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1
Meio ambiente e desenvolvimento sustentável no Brasil: uma 
descrição de indicadores de sustentabilidade ambiental 
aplicáveis à realidade brasileira∗ 
 
Laura Mendes Serrano♣ 
Alisson Flávio Barbieri♦ 
 
 
Palavras-chave: indicadores; desenvolvimento sustentável; meio ambiente; Brasil. 
Resumo 
Mensurações dos efeitos gerados pelo desenvolvimento socioeconômico das 
populações sobre o meio ambiente ainda são escassas, já que as ferramentas existentes não 
são numerosas e, muitas vezes, pouco desenvolvidas, devido à própria dificuldade em se fazer 
tal mensuração, que requer uma abordagem multidimensional e interdisciplinar. No presente 
estudo, são descritos três dos principais indicadores de sustentabilidade ambiental: Ecological 
Footprint Method (Método da Pegada Ecológica), Dashboard of Sustainability (Painel de 
Controle de Sustentabilidade) e Environment Sustainability Index (Índice de Sustentabilidade 
Ambiental). Estes instrumentos são apresentados a partir de suas origens e concepção de 
desenvolvimento sustentável. Descreve-se a operacionalização das ferramentas e as principais 
vantagens e desvantagens de sua utilização. Apresentou-se, também, a evolução do tratamento 
da questão ambiental no Brasil, sendo realizadas discussões sobre o contexto urbano-
industrial e o espaço rural. Por fim, concluiu-se que a ferramenta mais adequada, em relação à 
aplicabilidade para a unidade de análise municipal brasileira e à capacidade de obtenção de 
resultados satisfatórios e de fácil compreensão por parte do público em geral, é o Environment 
Sustainability Index. Apesar do conhecimento de que a elaboração e aplicação de indicadores 
de sustentabilidade ambiental são bastante complexas e, muitas vezes, imprecisas, sabe-se que 
o esforço de avaliar a performance do processo de desenvolvimento sustentável é 
imprescindível, a fim de proporcionar novos subsídios para orientar decisões governamentais 
e a execução de políticas públicas mais eficientes, mitigando impactos ambientais nocivos às 
populações, sem que a relevância do desempenho econômico seja descartada. 
 
∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – 
Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. 
♣ Estudante do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-bolsista 
do Programa de Educação Tutorial (PET-Economia) da mesma instituição (período: ago/2005 a jan/2007). 
♦ Professor adjunto e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro de 
Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR). 
 2
Meio ambiente e desenvolvimento sustentável no Brasil: uma 
descrição de indicadores de sustentabilidade ambiental 
aplicáveis à realidade brasileira∗ 
 
Laura Mendes Serrano ♣ 
Alisson Flávio Barbieri ♦ 
 
 
 
1. Introdução 
Em 1972, foi realizada, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio 
Ambiente Humano. A partir de então, a questão ambiental começou a alcançar uma maior 
visibilidade no cenário global, sendo, relativamente, mais enfatizada na formulação de 
políticas de instituições governamentais oficiais de várias nações. Assim, fundou-se no Brasil, 
em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente, sendo criado o princípio de socialização 
dos custos, que orientaria o estabelecimento de sistemas de licenciamento ambiental e o 
controle de poluição. 
A preocupação com o meio ambiente e com o a conservação de recursos naturais 
importantes à perpetuação da vida humana não pode ser desvencilhada do debate que envolve 
os efeitos do desenvolvimento sócio-econômico dos países em desenvolvimento e das 
conseqüências geradas pelo padrão de consumo dos países desenvolvidos. Nesse sentido, são 
enfáticas as discussões a respeito da proposta do desenvolvimento sustentável. 
O conceito de desenvolvimento sustentável mais aceito atualmente foi difundido pelo 
Relatório da Comissão Brundtland, também conhecido como Nosso futuro comum, de 1988. 
De acordo com o relatório, o desenvolvimento sustentável deveria proporcionar o 
atendimento às necessidades das gerações presentes sem, no entanto, comprometer a 
possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. (CMMAD, 
1988). 
O desenvolvimento sócio-econômico e o meio ambiente são temas ubíquos nos 
debates acerca do desenvolvimento sustentável. O crescimento econômico, sem uma 
preocupação adequada com a preservação do meio ambiente, gera impactos ambientais que 
prejudicam enormemente a qualidade de vida das populações e a própria sustentabilidade dos 
sistemas produtivos vigentes, no longo prazo. Além disso, a imagem de desenvolvimento 
 
∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – 
Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. 
♣ Estudante do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-bolsista 
do Programa de Educação Tutorial (PET-Economia) da mesma instituição (período: ago/2005 a jan/2007). 
♦ Professor adjunto e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro de 
Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR). 
 3
social muitas vezes encontra-se, erroneamente, associada à busca pelo padrão de consumo dos 
países industrializados mais desenvolvidos. 
É importante salientar que os impactos sobre o meio ambiente, como a emissão de 
gases poluentes, a erosão, a desertificação, o desmatamento, a poluição de recursos hídricos, a 
disposição de resíduos tóxicos, etc, afetam a biodiversidade da flora e da fauna. O conceito de 
biodiversidade é bastante amplo, envolvendo a diversidade genética, a diversidade de espécies 
e a diversidade de ecossistemas. Entretanto, abrange tanto a dimensão quantitativa, quanto a 
qualitativa, ou seja, engloba o número e variedade de genes, espécies e ecossistemas, assim 
como a qualidade de vida dos seres e a saúde do ambiente em que eles estão inseridos. 
(PAULA et al, 1997). Além disso, a exaustão da biodiversidade pode acarretar diversas 
perdas econômicas para certos setores, como é o caso das indústrias farmacêutica, cosmética e 
médica. 
O presente trabalho objetiva promover fundamentação teórica acerca da questão do 
meio ambiente e o desenvolvimento sócio-econômico, a partir da perspectiva do 
desenvolvimento sustentável. Este trabalho aborda, principalmente, a mensuração da 
sustentabilidade ambiental, através da apresentação dos indicadores mais utilizados, a fim de 
se obter uma base para pesquisa empírica futura que envolva a construção e análise de índices 
de sustentabilidade ambiental para os municípios brasileiros. 
Na seção 2, será descrita a evolução da questão ambiental no Brasil, principalmente no 
que tange aos tipos de políticas ambientais realizadas. Relata-se desde o bissetorialismo 
preservacionista ao multissetorialismo orientado ao desenvolvimento sustentável, com base 
no trabalho de Viola e Leis (1995). Ainda é realizada uma apreciação, consoante, 
principalmente, com Torres (1995), acerca do contexto urbano-industrial brasileiro e a crise 
provocada pela falta de saneamento ambiental, que não é capaz de atender à totalidade da 
população de forma satisfatória. É feita, também, uma discussão a respeito da biodiversidade 
presente no espaço brasileiro, levando-se em consideração, principalmente, a área rural, e a 
questão do desmatamento em território nacional, com base em estudo realizado por Seroa da 
Motta (1996). 
A seção 3 trata do foco do presente estudo. Nela é realizada a descrição de três dos 
principais indicadores de sustentabilidade ambiental utilizados atualmente para a avaliação do 
desenvolvimento sustentável praticado desde uma localidade mais pontual até nações inteiras. 
Sãoapresentadas as origens, a concepção de desenvolvimento sustentável utilizada na 
construção de cada ferramenta de análise, a operacionalização do indicador e as vantagens e 
desvantagens mais relevantes, para cada um dos instrumentos descritos. A seção 4.1 refere-se 
ao Ecological Footprint Method (Método da Pegada Ecológica), a seção 4.2 trata do 
Dashboard of Sustainability (Painel de Controle de Sustentabilidade) e a seção 4.3 descreve o 
Environmental Sustainability Index (Índice de Sustentabilidade Ambiental). 
A escolha pelo estudo destas três ferramentas deveu-se ao fato de propiciarem a 
materialização da performance do desenvolvimento sustentável em indicadores de fácil 
compreensão, apesar da operacionalização mais complexa. Tal característica é bastante 
louvável, pois possibilita atingir de forma mais precisa a opinião pública e os tomadores de 
decisão governamental, na medida em que a compreensão dos resultados é do alcance de 
todos e não só de especialistas da área ambiental. Além disso, Van Bellen (2003) realizou 
uma pesquisa entre especialistas da área de desenvolvimento com o intuito de verificar quais 
os instrumentos mais relevantes no contexto internacional contemporâneo para se avaliar o 
desenvolvimento sustentável. Dentre as ferramentas selecionadas, encontravam-se o 
 4
Ecological Footprint Method (Método da Pegada Ecológica) e o Dashboard of Sustainability 
(Painel de Controle de Sustentabilidade). 
(...) elaborou-se, primeiramente a partir de pesquisa documental e bibliográfica, uma 
lista com os principais sistemas indicadores de sustentabilidade que vêm sendo 
desenvolvidos e utilizados atualmente. Esta lista de sistemas de indicadores, 
juntamente com um questionário, foi enviada a uma amostra intencional de 
especialistas da área de desenvolvimento cuja tarefa principal era selecionar, dentre 
as ferramentas, quais as mais relevantes no contexto internacional contemporâneo. 
Os resultados deste questionário conduziram à escolha das (...) principais 
ferramentas de avaliação de sustentabilidade, na percepção dos especialistas da área 
consultados (VAN BELLEN, 2003, p.67-68). 
Na última seção, são tecidas as considerações finais a respeito deste estudo e é 
apresentada uma sugestão para a realização de pesquisa empírica futura que aborde a 
construção de indicadores de sustentabilidade ambiental para municípios brasileiros. Foi 
realizada a escolha de uma das ferramentas estudadas para se construir os indicadores 
municipais, a qual foi considerada mais adequada em relação à aplicabilidade para tal unidade 
de análise e no que diz respeito à capacidade de obtenção de resultados satisfatórios e de fácil 
compreensão por parte do público em geral. 
2. A evolução da questão ambiental no Brasil 
2. 1. Bissetorialismo preservacionista 
Os primeiros antecedentes do ambientalismo no Brasil datam de 1958, quando foi 
criada a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. O início do processo de 
formação do ambientalismo brasileiro pode ser caracterizado como um movimento bissetorial, 
em que a sociedade civil e o Estado articulam-se no debate a respeito da questão ambiental. 
 O movimento ambientalista e o ambientalismo são termos usados no texto com um 
sentido amplo e sem restrições. Advertimos que isso não deve levar a confundir o 
ambiental com o ecológico. O ecologismo e o ambientalismo, num sentido 
conceitual estrito, denotam teorias e objetivos diferenciados, embora o uso vulgar 
dos termos tenda a ser assimilado indiferenciadamente. Por razões de conveniência 
comunicacional preferimos usar o termo ambientalismo de um modo inclusive para 
os campos do ‘ambientalismo’ e ‘ecologismo’ ante a falta de um terceiro termo que 
nos permitisse melhor dar conta do amplo espectro do movimento histórico 
multissetorial que engloba os elementos de um e de outro campo quase sem solução 
de continuidade (VIOLA e LEIS, 1995, p. 97). 
Dessa forma, as associações ambientalistas civis e as agências estatais de meio 
ambiente são, neste período inicial, as principais instituições que se preocupam com a 
temática referente ao meio ambiente, possuindo um caráter simultâneo de conflito e 
cooperação entre si. A atuação destas associações e agências está baseada em denúncias e na 
conscientização pública sobre a degradação ambiental. Objetiva-se, principalmente, o controle 
da poluição urbano-industrial e agrária e a preservação dos ecossistemas naturais (VIOLA e 
LEIS, 1995). 
O caráter de conflito, mencionado anteriormente, ocorre em torno da problemática 
sócio-ambiental: as associações civis ficam insatisfeitas com a demora de apuração das 
denúncias por parte das agências estatais e estas, por sua vez, questionam a ingenuidade das 
primeiras por não atentarem para as forças econômicas que agem sobre o conflito sócio-
 5
ambiental. O caráter de cooperação ocorre por causa das diversas atuações integradas entre 
Estado e sociedade civil e devido à articulação necessária entre as agências estatais de meio 
ambiente e as associações ambientais. 
As associações ambientalistas brasileiras foram bastante influenciadas pelos 
movimentos norte-americano e europeu, no que tange ao sistema de valores e à formulação de 
um programa de: 
(...) questionamento da civilização urbano-industrial pelos seus impactos 
devastadores sobre a natureza, promoção da ecologia como ciência da sobrevivência 
e de uma nova ética ecológica, combate à poluição causada por indústrias e veículos 
e à destruição das belezas paisagísticas, causadas por empreendimentos humanos, 
luta contra o uso exagerado da mecanização agrária e contra o uso indiscriminado de 
agrotóxicos, preservação da flora e da fauna nativas (VIOLA e LEIS, 1995, p. 82). 
Entretanto, não são adotados como relevantes alguns aspectos considerados 
importantes para o ambientalismo internacional, como, por exemplo, estímulos ao 
planejamento familiar (decorrentes da problemática do crescimento populacional) e o uso 
conservacionista dos recursos naturais. 
O planejamento familiar nunca foi objeto de política pública no Brasil por diversos 
fatores, entre os quais se destacam a resistência de certas camadas da sociedade civil (por 
exemplo, a Igreja) e, principalmente, o fato de que as taxas de fecundidade brasileiras 
começaram a decrescer de forma bastante expressiva, sem que houvesse intervenção estatal. 
Já a não adoção do uso conservacionista dos recursos da natureza deveu-se à intenção, cada 
vez mais evidente, de busca por elevadas taxas de crescimento econômico, o que fez com que 
os recursos naturais do Brasil fossem considerados ilimitados, acreditando-se na necessidade 
de ”explorá-los do modo mais rápido e intenso possível” (VIOLA e LEIS, 1995) a fim de se 
alcançar tal objetivo. 
É válido ressaltar que a recepção das entidades brasileiras, no que tange a essa 
incorporação de elementos do ambientalismo internacional, foi acrítica, segundo Viola e Leis 
(1995). Não foi pensada a especificidade da situação brasileira em relação ao tremendo atraso 
de saneamento básico, uma questão que, em grande parte, já havia sido resolvida nos países 
desenvolvidos. 
Em 1972, houve a Conferência de Estocolmo, em que o Brasil destacou-se pela 
posição tomada em conjunto com outros países em desenvolvimento: resistência ao 
reconhecimento da problemática ambiental e negação dos aspectos negativos advindos da 
explosão demográfica. O principal argumento defendido por esses países era o de que a maior 
poluição é a miséria e, dessa maneira, o Brasil conduziu políticas de atração de indústrias 
poluentes e migração de populações desfavorecidas de alta fecundidade para a Amazônia, 
com o intuito de evitar a reforma agrária nas regiões de origem destas populações (VIOLA e 
LEIS, 1995), mas também devido a uma estratégia geopolítica mais ampla, que tinha como 
objetivo a ocupação de “espaços vazios” em territórioamazônico. 
Em 1973, fundou-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente, que tinha por intuito 
atenuar a imagem negativa que o Brasil adquiriu no contexto internacional, após a 
Conferência de Estocolmo. Surge o princípio de socialização dos custos, que orienta o 
estabelecimento de sistemas de licenciamento ambiental e o controle de poluição. 
 6
2. 2. Multissetorialismo orientado ao desenvolvimento sustentável 
Durante a segunda metade da década de 1980, a progressiva disseminação da 
preocupação pública, interna e externa ao Brasil, transforma o ambientalismo em um 
movimento que adquire feição multissetorial e ampla. 
Dessa forma, o ambientalismo brasileiro passa a ser constituído por cinco setores. 
Alguns destes setores possuem maior dinamismo e influência do que outros, mas a articulação 
entre eles, em maior ou menor grau, é decisiva para a caracterização da nova fase do 
ambientalismo brasileiro. Os setores são: 1. associações ambientalistas; 2. agências estatais; 3. 
socioambientalismo; 4. instituições científicas; 5. reduzido setor empresarial. (VIOLA e 
LEIS, 1995) 
Entre as associações ambientalistas surge um movimento generalizado de 
institucionalização, em que houve uma migração em massa do voluntarismo para o 
profissionalismo. De acordo com Viola e Leis (1995), o objetivo deixa de ser a simples 
denúncia, configurando-se na afirmação de alternativas viáveis de conservação ou restauração 
ambiente danificado. Além disso, as entidades profissionais introduzem um novo estilo 
administrativo no país, que combina a eficiência e o interesse social de longo prazo. 
Em 1987, por iniciativa do deputado Fábio Feldmann, líder da Oikos – uma 
importante entidade ambiental do país – funda-se o bloco parlamentar verde, que lutou por 
uma maior ecologização da nova constituição. Estes fatos demonstram que a problemática 
ambiental torna-se evidente e bastante difundida no plano mundial e em território nacional. 
A partir de 1988, observam-se várias mudanças no tratamento da questão ambiental. A 
economia e a ecologia, que antes eram percebidas como duas realidades antagônicas, passam 
a obter uma certa integração sob a ótica do desenvolvimento sustentável. Isso se deveu a 
vários fatores, como a influência e repercussão generalizada do “Relatório Brundtland” no 
cenário mundial, e a acentuação da crise econômica e das finanças públicas, que fizeram com 
que as entidades ambientalistas valorizassem o desenvolvimento econômico (baseado na 
sustentabilidade ambiental), pois elas não pretendiam perder a influência já adquirida perante 
as instituições governamentais. 
Assim, em janeiro de 1989, no auge da crise ambiental ocasionada pelas queimadas na 
região amazônica e o assassinato de Chico Mendes, o governo cria o Instituto Brasileiro de 
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em que pela primeira vez é 
associada a proteção ambiental ao uso conservacionista de alguns recursos naturais1. 
O socioambientalismo, um dos setores que passa a existir com o surgimento do 
ambientalismo multissetorial, inclui diversos movimentos ambientalistas, sindicatos e 
organizações não-governamentais, os quais, apesar de possuírem outros objetivos precípuos, 
encaram a proteção ambiental como uma dimensão relevante na sua área de atuação. 
 
 
 
_______________________________ 
1 Atualmente, a preocupação governamental com questões ambientais tornou-se mais evidente. Organizações 
públicas estaduais que se concentram na temática do meio ambiente são muito mais freqüentes, podendo ser 
citada como exemplo a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), em Minas Gerais. A FEAM é um dos 
órgãos seccionais de apoio do Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) e atua vinculado à 
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD). No âmbito federal, o órgão 
integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). 
 7
Participam, destes movimentos, indígenas pela preservação e demarcação de reservas, e até os 
reduzidos movimentos pacifistas, que buscam a conscientização pública sobre o programa 
nuclear paralelo. 
A atuação de grupos científicos, provenientes de universidades e instituições de 
pesquisa, torna-se cada vez mais efetiva na temática ambiental. É merecido um destaque à 
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que atuou como um “catalisador desse 
movimento” (VIOLA e LEIS, 1995, p. 90). Há também os seminários nacionais anuais 
“Universidade e Meio Ambiente”, realizados a partir de 1986 e que fomentam debates entre 
os cientistas ambientais sobre os problemas do ensino e da pesquisa. No campo das ciências 
sociais, destacam-se o grupo de trabalho “Ecologia, Política e Sociedade”, que começou suas 
reuniões em 1988, vinculando-se aos Encontros Anuais da Associação Nacional de Pós-
graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) (VIOLA e LEIS, 1995) e o grupo de 
trabalho “População e Meio Ambiente” da Associação Brasileira de Estudos Populacionais 
(ABEP). 
O setor empresarial é, relativamente, o mais fraco dos cinco setores. Entretanto, possui 
uma significativa importância estratégica na passagem do ambientalismo brasileiro para uma 
fase em que o desenvolvimento sustentável se transforme no foco principal de propostas 
realistas, já que este é o setor em que mais se situa o debate ambiental no terreno do 
desenvolvimento sustentável. Alguns empresários e gerentes, alinhados com a temática do 
meio ambiente, pautam seus processos produtivos e investimentos pelo critério da 
sustentabilidade ambiental. Além disso, muitos deles dão significativo apoio financeiro às 
novas organizações ambientalistas profissionais. 
2. 3. Crise ambiental no contexto urbano-industrial brasileiro 
Os temas de preservação da vida selvagem e poluição atmosférica que se colocam 
como as temáticas ambientais globais, impedem uma maior apreciação da real situação 
sanitária das cidades do Terceiro Mundo, como a cidade de São Paulo no Brasil. Isso faz com 
que aspectos extremamente relevantes da conexão entre pobreza, urbanização e meio 
ambiente sejam deixados à margem das principais agendas ambientais internacionais. 
Assim, os “problemas ambientais tendem a ser veiculados junto à opinião pública 
como desafios que se colocam acima das especificidades sócio-culturais, econômicas e 
político-institucionais de cada nação” (HOGAN e VIEIRA, 1995, p.8). As entidades 
internacionais que lidam com a questão ambiental planetária privilegiam a questão amazônica 
no âmbito do território brasileiro, entretanto, a pressão do processo devastador de uma 
urbanização acelerada também gera grandes problemas para a população que está concentrada 
em outras regiões do país. Não se pode esquecer, porém, que a urbanização é, desde os anos 
de 1980, um crescente fenômeno nacional, inclusive na Amazônia. 
Todavia, é mister agir com cautela quando da realização deste tipo de análise, já que 
não se podem privilegiar os problemas ambientais urbanos em detrimento das, também 
graves, questões referentes ao meio ambiente que ocorrem no espaço rural. Diversos 
estudiosos e, particularmente, uma parcela significativa dos demógrafos, acreditam que a 
dicotomia urbano/rural é falsa e em nada ajuda a enfrentar os problemas ambientais globais, 
gerando, até mesmo, maiores dificuldades no processo de entendimento de tais fenômenos. 
No entanto, é inegável que “esgoto a céu aberto, poluição da água e sua utilização, 
favelização e formação de cortiços, aterros clandestinos, ocupação de encostas, enchentes e 
 8
etc.” (TORRES, 1995, p.171) são problemas recorrentes em cidades do Terceiro Mundo, e, 
inclusive, no Brasil. Com isso, percebe-se que os problemas ambientais urbanos têm um 
impacto significativo no nível de variáveis clássicas da qualidade de vida (mortalidade infantil 
e desnutrição, por exemplo). Demonstra-se,dessa forma, uma articulação entre meio 
ambiente, urbanização e pobreza, na medida em que promover a melhoria da condição 
ambiental implica prover a população de melhor qualidade de vida. 
Um aspecto de alta relevância que deve ser salientado é o fato mencionado por Torres 
(1995) de que não existem contradições entre melhorar o ambiente urbano e promover a 
redução nos indicadores do nível de pobreza urbana: 
 Enquanto a solução de vários dos problemas ambientais conhecidos implica algum 
grau de trade-off com o desenvolvimento econômico e a distribuição de renda 
(dadas as tecnologias atualmente adotadas) a solução dos problemas sanitários 
urbanos não necessariamente implica qualquer tipo de trade-off (TORRES, 1995, 
p.175). 
No Brasil, a urbanização ocorreu de forma bastante acelerada, tendo sido intensificada 
pelo processo de “modernização da agricultura”. Segundo Torres (1995), este processo 
incentivou a concentração fundiária e a especulação com a terra, contribuindo, em grande 
parte, para a “expulsão” da população rural para as áreas urbanas. A modernização citada 
gerou impactos ambientais indiretos nas áreas urbanas e nas regiões de fronteira, locais para 
onde as populações “expulsas” se dirigiram, além dos clássicos impactos originados do pacote 
tecnológico da revolução verde. 
Dessa forma, pode-se dizer que a conseqüência mais grave do fenômeno da 
urbanização acelerada no Brasil, do ponto de vista socioambiental, foi o fato de que as 
demandas sociais urbanas por elementos de infra-estrutura básica, como saúde, transporte, 
educação, habitação e etc., não puderam ser atendidas de maneira plena, onerando 
significativamente o sistema de arrecadação, que se encontrava comprometido com os 
esforços de “crescimento econômico a qualquer custo” e com o inchaço da administração 
pública (TORRES, 1995). 
Além da ocorrência mais intensa de poluição, oriunda diretamente do processo de 
industrialização, a urbanização, dentro desses parâmetros de escassez de recursos 
para políticas sociais, contribuiu crescentemente para a degradação do ambiente 
(TORRES, 1995, p.174). 
Assim, percebe-se que deve ser dada ênfase não só às conseqüências diretas da 
urbanização que provocam a degradação ambiental, mas também aos fatores indiretos gerados 
por esta urbanização, e que afetam de forma mais efetiva a população, possuindo uma forte 
ligação com a questão social da pobreza. 
A partir desta perspectiva, pode-se refletir a respeito da ocupação desordenada do 
espaço, da coleta de lixo, calçamento das ruas, redes de água, luz e esgoto, que nunca 
puderam acompanhar o ritmo de crescimento das cidades. Este processo foi tanto pior, quanto 
menos dinâmica a economia local. 
Assim, quando é debatida a questão dos espaços urbanos nacionais e sua relação com 
o meio ambiente, Torres (1995) afirma que a Região Metropolitana de São Paulo deveria, 
aparentemente, ser o foco de interesse. Entretanto as regiões periféricas, principalmente o 
Nordeste, tendem a ter seus problemas intensificados, porque nelas haveria um “maior ritmo 
 9
de crescimento urbano do que do Sudeste e do Sul e porque os desníveis regionais de renda se 
refletiriam em graves desníveis na dotação de infra-estrutura urbana” (TORRES, 1995, 
p.172). 
É preciso frisar, no entanto, que apesar da grande importância da Região 
Metropolitana de São Paulo, a relevância dos outros espaços urbanos na análise das questões 
ambientais mais problemáticas não pode ser diminuída, pois somente estudos e discussões 
que também envolvam tais espaços são capazes de proporcionar uma compreensão holística 
da situação dos problemas ambientais urbanos no Brasil. 
2. 4. Biodiversidade e desmatamento no espaço rural brasileiro 
Occupying a total area of 8.511.996 km2 between 5o 16’ N e 33o 44’ S, Brazil has a 
broad climatic geomorphologic variety. This variety is responsible for the presence 
of several important biomes and ecosystems, which lodge about 10% to 20% of the 
world’s known living species. Among them, a large number is unique to Brazil, and 
many probably remain yet undescribed. It has been estimated that about 2 million 
plant, animal and microorganism species exist in Brazil (…). In addition, the 
world’s greatest tropic conservation units are located in Brazil, including the most 
complete tropical germoplasm bank (SEROA DA MOTTA, 1996, p. 11). 
A riqueza da biodiversidade brasileira, corroborada pela imensa quantidade de 
espécies presentes tanto na fauna quanto na flora dos biomas nacionais, é inegável. Tal fato 
tem importância não apenas ecológica, mas também econômica, uma vez que as atividades 
agrícolas e agroindustriais são bastante expressivas para a economia do País, representando 
parcela bastante significativa do PIB nacional e fatia expressiva da plataforma de exportações. 
“Some brazilian native species already have economic significance, such as many hardwood 
trees, the rubber tree, brazilian nuts, manioc and cashew” (SEROA DA MOTTA, 1996, p.11). 
Além disso, várias espécies nativas têm relevância na indústria farmacológica, química e de 
cosméticos, devido à grande diversidade genética e de espécies que pode ser encontrada em 
biomas como o Cerrado e a Floresta Amazônica. 
 Dessa maneira, os atrativos econômicos para a depleção de coberturas vegetais e a 
exploração de biomas florestais são muito significativos no Brasil. Apesar de haver esforços 
para mitigar tais práticas, como já dito anteriormente, os instrumentos legais não têm sido 
suficientes para confrontar as vantagens econômicas que o uso, muitas vezes inadequado, dos 
recursos naturais pode trazer aos executores de tais ações. 
Three important economic instruments have been applied in Brazil in order to 
control deforestation. Two of them are basically forestry taxes and the other is fiscal 
compensation. In the case of frontier areas such as Amazonia and Cerrados, the 
application of taxes is very difficult to enforce due to their immerse territory, lack of 
infrastructure and low population density. Therefore, one may expect that such 
instruments can play only a limited role in creating market-based mechanisms for 
biodiversity control, but can also be a very powerful means of rising revenue to 
strengthen institutional capacity. Fiscal compensation, on the other hand, involves of 
very low administrative costs and creates an actual incentive for those engaged in 
preservation measures (SEROA DA MOTTA, 1996, p. 22). 
A Mata Atlântica consiste no bioma que sofreu maior destruição antrópica no território 
brasileiro, tendo suas extensões drasticamente reduzidas. Assim, em 1990, foi implementada a 
lei que proíbe qualquer tipo de atividade que possa levar ao desmatamento nas regiões 
caracterizadas por esse tipo de cobertura vegetal. Seroa da Motta (1996) ressalta que a 
 10
distribuição regional da Mata Atlântica, a qual se encontra predominantemente nos estados do 
sudeste, coincide com o padrão de desenvolvimento regional que foi caracterizado, 
historicamente, pelo desenvolvimento agrário e industrial. O autor conclui, dessa maneira, que 
“forest conversion has been a result of economic expansion, particularly in the last fifty years” 
(SEROA DA MOTTA, 1996, p. 12). 
In the last twenty years, the expansion of the agricultural frontier also took place, 
following the same development model adopted in the southern regions, in the 
central and northern regions of the country where the Cerrados and the Amazonian 
Forests are located, respectively. That expansion resulted in large areas of forest 
conversion. This was due first to the highly concentrated income and land tenure 
distribution existing in the country, which encouraged migration. Second, and not 
less important, occupation of these regions was determined by ambitious regional 
development programmes (SEROA DA MOTTA, 1996, p. 12). 
Nos Cerrados, aindade acordo com o estudo de Seroa da Motta (1996), o 
desmatamento ocorrido pode ser explicado, principalmente, pelo sistema de crédito favorável 
oferecidos ao setor agrícola, que sofreu um incremento em seu contingente com a migração de 
famílias do Sudeste para as regiões dos Cerrados, as quais procuravam melhores condições de 
vida. Além disso, a qualidade dos solos dos Cerrados não é satisfatória e a utilização 
produtiva de tais extensões territoriais requer tratamentos químicos mais agressivos, o que 
aumenta as ameaças à biodiversidade regional. 
O autor também salienta que no caso da Floresta Amazônica, as atividades 
econômicas indutoras de perda de biodiversidade ocorreram em ciclos, decorrentes das 
flutuações da demanda externa por commodities da região, instalação de povoados de 
colonização e programas e políticas governamentais de desenvolvimento. Acrescenta, assim, 
que a tendência futura do desmatamento dessa região dependerá, principalmente, das 
condições políticas e econômicas que possam desfavorecer os fatores geradores de depleção 
de coberturas florestais. “A radical change in land property rights assignment and the 
introduction of economic incentives for sustainable activities (…) can play an important role 
in slowing the deforestation process” (SEROA DA MOTTA, 1996, p. 15). 
3. Principais indicadores de sustentabilidade ambiental 
3. 1. Ecological Footprint Method (Método da Pegada Ecológica) 
O Método da Pegada Ecológica foi proposto, inicialmente, por M. Wackernagel e W. 
Rees, autores do livro Our Ecological Footprint, publicado em 1996. Segundo Van Bellen 
(2004), os autores desta ferramenta consideram que o conceito de desenvolvimento 
sustentável relaciona-se com a “utilização dos serviços da natureza dentro do princípio da 
manutenção do capital natural, isto é, o aproveitamento dos recursos naturais dentro da 
capacidade de suporte do sistema (VAN BELLEN, 2004, p. 71-72)”. A capacidade de suporte 
do sistema pode ser caracterizada como a magnitude máxima de população que um sistema 
consegue manter e suportar indefinidamente. Van Bellen (2004) destaca ainda que os autores 
do método utilizam-se do conceito de desenvolvimento sustentável sugerido pelo Relatório da 
Comissão Brundtland (CMMAD, 1988). Sendo assim, considera-se que a relação entre 
sociedade e meio ambiente é determinante na questão da sustentabilidade e que deve haver a 
consciência de que a utilização de recursos não pode ultrapassar os limites impostos pela 
natureza. 
 11
O Ecological Footprint Method é descrito pelas pessoas que o desenvolveram como 
uma ferramenta que transforma o consumo de matéria-prima e a assimilação de 
dejetos, de um sistema econômico ou população humana, em área correspondente de 
terra ou água produtiva. Para qualquer grupo de circunstâncias específicas, como 
população, matéria-prima, tecnologia existente e utilizada, é razoável estimar uma 
área equivalente de água e/ou terra (VAN BELLEN, 2004, p. 69). 
Os próprios autores do método enfatizam que, quando se trata da análise de uma 
população humana, a capacidade de carga do sistema relaciona-se tanto com o tamanho da 
população quanto com a magnitude de consumo dos indivíduos de tal população. Dessa 
forma, é necessário perceber que a pressão imposta a um sistema pela população humana é 
função de vários fatores distintos, como a receita média, as expectativas materiais, o nível de 
tecnologia, entre outros. “A capacidade de carga imposta é uma função tanto de fatores 
culturais como da produtividade ecológica” (VAN BELLEN, 2004). 
O trunfo do Método da Pegada Ecológica é que tal instrumento é capaz de internalizar 
às suas análises os fatores culturais decorrentes de determinada população, os quais podem ter 
influência, por exemplo, no padrão de consumo deste conjunto de indivíduos. Ao inverter o 
raciocínio da capacidade de carga de um sistema, procurando delimitar a área necessária à 
manutenção indefinida da vida de uma população, e não o número de indivíduos que podem 
ser mantidos em certa área, o método é capaz de ultrapassar a limitação imposta pelo conceito 
de capacidade de carga original. Van Bellen (2004) ressalta que a ferramenta deve 
contabilizar tanto a área capaz de suprir a necessidade de recursos naturais e energia, quanto a 
área que deva ser utilizada para absorver dejetos do sistema e perda de produção de 
biodiversidade. 
A unidade de área utilizada é o hectare (ha), Todos os cálculos de consumo de 
matéria e energia se transformam em hectares. Por exemplo, se uma tonelada do gás 
carbônico (CO2) necessita de 1 ha de floresta nativa para absorvê-lo, quando uma 
sociedade utiliza um montante de combustível fóssil que gera uma tonelada de CO2, 
o método entende que estaria sendo utilizado 1 ha de floresta. As aproximações são 
todas baseadas nas emissões de gás carbônico (...) (MARTINS, FERRAZ e COSTA, 
2006, p. 144). 
A operacionalização do Ecological Footprint Method, como destaca Van Bellen 
(2004), se dá da seguinte maneira: calcula-se a média anual consumida dos itens mais 
significativos da cesta de consumo e divide-se o consumo total pelo tamanho da população 
considerada. Em seguida, divide-se o consumo anual per capita (Kg/capita) pela 
produtividade média anual (ha/capita), a fim de que se possa calcular a área per capita 
necessária à produção de cada um dos principais itens consumidos. A área média per capita 
da Pegada Ecológica é então calculada realizando-se o somatório das áreas necessárias para se 
produzir cada um dos itens da cesta de consumo de bens e serviços. Por fim, a área total 
necessária para suportar determinado sistema econômico é obtida através da multiplicação da 
área média per capita pela população total. 
É válido ressaltar, como o fazem os autores do método, que certos artigos de consumo 
possuem diversas entradas. Tal fato torna os cálculos mais complexos, já que se deve estimar 
a área necessária referente a cada entrada significante para se produzir determinado item. No 
entanto, muitos dos dados utilizados na operacionalização do Ecological Footprint 
encontram-se disponíveis em sites de ONG’s e sites governamentais, o que facilita o trabalho. 
A maioria dos cálculos deste método utiliza médias de consumo nacionais e médias mundiais 
de produtividade da terra, como afirma Van Bellen (2004), o que busca tornar possíveis 
comparações entre países e regiões distintas. No entanto, tais parâmetros proporcionam uma 
 12
enorme simplificação do instrumento e, como declaram os próprios autores da ferramenta, 
análises locais e regionais resultariam em conclusões mais apuradas da realidade da 
sustentabilidade ambiental de uma área mais específica. 
Por sua vez, uma grande vantagem do método da pegada ecológica é a de que é 
possível adaptar tal ferramenta para realidades locais (VAN BELLEN, 2004), ou seja, é 
possível distinguir os sistemas sócio-econômicos em relação à utilização da capacidade de 
carga da natureza, comparando-os. Dessa forma, o Ecological Footprint pode servir como um 
bom instrumento orientador para a construção de políticas ambientais. 
No entanto, vários estudiosos da temática criticam o método acusando-o de ser uma 
ferramenta pouco científica, na medida em que a quantificação das relações entre a atividade 
sócio-econômica e seus impactos ambientais ainda não são totalmente dominados. Além 
disso, o Método da Pegada Ecológica pode ser considerado estático por não ser um indicador 
capaz de contemplar a evolução do meio, e suas relações, no espaço temporal, ou seja, “os 
resultados refletem um estado atual e a ferramenta não pretende fazer extrapolações, apenas 
sensibilizar a sociedade” (VAN BELLEN, 2004, p. 74). Finalmente, os próprios autores do 
método admitem e Van Bellen (2004) corrobora que “estas simplificações na metodologia de 
cálculo muitas vezes levam a perspectivas mais otimistas do que ocorrena realidade (VAN 
BELLEN, 2004, p. 74)”. 
3. 2. Dashboard of Sustainability (Painel de Controle de Sustentabilidade) 
O Dashboard of Sustainability surgiu a partir de um esforço internacional de 
construção de um indicador que seguisse o que é determinado pela Comissão de 
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (MARTINS, FERRAZ e COSTA, 2006). 
Tais estudos iniciaram-se a partir da segunda metade da década de 1990 e objetivavam 
“harmonizar os trabalhos internacionais em indicadores de sustentabilidade e com foco nos 
desafios teóricos de criar um sistema simples mas que ao mesmo tempo representasse a 
complexidade da realidade” (VAN BELLEN, 2004). Com este intuito, em 1996, foi criado o 
Consultative Group on Sustainable Development Indicators (CGSDI), cujo primeiro encontro 
ocorreu em Middleburg, Virginia, em janeiro de 1998, e resultou na construção do sistema 
conceitual agregado conhecido como Compass of Sustainability e que deu origem, após vários 
aprimoramentos, ao Dashboard of Sustainability. O Painel de Controle de Sustentabilidade 
surgiu da integração entre o CGSDI e o Bellagio Forum for Sustainable Development, em 
1999, caracterizando-se como uma ferramenta capaz de apontar as dimensões do 
desenvolvimento e o grau de sustentabilidade de cada uma delas (VAN BELLEN, 2004). 
É o International Institute for Sustainable Development a instituição que coordena o 
desenvolvimento do método do Dashboard of Sustainability atualmente. Sendo assim, neste 
instituto, pode-se conseguir uma enorme quantidade de informações a respeito das versões já 
calculadas deste instrumento de análise da sustentabilidade ambiental. 
De acordo com Nilsson e Bergström (1995 apud VAN BELLEN, 2004), o conceito de 
desenvolvimento sustentável adotado pelos criadores do Dashboard of Sustainability 
relaciona-se com a teoria dos sistemas. De uma maneira mais generalizada considera-se que 
haja dois sistemas: o humano e o ecossistema à sua volta. Mais especificamente, pode-se dizer 
que existam o sistema humano, o econômico e o das instituições sociais. Assim, o cálculo do 
indicador pode levar em consideração quatro dimensões: a ecológica, a econômica, a social e 
a institucional (MARTINS, FERRAZ e COSTA, 2006), garantindo que o método adote uma 
concepção de desenvolvimento sustentável mais abrangente ao buscar captar também as 
 13
interações entre tais esferas e, talvez por isso, torne-se um instrumento mais condizente com a 
realidade. 
Mesmo havendo subjetividade na escolha das variáveis para compor o índice, a 
proposta é valida no sentido de apresentar mais um instrumento de análise dos 
dados, além de constituir em si um exercício metodológico útil para o tratamento de 
dados complexos. (SABOIA, 2001, p. 15). 
O Dashboard of Sustainability, denominação que metaforiza a ferramenta como o 
painel de controle de um veículo, devido à simplicidade de esquematização e semelhança de 
sua apresentação visual com tal componente automotivo, como pode ser observado na Fig. 1: 
Figura 1 
Dashboard of Sustainability (Painel de Controle de Sustentabilidade) 
 
 Fonte: Van Bellen (2004). 
O Painel de Controle de Sustentabilidade é constituído por um sistema agregado de 
indicadores, em que cada esfera analisada é composta por indicadores agrupados que formam 
um índice capaz de exprimir as características de cada esfera proposta. No caso da Figura 1, 
são analisadas as dimensões da qualidade ambiental, da saúde social e do desempenho 
econômico, em que cada uma delas é representada por um mostrador relativo aos respectivos 
índices construídos a partir da agregação de vários indicadores relacionados a cada grupo 
maior proposto. À partir da obtenção de cada um dos índices referentes às esferas que são 
objeto de estudo, calcula-se a média dos índices de cada mostrador com o intuito de se obter 
uma medida global, denominada Índice de Desenvolvimento Sustentável ou Sustainable 
Development Index (SDI). “Se o objetivo é avaliar o processo decisório, um índice de 
performance política, Policy Performance Index, PPI, é calculado” (VAN BELLEN, 2004, 
p.76). 
Para cada dimensão, um índice agregado deve incluir medidas do estado, do fluxo e 
dos processos relacionados. O objetivo é medir a utilização de estoques e fluxos para 
cada dimensão. (...) Estes índices podem representar o fluxo dentro da dimensão 
ambiental do sistema. Os estoques ambientais podem ser representados pela 
capacidade ambiental, uma medida incluindo estoque de recursos naturais e tipos de 
ecossistema por área e qualidade. Os fluxos dentro da dimensão econômica podem 
ser representados pelo próprio Produto Interno Bruto ou um novo índice de 
performance econômica que inclua outros aspectos importantes, como desemprego e 
inflação. Os bens de capital podem incluir bens de propriedade e infra-estrutura (...) 
(VAN BELLEN, 2004, p. 77-78). 
 14
A figura que representa o Dashboard of Sustainability é auto-explicativa. Observando-
se a Figura 1, nota-se que os mostradores apontam para a situação atual da dimensão 
analisada pelo respectivo índice. Tal situação pode variar de um patamar mais crítico (cor 
vermelha) até situações de caráter mais promissor (cor verde), permitindo que seja analisada a 
performance de cada sistema considerado no momento atual. Além disso, também é 
apresentado um gráfico que representa a evolução da situação de cada esfera considerada ao 
longo do tempo e, dessa forma, é possível analisar a performance de cada sistema em um 
intervalo temporal mais extenso. Ainda pode-se observar, como ocorre na Figura 1, que 
existem medidores que apresentam as quantidades remanescentes de alguns recursos mais 
escassos ou críticos, como enfatiza Van Bellen (2004). Um outro aspecto importante, mas que 
não é observado no exemplo fornecido pela Figura 1, é que os indicadores de cada sistema 
não precisam possuir, necessariamente, o mesmo grau de relevância para o tipo de análise a 
ser efetuada. Assim, a importância de cada indicador é percebida de acordo com o tamanho 
que tal indicador possui na representação visual, em relação aos outros indicadores 
englobados pelo mesmo sistema (VAN BELLEN, 2004). 
 O Consultative Group on Sustainable Development Indicators (CGSDI) elaborou, 
originalmente, 46 indicadores para compor as três dimensões consideradas, quais sejam: bem-
estar humano, bem-estar ecológico e bem-estar econômico. Consoante com Van Bellen 
(2004), o CGSDI construiu um software que realiza os cálculos, agregando os valores dos 
dados e ainda realiza a apresentação gráfica. Os resultados obtidos pelo algoritmo para cada 
um dos indicadores de cada dimensão variam de 1 a 1.000, representando, respectivamente, a 
pior e a melhor situação que pode ser encontrada e o CGSDI possui uma base de dados capaz 
de disponibilizar informações para, aproximadamente, 200 países (MARTINS, FERRAZ e 
COSTA, 2006). 
Um grande avanço do Painel de Controle de Sustentabilidade é a facilidade de se 
visualizar e interpretar os resultados obtidos por esta ferramenta. “O sistema emprega meios 
visuais de apresentação para mostrar as dimensões primárias da sustentabilidade, fornecendo 
informações quantitativas e qualitativas sobre o progresso em direção à sustentabilidade” 
(VAN BELLEN, 2004, p. 79). Dessa forma, por se tratar de um instrumento de simples 
compreensão, é possível que não só especialistas da área, mas também a população leiga, em 
geral, seja sensibilizada pelas conclusões obtidas. Tal fato possibilita uma maior atenção dos 
tomadores de decisão governamentais em relação à temática da sustentabilidade ambiental. 
Além disso, o Dashboard of Sustainability pode ser empregado para estudos que envolvam 
unidades de análises distintas, englobando desde sistemas locais até os de grande escala, como 
os nacionais. 
 Simultaneamente, é importante constituir uma instituiçãoque forneça suporte 
científico adequado, que atualize os indicadores e que desenvolva sistemas de 
integração e comunicação. Os problemas complexos do desenvolvimento 
sustentável requerem indicadores integrados, ou indicadores agregados em índices. 
Os tomadores de decisão necessitam destes índices, que devem ser facilmente 
entendíveis e utilizados no processo decisório (VAN BELLEN, 2004, p. 80). 
3.3. Environmental Sustainability Index (Índice de Sustentabilidade Ambiental) 
O Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA) ou Environmental Sustainability Index 
foi originalmente proposto por pesquisadores das universidades americanas de Yale e 
Columbia, e apresentado, pela primeira vez, no Fórum Econômico Mundial de 2002. Segundo 
Martins, Ferraz e Costa (2006), o ISA objetiva, principalmente, mensurar a sustentabilidade 
 15
ambiental com o intuito de comparar a capacidade dos vários países de proteger e perpetuar 
seu meio ambiente, não somente durante os períodos atuais mas também no futuro. 
Dessa forma, percebe-se que o conceito de desenvolvimento sustentável adotado por 
seus criadores relaciona-se intimamente com a definição clássica proposta pelo Relatório da 
Comissão Brundtland, também conhecido como Nosso futuro comum, de 1988, que concebe a 
sustentabilidade como a capacidade de o meio suprir as necessidades das gerações atuais sem, 
no entanto, deixar de atender às populações futuras. Sendo assim, pode-se dizer que o 
desenvolvimento sustentável, para os pesquisadores das universidades de Yale e Columbia, 
possui um caráter intergeracional, em que a perpetuação da manutenção das condições de vida 
é o traço central. 
Consoante com Martins, Ferraz e Costa (2006), o ISA é um índice agregado, assim 
como o Dashboard of Sustainability, e, na construção de sua versão de 2005, foram utilizadas 
76 variáveis relacionadas à sustentabilidade do meio ambiente, as quais foram agrupadas em 
21 indicadores distintos que juntos formam o Environmental Sustainability Index. Os 21 
indicadores que compõem o ISA são resumidos em 5 categorias temáticas com pesos 
diferenciados, o que caracteriza a realização de uma análise de componentes principais. A 
Tabela 1 apresenta cada um dos componentes e dos indicadores do Índice de Sustentabilidade 
Ambiental (ISA). A descrição de todas as variáveis que compõem o ISA, e seus respectivos 
indicadores, podem ser encontrados em Martins, Ferraz e Costa (2006). Na última versão do 
ISA, que pode variar de 0, pior caso, até 100, melhor caso, foram calculados os índices 
correspondentes a 146 países. 
Apesar de a fórmula de cálculo do índice ser de domínio público, sua construção é 
extremamente complexa. A maioria das 76 variáveis na versão de 2005 foi baseada 
em fontes de dados mais recentes. Entretanto, por causa de sua complexidade, não 
foi possível extrair dados cujas datas de referência fossem as mesmas. Por isso, em 
alguns casos, há variáveis de 2002, assim como variáveis da década de 1990 por 
causa da ausência de dados mais recentes (MARTINS, FERRAZ e COSTA, 2006, p. 
145). 
Consoante com Martins, Ferraz e Costa (2006), a partir dos resultados dos cálculos do 
ISA, em sua última versão, para diversos países, pôde-se concluir que não existe uma relação 
de conseqüência direta entre renda e qualidade ambiental, um fato já conhecido, mas que não 
tinha sido provado plenamente, até então. 
Muitos países latino-americanos, como Brasil, Argentina e Colômbia, obtiveram uma 
melhor pontuação no índice do que vários outros países de renda per capita bastante superior, 
como é o caso do Japão, dos Estados Unidos e da Bélgica. Martins, Ferraz e Costa (2006) 
destacam que isso ocorre porque os primeiros obtiveram um conceito melhor em relação aos 
componentes de Qualidade Ambiental, Redução de Poluição e Responsabilidade Global, 
enquanto que os países mais desenvolvidos e industrializados, apesar de possuírem uma 
melhor pontuação em relação aos componentes de capacidade sócio-institucional, relacionam-
se com enormes fluxos de energia e materiais, os quais provocam pressões críticas sobre o 
meio ambiente. 
Os piores valores do ISA foram apurados para os países africanos mais pobres e os 
países em desenvolvimento, já que estas nações, geralmente, não possuem uma elevada 
capacidade sócio-institucional e a necessidade de prover as condições de subsistência e 
condições mínimas de sobrevivência à população geram uma enorme pressão sobre os 
recursos ambientais. 
 16
É interessante notar que o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA) consegue captar 
o fato de que a pobreza e o desenvolvimento sócio-econômico são importantes fatores 
mediadores da relação entre sociedade e meio ambiente, o que inclui análises de padrões de 
consumo e produção, entre outros aspectos. 
Deve-se ressaltar também que a heterogeneidade do ISA é bastante elevada, bem 
maior que a do IDH. É difícil encontrar países com extremos nos componentes do 
IDH, ou seja, um país de alta renda e baixa expectativa de vida. Por outro lado, o 
ISA é constituído por componentes tão díspares quanto a qualidade dos sistemas 
ambientais e a capacidade socioinstitucional. Ou seja, um país pode ter áreas 
preservadas, com baixa atividade econômica, o que pode favorecer a qualidade do ar 
e a biodiversidade, por exemplo, e ao mesmo tempo apresentar baixos índices de 
ciência e tecnologia e governança ambiental (MARTINS, FERRAZ e COSTA, 
2006, p. 147-148). 
Assim como os indicadores de sustentabilidade ambiental apresentados nas seções 
anteriores, os criadores do ISA acreditam que uma de suas principais vantagens é a 
capacidade de promover um maior entendimento por parte dos governantes, tomadores de 
decisão, a respeito das condições do meio ambiente e da própria qualidade de vida das 
populações. Dessa maneira, acredita-se que o ISA seja capaz de orientar, em algum grau, a 
promoção de políticas públicas por parte dos agentes governamentais e sensibilizar a 
população quanto à situação vigente. A construção do Environmental Sustainability Index 
ainda tinha como propósito, segundo Martins, Ferraz e Costa (2006), de servir como uma 
possível alternativa aos valores do Produto Interno Bruto (PIB) ou Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH) no objetivo de mensurar e promover uma indicação da direção do progresso 
dos países. O ISA poderia ser utilizado ainda como um complemento a estes índices, na 
medida em que possibilitaria uma análise mais completa, englobando também a dimensão 
ambiental. 
Tabela 1 
Componentes e Indicadores do Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA) 
 
 Fonte: Martins, Ferraz e Costa (2006). 
 17
4. Conclusão 
A questão ambiental no Brasil começou a ser mais expressiva no final dos anos de 
1950, assumindo um caráter preservacionista dos recursos naturais e sendo caracterizado pela 
articulação entre dois setores principais: associações ambientalistas civis e agências estatais 
de meio ambiente. Durante a segunda metade da década de 1980, começou a haver uma 
maior preocupação da opinião pública em relação às questões ambientais. 
Nesse contexto, o bissetorialismo preservacionista brasileiro transforma-se, 
progressivamente, em um ambientalismo engajado com o conceito de desenvolvimento 
sustentável, proposto pelo Relatório da Comissão Brundtland. Nessa época, o movimento 
ambientalista brasileiro adquire um caráter multissetorial, sendo constituído não só por 
associações ambientalistas e agências estatais, mas também pelo socioambientalismo, pelas 
instituições científicas e pelo setor empresarial. 
Neste processo de evolução da questão ambiental no Brasil, é possível inserir a 
discussão a respeito da hierarquização dos problemas ambientais brasileiros característicos. A 
maioria dos problemas ambientais que assolam o País e que têm suas causas engendradas, 
preponderantemente, pela dinâmicaeconômica brasileira e pelas características estruturais 
nacionais é mais localizada e possui perspectivas mais otimistas de reversão, se forem 
comparados aos problemas ambientais considerados globais, embora também sejamos vítimas 
destes últimos. Tais questões relacionam-se, em grande parte, com a crise ambiental no 
contexto urbano-industrial brasileiro, como se verifica através da existência de esgoto a céu 
aberto, poluição da água, favelização, aterros clandestinos, ocupação de encostas, enchentes e 
etc.; mas, também podem estar ligadas ao espaço rural nacional, como é caso de processos de 
desertificação e de erosão de solos, questões ambientais que possuem um menor grau na 
hierarquia dos problemas ambientais. 
No entanto, um problema ambiental de dimensões globais é extremamente relevante 
ao se analisar impactos ambientais no Brasil, principalmente quando se considera o espaço 
rural brasileiro: a perda de biodiversidade. Ao comprometer a sobrevivência de parcela 
relativamente grande da população mundial e por possuir baixo grau de reversibilidade, 
considerando-se as tecnologias existentes atualmente, a questão da biodiversidade e as 
discussões a respeito da manutenção de sua sustentabilidade tornam-se imprescindíveis na 
agenda ambiental brasileira. 
Dessa forma, considera-se muito relevante a iniciativa de construção de indicadores de 
sustentabilidade ambiental que possam captar o estado de preservação do meio ambiente, em 
uma perspectiva intergeracional, para o Brasil. Os resultados de tal estudo seriam capazes de 
realizar uma melhor sinalização a respeito de quais são as questões ambientais que necessitam 
de atuação governamental mais urgente. No entanto, foi possível perceber, a partir do presente 
estudo, que propor ferramentas para a mensuração e análise de sustentabilidade é uma tarefa 
extremamente complexa. Isso se deve ao fato de que o próprio termo “sustentabilidade” pode 
adquirir significados diferenciados de acordo com as diferentes concepções pessoais. 
Assim, captar a evolução do tratamento do desenvolvimento sustentável exige um 
esforço teórico e empírico bastante acentuado por parte dos pesquisadores e os resultados 
obtidos não podem ser considerados exatos. Mesmo assim, esforços e empenhos neste sentido 
não podem deixar de existir, já que, por mais que os resultados sejam diferenciados de acordo 
com as metodologias utilizadas e as concepções individuais, as conclusões a que se chega 
 18
realizam um maior direcionamento das necessidades mais urgentes e dos pontos mais críticos 
a serem analisados. 
Dessa maneira, o aprimoramento de tais indicadores e sua representação mais 
simplificada, capaz de atingir não somente os estudiosos da temática, mas também os leigos, 
vêm propiciando, cada vez mais, uma maior possibilidade de que os problemas ambientais 
sejam amenizados, já que possuiriam a capacidade de sensibilizar a população e impelir os 
tomadores de decisão a realizar medidas de manutenção e melhoria da qualidade ambiental. 
Em outras palavras, pode-se dizer que indicadores de sustentabilidade ambiental que sejam 
mais apelativos e explicativos para público, sem deixarem de ser fiéis à realidade, têm 
maiores chances de resultar em ações efetivas para o desenvolvimento sustentável – seja 
através de implementação de políticas públicas conduzidas pelos tomadores de decisão 
governamental, seja pela mudança de postura por parte dos indivíduos que passem a ter 
preocupações mais reais quanto à sua conduta em relação à geração de lixo, gasto de energia, 
etc. 
Dessa maneira, esforços que objetivem materializar o desempenho do 
desenvolvimento sustentável em indicadores de fácil compreensão, apesar da complexa 
operacionalização, são muito relevantes. Foi com este intuito que o presente trabalho 
procurou apresentar uma fundamentação teórica da temática, descrevendo instrumentos como 
o Ecological Footprint Method (Método da Pegada Ecológica), o Dashboard of Sustainability 
(Painel de Controle de Sustentabilidade) e o Environment Sustainability Index (Índice de 
Sustentabilidade Ambiental). 
Como foi mencionado em seção anterior, o Método da Pegada Ecológica (Ecological 
Footprint Method) busca mensurar e analisar a capacidade de suporte de determinado sistema, 
a qual pode ser caracterizada como a magnitude máxima de população que este sistema 
consegue manter e suportar indefinidamente. O Painel de Controle de Sustentabilidade 
(Dashboard of Sustainability), por sua vez, surgiu com o objetivo de harmonizar os estudos 
internacionais relacionados a indicadores de sustentabilidade ambiental, criando um sistema 
simples, mas que não perdesse o compromisso com a realidade. Já o ISA, ou Índice de 
Sustentabilidade Ambiental (Environment Sustainability Index), objetiva, principalmente, 
mensurar a sustentabilidade ambiental com o intuito de comparar a capacidade dos vários 
países de proteger e perpetuar seu meio ambiente, não somente durante os períodos atuais, 
mas também no futuro. 
É interessante notar que o Método da Pegada Ecológica realiza uma análise mais 
instantânea do sistema, não sendo capaz de captar efeitos gerados por fenômenos que causem 
uma modificação no curso dos acontecimentos, como avanços tecnológicos, que possam 
alterar a capacidade de suporte de tal sistema, ao longo do tempo. Assim, o Painel de Controle 
de Sustentabilidade e o ISA possuem uma enorme vantagem em relação ao Método da Pegada 
Ecológica: o fato de serem capazes de realizar uma análise dinâmica, que leve em 
consideração um maior intervalo temporal, ao invés de realizar um retrato da situação vigente. 
O cálculo do Painel de Controle de Sustentabilidade pode levar em consideração as dimensões 
ecológica, econômica, social e institucional, garantindo que o método adote uma concepção 
de desenvolvimento sustentável mais abrangente ao buscar captar também as interações entre 
tais esferas e, talvez por isso, torne-se um instrumento mais condizente com a realidade. O 
Índice de Sustentabilidade Ambiental também realiza uma apreciação mais dinâmica, na 
medida em que o conceito de desenvolvimento sustentável que permeia tal indicador 
corresponde ao do Relatório Brundtland, que possui alto caráter intergeracional. 
 19
Mas, vale ressaltar que o Método da Pegada Ecológica também possui suas vantagens 
em relação aos outros indicadores, como o fato de internalizar às suas análises os fatores 
culturais decorrentes de determinada população, quando delimita a área necessária à 
manutenção indefinida da vida de uma população, e não o número de indivíduos que podem 
ser mantidos em certa área. 
No entanto, acredita-se que a característica mais relevante para um indicador de 
sustentabilidade ambiental seja a capacidade de gerar resultados que tenham compromisso 
com a realidade e que possam ser facilmente compreendidos, não só por especialistas da área, 
mas também pela população leiga, em geral, a fim de que possibilite uma maior atenção dos 
tomadores de decisão governamentais em relação à temática da sustentabilidade ambiental. 
Tal característica encontra-se presente nos três indicadores descritos neste trabalho, já que 
este foi o principal critério de escolha de tais instrumentos. Porém, percebe-se que o Painel de 
Controle de Sustentabilidade é aquele que apresenta maior facilidade de visualizar e 
interpretar os resultados obtidos, pela própria configuração esquemática em um painel de 
controle, elemento conhecido da sociedade e, portanto, facilmente interpretado pelos 
indivíduos. 
Todavia, é mister evidenciar que o Índice de Sustentabilidade Ambiental realiza um 
grande salto qualitativo no debate que relaciona renda e degradação do meio ambiente, um 
enorme avanço em relação aos outros dois indicadores. A partir dos resultados dos cálculos do 
ISA, em sua última versão, para diversos países, pôde-se concluir que não existe uma relaçãode conseqüência direta entre renda e qualidade ambiental, um fato já conhecido, mas que não 
tinha sido provado plenamente, até então, como já foi evidenciado no presente trabalho. 
Dessa maneira, nota-se que o ISA possui grande capacidade de captar as relações entre 
preservação do meio ambiente e desenvolvimento sócio-econômico, o que é crucial para 
formulação de políticas governamentais que visem ao desenvolvimento sustentável. Assim, os 
próprios criadores do ISA enfatizam que uma de suas principais vantagens é a capacidade de 
promover um maior entendimento por parte dos governantes, tomadores de decisão, a respeito 
das condições do meio ambiente e da própria qualidade de vida das populações. 
No entanto, apesar de a fórmula de cálculo do Índice de Sustentabilidade Ambiental 
ser de domínio público, o que caracteriza uma grande vantagem quando da realização de 
estudos empíricos, sua construção é extremamente complexa. Porém, tal complexidade pode 
ser encarada como uma maior preocupação de seus formuladores em construir uma 
ferramenta mais consistente. No caso do Método da Pegada Ecológica, por exemplo, a 
maioria dos cálculos utiliza médias de consumo nacionais e médias mundiais de 
produtividade da terra, o que proporciona uma enorme simplificação do instrumento. Os 
próprios autores do método admitem que simplificações na metodologia de cálculo, muitas 
vezes, conduzem a previsões mais otimistas do que ocorre na realidade. Vários estudiosos da 
temática também criticam o método acusando-o de ser uma ferramenta pouco científica, na 
medida em que a quantificação das relações entre a atividade sócio-econômica e seus 
impactos ambientais ainda não são totalmente dominados. 
 É válido ressaltar, apesar de já haver sido mencionado em seção anterior, que a 
construção do Environmental Sustainability Index ainda tinha como propósito servir como 
uma possível alternativa aos valores do Produto Interno Bruto (PIB) ou Índice de 
Desenvolvimento Humano (IDH) no objetivo de mensurar e promover uma indicação da 
direção do progresso dos países. O ISA poderia ser utilizado ainda como um complemento a 
estes índices, na medida em que possibilitaria uma análise mais completa, englobando 
também a dimensão ambiental. 
 20
Enfim, há a pretensão de que o presente estudo sirva como base teórica para a 
realização de um trabalho empírico futuro a partir da ótica dos municípios brasileiros, por 
tratar-se de uma esfera em que as pesquisas empíricas na área de desenvolvimento e meio 
ambiente são relativamente escassos. Além disso, a realização de estudos para esse tipo de 
unidade de análise é fundamental para a tomada de decisões e formulação de políticas 
públicas municipais voltadas à preservação do meio ambiente. Tal fato corrobora a 
importância da realização deste tipo de estudo, no sentido de informar a sociedade de países 
em desenvolvimento, como o Brasil, e orientar os governos para a efetivação de ações que 
objetivem o desenvolvimento sustentável. O intuito inicial é de que possa ser realizada uma 
pesquisa empírica da maneira descrita no “Apêndice A” do presente trabalho. 
Analisando as principais características dos indicadores de sustentabilidade estudados 
neste trabalho, chegou-se à conclusão de que o método mais adequado para a realização de tal 
estudo empírico seria o ISA, ou Índice de Sustentabilidade Ambiental (Environment 
Sustainability Index). Assim como o Dashboard of Sustainability, o ISA pode ser empregado 
para estudos que envolvam unidades de análises distintas, englobando desde sistemas locais 
até os de grande escala, como os nacionais. Além do Índice de Sustentabilidade Ambietal 
incorporar o conceito de desenvolvimento sustentável mais clássico, considerando a noção de 
preservação intergeracional do meio ambiente, que foi proposta pelo Relatório Brundtland, 
ainda produz resultados que são de fácil compreensão, mesmo para indivíduos que não sejam 
especialistas da área. Característica esta bastante valorizada no presente trabalho, que visa 
estudar ferramentas que forneçam subsídios reais, em termos de mensuração do 
desenvolvimento sustentável, à realização de políticas públicas mais eficientes na área 
ambiental. Talvez o fato que mais facilite este processo de compreensão mais apurada e 
imediata é o de que, apesar da ferramenta possuir uma operacionalização mais complexa, a 
interpretação de seus resultados é similar a de outros indicadores com os quais o público já 
está mais acostumado a lidar, como é o caso do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 
Desse modo, o presente trabalho fornece um embasamento teórico abrangente e 
extremamente relevante para aqueles que se propõem a realizar estudos empíricos na área, ou, 
simplesmente, compreender melhor a questão ambiental no Brasil, a partir da temática do 
desenvolvimento sustentável. Portanto, procurou-se proporcionar uma maior reflexão sobre a 
temática ambiental e sua relação com o desenvolvimento sócio-econômico e, principalmente, 
contribuir para se pensar em formulação de políticas públicas mais eficientes voltadas à 
dimensão do meio ambiente, uma vez que os indicadores de sustentabilidade ambiental são 
capazes de realizar uma sinalização mais efetiva das questões ambientais prementes, as quais 
necessitem de uma maior atenção por parte das autoridades governamentais locais e/ou 
federais. 
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