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Gestão de Resíduos na Produção de Frangos de Corte

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES. 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE RESÍDUOS RESULTANTES DA 
PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARINGÁ/PR, 2006 
 
CÉSAR BADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE RESÍDUOS RESULTANTES DA 
PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada como requisito parcial para 
obtenção do Título de Mestre ao Programa de Pós-
Graduação – Mestrado em Geografia – Área de 
Concentração: Análise Regional e Ambiental, do 
Departamento de Geografia do Centro de Ciências 
Humanas, Letras e Artes da Universidade Estadual 
de Maringá/PR. 
 
 ORIENTADOR: Profº Drº. GENEROSO DE ANGELIS NETO 
 
 
MARINGÁ/PR, 2006 
 
 
II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta dissertação à Sandra, minha 
esposa, pelo carinho e apoio no decorrer 
desta caminhada. 
Ao Matheus por aceitar a minha ausência, 
mesmo que perto. 
 
 
 
III
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Ao professor Generoso De Angelis Neto, meu orientador, 
por aceitar o desafio da interdisciplinaridade entre as 
ciências e por trazer considerações relevantes ao 
andamento desta pesquisa. Acima de tudo quero 
agradecer a amizade, fundamental para o andamento do 
trabalho. 
A Gabrieli e ao Leandro pela disponibilidade, agilidade e 
pelo suporte técnico. 
A Sandra, pela cumplicidade e ainda, por saber que 
posso contar com você. 
 
 
IV
RESUMO 
 
 
Neste trabalho procura-se analisar a gestão de resíduos sólidos em propriedades 
rurais decorrentes do sistema de produção intensivo de frangos de corte da região 
Nordeste do Paraná, abordando os principais resíduos gerados, quantificando-os e 
descrevendo seu potencial poluidor. Consideram-se, ainda, as legislações 
ambientais, impactos efetivos, potencialidades e deficiências do sistema de 
gerenciamento destes resíduos, apresentando alternativas para minimizar os 
impactos ambientais decorrentes deste sistema de produção, dentro de um enfoque 
geográfico. 
 
Palavras-Chave: Gestão de resíduos, resíduos da avicultura, propriedades rurais, 
impacto ambiental. 
 
 
 
 
V
ABSTRACT 
 
 
This paper tries to analize the solid residues management in rural counties derived 
from the intensive poultry prodution system in the northern Parana state area, 
approaching the main residues generated, qualifing them and describing its pluting 
potencial. The environment legislation effective impacts, potentialities and residues 
management system’s deficiency are also considered presenting alternatives to 
minimize the environmental impacts derived from this prodution system in a 
geographic view. 
 
Key–words: residues management, residues of poultry, rural properties, 
environmental impacts. 
 
 
 
 
VI
SUMÁRIO 
 
 
DEDICATÓRIA ........................................................................................................... II 
 
AGRADECIMENTOS ................................................................................................ III 
 
RESUMO .................................................................................................................. IV 
 
ABSTRACT ............................................................................................................... V 
 
SUMÁRIO ................................................................................................................. VI 
 
LISTA DE TABELAS .............................................................................................. VII 
 
LISTA DE QUADROS ............................................................................................ VIII 
 
LISTA DE FOTOS .................................................................................................... IX 
 
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. X 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 
 
UNIDADE I – SISTEMA DE PRODUÇÃO DE AVES DE CORTE E ELEMENTOS 
POLUIDORES ............................................................................................................ 7 
1.1 Sistema de Produção de Aves de Corte ............................................................... 7 
1.2 Cama de Aviário ................................................................................................. 10 
1.2.1 Utilização da Cama como Fertilizante ............................................................. 13 
1.2.2 Cama de Aviário na Alimentação de Ruminantes ........................................... 19 
1.2.3 Utilização da Cama como Fonte de Energia ................................................... 20 
1.3 Carcaças de Aves Mortas ................................................................................... 23 
1.3.1 Fossas ............................................................................................................. 26 
1.3.2 Incineração ...................................................................................................... 28 
1.3.3 Compostagem ................................................................................................. 29 
 
UNIDADE II – ASPECTOS RELACIONADOS À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ....... 32 
 
UNIDADE III – NORDESTE DO PARANÁ: RESÍDUOS DA PRODUÇÃO AVÍCOLA 
E SEU GERENCIAMENTO ...................................................................................... 38 
3.1 Uso e Ocupação do Solo na Área da Pesquisa .................................................. 39 
3.2 Produção e Tratamento da Cama de Aviário na Área da Pesquisa ................... 43 
3.3 Disponibilidade e Tratamento de Carcaças de Aves Mortas .............................. 46 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 53 
 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 55 
 
ANEXOS .................................................................................................................. 58 
 
 
 
VII
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 01 – Produção de cama: matéria natural (Kg), matéria seca (Kg e %) 
e umidade (%) nas diferentes densidades por lotes ................................................. 11 
 
Tabela 02 – Concentração média de Nitrogênio (N), Fósforo (P2O5) e Potássio 
(K2O) e teor de matéria seca (MS) em camas reutilizadas ....................................... 12 
 
Tabela 03 – Contagem bacteriana antes e após o alojamento ................................. 19 
 
Tabela 04 – Percentual de nutrientes em amostras de compostos de carcaças 
de aves ..................................................................................................................... 31 
 
Tabela 05 – Abate de frangos de corte no Brasil em 2003/2004 por estado ............ 38 
 
Tabela 06 – Relação entre o ciclo de produção e troca de cama nos modelos 
de propriedades adotados pela pesquisa .................................................................43 
 
Tabela 07 – Relação entre o número de aves alojadas, área física do aviário 
e quantidade de cama disponível ............................................................................. 44 
 
Tabela 08 – Produtores, potencial de alojamento, comportamento semanal 
da mortalidade, mortalidade total e percentual sobre alojamento ............................ 47 
 
Tabela 09 – Idade, peso padrão em relação (g) de carcaças de aves 
mortas disponíveis para cada ave alojada ................................................................ 48 
 
Tabela 10 – Sistema de gerenciamento de carcaças de aves mortas adotado 
pelas propriedades rurais de acordo com o modelo de alojamento estabelecido .... 51 
 
 
 
VIII
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 01 – Estágios da biodigestão anaeróbica .................................................... 20 
 
Quadro 02 – Disponibilidade em gramas (g) de carcaças de aves mortas 
sobre o número de aves alojadas durante o período de alojamento ........................ 49 
 
 
 
 
IX
LISTA DE FOTOS 
 
 
Foto 01 – Aviário destinado ao alojamento de aves ................................................... 9 
 
Foto 02 – Cama de aviário com dejetos de aves ...................................................... 13 
 
Foto 03 – Lago eutrofizado com concentração de plantas aquáticas ....................... 16 
 
Foto 04 – Disponibilidade de cama após ciclo de produção ..................................... 22 
 
Foto 05 – Aves mortas durante o ciclo de produção ................................................ 24 
 
Foto 06 – Modelo de fossa séptica para destino de aves mortas ............................. 26 
 
Foto 07 – Fossa séptica com carcaças em decomposição ...................................... 27 
 
Foto 08 – Início da compostagem - Adição de marravalha e água ............................ 29 
 
Foto 09 – Disposição das aves na composteira ....................................................... 30 
 
 
 
X
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 01 – Estado do Paraná – Delimitação da área de estudo ............................... 4 
 
Figura 02 – Localização dos municípios da pesquisa no Estado do Paraná ............... 5 
 
Figura 03 – Modelo de fossa séptica impermeabilizada ........................................... 28 
 
Figura 04 – Localização dos abatedouros de aves na região Nordeste do Paraná .. 40 
 
Figura 05 – Municípios de abrangência da pesquisa – Nordeste do Paraná ........... 42 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O crescimento constante da avicultura brasileira levou as unidades agrícolas 
de produção de frango de corte a aumentarem sua capacidade de alojamento de 
aves. A demanda crescente por proteína de origem animal aliada ao melhoramento 
genético, nutricional e controle climático permitiram um incremento significativo na 
densidade de aves à idade de abate, passando de 20 para 30 Kg/ m² (PAIVA, 2002). 
 
Estes resultados são extremamente positivos quando analisados pelo aspecto 
produtivo, mas algumas questões devem ser consideradas. Na avicultura moderna 
se produz uma quantidade considerável de esterco em forma de cama (mistura de 
esterco mais subprodutos de secagem). Nas unidades de produção avícola, mesmo 
com taxas moderadas de mortalidade durante o desenvolvimento, a disposição de 
aves mortas torna-se um problema significativo. 
 
As alternativas de manejo destes resíduos dependem da situação particular 
de cada propriedade. De modo geral, as restrições baseiam-se na forma de manejo 
sobre o controle de doenças e sobre a qualidade do ar e da água. 
 
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) os impactos ambientais causados pela 
avicultura de corte podem estar relacionados com a emissão de gases e poeira, pelo 
excesso de minerais depositados no solo em decorrência do mau uso da cama e 
acúmulo de aves mortas, ainda pela contaminação do lençol freático, por receber 
elementos residuais do que foi aplicado ao solo. 
 
Para CHAPMAN (1996) os principais componentes presentes nos resíduos 
animais, que fornecem nutrientes para as plantas, mas que, ao mesmo tempo, estão 
relacionados à contaminação das águas subterrâneas e de superfície, incluem o 
nitrogênio e o fósforo. Entre os problemas atribuídos à disposição destes resíduos 
no solo, citam, por exemplo, a contaminação de águas subterrâneas com NO3 
(nitrato). 
 
2
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) microorganismos patogênicos podem 
sobreviver nos resíduos animais, contaminando o lençol freático, prejudicando a 
qualidade microbiológica da água destinada a animais, à recreação e ao consumo 
humano. 
 
A contaminação de água de superfície por Salmonella sp, por exemplo, pode 
se dar através de dejetos de abatedouros avícolas e, indiretamente, através de 
aplicação de resíduos de aves contaminados no solo. A Salmonella sp pode se 
multiplicar ate 100.000 vezes na água de rios, com cerca de 100 mg de substâncias 
orgânicas por litro. Portanto os despejos de efluentes animais não tratados em 
águas superficiais ou subterrâneas tornam-se um risco eminente para pessoas ou 
animais que a consomem ou têm contato direto (KRAFT, 2003). 
 
Um sistema de produção dispõe do ar, da água e do solo como receptores de 
efluentes de uma determinada atividade. Assim, torna-se fundamental considerar a 
capacidade de assimilação do ambiente, ou seja, de dispersão atmosférica, de 
autodepuração da água e de filtração no solo. 
 
O uso adequado dos recursos naturais (melhoria na eficiência e 
racionalização do uso), o grau de capacidade de suporte para determinada atividade 
e o controle na geração e disposição de efluentes, segundo as características dos 
receptores ar, solo e água, determinarão maior ou menor sustentabilidade na 
atividade. 
 
É dever da coletividade defender e preservar o meio ambiente. Para tanto é 
necessário um trabalho de conscientização pública por meio da promoção de 
educação ambiental (Constituição Federal1, 1988), de informação e publicidade dos 
projetos e programas públicos e privados, que comprometam a qualidade de vida. A 
garantia da preservação e restauração dos recursos ambientais locais e regionais 
depende, portanto, da ação conjunta e integrada do poder público e da coletividade. 
 
 
1Constituição Federal, art.225, § 1º, VI, 1988. 
 
3
Assim, este trabalho tem como objetivo principal avaliar o gerenciamento de 
resíduos sólidos em propriedades rurais decorrentes de sistemas intensivos de 
produção de frango de corte no Nordeste do Paraná. Pretendemos ainda identificar 
e quantificar os resíduos produzidos, considerando suas características e o destino 
final adotado; analisar as legislações vigentes; propor alternativas para o 
gerenciamento destes resíduos, no intuito de minimizar os impactos decorrentes 
deste processo. Além deste objetivo, fornecer subsídios para que a iniciativa privada 
local juntamente com os produtores consiga produzir com eficiência adequando seu 
sistema de produção quando necessário. 
 
Para abordar tais questões o trabalho será dividido em três Unidades: 
 
A Unidade I pretende abordar e descrever sobre os resíduos sólidos gerados 
em propriedades rurais que trabalham com frangos de corte, sistema de 
gerenciamento e disposição final adotado, seu potencial como agente poluidor do 
meio, analisando fundamentalmente os que geram maior impacto. 
 
Para discutir o assunto, é fundamental entender a dinâmica de uma 
propriedade rural que trabalha com frangos de corte, conhecendo o processo da 
produção. 
 
Na Unidade II é analisada a legislação ambiental no âmbito Nacional e 
Estadual, Programas de Sanidade Avícola relacionados à gestão de resíduos sólidos 
rurais decorrentes da produção intensivo de frango de corte,tratamento e disposição 
final recomendados pela legislação. 
 
Na Unidade III será abordado o sistema de produção de frango de corte no 
Nordeste do Paraná no que se refere ao gerenciamento de resíduos sólidos em 
propriedades rurais decorrentes deste processo. Quantificar os resíduos produzidos 
e analisar potencialidades e deficiências nos sistemas de tratamento e disposição 
final. 
 
 
4
A área de estudo foi delimitada com base na metodologia adotada pelo 
Sindicato e Associação dos Abatedouros e Produtores Avícolas do Paraná 
(Sindiavipar), o qual estabelece no Estado do Paraná quatro regiões geográficas 
distintas: Noroeste, Sudoeste, Sudeste e Nordeste. Os critérios adotados pelo 
Sindiavipar para delimitação das regiões levam em consideração características 
como: sistema de produção, instalações, equipamentos e proximidade entre as 
plantas industriais de abate, porém, não obedece a limites geográficos específicos. 
 
A agricultura é uma atividade econômica dependente, em grande parte, do 
meio físico. O aspecto ecológico confere fundamental importância ao processo de 
produção agropecuária. Qualquer país ou região apresenta várias sub-regiões com 
diferentes condições de solo e clima, ainda, aptidões para produzir bens agrícolas. 
 
Para localizar geograficamente a área de estudo, foi estabelecido um 
quadrante à nordeste do estado do Paraná, delimitado pelas coordenadas 
geográficas, 22° 40‘ e 24° 40‘ de Latitude Sul e 49 ° 20‘ e 52° 00‘ de Longitude Oeste 
(Figura 01). 
 Figura 01: ESTADO DO PARANÁ - DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Nota: Para a delimitação da área de abrangência foi utilizada a regionalização da SINDIAVIPAR/2005.
Organização: César Bado
CURITIBA
52º 00' 49º 20'
22º 40'
24º 40'
 
 
5
A área geograficamente delimitada como região Nordeste do Estado do 
Paraná caracteriza-se como uma das principais regiões produtoras do país. No ano 
de 2004 foram abatidas 17.479.555 aves ao mês o que corresponde a 19,73% do 
número de aves abatidas no estado do Paraná (SINDIAVIPAR, 2005). 
 
Para o levantamento de dados sobre quantidade, características, destino e 
gerenciamento de resíduos sólidos foram utilizados questionários (amostragem) 
aplicados diretamente aos produtores rurais de forma ao acaso2 (Anexo 01). 
 
A base de dados gerou informações sobre 14 municípios, distribuídos na área 
de estudo de forma ao acaso conforme a Figura 02, permitindo uma análise 
qualitativa sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos decorrentes da produção de 
frangos de corte em propriedades rurais. 
Figura 02: LOCALIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA PESQUISA NO ESTADO DO PARANÁ
CURITIBA
Base Cartográfica: Prefeitura Municipal de Maringá/PR 2005. Organização: César Bado
SÃO PAULO
MATO GROSSO
DO SUL
PARAGUAI
SANTA CATARINA
 
 
 
2Os questionários foram preenchidos eventualmente nas visitas realizadas em propriedades rurais. 
 
6
Assim, foram estabelecidas e analisadas três categorias de propriedades 
rurais, conforme a capacidade de alojamento de aves, buscando avaliar possíveis 
variações na gestão dos resíduos sólidos entre os modelos de propriedades. Os 
modelos adotados estão baseados na capacidade de alojamento, divididos em: 
 
• pequena – capacidade de alojamento Inferior a 15.000 aves; 
• média – capacidade de alojamento entre 15.001 e 30.000 aves; 
• grande – capacidade de alojamento acima de 30.001 aves. 
 
Estas três categorias de propriedades predominam na área de estudo e 
caracterizam o modelo de avicultura adotado na região. Cabe ressaltar que em 
nossa abordagem não analisamos a relação com o aspecto fundiário. 
 
 O método de coleta de dados por questionário (amostragem) foi também 
utilizado para obter informações das empresas integradoras no que se relaciona a 
geração e destino para os dejetos produzidos nas propriedades rurais (Anexo 02). 
 
O diagnóstico da situação atual da produção e gerenciamento de resíduos 
sólidos, mediante levantamento de campo (amostragem) permite analisar e propor 
alternativas para a gestão destes resíduos sólidos, além de apresentar e discutir os 
resultados para produtores e iniciativa privada, fornecendo-lhes subsídios para 
adequação do seu processo de produção de frangos de corte, na tentativa de 
minimizar os impactos ambientais decorrentes deste processo. 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
 
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE AVES DE CORTE E ELEMENTOS POLUIDORES 
 
 
A cadeia produtiva de aves de corte no Brasil vem se destacando nas últimas 
décadas devido ao incremento tecnológico e à sua capacidade de coordenação 
entre os diferentes agentes que a compõe. 
 
Segundo a União Brasileira de Avicultura (UBA, 2005) a produção brasileira 
de frangos de corte passou de 2.356.000 toneladas de carne em 1990 para 
8.490.000 toneladas de carne em 2004. Foram abatidos mais de 4.040.000.000 de 
aves, o que corresponde atualmente a 13% da produção mundial. Este volume de 
carne é distribuído em dois tipos de mercado de consumo: o interno, que absorve 
71,5 % do volume total produzido e o mercado de exportação responsável por 
consumir 28,5 % da produção nacional de carne de frangos. O setor avícola de corte 
no Brasil é responsável por gerar mais de quatro milhões de empregos diretos e 
indiretos. 
 
Estes dados não refletem apenas a característica do setor, norteado pelo 
mercado de escala, seu excepcional desempenho em alojamento de aves, 
produtividade e rentabilidade, mas também demonstra a importância social desta 
atividade tanto no meio agrícola quanto urbano. 
 
1.1 Sistema de Produção de Aves de Corte 
 
O sistema de produção de frangos de corte para o abate no Brasil é 
constituído por duas bases fundamentais. A primeira é caracterizada pela indústria 
de capital privado ou cooperativo, dispõe do espaço físico ou planta3 para abate e 
processamento de carnes e derivados, produção de pintainhos e fábrica de rações, 
mantendo sob sua responsabilidade jurídica todo e qualquer agrave que possa 
 
3Planta se relaciona ao espaço físico destinado para o abate e processamento de aves. 
 
8
ocorrer no gerenciamento do cotidiano. São exemplos questões comerciais ou 
ambientais, ou ainda com recursos humanos. 
 
A segunda constitui a estrutura produtiva comumente denominada 
”integração” aviária4 ou granja; de capital particular (físico), onde configura a 
propriedade rural e seu proprietário ou arrendatário como elemento gerenciador do 
cotidiano. Caracteriza-se pela força de trabalho, normalmente não vinculada à 
indústria que utiliza o sistema de produção de frangos de corte como uma forma de 
diversificar suas atividades de produção agregando valor e renda. 
 
O crescimento constante da avicultura brasileira nos últimos anos levou as 
unidades rurais de produção de frango de corte a aumentarem sua capacidade de 
alojamento de aves. A demanda crescente por proteína de origem animal aliada ao 
melhoramento genético, nutricional e controle climático levou a um incremento 
significativo na densidade de aves à idade de abate, passando de 20 para 30 Kg/ 
m². 
 
Normalmente as granjas são dimensionadas para alojar 11 a 13 aves por m2, 
“carga superficial5” que viabiliza não apenas o produtor e seu investimento como 
também a indústria com o transporte de alimentos e custo de assistência técnica 
(TINOCO, 2004). 
 
O alojamento consiste em preparar o ambiente “aviário” para o recebimento 
dos pintainhos em seu primeiro dia de vida (Foto 01). 
 
Para alojar um lote de pintainhos é necessário que a propriedade rural 
disponha de um aviário, o qual possui características como altura do pé direito de 
3,5 m, largura de 12 m e comprimento variando entre 60 a 150 m.O mesmo padrão 
é adotado em quase todo o Brasil, correspondendo a um ou mais aviários por 
propriedade, cuja área construída de cada varia entre 600 m2, 1200 m2 ou 1800 m2, 
permitindo um alojamento aproximado de 7.000, 14.500 ou 22.000 aves 
respectivamente (TINOCO, 2004). 
 
4Aviário corresponde à estrutura física destinada a criação de aves. 
5Carga superficial se refere a relação entre quantidade e/ou peso sobre área. 
 
9
 
 Foto 01 - Aviário destinado para o alojamento de aves. 
 
Outros fatores importantes a serem considerados referem-se à necessidade e 
disponibilidade de água, alimentos, energia elétrica, comedouros, bebedouros, 
equipamentos para controle térmico como ventiladores, nebulizadores aquecedores 
e principalmente material absorvente para utilizar como “cama”. 
 
Segundo PAGANINI (2004) aves criadas em ambientes com temperatura 
adequada, com controle da carga microbiana, “conseqüentemente com baixa 
contaminação por agentes patogênicos”, com qualidade do ar e sobre uma 
superfície confortável, poderão expressar melhor o potencial genético de converter o 
alimento ingerido em peso corporal. 
 
Os resultados da avicultura brasileira são extremamente positivos quando 
analisados pelo aspecto produtivo e econômico. No entanto, algumas questões 
devem ser consideradas. Entre estas a questão ambiental e o impacto provocado 
pelos resíduos sólidos produzidos pela atividade se configuram entre as principais. 
 
Na avicultura moderna se produz uma quantidade considerável de esterco em 
forma de cama (mistura de esterco mais subprodutos de secagem). Além disso, nas 
unidades de produção avícola, mesmo com taxas moderadas de mortalidade 
durante o desenvolvimento, torna-se evidente a disposição de aves mortas. 
 
10
As alternativas de manejo destes resíduos dependem da situação particular 
de cada propriedade e das restrições impostas pelos órgãos ambientais. De modo 
geral, as restrições baseiam-se no impacto, na forma de manejo sobre o controle de 
doenças e sobre a qualidade do ar e da água. 
 
Ainda que a tecnologia permita superar, em parte, as limitações derivadas do 
condicionamento ecológico, é importante lembrar que a preservação dos recursos 
naturais restringe parcialmente as decisões relacionadas com o uso e ocupação do 
solo. 
 
Desenvolver alternativas que estimulem a produção, mas, sobretudo, que 
minimizem os impactos causados por seus resíduos no ambiente, tem-se tornado 
um dos grandes desafios da atividade agropecuária. 
 
1.2 Cama de Aviário 
 
Cama é considerada, todo material orgânico6 seco, normalmente derivado ou 
subproduto de secagem de produção agrícola, inerte7 e que possui como 
característica principal absorção de umidade, fácil manejo e disponibilidade regional. 
Vários subprodutos industriais ou restos de culturas agrícolas podem ser usados, 
entre eles a maravalha8, a casca de arroz, fenos picados e resíduos de marcenaria, 
como a serragem. 
 
A cama deve ser manejada de forma que sua umidade fique entre 20 e 35% 
(ALMEIDA, 1986). O aumento na densidade de aves determina maior compactação 
da mesma, diminuindo sua capacidade de absorção de umidade. Segundo MACARI 
(1997) a utilização de uma lâmina 10 cm de espessura do material sobre o piso é 
suficiente para fornecer um ambiente confortável para as aves. 
 
Elemento fundamental no processo produtivo, a cama atua como isolante 
térmico entre a ave e o piso, além de alterar a característica de dureza do mesmo. 
 
6Algumas empresas utilizam materiais inorgânicos como a areia para superfície de cama. 
7Inerte: Inativo, ou seja, materiais que não podem mudar espontaneamente de estado. 
8Maravalhas são aparas de madeiras, gravetos finos, cavacos. 
 
11
Além disso, têm a função de reter as fezes, restos de alimentos, descamações da 
pele, penas e a umidade no decorrer da produção, tornando-se assim, após seu uso, 
um dos principais resíduos do sistema de produção de frangos de corte com 
potencial poluidor do ambiente. 
 
MALONE (1992) avalia a utilização, o manejo e a produção de cama com 
materiais alternativos. Este estudo permitiu identificar que um sistema de produção 
de frangos de corte em escala industrial produz, em média, 1,6 a 1,8 Kg de cama por 
ave no período de alojamento9, ou seja, aproximadamente 24 Kg de material 
produzido por metro quadrado de área construída. Esta carga superficial é 
influenciada por diversos fatores, tais como a idade de abate, densidade e linhagem 
das aves, conversão alimentar10, tipo de ração, condições climáticas, tipo e 
quantidade de material utilizado como cama, entre outros. 
 
SANTOS e DE LUCAS JÚNIOR (2001) identificaram uma variação na carga 
superficial disponível de acordo com o tipo de substrato usado para confecção da 
cama, a quantidade de material utilizado, a densidade de aves por m² e o número de 
lotes criados sobre a mesma cama. A influência da densidade de animais por m² de 
área e o número de reutilizações da cama sobre a carga superficial produzida pode 
ser verificada na Tabela 01. 
 
Tabela 01 – Produção de cama: matéria natural (Kg) matéria seca (Kg e %) e 
umidade (%) nas diferentes densidades, por lotes 
Lote Densidade 
Aves/m² 
MN 
(Kg) 
Umidade 
(%) 
MS MS/ave 
(Kg) 
DA 
(Kg MS) (Kg) (%) 
 10 107,825 28,84 76,556 71,16 1,727 0,949 
1 16 137,363 33,2 91,366 66,74 1,349 0,839 
 22 170,525 39,03 103,511 60,97 1,124 1,124 
 138,571 33,72 90,478 66,29 1,400 0,970 
2 10 132,500 21,33 104,062 78,56 1,205 1,023 
 16 164,313 28,12 118,094 71,88 0,992 0,874 
 22 199,838 38,24 123,211 61,76 0,774 0,689 
 165,550 29,26 115,123 70,73 0,990 0,862 
MN: Material natural; MS: Matéria seca; DA:Detritos acrescentados pelas aves 
Fonte: Santos e De Lucas Junior (2001), adaptado. 
 
9Este período pode variar entre 42 e 45 dias. 
10Conversão alimentar é a relação entre o consumo alimentar e o ganho de peso. 
 
12
A Tabela 01 mostra um incremento na carga superficial de material natural 
(MN) à medida que aumenta a densidade de aves por metro quadrado. Esta relação 
também pode ser observada quando se reutiliza esta cama para a criação de um 
segundo lote de aves. 
 
Esta relação é confirmada pela análise da massa seca (MS) onde, depois de 
retirada à umidade, percebe-se o incremento real de carga superficial disponível em 
ambas situações. Ao aumentar a densidade de aves por metro quadrado acresce a 
carga superficial de cama disponível. Ao reutilizar a cama para criar um novo lote, há 
um incremento proporcional de massa seca (MS) produzida. 
 
Composta basicamente por resíduos de cultura agrícola ou subprodutos da 
indústria madeireira, a cama recebe, durante o processo de produção, uma carga 
significativa de nutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), oriundos do 
metabolismo dos alimentos em forma de dejetos, restos de alimentos desperdiçados, 
penas das aves e descamações da pele. Neste sentido, o material utilizado para a 
confecção da cama bem como a reutilização por vários lotes vai influenciar na 
composição do material final, principalmente no que se refere à concentração de 
elementos químicos e minerais. 
 
PALHARES (2005) verificou um processo acumulativo de determinados 
minerais na cama de frango após sua reutilização por vários lotes. Esta 
característica pode ser observada na Tabela 02. 
 
Tabela 02 – Concentração média de Nitrogênio (N), Fósforo (P2O5), Potássio (K2O) e 
teor de Matéria seca (MS) em camas reutilizada 
Resíduo Nitrogênio 
(N) 
Fósforo 
(P2O5) 
Potássio 
(K2O) 
Matéria Seca 
(%) 
Cama de aves 1° lote 3,0 3,0 2,0 70 
Cama de aves 3° lote 3,2 3,5 2,5 70 
Cama deaves 6° lote 3,5 4,0 3,0 70 
Fonte: PALHARES (2005). 
 
A presença destes nutrientes fundamentais, associados a uma grande 
quantidade de material orgânico, normalmente determina o destino a ser empregado 
 
13
para esses resíduos. Desta forma a cama de aviário (Foto 02) pode ser considerada 
um recurso se usada adequadamente, pois apresenta riscos ambientais mínimos. 
No entanto, quando impropriamente manipulados, podem degradar o ambiente. 
 
 
 Foto 02 – Cama de aviário com dejetos de aves 
 
Relacionar o potencial poluidor da cama de aviário a outro tipo de resíduo é 
pouco provável e coerente. No entanto é possível estimar a quantidade de cama 
produzida pela atividade avícola brasileira se considerados os dados da UBA (2005) 
e a pesquisa de MALONE (1992). 
 
Segundo a UBA (2005) em 2004 foram abatidas aproximadamente 
4.040.000.000 aves no território brasileiro, em conseqüência, a produção de 
7.272.000 toneladas de resíduos ao ano. 
 
1.2.1 Utilização da Cama Como Fertilizante 
 
O principal destino adotado, pelos produtores, para esses resíduos relaciona-
se à sua composição e capacidade de suprir de nutrientes o solo e as plantas. No 
entanto, o volume de nutrientes adicionado ao solo deve equivaler-se àquele retirado 
pelas plantas num determinado tempo, de maneira que não haja deficiências nem 
excessos. 
 
14
Normalmente, o procedimento adotado para o cálculo das quantidades de 
cama a serem aplicadas ao solo segue o critério de suprir as quantidades de 
nitrogênio ou fósforo recomendadas para as adubações com fertilizantes químicos. 
 
Sobre isso, SEGANFREDO (2005) traz que: 
 
Freqüentemente, no entanto, aplica-se de uma única vez, a quantidade de 
cama para suprir a dose total de nitrogênio ou fósforo demandada pela 
cultura durante todo o seu ciclo. Esse procedimento, associado aos 
excessos de nutrientes nas rações, ao baixo aproveitamento pelas aves de 
diversos minerais como o nitrogênio, fósforo, cobre e zinco e, as aplicações 
indiscriminadas das camas ao solo, são os principais fatores que podem 
transformar as camas de aves de um fertilizante em potencial, num poluente 
do solo, das águas, da atmosfera e causador de fitotoxicidade às plantas e 
de deterioração da qualidade dos produtos agrícolas com elas produzidos 
(SEGANFREDO, 2005). 
 
Complementando, CHAPMAN (1996) traz que embora os principais 
componentes presentes nos resíduos animais forneçam nutrientes para as plantas, 
também estão relacionados com a contaminação das águas subterrâneas e de 
superfície. 
 
O íon amônio (NH4) é a forma dominante de Nitrogênio orgânico no esterco 
de aves, o qual é convertido em amônia (NH3) pela elevação do pH e sob condições 
de umidade. Devido a sua alta volatilidade, a amônia difunde-se do esterco para a 
atmosfera, elevando os níveis deste gás no interior dos galpões e poluindo a 
atmosfera adjacente (SEIFFERT, 2000). 
 
No entanto, o escoamento de água pluvial de pastagens fertilizadas com 
excesso de esterco de aves pode conduzir à rede de drenagem concentrações 
elevadas de amônia. 
 
A amônia, quando dissolvida na água, pode ser tóxica para peixes mesmo em 
baixas concentrações. Níveis elevados provocam estresse nos organismos, com 
problemas nos filamentos branquiais, destruição das nadadeiras, diminuição da 
resistência a doenças e morte. 
 
 
15
Problemas respiratórios podem ocorrer devido a concentrações de 0,4 a 1,0 
mg de amônia total/l de água. Concentrações da amônia (NH3) próximas a 0,01mg/l 
mostraram efeitos insignificantes sobre os peixes, enquanto valores próximos ou 
superiores a 0,25 mg/l podem ser mortais para algumas espécies (PÁDUA, 2005). 
 
Limites de 0,02 ppm de N na forma de amônia (NH3) na água são 
estabelecidos pela agência americana de proteção ambiental para proteção da vida 
aquática (KRIEDER, 1992). 
 
Por outro lado, estes compostos nitrogenados eliminados pelas aves na forma 
de fezes sofrem a ação de bactérias nitrificantes na cama e são transformados em 
nitritos (NO2) e nitratos (NO3), compostos não voláteis que melhoram a qualidade 
fertilizante da cama (PAGANINI, 2004). 
 
O Nitrato (NO3) é forma em que o nitrogênio é absorvido pelas plantas. Porém 
é altamente solúvel na água e facilmente transportado pela solução do solo da zona 
das raízes para o lençol freático e daí para a rede de drenagem (SEIFFERT, 2000). 
 
A adubação com altos níveis de esterco de aves no solo resultam em 
elevadas concentrações de nitrato na água subterrânea. Concentrações de nitrato 
acima de 10 mg/l em água de poços são freqüentemente detectadas em áreas onde, 
se desenvolve criação intensiva de aves. As concentrações mais elevadas ocorrem 
em locais, com produção intensiva de frangos, uso intensivo de esterco e sob 
condições de solos arenosos bem drenados (SEIFFERT, 2000). 
 
A intensidade do processo de contaminação depende principalmente das 
quantidades de nitrato presentes ou adicionados ao solo, da permeabilidade do solo, 
das condições climáticas, pluviosidade, manejo da irrigação e da profundidade do 
lençol freático. 
 
Em um sistema estabilizado o nível de amônia deve atingir, no máximo, a 
concentração de 0,2 mg/l, sendo que, para os demais compostos nitrogenados como 
o nitrito, limites entre 0,1 a 0,3 mg/l são aceitáveis. Para o nitrato a concentração não 
deve exceder a 10 mg/l (PÁDUA, 2005). 
 
16
O enriquecimento excessivo de águas superficiais com nitratos e derivados 
nitrogenados pode levar ao desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos devido ao 
processo de eutrofização, que consiste da proliferação exagerada de algas e plantas 
aquáticas. 
 
Como conseqüência, pode haver redução da penetração de luz em 
profundidade, alterando o ambiente subaquático. Plantas aquáticas podem criar 
bancos de vegetação submersa retendo sedimentos e vindo a dificultar a 
navegação. Além disso, a própria respiração e os restos de plantas e algas mortas 
depositadas no fundo provocam a redução na disponibilidade de oxigênio, 
culminando com a mortandade de peixes e outros organismos aquáticos. A Foto 03 
mostra a presença de plantas aquáticas em corpos d’água superficiais. 
 
 
 Foto 03 – Lago Eutrofizado, com concentração de plantas aquáticas. 
 
Embora pessoas em idade adulta possam ingerir quantidades relativamente 
altas de nitrato através de alimentos e da água e excretá-lo pela urina sem maiores 
conseqüências prejudiciais à saúde, crianças com menos de seis meses de idade 
podem apresentar intoxicação além de asfixia, pela redução da capacidade do 
sangue em transportar oxigênio (RESENDE, 2005). 
 
 
17
A ingestão de altos níveis de nitrato por bovinos e eqüinos podem levar a uma 
intoxicação devido à capacidade de sua flora digestiva convertê-lo em nitrito. 
 
Adequar as taxas de suprimento de nitrogênio com a demanda da cultura no 
decorrer do seu período de crescimento vegetativo constitui-se no principal aspecto 
a ser buscado em termos de aumento da eficiência da adubação nitrogenada e 
concomitante redução do risco de lixiviação de nitrato. 
 
Neste sentido, o parcelamento da adubação nitrogenada de acordo com os 
períodos de demanda das culturas, talvez seja a maneira mais fácil de ganhar 
eficiência e devem ser priorizadas quando as condições de solo (alta 
permeabilidade) e clima (chuva intensa e freqüente) favorecerem a possibilidade de 
lixiviação de nitrato. 
 
Para SANT'ANNA NETO (1998) a análise geográfica do clima voltada para a 
organização do espaço agrícola deve, necessariamente, partir de uma concepção de 
clima como insumo nos processos naturais e de produção. Desta forma, tanto a 
radiação global quanto os principais elementos do clima passam a ser considerado 
como agentes econômicos e, portanto, interveniente naprodução e rentabilidade. 
 
Da mesma maneira, o fósforo (P) presente no esterco das aves tem poder de 
fertilizar o solo. Em condições de normalidade no solo, o fósforo está fortemente 
adsorvido às argilas, forma pela qual sua capacidade de migrar no perfil se limita a 
poucos centímetros. Porém, altas concentrações desse elemento no solo podem 
alterar ou indisponibilizar alguns micronutrientes como Ferro e Zinco, além de 
exceder a capacidade de absorção das plantas e chegar ao lençol freático mediante 
lixiviação (SEIFFERT, 2000). 
 
Altas concentrações de fósforo têm sido encontradas em água de 
escoamento superficial de pastagens onde foi aplicado esterco de aves. A maior 
parte (80 a 90%) é solúvel em água e prontamente assimilável por plantas e algas 
(MOORE, 1996). 
 
 
18
Os níveis de fósforo em corpos d’água superficiais não devem ser superior a 
0,05 mg por litro para cursos d’água e 0,10 mg por litro para lagos e reservatórios 
(SEIFFERT, 2000). 
 
Do ponto de vista de saúde, o enriquecimento da água em fósforo não traz 
maiores problemas, já que se trata de um elemento requerido em elevadas 
quantidades pelos animais em geral. 
 
A maior preocupação com este elemento está relacionada ao seu potencial de 
eutrofização dos corpos de água superficiais. Nestas condições a atividade 
fotossintética das algas eleva a concentração de oxigênio (O2) dissolvido na água 
durante o dia, mas a respiração das plantas reduz novamente o oxigênio à noite e 
em dias nublados (SEIFFERT, 2000). 
 
A redução na concentração de O2 dissolvido pode resultar na mortandade de 
peixes e ictiofauna associada, além de alterar o odor e o sabor da água. Corpos de 
água nestas condições podem se tornar anaeróbicos e produzir metano, aminas e 
sulfitos (BLAKE, 1996). 
 
Neste sentido, estimar a disponibilidade do nutriente no solo, teor de matéria 
orgânica, disponibilidade de palha da cultura anterior, condições climáticas, 
permeabilidade do solo e a taxa de liberação dos nutrientes pelo fertilizante a ser 
utilizado (principalmente no caso dos estercos), precisam ser analisados de forma 
integrada a fim de ajustar a dosagem, forma e época de aplicação, reduzindo a 
possibilidade de excessos de nutrientes (SEGANFREDO, 2005). 
 
Além disso, substâncias que demandam oxigênio, materiais em suspensão e 
patógenos oriundas do inadequado gerenciamento dos resíduos da produção 
avícola, carreados para corpos d’água, podem alterar ou contaminar o ambiente. 
Partículas em suspensão nos corpos de água limitam a penetração da luz e, 
conseqüentemente, reduzem a produção de O2 livre por algas e plantas, interferindo 
na qualidade da água. 
 
 
19
OPARA (1992) observou uma correlação entre positividade para Salmonella 
enteritidis e variáveis físicas da cama: umidade, atividade de água (medição da água 
molecular livre) e pH. Quanto maior a umidade, maior a atividade de água e maior o 
pH, maior a probabilidade de a cama ser positiva para Salmonella enteritidis. 
 
Para DE LUCAS JUNIOR (2003) a contaminação de água de superfície por 
Salmonella sp, por exemplo, pode ocorrer através de dejetos de abatedouros 
avícolas e, indiretamente, através de aplicação de resíduos de aves contaminados 
no solo. Além disso, outros microorganismos patogênicos podem sobreviver nos 
resíduos animais, contaminando o lençol freático e prejudicando a qualidade 
microbiológica da água destinada aos animais, à recreação e ao consumo humano. 
 
Para PAGANINI (2004) o método de fermentação, processo natural de 
decomposição da matéria orgânica em ambiente anaeróbico, é capaz de reduzir a 
população microbiana da cama, baseiam-se na epidemiologia dos agentes, na 
logística disponível na propriedade e na viabilidade econômica. O aumento da 
temperatura e a redução do pH que ocorrem no material compostado devido à 
atividade microbiana, inviabilizam a sobrevivência das principais bactérias de 
importância, conforme mostra a Tabela 03. 
 
Tabela 03 – Contagem bacteriana antes e após o amontoamento 
 Coliformes totais Coliformes fecais Enterobactérias 
Antes do amontoamento 65.620 49.400 75.460 
Depois do amontoamento 260 160 2.640 
Fonte: PAGANINI (2004). 
 
Além do aproveitamento como fonte de nutrientes para a agricultura, a cama 
de aviário pode ser destinada a outras finalidades. 
 
1.2.2 Cama de Aviário na Alimentação de Ruminantes 
 
O aproveitamento da cama de aviário como fonte de alimento para 
ruminantes não é recente. Resulta da capacidade dos ruminantes em transformar o 
nitrogênio em proteína e digerir os componentes fibrosos, disponibilizando energia 
 
20
para o metabolismo (LEME, 2000). Porém, a Instrução Normativa nº 15 do Ministério 
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, publicada em 17 de junho de 2001, ainda 
em vigor, proibiu o uso da cama de aviário para este fim. 
 
1.2.3 Utilização da Cama como Fonte de Energia 
 
Alguns estudos apontam para o aproveitamento da cama de aviário como 
fonte de energia. A biodigestão ou digestão anaeróbia é o processo pelo qual as 
bactérias, através da fermentação, degradam a matéria orgânica, transformando-a 
em subprodutos, como o biogás (gás inflamável) e o biofertilizante (líquido organo-
mineral estabilizado). Estes subprodutos possuem alto valor como fontes 
energéticas e nutricionais para as plantas, respectivamente, podendo ser substitutos 
de insumos adquiridos pelo avicultor. 
 
Segundo PALHARES (2005) o processo de biodigestão pode ser dividido em 
três estágios distintos, envolvendo grupos de microrganismos específicos em cada 
um deles. No primeiro estágio, materiais orgânicos complexos (carboidratos, 
proteínas e lipídios) são hidrolizados e fermentados em ácidos graxos, álcool, 
dióxido de carbono, hidrogênio, amônia e sulfetos, por microorganismos anaeróbios 
e facultativos. As bactérias acetogênicas participam do segundo estágio, 
consumindo os produtos primários e produzindo hidrogênio, dióxido de carbono e 
ácido acético, conforme Quadro 01. 
 
 Quadro 01 – Estágios da biodigestão anaeróbica 
 
 Fonte: PALHARES (2005) adaptado. 
H2, CO2 
Ácido acético 
(CH2COOH) 
 
ESTÁGIO 1 
Bactérias 
fermentativas 
Ac. Propiônico 
(CH2CH2COOH), 
Ác. butírico 
(CH2CH2CH2COO
H) Alcoois e outros 
compostos. 
Resíduo 
orgânico 
Carboidratos 
Proteínas, 
Gorduras, 
Celulose, 
H2, CO2, 
Ácido 
acético 
CH2COOH 
ESTÁGIO 2 
Bactérias 
acetogênicas 
Metano 
(CH4 ), 
CO2 
ESTÁGIO 3 
Bactérias 
metonogênica
s 
 
21
Dois grupos distintos de bactérias metanogênicas participam do terceiro 
estágio: o primeiro grupo reduz o dióxido de carbono a metano e o segundo 
descarboxiliza o ácido acético produzindo metano e dióxido de carbono 
(PALHARES, 2005). 
 
De modo geral a reciclagem de resíduos orgânicos ou dejetos decorrentes da 
produção animal via biodigestão vem ganhando espaço, principalmente na atividade 
suinícola devido à disponibilidade de equipamentos e tecnologias para implantar tal 
processo. No entanto, adequar esta tecnologia para os tipos de resíduos 
encontrados na avicultura se torna fundamental, à medida que é necessário 
produzir, minimizando os impactos causados ao ambiente, decorrentes do volume 
de material disponível e sua carga patogênica. 
 
Para PALHARES (2005) a escolha de um modelo de biodigestor adequado 
para o tipo de resíduo produzido é fundamental para obter sucesso operacional e 
econômico no empreendimento. No entanto, para estabelecer uma relação entre os 
principais tipos de biodigestores e suas características microbiológicas, torna-se 
fundamental conhecer alguns parâmetros que influenciam no modo de operação 
destes equipamentos e na sua eficiência na produção de biogás: 
 
O Tempo de Retenção Hidráulica (TRH) é entendido comoo intervalo de 
tempo necessário para que ocorra o processo de biodigestão de maneira 
completa. O Tempo de Retenção de Microorganismos (TRM) e o Tempo de 
Retenção de Sólidos (TRS) são os tempos de permanência dos 
microorganismos e dos sólidos no interior dos biodigestores. Estes tempos 
são expressos em dias e, de maneira resumida, pode-se dizer que altas 
produções de metano são conseguidas, satisfatoriamente, com longos TRM 
e TRS (PALHARES, 2005) 
 
Outro fator a ser considerado relaciona-se à disponibilidade do resíduo (Foto 
04). A cama de frango é um resíduo produzido em intervalos de tempo, ou seja, sua 
disponibilidade não é contínua devido ao modo de produção. Além disso, 
características físicas e químicas como alto teor de sólidos, baixa umidade e 
tamanho das partículas limitam o uso de alguns modelos de biodigestores. 
 
 
 
 
22
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Foto 04 – Disponibilidade de cama após ciclo de produção 
 
Para PALHARES (2005) um biodigestor em batelada11 poderia ser usado para 
tratar este tipo de resíduo, devido às suas características físicas e de desempenho, 
que permitirem uma perfeita digestão da biomassa. Além disso, sugere que uma 
redução mecânica do tamanho das partículas da cama por moagem antes de ser 
adicionada ao biodigestor poderia melhorar a ação dos microorganismos. Da mesma 
forma a adição de água ao conteúdo da cama poderia diminuir o teor de sólidos e 
conseqüentemente reduzirem o TRH. 
 
Neste sistema, o uso de inóculo como o esterco biofertilizado de bovinos, 
aves ou suínos contendo flora de bactérias acidogênicas e metanogênicas, 
poderiam acelerar o processo, principalmente em decorrência dos altos teores de 
celulose e lignina presentes na cama limitarem a biodigestão. 
 
Vários fatores vão interferir na conversão biológica da cama de frango em 
biogás, entre eles o tipo de ração, estação do ano, densidade de alojamento das 
aves, tipo de substrato de cama, nível de reutilização da cama e características das 
excretas das aves. 
 
Na forma como é produzido nos biodigestores, o biogás é constituído 
basicamente de 60% a 70% de metano (CH4) e 30% a 40% de dióxido de carbono 
 
11Grande quantidade. LAROUSSE. Dicionário da língua portuguesa (1992) p.129. 
 
23
(CO2), além de traços de O2, N2 e H2S para resíduos orgânicos. A composição do 
biogás irá depender do resíduo que alimenta o biodigestor e também das condições 
que o mesmo é operado. Fatores como temperatura, pH e pressão no interior do 
biodigestor podem alterar a composição do gás levemente (PALHARES, 2005). 
 
O metano tem um poder calorífico de 9.100 kcal/m³ a 15,5 °C e 1 atm e sua 
inflamabilidade ocorrem em misturas de 5% a 15% com o ar. Já o biogás, 
devido à presença de outros gases que não o metano, possui um poder 
calorífico que varia de 4.800 a 6.900 kcal/m³. Em termo de equivalente 
energético, 1,33 a 1,87 e 1,5 a 2,1m³ de biogás são equivalentes a 1litro de 
gasolina e óleo diesel, respectivamente. (PALHARES, 2005) 
 
DE LUCAS JUNIOR (2003) verificaram o potencial de produção de biogás e 
seu equivalente em GLP, quando se faz a biodigestão de diferentes substratos de 
cama em um e dois ciclos de produção. Concluíram que a reutilização da cama de 
maravalha, além de ser benéfica em relação ao meio ambiente, reduzindo a 
quantidade de substrato consumido, gera menor quantidade de resíduo e é também 
vantajosa quando se objetiva a produção de energia. 
 
No entanto, a deficiente condição operacional encontrada nas propriedades 
rurais que trabalham com frangos de corte somada às restrições de ordem técnica e 
econômica, limita a adoção desta alternativa para o aproveitamento e destino destes 
resíduos a casos esporádicos. 
 
Torna-se fundamental estabelecer políticas e programas de incentivo à 
produção e utilização do biogás, facilitando a aquisição de tecnologia, 
desenvolvendo programas de assistência técnica e manutenção de equipamentos 
aos avicultores para que o sistema possa ser implantado com sucesso. 
 
1.3 Carcaças de Aves Mortas 
 
O aumento na densidade populacional de aves nas regiões produtoras, bem 
como nas propriedades rurais, elevando sua capacidade de alojamento individual, 
trouxe novos desafios para a avicultura moderna. A tendência mundial de 
concentração das escalas de produção leva o produtor rural a ter que considerar a 
 
24
mortalidade de animais como um problema de proporções significativas, o qual 
merece atenção. 
 
Na avicultura de corte, em condições normais de produção, os índices de 
mortalidade variam entre 3 a 5 % do total de aves alojadas, distribuídos no período 
de criação conforme Foto 05. Nestes termos, torna-se necessária à implantação de 
sistemas de tratamento ou destino das carcaças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Foto 05 – Ave morta durante o ciclo de produção. 
 
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2005) os processos de decomposição dos 
biosólidos produzem um líquido característico, denominado chorume, no qual a 
demanda bioquímica de oxigênio (DBO5) que expressa a quantidade de oxigênio 
utilizada na oxidação bioquímica da matéria orgânica situa-se entre 4.000 a 15.000 
kg/dia. 
 
Demanda Bioquímica de Oxigênio é definida como a quantidade de oxigênio 
necessária para oxidar a matéria orgânica biodegradável sob condições aeróbicas, 
isto é, avalia a quantidade de oxigênio dissolvido, em mg/l, que será consumida 
pelos organismos aeróbios ao degradarem a matéria orgânica. Um período de tempo 
de 5 dias numa temperatura de incubação de 20° C é freqüentemente usado e 
referido como DBO 5.20. 
 
25
Os maiores aumentos em termos de DBO num corpo d'água são provocados 
por despejos de origem predominantemente orgânica. A presença de um alto teor de 
matéria orgânica pode induzir à completa extinção do oxigênio na água, provocando 
o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática. 
 
Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da micro-flora presente 
e interferir no equilíbrio da vida aquática, que além de produzir sabores e odores 
desagradáveis pode obstruir os filtros de areia utilizados nas estações de tratamento 
de água. 
 
A DBO5 se constitui no principal indicador de impacto ambiental de origem 
orgânica de um material, que ao entrar em contato com qualquer outro meio hídrico, 
concorre pelo oxigênio disponível e, desta forma, compete com as demais formas de 
vida ali existentes. 
 
Além disso, materiais de origem orgânica como carcaças de animais, quando 
mal acondicionados favorecem a proliferação e alimentação de alguns animais e 
insetos como as moscas, ratos e baratas, os quais podem se tornar vetores de 
doenças aos seres humanos (DE LUCAS JUNIOR, 2003). 
 
Para SEIFFERT (2000) existem diversas opções ambientalmente seguras 
para destino de aves mortas em condições de normalidade. No entanto, estas não 
serão adequadas para ocasiões de mortandade massiva, que estão associadas a 
choque térmico, problemas no equipamento de climatização ou surto de doenças. 
 
Na década de 1980 as carcaças das aves eram destinadas para o consumo 
de animais domésticos residentes nas propriedades agrícolas, sem nenhum tipo de 
tratamento. Posteriormente se descobriu que cães e outros animais poderiam se 
tornar hospedeiros de algum agente patogênico causador de doenças nas aves. 
Assim, esta prática foi sendo gradativamente abandonada. 
 
Os métodos tradicionais adotados para a disposição de carcaças incluem 
fossas anaeróbicas, incineração e aterramento. Cada um desses métodos revela 
 
26
vantagens e desvantagens tanto em aspectos relacionados ao manejo como em 
resultados sanitários e ambientais. 
 
1.3.1 Fossas 
 
As fossas anaeróbicassão amplamente usadas como alternativa para o 
destino de carcaças de aves. Sua escolha normalmente está atrelada ao baixo custo 
inicial e por não necessitar mão-de-obra especializada para sua construção. 
 
O modelo mais usual consiste num buraco escavado no solo contendo uma 
tampa em alvenaria ou madeira com uma abertura central que permite a introdução 
de aves mortas, conforme mostra a Foto 06. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Foto 06 – Modelo de fossa séptica para destino de aves mortas 
 
Dimensionadas para receber carcaças em períodos relativamente curtos, em 
média dois anos, tem sua capacidade esgotada normalmente antes do tempo 
projetado, sendo necessário todo ano reinvestir na abertura ou conservação das 
fossas (ZANELA, 1999). 
 
 
27
A deposição de resíduos neste sistema produz um meio de decomposição 
anaeróbico, cujo resultado deste processo será o chorume, metano e outros gases 
que provocam maus odores. A Foto 07 mostra a característica do conteúdo de uma 
fossa séptica destinada para o acondicionamento de aves mortas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Foto 07 – Fossa séptica com carcaças em decomposição 
 
Para SEIFFERT (2000) estes depósitos instalados mediante escavação do 
terreno e mantidos cobertos ao nível do solo deveriam ser revestidos com paredes e 
piso de concreto, cujas dimensões permitissem uma capacidade volumétrica de 3m3, 
sendo desta forma suficiente para um aviário de 10.000 aves, conforme Figura 03. 
No entanto, em solos rasos ou com lençol freático superficial a estrutura deveria ser 
locada de forma que um terço superior desta estrutura situe-se acima da superfície 
do solo. 
 
Embora estes depósitos possuam um custo mais elevado para sua 
implantação, não apresentam restrições ambientais. Sua estrutura impermeabilizada 
limita a infiltração dos poluentes. 
 
 
 
 
28
 
 
 Fonte: SEIFFERT (2000). 
 
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) outro método adotado com freqüência 
pelos produtores de frangos de corte é o aterramento de carcaças. Neste sistema a 
disposição é feita em valas rasas, normalmente sem revestimento e a céu aberto, 
possibilitando muitas vezes o ataque de animais roedores e escavadores que se 
alimentam deste tipo de material. 
 
O movimento de águas pluviais na periferia destas áreas pode levar ao 
assoreamento precoce destas valas ou ainda carrear patógenos ou resíduos de 
carcaça em decomposição, contaminando águas superficiais ou subterrâneas. Outro 
aspecto negativo deste sistema se refere à impossibilidade de uso em dias 
chuvosos. 
 
1.3.2 Incineração 
 
A incineração também pode ser considerada como um método a ser 
empregado no tratamento de carcaças de aves, porém as carcaças de animais de 
modo geral apresentam umidade em torno de 65-70%, limitando ou dificultando a 
queima em baixa temperatura. 
 
Figura 03 – Modelo de fossa séptica impermeabilizada 
 
29
Essa característica, natural da composição da carcaça dos animais faz com 
que o uso deste processo seja limitado em situações normais de campo, e acima de 
tudo, com alto custo devido à necessidade de se utilizar algum tipo de combustível. 
Aliado a isso os custos com a implantação de incineradores especiais e a emissão 
de odores desagradáveis inviabilizam o uso de incineração para este fim (DE 
LUCAS JUNIOR, 2003). 
 
1.3.3 Compostagem 
 
O uso do sistema de compostagem para tratamento e destino de carcaças de 
animais vem sendo amplamente pesquisado desde a década de 2000. Este sistema 
tem como objetivo converter a matéria orgânica, tal como esterco fresco de aves, 
cama de aviário ou restos de culturas em um material quimicamente mais uniforme e 
com baixa presença de substâncias odoríferas, chamado húmus ou composto. 
 
Para que este processo ocorra é necessário à existência de uma relação 
adequada entre carbono e nitrogênio no material (cerca de 30 de Carbono para 1 de 
Nitrogênio), um conteúdo adequado de umidade (40 a 50%) e um adequado 
suprimento de oxigênio para desenvolvimento das bactérias que irão processar a 
fermentação (SEIFFERT, 2000). 
 
 
Foto 08 – Início da compostagem - Adição de marravalha e água. 
 
30
A Foto 08 mostra o início do processo de compostagem com maravalha, 
utilizada como fonte de carbono e a adição de água em quantidade adequada para 
propiciar o ambiente necessário para a decomposição de carcaças. 
 
No entanto, a baixa relação entre carbono e nitrogênio presente nas carcaças 
de modo geral, limitam a atividade biológica no composto, interferindo na 
decomposição destes resíduos. Torna-se necessário adicionar ao sistema fontes 
alternativas de carbono como a palha, casca de arroz e resíduos de cereais. 
 
A maravalha é indicada para a compostagem por conter características ideais. 
São exemplos: alta relação Carbono/Nitrogênio (aproximadamente 140:1), alta 
porosidade e pela sua capacidade de acomodar-se bem ao redor das carcaças. O 
processo de decomposição se inicia com a deposição das carcaças (Foto 09), 
cobertas por uma camada de maravalha, a qual serve como fonte de carbono. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Foto 09 – Disposição das aves na composteira 
 
Inicialmente ocorrem reações bioquímicas de oxidação intensa do material, 
desencadeada pela ação de microorganismos termofílicos, principalmente bactérias, 
protozoários, fungos e actinomicetos, que atuam no material compostado elevando a 
 
31
temperatura a 60 a 70ºC e acelerando o processo de decomposição. Posteriormente 
a temperatura decai, ocorrendo o processo de humificação. 
 
O processo de compostagem reduz o peso, volume e o teor de umidade do 
material original. DE LUCAS JUNIOR (2003) observou uma redução de 40% no 
conteúdo de Nitrogênio do material original, obtendo no final do processo um 
produto rico em matéria orgânica, uniforme e adequado para uso em jardinagem e 
viveiros de plantas. 
 
PAIVA (2002) analisaram diferentes amostras de material compostado a partir 
de carcaças de aves e concluíram que uma tonelada de composto corresponde 16,8 
kg de nitrogênio (N), 20,9 Kg de fósforo (P2O5) e 14,1 Kg de potássio (K2O). A média 
de concentração de nutrientes pode ser verificada na Tabela 04. 
 
Tabela 04 – Percentual de nutrientes em amostras de compostos de carcaças de aves 
Elemento Percental (%) 
Nitrogênio (N Total) 1,85 
Nitrogênio amoniacal 0,15 
Nitrogênio orgânico 1,79 
Fósforo (P2O5) 2,29 
Potássio (K2O) 1,56 
Fonte: Adaptado de PAIVA (2002). 
 
Porém, a qualidade do material utilizado, como substrato para a composteira, 
método e tempo de estocagem, ainda, o tipo de carcaça utilizada interfere na 
composição de nutrientes do produto final. Desta forma, analisar o produto obtido 
antes de ser aplicado ao solo evita a aplicação exagerada de nutrientes. 
 
A utilização deste método de compostagem permite um rápido e seguro 
destino aos resíduos da produção avícola, como no caso das carcaças de animais 
mortos. Se conduzido corretamente reduz a emissão de odores, contaminação das 
águas destrói agentes patogênicos, fornecendo como produto final um composto 
orgânico que pode ser utilizado no solo sem risco ao meio ambiente (DE LUCAS 
JUNIOR, 2003). 
 
 
 32
UNIDADE II 
 
ASPECTOS RELACIONADOS À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 
 
 
Resíduos sólidos são conceituados pela Associação Brasileira de Normas 
Técnicas (NBR 10.004/02 – ABNT), como resíduos descartáveis ou inúteis para a 
atividade urbana, agrícola, radioativa e outros (perigosos e/ou tóxicos), em estado 
sólido, semi-sólido ou líquido. Inclui nesta definição lodos provenientes de sistemas 
de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalaçõesde controle 
de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável 
seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos d’água. 
 
Os resíduos sólidos orgânicos de origem animal e vegetal constituem uma 
fonte potencialmente causadora de impactos ambientais sobre o meio físico, 
particularmente sobre os mananciais hídricos, superficiais e subterrâneas. 
 
Os dejetos de animais são integrantes do processo produtivo. Assim, pela sua 
relação com a qualidade ambiental, esses resíduos exigem formas de tratamento e 
reciclagem adequados, sob pena de inviabilizar a atividade pecuária empresarial 
baseada em sistemas confinados como a avicultura. 
 
As alternativas de manejo destes resíduos dependem da situação particular 
de cada propriedade e das restrições impostas pelos órgãos ambientais federais, 
estaduais ou municipais. De modo geral, as restrições baseiam se no impacto, na 
forma de manejo sobre o controle de doenças e sobre a qualidade do ar e da água. 
 
O desenvolvimento sustentável busca atender as necessidades do presente 
sem comprometer as gerações futuras, ou seja, é um processo de transformação no 
qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a orientação do 
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o 
potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações humanas 
(BARBIERI, 1997). 
 33
É dever da coletividade, defender e preservar o meio ambiente. Para tanto é 
necessário um trabalho de conscientização pública através da promoção de 
educação ambiental (CF, art. 225, § 1º, VI), de informação e publicidade dos projetos 
e programas públicos e privados que comprometam a qualidade de vida. 
 
A garantia da preservação e restauração dos recursos ambientais locais e 
regionais depende, portanto, da ação conjunta e integrada do poder público e da 
coletividade. 
 
A Lei 6938, publicada em 1981 dispõe sobre a Política Nacional de Meio 
Ambiente, estabelecendo em seu artigo 2º a importância da qualidade ambiental, a 
preservação e recuperação de áreas degradadas para o desenvolvimento sócio-
econômico, segurança nacional e manutenção do equilíbrio ecológico, considerando 
o meio ambiente patrimônio público e de uso coletivo. Aborda ainda a necessidade 
da racionalização do uso do solo, subsolo, água e ar, planejamento e fiscalização do 
uso dos recursos naturais, controle e zoneamento de atividades potencialmente ou 
efetivamente poluidoras (CONAMA, 2005). 
 
A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 dispõe sobre as sanções penais e 
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, 
responsabilizando pessoa jurídica ou pessoas físicas, autoras, co-autoras ou 
partícipes do mesmo fato. Em seu capítulo V, Artigo 33°, considera crime ambiental 
a emissão de efluentes ou carreamento de materiais, provocando o perecimento de 
espécies da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas ou águas 
jurisdicionais brasileiras. Na Seção III, Artigo 54° considera infrator quem possa 
causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam 
resultar em danos à saúde humana, fauna e flora. 
 
No entanto, a legislação federal dispõe de forma generalizada sobre os 
cuidados a serem tomados com o destino de subprodutos das atividades humanas, 
ficando a cargo dos estados a legislação mais específica a respeito. Na legislação 
federal não há citações específicas, quanto ao destino de carcaças ou resíduos 
sólidos, decorrentes da produção agrícola. Da mesma forma, a legislação ambiental 
de alguns estados aborda indiretamente o tema. 
 34
A Lei n° 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispõ e sobre a política agrícola 
prevê, em seu Capítulo II, Artigo 4°, Inciso IV a p roteção do meio ambiente, 
conservação e recuperação dos ambientes degradados. Para tal estabelece em seu 
Capítulo V, Artigo 16° a necessidade de institucion alizar a assistência técnica e 
extensão rural buscando viabilizar, com o produtor rural, proprietário ou não, suas 
famílias e organizações, soluções adequadas a seus problemas de produção, 
gerência, beneficiamento, armazenamento, comercialização, industrialização, 
eletrificação, consumo, bem-estar e preservação do meio ambiente. 
 
O Capítulo VI aborda sobre a proteção ao meio ambiente e a conservação 
dos recursos naturais. Indicando o Poder Público como responsável por disciplinar e 
fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora através de zoneamento 
agroecológico, permitindo estabelecer critérios para disciplinar e ordenar a 
ocupação. 
 
Em seu Capítulo VII estabelece como função do poder público coordenar 
programas de estímulo e incentivo à preservação das nascentes dos cursos d’água 
e do meio ambiente, bem como o aproveitamento de dejetos animais para a 
conversão de fertilizantes. 
 
No entanto, no Parágrafo Único estabelece que a fiscalização e o uso racional 
dos recursos naturais do meio ambiente são também da responsabilidade dos 
proprietários de direito, dos beneficiários da reforma agrária e dos ocupantes 
temporários dos imóveis rurais. 
 
No Estado do Paraná, a Lei nº 12.493, publicada em 05 de fevereiro de 1999, 
estabelece princípios, procedimentos, normas e critérios referentes à geração, 
acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destino final 
dos resíduos sólidos, visando controle da poluição e da contaminação, minimizando 
seus impactos ambientais. 
 
Esta Lei define como resíduos sólidos, no Artigo 2º, qualquer forma de 
matéria ou substância, no estado sólido e semi-sólido, que resultem de atividade 
industriais, domésticas, hospitalares, comerciais, agrícolas, de serviços, de varrição 
 35
e de outras atividades da comunidade, capazes de causar poluição ou contaminação 
ambiental. Preconiza em seu Artigo 3° que as técnic as de tratamento utilizadas 
devem ser baseadas na reutilização e/ou reciclagem de resíduos sólidos, exceto nos 
casos em que não exista tecnologia viável. 
 
A Lei nº 9.921, do Estado do Rio Grande do Sul, publicada em julho de 1993, 
dispõe sobre resíduos sólidos, considerando como tal para efeito legal àqueles 
provenientes da atividade rural. Em seu Artigo 5° estabelece critérios para a 
destinação final dos resíduos quando estes poluem potencialmente o solo, tomando 
medidas adequadas para a proteção de águas superficiais e subterrâneas. 
 
Restringe, em Parágrafo Único, a deposição de resíduos considerados 
perigosos pelo órgão ambiental estadual, permitindo sua deposição no solo somente 
após o condicionamento e tratamento adequado. 
 
Neste caso, o órgão ambiental fiscaliza o cumprimento dessas leis, amparado 
pelo Artigo 9° da Lei Federal nº 6.938/81 que trata dos instrumentos da Política 
Nacional do Meio Ambiente, seus mecanismos de formulação e aplicação, dentre os 
quais cita o licenciamento ambiental. 
 
Esta situação também pode ser observada no Estado do Paraná através da 
Secretaria Estadual do Meio Ambiente pela Resolução 031/98 publicada em agosto 
de 1998. Em seu Capítulo II dispõe sobre o licenciamento e autorização ambiental 
para atividades poluidoras, normatizando as etapas para a implantação de um 
determinado projeto. Aborda, porém, em seu Capítulo III como sendo passíveis de 
autorização e licenciamento especial somente as atividades agropecuárias de 
suinocultura e piscicultura. 
 
Nesta situação o gerador de resíduo é cadastrado conforme sua atividade 
potencialmente ou efetivamente poluidora, e orientado a estabelecer um cronograma 
para implantação e tratamento de resíduos, mediante uma licença prévia do órgão 
ambiental. 
 
 36
Posteriormente um projeto com detalhes sobre o sistema de coleta, 
transporte, tratamento e destino desse material permitem a emissão de uma licença 
deinstalação. Informações fundamentais como a previsão de área disponível para a 
disposição do resíduo, tipo de solo, altura do lençol freático, nome do proprietário da 
área onde será depositados o esterco e cultura são dados fundamentais para a 
obtenção da licença desta operação. 
 
Como regra geral, os proprietários rurais, produtores e operadores são 
responsáveis pela obtenção de licenciamento ambiental para o desenvolvimento de 
atividades rurais poluidoras, sendo que, estes ainda devem produzir dentro de 
normas e regulamentos legais existentes. 
 
Este procedimento adotado pelo órgão ambiental restringe-se basicamente a 
atividade suinícola, normatizando o tratamento e o destino adotado para os dejetos 
desta atividade. Não há citações legais sobre outras atividades agropecuárias que 
apresentam a mesma característica de produção, como a avicultura de corte. 
 
Porém, a dinâmica do setor avícola, caracterizado pelo mercado de escala, 
leva ano-a-ano a um aumento significativo no volume de aves alojadas na mesma 
propriedade rural ou região e, conseqüentemente, aumentando o volume de 
resíduos decorrentes do processo na mesma proporção. 
 
Diante disso, alguns estados como o Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, 
Santa Catarina, São Paulo e Paraná, caracterizados por concentrar a maior parte da 
produção de aves de corte brasileira, tentam estabelecer para esta atividade o 
mesmo critério utilizado para a suinocultura. Desta forma, para implantar um 
empreendimento avícola o produtor necessitaria de licenciamento ambiental. 
 
Segundo PAIVA (2002), os destinos de resíduos gerados na produção de 
aves adotados pelos produtores deveriam prevenir problemas comuns como a 
proliferação de insetos, maus odores e principalmente evitar a contaminação 
ambiental. São condenadas práticas que não atendam a estes requisitos. 
 
 37
A Resolução no 283, publicada em 12 de julho de 2001 pelo CONAMA (2005) 
dispõe sobre resíduos gerados nos serviços de saúde, definindo o sistema de 
tratamento destes resíduos através de processos e procedimentos que alteram as 
características físicas, físico-químicas, químicas ou biológicas de maneira a 
minimizar os riscos a saúde pública e ao meio ambiente (PAIVA, 2002). 
 
Segundo PAIVA (2002) a utilização da compostagem dos resíduos da 
produção avícola atenderia as características propostas na Resolução nº 283, 
anteriormente citada, mesmo que estes resíduos não pertençam à categoria 
daqueles derivados dos serviços de saúde. Para este autor, este processo biológico 
eliminaria agentes patogênicos, transformando os resíduos em material aproveitável. 
 
Faz-se necessário uma discussão ampla sobre o tema, buscando alternativas 
que limitem os impactos causados pela atividade avícola no ambiente. 
 
Deste modo, acreditamos que o método de compostagem, bem conduzido e 
dimensionado, possa atender as necessidades atuais do sistema de produção de 
frangos de corte no gerenciamento de seus resíduos, principalmente, naqueles 
relacionados a carcaças de aves mortas. Além disso, consideramos que o método 
de fermentação poderia ser empregado para o tratamento da cama do aviário 
objetivando reduzir sua carga microbiológica e possivelmente aumentando sua vida 
útil. Desta forma teríamos menor disponibilidade deste resíduo e consequentemente 
uma menor possibilidade de impacto no solo e água. 
 
Nestes termos, a Constituição Federal estabelece que o estado, através das 
agências ambientais federais, estaduais e municipais, deve qualificar recursos 
humanos, conduzir pesquisas e monitorar as condições físicas, químicas e 
bacteriológicas do ar, solo e da água com o propósito de minimizar riscos de 
degradação ambiental. 
 
Uma ação conjunta entre o Poder público, iniciativa privada, cooperativas, 
associações de produtores e instituições de pesquisa poderiam veicular esta 
tecnologia até o produtor de forma mais abrangente e efetiva. 
 
 38
UNIDADE III 
 
NORDESTE DO PARANÁ: RESÍDUOS DA PRODUÇÃO AVÍCOLA 
E SEU GERENCIAMENTO 
 
 
Esta Unidade aborda a produção e o gerenciamento de resíduos sólidos 
gerados pela produção de frangos de corte em propriedades rurais do Nordeste do 
estado do Paraná. 
 
Para tal, faremos uma breve discussão sobre a avicultura Paranaense, 
objetivando embasamento teórico ou referencial no conteúdo desta unidade. 
 
Em 2001, o Estado do Paraná tornou-se o maior produtor nacional de frangos 
de corte. Segundo UBA (2005), no Brasil foram abatidos 4,042 bilhões de frangos 
em 2004. A produção paranaense passou a representar 22,72% do total de aves 
abatidas no Brasil, conforme mostra a Tabela 05. 
 
Tabela 05 – Abate de Frangos de corte no Brasil em 2003/2004, por estado. 
Estado Nº de aves 
2004 
Particip. 
% 2004 
Nº de aves 
2003 
Particip. 
% 2003 
Crescim. 
% 
Paraná 918.483.512 22,72 813.373.908 21,90 12,92 
Santa Catarina 712.581.904 17,63 648.752.226 17,47 9,84 
Rio Grande do Sul 607.278.961 15,02 602.214.275 16,22 0,84 
São Paulo 539.134.821 13,34 467.215.143 12,58 15,39 
Minas Gerais 256.503.939 6,35 233.044.561 6,28 10,07 
Goiás 154.740.689 3,83 138.022.314 3,72 12,11 
Mato Grosso do Sul 116.875.377 2,89 112.086.545 3,02 4,27 
Mato Grosso 69.049.273 1,71 66.331.766 1,79 4,1 
Bahia 42.857.510 1,06 33.228.18 0,89 28,98 
Pernambuco 40.568.863 1,00 37.139.875 1,00 9,23 
Distrito Federal 34.677.153 0,86 31.506.211 0,85 10,06 
Outros com SIF 32.972.377 0,82 30.488.925 0,82 8,15 
Total com SIF 3.525.724.379 87,22 3.213.403.867 86,53 9,72 
Abate sem SIF 516.632.399 12,78 500.281.207 13,47 3,27 
Total Brasil 4.042.356.778 100 3.713.685.074 100 8,85 
Fonte: UBA (2005). 
 
Outro dado relevante apresentado na Tabela 05 se refere ao crescimento de 
12,9% na quantidade de aves abatidas em 2004 pela avicultura paranaense quando 
comparado ao ano anterior, superando a média brasileira de 8,85%. 
 39
A avicultura paranaense é responsável por gerar 50.000 empregos diretos e 
se estima que aproximadamente 500.000 empregos de forma indireta 
(SINDIAVIPAR, 2005). Este dado reflete a realidade crescente da atividade avícola 
de corte no Estado do Paraná e sua relação com o desenvolvimento social e 
econômico do estado. 
 
A estrutura industrial do estado é composta por 31 abatedouros de aves 
sendo que destas, 10 encontram-se na região Nordeste (Figura 04). Em 2004, na 
região Nordeste do Paraná foram abatidas 17.500.000 aves ao mês, o que 
corresponde a 19,7% do número de aves abatidas no Estado (SINDIAVIPAR, 2005). 
Esta área se caracteriza como uma das principais regiões produtoras do país. 
 
A população de aves de corte do Paraná se encontra distribuída em vários 
municípios e de modo geral, se concentra naqueles onde se localizam as Indústrias 
ou plantas de abate ou ainda nos municípios adjacentes. 
 
3.1 Uso e Ocupação do Solo na Área da Pesquisa 
 
Na área de estudo, a produção avícola concentra-se basicamente no Terceiro 
Planalto Paranaense. A ocupação desta região se deu a partir da década de 1930, 
com a forte presença das companhias imobiliárias. Estas companhias imobiliárias 
colonizadoras traçaram um novo aspecto com a colonização dirigida a pequenas 
propriedades. O intenso desenvolvimento da cafeicultura e o cosmopolismo12 de 
seus povoadores definiram as especificidades da paisagem regional (MORO, 1998). 
 
No entanto, em pouco de tempo, uma série de fatores econômicos, naturais e 
estruturais contribuíram para a decadência do sistema produtivo vigente na região. 
A espacialização da população, a reestruturação fundiária e a modernização 
agrícola do Estado do Paraná estão associadas às geadas que ocorreram nesse 
período, na legislação social estendida ao campo e na política de modernização da 
agricultura. 
 
12Pessoa que apresenta

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