Buscar

artigo banho de leito

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

233
COMPREENDENDO A LACUNA ENTRE A PRÁTICA E A EVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA
DO BANHO NO LEITO1
Silaine Sandrini Alves Maciel2
Silvia Cristina Mangini Bocchi3
Maciel SSA, Bocchi SCM. Compreendendo a lacuna entre a prática e a evolução técnico-científica do banho no
leito. Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42.
Trata-se de estudo qualitativo, realizado com pacientes acamados, visando compreender a experiência
da pessoa dependente da enfermagem para o banho no leito e desenvolver um modelo teórico representativo
dessa experiência. Utilizou-se como referencial teórico o Interacionismo Simbólico e, como referencial
metodológico, a Grounded Theory. Dos resultados emergiu o fenômeno – aprendendo a avaliar a vida e a
enfermagem, ao tornar-se dependente de seus cuidados para o banho no leito. Isso possibilitou identificar a
categoria central - propondo um modelo assistencial de enfermagem para o banho no leito, na perspectiva do
processo avaliativo do paciente, que contrapõe a evolução técnico-científica relativa ao procedimento.
DESCRITORES: cuidados de enfermagem; repouso em cama; pacientes
UNDERSTANDING THE GAP BETWEEN PRACTICE AND THE TECHNICAL-SCIENTIFIC
EVOLUTION OF THE BED-BATH
The objectives of this qualitative study were to understand the experience of the nursing dependent
person for the bed-bath and develop a theoretical model of this experience. The Symbolic Interactionism
perspective and Grounded Theory methodology were used to develop the study. Observation and interview
were the strategies used for data collection. Based on data analysis, a phenomenon was identified: learning to
assess life and nursing when the patient becomes dependent on nursing care for the bed-bath. The theoretical
model shows the meaning of the patient experience in the bed-bath, integrated by the core category - proposing
a nursing model for the bed-bath according to the patient assessment process, as opposed to the technical-
scientific evolution of this procedure.
DESCRIPTORS: nursing care; bed rest; patients
COMPRENDIENDO LA LAGUNA ENTRE LA PRÁCTICA Y LA EVOLUCIÓN
TÉCNICO-CIENTÍFICA DEL BAÑO EN LA CAMA
Se trata de un estudio cualitativo, realizado con los pacientes postrados, que procura comprender la
experiencia de la persona dependiente de la enfermería para el baño en la cama, y desarrollar un modelo
teórico que represente esa experiencia. Fue utilizado como referencial teórico el Interaccionismo Simbólico y
como referencial metodológica la Grounded Theory. De los resultados ha emergido el fenómeno – aprendiendo
a evaluar la vida y la enfermería al volverse dependiente de sus cuidados para el baño en la cama. A partir de
ahí, fue posible identificar la categoría central – proponiendo un modelo asistencial de enfermería para el baño
en la cama, desde la perspectiva del proceso evaluativo del paciente, que contrapone la evolución técnico-
científica relativa al procedimiento.
DESCRIPTORES: atención de enfermería; reposo en cama; pacientes
1 Trabalho extraído da pesquisa financiada pela FAPESP, processo nº 03/02854-5; 2 Graduando do Curso de Enfermagem, e-mail: silaine78@hotmail.com;
3 Professor Doutor, orientador, e-mail: sbocchi@fmb.unesp.br. Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista - UNESP
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae Artigo Original
234
INTRODUÇÃO
Observa-se, no decorrer de experiências
profissionais, que o banho no leito, como procedimento
ensinado em sala de aula, tem sofrido profundas
modificações no campo prático, inclusive ferindo
princípios técnico-científicos importantes.
Ademais, depara-se freqüentemente com
comentários, tanto do pessoal de enfermagem de
nível médio e até de enfermeiros, quanto de pacientes,
que determinados profissionais e, principalmente, os
alunos de enfermagem não sabem dar um banho de
qualidade no leito, ao seguirem fielmente o
procedimento técnico tradicional, ou seja, aquele que
respeita os princípios técnico-científicos propostos
pelos livros.
Quando se derecorre à literatura, depara-se
não só com os trabalhos brasileiros, mas também
com os internacionais, analisando o declínio da
qualidade do banho no leito no decorrer dos tempos
e criticando o distanciamento do enfermeiro acerca
do procedimento, quer seja realizando ou
supervisionando-o, bem como capacitando a sua
equipe(1-4). A evolução técnico-científica, entretanto,
propõe nova modalidade de banho no leito, abolindo
o uso de água, bacias, sabões e toalhas (5), bem como
mostrando as vantagens relativas ao custo-benefício,
porém ainda distante de nossa realidade (6).
Entende-se que há necessidade de se
responder a algumas questões relativas ao banho no
leito, como: qual o processo que vem subsidiando as
mudanças no procedimento técnico, além dos já
citados por trabalhos como: déficits de recursos
humanos e materiais, bem como o distanciamento
do enfermeiro da execução e da supervisão do
procedimento, ao longo dos tempos?
Na tentativa de se buscar respostas a essa
pergunta, delineia-se como objetivos: - compreender
a experiência interacional paciente-equipe de
enfermagem durante o banho no leito, segundo a
perspectiva do paciente e desenvolver e validar um
modelo teórico representativo da experiência vivida
pelo mesmo.
ABORDANDO O MÉTODO
Escolheu-se a metodologia qualitativa,
mediante a pretensão de descrever os fenômenos
que compõem a experiência de pacientes dependentes
da enfermagem para o banho no leito.
Dentre os principais referenciais teóricos e
metodológicos utilizados nos estudos qualitativos,
optou-se pelo Interacionismo Simbólico e pela
Grounded Theory.
Descrevendo os fundamentos teóricos dos
referenciais
Interacionismo simbólico
Quatro aspectos importantes distinguem essa
abordagem das demais da psicologia: “1 - o
interacionismo simbólico cria uma imagem mais ativa
do ser humano e rejeita a imagem desse como um
organismo passivo e determinado. Os indivíduos
interagem e a sociedade é constituída de indivíduos
interagindo; 2 – o ser humano é compreendido como
um ser agindo no presente, influenciado não somente
pelo que aconteceu no passado, mas pelo que está
acontecendo agora. A interação acontece neste
momento: o que fazemos agora está ligado a essa
interação; 3 - interação não é somente o que está
acontecendo entre pessoas, mas também o que
acontece dentro dos indivíduos. Os seres humanos
atuam em um mundo que eles definem. Age-se de
acordo com o modo que se define a situação que se
está vivenciando, embora essa definição possa ser
influenciada por aqueles com quem se interage, ela
é também resultado de nossa própria definição, nossa
interpretação da situação; 4 - o interacionismo
simbólico descreve o ser humano mais ativo no seu
mundo do que outras perspectivas. O ser humano é
livre naquilo que ele faz. Todos definimos o mundo
em que agimos e parte dessa definição é nossa,
envolve a escolha consciente, a direção de nossas
ações em face dessa definição, a identificação dessas
ações e a de outros e a nossa própria redireção”(7).
Os conceitos do interacionismo simbólico são:
símbolo, self, mente, assumir o papel do outro, ação
humana e interação social(7).
- Símbolo
É o conceito central, pois, segundo o
Interacionismo Simbólico, sem ele não se pode
interagir uns com os outros. É uma classe de objetos
sociais usados para representar alguma coisa.
“Os símbolos são desenvolvidos socialmente,
por meio da interação; eles não são concordados
universalmente dentro dos grupos humanos, mas são
arbitrariamente estabelecidos e mudados pela
interação dos seus usuários; existe uma linguagem
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
235
de sons e gestos que é significativa e inclui regras
permitindo que se combine os sons ou gestos em
declarações significantes. Para ser simbólico, o
organismo cria ativamente e manipula símbolos na
interação com os outros”(7).
- Self
No Interacionismo Simbólico o self é um
objeto social em relação ao qual o indivíduo age. O
ator configura o self na interação com os outros. O
self não somente surge na interação, mas como todo
objeto social é definido e redefinido na interação.
Surge, na infância, inicialmente, por meio da interação
com os pais e outros significativos, mudando
constantemente na medida em que a criança vivencia
novas experiências interagindo com outros. “Como
eu me vejo, como eu me defino, o julgamento que
faço de mim mesmo é altamente dependente das
definições sociais que encontro durante minha vida”(7).
- Mente
“Mente é a ação, ação que usa símbolos e
dirige esses símbolos em relação ao self. É o indivíduo
tentando fazer algo, agir em seu mundo. É a
comunicação ativa com o self por meio da manipulação
de símbolos. O mundo é transformado em um mundo
de definições por causa da mente; a ação é resposta
não a objetos, mas à interpretação ativa do indivíduo
a esses objetos“(7).
É a interação simbólica do organismo humano
com seu self.
- Assumir o papel do outro
Esse conceito está intimamente relacionado
aos anteriores, porque consiste em atividade mental
e torna possível o desenvolvimento do self, a aquisição
e o uso de símbolos e a própria atividade mental. “É
por meio da mente que os indivíduos entendem o
significado das palavras e ações de outras pessoas”(7).
- Ação humana
A interação com o self e com os outros leva
o indivíduo a tomar decisões que direcionam o curso
da ação.“As ações são causadas por um processo
ativo de tomada de decisão pelo sujeito, que envolve
a definição da situação e essa por sua vez, envolve
interação consigo mesmo e com os outros. Dessa
forma, é a definição da situação feita pelo ator que é
central para com a ação ocorrerá”(7).
- Interação social
Conforme apresentado, todos os conceitos
básicos para o Interacionismo Simbólico surgem da
interação e são parte dela. “Quando interagimos, nós
nos tornamos objetos sociais uns para os outros,
usamos símbolos, direcionamos o self, engajamo-nos
em ação mental, tomamos decisões, mudamos
direções, compartilhamos perspectivas, definimos
realidade, definimos a situação e assumimos o papel
do outro”(7).
Grounded Theory
Segundo os idealizadores da Grounded
Theory, essa metodologia consiste na descoberta e
no desenvolvimento de uma teoria a partir das
informações obtidas e analisadas sistemática e
comparativamente(8).
Para eles, a teoria significa “uma estratégia
para trabalhar os dados em pesquisa, que proporciona
modos de conceitualização para descrever e
explicar”(8).
Apresentam um método de análise
comparativa constante, onde o pesquisador, ao
comparar incidente com incidente nos dados,
estabelece categorias conceituais que servem para
explicar o dado. A teoria, então, é gerada por um
processo de indução, no qual categorias analíticas
emergem dos dados e são elaboradas conforme o
trabalho avança, uma vez que as categorias começam
a emergir dos dados.
Esse é um processo descrito como
amostragem teórica e o pesquisador decide que dados
coletar em seguida, em função da análise que vem
realizando. Nesse sentido, a amostragem adotada não
é estatística, mas teórica, uma vez que o número de
sujeitos ou situações que devem integrar o estudo é
determinado pelo que eles denominaram de saturação
teórica, ou seja, quando as informações começam a
ser repetidas e dados novos ou adicionais não são
mais encontrados(8).
Atores participantes e o local da pesquisa
A saturação teórica foi obtida mediante a
análise da 17ª entrevista, com pacientes entre 26 e
82 anos, internados em unidades clínicas e cirúrgicas
de um Hospital Universitário e dependentes da
enfermagem para o banho no leito há mais de sete
dias.
Dos 17 sujeitos entrevistados, sete deles
eram do sexo feminino e dez, masculino.
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
236
Estratégias para coleta e análise de dados
Realizou-se a coleta de dados por meio de
gravações de entrevistas não estruturadas do tipo
focalizada, tendo como questão de partida: — como
tem sido a sua experiência ao se tornar dependente
da enfermagem para o banho no leito?
Tornou-se o cuidado de realizá-la somente
após a obtenção do parecer favorável do Comitê de
Ética em Pesquisa e da autorização dos atores que
participaram deste estudo.
Para o registro dos dados, foram feitas
anotações durante os eventos ou, quando o local não
se mostrava apropriado, realizava-os imediatamente
após.
A análise dos dados ocorreu de acordo com
o método da Grounded Theory, conforme as
estratégias básicas apresentadas para a formação
de categorias(8).
Categorias são abstrações do fenômeno
observado nos dados e formam a principal unidade
de análise da Grounded Theory. A teoria se desenvolve
por meio do trabalho realizado com as categorias,
que faz emergir a categoria central, sendo geralmente
um processo, como conseqüência da análise(8).
As fases da análise dos dados são:
descobrindo categorias, ligando categorias,
desenvolvimento de memorandos e identificação do
processo(8).
A EXPERIÊNCIA DA PESSOA DEPENDENTE
DA ENFERMAGEM PARA O BANHO NO LEITO
O fenômeno identificado
A análise dos dados à luz da Grounded Theory
permitiu compreender a experiência da pessoa
dependente da enfermagem para o banho no leito,
ao emergir o fenômeno: aprendendo a avaliar a vida
e a enfermagem ao tornar-se dependente de seus
cuidados para o banho no leito.
O fenômeno será descrito em forma de
conceitos provenientes das experiências dos atores,
segundo os elementos que compõem o processo:
temas, categorias e subcategorias.
Aprendendo a avaliar a vida e a enfermagem ao
tornar-se dependente de seus cuidados para o banho
no leito
É o fenômeno que retrata a experiência da
pessoa dependente da enfermagem para o banho no
leito, por meio de três temas: enfrentando os desafios
ao perder a autonomia, desenvolvendo uma
modalidade de avaliação de desempenho da
enfermagem para o banho no leito e reavaliando a
vivência como uma lição de vida.
Enfrentando os desafios ao perder a autonomia
É o primeiro tema que compõe o fenômeno,
aprendendo a avaliar a vida e a enfermagem ao
tornar-se dependente de seus cuidados para o banho
no leito, congregando as categorias que retratam as
circunstâncias desfavoráveis que a pessoa
hospitalizada e acamada acaba sendo obrigada a
enfrentar, mediante a perda da autonomia para o
autocuidado e, conseqüentemente, tornando-se
dependente dos cuidados de enfermagem para
satisfazer as suas necessidades.
Nesse processo, ela acaba sendo obrigada a
se sujeitar ao banho no leito, compreendido como
um procedimento que não reproduz as mesmas
sensações de conforto geradas pelo banho no
chuveiro, perante uma circunstância constrangedora
de ter seu corpo exposto a profissionais de ambos os
sexos, sem a opção, na maioria das vezes, de realizar
escolhas que poderiam amenizar o seu desconforto,
das limitações impostas pelos déficits de recursos
humanos e materiais no hospital. As condições que
poderiam ajudá-la no enfrentamento seriam: ter o
banho no leito realizado por um profissional do mesmo
sexo do paciente e ter a oportunidade de escolher o
horário e o número debanhos diários, no
planejamento da assistência de enfermagem.
Outra situação adversa é a experiência
daqueles idosos, circunscrita de medos condicionados
aos seus próprios conhecimentos ou de informações
da equipe de saúde, sobre as suas fragilidades
fisiopatológicas para a recuperação, fazendo-os
pensar nas conseqüências que virão-a-ser, caso não
restabeleçam a autonomia, como a possibilidade de
maus-tratos ao se tornar uma pessoa dependente e
indefesa, sem o suporte familiar.
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
237
O tema enfrentando os desafios ao perder a
autonomia é composto por duas categorias: tendo
que se sujeitar ao banho no leito como uma missão e
temendo a dependência e as suas conseqüências
perante a fragilidade de recuperação do idoso.
- Tendo que se sujeitar ao banho no leito como uma
missão
É um dos processos de enfrentamento da
pessoa que perde a autonomia ao se tornar incapaz
de realizar o autocuidado, seja por lesões e/ou
tratamentos que limitam a funcionalidade dos membros
inferiores (MMII), bem como em qualquer situação
terapêutica, na qual o repouso absoluto é indicado. Na
impossibilidade de ser encaminhada ao banho de
aspersão, a opção que lhe resta é a de depender da
enfermagem para o banho no leito. É uma experiência
que se configura como de difícil superação, permeada
de estresses e de acometimento da auto-estima,
mediante a própria perda da autonomia para os
cuidados de higiene, o constrangimento da exposição
corporal, bem como por não lhe conferir as mesmas
sensações de limpeza e de conforto proporcionadas
pelo banho no chuveiro. Acrescem-se, ainda, os
desafios institucionais, relativos aos déficits de recursos
humanos e materiais que dificultam a possibilidade de
o paciente contar, diariamente, com pessoas do mesmo
sexo que o seu para dar o banho, bem como o de
recursos materiais que poderiam amenizar seu
sofrimento e prevenir complicações. Esta categoria
compõe-se de quatro subcategorias: tornando-se
dependente da assistência de enfermagem para o
autocuidado, preferindo o banho no chuveiro, tendo
que superar o constrangimento da exposição corporal
e percebendo a falta de materiais e de funcionários.
Voltei a ser criança com 26 anos ... fiquei no hospital
dezenove dias e tive que usar fralda ... é difícil essa fase de
dependência, mexe com a minha auto-estima. Tem que se pensar
positivo. Os dois primeiros meses foram difíceis ... depois comecei
a tomar o banho na cadeira de banho e embaixo do chuveiro.(14)
Nada como tomar banho no chuveiro, deixar a água cair
no corpo, para a sujeira ir embora. Fazer bastante espuma com
sabonete, lavar o cabelo bem lavado. Tomo banho de gato, parece
que a sujeira não vai embora, fica aqui comigo, aqui na cama.(9)
O banho no leito teria que ser dado na parte da manhã e
na parte da tarde. Mas não têm funcionários para poder fazer isso
duas vezes ao dia, porque teria um gasto muito alto.(4)
O esforço do paciente também ajuda os profissionais.
Mesmo que ele esteja com dor, sentindo dificuldades, tem que
ajudar, porque tem poucos profissionais, às vezes somente um
para dar o banho.(13)
Quanto ao sexo oposto dar o banho, você não fica à
vontade, fica constrangida ... se for do mesmo sexo e fizer com
amor, com toda aquela técnica, sai bom, sem problema.(8)
- Temendo a dependência e as suas conseqüências,
perante a fragilidade de recuperação do idoso
É a segunda categoria que compõe o tema
enfrentando os desafios ao perder a autonomia e
especificamente relativa à experiência daquele idoso
que se sente em desvantagem no processo de
recuperação, quando comparado às outras faixas
etárias, temendo a dependência, principalmente
quando não conta com o suporte familiar. Ele expressa
o medo de perder a autonomia e de sofrer a rejeição
ao ser cuidado na velhice. Esta categoria reúne duas
subcategorias: sentindo-se impotente perante o
processo de envelhecimento e pensando temeroso
nas conseqüências ao vir-a-ser dependente.
Minha sorte é que eu não quebrei o quadril, porque
coitados dos velhos! Acho que é o destino deles, porque todo
velho acaba se quebrando ... um tombinho de nada e já se quebra
... agora, sabe por que estou caindo assim?... Estou meio cega,
meio surda, agora eu caí e quebrei. A gente perde a noção ... Nessa
idade a gente não tem mais resistência para agüentar.(1)
Vocês não viram na televisão aquela senhora que tinha
uma mulher cuidando dela? Coitadinha! A empregada batia a cabeça
dela na parede. Passou cada horror na televisão!(1)
Não é fácil os outros terem que cuidar da gente. É muito
melhor a gente se cuidar. Ter saúde para se cuidar.(1)
Desenvolvendo uma modalidade de avaliação de
desempenho da enfermagem durante o banho no leito
É o segundo tema que compõe o fenômeno
aprendendo a avaliar a vida e o desempenho da
enfermagem no banho no leito ao tornar-se
dependente dos seus cuidados. Significa que, durante
o processo vivenciado do banho no leito, o paciente
vai avaliando a enfermagem na execução do
procedimento e a classifica dentro de dois conceitos,
como: apta e inapta. O tema se compõe de duas
categorias: considerando a enfermagem apta a
realizar o banho no leito e considerando a
enfermagem inapta a realizar o banho no leito.
– Considerando a enfermagem apta a realizar o banho
no leito
É um conceito oriundo do julgamento
formulado pelo paciente, relativo ao desempenho da
enfermagem durante o banho no leito e emitido pelo
mesmo, por meio da observação e avaliação das
condutas que promovem o seu bem-estar físico e
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
238
psíquico durante a experiência. Esses atributos
constituirão as habilidades julgadas por ele como
essenciais para o seu conforto durante o
procedimento, bem como servirão para fundamentar
o seu julgamento no processo avaliativo acerca da
competência da enfermagem para o banho no leito.
A enfermagem apta a realizar um banho no leito é
aquela que preenche três critérios: - ser criativa e,
portanto, capaz de modificar o procedimento
convencional, de maneira a reproduzir no banho no
leito as sensações semelhantes às promovidas pelo
banho no chuveiro; - ser capaz de estabelecer um
relacionamento terapêutico com o paciente durante
o procedimento, facilitando-o no enfrentamento de
uma experiência difícil; - ser capaz de atender,
imediatamente, às suas necessidades. Esta categoria
é composta por três subcategorias: enfermagem
tentando reproduzir as sensações do banho de
chuveiro no banho no leito, enfermagem atendendo
às suas necessidades biopsicossociais e enfermagem
estabelecendo um relacionamento terapêutico com o
paciente.
No outro hospital tomei banho várias vezes na cama.
Estava operado fazia quatro meses e tomava banho no leito. Não
era igual ao que tomo hoje, era banho de gato mesmo. Eu estava
com a barriga aberta e não dava para ter esse banho. Hoje me
molham bem, esfregam, ensaboam. Agora é melhor, fecham as
portas e as janelas.(11)
O banho está ótimo ... fazem a limpeza de acordo ... A
gente fica limpo até melhor que no banheiro. Eles cuidam
direitinho. Eles limpam e repassam com sabonete. Eles têm ...
agilidade ... experiência técnica ... agradável. Eu tomo um banho
limpo e rápido, não tomo friagem.(3)
Quando tocamos a campainha, nos atendem prontamente,
a não ser que estejam ocupados ... Não nos atendem com cara feia e
nervosos. Nós estamos sentindo dores, mas a enfermeira que, também,
é um ser humano, está carregando uma dor, socorrendotodos.(13)
- Considerando a enfermagem inapta a realizar o
banho no leito
É um conceito oriundo do julgamento
formulado pelo paciente, relativo à comparação entre
a experiência desagradável da técnica convencional
do banho no leito e aquela já modificada pela equipe
de enfermagem, bem como a observação e a
avaliação das condutas que promovem a sensação
de estar abandonado, transparecendo o descuido
biopsicossocial. A enfermagem inapta a dar um banho
no leito é aquela que preenche três critérios: - a
enfermagem que não reproduz o banho de chuveiro
no banho no leito, sendo fiel ao procedimento
convencional, fazendo com que o paciente continue
se sentindo como se estivesse apenas espalhado a
sujeira por todo o seu corpo; quando não se
estabelece um relacionamento terapêutico
enfermagem-paciente e – a enfermagem não
atendendo prontamente às necessidades do paciente,
que se considera abandonado. Esta categoria é
composta de três subcategorias: enfermagem
executando o procedimento convencional do banho
no leito, não estabelecendo um relacionamento
terapêutico enfermagem-paciente e enfermagem não
atendendo, prontamente, às necessidades
biopsicossociais do paciente.
Eu internei e me tratam direitinho ... passam espuma
com delicadeza e várias coisas ... Aquele funcionário X, com uma
barba. Nota 20 para aquele moço. Tem três ou quatro meninas
novas que não sabem o correto ...(4)
O banho no leito depende de quem está dando. Têm
pessoas que te dão o banho no leito delicioso e muito bem dado,
no capricho e têm pessoas que não dão nem um banho de gato. (8)
Você está aqui totalmente dependente. Você toca a
campainha e pede, chamando a pessoa e ela parece não se importar,
indo para lá e para cá. (8)
O dia que eu estava nervoso, gritando e falando ....
Onde se viu! Eu estava todo cheio de fezes, ninguém veio limpar
e falaram: - Depois a gente limpa ...(4)
Eu acho que algumas pessoas da enfermagem deixam
muito a desejar: têm que melhorar a parte humana.. (8)
Reavaliando a vivência como uma lição de vida
É o terceiro tema que compõe o fenômeno e
significa a conclusão do paciente após auto-avaliar
seu processo de hospitalização, entendendo que as
mudanças impostas pela doença ao seu plano de vida
e pela própria vivência de depender da enfermagem
para o banho no leito, como não sendo uma das
piores, quando se compara com aquelas vividas por
tantos outros companheiros. Essa concepção leva-o
a reconsiderar a sua experiência como uma lição para
toda a sua vida e, portanto, configurando-se numa
estratégia de enfrentamento.
Foi uma experiência grande e com ela pude dar valor
para a vida, olhá-la de um modo diferente e refletir bastante.
Depois que eu sofri o acidente, mudei a minha vida completamente.
Deixei de trabalhar, tornei-me dependente no autocuidado.(14)
Achei essa experiência horrível, porque nunca pensei
que ia tomar banho deitado numa cama! Mas a experiência foi boa,
porque se pode observar o que os outros podem passar na vida.
Eu aprendi muito. (15)
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
239
Acho que minha vida é muito boa, mesmo com tudo o
que estou passando, não posso me queixar, porque isso aqui é
um percurso do destino, mesmo com essa enfermidade que
tenho.(17)
Descobrindo a categoria central
A estratégia utilizada para descobrir a
categoria central foi inter-relacionar os três temas,
buscando compará-los e analisá-los para
compreender como se dava a interação entre seus
componentes. Esta estratégia permitiu identificar que
as categorias e subcategorias que compõem o
fenômeno empreendem um movimento avaliativo e
crítico, a partir da experiência da pessoa dependente
da enfermagem para o banho no leito, levando à
identificação da categoria central como: propondo um
modelo assistencial de enfermagem para o banho no
leito, na perspectiva do processo avaliativo do
paciente.
O processo de descoberta da categoria
central começou a corroborar com as primeiras
percepções desta pesquisa, quando de posse de todos
os diagramas que possibilitavam ver retratados os
três temas e todos os seus componentes.
Nesse momento, conseguia-se visualizar, nas
cadeias de categorias que compunham o primeiro
tema enfrentando os desafios ao perder a autonomia,
um movimento de significados que levava ao segundo
tema: desenvolvendo uma modalidade de avaliação
de desempenho da enfermagem para o banho no leito
e, subseqüentemente, ao terceiro tema: reavaliando
a vivência como uma lição de vida.
Tendo como ponto de partida a inter-relação
dos três temas que compõem o fenômeno: aprendendo
a avaliar a vida e a enfermagem ao tornar-se
dependente de seus cuidados para o banho no leito é
que permitiu abstração da construção de uma figura
que melhor retratasse a categoria central (Figura 1).
Enfrentando os desafios ao perder a
autonomia é um dos primeiros processos vivenciados
pelo paciente hospitalizado, mediante lesões e/ou
tratamentos que limitam a função dos MMII, bem
como em qualquer situação terapêutica, na qual o
repouso absoluto é indicado. Mediante a incapacidade,
o mesmo se torna dependente da enfermagem para
os cuidados de higiene, dentre eles o banho no leito.
O paciente avalia o procedimento como não
reproduzindo as mesmas sensações de conforto
geradas pelo banho no chuveiro, bem como de
exposição de sua privacidade que poderiam ser
amenizadas ao ter o banho realizado de forma
modificada à técnica convencional.
Mediante a experiência, ele acaba tendo
contato com duas técnicas de banho no leito
executadas pela equipe: a convencional e a
modificada. Na modificada, ele percebe a enfermagem
tentando reproduzir as sensações do banho de
chuveiro no banho no leito, considerada uma técnica
dinâmica, ao ter a pele de todo o corpo friccionada
com saponáceos e o enxágüe abundante, conferido-
lhe a sensação de limpeza e de conforto, quando
comparada à convencional. Enquanto, na
convencional, ele percebe a restrição na quantidade
de saponáceos e de água, deixando-lhe com a
impressão de que a sujeira foi apenas espalhada pelo
corpo e no leito.
O paciente considera outros atributos como
essenciais para ajudá-lo a enfrentar a experiência de
tornar-se dependente da enfermagem para o banho
no leito como: respeitar a sua privacidade e as
limitações de movimento quando com dor, manter o
ambiente aquecido, prover número de funcionários
necessários para que o banho seja realizado por
pessoas de sexo análogo ao seu, bem como a
disponibilização de materiais e equipamentos que
possam garantir a sua qualidade assistencial.
Manifesta, também, o desejo de se constituir como
membro participante do processo de planejamento de
sua assistência, ao poder escolher o horário e o número
de banhos diários. Espera, também, por uma
enfermagem atendendo, prontamente, às
necessidades biopsicossociais do paciente, tendo como
um dos fundamentos o relacionamento terapêutico.
Como se pode perceber, no decorrer da
experiência o paciente consegue observar, comparar,
avaliar e julgar as dimensões procedimentais e
atitudinais da enfermagem, acerca de sua assistência,
sem perder de vista a participação da instituição no
comprometimento da qualidade assistencial.
Dessa forma, ele acaba desenvolvendo uma
modalidade de avaliação de desempenho da
enfermagem durante o banho no leito, classificando-
a em dois conceitos: apta e inapta.
Como visto anteriormente, esses conceitos
oriundos do processo de julgamento do paciente, por
meio da observação, comparação e avaliação das
condutas dos elementos que compõem a equipe deenfermagem, durante o desenvolvimento do banho
no leito, empreendem um movimento na tentativa
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
240
de ter salvaguardado o seu bem-estar físico e psíquico
durante a experiência. Esses atributos constituirão
as competências julgadas por ele como essenciais
para o seu conforto durante o procedimento e
subsidiarão o seu processo avaliativo de cada
profissional que por ventura vier a fazer o banho no
leito, segundo os seguintes indicadores: ter
criatividade em reproduzir, durante o banho no leito,
as sensações promovidas pelo banho de chuveiro,
estabelecer o relacionamento terapêutico com o
paciente e ser capaz de atender, imediatamente, às
suas necessidades.
Por fim, apesar de o paciente se ver como
tendo que se sujeitar ao banho no leito como uma
missão, ele acaba reavaliando a vivência como uma
lição de vida, transformando-a em estratégia de
enfrentamento, ao compreender que sua experiência
é transitória e não se configurando como uma das
piores, perante tudo que vê, diariamente, no cenário
hospitalar. Entretanto, há que se estar mais atentos,
aos idosos, porque eles podem estar convivendo,
também, com o medo, mediante a desesperança
acerca da relação entre o processo degenerativo do
envelhecimento humano e as conseqüências de vir-
a-ser uma pessoa dependente, por toda a sua vida,
principalmente quando não conta com o suporte
familiar.
Sendo assim, apresenta-se a Figura 1 como
um símbolo do modelo teórico, tendo sido submetida
à avaliação dos atores e validada como representativa
de suas experiências, uma vez que a mesma
reproduzia tudo aquilo que mais queriam estar ou
terem vivenciado ao se tornarem dependentes da
enfermagem para o banho no leito.
DISCUTINDO OS RESULTADOS
O estudo possibilitou compreender a
experiência interacional do paciente dependente dos
cuidados da enfermagem para o banho no leito, bem
como desenvolver e validar um modelo teórico
representativo da mesma.
A opção em fazer este trabalho usando de
uma perspectiva teórico-metodológica, amparada
pela Grounded Theory e pelo Interacionismo
Simbólico, permitiu avanços nos conhecimentos sobre
o objeto em estudo, ao compará-los áqueles
encontrados na literatura.
Compreende-se que as mudanças
empreendidas pela equipe de enfermagem ao
procedimento convencional do banho no leito não
estão relacionadas somente ao déficit de recursos
humanos e materiais, mas, também, vem sendo
influenciada pelo processo interacional enfermagem-
paciente. Veja-se: dentre os critérios de julgamento
da enfermagem como apta ou inapta para execução
do banho no leito, um dos elegidos pelo paciente é a
criatividade da mesma em reproduzir as sensações
do banho no chuveiro no de leito.
Ele revela interagir durante a sua experiência
com diversos cuidadores, desde profissionais recém–
formados até aqueles com grande experiência e os
classificam dentro de dois grupos: um que já
conseguiu modificar a técnica de forma a gerar
sensações do banho de aspersão no banho no leito,
avaliado como apto e o outro grupo que se mantém
fiel ao procedimento convencional, avaliado como
inapto a executar o banho no leito.
Como vê-se, o paciente é livre e está
constantemente interagindo, não somente com o que
está acontecendo ao seu redor, mas segundo as suas
interpretações e definições relativas às situações
vivenciadas. Ele pode estar preso a um leito, mas,
por meio de sua capacidade de compreensão, passa
a empreender estratégias que podem influenciar a
prática de enfermagem, amparado naquilo que ele
acredita ser o melhor para si que, no caso do banho
do leito, é voltar a sentir as sensações de um banho
sob um chuveiro.
A análise do fenômeno, à luz do
Interacionismo Simbólico permite compreender que,
quando a enfermagem estabelece uma interação
efetiva com o paciente, ela passa a considerar o
paciente como sujeito ativo no planejamento de sua
assistência, empreendendo suas ações de forma
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
Figura 1 – Abstração da categoria central – Propondo
um modelo assistencial de enfermagem para o banho
no leito, na perspectiva do processo avaliativo do
paciente
241
compartilhada com a perspectiva do outro; porém,
sem analisá-las, criticamente, na dimensão técnico-
científica.
Comparando a proposta modificada de banho
no leito, eleita pelo paciente como a ideal e já
praticada, rotineiramente, por parte dos integrantes
da equipe de enfermagem com a da literatura,
observa-se que a mesma contrapõe à evolução
técnico-científica relativa ao procedimento.
Em 1994, a enfermeira americana Susan M.
Skewes, após oito anos de estudos e
aperfeiçoamentos, patenteou como Bag Bath® o seu
método alternativo de banho no leito(5).
É uma técnica que abole o método tradicional
de bacias, água, sabão, luvas de banhos e toalhas.
Ela se constitui de um pacote contendo oito pedaços
de tecido de poliéster pré-umedecidos em solução
emoliente de pH ácido, próximo ao da pele e de
hidrante enriquecido com vitamina E, livre de sabão
e álcool. Cada pedaço é destinado a uma área do
corpo e, subseqüentemente, descartado, dificultando
o cruzamento de infecções entre os segmentos do
mesmo. Não se faz necessária a secagem com
toalhas, porque a solução se evapora naturalmente
entre 30 a 45 segundos, deixando a pele hidratada e
protegida, sem precisar ser friccionada(5).
Há estudo demonstrando que a higiene da
pele, realizada com solução que dispensa enxágüe,
preserva a umidade e a integridade da mesma,
apresentando, portanto, melhor custo-efetividade(9).
Nessa linha, já existe pesquisa corroborando
as vantagens do custo-benefício do novo método,
quando comparado ao tradicional, por exercer a
função de limpeza e proteção da pele do paciente,
reduzindo o tempo de execução do procedimento pelo
pessoal de enfermagem, do índice de infecção
cruzada e os custos com os serviços de lavanderia(6).
Concorda-se, aqui com George Castledine,
consultor e professor de Enfermagem na University
of Central England, Birmingham, que houve um
declínio da qualidade do banho e a atenção oferecida
às necessidades de higiene ao paciente hospitalizado.
Esse aspecto essencial do cuidado de enfermagem,
que outrora foi visto como um dos mais importantes
aspectos das tarefas do enfermeiro, hoje está sendo
degradado ao ser delegado aos outros elementos da
equipe de enfermagem, sem a supervisão e avaliação
crítica do enfermeiro sobre o processo de mudança
acerca do procedimento(4).
Foi de forma crítica que a enfermeira
americana implementou sua inovação tecnológica de
banho no leito, o Bag Bath®, comentado
anteriormente, abolindo o sabão, a fricção, o enxágüe
e a toalha, visto que os mesmos causam o
ressecamento da pele, principalmente em idosos,
piorando a cicatrização de úlceras de pressão. A pele
hidratada está menos propensa a lesões e a
cicatrização ocorre mais rapidamente que a pele seca.
Verificou-se também, que os pHs dos saponáceos
eram em torno de 10 a 12, em vez de 4,5 a 5,5,
destruindo a barreira natural de propriedades
fungicidas e bactericidas(5). Por isso, com a sua
inovação, conseguiu-se o esperado de uma pele limpa
e hidratada. Resta saber se o paciente se satisfaz
com essa tecnologia, visto que a sua proposta não
convém com a mesma que, por sua vez, ainda não
se encontra disponível no cenário desta pesquisa.
Concorda-se com o paciente que ainda se
faz necessário preservar as condições que o ajudema enfrentar a difícil experiência de se tornar
dependente da enfermagem para o banho no leito
como: respeitar a sua privacidade e as limitações de
movimento quando com dor, manter o ambiente
aquecido, prover número de funcionários necessários
para que o banho seja realizado por pessoas de sexo
análogo ao seu, bem como a disponibilização de
materiais e equipamentos que possam garantir a sua
qualidade assistencial. Ademais, o desejo de se
constituir como membro participante do processo de
planejamento de sua assistência, escolhendo o horário
e o número de banhos diários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa, sob a perspectiva da Grounded
Theory e do Interacionismo Simbólico, permitiu
compreender a experiência da pessoa dependente
da enfermagem para o banho no leito, culminando
com o desenvolvimento e validação junto aos próprios
sujeitos de um modelo teórico representativo de suas
experiências, denominado: propondo um modelo
assistencial de enfermagem para o banho no leito,
na perspectiva do processo avaliativo do paciente.
Considera-se este estudo como contribuição
para a prática clínica, mediante o aprofundamento
na compreensão sobre o objeto, sinalizando que a
própria interação da enfermagem com o paciente
também tem contribuído com a modificação do
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae
242
procedimento tradicional do banho no leito. Ao
considerar o paciente como sujeito ativo no
planejamento compartilhado da assistência, a
enfermagem tem acolhido a perspectiva do doente,
sem analisá-la e discuti-la, criticamente, junto ao
paciente sob a ótica técnico-científica.
O movimento da equipe de enfermagem,
modificando a técnica tradicional do banho no leito,
na perspectiva do paciente e distanciando-se da
evolução técnico-científica, constitui-se em uma
variável que pode estar interferindo na preservação
da integridade da pele do paciente acamado.
As descobertas só foram possíveis por se
estar, aqui, instrumentalizadas por referenciais com
raízes interacionistas que, por sua vez, criam uma
imagem ativa do ser humano, rejeitando a sua
passividade.
De posse desses conhecimentos, sugere-se
ao enfermeiro que volte a sua atenção ao banho no
leito, porque é durante o mesmo que se julga a
qualidade do cuidado oferecido pelos outros elementos
da equipe, analisa-se as condições psicobiológicas do
paciente e se interage com o mesmo.
Faz-se necessária a reaproximação do
enfermeiro do procedimento, visando melhorar a
qualidade do banho no leito oferecido por sua equipe,
nas dimensões relacionais e procedimentais, ajudando
o paciente a superar uma experiência difícil de ser
enfrentada, contudo, amparado na evolução dos
conhecimentos ténico-científicos, principalmente, no
que tange à preservação da integridade da pele.
Cabe ao enfermeiro participar e promover a
capacitação técnico-científica à equipe de
enfermagem, exercendo a profissão no domínio legal
ao planejar, executar, delegar e supervisionar os
cuidados de enfermagem e à instituição zelar pelo
dimensionamento de recursos humanos e pela
provisão de materiais essenciais para uma assistência
de qualidade, visando a preservação da integridade
humana.
REFERÊNCIAS BIBBLIOGRÁFICAS
1. Ogasawara M. Banho no leito: uma contribuição ao
enfermeiro baseada na percepção do paciente/cliente.
[dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem
Ana Neri/UFRJ; 1989.
2. Lopes CLR, Barbosa MA, Teixeira MEM. Percepção dos
pacientes, sem capacidades para autocuidar-se, sobre a
operacionalização do banho no leito. Rev Bras Enfermagem
1996; 49: 259-66.
3. Viana TA. Avaliação da qualidade do cuidado – banho no
leito – prestado ao paciente com câncer do aparelho digestivo.
[dissertação]. São Paulo (SP): Escola Paulista de Medicina/
UNIFESP; 1996.
4. Castledine G. Forgotten importance of giving a bed bath. Br
J Nurs 2003; 12: 519.
5. Skewes SM. Skin care rituals that do more harm than good.
Am J Nurs 1996; 96: 33-5.
6. Collins F, Hampton S. The cost-effective use of Bag Bath:
a new concept in patient hygiene. Br J Nurs 2003; 12: 984,
986-90.
7. Glaser BG, Strauss AL. The discovery of grounded theory.
New York: Aldine; 1967.
8. Charon JM. Symbolic interactionism: an introduction, an
interpretation, an integration. 3ª ed. New York: Prentice Hall,
1989.
9. Byers PH. Effects of in continence care cleaning regimens
on skin integrity. J Wound Ostomy Continence Nurs 1995;
22: 187-92.
Recebido em: 18.4.2005
Aprovado em: 21.12.2005
Compreendendo a lacuna entre...
Maciel SSA, Bocchi SCM.
Rev Latino-am Enfermagem 2006 março-abril; 14(2):233-42
www.eerp.usp.br/rlae

Continue navegando