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BIODEGRADAÇÃO DO POLIETILENO Caroline da Costa Pagani, Tássia Gabriela Pereira Montalvão, Thássia Félix de Almeida Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Brasil. Engenharia Bioquímica 1 INTRODUÇÃO A habilidade dos microrganismos de usarem o polietileno como fonte de carbono foi descoberta recentemente, e os microrganismos descobertos que tem a capacidade de crescer no polietileno estão sendo isolados e seus efeitos de mudanças nas propriedades do material estão sendo estudados. Mesmo a biodegradação e a biodeterioração do polietileno serem demonstradas em várias pesquisas, as enzimas envolvidas e seus mecanismos associados ainda não são tão claros e compreendidos totalmente. O polietileno é conhecido por ser um polímero resistente a degradação. É quimicamente e biologicamente inerte e tem sido utilizado para fabricação de vários produto plásticos e até na utilização de estruturas em construções. Do ponto de vista ecológico, o acúmulo do resíduo desse plástico no meio ambiente é uma crescente preocupação, pois a taxa de fabricação de plásticos ja ultrapassa 25 milhões de toneladas por ano. O estudo dos mecanismos de biodegradação do polietileno não é realizado apenas pelo impacto ecológico causado, mas também pois o polietileno se transformou num material usado na construção de estruturas chave para muitas indústrias, fazendo ser necessário o entendimento da sua degradação e deterioração para a estabilidade e integridade da construção. A degradação do polietileno pode ser dividida de em: Degradação abiótica: É a deterioração causada por fatores ambientais como a temperatura, radiação UV; Degradação biótica: É a biodegradação causada por ação de microrganismos que modificam e consomem o polímero levando a mudanças nas suas propriedades. Mesmo que o dano seja classificado por um desses 2 tipos, na natureza os dois ocorrem cooperativamente. A utilização desse polímero com microrganismos é fisicamente limitado pela sua insolubilidade em água e alto peso molecular. Mesmo assim, tem evidências suficientes que provam a biodegradação, mesmo ela sendo extremamente lenta. Ainda falta conhecimento do caminho metabólico completo envolvido no processo e na estrutura e identificação de todas as enzimas envolvidas. Poucos avanços foram feitos e até as conclusões feitas precisam ser verificadas. 2 MICRORGANISMOS ENVOLVIDOS NA DEGRADAÇÃO DO POLIETILENO Como a biodegradação do polietileno é complexa e não é totalmente compreendida. Foram feitos dois possíveis mecanismos. A primeira abordagem, estuda a performance usando cepas puras - que seriam uma linhagem de microrganismos produzida em laboratório, tipo clones, com a finalidade de estudos - capazes de degradar o plástico, sua vantagem é ser um caminho conveniente para investigar o mecanismo metabólico ou descobrir os efeitos de diferentes condições ambientais da degradação, porém ignora a possibilidade do polietileno se biodegradar de maneira cooperativa entre diferentes espécies. A segunda abordagem, é usar ambientes complexos e comunidades microbianas aplicadas a diferentes microambientes. Água marinha, solo ou compostagem são exemplos de ambientes onde o polietileno já foi testado. A estrutura de comunidade microbiana isolada na superfície do polietileno durante o experimento também pode ser influenciada pelo tipo de polímero usado como substrato, pois existem vários tipos de polietileno. É importante destacar que o polietileno também é encontrado misturado com aditivos como oxidantes ou amido, os dois tem sido aplicados para melhor a biodegradabilidade do polímero. Atualmente os microrganismos que conseguem degradar o polietileno são limitados a 17 gêneros de bactérias e 9 gêneros de fungos. Esses números tendem a aumentar com as novas técnicas mais sensíveis de isolamento. Exemplos de bactérias: Acinetobacter baumannii spp, Microbacterium paraoxydans e Bacillus cereus. Exemplos de fungos: Apergillus niger, Penicillium funiculosum e Verticillium lecanii. 3 EFEITOS DA ATIVIDADE MICROBIANA NO POLIETILENO Os microrganismos, bactérias e fungos, capazes de colonizar a superfície do polietileno causam diversos efeitos nas propriedades do material e 7 diferentes características de mudança foram observadas em polímeros depois do ataque microbiano explicadas a seguir. 3.1 Grupos Funcionais A acumulação ou consumo de grupos funcionais depende do equilíbrio das taxas de oxidação e degradação decorrente da natureza dos microrganismos presentes. A incubação com microrganismos gera alterações na concentração dos grupos funcionais da superfície do polietileno. Em geral, as concentrações dos grupos diminuem e o número de ligações duplas aumentam quando a atividade biológica é detectada. Os grupos oxidados modulam a ligação microbiana aumentando a hidrofilicidade da superfície, assim, esses grupos são facilmente degradados pelos microrganismos. O que implica que a degradação do polietileno será reforçada se uma superfície mais oxidada é utilizada como substrato. 3.2 Hidrofóbico/Hidrofílicos A hidrofobia é fundamental para determinar a extensão da colonização sobre o substrato polimérico, enquanto que a hidrofilia facilita a colonização dos microrganismos. A hidrofobicidade / hidrofilicidade de uma superfície depende da natureza, concentração e exposição dos grupos funcionais presentes no material. Se a extensão do processo de oxidação devido à ação de fatores abióticos for superior à extensão de consumo de grupos funcionais, então será observado um aumento na hidrofilicidade. Por outro lado, se a taxa de consumo de grupos funcionais for superior à taxa de oxidação, então será observado um aumento na hidrofobicidade. 3.3 Cristalinidade O polietileno é um polímero semicristalino constituído por microestruturas cristalinas que estão rodeadas por regiões amorfas. Por ser mais acessível para os microrganismos, as regiões amorfas são consumidas primeiro indicando. Contudo, não há suficiente pesquisa até o momento para afirmar definitivamente o que acontece depois que as regiões amorfas são consumidas. 3.4 Distribuição de peso molecular Um efeito comum observado após ataque microbiano, é um aumento no peso molecular médio como resultado do consumo das cadeias de peso molecular mais baixo. Alguns autores concluíram que o efeito de fatores abióticos também interfere no peso molecular. Isso pode ser determinado através da técnica de cromatografia a alta temperatura e do uso de medidas reológicas que se correlacionam indiretamente com a distribuição do peso. 3.5 Topografia de Superfície A colonização de superfícies de polietileno por microrganismos gera alterações na topografia de superfície. O desenvolvimento de colônias de diferentes microrganismos na superfície do polietileno e a penetração de estruturas de hifas têm sido relatados como características comuns após o ataque microbiano. 3.6 Propriedades Mecânicas As alterações induzidas pela oxidação na cristalinidade e no peso molecular médio provocam a modificação das propriedades mecânicas. Os efeitos da atividade biológica sobre amostras de polietileno têm sido estudados principalmente em filmes finos. As alterações nas propriedades mecânicas devido à atividade microbiana ainda são uma área ativa ou pesquisa. 3.7 Consumo do Polietileno Embora o consumo de um polímero por microrganismos forneça evidência de sua assimilação, a lentidão desse processo pode torná-lo muito difícil de detectar. No entanto, alguns estudos têm relatado uma redução no peso das amostras determinadas quer por medidas gravimétricas quer pelaevolução do CO2 a partir das amostras. Na técnica de evolução do CO2 assume-se que o polietileno utilizado pelos microrganismos como fonte de carbono será finalmente convertido em CO2 durante a respiração e pode, por conseguinte, ser utilizado como medida indireta da quantidade de polietileno que tem sido utilizada pelos microrganismos. Uma vez que a evolução do CO2 do sistema pode ser monitorizada continuamente, permite determinar não só o consumo total do polímero, mas também a taxa de degradação. É importante notar que a taxa de extensão do consumo de polímero pode ser extensivamente influenciada por fatores abióticos que promovem a oxidação. 4 MECANISMO DA BIODEGRADAÇÃO Em polímeros, o processo de biodegradação inicia, em geral, através do ataque microbiano a sua superfície e de sua colonização, na forma de biofilme. O biofilme é uma mistura complexa de microrganismos, água e substâncias poliméricas extracelulares, que podem aderir ao filme polimérico por interações de Van der Waals ou interfaciais. Esta adesão do biofilme à superfície polimérica é um meio de sobrevivência utilizado pelos microrganismos quando as condições ambientais são pobres. A formação de biofilmes é um pré-requisito para a corrosão e/ou a deterioração dos materiais, também denominado de biodeterioração. A interação matéria orgânica/superfície leva a efeitos: bioquímico (no qual as substâncias produzidas pelos microrganismos agem sobre o polímero) e enzimático (no qual as enzimas atacam as cadeias do polímero, provocando quebras oxidativas na matriz polimérica). Teoricamente, o polietileno pode ser usado como fonte de carbono por microrganismos, contanto seu alto peso molecular limita seu uso como substrato para reações enzimáticas ocorrerem. Do ponto de vista do processo químico/bioquímico envolvido existem duas reações chave, a primeira é a redução do seu peso molecular e a segunda a partir da oxidação das moléculas. A redução do peso molecular é necessária para facilitar o transporte das moléculas pelas células das membranas e porque o sistema enzimático presente nos microrganismos só são capazes de atacar certa massa molecular, normalmente entre 10 a 50 carbonos. Uma vez que o tamanho da molécula é reduzido, a oxidação é feita para transformar o hidrocarboneto em ácido carboxílico que pode ser metabolizado por β-oxidação e pelo ciclo de Krebs, os ácidos formados é que podem causar deterioração do material. A figura 1 representa o mecanismo proposto da biodegradação do polietileno. 5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS O efeito da degradação microbiana sobre a morfologia do polietileno é apenas parcialmente estudado, sabe-se que as regiões amorfas são mais facilmente degradadas e que pequenos cristais são utilizados por microorganismos. Pesquisas realizadas na biodegradação de polietileno provaram que a biodegradação deste material, está ocorrendo na natureza na presença de fatores abióticos e outros agentes oxidantes. Fatores como cristalinidade, grau de oxidação e distribuição do peso molecular podem ter um impacto no grau e na taxa de utilização do polímero por microorganismos. Contudo, estas conclusões são limitadas e são necessárias mais evidências para identificar os mecanismos completos para a degradação do polietileno. O isolamento e a identificação das enzimas capazes de oxidar e quebrar as cadeias de polietileno bem como o tamanho das cadeias de polietileno que são capazes de utilizar como substrato é um objetivo primário para elucidar os mecanismos de degradação do polietileno. É possível que, em ecossistemas reais, a biodegradação deste polímero seja um processo cooperativo, assim seria importante estabelecer o papel das interações ecológicas entre os microorganismos no processo de degradação do polietileno. Figura 1- Mecanismo proposto da biodegradação do polietileno. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JUAN-MANUEL, R. F. Microbial degradation and deterioration of polyethylene – A review. Chemical and Biochemical Engineering, University of Western Ontario, 1151 Richmond Street, London, Ontario, Canada. FLEMMING, H. C. Relevance of biofilms for the biodeterioration of surfaces of polymeric materials. Polymer Degradation Stability, Essex, v.59, p. 309-15, 1998. MADDEVER, W. J.; CHAPMAN, G.M. Making plastics biodegradable using modified starch additions, Proceedings of Symposium on Degradable Plastics. The Society of the plastics Industry Inc., Washington, p. 41-44, 1987.
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