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Design de jóias: Uma análise ergonômica dos fechos de pulseiras Jewelry design: An ergonomic analysis of bracelets closures Silva, Taiane Gouveia Alves Lopes; graduanda em Design (Universidade Federal de Pernambuco) Silva, Dailma Estella Ferreira da; graduanda em Design (Universidade Federal de Pernambuco) dailma.estella@gmail.com Silva, Mônica Ester da; graduanda em Design (Universidade Federal de Pernambuco) monika.contato@gmail.com Resumo Abordamos a temática da ergonomia para fechos de pulseira em semi jóia, para a parcela da população feminina de idade média e idosa que tende a crescer e que necessita de produtos adequados. Afinal, a capacidade física feminina é menor e com o passar dos anos, e junto à força muscular, a flexibilidade e a visão ficam resumidos. Optamos então, por intervir ergonomicamente nesse tipo de projeto, com sugestões para melhorias de certos componentes e atitudes que os projetistas devem tomar. Palavras-chave: fechos de pulseiras, idosas, ergonomia. Abstract We discussed the topic of ergonomics for semi bracelet clasps for the portion of the female population of middle age and elderly that tends to grow and that requires suitable products. After all, the female physical ability is smaller over the years, decreasing by the muscle strength, and the flexibility and vision are summarized. So we decided to intervene, bring ergonomic suggestions for some components and attitudes that designers should take. Keywords: elderly, bracelets zips, ergonomics. 1. Introdução O designer de jóias, além de projetar os produtos com a função de atender às crescentes demandas exigidas pelo mercado, precisa atentar para outro ponto importante da produção destes acessórios: a ergonomia. Mas o que é ergonomia? De acordo com a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), obtém-se a seguinte definição: “(...) disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.” (ABERGO, 2000) Ou seja, a ergonomia destina-se ao estudo da relação que ocorre entre o ser humano e um determinado ambiente onde o mesmo está inserido, a fim de obter resultados e soluções que possam trazer melhorias ao seu bem estar físico e mental. No âmbito da moda, podemos compreender essa disciplina como sendo uma parte indispensável no processo de produção e sobretudo de aceitação de um determinado produto de moda no mercado, visto que o usuário, como receptor final desse sistema, conhece seus próprios desejos e necessidades a respeito daquilo que ele gostaria de usar. De acordo com Campos (2011 apud CERATTI, 2013) o designer precisa ser, diante do mercado competitivo atual, “criativo, inovador, e sempre buscar o diferencial” e isso pode abranger não somente a parte estética, mas também as questões ergonômicas do produto, sobretudo se levarmos em consideração a autonomia que o usuário tem de escolher um produto específico por este se encaixar melhor dentro das suas necessidades pessoais. Dentro deste contexto, optamos por fazer no presente trabalho, uma análise ergonômica dos fechos de pulseiras (semi-jóias), visto que os acessórios de moda também englobam uma grande quantidade de problemas relacionados à ergonomia, principalmente pelo fato de muitos usuários priorizarem apenas estética no ato da compra, deixando de fora questões importantes, como conforto e usabilidade. Portanto, observando e apontando as dificuldades encontradas pelas usuárias, será possível obter uma solução para os problemas mais frequentes referentes ao manuseio destes objetos, que muitas vezes são descartados rapidamente por suas elas devido às condições inadequadas de uso – pequenos demais, grandes demais, material corrosivo, escorregadios, etc. – acarretando consequentemente na rejeição permanente do produto. 2. Metodologia Pesquisa qualitativa, por método científico indutivo, essencial em experimentos. As pesquisas foram bibliográficas e experimental. Nesta, utilizamos a observação sistemática indireta por meio de testes de aptidão. De forma simplificada, a observação in locos, onde é feita com possíveis usuários, em conduções reais. Havendo registro da interação com o produto. Ao final, foram feitas entrevistas estruturada e breve, para capturarmos as respostas, quanto à usabilidade, manejo e sugestões. Os participantes escolhidos foram 20 pessoas do sexo feminino com idades ente 14 e 83 anos, logo, com diferentes níveis de capacidade física influenciando nas execuções de tarefas. O grupo macro foi dividido em dois grupos, A com as mulheres idosa, experimental e o B das jovens, o qual, é o de controle para fins de comparação. O público-alvo é o da A, onde procuramos abordar a temática da ergonomia para esta parcela da população que tende a crescer e que necessita de produtos adequados. Afinal, a capacidade física feminina é menor e com o passar dos anos decresce, junto à força muscular, flexibilidade e visão ficam resumidos, e estes são essenciais para o manejo fino em questão, enxergamos assim, a incompatibilidade. Selecionamos cinco pulseiras com tamanhos, pesos e o principal, fechos com tamanhos e tipos diferentes. Seguiu-se uma ordem, onde os fechos maiores seriam os primeiros até o menor. O experimento foi registrado por imagens. 3. Semi Jóia Ornamento feito de metal não nobre, mas que recebe tratamento antialérgico e banho de ouro ou de prata. Cada vez mais crescendo no mercado, a semi joia é um meio termo entre joias e bijuterias. Semi joias são as peças produzidas em metais não preciosos, que passaram por banho de metal precioso, como ouro18k, ródio ou prata. Portanto, é um produto mais personalizado e com uma vida útil maior que a bijuteria. E ao mesmo tempo é também um acessório mais seguro que a joia propriamente dita e por um preço muito mais acessível. Pulseira com pedraria http://superhotmobile.com/semi/semi-joias-atacado-folheados-de-alta-qualidade-semi-.html Há séculos atrás os adornos fazem parte do cotidiano das pessoas. Há cerca de 40 000 anos atrás é possível encontrar vestígios de adornos. Onde as peças eram feitas por materiais, como dentes de animais, ossos e pedras e sementes, lapidados de forma rústica, unidas rudemente por fios que simbolizavam o status, o poder e a mística das comunidades. As primeiras peças em cobre surgem cerca de 7000 anos atrás. 4. Análise Ergonômica Bonsiepe (1978) divide os produtos em classes de acordo com a sua zona de proximidade com o usuário. As jóias, por serem produtos que “revestem ou estão no corpo do usuário” classificam-se como sendo parte integrante da classe 1, junto com relógios, luvas, óculos, chapéus, e etc. De acordo com o autor, os produtos de classe 1 “são produtos de maior proximidade em relação ao usuário, constituindo-se em contato ativo através dos órgãos ativos e sensoriais.” (BONSIEPE, 1978). Levando em consideração a divisão de classes apresentada por Bonsiepe (1978), e a proximidade do usuário com o produto em questão, é importante observar que a fabricação e o uso inadequado de jóias podem causar os mais diversos tipos de reações no(a) usuário(a), desde alergias leves ou até mesmo graves atritos com a pele. A fim de observar esse processo por diferentes ângulos, foram escolhidas para os testes de aptidão deste trabalho 4 pulseiras diferentes, de tamanhos e modelos diferentes, com fechos diferentes: Pulseira 01: Materiais: Borracha e metal;Cor: verde; Tipo de fecho: Pressão. Pulseira 02: Materiais: Metal, miçangas de plástico; Cor: Cores variadas Tipo de fecho: Lagosta. Pulseira 03: Materiais: Metal; Cor: Dourada; Tipo de fecho: Fecho Arco. 5. Produtos Voltados Para Idosos Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), atualmente, aproximadamente 19,2 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, representando 9,9% da população do país. Em 2020, este número se elevará para 13,6% e, até 2050, serão 64 milhões de pessoas da terceira idade, ou seja, 29,7% da população do país. O crescimento da população idosa abre as oportunidades voltadas às casas de repousos em São Paulo, que é altamente procurada. Este público que vem crescendo com o passar dos anos e hoje não pode ser comparado, de forma alguma, a maioria dos avós de anos atrás. Pois são indivíduos com dinheiro suficiente para consumir, com nível de exigência e instrução alto, que acompanham a moda e desejam lazer com qualidade estando cada vez mais presente no mercado de consumo, seja de forma atuante na atividade empresarial, Pulseira 04: Materiais: Metal; Cor: Prateada; Tipo de fecho: Fecho lagosta. Pulseira 05: Material: Metal; Cor: Dourada; Tipo de fecho: Fecho Bóia. pois essa geração não pretende se aposentar tão cedo. Analisando que a maioria das pessoas acima de 60 anos de idade no Brasil é mulher, decidimos por focar neste grupo. 6. Coleta de Dados Foram realizados testes de aptidão com dois grupos distintos, cada um com 10 participantes: sendo um com jovens entre 14 e 25 anos e o outro com idosas entre 52 e 86 anos, a fim de ser realizada uma comparação das dificuldades encontradas pelas entrevistadas de ambos os grupos. O foco foi o procedimento que seguiam as participantes quanto ao manejo que é “uma forma particular de controle, onde há um predomínio dos dedos e da palma das mãos, prendendo ou manipulando alguma coisa.” IIDA, 2005, p. 243. Sua classificação geral é por manejo fino e grosso. Onde nosso experimento encaixa-se no fino, pois, os usuários se utilizam das pontas dos dedos, exigindo precisão, umas das variáveis, unida a força e velocidade. Precisão é a folga ou tolerância permitida aos movimentos de posicionamento. Dentre os níveis, definimos a manipulação dos fechos como alta precisão. Comparação mostrando maior facilidade da jovem e dificuldade da idosa. Fonte: arquivo pessoal 7. Análise dos Dados / Problematização Ergonômica Em todos os testes de aptidão foram encontradas diversas dificuldades por parte das participantes. Alguns fechos eram de manuseio muito complicado, pequenos e muitas vezes propensos a se soltarem, fazendo a pulseira cair do pulso. Abaixo, seguem os resultados mais detalhados: Gráfico 1: porcentagem de jovens que avaliaram como fácil. Gráfico 2: porcentagem de idosas que avaliaram como fácil Gráfico 3: porcentagem de jovens que avaliaram como fácil. 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 1 2 3 4 5 P o rc en ta fg em d e J o v en s Pulseiras Jovens - Avaliação como Fácil 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1 2 3 4 5 P o rc en ta fg em d e Id o sa s Pulseiras Idosas - Avaliação como Fácil 0% 10% 20% 30% 40% 1 2 3 4 5P o rc en ta fg em d e J o v en s Pulseiras Jovens - Avaliação como Regular Gráfico 4: porcentagem de idosas que avaliaram como regular. Gráfico 5: porcentagem de jovens que avaliaram como difícil. Gráfico 6: porcentagem de idosas que avaliaram como difícil. De todas as pulseiras que foram utilizadas pelo grupo de jovens, apenas as pulseiras 01 (fecho de pressão) e 02 (fecho lagosta) foram consideradas por todas as participantes como sendo de fácil manuseio. As pulseiras 03, 04 e 05 formaram 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 1 2 3 4 5P o rc en ta fg em d e Id o sa s Pulseiras Idosas - Avaliação como Regular 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1 2 3 4 5 P o rc en ta fg em d e J o v en s Pulseiras Jovens - Avaliação como Difícil 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1 2 3 4 5P o rc en ta fg em d e Id o sa s Pulseiras Idosas - Avaliação como Difícil opiniões mais divididas, sendo que as pulseiras 04 e 05 foram consideradas pela maior parte das participantes como sendo de difícil manuseio. Ambas possuíam, respectivamente, os fechos lagosta e boia. Com relação ao uso frequente das pulseiras, a que foi classificada como sendo de uso mais popular foi pulseira 05. Das 10 entrevistadas do grupo de jovens, todas afirmaram precisar de ajuda para poder fechar as pulseiras corretamente. Observações e comentários feitos pelas participantes: • Tamanho da unha, curta ou grande demais, pode vir a dificultar seu manuseio; • O tamanho dos fechos também, por serem pequenos demais, atrapalham muito, fazendo com que as usuárias percam muito tempo tentando encaixar; • Assim, o auxílio de uma segunda pessoa é necessário, acarretando em dificuldades para o ajudante. 8. Intervenção Ergonômica Mediante o resultado da análise ergonômica e observados déficits para ambos os grupos - ressaltada para o grupo A- optamos em intervir ergonomicamente, onde traremos sugestões para melhorias de certos componentes referentes e atitudes a seguir: • Dificuldade em aproximar o fecho à área de encaixe: Inserir um extensor removível de material - plástico, couro ou metal, dependendo da disposição da empresa para investimento - ou cor diferente do presente na pulseira em si. Com maior comprimento que o de extensores comuns, permitirá que com a mão do braço que recebera pulseira o segure, diminuindo as chances de imprecisão. Semelhante ao Bracelet Buddy que permite a colocação de acessórios estando sozinho, embora o extensor possa ser mais flexível e adaptável. Imagem : extensor ampliado Imagem: Bracelet Buddy Conterá um gancho, ideal para pulseiras com áreas vazadas, ou outro tipo de fecho que permitirá a colocação do extensor no inicio da pulseira. • Textura lisa, assim, escorregadia. • Adicionar ranhuras em toda extensão externa do fecho. • Dificuldade em fixar nas pontas dos dedos e assim puxar em sentido contrário o componente de abertura do fecho Torná-los anatômicos, com ranhuras e com maior espessura, formando uma figura semelhante ao símbolo infinito. Formato semelhante para proposta de fecho anatômico Fonte: Internet Que a indústria dê preferência aos fechos maiores ou os substitua pelos fechos em imã, T ou pelos ganchos, que exigem menos força e precisão, mas, não são encontrados facilmente. Fecho em T, imã e gancho Fonte: Internet • Popularização Para as jovens, que aderem facilmente ao exótico, além das soluções anteriores, que se dissipe o uso dos fechos de pressão, entrelaçados e deslizantes. • Canhotas sentem mais dificuldade Como ressalta IIDA (2005), os produtos também ser planejados para pessoas canhotas usarem. Propomos que enfeites como pingentes, spikes, possuam frente e verso ou que possam ser removidos quando for necessário mudar o sentido, quando a mulher for canhota ou preferir. • Ausência de instruções quanto ao manejo • No local que explique o modo de conservação, conter indicações quanto à melhor forma de manusear. Devem estar emletras grandes para que as mulheres com problemas de visão possam enxergá-las. 9. Conclusão Por meio desta pesquisa, tendo como segmentação as mulheres de idade média e idosas, pudemos propor alternativas quando a componentes a serem adicionados e outros passarem por redesign. Soluções tais, que podem ser desenvolvidas e ampliadas em pesquisas aprofundadas. Assim, as devidas soluções que enfatizem a qualidade ergonômica não somente a estética, sejam encontradas nas pulseiras e como destacamos, em seus fechos. Voltamos a atenção dos leitores interessados, indústrias e designers para um mercado com produtos universais, ou seja, com uma usabilidade positiva também para as minorias. Referências Bibliográficas A Semi Joia é autêntica? Descubra como ver. Disponível em: <http://agatasemijoias.com.br/como-ver-se-a-semi-joias-e-autentica/> Acesso em 27 de janeiro de 2015. BRANCO; Ricardo. História das Jóias: Da pré-história à art decó. Disponível em: <http://genericwords.blogspot.com.br/2014/09/historia-das-joias-da-pre-historia- art.html> Acesso em 27 de janeiro de 2015. CERATTI; Juliana J. Design de Joias Contemporâneas: Soluções Leves e Versáteis. UFRGS, Porto Alegre, 2013. GOLA, Eliana. A Jóia: história e design. São Paulo: SENAC Editora, 2008. IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção / Itiro Iida. 2ª ed. Rev. e Amp. – São Paulo: Edgar Blücher, 2005. LLABERIA; Engracia M. L. C. Design de Jóias: Desafios Contemporâneos. 2009, 183 f. Dissertação (Mestrado em Design), Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2009. Produtos e serviços voltados à terceira são tendência. Disponível em: <http://canaldoempreendedor.com.br/banner-principal/franquia-produtos-e-servicos- voltados-a-terceira-idade-sao-tendencia-em-negocio/> Acesso em 27 de janeiro de 2015. RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica: para alunos de graduação e pós- graduação. 4ª Ed. – São Paulo: Loyola, 2009. SUBIRACHS, Josep Maria. História geral da arte. Madrid: Ediciones Del Prado, 1996
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