não conseguirão reprimir a desintegração política o que acabará fortalecendo as cidades com ânsia de autonomia, principalmente as do Sul, diferente do império que a antecedeu ela não cairá pelas pressões externas, mas sim pelo fracasso administrativo e ideológico que não foi capaz de legitimar sua unificação.
 
Questão 3 - O debate da economia na Mesopotâmia envolve conceitos marxistas e da antropologia econômica. De que forma Liverani articula as perspectiva primitivistas, formalistas e marxistas para compreender e interpretar as relações socioeconômicas na Mesopotâmia
 Antes de discutir o posicionamento do Liverani acerca da economia na Mesopotâmia, acho interessante analisarmos rapidamente as teórias que a fomentam. 
*** No quarto capítulo do livro “A grande transformação” o Polanyi se dedica a criticar o pensamento de alguns teóricos, entre eles o de Adam Smith que afirmava a possibilidade do ser humano ter uma natureza propensa à barganha, para o autor essa ideia é equivocada, pois embora as sociedades anteriores tivessem um sistema de mercado, elas não eram reguladas e controladas por ele “...é necessário deixar de lado as superstições do século xix e examinar cuidadosamente a natureza e a origem do mercado...” (p71)
 A economia no AOP era motivada, sobretudo pela subsistência e não pelo lucro propagada pelo liberalismo, ele não nega a existência de um mercado o que não havia era o controle do mercado sobre o estado, infere-se com isso de que não existia uma autorregulação dos preços, pelo contrário ele era regulado politicamente, socialmente e culturalmente, as principais formas de integração nesse período eram a reciprocidade, a redistribuição e o intercambio.
 As cidades na Mesopotâmia desse período precisavam importar materiais que não eram produzidos em sua região isso implica numa criação de mercado/circuito comercial com o estrangeiro, contudo esse mercado não pode ser considerado um lugar de troca comercial que empregasse a oferta e demanda, para embalsar o seu pensamento ele afirmará que não há um único tablete encontrado que evidencie transações comerciais ou variações significativas nos preços.
 Ele usará como exemplo os mercadores assírios do Karum de Kaneche, que não viviam dos lucros de suas compras e vendas, mas sim das comissões e terras que recebiam do estado, com isso percebemos que o mercador não dependia dos preços de seus produtos, ele ainda destaca que esse comércio administrado, diferente do comércio privado não colocava o comerciante em risco, uma vez que o estado não permitia que a troca se realizassem com pessoas que não passassem segurança.
*** Os formalistas criticam o pensamento polanyiano, pare eles o palácio usava os mercadores do Karum como agentes, evitando dessa maneira uma administração direta do comércio, forçando os comerciantes a correrem os riscos do mercado, portanto se um indivíduo se propõe a isso evidentemente ele terá a possibilidade de acumular riquezas, os formalistas expõem que as flutuações de preços já se faziam presentes, pelo menos de acordo com inscrições encontradas na antiga babilônia.
 Para comprovar essas ideias eles recorrem a achados arqueológicos tais como cartas que nas quais os mercadores assírios pagavam impostos sobre as mercadorias compradas em troca de segurança; a variação de 20% nos preços do estanho evidencia a presença de uma oferta e demanda; a documentos que retratam a existência de emprestadores privados que recebiam juros, todos esses exemplos e outros mais engrossam a tese formalista.
***Já a corrente substantivista se incumbirá de ampliar a teoria polanyiana uma vez que a arqueologia está constantemente redesenhando o pensamento acerca do mundo mesopotâmio, eles concordarão que de fato havia uma variação nos preços, o que não significa um mercado criador de preços, para sustentar essa tese eles atacarão as interpretações do Silver, grande teórico formalista, à respeito das fontes escavadas, para eles os formalistas não provaram que os produtos ofertados dependam dos preços das mercadorias ou qua a vida dos mercadores dependam do lucro obtido no comércio.
 Para eles o Polanyi nunca afirmou a inexistência de um mercado, o que não havia era uma economia baseada na oferta e demanda, a economia na baixa mesopotâmia a partir do quarto milênio até 2.500 a.C. era a do oikos, nela a sociedade é capaz de produzir tudo o que necessita, somente pouquíssimas coisas viam de fora, esse tipo de economia ao longo do tempo foi sendo substituída pelas formas tributárias, não sendo mais autossustentáveis, uma vez que as necessidades não eram todas satisfeitas dentro da comunidade, mas sim deixado a cargo de outros.
*** Liverani tentará recompor a ideia de uma Mesopotâmia com economia de mercado sem rejeitar os polanyianos e sem aceitar toda a tese formalista, para o historiador não há dúvidas de que o estado por meio de sua política influenciasse o andamento do mercado, em contrapartida ele também afirmará a existência de uma economia comercial aparte dos intercâmbios entre estados e instituições. 
 Essas perspectivasjá conceituadas acima se baseiam em interpretações de fontes arqueológicas que num primeiro momento parecem, se contradizer, no entanto o Liverani consegue estabelecer um pensamento que acate as duas interpretações, fazendo com que seja possível a existência de um mercado administrado e um privado ao mesmo tempo.
 Para compreendermos melhor esse conceito, imaginemos uma cidade muito bem organizada, pautada em uma burocracia invejável , essa cidade era conhecida pela qualidade e beleza de seus anéis feitos de lápis-lazúli, um certo dia os administradores da cidade resolvem construir um templo e para isso será necessário uma grande quantidade de madeira , quase inexistente na região, frente a esse problema ele resolve recorrer ao funcionário real, responsável pelo comércio externo, ao conversarem fica determinado e registrado que o comerciante sai da cidade com cem anéis de lápis-lazuli e deverá retornar após um ano com mil troncos de madeira, dito e feito, concretizando dessa maneira o comércio administrado , todos os documentos reais referentes a essa transação será utilizados posteriormente para comprovar que na Mesopotâmia o estado comandava diretamente o comércio e esse por sua vez não oferecia superávit nem para o funcionário nem para o estado.
 Acontece que esse funcionário palatino herdou de seu pai essa profissão, que herdou de seu tio e assim sucessivamente, portanto infere-se que ele melhor do que ninguém dominasse muito bem as rotas comerciais e as particularidades de cada cidade, com todo esse conhecimento ele optará por fazer um comércio privado, indo na cidade A e trocando os cem anéis por cento e dez brincos de ouro, logo depois ele passará na cidade B e trocará esses cento e dez brincos por quinhentos camelos, ao chegar na cidade C, que é produtora de madeira, cujo principal meio de transporte frente ao denso deserto é esse animal, ficará muito mais fácil para ele trocar os seus quinhentos camelos por mil e quinhentos troncos de cedro, com essa curta ilustração percebemos que a perspicácia desse funcionário permite a veracidade de um comercio privado e serão os documentos referentes a esses tipos de transações que engrossarão as ideias formalistas.

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