Buscar

EVOLUÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Prévia do material em texto

- CONSTITUIÇÃO DE 1824 (Brasil Império):
	. Inserida no contexto de pós-independência do Brasil (07/09/1822);
	. Necessita da estruturação de um poder centralizador para o Império que emergia;
. Dois grupos divergiam na discussão: o de José Bonifácio, de tendência mais conservadora (propunha um governo forte, centralizador no seu aspecto administrativo, onde o monarca era o Chefe de Estado e o Chefe de Governo), se opunha ao grupo de Gonçalves Ledo, de tendência mais liberal (defendia a monarquia constitucional representativa, onde o Parlamento seria o poder mais forte e importante, e propunha, ainda, a liberdade de expressão, de iniciativa, a descentralização administrativa e ampla autonomia das províncias). E assim, Bonifácio vence e persegue Ledo, o qual precisa refugiar-se em Buenos Aires;
. No meio desse conflito, Dom Pedro I é coroado, e com medo de perder seu poder, dissolve a Assembléia Constituinte em 1823 e convoca alguns cidadãos conhecidos por ele (Partido Português), e, de portas fechadas, começam a redigir o que seria a nossa primeira Constituição.
. Essa Constituição, outorgada de 1824, consagra o unitarismo, dividiu o País em vinte províncias subordinadas ao poder central, e dirigidas por Presidentes escolhidos e nomeados pelo Imperador, demissíveis ad nutum;
. Sofre influência da Constituição da França de 1814;
. Conhecida por estabelecer um governo de Monarquia Hereditária e aplicar quatro poderes, sendo o que se destaca entre eles, o Poder Moderador, o qual era exercido pelo Imperador e tinha controle sobre os outros poderes. Sendo assim, não somente reinava, mas também governava, e acumulava os poderes: Executivo e Moderador;
. No segundo reinado, já com o Imperador Dom Pedro II, o Brasil viveu a primeira experiência parlamentarista, de origem costumeira, uma vez que não estava prevista na Constituição.
~ Com o golpe de estado de 15 de novembro de 1889, comandado por Deodoro da Fonseca, surge a República Federativa do Brasil.
- CONSTITUIÇÃO DE 1891 (Primeira República):
	. Inserida no contexto de pós-proclamação da república (15/11/1889);
. A república foi inserida muito mais pela necessidade da implantação do federalismo do que por oposição à forma monárquica do governo de Pedro II, mesmo porque este era respeitado pela sua moderação e honestidade;
. Houve mudanças significativas no sistema político e econômico do país, com a abolição do trabalho escravo, a ampliação da indústria, o deslocamento de pessoas do meio rural para centros urbanos e também o surgimento da inflação;
. Abandona-se o modelo do parlamentarismo franco-britânico, em proveito do presidencialismo norte-americano, sofre influência da Constituição Americana de 1787, caracterizando por um federalismo dualista e estabelecendo a igualdade jurídica entre os novos Estados-Membros;
. Deodoro da Fonseca (governador provisório) e seu vice Rui Barbosa, nomeiam uma comissão de cinco para apresentar um projeto a ser examinado pela futura Assembléia Constituinte;
. Dessa forma, em 24 de fevereiro de 1891, promulga-se a Constituição Republicana, de cunho liberal, era sintética, e institui a forma federativa de Estado e a forma republicana de governo;
. Tal representou uma ruptura com a antiga ordem política imperial, porque, confirmando o federalismo dual, concedeu autonomia aos estados, às antigas províncias, consagrou a tripartição de poderes, desconheceu privilégios, separou o Estado da Igreja, garantiu o direito de propriedade, e muitos direitos e garantias fundamentais, dentro os quais o habeas corpus, a livre manifestação de pensamento, etc.;
. Porém, foi muito desrespeitada pelos presidentes da época. Assim, aos poucos, os ideais e a eficácia jurídica da Carta Constitucional de 1891 foi ruindo, e o federalismo, na prática, ficou desmoralizado.
~ Quando, em 1930, o presidente Washington Luís escolheu mais um paulista (Julio Prestes) para sucedê-lo, a oligarquia mineira se rebelou entendendo ter sido desrespeitada a chamada política do “café com leite”, resultante do constante rodízio de presidentes paulistas e mineiros, e assim juntando-se aos fluminenses, gaúchos e a políticos de outros estados do Nordeste, formando a famosa Aliança Liberal em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Com a derrota da Aliança e com a continuação da desordem no País, agravada pela situação econômica, jovens tenentes e jovens dissidentes da oligarquia dominante partiram para a luta armada, e, em 03 de novembro de 1930, Getúlio e os seus jovens tenentes marcharam sobre o Rio de Janeiro, assumindo o poder uma Junta Pacificadora, que então já havia derrubado o Presidente Washington Luís. A revolução de 1930, então, colocou fim à chamada “República Velha” e junto a ela à Constituição de 1891. Através de um Decreto, editado em 11/11/1930, Getúlio Vargas passou a exercer os poderes Executivo e Legislativo, dissolvendo o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais, acabando de vez com os últimos resquícios substituídos por interventores federais, recrutados, na sua maioria, dentre os tenentes que apoiaram o Golpe de Estado, e que obedeciam cegamente suas ordens. Depois de mais de um ano e meio da revolução começa a surgir focos de resistência e rebeldia contra os métodos arbitrários e antidemocráticos de governo, em favor de uma redemocratização, e daí surge a Revolução Constitucionalista, pequena e rapidamente sufocada. E mesmo tendo sido um fiasco, tal revolução foi um sucesso do ponto de vista político, pois forçou Getúlio a consentir na elaboração de uma nova Constituição, em 1933.
- CONSTITUIÇÃO DE 1934 (Segunda República):
	. Inserida no contexto de pós-revolução de 1930 e pós-revolução constituinte;
. A segunda constituição da república, promulgada/outorgada em 16 de julho de 1934, era analítica. Foi fortemente influenciada pela Constituição Alemã de Weimar, e pelo fascismo, conquanto trouxesse um grande avanço ao País, o chamado Estado Social;
. Foi introduzido o voto para as mulheres, a obrigatoriedade e gratuidade de ensino primário, a criação do mandato de segurança, a instituição do salário-mínimo, a criação da Justiça do Trabalho, etc. Já noutra linha, a Constituição autorizou a união a monopolizar as riquezas do subsolo (petróleo, ouro,...), das águas e da energia hidráulica, e na economia visava a monopolizar, de forma progressiva, os Bancos de depósito, amparar e estimular a produção e estabelecer novas condições de trabalho;
. Por mais que tivesse reduzido gravemente os direitos individuais dos cidadãos, do ponto de vista político, como um presidente-ditador legou inúmeras “conquistas sociais” para os trabalhadores, ainda que de forma ditatorial, reforçando, assim, o seu desprezo pela democracia e, ao mesmo tempo, a imagem paternalista e personificadora do Poder Estatal.
~ Assim, a outorga dos direitos sociais, que não foram introduzidos graças à luta política, mas por obra e vontade do ditador, acabou por gerar o saudosismo popular para com as ditaduras; fenômeno reforçado com o regime militar.
- CONSTITUIÇÃO DE 1937 (Estado Novo):
	. Inserida no contexto de um auto-golpe;
. O Presidente Getúlio Vargas, dando um auto-golpe, outorgou uma nova Constituição ao País, de feição nitidamente ditatorial, inteiramente redigida pelo ex-Deputado Federal de Minas Gerais, Francisco Campos;
. Conhecida como Carta Polaca, em virtude da grande semelhança com a Constituição fascista da Polônia, de 1935;
. Afastam-se todos os governadores e designa, em seus lugares, interventores dentre os que o ajudaram na Revolução de 1930 e em seu autogolpe;
. Além de retirar vários dispositivos de garantia dos direitos fundamentais, instituiu a pena de morte para crimes políticos e homicídios considerados mais graves. Como se isso não bastasse, conferiu amplos direitos ao Presidente da República, ampliou o prazo do mandato presidencial, criou o estado de emergência, dissolveu o Congresso Nacional, etc.;
. Resumindo, dissolvidos os órgãos do Poder Legislativo dominou a vontadedespótica do presidente, transformando em caudilho, os Estados-Membros viveram sob regime de intervenção federal, os interventores sendo na verdade delegados do presidente.
~ A derrota da aliança nazi-fascista, envolvendo a Alemanha e a Itália, na Segunda Guerra, fez com que crescessem as pressões para a reconquista das liberdades democráticas, criando um clima hostil ao presidente. Sendo assim, vê-se obrigado a abrir, ainda que timidamente, o regime. Editou a Lei Constitucional nº 9, em fevereiro de 1945, fixando eleições diretas para o mês de dezembro; além disso, concedeu, em abril, liberdade aos presos políticos. Porém, em outubro de 1945, Vargas era deposto pelos militares, chefiados pelos Generais Eurico Gaspar Dutra e Góes Monteiro, assumindo provisoriamente o governo o Presidente do STF, Ministro José Linhares.
- CONSTITUIÇÃO DE 1946:
	. Inserida no contexto da queda de Getúlio Vargas;
. A queda de Getúlio levou ao início da elaboração de uma nova Constituição, democrática. Em novembro, foi concedido ao Parlamento eleito poderes para elaborar essa nova Constituição. E assim, em fevereiro de 1946, os constituintes iniciam sua elaboração que somente fica pronta em setembro;
. Então, a Constituição promulgada em 1946, procurava conciliar os princípios de liberdade e justiça social, garantindo os direitos dos trabalhadores conquistados durante o Estado Novo, e coibindo abusos do poder econômico. Restabeleceu o princípio da separação e harmonia dos poderes, o cargo de Vice-Presidente da República, integrou a Justiça do Trabalho no âmbito do Poder Judiciário, o fim da censura e da pena de morte, etc.;
. Sofreu apenas três emendas e proporcionou a nação a viver de forma democrática, inclusive com a eleição do antigo ditador Getúlio para presidente. 
~ Porém, em outubro de 1954, Getúlio comete suicídio assumindo o seu vice até um mês para o fim do mandato, quando se afastou por problemas de saúde. A partir daí ocorre uma série de troca-troca de presidentes, e por fim ocorre uma crise político-militar após a tentativa de um auto-golpe, Jânio Quadros renuncia o cargo. A partir daí, tem-se um conflito para se estabelecer o vice em seu lugar, pois as Forças Armadas e os setores conservadores da República não queriam, argumentando que João Goulart era esquerdista e discípulo de Getúlio. Criando uma crise institucional e gerando o ato adicional de setembro de 1961, o qual instituiu o Regime Parlamentarista, definindo como Primeiro Ministro, Tancredo Neves. E essa foi a saída para que aceitassem que João Goulart assumisse a presidência. Jango, então convoca um plebiscito para que a sociedade decidisse sobre o regime de governo: parlamentarista ou presidencialista, vencendo este último. Então, em março de 1964, os militares deram um golpe de estado e afastaram o presidente. E, no dia seguinte, assumiram o poder e impuseram o Ato Institucional nº 1, institucionalizando o Regime Militar de forma a ordenar os plenos poderes constituintes que passaram a possuir. Dando início, a partir de então, a mais uma ditadura, com a supressão das liberdades, já agora sob o julgo dos militares.
- CONSTITUIÇÃO DE 1967 E EMENDA CONSTITUCIONAL DE 1969:
	. Inserida no contexto do pós-golpe militar;
. O regime militar, através da Constituição outorgada de 1967, e da Emenda Constitucional nº 1, de 1967, governou por mais de vinte e cinco anos, concentrando de forma excessiva os poderes, transformando governadores de estados e os prefeitos em verdadeiros fantoches, manipulados pelo poder central;
. Reduziram as liberdades individuais e coletivas, suspenderam direitos e garantias constitucionais, e passaram a governar através dos execráveis Decretos-Lei, usurpando a competência do Poder Legislativo. Em dezembro de 1968, foi estabelecido o AI-5, o qual concedeu uma gama extraordinária de poderes ao Presidente da República, com essa medida o Poder Executivo usurpava de uma vez por todas o Poder Legislativo. Além de subtrair do Judiciário a competência para apreciar qualquer ato praticado com fundamento no AI-5;
~ No período do governo de Geisel, penúltimo dos militares, foram “baixados” os chamados “pacotes” de abril/1977 (diminui o quórum para emenda constitucional, cria os chamados senadores biônicos, prorroga o mandato de Geisel de 4 para 6 anos, etc.) e julho/1978 (revoga o AI-5 e suspende os direitos políticos, além de reduzirem alguns poderes do Presidente/Ditador, como, por exemplo, o de decretar o recesso legislativo). Já no governo de Figueiredo, o último do ciclo militar, a população foi às ruas para exigir a redemocratização do País, com os célebres e concorridos comícios pelas “Diretas Já”, que somente aconteceria anos depois. E assim, o Congresso “elegeu” indiretamente o último presidente do período, Tancredo Neves, e seu vice Sarney. O presidente não chegou a ser diplomado em razão da sua morte, tendo assumido a presidência José Sarney, o qual, cumprindo os compromissos de Neves, convoca a Assembléia Nacional Constituinte.
- CONSTITUIÇÃO DE 1988 (Constituição Cidadã):
	. Inserida no contexto do fim do Regime Militar;
	. Teve como inspiração a Constituição Portuguesa de 1976;
. Promulgada, proclamou os direitos individuais e sociais; fortaleceu o Poder Legislativo, conquanto tenha permitido a medida provisória (ato normativo com força de lei); aprimorou o sistema democrático através do incremento da democracia semi-direta (o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular); além de trazer inegáveis e incontáveis avanços no reconhecimento dos direitos e garantias individuais e coletivos.

Continue navegando