Buscar

Processos-de-Tratamento-e-Reuso-de-Esgotos-Parte1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Processos de tratamento 
e reuso de esgotos 
 
 
 Guia do profissional em treinamento Nível 2 
 
 
E
sg
o
ta
m
e
n
to
 s
a
n
it
á
ri
o
 
 
Promoção Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental – ReCESA 
Realização Núcleo Regional Nordeste – NURENE 
Instituições integrantes do NURENE Universidade Federal da Bahia (líder) | Universidade Federal do Ceará | 
Universidade Federal da Paraíba | Universidade Federal de Pernambuco 
Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia I Fundação Nacional de Saúde do 
Ministério da Saúde I Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades 
Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor de Saneamento – PMSS 
Comitê gestor da ReCESA Comitê consultivo da ReCESA 
- Ministério das Cidades; 
- Ministério da Ciência e Tecnologia; 
- Ministério do Meio Ambiente; 
- Ministério da Educação; 
- Ministério da Integração Nacional; 
- Ministério da Saúde; 
- Banco Nacional de Desenvolvimento 
 Econômico Social (BNDES); 
- Caixa Econômica Federal (CAIXA). 
 
 
 
 
 
 
Parceiros do NURENE 
- ARCE – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará 
- Cagece – Companhia de Água e Esgoto do Ceará 
- Cagepa – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba 
- CEFET Cariri – Centro Federal de Educação Tecnológica do Cariri/CE 
- CENTEC Cariri – Faculdade de Tecnologia CENTEC do Cariri/CE 
- Cerb – Companhia de Engenharia Rural da Bahia 
- Compesa – Companhia Pernambucana de Saneamento 
- Conder – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia 
- EMASA – Empresa Municipal de Águas e Saneamento de Itabuna/BA 
- Embasa – Empresa Baiana de Águas e Saneamento 
- Emlur – Empresa Municipal de Limpeza Urbana de João Pessoa 
- Emlurb / Fortaleza – Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização de Fortaleza 
- Emlurb / Recife – Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife 
- Limpurb – Empresa de Limpeza Urbana de Salvador 
- SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Município de Alagoinhas/BA 
- SANEAR – Autarquia de Saneamento do Recife 
- SECTMA – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco 
- SEDUR – Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia 
- SEINF – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura de Fortaleza 
- SEMAM / Fortaleza – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano 
- SEMAM / João Pessoa – Secretaria Executiva de Meio Ambiente 
- SENAC / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Pernambuco 
- SENAI / CE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará 
- SENAI / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Pernambuco 
- SEPLAN – Secretaria de Planejamento de João Pessoa 
- SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba 
- UECE – Universidade Estadual do Ceará 
- UFMA – Universidade Federal do Maranhão 
- UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco 
- UPE – Universidade de Pernambuco 
- Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC 
- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES 
- Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH 
- Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP 
- Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE 
- Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE 
- Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – CONCEFET 
- Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA 
- Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE 
- Federação Nacional dos Urbanitários – FNU 
- Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – FNCBHS 
- Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras 
– FORPROEX 
- Fórum Nacional Lixo e Cidadania – LeP 
- Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA 
- Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM 
- Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS 
- Programa Nacional de Conservação de Energia – PROCEL 
- Rede Brasileira de Capacitação em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Processos de tratamento 
e reuso de esgotos 
 
 
 Guia do profissional em treinamento Nível 2 
 
 
E
sg
o
ta
m
e
n
to
 s
a
n
it
á
ri
o
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação da Fonte: 
 
 
Coordenação Geral do NURENE 
Profª. Drª. Viviana Maria Zanta 
 
 
Organização do guia 
Professor André Bezerra dos Santos 
 
Créditos 
André Macedo Faço | Elisângela Maria Rodrigues Rocha 
Fernando José da Silva Araújo | Gilson Barbosa Athayde Júnior 
Marcos Erick Rodrigues da Silva | Neyliane Costa de Souza 
Paula Loureiro Paulo | Renato Carrhá Leitão 
Sandra Tédde Santaella | Soraia Tavares de Souza Gradvohl 
Suetônio Mota 
Marcos von Sperling | Silvio Roberto Magalhães Orrico 
Hugo Vítor Dourado de Almeida 
 
 
Central de Produção de Material Didático 
Patrícia Campos Borja | Alessandra Gomes Lopes Sampaio Silva 
 
Projeto Gráfico 
Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi 
 
Impressão 
Fast Design 
 
 
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. 
 
EXX Esgotamento sanitário: processos de tratamento e reuso de esgotos: guia do 
profissional em treinamento: nível 2 / Secretaria Nacional de Saneamento 
Ambiental (org). – Salvador: ReCESA, 2008. 179 p. 
 
Nota: Realização do NURENE – Núcleo Regional Nordeste; coordenação de 
Viviana Maria Zanta, José Fernando Thomé Jucá, Heber Pimentel Gomes e 
Marco Aurélio Holanda de Castro. 
 
1. Saneamento e saúde. 2. Qualidade da água – fundamentos. 3. 
Tecnologias de tratamento – operações, processos e graus. 4. Soluções 
individuais para destino e tratamento de esgotos domésticos. 5. Estações 
de tratamento de esgotos – concepção e arranjos. 6. Tratamento 
preliminar. 7. Tratamento primário. 8. Tratamento anaeróbio. 9. Lagoas 
de estabilização. 10. Tratamento aeróbio – noções. 11. Águas servidas e 
lodo – manejo e reuso. 12. Legislação aplicada. I. Brasil. Secretaria 
Nacional de Saneamento Ambiental. II. Núcleo Regional Nordeste. 
 
CDD – XXX.X 
 
 
Apresentação da ReCESAApresentação da ReCESAApresentação da ReCESAApresentação da ReCESA 
 
 
A criação do Ministério das Cidades Ministério das Cidades Ministério das Cidades Ministério das Cidades no 
Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da 
Silva, em 2003, permitiu que os imensos 
desafios urbanos passassem a ser 
encarados como política de Estado. Nesse 
contexto, a Secretaria Nacional de Secretaria Nacional de Secretaria Nacional de Secretaria Nacional de 
Saneamento Ambiental Saneamento Ambiental Saneamento Ambiental Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou 
um paradigma que inscreve o saneamento 
como política pública, com dimensão 
urbana e ambiental, promotora de 
desenvolvimento e redução das 
desigualdades sociais. Uma concepção de 
saneamento em que a técnica e a 
tecnologia são colocadas a favor da 
prestação de um serviço público e 
essencial. 
A missão da SNSA ganhou maior 
relevância e efetividade com a agenda do 
saneamento para o quadriênio 2007-
2010, haja vista a decisão do Governo 
Federal de destinar, dos recursos 
reservados ao Programa de Aceleração do 
Crescimento (PAC), 40 bilhões de reaispara investimentos em saneamento. 
Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações 
de capacitação como um dos 
instrumentos estratégicos para a 
modificação de paradigmas, o alcance de 
melhorias de desempenho e da qualidade 
na prestação dos serviços e a integração 
de políticas setoriais. O projeto de 
estruturação da Rede Rede Rede Rede de Capacitação e de Capacitação e de Capacitação e de Capacitação e 
Extensão Tecnológica em Saneamento Extensão Tecnológica em Saneamento Extensão Tecnológica em Saneamento Extensão Tecnológica em Saneamento 
Ambiental Ambiental Ambiental Ambiental –––– ReCESA ReCESA ReCESA ReCESA constitui importante 
iniciativa nessa direção. 
A ReCESA tem o propósito de reunir um 
conjunto de instituições e entidades com 
o objetivo de coordenar o 
desenvolvimento de propostas 
pedagógicas e de material didático, bem 
como promover ações de intercâmbio e de 
extensão tecnológica que levem em 
consideração as peculiaridades regionais e 
as diferentes políticas, técnicas e 
tecnologias visando capacitar 
profissionais para a operação, 
manutenção e gestão dos sistemas e 
serviços de saneamento. Para a 
estruturação da ReCESA foram formados 
Núcleos Regionais e um Comitê Gestor, 
em nível nacional. 
Por fim, cabe destacar que este projeto 
tem sido bastante desafiador para todos 
nós: um grupo predominantemente 
formado por profissionais da área de 
engenharia que compreendeu a 
necessidade de agregar outros olhares e 
saberes, ainda que para isso tenha sido 
necessário "contornar todos os meandros 
do rio, antes de chegar ao seu curso 
principal". 
Comitê GeComitê GeComitê GeComitê Gestor da ReCESA stor da ReCESA stor da ReCESA stor da ReCESA 
 
NURENENURENENURENENURENE 
 
 
O Núcleo Regional Nordeste (NURENE) tem 
por objetivo o desenvolvimento de 
atividades de capacitação de profissionais 
da área de saneamento, em quatro 
estados da região Nordeste do Brasil: 
Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco. 
 
O NURENE é coordenado pela 
Universidade Federal da Bahia (UFBA), 
tendo como instituições co-executoras a 
Universidade Federal do Ceará (UFC), a 
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a 
Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE). 
 
O NURENE espera que suas atividades 
possam contribuir para a alteração do 
quadro sanitário do Nordeste e, 
consequentemente, para a melhoria da 
qualidade de vida da população dessa 
região marcada pela desigualdade social. 
Coordenadores Institucionais do NURENECoordenadores Institucionais do NURENECoordenadores Institucionais do NURENECoordenadores Institucionais do NURENE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Guias Os Guias Os Guias Os Guias 
 
 
A coletânea de materiais didáticos 
produzidos pelo NURENE é composta de 
19 guias que serão utilizados nas Oficinas 
de Capacitação para profissionais que 
atuam na área de saneamento. Quatro 
guias tratam de temas transversais, 
quatro abordam o manejo das águas 
pluviais, três estão relacionados aos 
sistemas de abastecimento de água, três 
são sobre esgotamento sanitário e cinco 
versam sobre o manejo dos resíduos 
sólidos e limpeza pública. 
 
O público alvo do NURENE envolve 
profissionais que atuam na área dos 
serviços de saneamento e que possuem 
um grau de escolaridade que varia do 
semi-alfabetizado ao terceiro grau. 
 
Os guias representam um esforço do 
NURENE no sentido de abordar as 
temáticas de saneamento segundo uma 
proposta pedagógica pautada no 
reconhecimento das práticas atuais e em 
uma reflexão crítica sobre essas ações 
para a produção de uma nova prática 
capaz de contribuir para a promoção de 
um saneamento de qualidade para todos. 
Equipe da Central de Produção de Material Didático Equipe da Central de Produção de Material Didático Equipe da Central de Produção de Material Didático Equipe da Central de Produção de Material Didático –––– CPMD CPMD CPMD CPMD 
 
 
 
 
 
Apresentação daApresentação daApresentação daApresentação da área temática área temática área temática área temática 
 
Esgotamento sanitárioEsgotamento sanitárioEsgotamento sanitárioEsgotamento sanitário 
 
 
 
O tema esgoto foi dividido em duas 
grandes áreas: esgotamento sanitário e 
tratamento de esgotos. Na parte de 
esgotamento sanitário, consideraram-se os 
aspectos relacionados aos fundamentos de 
projeto, operação e manutenção das 
diversas partes que compõem o sistema, 
de forma a proporcionar à audiência uma 
visão macro do assunto. Na parte do 
tratamento de esgotos, procurou-se, além 
de abordar os aspectos de projeto, 
operação e manutenção de ETEs, atentar 
sobre a importância do mesmo na questão 
da saúde pública, além de formas de reuso 
de esgotos e lodo em irrigação. 
Finalmente, abordou-se o assunto 
qualidade de água e controle de poluição 
de uma maneira simples e objetiva, 
tentando assim mostrar a enorme 
importância do assunto aos dois públicos 
alvos do NURENE. 
 
Conselho Editorial Conselho Editorial Conselho Editorial Conselho Editorial de Esgotamento Sanitáriode Esgotamento Sanitáriode Esgotamento Sanitáriode Esgotamento Sanitário 
 
Sumário 
 
Saneamento e saúde ..................................................................................09 
Fundamentos de qualidade da água ...........................................................19 
Processos, níveis e tecnologias de tratamento ............................................36 
Destino e tratamento dos esgotos domésticos através de soluções 
individuais .................................................................................................48 
Concepção e arranjos de estações de tratamento de esgotos .....................63 
Tratamento preliminar de esgotos .............................................................73 
Tratamento primário de esgotos ................................................................85 
Tratamento anaeróbio de esgotos ..............................................................92 
Lagoas de estabilização ............................................................................109 
Noções de tratamento aeróbio de esgotos ................................................124 
Manejo e reuso de águas servidas ............................................................140 
Legislação aplicada ao descarte de esgotos em corpos d’água e reuso de 
esgotos em irrigação ................................................................................158 
Referências ..............................................................................................172
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
9 
Saneamento e saúde 
 
Autores: Suetônio Mota e Márcio Botto 
 
 
Condições de saneamento básico e saúde 
 
As ações de saneamento básico compreendem, principalmente, o abastecimento de água 
potável, o esgotamento sanitário e o manejo adequado das águas pluviais e dos resíduos 
sólidos. Essas ações integradas são indispensáveis para que várias enfermidades não 
ocorram em uma comunidade. 
 
Muitas doenças são veiculadas a partir de fezes humanas e podem ser transmitidas de uma 
pessoa doente para uma sadia por meio da água ou pelo contato com o ambiente 
contaminado por dejetos. 
 
O Brasil é um país com profunda desigualdade social, que torna um desafio as ações de 
promoção da saúde. Infelizmente, ainda é precário, no Brasil, o atendimento à população, 
por serviços de saneamento básico, especialmente o esgotamento sanitário. 
 
Devido ao lançamentode efluentes de esgoto sem tratamento, com elevada carga de 
poluição, nos recursos hídricos e suas proximidades, a população está sujeita a captar água 
de poços ou mananciais superficiais, imprópria sanitariamente para consumo humano. 
 
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por 
Amostra de Domicílios de 2005, 67% da população da região Nordeste contava com 
abastecimento de água por rede geral, enquanto este índice alcançava 79% para o Brasil. 
Essa disparidade regional é mostrada na Figura 1. 
 
 
 
 
 
Figura 1. Figura 1. Figura 1. Figura 1. Domicílios sem abastecimento de água por rede geral no Brasil. 2000. 
 
Fo
n
te
: 
IB
G
E 
Es
ta
tc
ar
t 
(2
0
0
4
),
 s
is
te
m
at
iz
ad
o
s 
p
o
r 
Bo
tt
o
 (
2
0
0
6
).
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
10
Existe também, uma enorme disparidade nas condições de precariedade de saneamento 
entres as zonas rurais e urbanas. No Brasil, em 2000, 90% dos domicílios situados na área 
urbana eram abastecidos por rede geral, no entanto, somente 18% na área rural possuíam 
esse benefício. 
 
Quanto ao esgotamento sanitário, os dados são mais alarmantes. De acordo com os dados 
levantados pelo IBGE, em 2005, somente 27% da população do Nordeste e 48 % da 
população do Brasil contavam com esgotamento sanitário por rede geral. A Figura 2 
apresenta as condições de esgotamento sanitário para cada estado do Brasil. Esgotamento 
sanitário adequado nesse mapa significa a destinação dos efluentes para rede coletora 
pública ou para fossa séptica corretamente executada. 
 
Não obstante, o indicador que mais impressiona é a falta de banheiros ou sanitários. Uma 
em cada quatro casas na região Nordeste não dispõe de um sanitário ou um banheiro, 
condição básica para destinar adequadamente os resíduos fecais (BOTTO, 2006). 
 
 
 
Figura 2. Figura 2. Figura 2. Figura 2. Domicílios sem esgotamento sanitário adequado no Brasil. 2000. 
 
 
A inexistência de sistemas adequados para a destinação dos dejetos pode resultar no 
contato do homem com os mesmos, ocasionando a transmissão de várias doenças. 
Muitos microrganismos patogênicos estão presentes nas fezes humanas e podem alcançar 
outras pessoas por diversas maneiras, causando-lhe doenças. 
 
A falta de sistemas de coleta, tratamento e destinação final dos esgotos sanitários resulta 
em formas inadequadas para sua disposição, tais como: lançamento em corpos de água; 
disposição em terrenos; infiltração no solo e conseqüente poluição da água subterrânea. 
Com isso, favorece-se o contato, de forma indireta, das pessoas com os dejetos, 
ocasionando a proliferação de doenças. 
 
No Brasil, 17,4% das crianças e adolescentes vivem sem abastecimento de água interna no 
domicílio. Como conseqüência direta da falta de água tratada, a incidência de doenças 
relacionadas com a água se torna elevada, ocasionando um excessivo número de óbitos, 
principalmente de crianças de 0 a 5 anos, por diarréia aguda (OPS/OMS, 2002). 
Fo
n
te
: 
IB
G
E 
Es
ta
tc
ar
t 
(2
0
0
4
),
 s
is
te
m
at
iz
ad
o
s 
p
o
r 
Bo
tt
o
 (
2
0
0
6
).
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
11 
Isso ressalta a necessidade da adoção de sistemas adequados para destinação dos resíduos 
líquidos, especialmente a execução de serviços coletivos de coleta, tratamento e destinação 
final de esgotos domésticos. 
 
O destino adequado dos dejetos humanos do ponto de vista sanitário visa, 
fundamentalmente, a evitar a poluição do solo e dos mananciais e o contato de moscas e 
baratas (vetores) com as fezes, controlando e prevenindo as doenças a eles relacionadas. Do 
ponto de vista econômico, condições adequadas de saneamento propiciam uma diminuição 
das despesas com o tratamento de doenças evitáveis, redução do custo do tratamento da 
água de abastecimento, pela prevenção da poluição dos mananciais e o controle da poluição 
das praias e dos locais de recreação, com o objetivo de promover o turismo e a preservação 
da fauna aquática (FUNASA, 2006). 
 
 
Mecanismos de contato com dejetos 
 
Várias são as formas das pessoas terem contato com dejetos, como mostrado na Figura 3. 
As principais destinações dos esgotos domésticos, tratados ou não, são os corpos de água. 
O lançamento de esgotos na água geralmente contribui para a ocorrência de várias doenças, 
seja pela sua ingestão, por contato com a pele e mucosas, ou quando a mesma é usada na 
irrigação ou preparação de alimentos. 
 
A disposição não controlada de esgotos no solo pode ser causa de doenças, adquiridas pelo 
contato das mãos, dos pés ou de outras partes do corpo com o terreno contaminado. 
A falta de higiene pessoal pode levar à transmissão de doenças pelo contato de pessoa a 
pessoa (mão x mão) e à contaminação de alimentos por meio da manipulação feita por 
pessoas que não lavam as mãos após o uso da privada. 
 
As moscas e baratas encontram nos dejetos locais para reprodução e para alimentação, 
podendo causar a contaminação de alimentos e do ambiente, resultando na transmissão de 
doenças. A carne de animais que se alimentam de fezes pode, também, causar doenças ao 
ser humano, como, por exemplo, a teníase. 
 
Para que as doenças veiculadas a partir de dejetos não ocorram é necessário evitar-se essas 
diversas vias de transmissão. Muitas doenças são evitadas com a execução de sistemas 
adequados de coleta, tratamento e destinação para os esgotos sanitários, seja por meio de 
soluções individuais (fossas), mais indicadas para edificações isoladas, ou seja, áreas de 
baixa densidade, ou pela implantação de serviços públicos de esgotamento sanitário, 
soluções mais recomendadas para as áreas urbanas. 
 
Além disso, é importante a educação sanitária da população, para que, com a adoção de 
hábitos higiênicos, evite a contaminação de outras pessoas, dos alimentos e do ambiente. 
 
 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
12
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3.Figura 3.Figura 3.Figura 3. Mecanismos de transmissão de doenças a partir dos dejetos. 
 
 
Dejetos e doenças 
 
Várias doenças podem ser transmitidas a partir dos dejetos humanos, por diversos 
mecanismos de veiculação, como mostrado na Figura 3. 
 
O Quadro 1 relaciona algumas doenças veiculadas a partir de dejetos humanos, indicando os 
seus modos de transmissão. Como se pode constatar nesse quadro, os mecanismos de 
transmissão de doenças a partir de dejetos são: água, alimentos, mãos sujas, solo, moscas e 
baratas, carne de animais doentes. 
 
A giardíase, por exemplo, tem sua transmissão pela ingestão de cistos maduros, por meio 
de águas e alimentos poluídos por fezes humanas, os quais podem ser contaminados, 
também, por cistos veiculados por moscas e baratas; de pessoa a pessoa, por meio de mãos 
sujas, em locais de aglomeração humana e onde há má higiene das mãos ao alimentar-se. 
Essa infecção é com facilidade adquirida quando crianças defecam no chão e, brincando com 
outras crianças, levam as mãos à boca (NEVES, 2000). 
 
Quadro 1. Quadro 1. Quadro 1. Quadro 1. Doenças transmitidas a partir de dejetos humanos e seus modos de transmissão 
DOENÇADOENÇADOENÇADOENÇA MODOS DE TRANSMISSÃOMODOS DE TRANSMISSÃOMODOS DE TRANSMISSÃOMODOS DE TRANSMISSÃO 
Amebíase 
 
Ingestão de água ou de alimentoscontaminados, moscas, mãos 
sujas 
 
Moscas 
 
Baratas 
 
Ambiente 
 
Alimentos 
 
Ingestão 
 
Carne de 
Animais 
 
Dejetos de 
 
p essoa 
doente 
 
Ingestão 
 
Irrigação 
 
C ontato 
 
Mãos 
 
Pés 
descalços 
 
Mãos 
 
Alimentos 
 
 Mãos 
 
 
Solo 
 
 
Água 
 
Fo
n
te
: 
A
d
ap
ta
d
o
 d
e 
M
o
ta
 (
2
0
0
6
a)
. 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
13 
 
Ancilostomíase 
 
Ascaridíase 
 
Cólera 
 
 
Diarréias infecciosas 
 
 
Esquistossomose 
 
Febre tifóide 
 
Febre paratifóide 
 
Giardíase 
 
 
Hepatite infecciosa 
 
 
Poliomelite 
 
 
Teníase 
 
 
 
Contato com o solo contaminado 
 
Ingestão de ovos contidos no solo e nos alimentos 
 
Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas, 
moscas 
 
Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas, 
moscas 
 
Contato da pele ou mucosas com água contaminada 
 
Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas 
 
Ingestão de água ou de alimentos contaminados, mãos sujas 
 
Mãos contaminadas por fezes contendo cistos; água e alimentos na 
transmissão indireta 
 
Contaminação feco-oral; ingestão de água e alimentos 
contaminados 
 
Indiretamente, por meio da ingestão de água contaminada; as 
moscas podem funcionar como vetores mecânicos 
 
Carne de animais doentes (que se alimentaram de fezes); 
transferência direta da mão à boca; ingestão de água ou de 
alimentos contaminados 
 
 
Moraes (2000) indica que a prevalência de Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura é maior 
em crianças moradoras de bairros sem esgotamento sanitário. 
 
Segundo Marques (2003), citando outros autores, vários estudos mostram risco aumentado 
da diarréia e parasitoses em domicílios sem disposição adequada de dejetos, seja por rede 
pública ou fossa séptica. 
 
A cólera é uma doença que tem nos dejetos a sua origem, sendo uma infecção intestinal 
aguda causada pelo Vibrio cholerae, que é uma bactéria capaz de produzir uma enterotoxina 
que causa diarréia. O V. cholerae penetra no organismo humano por ingestão de água ou de 
alimentos contaminados (transmissão fecal-oral). Uma pessoa infectada elimina o V. 
cholerae nas fezes por, em média, 7 a 14 dias. A água e os alimentos podem ser 
contaminados, principalmente, por fezes de pessoas infectadas, com ou sem sintomas. Nos 
anos de 1996 a 2000 ocorreram 12.284 casos confirmados de cólera no Brasil. A forma mais 
efetiva de impedir a instalação da cólera em uma localidade é a existência de infra-estrutura 
de saneamento básico adequada (PEDRO et al., 2007). 
 
Fonte: Mota (2006a) 
 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
14
Outra enfermidade veiculada a partir de dejetos é a febre tifóide, enfermidade infecciosa 
potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Salmonella typhi. A principal forma de 
transmissão é a ingestão de água ou de alimentos contaminados com fezes humanas ou, 
menos freqüentemente, com urina contendo a S. typhi. Mais raramente, pode ser transmitida 
pelo contato direto (mão-boca) com fezes, urina, secreção respiratória, vômito ou pus 
provenientes de um indivíduo infectado. De 1996 a 2006 foram confirmados 12.303 casos 
de febre tifóide no Brasil (CASTIÑEIRA et al., 2007). 
 
Nos países em desenvolvimento, a doença diarréica está entre as principais causas de 
morbi-mortalidade em crianças, sendo ocasionada, predominantemente, pela transmissão 
feco-oral, veiculada por água e alimentos contaminados por dejetos, devido à falta de um 
adequado esgotamento sanitário. 
 
Um estudo apresentado na Rio+10 pelo Pacific Institute of Oakland, indicou que o número 
de mortes em decorrência do uso de água de baixa qualidade pode ultrapassar o de mortes 
causadas pela pandemia global de Aids nas próximas duas décadas. Mesmo se os atuais 
objetivos das Nações Unidas forem alcançados, ainda assim, 76 milhões de pessoas, a 
maioria crianças, poderão morrer devido a doenças evitáveis relacionadas com a água, até 
2020 (SAÚDE e TECNOLOGIA, 2002). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Debate 
 
 
 
Controle de doenças veiculadas a partir de dejetos 
 
De acordo com Heller (1997), é possível afirmar, com segurança, que intervenções em 
abastecimento de água e em esgotamento sanitário provocam impactos positivos em 
diversos indicadores de saúde. É necessário, no entanto, o aprofundamento dessa 
compreensão para situações particularizadas, em termos da natureza da intervenção, do 
indicador medido, das características sócio-econômicas e culturais da população beneficiada 
e do efeito interativo das intervenções em saneamento e destas com outras medidas 
relacionadas à saúde. 
Você sabia...Você sabia...Você sabia...Você sabia... 
� A falta de acesso à água e saneamento, mata uma criança a cada 19 segundos, 
em decorrência de diarréia? 
� Infecções parasitárias transmitidas pela água ou pelas más condições de 
saneamento atrasam a aprendizagem de 150 milhões de crianças. Em razão 
dessas doenças, são registradas 443 milhões de faltas escolares por ano? 
Fo
n
te
: 
h
tt
p
:/
/w
w
w
.u
n
d
p
.o
rg
 
� Você já relacionava a existência de alguma dessas 
doenças com as deficiências dos sistemas de 
esgotamento sanitário? Qual delas? 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
15 
Heller (1997) ressalta, também, a grande importância da adoção de hábitos higiênicos para a 
melhoria das condições de saúde, como medida complementar a implantação das 
instalações de saneamento. 
 
A seguir, são comentadas as diversas medidas preventivas a serem adotadas no controle de 
doenças veiculadas a partir dos dejetos. 
 
Destinação adequada para os esgotos sanitáriosDestinação adequada para os esgotos sanitáriosDestinação adequada para os esgotos sanitáriosDestinação adequada para os esgotos sanitários: A melhor maneira de evitar o contato de 
pessoas com dejetos é a execução de sistemas adequados de coleta, tratamento e 
destinação final para os esgotos sanitários. Em regiões isoladas, podem ser usadas as 
fossas: fossa seca ou ecológica, onde não há água encanada; e fossa séptica, composta de 
tanque séptico e sumidouro, onde as privadas são providas com descarga de água. Nos 
centros urbanos com elevada densidade demográfica, a solução mais indicada é a rede 
coletora pública de esgoto seguida de estação de tratamento de esgoto, onde o mesmo tem 
suas cargas poluidoras reduzidas antes de ser lançado em algum corpo receptor. No 
entanto, muitas cidades ou partes delas ainda não dispõem de eficientes sistemas públicos 
coletores de esgoto, sendo indicado o uso de fossas sépticas, as quais, quando não 
dimensionadas e executadas de forma adequada podem resultar em problemas de 
contaminação ambiental (do solo e da água). Em ocupações urbanas ou rurais com baixas 
densidades populacionais, podem ser executadas soluções individuais para os esgotos, 
como as fossas sépticas, adotando-se os necessários cuidados para evitar a poluição 
ambiental. 
 
 
 
 Figura 4. Figura 4. Figura 4. Figura 4. Sistema de abastecimento de água. 
 
 
 
 
h
tt
p
:/
/w
w
w
.e
d
u
ca
re
d
e.
o
rg
.b
r/
ed
u
ca
/i
n
d
ex
.c
fm
?p
g
=
o
as
su
n
to
e.
in
te
rn
ae
id
_t
em
a=
6
ei
d
_s
u
b
te
m
a=
5
ec
d
_a
re
a_
at
v=5
 
Sistemas de abastecimento de áSistemas de abastecimento de áSistemas de abastecimento de áSistemas de abastecimento de águaguaguagua: Como 
demonstrado, muitas doenças estão 
relacionadas com a água, seja por ingestão 
ou contato com a mesma. Assim, um 
sistema de distribuição de água potável à 
população constitui uma das medidas mais 
eficazes de controle da transmissão de 
doenças. A água a ser consumida pela 
população deve ser, preferencialmente, 
tratada em estações de tratamento, na 
qual haja a desinfecção para a eliminação 
de microrganismos patogênicos. Na 
ausência de distribuição de água potável 
pelo serviço público, devem ser adotadas 
medidas simplificadas, caseiras, de 
tratamento da água, como o uso de 
hipoclorito de sódio, a fervura, a 
desinfecção solar, dentre outras. 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
16
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Proteção dos alimentosProteção dos alimentosProteção dos alimentosProteção dos alimentos: Alimentos ingeridos crus não devem ser irrigados com água que 
recebeu esgotos. Na preparação de alimentos deve ser usada água de qualidade adequada. 
Quando houver dúvidas sobre a procedência dos alimentos, os mesmos devem ser bem 
lavados em água limpa, antes de sua ingestão. Os alimentos devem ser protegidos do acesso 
de vetores transmissores de doenças, como as moscas e as baratas. 
 
 
Educação SanitáriaEducação SanitáriaEducação SanitáriaEducação Sanitária: O impacto das ações de saneamento básico na incidência de doenças 
pode variar, dependendo do comportamento da população quanto aos hábitos de higiene. 
Segundo Marques (2003), para se avançar na redução da morbi-mortalidade por diarréia e 
da prevalência de parasitoses intestinais, poderão ser necessárias mudanças 
comportamentais somadas aos investimentos em saneamento básico. Não há dúvidas que 
uma população que conta com serviços adequados de abastecimento de água e de 
esgotamento sanitário tem menor risco de adquirir alguns tipos de doenças. No entanto, a 
implantação desses serviços deve ser acompanhada da educação da população para a 
adoção de práticas higiênicas, tais como: higiene corporal, incluindo a lavagem das mãos 
após o uso da privada; evitar o contato do solo com as mãos ou com pés descalços; controle 
do manuseio dos alimentos; combate a insetos vetores de doenças. O Quadro 2 relaciona a 
redução de casos de doenças diarréicas com intervenções realizadas na comunidade. 
 
 
Quadro 2. Quadro 2. Quadro 2. Quadro 2. Redução de doenças diarréicas a partir de intervenções na comunidade 
INTINTINTINTERVENÇÃOERVENÇÃOERVENÇÃOERVENÇÃO REDUÇÃO DE DOENÇAS DIARRÉICASREDUÇÃO DE DOENÇAS DIARRÉICASREDUÇÃO DE DOENÇAS DIARRÉICASREDUÇÃO DE DOENÇAS DIARRÉICAS 
Higiene (educação sanitária) 
Qualidade de água melhorada 
Saneamento melhorado 
Quantidade de água melhorada 
45% 
39% 
32% 
21% 
 
 
 
 
 
 
 
VocVocVocVocê sabia...ê sabia...ê sabia...ê sabia... 
� No mundo, as estimativas apontam para 1,1 bilhão de pessoas sem acesso a 
água limpa, sendo que, dessas, cerca de duas em cada três vivem com menos de 
dois dólares por dia? 
Fo
n
te
: 
h
tt
p
:/
/w
w
w
.u
n
d
p
.o
rg
 
Fonte: OMS (2004) 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
17 
EDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃOEDUCAÇÃO 
SANITÁRIASANITÁRIASANITÁRIASANITÁRIA 
ESGOTAMENTOESGOTAMENTOESGOTAMENTOESGOTAMENTO 
SANITÁRIOSANITÁRIOSANITÁRIOSANITÁRIO 
Considerações finais 
 
 Pode-se afirmar que o controle da transmissão de doenças a partir de esgotos sanitários 
depende, basicamente, das ações constantes do trinômio indicado na Figura 5. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5. Figura 5. Figura 5. Figura 5. Ações para o controle de doenças veiculadas a partir de dejetos 
 
 
Para que não ocorram doenças transmissíveis por microrganismos patogênicos presentes em 
esgotos sanitários (nas fezes humanas), em uma comunidade, são indispensáveis as 
seguintes ações: 
 
− implantação de sistema de abastecimento de água potável. 
− execução de rede coletora e de estação de tratamento de esgoto sanitário. 
− educação da população para a adoção de hábitos de higiene pessoal e do ambiente. 
 
 
 Para refletir 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios propostos 
 
1. Explique a relação existente entre saneamento e saúde pública. 
 
2. Enumere as principais formas que um agente patogênico pode chegar ao homem. 
 
3. Descreva as principais medidas de controle de doenças. 
ABASTECIMENTOABASTECIMENTOABASTECIMENTOABASTECIMENTO 
DE ÁGUA POTÁVDE ÁGUA POTÁVDE ÁGUA POTÁVDE ÁGUA POTÁVELELELEL 
� Você consegue compreender as relações entre o nível de atendimento dos serviços de 
saneamento e a qualidade de vida das pessoas? 
� De quais maneiras você imagina que a falta de um sistema adequado de coleta e 
tratamento de esgoto sanitário pode afetar a qualidade de vida das pessoas? 
 
Fo
n
te
: 
h
tt
p
:/
/w
w
w
.u
n
d
p
.o
rg
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
18
 
4. Pesquise sobre a situação do saneamento em sua cidade, em termos de abastecimento 
de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
19 
Fundamentos de qualidade da água 
 
Autores: Soraia Tavares de Souza Gradvohl, Neyliane Costa de Souza e André 
Bezerra dos Santos 
 
 
Poluição e contaminação das águas 
 
A poluição das águas é principalmente resultante da adição de substâncias que alteram a 
natureza do corpo hídrico e prejudicam os usos subseqüentes (VON SPERLING, 2005). Esse 
conceito é relativo, já que indica que a água pode ser considerada poluída para certo uso e, 
ao mesmo tempo, não poluída para outra finalidade. Tal fato decorre das próprias 
características apresentadas pela água, que são definidas conforme o uso a que será dado, 
por exemplo: a água para abastecimento humano deve apresentar características bem mais 
restritivas do que para a atividade de navegação. As finalidades, bem como suas 
características inerentes, são definidas e regulamentadas conforme as classes de 
enquadramento dos corpos hídricos, que atualmente seguem a Resolução No 357/2005 do 
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). 
 
O homem contribui direta e indiretamente para a poluição e lançamento de poluentes 
através de emissões pontuais (carga poluidora de forma concentrada) ou difusas (carga 
poluidora dispersa, de forma distribuída). As principais fontes de poluição encontram-se 
listadas no Quadro 3. 
 
Quadro 3. Quadro 3. Quadro 3. Quadro 3. Principais fontes de poluição da água. 
De águas 
superficiais 
� Esgotos domésticos e industriais. 
� Águas pluviais (carreamento de impurezas no solo, esgotos 
lançados nas galerias e precipitação de poluentes atmosféricos). 
� Resíduos sólidos. 
� Erosão nas margens de mananciais (carreamento do solo) 
� Pesticidas, fertilizantes, detergentes, etc. 
De águas 
subterrâneas 
� Infiltração de esgotos (sumidouros, valas de infiltração, fossas 
sépticas, sistemas de tratamento de esgotos e sistemas de 
irrigação, quando há reuso). 
� Percolação de chorume (depósitos de resíduos sólidos). 
� Infiltração de águas poluídas com impurezas, pesticidas, 
fertilizantes, detergentes, poluentes atmosféricos, etc. 
� Vazamentos de tubulações e depósitossubterrâneos. 
� Injeção de esgotos no subsolo. 
� Intrusão salina (próximo ao mar). 
� Outras fontes: cemitérios, minas, depósitos de materiais 
radioativos, etc. 
 Fonte: Adaptado de Mota (2006a). 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
20
Alguns poluentes estão associados diretamente à transmissão de doenças relacionadas com 
a água, gerando, portanto, uma preocupação sob o ponto de vista de saúde pública. Quando 
a poluição existente ocasiona prejuízos à saúde humana diz-se que a água está 
contaminada. Logo, toda água contaminada é poluída, mas a recíproca não é verdadeira. O 
grau de poluição de um dado ambiente é avaliado mediante a análise dos parâmetros físico-
químicos e biológicos de qualidade de águas, os quais serão detalhados no presente 
capítulo. 
 
 
Principais parâmetros de qualidade da água 
 
Parâmetros FísicosParâmetros FísicosParâmetros FísicosParâmetros Físicos 
 
Os parâmetros de qualidade de água são de suma importância para verificação de 
atendimento aos padrões de potabilidade, balneabilidade, lançamento de esgoto tratado em 
corpos d’água, reuso de águas em irrigação, piscicultura, indústria, etc. A água pode ser 
avaliada tanto com relação aos aspectos físico-químicos quanto aos aspectos biológicos. 
Dentre as características físicas de qualidade da água, são de fácil percepção a cor, turbidez, 
sólidos, temperatura e odor, os quais são comentados a seguir, baseados em APHA (1998), 
Metcalf e Eddy (2003), Jordão e Pessoa (2005) e Von Sperling (2005). 
 
 
CorCorCorCor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TurbidezTurbidezTurbidezTurbidez 
 
 
 
 
 
 
A presença de cor na água pode ser resultado de resíduos de origem 
mineral ou vegetal, causada por substâncias como ferro ou manganês, 
matérias húmicas, taninos, algas, plantas aquáticas e protozoários, ou por 
resíduos orgânicos ou inorgânicos de indústrias, tais como produtos de 
mineração, polpa, papel, etc. Nas estações de tratamento de água e esgoto 
(que possuam efluentes coloridos), a determinação da cor é imprescindível, 
por ser um parâmetro operacional de controle da qualidade da água nas 
diversas etapas do tratamento, servindo como base para a obtenção dos 
valores ideais das dosagens de produtos químicos quando são utilizados 
processos de tratamento físico-químicos. A cor pode ser dita verdadeira ou 
aparente, em que a cor verdadeira é obtida pela centrifugação ou filtração 
da amostra. 
. 
Causada por sólidos em suspensão, tais como partículas inorgânicas como 
areia, silte e argila, e partículas orgânicas como algas, bactérias, plâncton 
em geral, etc. Há uma preocupação adicional no que se refere à presença 
de turbidez nas águas submetidas à desinfecção, já que os sólidos 
presentes podem abrigar microrganismos, protegendo-os contra a ação do 
agente desinfetante. 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
21 
 
 
 
SólidosSólidosSólidosSólidos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Frações 
a) Sólidos Totais (ST): resíduo que resta na cápsula após a evaporação em banho-maria de 
uma porção de amostra e sua posterior secagem em estufa a 103-105°C até peso constante. 
Também denominado resíduo total. 
b) Sólidos em Suspensão (ou sólidos suspensos) (SS): porção dos sólidos totais que fica 
retida em um filtro que propicia a retenção de partículas de diâmetro maior ou igual a 1,2 
µm. Também denominado resíduo não filtrável. 
c) Sólidos Dissolvidos (SD): porção dos sólidos totais que passa pelo filtro, Também 
denominado resíduo filtrável. É obtido pela diferença entre ST e SS. 
d) Sólidos Voláteis (SV): porção dos sólidos (sólidos totais, suspensos ou dissolvidos) que se 
perde após a ignição ou calcinação da amostra a 550-600°C, durante uma hora para sólidos 
totais ou dissolvidos voláteis ou 15 minutos para sólidos em suspensão voláteis, em forno 
mufla. Também denominado resíduo volátil. 
e) Sólidos Fixos (SF): porção dos sólidos (totais, suspensos ou dissolvidos) que resta após a 
ignição ou calcinação a 550-600°C após uma hora (para sólidos totais ou dissolvidos fixos) 
ou 15 minutos (para sólidos em suspensão fixos) em forno-mufla. Também denominado 
resíduo fixo. 
f) Sólidos Sedimentáveis (SSed): porção dos sólidos em suspensão que se sedimenta sob a 
ação da gravidade durante um período de uma hora, a partir de um litro de amostra mantida 
em repouso em um cone Imhoff. 
 
TemperaturaTemperaturaTemperaturaTemperatura 
 
 
 
 
 
 
 
A temperatura é uma condição ambiental muito importante em diversos 
estudos relacionados ao monitoramento da qualidade de águas e no 
tratamento de esgotos, já que interfere diretamente nas taxas de 
reprodução da biota aquática e nos microrganismos envolvidos no 
tratamento de esgotos. O aumento da temperatura provoca o aumento da 
velocidade das reações, em particular as de natureza bioquímica de 
decomposição de compostos orgânicos. Entretanto, o incremento da 
temperatura diminui a solubilidade de gases dissolvidos na água, em 
particular o oxigênio, base para a decomposição aeróbia. 
 
No âmbito do saneamento ambiental, sólidos nas águas correspondem a 
toda matéria que permanece como resíduo, após evaporação, secagem ou 
calcinação da amostra a uma temperatura pré-estabelecida durante um 
tempo fixado. Em linhas gerais, as operações de secagem, calcinação e 
filtração são as que definem as diversas frações de sólidos presentes na 
água (sólidos totais, em suspensão, dissolvidos, fixos e voláteis). Têm 
importância nos estudos de controle de poluição das águas naturais e, 
principalmente, nos estudos de caracterização de esgotos sanitários e de 
efluentes industriais. As determinações dos níveis de concentração das 
diversas frações de sólidos resultam em um quadro geral da distribuição 
das partículas com relação ao tamanho (sólidos em suspensão e 
dissolvidos) e à natureza (fixos ou minerais e voláteis ou orgânicos). 
. 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
22
 
OdorOdorOdorOdor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parâmetros QuímicosParâmetros QuímicosParâmetros QuímicosParâmetros Químicos 
São relacionados tanto com os agentes químicos do ar e solo durante o ciclo biogeoquímico, 
quanto provenientes da poluição antrópica, podendo ser de natureza orgânica ou inorgânica. 
Os principais parâmetros químicos de qualidade de água são: matéria orgânica (DBO e DQO), 
pH, alcalinidade, cloretos, amônia, nitrato, nitrito, fósforo total, ortofosfato, sulfato e 
sulfeto, os quais serão discutidos a seguir, baseados em APHA (1998), Jordão e Pessoa 
(2005) e Von Sperling (2005). 
 
Matéria orgânicaMatéria orgânicaMatéria orgânicaMatéria orgânica 
Nas águas residuárias, encontra-se presente uma grande variedade de compostos orgânicos, 
que podem estar suspensos ou dissolvidos. Estes compostos são constituídos de matéria matéria matéria matéria 
orgânica carbonáceaorgânica carbonáceaorgânica carbonáceaorgânica carbonácea (que tem como base o carbono orgânico) e microrganismos (vivos ou 
mortos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dentre os métodos de laboratório mais empregados para quantificar a matéria orgânica num 
corpo d’água, destacam-se os testes da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda 
Química de Oxigênio (DQO), ambos baseados na oxidação do material orgânico. Em ambos, 
a concentração do material orgânico está relacionada ao consumo de oxidante para a 
oxidação. Asdiferenças essenciais entre os testes estão no oxidante utilizado e nas 
condições operacionais de cada teste. É fundamental salientar que os compostos orgânicos 
avaliados no teste podem ser divididos em dois grupos: 
Matéria orgânica carbonácea:Matéria orgânica carbonácea:Matéria orgânica carbonácea:Matéria orgânica carbonácea: Corresponde à matéria presente 
no esgoto que pode ser consumida pelos microorganismos em 
seus processos metabólicos. As principais categorias de 
matéria orgânica encontrada nos esgotos sanitários são 
proteínas, carboidratos, gorduras e óleos, além de uréia, 
fenóis, pesticidas, entre outros (COSSICH, 2006). 
 
A água pura não produz sensação de odor nos sentidos humanos. Uma das 
principais fontes de odor nas águas naturais é a decomposição biológica da 
matéria orgânica. No meio anaeróbio, isto é, no lodo de fundo de rios e de 
represas e, em situações críticas, em toda a massa líquida, ocorre a formação 
do gás sulfídrico, H2S, que apresenta odor típico de ovo podre, de 
mercaptanas e amônia, esta última ocorrendo também em meio aeróbio. 
Águas eutrofizadas, isto é, águas em que ocorre a floração excessiva de algas 
devido à presença de grandes concentrações de nutrientes liberados de 
compostos orgânicos biodegradados, podem também manifestar odor. Em 
tratamento de esgotos, compostos odoríferos podem ser gerados em ETEs 
(Estações de Tratamento de Esgotos) que possuam tratamento anaeróbio 
como lagoas de estabilização, digestores anaeróbios de fluxo ascendente 
(DAFAs), fossas sépticas, filtros anaeróbios, etc., sendo algumas vezes o 
limitante da seleção do tipo de tratamento de esgotos adotado. 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
23 
1. Biodegradáveis: compostos que podem ser oxidados biologicamente pelos 
microrganismos presentes no meio; 
2. Não-biodegradáveis: compostos que não podem ser degradados biologicamente, como 
alguns tipos de detergentes e de derivados de petróleo, por exemplo. 
 
No teste da DBO, detecta-se somente a fração biodegradável, ou seja, a fração não 
biodegradável não interfere no teste. Já no teste da DQO, são detectadas ambas as frações 
biodegradáveis e não biodegradáveis. Assim, para a mesma amostra de esgoto, sempre a 
DQO será superior à DBO. 
 
Considerando-se a importância desses dois testes na análise de qualidade de água, a DQO 
em função da simplicidade do teste e a DBO por melhor traduzir a possibilidade ou não de 
processos biológicos de tratamento de esgotos, eles serão mais detalhados a seguir: 
 
Demanda Bioquímica de Oxigênio 
É definida como a quantidade de oxigênio dissolvido (OD) necessária para estabilizar a 
matéria orgânica através da ação de bactérias aeróbias. Em outras palavras, a DBO é a 
diferença de OD no início do teste e após um tempo de incubação de cinco dias a 20 ºC. 
A DBO é expressa em mgO2/L. 
 
A DBO possui a capacidade de definir a quantidade de matéria orgânica presente que, por 
sua vez, determina o grau de poluição de uma água residuária. 
 
Atenção!!!Atenção!!!Atenção!!!Atenção!!! 
 
 
 
 
Demanda Química de Oxigênio 
Este parâmetro mede a concentração da matéria orgânica indiretamente pela oxidação da 
mesma por um agente químico oxidante, em meio ácido. Uma das grandes vantagens sobre 
a DBO é o tempo de resposta (apenas 2 horas). Além disso, consegue envolver tudo o que é 
susceptível a demandas de oxigênio, como sais minerais oxidáveis e não somente a 
demanda satisfeita biologicamente. Outra vantagem é que não está sujeito à interferência da 
nitrificação, como na DBO. 
 
A DQO é também expressa em mgO2/L. 
 
Atenção!!!Atenção!!!Atenção!!!Atenção!!! 
 
 
 
 
 
 
Note que: quanto maior é a DQO do esgoto, maior será o consumo de oxigênio nos corpos 
d’água e maior o potencial de dano no meio ambiente. 
A DQO sempre será maior do que a DBO. O que vai aumentar ou diminuir a relação DQO/DBO 
é a presença do material biodegradável. Quanto menor o valor da relação DQO/DBO, maior a 
fração de material biodegradável. 
Note que: quanto maior é a DBO do esgoto, maior será o dano que o mesmo pode causar no 
ambiente. 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
24
pH e alcalinidadepH e alcalinidadepH e alcalinidadepH e alcalinidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CondutividadeCondutividadeCondutividadeCondutividade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nitrogênio Nitrogênio Nitrogênio Nitrogênio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um resumo das principais formas de nitrogênio é apresentado no Quadro 4. 
 
Quadro 4.Quadro 4.Quadro 4.Quadro 4. Principais formas de nitrogênio presentes nos esgotos. 
Formas de nitrogênioFormas de nitrogênioFormas de nitrogênioFormas de nitrogênio AbreviaçãoAbreviaçãoAbreviaçãoAbreviação DefiniçãoDefiniçãoDefiniçãoDefinição 
Amônia livre NH3 NH3 
Amônia ionizada NH4+ NH4+ 
Nitrogênio total amoniacal NTA NH3 + NH4+ 
Nitrito NO2- NO2- 
O termo pH expressa a intensidade da condição ácida ou básica de 
um certo meio. Os esgotos sanitários apresentam-se, de um modo 
geral, neutros ou ligeiramente alcalinos (pH de 6,7 a 7,5). 
A determinação do pH é uma das mais comuns e importantes no 
contexto do tratamento de águas residuárias por processos 
químicos ou biológicos. Nestas circunstâncias, o pH deve ser 
mantido em faixas adequadas ao desenvolvimento das reações 
químicas ou bioquímicas do processo. No tratamento de lodos de 
ETE’s, especificamente através da digestão anaeróbia, o pH 
representa um dos principais parâmetros de controle do processo. 
Alcalinidade é a medida da capacidade do líquido em neutralizar 
ácidos. Ela é um importante parâmetro físico-químico devido à 
capacidade de atuar no tamponamento do sistema e evitar a queda 
do pH que pode levar o processo de tratamento ao colapso. 
Definida como a medida de sua capacidade de conduzir corrente 
elétrica sendo dependente do número e do tipo de espécies 
iônicas nela dispersas. Este parâmetro é geralmente expresso 
em bmhos/cm ou bS/cm. Águas de abastecimento e águas 
residuárias domésticas têm geralmente valores de condutividade 
entre 50 e 1500 bS/cm, sendo a condutividade do esgoto 2-4 
vezes superior a da água. Medidas de condutividade são 
importantes na prática da irrigação, aqüicultura e prevenção de 
corrosão, especialmente na área do reuso de águas. 
Dentre os componentes inorgânicos presentes no esgoto, o nitrogênio 
em sua forma orgânica merece especial atenção nas análises de 
qualidade de água, não somente por ser um nutriente indispensável para 
o crescimento dos microrganismos envolvidos no tratamento biológico de 
esgotos, como também por possibilitar o desenvolvimento de algas e 
plantas aquáticas (eutrofização) e subseqüente comprometimento da 
qualidade dos corpos receptores. 
No meio aquático, o nitrogênio pode-se encontrar nas formas molecular 
(gasosa), orgânica (dissolvida ou em suspensão), amoniacal como amônia 
livre (NH3) ou ionizada (NH4+), de nitritos (NO2-) e de nitratos (NO32-). 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
25 
Nitrato NO3- NO3- 
Nitrogênio total inorgânico NTI NH3 + NH4+ + NO2- + NO3- 
Nitrogênio total Kjeldahl NTK N orgânico + NH3 + NH4+ 
Nitrogênio orgânico N orgânico NTK – (NH3 + NH4+) 
Nitrogênio Total NT N orgânico + NH3 + NH4+ + NO2- + NO3- 
 
Pelo fato de o nitrogênio ser um constituinte natural de proteínas, clorofila e muitos outros 
compostos biológicos, ele é um componente sempre presente nos esgotos sanitários. 
Nesses, as formas predominantes sãoo orgânico e o amoniacal (cerca de 99% do nitrogênio 
total). Para o nitrogênio amoniacal, a forma NH3 (amônia livre) é predominante em valores de 
pH superiores a 11, sendo a forma ionizada NH4+ predominante em pH inferior a 8. Deve-se 
salientar que a presença de amônia livre, mesmo em pequenas concentrações, é prejudicial 
aos peixes. 
 
O nitrito e nitrato podem ser formados através da oxidação da amônia, em um processo 
chamado nitrificação, o qual é realizado por bactérias autotróficas (não necessitam de 
carbono presente na matéria orgânica carbonácea para o seu crescimento, mas o adquire a 
partir do CO2) na presença de oxigênio. Em outro processo chamado de desnitrificação, o 
nitrato formado é convertido em gás nitrogênio, o qual é realizado por bactérias 
heterotróficas (necessitam de carbono presente na matéria orgânica carbonácea) na ausência 
de oxigênio. A nitrificação, que ocorre em alguns processos de tratamento, consome 
oxigênio dissolvido e alcalinidade, provocando subseqüente redução do pH, o que, se não 
for controlado, pode trazer sérios problemas de eficiência da estação. 
 
Atenção!!!Atenção!!!Atenção!!!Atenção!!! 
 
 
 
 
 
Nos cursos d’água, a presença de compostos de nitrogênio pode ser um indicador de 
despejos de esgotos a montante e da “idade” destas ocorrências. Por exemplo, a presença 
excessiva de nitrogênio amoniacal indicará poluição recente e a predominância de nitratos é 
um indício de uma descarga mais antiga ou mais distante. 
 
Fósforo Total e Ortofosfato Fósforo Total e Ortofosfato Fósforo Total e Ortofosfato Fósforo Total e Ortofosfato 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Amônia � Nitrito � Nitrato (Nitrificação) 
 
Nitrato � Gás nitrogênio (Desnitrificação) 
Fonte: Metcalf e Eddy (2003). 
 
 
O fósforo, assim como o nitrogênio, é um nutriente essencial 
para os microrganismos responsáveis pela degradação da 
matéria orgânica, além de também contribuir para o processo 
de eutrofização. O fósforo presente nos esgotos sanitários tem 
origem principalmente da urina humana e do emprego de 
detergentes, apresentando-se, sobretudo, nas formas 
inorgânicas de ortofosfato, poli ou pirofosfatos e fósforo 
orgânico. Os ortofosfatos são diretamente disponíveis para o 
metabolismo biológico sem necessidade de conversões a 
formas mais simples. 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
26
 
 
Sulfato e SulfetoSulfato e SulfetoSulfato e SulfetoSulfato e Sulfeto 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oxigênio Dissolvido (OD)Oxigênio Dissolvido (OD)Oxigênio Dissolvido (OD)Oxigênio Dissolvido (OD) 
 
 
 
 
 
 
CloretosCloretosCloretosCloretos 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os principais parâmetros químicos de qualidade de água são resumidos no Quadro 5. 
 
Quadro 5. Quadro 5. Quadro 5. Quadro 5. Principais parâmetros químicos de qualidade de água. 
Matéria Orgânica � Proteínas, carboidratos, óleos e graxas, uréia, moléculas orgânicas 
naturais ou sintéticas. 
� Quantificação realizada em laboratório: 
DBO5 - Demanda Bioquímica de Oxigênio 
DQO - Demanda Química de Oxigênio 
COT - Carbono Orgânico Total 
Matéria 
inorgânica 
� N e P � são nutrientes que podem levar à eutrofização dos corpos 
receptores; 
� Sais � salinização de solos e água; 
� Chumbo, arsênio, cromo, mercúrio, cianeto, zinco etc. � diferentes 
níveis tóxicos aos organismos dos ecossistemas. 
� pH e Alcalinidade 
� Gases � N2, O2, CO2, H2S, CH4 (mais freqüentes) 
 
 
O oxigênio dissolvido (OD) é de essencial importância 
para os organismos aeróbios. Durante a estabilização da 
matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio 
nos seus processos respiratórios, podendo vir a causar 
uma redução de sua concentração no meio. 
 
Geralmente estão presentes em águas brutas e tratadas em 
concentração que podem variar de pequenos traços até altas 
concentrações, encontrando-se principalmente nas formas de 
cloretos de sódio, cálcio e magnésio. Concentrações altas de cloretos 
em esgotos podem restringir o descarte de efluentes em corpos 
d’água e reuso de águas em irrigação, piscicultura e industrial. Os 
métodos convencionais de tratamento de água e esgoto não removem 
cloretos. 
A presença de sulfeto em águas residuárias se deve, 
principalmente, à redução do sulfato presente pelas bactérias 
que atuam nesse processo (BRS – bactérias redutoras de 
sulfato). Em estações de tratamento de esgotos, a produção e 
emissão de sulfeto de hidrogênio (H2S) causam odor repulsivo. 
Em redes coletoras de esgoto construídas em concreto, o 
sulfeto pode causar corrosão nas paredes devido a sua 
conversão a ácido sulfúrico (H2SO4). 
 
Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003). 
 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
27 
 Debate 
 
 
Características BiológicasCaracterísticas BiológicasCaracterísticas BiológicasCaracterísticas Biológicas 
Nos esgotos sanitários, há uma imensa variedade de microrganismos, a citar as bactérias, 
archaea, protozoários, fungos e leveduras, algas, helmintos, etc., cada um com um papel 
diferente tanto no tratamento de esgotos, quanto nos ciclos biogeoquímicos que se 
desenvolvem nos corpos d’água em decorrência da chegada de esgotos. Por exemplo, um 
grupo de microrganismos é responsável pela estabilização da matéria orgânica, outro é 
responsável pela eliminação de nitrogênio, outro do fósforo e assim sucessivamente. 
 
Uma parte desses microrganismos, denominados de aeróbiosaeróbiosaeróbiosaeróbios, somente desempenha as suas 
funções na presença de oxigênio, em que a outra parte, denominados de anaeróbiosanaeróbiosanaeróbiosanaeróbios, 
somente realiza trabalho na ausência (ou baixíssimas concentrações) de oxigênio. Existe 
ainda um terceiro grupo de microrganismos, denominados de facultativosfacultativosfacultativosfacultativos, que conseguem 
realizar metabolismo tanto na presença como na ausência de oxigênio. Quando existe uma 
condição anaeróbia, mas existe nitrato, depara-se com uma condição anóxica. Os principais 
grupos de microrganismos envolvidos no tratamento de esgotos são detalhados no Quadro 
6. 
 
Outro aspecto de grande relevância em termos da qualidade biológica da água refere-se à 
possibilidade da transmissão de doenças, sendo os principais patogênicos as bactérias, 
vírus, protozoários e helmintos. A origem desses patogênicos nos esgotos é 
predominantemente humana. 
 
A detecção de patógenos específicos em corpos d'água seria uma tarefa extremamente 
difícil, com vista na grande diversidade desses microrganismos e sua baixa concentração na 
amostra de água. Visando superar tal obstáculo, foi criado o conceito de organismos 
indicadores de contaminação fecal. Apesar de os organismos indicadores serem 
predominantemente não patogênicos, eles dão uma satisfatória indicação de quando uma 
água apresenta contaminação por fezes humanas ou de animais e, por conseguinte, da sua 
potencialidade para transmitir doenças. Os organismos mais comuns utilizados para tal 
finalidade são as bactérias do grupo coliforme, podendo ser classificadas como fecais ou 
termotolerantes e totais. 
 
Quadro 6.Quadro 6.Quadro 6.Quadro 6. Principais grupos de microrganismos envolvidos no tratamento biológico de esgotos. 
MicrorganismoMicrorganismoMicrorganismoMicrorganismo DescriçãoDescriçãoDescriçãoDescrição 
Bactérias � Procariotos unicelulares 
� Apresentam-se em várias formas e tamanhos 
� São os principais responsáveis pela estabilização da matéria 
orgânica 
� Algumasbactérias são patogênicas, causando principalmente 
doenças intestinais 
� Dos parâmetros físicos e químicos apresentados 
até agora, qual (ou quais) você acredita ser o 
mais importante na operação de um sistema de 
tratamento de esgotos? 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
28
Archaea � Procariotos unicelulares 
� Similares às bactérias em formas e tamanho 
� Parede celular, material celular e composição do RNA são 
diferentes 
� Importantes para os processos anaeróbios (produção de metano) 
� Em condições extremas de temperatura, pH, etc., são 
normalmente os microrganismos predominantes 
Fungos e 
Leveduras 
� Eucariotos multicelulares, não fotossintéticos 
� Eucariotos heterotróficos 
� Maioria é estritamente aeróbio 
� Possuem também grande importância na estabilização da matéria 
orgânica, podendo crescer em condições de baixa concentração de 
nitrogênio e baixos valores de pH 
� Leveduras são fungos unicelulares 
Protozoários � Eucariotos unicelulares 
� Seres aeróbios ou facultativos 
� Alimentam-se de bactérias, algas e outros microrganismos 
� São essenciais ao tratamento biológico para a manutenção de um 
equilíbrio entre os diversos grupos 
� Alguns são patogênicos 
Algas � Eucariotos unicelulares ou multicelulares 
� Autotróficos que realizam fotossíntese 
� Importantes para o processo de tratamento de esgotos por lagoas 
de estabilização 
Vírus � São obrigatoriamente parasitas intracelulares que contêm material 
genético (DNA ou RNA necessários para sua replicação). 
� São incapazes de sintetizar compostos, invadindo células 
(hospedeiros), onde se apossam e redirecionam as atividades celulares 
para produzir novas partículas virais à custa das células dos hospedeiros 
Helmintos � Animais superiores 
� Ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenças 
 
 
Conforme Von Sperling (2005), os coliformes termotolerantes (CTer) são um grupo de 
bactérias presentes no trato intestinal de humanos e animais, compreendendo 
principalmente o gênero Escherichia. O teste para CTer é feito a uma elevada temperatura, 
objetivando a supressão de bactérias de origem não fecal. No entanto, mesmo nessas 
condições, algumas bactérias não fecais ainda conseguem resistir ao aquecimento, o que 
levou recentemente a se preferir substituir o termo coliforme fecal por coliforme 
termotolerante, pelo fato de serem bactérias que resistem à elevada temperatura do teste, 
mas não serem necessariamente fecais. Durante todas as etapas do tratamento há um 
decaimento, mas a remoção completa dos CTer é muito difícil por processos físicos de 
sedimentação, necessitando de tratamentos específicos de desinfecção como a cloração, 
ultravioleta, ozônio etc. A Escherichia Coli é a principal bactéria do grupo coliformes fecais, 
desenvolvendo-se apenas na flora intestinal dos animais de sangue quente, garantindo, 
portanto, uma contaminação exclusivamente fecal. Dessa forma, funciona como um 
indicador de contaminação fecal. Possui grande significância, mas não garante que a 
Fonte: Adaptado de Metcalf e Eddy (2003) e Von Sperling (2005). 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
29 
contaminação seja de origem humana, já que também pode ser encontrado em outros 
animais de sangue quente. 
 
Para helmintos, como não há indicadores que possam substituí-lo, a presença de seus ovos 
é determinada diretamente na análise laboratorial através de contagem. Esse parâmetro é 
importante ao se avaliar o uso da água ou esgotos para irrigação, na qual os trabalhadores 
podem ter contato direto com água contaminada e os consumidores podem ingerir vegetais 
crus ou com casca. Tais ovos podem ser removidos pelo processo físico de sedimentação, 
que ocorre, por exemplo, em lagoas de estabilização, e por filtração. 
 
 
Conseqüências da poluição 
 
O lançamento de esgotos em corpos de água ocasiona diversas conseqüências que vão do 
caráter sanitário e ecológico ao social e econômico, englobando, entre outras coisas: 
prejuízos aos usos da água (abastecimento humano, indústria, irrigação, pesca, recreação, 
etc.); transmissão de doenças; desequilíbrios ecológicos com prejuízos aos peixes e outros 
organismos aquáticos; proliferação excessiva de algas e vegetação aquática; elevação do 
custo de tratamento da água; degradação da paisagem; desvalorização das propriedades 
localizadas às margens e impactos diversos na qualidade de vida da população usuária. 
 
O Quadro 7 indica algumas conseqüências da poluição, relacionando-as com as alterações e 
os parâmetros existentes. 
 
QuadroQuadroQuadroQuadro 7. 7. 7. 7. Principais agentes poluidores e suas conseqüências. 
Poluente (alteração)Poluente (alteração)Poluente (alteração)Poluente (alteração) ConseqüênciasConseqüênciasConseqüênciasConseqüências 
Elevação da 
temperatura 
� Alterações nas reações químicas e biológicas 
� Elevação da ação tóxica de elementos e compostos químicos 
� Redução de teor de OD (ruim para a vida aquática aeróbia) 
� Diminuição da viscosidade da água (afundamento de organismos) 
Mudanças no pH � Corrosão 
� Efeitos sobre flora e fauna 
� Prejuízos para uso na agricultura 
� Aumento da toxidez de alguns compostos 
� Influência nos processos de tratamento 
Sólidos � Soterramento de animais e ovos de peixes 
� Aumento da turbidez da água (diminuição da atividade 
fotossintética) 
� Adsorção de poluentes (proteção de patogênicos) 
� Depósitos de lodo 
� Problemas estéticos 
� Salinidade (inorgânicos dissolvidos) 
� Toxicidade (inorgânicos dissolvidos) 
Matéria orgânica 
biodegradável 
� Redução de OD 
� Mortandade de peixes 
� Maus odores (decomposição anaeróbia) 
Matéria orgânica � Toxicidade (vários) 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
30
não-biodegradável � Espumas (detergentes) 
� Redução da transferência de oxigênio (detergentes) 
� Não-biodegradabilidade 
� Maus odores (fenóis) 
� Redução da tensão superficial 
� Redução da viscosidade 
� Danos à fauna 
� Sabor 
Nutrientes � Crescimento excessivo de algas (eutrofização: sabor, odor, 
toxidez, corrosão, redução da penetração da luz solar, redução de OD, 
danos à vida aquática, prejuízos à recreação e à navegação, entupimentos, 
danos às bombas e turbinas, aspecto estético ruim) 
� Toxicidade aos peixes (amônia) 
� Doença em recém-nascidos (nitratos) 
� Poluição de águas subterrâneas 
Microrganismos 
patogênicos 
� Doenças ao ser humano 
Metais pesados e 
outros compostos 
tóxicos 
� Toxicidade 
� Inibição do tratamento biológico 
� Problemas de disposição de lodo para a agricultura 
� Contaminação da água subterrânea 
� Danos à saúde humana e aos organismos aquáticos 
Corantes � Cor 
� Redução da transparência (diminuição da atividade fotossintética) 
� Prejuízos aos usos (manchas) 
Substâncias 
radioativas 
� Danos à saúde humana 
� Danos aos animais 
 
 
Depuração em corpos d’água 
 
Todo corpo d’água possui condições de recuperar-se naturalmente após o recebimento de 
uma carga poluidora orgânica, fenômeno este denominado de autodepuraçãoautodepuraçãoautodepuraçãoautodepuração. A 
autodepuração desenvolve-se ao longo do tempo, podendo ser dividida em zonas de acordo 
com a dimensão longitudinal do curso d’água que recebe a matéria orgânica, sejam elas: 
zona de degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação e, por fim, zona de 
águas limpas. Cada zona apresenta características e comportamentos distintos com relação 
à matéria orgânica, ao OD, ao nitrogênio, aos organismos presentes e até mesmoao aspecto 
estético. O Quadro 8 ilustra as várias zonas de autodepuração e suas principais 
características. 
 
A forma mais comum de analisar a autodepuração é através da Curva de Depleção de 
Oxigênio. A Figura 6 indica o comportamento do OD, da DBO e das bactérias aeróbias em 
um curso d’água qualquer durante o processo de autodepuração. 
 
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005). 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
31 
Mota (2006a) apresenta alguns fenômenos físicos, químicos e biológicos que podem 
contribuir para a autodepuração em um curso d’água, e aqui encontram-se detalhados, tais 
como: 
 
� Fenômenos físicos: 
- diluição: um dos mais importantes já que quanto maior a vazão do curso d’água em 
relação à vazão do esgoto, maior será a sua capacidade em autodepurar-se, ou seja, de 
recuperar-se. Para regiões semi-áridas, que possuem muitos rios intermitentes, esse 
fenômeno é de pouca importância; 
- turbulência: a absorção de oxigênio da atmosfera cresce com o aumento da turbulência; 
- sedimentação: faz com que a demanda de oxigênio seja menor devido à maior deposição 
de matéria orgânica no fundo; 
- temperatura: influencia na concentração de saturação do oxigênio dissolvido e nas 
atividades biológicas; 
- luz solar: possui ação germicida e é fonte de energia no processo de fotossíntese; 
 
� Fenômenos químicos: 
- reações de oxidação: respiração e nitrificação; 
- reações de redução: fotossíntese e desnitrificação; 
 
� Fenômenos biológicos: 
- predatismo: destruição de organismos patogênicos por outros organismos; 
- aglutinação: junção de partículas arrastadas para o fundo; 
- produção de antibióticos e toxinas: substâncias produzidas por microrganismos que têm 
esse tipo de ação sobre bactérias patogênicas. 
 
Quadro 8. Quadro 8. Quadro 8. Quadro 8. Zonas da autodepuração e suas características. 
ZonaZonaZonaZona CaracterísticasCaracterísticasCaracterísticasCaracterísticas 
Zona de 
degradação 
� Tem início logo após o lançamento de esgotos 
� Alta concentração de matéria orgânica em estágio complexo 
� Estética: aparência turva com formação de bancos de lodo (condições 
anaeróbias e geração de gás sulfídrico que causa odor desagradável) 
� Elevado consumo de oxigênio para estabilizar a matéria orgânica 
� Início da proliferação bacteriana com predominância de formas aeróbias 
� Aumento no teor de gás carbônico (subroduto da respiração) 
� Diminuição do pH (formação de ácido carbônico) 
� Compostos nitrogenados em teores elevados 
� Sensível diminuição do número de espécies de seres vivos, mas com 
espécies mais adaptadas com mais indivíduos 
� Grande quantidade de patogênicos se o esgoto for doméstico 
� Há protozoários (alimentam-se de bactérias) e fungos (alimentam-se de 
matéria orgânica) 
� Presença rara de algas e elevada turbidez 
� Evasão de crustáceos, moluscos, peixes, etc. 
Zona de 
decomposição 
ativa 
� Início de reorganização do ecossistema 
� Microrganismos atuando na decomposição da matéria orgânica 
� Estado mais deteriorado da qualidade da água 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
32
� Coloração acentuada e depósitos de lodo no fundo 
� Menor concentração de OD (condições de anaerobiose) 
� Vida anaeróbia predomina sobre a aeróbia 
� Bactérias reduzem-se (falta de alimento, luz, floculação, adsorção e 
precipitação) 
� Maior parte do nitrogênio na forma de amônia (oxidando a nitrito no final 
desta zona) 
� Número de patogênicos diminui (não resistentes às novas condições 
ambientais) 
� Número de protozoários cresce 
� Macrofauna ainda com espécies restritas 
Zona de 
recuperação 
� Água mais clara e aparência melhor 
� Lodo sedimentado com aparência granular (diminuição na emissão de 
gases) 
� Matéria orgânica bem estabilizada (compostos inertes) 
� Consumo de oxigênio mais reduzido 
� Aumento no teor de oxigênio (reaeração atmosférica > consumo de OD) 
� Condições anaeróbias não ocorrem mais 
� Amônia é convertida a nitritos e nitratos 
� Fósforo convertido a fosfatos 
� Desenvolvimento das algas (nutrientes e luz) 
� Aumento da atividade fotossintética (aumento no teor de oxigênio) 
� Bactérias e protozoários em número reduzido 
� Aparecem microcrustáceos, vermes, dinoflagelados, esponjas, musgos e 
larvas de insetos 
� Surgem os primeiros peixes, mais tolerantes (cadeia alimentar mais 
diversificada) 
Zona de 
águas limpas 
� Condições normais de teores de oxigênio, de matéria orgânica e de 
bactérias (patógenos, provavelmente também) 
� Aparência semelhante à anterior no ponto de vista da poluição 
� Predominância dos compostos minerais em formas oxidadas e estáveis 
� Concentração de OD próxima a de saturação 
� Maior riqueza em nutrientes 
� Maior produção de algas 
� Restabelecimento da cadeia alimentar (grandes crustáceos e vários peixes) 
� Grande diversidade de espécies 
� Ecossistema estável (clímax da comunidade) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado de Mota (2006) e Von Sperling (2005). 
 
 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
33 
 
 
 Esgoto (matéria orgânica) 
 
 Rio 
 
 
 
OD 
 
 
 
 
 
 Distância 
 
 
DBO 
 
 
 
 
 
 Distância 
 
 
Bact. 
Aeró- 
bias 
 
 
 
 
 
Figura 6. Figura 6. Figura 6. Figura 6. OD, DBO e Bactérias Aeróbias nas zonas da autodepuração. 
 
A queda dos níveis de oxigênio dissolvido, por conseqüência do processo de respiração dos 
microrganismos envolvidos na depuraçãodepuraçãodepuraçãodepuração dos esgotos, corresponde à resposta mais nociva 
da poluição de um corpo d’água em termos ecológicos, cujo impacto estende-se a toda 
comunidade aquática, onde certas espécies são naturalmente selecionadas em função da 
redução dos teores de oxigênio. Diante desse fato, o oxigênio dissolvido tem sido 
tradicionalmente utilizado para a verificação do grau de poluiçãopoluiçãopoluiçãopoluição e de autodepuraçãoautodepuraçãoautodepuraçãoautodepuração em 
corpos d’água, onde ocorre, na verdade, um balanço entre as fontes de consumo e as fontes 
de produção de oxigênio. Os principais fenômenos que interagem no balanço de oxigênio 
dissolvido em um corpo d’água são mostrados no Quadro 9. 
Zona de 
Degradação 
Zona de 
Decomposição Ativa 
Zona de 
Recuperação 
Zona de 
Águas Limpas 
Fo
n
te
: 
A
d
ap
ta
d
o
 d
e 
M
o
ta
 (
2
0
0
6
) 
 
Guia do profissional em treinamento - ReCESAReCESAReCESAReCESA 
 
34
Assim, o conhecimento da autodepuração possui grande importância para que seja mantida 
a capacidade de tratamento natural de esgotos lançados por parte dos mananciais, de forma 
a garantir a qualidade destes para os usos a que se destinam. 
 
Quadro 9.Quadro 9.Quadro 9.Quadro 9. Principais fenômenos que interagem no balanço de oxigênio dissolvido em um corpo 
d’água. 
ProcessoProcessoProcessoProcesso ImpImpImpImpacto no Balanço de ODacto no Balanço de ODacto no Balanço de ODacto no Balanço de OD 
Respiração aeróbia Decréscimo 
Digestão anaeróbia Nenhum 
Fotossíntese Acréscimo 
Nitrificação Decréscimo 
Reaeração atmosférica Acréscimo

Continue navegando