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RESUMOS AULAS TEÓRICAS PARTE II MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL PROFESSORA NÁDIA NARDELY L. D. PARRELLA I/2013 1 MELHORAMENTO DE PLANTAS ALÓGAMAS I. INTRODUÇÃO Plantas alógamas são aquelas que realizam preferencialmente polinização cruzada (acima de 95%). Neste caso, a fertilização ocorre quando o pólen de uma planta fertiliza o estigma da flor de outra planta. As espécies alógamas são caracterizadas pela heterozigose, apresentando heterose e endogamia. Como vimos no capítulo 4, existem vários mecanismos que incentivam ou determinam a alogamia (fecundação cruzada). Apesar de várias espécies de importância econômica serem alógamas, o milho é a espécie alógama que tem sido mais estudada. Isto se deve ao fato do milho ser uma espécie monóica, com flores do sexo feminino e flores do sexo masculino (pendão). Nas alógamas, as plantas não transmitem seus genótipos para a geração seguinte como ocorre em espécies autógamas, mas sim os seus alelos. Portanto, a cada geração surgirão novos indivíduos que apresentarão constituição alélicas diferentes dos seus pais. Nas alógamas, o que tem maior importância não é a constituição genética do indivíduo (genótipo), mas sim o conjunto gênico dessa população (pool gênico). Este é um grande desafio no melhoramento de alógamas, pois os genótipos superiores não são mantidos nos filhos, já que estes apresentarão segregação. O melhoramento de autógamas trabalha com a obtenção de linhas puras superiores (indivíduos superiores) enquanto o melhoramento de alógamas trabalha com o melhoramento de populações. Como base para entender o melhoramento das espécies alógamas, devemos conhecer alguns conceitos de Genética de População. EQUILÍBRIO DE HARD-WEINBERG Segundo Ramalho et al. (1990), podemos definir população como um conjunto de indivíduos da mesma espécie, que ocupam o mesmo local, apresentam uma continuidade no tempo e possuem a capacidade de se intercasalar ao acaso, e portanto, de trocar genes entre si. Duas propriedades importantes das populações são sua freqüência genotípica e sua frequecia alélica. A Freqüência genotípica é a proporção que um determinando genótipo está presente na população. A Freqüência alélica é a proporção que um determinado alelo está presente na população. Em 1908, Hardy na Inglaterra e Weinberg na Alemanha propuseram independentemente a Lei do Equilíbrio, que ficou conhecida como Lei do Equilíbrio de Hardy-Weinberg. Segundo esta lei, em uma população panmítica, não existindo fatores que interfiram na casualização natural dos cruzamentos (mutação, migração, seleção e oscilação), as freqüências alélicas e genotípicas permanecerão constantes geração após geração. Vamos usar como exemplo uma característica com dois alelos (A e a) para explicar essa Lei. A freqüência do alelo A é identificada por p e a freqüência do alelo a é identificada por q, sendo p + q = 1. Assim na próxima geração teríamos as seguintes freqüências alélicas e genotípicas para o cruzamento Aa x Aa. f(A) = p f(a) = q f(A) = p f(AA) = p2 f(Aa) = pq f(a) = q f(Aa) = pq f(aa) = q2 Nesta população, as freqüências genotípicas são representadas por D (dominantes), H (heterozigotos) e R (recessivos). A soma D + H + R = 1. Então (p+q)2 = p2 + 2pq + q2 = D + H + R = 1. Outras propriedades importantes são: f(A) = p = p2 + pq = D + 1⁄2H f(a) = q = q2 + pq = R + 1⁄2H Considerando uma população de 100 indivíduos, onde tenham sido identificados 50 genótipos do tipo AA, 20 do tipo Aa e 30 do tipo aa, tem-se que: AA = 50; Aa= 20 e aa = 30 A freqüência alélica será: f (A) = (50 + 1⁄2 x 20)/100 = 0,60 f (a) = (30 + 1⁄2 x20)/100 = 0,40 Será que esta população está em equilíbrio de Hardy- Weinberg? f (AA) = (0,60)2 = 0,36 f (Aa) = 2pq = 2 x 0,6 x 0,4 = 0,48 f (aa) = (0,40)2 = 0,16 Os valores observados devem ser testados através do teste de Chi-quadrado para se concluir se os valores diferem dos valores esperados. Se a população não estiver em equilíbrio, é necessária somente uma geração de cruzamentos ao acaso para que ela volte ao equilíbrio. EFEITO DA SELEÇÃO NAS FREQÜÊNCIAS ALÉLICAS A seleção pode ser definida como a eliminação de determinados genótipos da população. A seleção pode ser natural ou artificial. Devido a esta eliminação, há alterações nas freqüências alélicas e genotípicas, e em conseqüência, a população afasta-se do equilíbrio. O efeito da seleção nas freqüências alélicas depende do tipo de interação alélica e do coeficiente de seleção. Vamos ver um exemplo de seleção quando há dominância completa, sendo desvantajoso o alelo recessivo. Também considerando a eliminação de todos os indivíduos portadores do gene homozigótico recessivo. Um exemplo: Altura de milho onde o alelo Br (planta normal) tem freqüência de 0,6 e br (planta anã) de 0,4. Pergunta: qual a freqüência dos alelos Br e br e dos genótipos normal e anã após um ciclo de seleção? Se a freqüência do alelo Br = q = 0,6 e Br = p = 0,4, as freqüências genotípicas na população original serão (0,6)2BrBr + 2x0,6x0,4Brbr + (0,4)2brbr = 0,36 BrBr + 0,48 Brbr + 0,16 brbr. Então nesta população teremos uma freqüência de 0,84 de plantas altas (BrBr e Brbr) e 0,16 de plantas anãs (brbr). Se fizermos seleção eliminando as plantas baixas, a população selecionada terá 100% de plantas altas. Através de uma regra de três simples, podem ser obtidas as freqüências genotípicas corrigidas: Se as plantas selecionadas forem cruzadas ao acaso, na próxima geração teremos (0,715)2BrBr + 2x0,715x0,285 Brbr + (0,285)2brbr = 0,51 BrBr + 0,41 Brbr + 0,08 brbr. Isto significa uma freqüência de plantas altas de 0,92 e de plantas baixas de 0,8. Podemos observar neste exemplo que a seleção altera a freqüência alélica e genotípica, e podemos usá-la para melhorar nossas populações. 2 MELHORAMENTO DE POPULAÇÕES POR MEIO DE SELEÇÃO INTRODUÇÃO Os métodos de melhoramento de plantas alógamas podem ser divididos em duas categorias: (a) Melhoramento de Populações, e (b) Variedades Híbridas e Sintéticas. Neste capítulo estudaremos diferentes métodos de melhoramento de populações através da seleção. No caso do milho, as populações melhoradas podem ser utilizadas diretamente para a produção comercial, principalmente por pequenos produtores familiares. Neste caso, essas populações são denominadas Variedades de Polinização Aberta. Outro uso das populações melhoradas é a obtenção de linhagens endogâmicas que serão utilizadas na produção de híbridos. O principal objetivo do melhoramento de populações através da seleção é aumentar a freqüência dos alelos favoráveis, melhorando então as características das populações. Os métodos de melhoramento de populações podem ser agrupados em duas classes: A. Sem teste de progênies, por exemplo Seleção Massal B. Com teste de progênie, por exemplo Espiga-por-fileira Nos métodos sem teste de progênie a seleção é baseada no fenótipo enquanto que nos métodos com teste de progênie a seleção é feita com base na performance dos descendentes. SELEÇÃO MASSAL Na seleção massal a população original é avaliada e um número de plantas é selecionada com base no fenótipo. A semente de polinização aberta das plantas selecionadas é agrupada para dar origem à próxima geração. O ciclo de seleção pode ser repetido uma ou mais vezes para aumentar a freqüência de alelos favoráveis. Um dos principais problemas da seleção massal é que ela é baseada somente no fenótipo. Por isso, este tipo de seleção é muito influenciado pelo ambiente. O principal uso desse método é na obtenção de novas variedades em espécies vegetais que ainda não foram muito trabalhadas geneticamente ou para caracteres de alta herdabilidade. Como vimospara plantas autógamas, a seleção massal também pode ser usada na produção de sementes para a manutenção da pureza varietal em campos de sementes. Neste caso fazemos a seleção truncada ou roughing, retirando as plantas fora do padrão. A seleção massal é o método mais antigo de melhoramento de plantas e vem sendo utilizada pelos agricultores a milhares de anos. Isto ocorria quando os agricultores escolhiam as melhores espigas/plantas para darem origem à geração seguinte. ESQUEMA DA SELEÇÃO MASSAL SELEÇÃO MASSAL ESTRATIFICADA A seleção massal estratificada tem por objetivo melhorar o controle da heterogeneidade do solo (melhor controle ambiental). Isto é obtido dividindo-se a área em estratos e praticando a mesma intensidade de seleção em cada estrato. A intensidade de seleção dentro de cada estrato pode variar de 1 a 10%. Na recombinação deve ser empregado um mesmo número de sementes por planta. É utilizado bordadura para garantir que as plantas estejam submetidas ao mesmo nível de competição. Araújo e Paterniani (1999) descrevem a seleção massal estratificada utilizada no programa de Melhoramento de Milho do IAPAR. Cada estrato é composto por uma linha com 10 m de comprimento (5 plantas/metro e 90 cm entre linhas), sendo composto por 50 plantas ou 9 m2. Normalmente, semeia-se um campo isolado com cerca de 100 estratos para seleção, selecionando-se 5 plantas competitivas por estrato (10% de seleção). Posteriormente, é feita a seleção de espigas, restando 2 plantas por estrato (4 % de seleção). SELEÇÃO COM TESTE DE PROGÊNIE SELEÇÃO ESPIGA-POR-FILEIRA Os métodos de seleção-por-fileira são métodos que utilizam o teste de progênie. Estes métodos tem apresentado razoável sucesso em caracteres com alta herdabilidade, mas não são eficientes para caracteres de baixa herdabilidade como a produtividade. As etapas deste método são apresentados na Figura 1. Dentro de uma população de polinização livre selecionam-se 50 a 200 plantas. A semente de cada planta é dividida em duas amostras identificadas. Uma amostra é utilizada para semeadura das linhas de avaliação de progênies (uma linha para cada planta selecionada) e a outra é mantida guardada (essa semente é chamada de semente remanescente). Com o resultado da avaliação das linhas de progênies, mistura-se a semente remanescente das espigas que originaram as melhores linhas de progênies para se formar a população melhorada. A principal limitação do método é a falta de repetição das linhas de progênies. SELEÇÃO ESPIGA-POR-FILEIRA MODIFICADO Este método é uma modificação do método espiga-por- fileira e também pode ser chamado de Seleção entre e dentro de famílias de meios irmãos. Essência: avaliação e seleção de progênies de meio-irmãos (PMI) e depois, da seleção das melhores plantas dentro das progênies selecionadas. Este método inicia-se com a seleção de espigas em uma população de polinização livre (as espigas de cada planta se constituem progênie de meio irmão). As espigas são debulhadas e as sementes de cada progênie colocadas em sacos separados. As PMI são avaliadas em ensaios de produção onde serão anotados todos os caracteres de interesse. Para o ensaio de avaliação de progênies utilizam-se delineamento experimental tipo látice quadrado. Em função do resultado são escolhidas as melhores progênies. A intensidade de seleção é de 10 a 20%. Esta etapa constitui-se seleção entre progênies. Com a utilização da semente remanescente, planta-se um lote isolado de despendoamento, onde as progênies selecionadas constituirão as fileiras femininas e as masculinas serão plantadas com uma mistura de sementes de todas as progênies selecionadas. Pode-se usar uma proporção de 1 masculina:2 feminino ou 1 masculina:3 feminino. Por ocasião da colheita, escolhe-se dentro de cada fileira feminina as melhores plantas. Esta etapa constitui-se a seleção dentro de progênies. As espigas dessas plantas constituem as novas progênies de meio irmãos a serem avaliadas na geração seguinte. 3 SELEÇÃO RECORRENTE INTRODUÇÃO A seleção recorrente é uma técnica de melhoramento de populações que tem por objetivo a concentração de alelos favoráveis, mantendo a variabilidade genética da população. As populações melhoradas através da seleção recorrente podem ser utilizadas diretamente como variedades de polinização aberta ou então para obtenção de linhagens endogâmicas utilizadas na produção de híbridos. O que significa recorrente? Significa repetir os mesmos procedimentos ciclo após cada ciclo de seleção, tornando o processo de acumulação dos alelos favoráveis um processo contínuo e deslocando-se a média por meio dos ciclos de seleção. Um ciclo de seleção recorrente envolve basicamente quatro fases que são: a) obtenção de progênies, b) avaliação de progênies, c) seleção, d) recombinação. Obtenção de progênies: meio irmãos, irmãos germanos e progênies parcialmente endogâmicas S1 e S2. Avaliação das progênies: deve ser realizado em ensaios envolvendo repetições e locais, por meio de delineamento experimental apropriado. Em milho é comum o uso do látice, sendo usadas de 200 a 400 progênies, sendo que uma parcela é constituída por 20 a 25 plantas. Seleção de progênies: baseada em médias ou totais de parcelas. A seleção pode ser truncada ou combinada. Truncada somente um caráter e combinada mais de um caráter. A intensidade de seleção varia de 10 a 20%. Recombinação de progênies selecionadas: tem por finalidade gerar variabilidade para o próximo ciclo de seleção. Para a recombinação utiliza-se a semente remanescente das progênies selecionadas. Vale lembrar que parte das sementes é destinada aos ensaios de avaliação e outra parte (semente remanescente) deve ser armazenada cuidadosamente para na próxima safra ser utilizada no campo de recombinação caso essa progênie seja selecionada. Dessa forma a recombinação é feita somente entre progênies selecionadas. Tipo de recombinação: o método mais usado é o irlandês. Este método consiste na retirada de uma pequena quantidade de semente de cada progênie selecionada. Estas são reunidas e homogeneizadas e vão se constituir-se nas linhas macho (fornecedoras de pólen). Em milho, a cada 4 a 6 progênies semeadas, intercala-se uma linha macho. Quando da emissão dos pendões, as plantas das progênies são despendoadas (linhas fêmeas), o que garante que estas plantas serão polinizadas apenas com a mistura de pólen das linhas macho. A seleção recorrente pode ser intrapopulacional, quando visa melhorar uma população e interpopulacional, quando visa melhorar duas populações, buscando a heterose entre elas (também chamada de S.R. RECÍPROCA). Os métodos de seleção recorrente podem ser divididos basicamente em dois tipos: aqueles onde não é feita a avaliação das progênies (Seleção Recorrente Fenotípica) e aqueles onde a avaliação das progênies é realizada através de testes de combinação (Seleção Recorrente para Capacidade Geral de Combinação, Seleção Recorrente para Capacidade Específica de Combinação e Seleção Recorrente Recíproca). SELEÇÃO RECORRENTE FENOTÍPICA (SRF) Este é o tipo mais simples de seleção recorrente, não sendo feita nenhuma avaliação das progênies (testes de capacidade de combinação). Por ser baseado no fenótipo, este tipo de metodologia é eficiente somente para caracteres de alta herdabilidade. Este método de seleção pode ser considerado uma extensão da seleção massal. O método consiste na seleção de plantas em uma população com variabilidade, que são então autopolinizadas (obtenção de progênies S1). Em seguida, as progênies S1 das plantas selecionadas são recombinadas, antes de se começar um novo ciclo de seleção.SELEÇÃO RECORRENTECOM TESTE DE PROGÊNIE Os métodos de seleção recorrente com teste de progênie são uma extensão da seleção de espigas por fileira. A principal diferença está na realização de testes de capacidade de combinação, que também podem ser chamados de testes de TOP CROSS. Neste tipo de seleção, as progênies não são testadas diretamente, mas sim são cruzadas com um testador. O que difere entre os métodos é de seleção para capacidade de combinação é o tipo de testador usado. SELEÇÃO RECORRENTE PARA CAPACIDADE GERAL DE COMBINAÇÃO (CGC). Este método começa com a autofecundação de um bom número de plantas de uma população (obtenção de progênie do tipo S1) e as sementes de cada planta autofecundada são colhidas separadamente. Parte da semente é guardada (sementes remanescentes) para ser usada na fase de recombinação e a outra parte é utilizada para semear as linhas femininas do teste TOP CROSS. Como linha masculina é utilizado um testador de base genética ampla, como por exemplo uma variedade ou híbrido duplo. Para reduzir o tempo gasto em cada ciclo, os cruzamentos TOP CROSS podem ser feitos fora da época normal de plantio. As sementes obtidas no cruzamento de TOP CROSS devem ser avaliadas em ensaios envolvendo locais e repetições, selecionando-se os melhores. Para a recombinação utiliza-se a semente remanescente das progênies selecionadas com os resultados dos ensaios de TOP CROSS. Após a recombinação, obtém-se, na verdade, uma variedade sintética com um ciclo de seleção. Na SR para Capacidade Geral de Combinação há o acúmulo de genes com ação aditiva. SELEÇÃO RECORRENTE PARA CAPACIDADE ESPECÍFICA DE COMBINAÇÃO (CEC) A diferença básica deste método com o de Capacidade Geral de Combinação consiste no uso de testador de base genética restrita como uma linhagem com elevado grau de endogamia. Com isso esperasse o acúmulo de genes de ação de sobredominância. SELECÃO RECORRENTE INTERPOPULACIONAL Também conhecido como Seleção Recorrente Recíproca (SRR), tem por objetivo melhorar a heterose entre duas populações visando unicamente a obtenção de linhagens. SELEÇÃO RECORRENTE RECÍPROCA Método: Autofecundação de um bom número de plantas da população A. Posteriormente é feito cruzamento dessas progênies utilizando-se da população B como testador. O mesmo procedimento é feito com a populaçao B, utilizando-se a população A como testador. As progênies autofecundadas serão o genitor feminino enquanto a outra população será o genitor masculino. Para isso semeiam-se, alternadamente, fileiras de plantas do testador e das progênies autofecundadas. As sementes dos cruzamentos serão submetidas a avaliações, inclusive utilizando sementes do testador como testemunha. Seleciona-se 10 a 20% das seleções, aquelas que revelarem maior capacidade combinatória com o testador. Faz-se blocos de intercruzamento das sementes remanescentes das progênies selecionadas pelo método irlandês. 4 RESISTÊNCIA A DOENÇAS INTRODUÇÃO O melhoramento para resistência a doenças é um dos principais objetivos do melhoramento. Isto porque o controle de doenças através do uso de variedades resistentes é o mais barato e de fácil utilização. Outras vantagens são a menor agressão ao meio ambiente (comparado com o uso de agrotóxicos), ao agricultor (que fica menos exposto aos agrotóxicos) e ao consumidor que pode consumir produtos sem agrotóxicos. Um exemplo prático é o ataque da ferrugem asiática na soja, para a qual ainda não existem cultivares resistentes. A EMBRAPA estima que a redução de produção provocada por esta doença associada aos gastos com controle químico somaram 2 bilhões de reais, somente na safra 2003/2004 (http://www.cnpso.embrapa.br) Em algumas espécies, o controle de importantes doenças só é feito através da utilização de variedades resistentes. Por exemplo temos: ferrugens e carvões em cereais e cana-de-açúcar; murchas vasculares em hortaliças; e viroses na maioria das culturas. Segundo Michereff (2001), três etapas básicas devem ser consideradas em qualquer programa de obtenção e utilização de variedades resistentes: 1) Identificar fontes de resistência, ou seja, identificar no germoplasma genótipos que possuam genes de resistência; 2) Incorporar estes genes em cultivares comerciais por meio dos métodos de melhoramento; 3) Após a obtenção de um cultivar resistente, traçar a melhor estratégia para que a resistência seja durável face à natureza dinâmica das populações patogênicas. VARIABILIDADE DOS PATÓGENOS/RAÇAS FISIOLÓGICAS Um dos problemas que os melhoristas têm que enfrentar é a variabilidade dos organismos fitopatogênicos (fungos, bactérias, vírus e nematóides). O termo raça fisiológica vem sendo utilizado para descrever os patógenos da mesma espécie, morfologicamente semelhantes e com mesma virulência. Patógenos de distintas raças fisiológicas apresentam diferentes níveis de virulência. As raças fisiológicas são identificadas ou diferenciadas pela reação que causam num grupo selecionado do hospedeiro cujos componentes são denominados variedades diferenciadoras (Bueno et al., 2001). Em geral existem apenas dois tipos de reação: resistência e susceptibilidade. É muito importante para o melhorista conhecer as raças fisiológicas das principais doenças na cultura que ele está trabalhando. O aparecimento ou introdução de novas raças de um patógeno pode “quebrar” a resistência de uma cultivar a determinada doença. O melhorista precisa então introduzir novos genes de resistência para essa nova raça fisiológica. FONTES DE RESISTÊNCIA Podemos utilizar diferentes fontes de germoplasma como doadoras de genes de resistência. A melhor fonte são as variedades adaptadas com alto potencial produtivo ou variedades crioulas. Na falta de resistência no material comercial, o melhorista pode utilizar germoplasma selvagem obtido do centro de diversidade da espécie. Quando genes de resistência não são encontrados no germoplasma da espécie, podemos tentar obter essa resistência em espécies aparentadas, através de cruzamento interespecífico. No caso da resistência ser derivada de um ou pouco genes, ela pode ser introduzida em uma cultivar comercial através do método dos retrocruzamentos. No caso de cruzamento interespecífico, temos de fazer a introgressão do germoplasma exótico, através de sucessivos retrocruzamentos com a espécie na qual queremos introduzir a resistência. Temos um bom exemplo de busca de genes de resistência através do cruzamento interespecífico em café. Híbrido de Timor e Icatu são híbridos interespecíficos utilizados para a transferência de genes de resistência à ferrugem-do-cafeeiro, da espécie Coffea canephora para C.arabica. Híbrido de Timor é resultante de hibridação natural entre estas duas espécies, enquanto Icatu foi obtido por polinização artificial. A cultivar IAPAR 59 originou-se do cruzamento entre Coffea arabica, Villa Sarchi 971/10 e o Hibrido de Timor 832/2 , realizado no CIFC - Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, em Portugal. De qualquer forma, a conservação de variabilidade genética em bancos de germoplasma é muito importante para garantir que genes de resistência presentes em variedades selvagens, crioulas ou espécies aparentadas não sejam perdidos. Além da conservação, também é importante a caracterização das diferentes fontes de germoplasma para a resistência a diferentes doenças. Com o avanço das técnicas de biologia molecular e transgenia, já é possível a utilização de genes de resistência de espécies não aparentadas ou mesmo de animais e microorganismos. RESISTÊNCIA VERTICAL E HORIZONTAL A resistência pode ser classificada de acordo com sua efetividade contra raças do patógeno. Segundo Vanderplank (1963), existem resistências que são efetivas contraalgumas raças do patógeno e resistências que são efetivas contra todas as raças. No primeiro caso, temos as resistências verticais, ao passo que no segundo caso temos as resistências horizontais. O controle genético: na maioria dos casos, a resistência vertical é do tipo monogênica enquanto a resistência horizontal é do tipo poligênica. Durabilidade: de forma geral a resistência vertical é de curta duração, pois os patógenos têm capacidade de quebrá-la, quando aparecem ou são introduzidas novas raças para as quais as cultivares não tem resistência. Já a resistência horizontal parece ser mais durável, pois ela se mantém mesmo com o aparecimento de novas raças do patógeno. Efeitos na epidemia: a resistência vertical, por ser efetiva apenas contra algumas raças do patógeno, age no sentido de reduzir a quantidade de inóculo inicial, fazendo com que o início da epidemia seja atrasado. Já a resistência horizontal, reduz a taxa de desenvolvimento da doença, sem afetar significativamente o inóculo inicial. A resistência horizontal está presente em maior ou menor grau em todas as espécies de hospedeiros. Os genes que determinam este tipo de resistência não são específicos, mas sim genes que normalmente existem em plantas sadias, regulando os processos fisiológicos normais. A resistência horizontal tende a ser perdida quando as culturas são melhoradas para resistência vertical, ou quando elas são melhoradas sobre proteção de agroquímicos. Consequentemente, a maioria das cultivares modernas tem uma resistência horizontal consideravelmente menor que as cultivares de 1900s. TEORIA GENE-A-GENE DE FLOR DE FLOR INTERAÇÃO PATÓGENO- HOSPEDEIRO H.H.Flor, estudando a ferrugem-do-linho nos Estados Unidos, foi o primeiro cientista a determinar uma interação entre planta e patógeno. Segundo a hipótese de Flor, para cada gene que condiciona uma reação de resistência no hospedeiro existe um gene complementar no patógeno que condiciona a avirulência. Essa interação ficou conhecida como teoria da interação gene a gene De acordo com o conhecimento atual da interação gene a gene, o alelo de avirulência (V) codifica uma molécula elicitora que é reconhecido por um receptor específico (codificado pelo alelo R) na planta hospedeira. O reconhecimento da molécula elicitora inicia uma rota de transdução de sinais que ativam genes envolvidos na resposta de hipersensibilidade. Por outro lado, se o patógeno não possuir o gene de avirulência, este não será reconhecido pelo hospedeiro, resultando em interação compatível (suscetibilidade). A resistência só ocorre quando o hospedeiro possui o gene de resistência (R) e o patógeno o gene de avirulência (V) correspondente. Qualquer outra situação resulta em susceptibilidade (Tabela ou Quadro 16.2). ESTRATÉGIAS PARA AUMENTO DE RESISTÊNCIA As cultivares modernas de plantas autógamas apresentam grande vulnerabilidade por serem homogêneas, já que são constituídas de uma única linha pura. A grande variabilidade dos patógenos faz com que a resistência vertical contida nessas cultivares tenha uma vida útil curta. A seguir, vamos mostrar algumas estratégias tem sido propostas para tentar prolongar sua vida útil. Piramidação de genes Nesta estratégia, vários genes de resistência vertical a um determinado patógeno serão incorporados no mesmo genótipo. Ela parte da premissa que é muito difícil o aparecimento de uma “super raça” do patógeno, contendo todos os genes de virulência necessários para quebrar esta combinação de genes de resistência. O processo de obtenção de variedades através da piramidação de genes geralmente é lenta. Os genes de resistência vertical são incorporados por retrocruzamento. O uso de piramidação de genes tem sido preconizado para controlar a ferrugem do feijoeiro. Rotação de genes O princípio deste método é o mesmo da rotação de culturas. Neste caso, as variedades que serão utilizadas na rotação possuem genes de resistência a diferentes raças fisiológicas do patógeno. A principal função desta estratégia é diminuir a pressão de seleção sobre o patógeno. Um lado negativo desta estratégia é que os agricultores não gostam de trocar de variedade. Multilinhas Multinhas são uma mistura de linhagens (ou linhas puras) isogênicas, isto é, que diferem entre si por possuírem diferentes genes de resistência vertical a determinado patógeno. As multilinhas têm sido utilizadas no controle de doenças de plantas autógamas tais como trigo e aveia. As multilinhas são obtidas através do método dos retrocruzamentos, sendo que cada linha recebe genes de resistência a uma ou algumas raças predominates do patógeno. Ação das multinhas: nas multilinhas as plantas resistentes à determinada raça se constituem em uma barreira para a dispersão de esporos das plantas suscetíveis. Apesar das plantas suscetíveis serem infectadas, há uma diminuição na concentração e dispersão dos esporos. Isto atrasa o ataque e faz com que os prejuízos com a doença sejam diminuídos. Apesar da resistência vertical, a ação das multilinhas se assemelha à da resistência horizontal. A grande vantagem do uso das multilinhas é sua estabilidade. USO DA BIOTECNOLOGIA A biotecnologia pode ser utilizada para obtenção de variedades com maior resistência a doenças. Podemos utilizar a biotecnologia para entendermos melhor o processo de infecção, para introdução de transgenes e para auxiliar na seleção de materiais resistentes com o uso de marcadores moleculares. Entendimento do processo de infecção Através da utilização das técnicas de biologia molecular tem sido possível identificar e clonar os genes envolvidos no processo de infecção, tanto do patógeno como o de plantas. Com estas informações, será possível entender os genes envolvidos no processo de doença e no processo de defesa da planta. O conhecimento destes mecanismos são muito importantes para que os melhoristas possam desenvolver estratégias de melhoramento mais eficientes de controle de doenças em plantas. Uso de marcadores moleculares Uso de transgenia A transformação genética de plantas pode ser utilizada para a introdução de transgenes visando a obtenção de variedades resistentes. 5 PLANTAS TRANSGÊNICAS A transformação genética é a transferência (introdução) de um ou vários genes em um organismo sem que haja a fecundação ou o cruzamento. Os organismos transformados geneticamente recebem o nome de transgênicos e os genes inseridos são denominados de transgenes. Estes organismos também são chamados de organismos geneticamente modificados (OGMs). Portanto, vegetais transformados geneticamente são chamados de plantas transgênicas. A principal vantagem para o melhorista no uso da tecnologia dos transgênicos é a possibilidade de transferência de características (genes) de plantas não relacionadas (ou seja, sexualmente incompatíveis) ou mesmo de animais e microorganismos. No melhoramento convencional, a troca de genes está limitada somente a espécies que são sexualmente compatíveis. Neste capítulo vamos estudar as técnicas utilizadas para a produção de uma planta transgênica, apresentar alguns exemplos de plantas transgênicas e discutir os benefícios e riscos da utilização dessa tecnologia. COMO FAZER UMA PLANTA TRANSGÊNICA Os passos necessários para a obtenção de uma planta transgênica podem ser resumidos em: (a) isolamento e clonagem de um gene útil; (b) transferência desse gene para dentro da célula vegetal; (c) integração desse gene ao genoma da planta; (d) regeneração de plantas a partir da célula transformada; (e) expressão do gene introduzido nas plantas regeneradas; (f) transmissão do gene introduzido de geração em geração. A transformação genética em vegetaissó foi possível a partir do desenvolvimento das técnicas de cultura de tecido vegetais. Essas técnicas possibilitam a obtenção (regeneração) de uma planta a partir de uma única célula vegetal. Por meio das diferentes técnicas que serão apresentadas neste capítulo, é possível introduzir uma seqüência de DNA (gene) em uma célula e então regenerar uma planta transgênica a partir dessa célula transformada. Os métodos de transformação de plantas podem ser divididos em: indiretos (através do uso da Agrobacterium tumefaciens) e diretos (bombardeamento). A. Uso de Agrobacterium tumefaciens como vetor A transferência de DNA por meio da Agrobacterium tumefaciens é o método mais usado na obtenção de plantas transgênicas de plantas dicotiledôneas. A Agrobacterium tumefaciens é uma bactéria gran-negativa que possui um plasmídeo (DNA extracromossomal) chamado de plasmídeo Ti (indutor de tumor) que possui a habilidade de transferir uma parte de seu DNA para a célula vegetal que está infectando. Esse DNA é chamado de T-DNA, e contém genes envolvidos na produção de reguladores de crescimento vegetais e opinas. Em condições naturais, quando o T-DNA é transferido para a célula vegetal essa produzirá substâncias que servirão de alimento (opinas) para o patógeno e levarão a célula vegetal a se multiplicar, formando tumores ou calos. Por meio da manipulação genética do plasmídeo Ti, foi possível a substituição das seqüências nativas na região de transferência do plasmídeo (T-DNA) por genes de interesse. Assim, quando o Agrobacterium contendo um plasmídeo Ti manipulado infecta uma célula vegetal, ele transferirá o gene de interesse para dentro da célula transformada. A infecção com Agrobacterium geralmente é feita em tecidos vegetais tais como folhas. Em geral, coloca-se o Agrobacterium em co-cultivo com o tecido a ser transformado por 24-48 horas, sendo em seguida transferido para meio com antibióticos com a finalidade de matar a bactéria e selecionar as células transformadas, que serão então regeneradas. O número de espécies transformadas por Agrobacterium é muito grande, entre as quais estão incluídas as seguintes: tomate ( ), soja ( ) e algodão ( ). Uma limitação na utilização de Agrobacterium é que essa bactéria não consegue infectar de forma eficiente a maioria das monocotiledôneas. Pôr isso foram desenvolvidos métodos alternativos de transformação de plantas. B. Bombardeamento A transformação por meio do bombardeamento de microprojéteis é um método mecânico de introdução de DNA que pode ser usado na maioria das espécies ou genótipos. Ela pode ser usada em espécies que não são infectadas de forma eficiente pelo Agrobacterium, tais como os cereais. Esse método de transformação é constituído de um acelerador (também chamado de canhão) que impeli microprojéteis metálicos (partículas) carregando DNA para dentro de células, tecidos ou orgãos vegetais intactos, que são posteriormente regenerados. Existem vários modelos de aceleradores, mas os mais utilizados atualmente utilizam o gás hélio comprimido para gerar a força necessária para a aceleração de partículas. Entre os protótipos mais utilizados temos o “Biolistic ™ PDS 1000/He” da empresa BioRad que utiliza altas pressões de hélio. As partículas metálicas mais utilizadas no bombardeamento são as de tungstênio e ouro. As partículas são preparadas com a precipitação do DNA. O método mais utilizado para precipitação de DNA utiliza CaCl2 e espermidina associado com partículas de tungstênio. A transformação por bombardeamento ocorre sob vácuo, para aumentar a eficiência de penetração das partículas. É necessária a calibração das condições de bombardeamento para cada espécie e material celular utilizado. Devem ser testadas várias alturas de disparo, um ou mais tiros, adição de osmóticos no meio, etc. Um bombardeamento muito forte pode levar à morte das células, enquanto um muito fraco leva a uma baixa ou nula transformação. Por esse método foram transformadas várias espécies tais como soja ( ) e milho ( ). O bombardeamento de partículas também tem sido utilizado para a transformação de cloroplastos ( ) e mitocondrias ( ). C. Marcadores de Seleção Marcadores de seleção são necessários para aumentar a produção de células e plantas transgênicas. Um marcador de seleção permite o crescimento preferencial das células transformadas na presença do agente seletivo, evitando o crescimento das células não transformadas. Genes que conferem resistência a antibióticos ou herbicidas podem ser usados como marcadores de seleção. O agente de seleção mais usado na transformação vegetal é o gene NPT II (de neomicina fosfotransferase, tipo II), que confere resistência a antibióticos como canamicina e geneticina. Os meios de seleção são acrescidos de doses entre 15 e 100 mg/l de canamicina, que são tóxicas para células vegetais não transformadas. Genes de resistência a herbicidas também tem sido usados com freqüência como marcadores de seleção. Entre os mais usados, temos o gene BAR que confere resistência ao herbicida Basta ® (princípio ativo fosfonotricina ou PPT). Para cada protocolo de transformação, é necessário determinar a dose do agente seletivo adequada para a espécie e tipo celular usados. Uma dosagem muito alta pode provocar a morte de todas as células e uma subdosagem pode levar ao aparecimento de escapes (plantas não transformadas). III. EXEMPLOS DA APLICAÇÃO DA TRANSGENIA As características modificadas através da transformação genética podem ser divididas em: característica do tipo input e características do tipo output. Características do tipo input são aquelas relacionadas com o processo produtivo. Esse tipo de característica visa principalmente a redução do custo de produção e abrangem por exemplo plantas transgênicas com resistência a herbicida, doenças e insetos. A maioria das plantas transgênicas já liberadas para plantio comercial contém transgenes para características do tipo input. Características do tipo output são aquelas relacionadas com o consumidor, visando principalmente agregar valor ao produto final, através da melhoria nutricional ou melhor conservação pós-colheita. A. Resistência a herbicidas Entre as características que tem causado maior impacto está a resistência aos herbicidas. A competição com plantas daninhas é um dos principais fatores que afetam a produtividade das culturas. Plantas transgênicas com resistência a herbicidas facilitam e tornam mais barato o controle de plantas daninhas. A soja Round up Ready® da empresa Monsanto possui resistência ao herbicida glifosato (Round up™). Esta resistência foi obtida pela introdução do gene EPSPS clonado da bactéria Agrobacterium tumefaciens estirpe CP4. A EMBRAPA possui um acordo comercial com a Monsanto e já lançou várias cultivares de soja resistentes ao herbicida glifosato. Nesse caso, a transferência do transgene foi feita através do método dos retrocruzamentos, utilizando a soja RR como pai doador e as cultivares da EMBRAPA como pai recorrente. O milho Liberty link da empresa Aventis possui resistência ao herbicida glufosinato (Basta®). Esta resistência foi obtida através da introdução do gene PAT, que foi clonado da bactéria Streptomyces hygroscopicus. B. Resistência a insetos O uso de inseticidas é a forma mais comum de controle de pragas nas plantas cultivadas. A utilização de plantas transgênicas com resistência a insetos pode reduzir a necessidade de aplicação desses agrotóxicos, com conseqüente redução dos custos de produção. O genes cry (ou genes BT), que codificam a toxina da bactériaBacillus thrurigienses, tem sido utilizados na obtenção de plantas transgênicas resistentes a insetos. Variedades transgênicas de algodão (Bollguard®) e milho (Yieldguard®) resistentes a insetos da ordem Lepdoptera foram obtidos pela introdução do gene Bt-Cry1A(b). Grandes áreas variedades de algodão e milho Bt estão sendo plantadas nos Estados Unidos e outros países. C. Resistência a doenças O controle genético de doenças através do uso de variedades resistentes é o método de controle preferido por ser mais barato e de fácil utilização ( ). A transgenia pode ser uma alternativa para a obtenção de cultivares resistentes a doenças quando fontes de resistência não forem encontradas no germoplasma da espécie. A maior contribuição da transgenia na geração de plantas resistentes a doenças até o momento vem do desenvolvimento de estratégias contra doenças virais. Essa resistência tem sido obtida principalmente através da introdução de seqüências genômicas dos próprios patógenos, estratégia que é denominada de resistência derivada do patógeno. Entre as primeiras plantas transgênicas resistente a viroses liberadas para plantio comercial está o mamoeiro resistente ao vírus da mancha anelar (PRSV) no Havaí. Esse mamoeiro transgênico foi liberado em 1998, sendo que a resistência foi obtida através da introdução de partes do gene que codifica a capa protéica do vírus PRSV. No Brasil, a EMBRAPA está testando mamoeiros transgênicos contra o vírus da mancha anelar em Cruz das Almas (Bahia). Nos Estados Unidos, além do mamoeiro, várias outras plantas já foram aprovadas para comercialização, como abóboras resistentes aos vírus WMV (watermelon mosaic vírus), ZYMV (zucchini yellow mosaic vírus) e CMV (cucumber mosaic vírus) e batatas resistentes aos vírus PLRV (potato leafroll vírus) e PVY (potato vírus Y). D. Alteração do amadurecimento Diferentes estratégias podem ser usadas na obtenção de plantas transgênicas com maturação alterada. O processo de maturação pode ser alterado desligando genes responsáveis pela síntese do etileno, bloqueando a ação do etileno e desligando genes expressos durante a maturação. A primeira planta transgênica liberada para o plantio comercial foi o tomate Flavr Sarv™ da empresa Calgene, em 1994. Esse tomate possuía um gene antisenso para a enzima poligaracturonase (degrada a pectina da parede durante o amadurecimento), possuindo uma vida de prateleira mais longa que um tomate convencional. A estratégia antisenso é utilizada quando se quer diminuir ou bloquear a ação de um gene. Nesse caso, a planta é transformada com um fragmento de DNA do gene alvo em orientação oposta à orientação normal. A transcrição do transgene gera um RNA (RNA antisenso) que é complementar ao RNAm do gene que se quer alterar. O RNA antisenso se liga ao RNAm do gene alvo, bloqueando sua tradução e a formação da proteína correspondente. FIGURA E. Qualidade nutricional Um dos grandes objetivos do melhoramento de plantas é a obtenção de variedades com maior qualidade nutricional. Vários grupos de pesquisa estão desenvolvendo projetos visando a obtenção de variedades com maior valor nutritivo através da transgenia. Milhões de pessoas nos países subdesenvolvidos sofrem de deficiência em vitamina A, que pode levar a problemas de visão principalmente em crianças. O arroz é a principal fonte de alimento no mundo, mas uma fonte muito pobre em vitamina A e seus precursores. Pela inserção de dois transgenes da planta Narcisso e um transgene da bactéria Erwinia foi possível obter arroz transgênico com capacidade de produzir cerca de 20 vezes mais beta caroteno (precursor da vitamina A) que o arroz convencional. Esse arroz foi chamado de arroz dourado (golden rice). IV. CONSIDERAÇÕES SOBRE BENEFÍCIOS E RISCOS DO USO DE PLANTAS TRANSGÊNICAS A produção e utilização de plantas transgênicas tem provocado um grande debate tanto na comunidade científica como na mídia. Geralmente pessoas com diferentes pontos de vista apresentam os benefícios e riscos do uso dessa tecnologia para o melhoramento, produtores, meio ambiente e consumidores. A. Pontos positivos Para o melhorista, a principal vantagem da utilização de transgênicos parece ser a possibilidade da utilização de genes que não poderiam ser obtidos pela hibridação. Outra vantagem é a possibilidade de introdução de um gene específico sem a necessidade de cruzamentos e retrocruzamentos. Com isto existe a possibilidade de diminuição no número de gerações e, consequentemente, do tempo necessário para o desenvolvimento de um novo cultivar. Este impacto deve ser mais evidente em espécies perenes que geralmente tem ciclo de vida longo. O produtor pode ser beneficiado com o uso de plantas transgênicas principalmente pela diminuição do custo de produção e do uso de agrotóxicos. Plantas transformadas com resistência a insetos- pragas e doenças necessitam de menos aplicações de defensivos. Para o meio ambiente, o uso de plantas transgênicas pode levar a um menor uso de defensivos, diminuindo a poluição ambiental. O consumidor ainda não tem se beneficiado de forma expressiva da transgenia pois a grande maioria das plantas transgênicas liberadas são do tipo input. Entretanto, futuramente pode haver melhoria da qualidade dos alimentos e menor uso de defensivos químicos. B. Pontos negativos A transgenia não aumenta a produtividade de modo direto, pois as técnicas de transformação genéticas só tem a capacidade de introduzir um ou pouco genes. A produtividade é um caráter quantitativo, governado por muitos genes. A integração do transgene no genoma da planta é ao acaso e pode levar a alteração na expressão de outros genes da planta. O uso da transgenia é limitado pela capacidade de regeneração das espécies. Espécies que tem não tem capacidade de serem regeneradas por cultura de tecidos não podem ser transformadas. Para a utilização de variedades transgênicas os agricultores tem que pagar “royalties” para as empresas detentoras das patentes, o que pode acarretar na elevação do custo das sementes e a necessidade de compra de sementes a cada safra. Além disso, existe uma concentração da transgenia em poucas Empresas Multinacionais. Em certos locais existem plantas daninhas que podem cruzar naturalmente com plantas cultivadas. Neste caso, deve ser considerado a possibilidade de fluxo gênico entre plantas transgênicas resistentes a herbicidas e essas plantas daninhas. O uso de genes para resistência a insetos-pragas, principalmente em plantas perenes, pode levar ao aparecimento muito rápido de indivíduos resistentes. Por isso, o uso de plantas transgênicas com resistência a pragas deve ser utilizada dentro das estratégias do manejo integrado de pragas. A introdução de novos genes (proteínas) pode levar ao aparecimento de alergias em pessoas suscetíveis. Por isso existe uma grande discussão da necessidade ou não de identificar nos rótulos os produtos que contenham plantas geneticamente modificadas. V. CONCLUSÕES A produção de plantas transgênicas, apesar de trazer uma série de vantagens para o melhorista, não diminui a importância do melhoramento convencional. Na verdade, as técnicas de engenharia genética vieram apenas auxiliar o melhorista a fazer um trabalho mais eficiente. REFERÊNCIAS BESPALHOK F., J.C.; GUERRA, E.P.; OLIVEIRA, R. Endogamia e Heterose. In: BESPALHOK F., J.C.; GUERRA, E.P.; OLIVEIRA, R. Melhoramento de Plantas. Disponível em www.bespa.agrarias.ufpr.br., p.
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