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ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém

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FICHAMENTO: 
“Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal” 
 de Hannah Arendt 
 
I – A CASA DA JUSTIÇA 
Nesse capítulo, Hannah descreve a estrutura do local onde ocorreu o julgamento de 
Adolf Otto Eichmann, com formação de 3 juízes, o promotor com 4 advogados assistentes e o 
advogado de defesa. Faz-se uma introdução do caso, quando o primeiro-ministro Ben-Gurion 
de Israel mandou que raptassem Eichmann para que fosse julgado perante um tribunal de 
judeus e que a partir desse julgado, pudessem ser encontrados e julgados outros nazistas. 
II – O ACUSADO 
Trata basicamente da vida de Eichmann antes de entrar para a SS (Schutzstafeln – 
força militar que garantia a proteção dos líderes do Partido Nazista) e seus fracassos nas 
realizações de suas funções anteriores. 
III – UM PERITO NA QUESTÃO JUDAICA 
É narrada aqui a ascensão do acusado, que passou a trabalhar no departamento de 
questões judaicas da SS, combinando sua excelência em ser burocrata com o fato de haver se 
convertido ao sionismo. 
IV - A PRIMEIRA SOLUÇÃO: EXPULSÃO 
Eichmann não odiava os judeus e segundo Arendt, os judeus de família estavam entre 
as suas razões particulares. O que ele deixou de dizer ao juiz durante o interrogatório é que 
havia sido um jovem ambicioso que estava cansado de trabalhar como vendedor viajante 
antes de a Companhia de Óleo à Vácuo o dispensar. De uma vida rotineira e sem significado, 
ele entendia que ter entrado para SS podia ser um novo começa para construir uma carreira – 
para alguém já fracassado aos olhos de sua classe, família e seus próprios olhos também. 
Mas ele nunca tinha tempo e vontade de se informar adequadamente sobre o 
programa do Partido, nunca leu o livro “Minha luta”, de Hitler. Além de que ele nunca passou 
do posto de tenente coronel. A vida militar era uma mesmice e por isso ele decidiu sair do 
Serviço de Segurança do Reichsfuhrer para o do Reich. Mas ele teve que começar tudo de novo 
para subir de posto. Ele se frustrou porque não sabia o que o esperava. 
Uma das primeiras tarefas era fazer um museu sobre a maçonaria – porque era ligada 
às práticas do judaísmo, catolicismo e comunismo – e uma das práticas do nazismo era fundar 
museus celebrando seus inimigos, como museus anti-judaicos. Hannah Arendt diz que se deve 
a isso a preservação de muitos tesouros culturais do judaísmo europeu. Mas essa tarefa era 
tediosa e depois Eichmann foi transferido para trabalhar num departamento referente aos 
judeus. Lá o seu chefe pediu para ler “Der Judenstaat”, de Theodor Herzl e que parece que foi 
o primeiro livro sério que Eichmann leu e que o converteu ao sionismo. Depois leu História do 
Sionismo, de Josef Böhm. 
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Daí em diante ele não pensava em nada mais do que uma “solução política” para 
conseguir uma base sólida para os judeus. Conquistou indicação oficial como espião oficial dos 
escritórios sionistas e foi para a Áustria. Ele se fascinava pelo sionismo, porque os judeus 
sionistas eram idealistas como ele próprio. Quando ele disse no interrogatório da polícia que 
teria mandado seu próprio pai para a morte se isso tivesse sido exigido, não queria apenas 
frisar até que ponto era um cumpridor de ordens, mas também o quão “idealista” ele sempre 
fora. Para ele, o “idealista” tinha sentimentos e emoções, mas não as deixava interferir em 
suas ações se entrassem em conflito com suas ideias. Ele fez acordo com sionistas, permitindo 
a partida legal deles (trens eram de fato protegidos pela polícia alemã) em troca de paz e 
tranquilidade nos campos de concentração (ou seja, sionistas que sacrificaram seus irmãos 
judeus em nome de sua “ideia”). 
Curioso que Hitler manteve Constituição de Weimar, mas os judeus não podiam 
ocupar cargos públicos nem aparecer na imprensa e todos que obtiveram cidadania após data 
de inicio da 1ª GM (1914) deveriam ser desnaturalizados e sujeitos à expulsão (o que veio 
acontecer mais para a frente, quando ninguém esperava). A tarefa de Eichmann em Viena em 
1938 foi caracterizada como “emigração forçada” – isto é, expulsão – foi um período do qual 
ele se orgulhava, porque havia sido reconhecido e condecorado. Esse era seu primeiro 
trabalho importante em toda a sua carreira: em 8 meses, 45 mil judeus deixaram a Áustria, em 
18 meses, 148 mil, 60% da população judaica. A ideia básica não foi dele, mas de Reinhardt 
Heydrich, que seria o verdadeiro engenheiro da Solução Final (1941). 
Depois da Áustria, Eichmann foi para Praga e de lá para Berlim, sempre na emigração 
forçada. Só que com a incorporação da Polônia, o Reich também havia adquirido cerca de 2 
milhões de judeus a mais e a solução de emigração forçada não seria fácil. Era natural que a 
emigração, por melhor organizada que estivesse em linha de produção, se esgotasse por si 
mesma. Eichmann sabia que se os assuntos judaicos continuassem sendo uma questão de 
emigração, ele logo perderia seu emprego. 
Segundo Heydrich, por intermédio da comunidade judaica, extraíam dinheiro dos 
judeus ricos que queriam emigrar em troca de possibilitar que os judeus pobres partissem (se 
livrar da massa judaica). Foi criado um “fundo de emigração” a partir de uma linha de 
produção, com uma tal eficiência no serviço público, para facilitar que os judeus entrassem no 
começo dessa repartição e fosse de balcão em balcão passando pelo processo em que tiravam 
seu dinheiro e saíam com um passaporte onde se lia ‘você deve deixar o país dentro de 15 
dias, senão irá para um campo de concentração’. Era uma máquina de perda de direitos. 
Havia acordo entre as autoridades nazistas e a Agência Judaica para a Palestina (Aliyah 
Beth) – única forma legal de um judeu levar consigo seu dinheiro que permitia que um 
emigrante para Palestina pudesse transferir em bens alemães e trocá-los por libras ao chegar. 
O resultado foi que na década de 1930, enquanto os EUA boicotavam a Alemanha, a Palestina 
vivia inundada de mercadorias made in Germany. 
Era interesse dos judeus abandonar o país, embora nem todos entendessem isso, e 
Eichmann se orgulhava em ajudar nesse processo, pois era aliado dos sionistas. “As pessoas 
tendem a esquecer disso agora”, disse ele em Jerusalém. Porque para os nazistas, os sionistas 
eram os judeus decentes, que também pensavam em termos nacionais. O advogado de 
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Eichmann, no entanto, apostou mais na tese de que eram pequenos dentes na engrenagem e 
cumpriam ordens do Führer. 
“Minha única língua é o oficialês”, disse Eichmann no interrogatório. Ele demonstrou-
se incapaz de pronunciar uma frase que não fosse um clichê. Os juízes tinham razão quando 
disseram ao acusado que tudo o que dissera era “conversa vazia”, só que eles pensavam que o 
vazio era fingido e que o acusado queria cobrir outros pensamentos. Mas isso não era só sobre 
a questão na qual estava envolvido, era também sobre sua vida na Argentina. E quanto mais se 
ouvia Eichmann, mais ficava óbvio que sua capacidade de falar estava relacionada com a sua 
capacidade de pensar, pensar do ponto de vista das outras pessoas. 
Segundo Hannah Arendt, o caso de Eichmann é diferente do criminoso comum, que só 
pode se proteger com eficácia da realidade do mundo não criminoso dentro dos estritos 
limites da sua gangue. Bastava Eichmannse lembrar do passado para se sentir seguro de não 
estar mentindo e não estar se enganando, porque ele e o mundo em que viveu marcharam em 
perfeita harmonia, assim como a sociedade alemã de 80 milhões de pessoas, com os mesmos 
autoenganos, mentiras e estupidez impregnadas na mentalidade de Eichmann. A disposição 
dele em admitir seus crimes devia-se, sobretudo, à aura de sistemática hipocrisia que 
constituía a atmosfera geral, que atingia a todos, no Terceiro Reich. 
Era muito difícil dar credibilidade ao depoimento do Eichmann, todo mundo percebeu 
que ele não era um monstro, mas estava difícil não desconfiar que fosse um palhaço. Mas, 
diante do sofrimento que ele e seus semelhantes causaram, suas piores palhaçadas mal foram 
notadas e quase nunca reveladas pela imprensa. Primeiro ele disse enfaticamente que a única 
coisa que aprendeu em sua vida foi jamais fazer um juramento (porque depois deveria pagar 
as consequências) e então, depois de informado que se quisesse testemunhar em sua própria 
defesa, deveria escolher fazê-lo com ou sem juramento e ele preferiu, sem mais delongas, 
testemunhar sob juramento. Ele se consolava com clichês. 
Conforme Arendt, a palavra “barbárie” é uma distorção da realidade, é como se os 
intelectuais judeus e não judeus tivessem fugido de um país que não era mais suficientemente 
“refinado” para eles. Em 1935, Hitler era conhecido na Alemanha como um grande estadista, 
devido ao enorme programa de rearmamento, o desemprego havia sido eliminado, a 
resistência inicial da classe trabalhadora fora quebrada e a hostilidade do regime ainda não se 
voltara inteiramente para perseguição aos judeus. 
É bem verdade que em 1933, um dos primeiros passos do governo nazista foi excluir 
judeus dos cargos públicos, não era permitido formarem-se, entrarem nas universidades. E as 
Leis de Nuremberg, de 1935, privavam os judeus de seus direitos políticos, mas não de seus 
direitos civis. Eles não eram mais cidadãos, mas continuavam membros do Estado Alemão e 
mesmo se emigrassem não ficariam sem nacionalidade. Era proibido sexo entre judeus e 
alemães, os casamentos mistos, nenhuma mulher alemã com menos de 45 anos poderia ser 
empregada em casa judaica. Isto é, judeus eram cidadãos de segunda classe. Porém tal 
situação ainda iria piorar conforme o regime se voltava cada vez mais para a perseguição dos 
judeus, em especial. 
V – SEGUNDA SOLUÇÃO: CONCENTRAÇÃO 
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Nota
Isso lembra o livro "Ele está de volta", de Timur Vermes.
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Levando em consideração que Eichmann foi parar em Berlim e que houve a ocupação 
da Polônia, os limites da política de emigração forçada foram colocados em xeque, por isso foi 
pensado que era preciso uma grande área da Polônia, onde iriam estabelecer um Estado 
judaico autônomo, na forma de protetorado. Essa poderia ser “a” solução da questão judaica – 
solo firme debaixo dos pés dos judeus. Portanto, como já era inviável expulsar uma grande 
quantidade de judeus, a solução encontrada foi a concentração de judeus em guetos. Os 
campos de concentração eram entendidos em termos de administração e os campos de 
extermínio, em termos de economia. Muitos judeus de outras partes da Europa foram 
deportados para esse(s) local (is) na Polônia. Mas não havia casas, não havia água, os poços 
estavam contaminados com cólera, disenteria e tifo. Ou seja, essa solução não funcionou. 
A segunda tentativa foi o projeto Madagascar: o envio de quatro milhões de judeus da 
Europa para Madagascar, ilha de cerca de 4 milhões de habitantes nativos. Eichmann ocupou 
boa parte do seu tempo elaborando um plano para isso acontecer, até a invasão da Rússia em 
1941. Segundo Arendt, era um plano mirabolante, cuja finalidade sempre foi servir de capa sob 
a qual os preparativos para o extermínio físico de todos os judeus da Europa Ocidental seria 
levado a cabo (não houve necessidade de nenhuma capa para o extermínio dos judeus 
poloneses!). 
Quando o plano Madagascar foi declarado obsoleto, todos estavam preparados para o 
passo lógico seguinte: uma vez que não havia território para evacuação, a solução seria o 
extermínio. Era o fim da carreira de Eichmann, pois o que agora se iniciava seria transferido 
para outras unidades. Theresienstadt, na República Tcheca, era o único campo – destinado aos 
judeus de classe sociais mais altas – onde representantes da Cruz Vermelha Internacional eram 
admitidos, era a vitrine para o mundo. 
Eichmann ficou sabendo da Solução Final por Heydrich, que já vinha sabendo disso há 
tempos (pois era hierarquicamente superior). A partir de então ele não era mais portador de 
ordens, mas progrediu para o grau de portador de segredos. Havia uma regra de linguagem, 
não se falava em “extermínio”, mas em “evacuação”, em “solução final”. Quando um portador 
de segredos encontrava alguém do mundo exterior – como representantes da Cruz Vermelha 
em Theresienstadt – mentia sobre a existência de uma epidemia de tifo inexistente no campo 
de concentração de Bergen-Belsen, que eles iriam visitar. O efeito desse sistema de linguagem 
era impedir que os soldados equacionassem com o seu antigo e normal conhecimento do que 
era assassinato e mentira. Levando em consideração a sensibilidade de Eichmann para 
palavras-chave e frases de efeito, ele era um paciente ideal para esse tipo de regras. 
VI – A SOLUÇÃO FINAL: ASSASSINATO 
Eichmann viu o suficiente para estar informado de como funcionava a máquina de 
destruição: o fuzilamento e a execução por gás nos campos, câmaras ou caminhões, as 
complexas precauções que se tomavam no campo para enganar as vítimas até o final. Nos 
documentos de Nuremberg, não se encontrou nenhum caso de membro da SS que tenha 
sofrido pena de morte por se recusar a participar de uma execução. Era possível um pedido de 
transferência. Eichmann sabia disso, admitiu que poderia ter recuado sob um pretexto 
qualquer, como outros o fizeram. E Arendt se questiona: quanto tempo leva uma pessoa 
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mediana para superar sua repugnância inata pelo crime? Segundo ela, o caso de Eichmann 
fornecia uma resposta que não poderia ser mais clara e precisa. 
O primeiro carregamento realizado por Eichmann para a “evacuação”, ele enviou para 
Lodz e não para o Leste, para o extermínio. Isto é, ele desobedeceu a uma ordem. Porém, ele 
mesmo parecia ter esquecido e tratou do incidente como uma questão de escolha e não de 
desobediência. O advogado de defesa concluiu que Eichmann havia salvado os judeus sempre 
que podia. Porém o promotor entendeu que ele tinha era poderes de decidir se uma carga 
seria exterminada ou não. Para Arendt, nenhuma das três versões é verdade. Porque 
Eichmann havia tido dificuldades em Lodz, de forma que sua ordem significava destino finalMinsk ou Riga. Além de que esse foi o único caso em que ele tentou salvar judeus. Ele também 
tentou um acordo para enviar judeus para os campos destinados aos comunistas, então ele 
tinha consciência, pelo menos durante cerca de quatro semanas, quando esta passou a 
funcionar às avessas. 
A consciência de Eichmann se rebelou não com a ideia de assassinato, mas com a ideia 
de judeus alemães serem mortos. Ou seja, os judeus da Europa Oriental tudo bem. Havia aí 
uma distinção entre povos “primitivos” e povos “cultos”. Mas Eichmann estava sendo julgado 
porque era um destruidor de seres humanos ou de culturas? Arendt cita o filme Dr. Fantástico, 
que propõe uma explosão no mundo que causasse a destruição de todos os humanos, mas que 
os que tivessem Q.I. mais alto fossem protegidos. 
A situação era tão simples quanto desesperada: a esmagadora maioria do povo alemão 
acreditava em Hitler – mesmo depois do ataque à Rússia, da guerra dos fronts, de os EUA 
terem entrado em guerra, mesmo depois de Stalingrado, da derrota da Itália, dos 
desembarques na França. A minoria poderia se conhecer e confiar um no outro, mas não havia 
nenhum plano, nem intenção de revolta. Por exemplo, Carl Goerdeler era um dos 
conspiradores que jamais conseguiram chegar a um acordo sobre nada, ele defendia a 
instauração da monarquia constitucional; Wilhelm Leuschner, ex-líder sindical e socialista, dizia 
garantir apoio das massas; e Helmuth von Moltke estava mais preocupado com a reconciliação 
das duas igrejas cristãs ao lado de uma posição favorável ao federalismo. 
Além disso, Arendt frisa que Eichmann não participou do atentado à Hitler de 20 de 
julho de 1944 e considerava os soldados que participaram como traidores. Embora Arendt diga 
que se Eichmann tivesse conhecido os pontos de Goerdeler sobre a questão judaica, ele teria 
encontrado pontos em comum, pois este previa indenização aos judeus alemães por perdas e 
maus-tratos e uma solução permanente que seria a criação de um Estado independente num 
país colonial e nem todos os judeus seriam expulsos. 
Himmler era o membro da hierarquia nazista mais dotado para resolver problemas de 
consciência, ele quase nunca tentava se justificar em termos ideológicos e se o fazia, esquecia 
depressa. O que afetava a cabeça desses homens que tinham se transformado em assassinos 
era simplesmente a ideia de estar envolvidos em algo histórico, grandioso, único. Assim, ao 
invés de dizer “que coisas horríveis eu fiz com as pessoas”, poderiam dizer “que coisas 
horríveis eu tive de ver na execução dos meus deveres, como essa tarefa pesa sobre os meus 
ombros”. 
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Mas a extermínio aos judeus não começou na solução final, obviamente. Em 1939, 
Hitler decretou a instituição de câmaras de gás destinadas às pessoas incuráveis (o que ele 
chamava de “morte misericordiosa”) na Alemanha. Mas a dificuldade em disfarçar as câmaras 
gerou protestos de todos os lados. A eliminação por gás no Leste começou praticamente no 
mesmo dia em que cessou na Alemanha. Perceba que assassinato era sinônimo de dar uma 
morte misericordiosa. Quando perguntaram para Eichmann acerca dessa ironia, ele não 
entendeu a pergunta, de tão forte que estava enraizado em sua mente que o pecado 
imperdoável não era matar pessoas, mas causar sofrimento desnecessário. 
Eichmann todo o tempo tentou manter o autocontrole, levando as pessoas a pensar 
que ele era impassível e indiferente. Mas não foi a acusação de ter matado milhares de 
pessoas que o deixou agitado, mas só a acusação (negada na corte) de uma testemunha que 
disse que ele havia espancado um menino judeu até a morte. Havia equipes para a eutanásia e 
especialistas em morte misericordiosa por todos os lados e a partir de 1942, em operações no 
Leste para ajudar os “feridos na neve e no gelo”. 
VII – CONFERENCIA DE WANNSEE, OU PÔNCIO PILATOS 
Segundo o relato de Eichmann, a elite do serviço público disputou e brigou entre si 
pela honra de assumir a liderança dessa questão sangrenta e naquele momento, ele teve uma 
espécie de sensação de Pôncio Pilatos, pois se sentiu livre de toda a culpa. Ele se transformou 
no perito em evacuação forçada, como já havia sido de emigração forçada. Os peritos legais 
elaboraram a legislação necessária para tornar apátridas as vítimas, o que era importante sob 
dois aspectos: tornava impossível para qualquer país inquirir sobre o destino deles, e permitia 
que o Estado em que residiam confiscasse sua propriedade. 
No começo, quando as pessoas podiam ter ainda alguma consciência, quase não 
ocorreram deserções entre a elite governante e os comandantes superiores da SS, essas 
defecções se fizeram notar só quando ficou evidente que a Alemanha ia perder a guerra. Essas 
perdas nunca foram sérias a ponto de desequilibrar a máquina; elas consistiam em atos 
individuais, não de misericórdia, mas de corrupção, inspirados não pela consciência, mas pelo 
desejo de guardar algum dinheiro ou alguns contatos para os dias sombrios que estavam por 
vir. 
Eichmann contou que o fator mais potente para acalmar a sua própria consciência foi o 
simples fato de não ver ninguém efetivamente contrário à Solução Final. Houve até a 
cooperação dos judeus ricos, com o estabelecimento de governos de fachada em territórios 
ocupados sempre acompanhado pela organização de um escritório judeu central. Os membros 
de governos de fachada eram escolhidos entre os partidos de oposição e os membros dos 
Conselhos Judeus eram líderes judeus regionalmente reconhecidos, a quem os nazistas davam 
enormes poderes. 
Para um judeu, o papel desempenhado pelos líderes judeus na destruição de seu 
próprio povo é o capítulo mais sombrio de toda uma história de sombras. Eles retinham o 
dinheiro dos deportados para abater as despesas de sua deportação e extermínio, ao controlar 
os apartamentos vazios, suprir as forças policiais para ajudar a prender os judeus e conduzi-los 
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aos trens, ao entregar os bens da comunidade judaica em ordem para os confiscos finais, 
distribuir os emblemas da Estrela Amarela, etc. 
De todo modo, os judeus não eram reconhecidos como beligerantes pelos nazistas, 
porque se o fossem teriam sobrevivido em campos de prisioneiros de guerra ou de 
internamento de civis.  isso dificulta entender o genocídio como um mero crime de guerra. 
No julgamento, os promotores sempre perguntavam “Por que não se rebelou?” para as 
testemunhas da acusação. Arendt diz que a verdade é que o povo judeu não era um todo 
organizado, que não possuía território, governo, nem exercito em sua hora de maior precisão, 
nem um esconderijo de armas, nem uma juventude em treinamento militar. Existiam 
organizações comunitárias e recreativas judaicas, mas o fato é que quasetoda liderança judia 
cooperou com o nazismo. 
Eichmann no julgamento disse que ninguém foi até ele e o censurou, nem o postar 
Grüber. E todos que pediam uma exceção para o seu caso, conheciam a regra. O 
estabelecimento de Theresienstadt como gueto para categorias privilegiadas foi motivado pelo 
grande número dessas intervenções vindas de todos os lados (vale lembrar que isso foi no 
começo). O próprio Hitler conhecia 340 judeus de “primeira classe”, que ele fez assimilar ao 
status de alemães ou concedeu privilégios a meio-judeus (Heydrich e Göring, por exemplo, 
eram meio-judeus, mas isso era secreto). Não eram poucos, principalmente entre a elite 
intelectual, que ainda lamentaram publicamente o fato de a Alemanha ter despachado 
Einstein, sem perceber que era um crime muito maior matar o pequeno Hans Cohn na 
esquina, mesmo que não fosse nenhum gênio. 
VIII – DEVERES DE UM CIDADÃO RESPEITADOR DA LEI 
Eram muitas as oportunidades para Eichmann se sentir Pôncio Pilatos, era um cidadão 
respeitador das leis, cumpria os deveres e as ordens. Por isso ele acabou completamente 
confuso frisando alternativamente as virtudes e os vícios da obediência cega ou “cadavérica”, 
como ele mesmo a chamou. No interrogatório na polícia, ele havia dito com grande ênfase 
que havia vivido toda a sua vida de acordo com os princípios morais de Kant (definição do 
dever). Isso parecia incompreensível porque a filosofia moral de Kant está ligada à faculdade 
de juízo do homem. Mas Eichmann deu uma explicação quase completa do imperativo 
categórico: o princípio da minha vontade deve ser sempre tal que possa se transformar no 
princípio de leis gerais. E que a partir do momento em que fora encarregado de efetivar a 
Solução Final deixara de viver segundo os princípios kantianos, que sabia disso e se consolava 
com a ideia de que “não era mais senhor dos seus próprios atos”. Hans Frank reformulou essa 
categoria como o “imperativo categórico do Terceiro Reich”: “Aja de tal modo que o Führer, se 
souber de sua atitude, o aprove”. 
A última crise de consciência de Eichmann começou com suas missões na Hungria em 
1944. Ele era capaz de mandar milhões de pessoas para a morte, mas não de falar sobre isso 
de maneira adequada se não lhe fornecessem a regra de linguagem condizente. Em Jerusalém, 
sem regra de linguagem, falou em “matar”, em “assassinato” e “crimes legalizados pelo 
Estado”. Quando as ordens de Himmler (seu superior direto) contrariaram ordens do Führer, 
ele ameaçou pedir novas ordens diretamente à Hitler. A posição de Eichmann demonstrava 
uma semelhança muito desagradável com a do soldado que agindo dentro de um quadro legal 
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Nota
Porque não é mesmo.
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normal, se recusa a executar ordens que contrariam sua experiência de legalidade e que 
podem ser reconhecidas por ele como criminosas. 
Eichmann demonstrava sua ilimitada e imoderada administração por Hitler, um 
homem que tinha conseguido subir de cabo dos lanceiros a chanceler do Reich. Ele viu com 
violenta indignação como todos estavam muito razoavelmente se arranjando com documentos 
falsos antes da chegada dos russos ou dos estadunidenses. De fato, ele próprio começou a 
viajar com nome falso, mas então Hitler já estava morto, a “lei local” não existia mais e ele não 
estava mais preso a seu juramento (que ligava à Hitler e não à Alemanha). 
IX – DEPORTAÇÕES DO REICH – ALEMANHA, ÁUSTRIA E O PROTETORADO 
A posição de Eichmann era a de elo mais importante em toda a operação, porque 
sempre dependia dele e de seus homens a quantidade de judeus a transportar de uma 
determinada área, e era sempre por intermédio de seu departamento que se encaminhava 
uma carga a seu destino final, embora esse destino não fosse determinado por ele. 
Além disso, os nazistas logo perceberam que havia grandes diferenças entre os 
antissemitas de vários países. A variedade radical alemã só era inteiramente apreciada pelos 
povos do Leste (Ucrânia, Estônia, Lituânia, etc), que os alemães consideravam hordas 
bárbaras. E deficientes de hostilidades contra os judeus eram as nações escandinavas, que 
segundo os nazistas eram irmãos de sangue da Alemanha. 
Os regulamentos preparatórios para a Solução Final: (i) a introdução da faixa amarela, 
(ii) mudança da lei de nacionalidade, estabelecendo que um judeu não poderia ser 
considerado cidadão alemão se vivesse fora das fronteiras do Reich e por fim, (iii) decreto 
determinando que toda propriedade de judeus alemães que perdessem sua nacionalidade 
fosse confiscada pelo Reich. Não havia uma única organização ou instituição pública da 
Alemanha que não tenha sido envolvida em ações ou transações criminosas, nos anos de 
guerra. 
X – DEPORTAÇÕES NA EUROPA OCIDENTAL – FRANÇA, BÉLGICA, HOLANDA, DINAMARCA E 
ITÁLIA 
A Holanda foi o único país em toda a Europa em que os estudantes entraram em greve 
quando os professores judeus foram despedidos, e onde uma onda de greves explodiu como 
reação à primeira deportação de judeus para campos de concentração. A Finlândia, embora 
apoiasse o Eixo, foi o único país que os nazistas não chegaram sequer a abordar a questão 
judaica, talvez pelo apreço que Hitler tinha pelos finlandeses e não queria submetê-los a 
ameaças e chantagens humilhantes. 
Além disso, a história dos judeus dinamarqueses é sui generis e o comportamento do 
povo de lá e de seu governo foi único na Europa. Eles explicaram aos funcionários alemães que 
uma vez que os refugiados apátridas não eram mais cidadãos alemães, os nazistas não podiam 
mais requisitá-los sem o consentimento dinamarquês. Foi um dos poucos casos em que a falta 
de pátria acabou sendo um “privilégio”. Os trabalhadores das docas se recusaram a consertar 
navios alemães, entrando em greve em seguida. Não só os generais dinamarqueses 
recusaram-se a pôr as tropas à disposição do Reich, como também as unidades especiais da SS 
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alocadas na Dinamarca muitas vezes objetaram as medidas que os organismos centrais 
ordenavam que fossem tomadas. É o único caso que os nazistas encontraram resistência 
nativa declarada. 
A relação da Itália também não era tão próxima quanto parecia. Segundo Arendt, os 
nazistas sabiam que tinham mais em comum com a versão stalinista de comunismo do que 
com o fascismo italiano e Mussolini não tinha muita confiança na Alemanha, nem muita 
admiração por Hitler. Ele fazia as promessas ou os funcionários de alto escalão, e se os 
generais simplesmente deixavam de cumpri-las, Mussolini os desculpava com base em sua 
“formação intelectual diferente”. No Itália, dificilmente existia uma família judaica sem pelo 
menos um membro filiado ao Partido Fascista, e isso porque era uma época em que os cargos 
públicos só estavam abertos para seus membros. Havia judeus até entre os homens da SS, mas 
isso era confidencial, na Itália, era abertamente e até inocentemente. 
XIV – PROVAS E TESTEMUNHAS 
O testemunho de Eichmann à corte veio aser a prova mais importante do caso. O 
grosso das testemunhas veio do Leste Europeu (Polônia e Lituânia), onde a competência e 
autoridade de Eichmann eram quase nulas. Arendt cita um dos testemunhos, o de Zindel 
Grynszpan, que contou a história da expulsão dos judeus de nacionalidade polonesa e que 
residiam na Alemanha para a Polônia. Não levou mais de 10 minutos para ser contada e 
quando terminou – a destruição sem sentido, sem necessidade, de 27 anos em menos de 24 
horas – era de se pensar que todo mundo devia ter o seu dia na corte. Outra testemunha disse 
que todos sabiam o que era feito, mas não faziam nada porque qualquer um que protestasse 
teria sido preso em 24 horas ou desaparecido. 
Segundo Arendt, faz parte do refinamento dos governos totalitários do século XX que 
eles não permitam que seus oponentes morram a morte grandiosa, dramática dos mártires. O 
Estado totalitário deixa seus oponentes desaparecerem em silencioso anonimato. 
Politicamente, a lição é que em condições de terror, a maioria das pessoas se conformará, mas 
algumas pessoas não, da mesma forma que a lição dos países aos quais a Solução Final foi 
proposta é que ela “poderia acontecer” na maioria dos lugares, mas não aconteceu em todos 
os lugares. 
XV – JULGAMENTO, APELAÇÃO E EXECUÇÃO 
O advogado de defesa frisou o fato de que o acusado havia sido raptado e levado à 
Israel em conflito com a lei internacional, permitindo à defesa questionar o direito da corte de 
processá-lo. Embora nem a acusação, nem os juízes tenham admitido que o rapto foi um “ato 
de Estado”, eles também não o negaram. Apesar das páginas e páginas de argumentos legais, 
baseados em tantos precedentes, acaba-se com a impressão de que o rapto estava entre os 
modos mais frequentes de prisão, e que foi o fato de Eichmann ser apátrida de fato e nada 
mais, que permitiu à corte de Jerusalém levá-lo a julgamento. 
E ele sabia, por sua carreira, que se podia fazer qualquer coisa que se quisesse com uma 
pessoa apátrida, afinal, os judeus tinham que perder sua nacionalidade antes de serem 
executados. Eichmann foi condenado em todas as quinze acusações, porque junto com outros 
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ele havia cometido crimes “contra o povo judeu”, com a intenção de destruir as pessoas, 
divididos em quatro acusações: 
1. Provocar o assassinato de milhões de judeus. 
2. Levar milhões de judeus a condições que poderiam levar à destruição física. 
3. Causar sérios danos físicos e mentais a eles. 
4. Determinar que fossem proibidos os nascimentos e interrompidas as gestações de 
mulheres judias em Theresienstadt. 
O absolveram das acusações referentes ao período anterior a 1942, porque ele não tinha 
intenção de destruir o povo judeu. Os itens 5 a 12 das acusações se tratavam de crimes contra 
a humanidade, um conceito estranho à lei israelense, porque incluía tanto o genocídio, se 
praticado contra povos não judeus, como todos os outros crimes cometidos fosse contra 
judeus ou não-judeus, contanto que não fossem cometidos com intenção de destruir um povo 
como um todo. 
O item 5 condensava os crimes do item 1 e 2, o item 6 o condenava por ele ter perseguido 
judeus por motivos raciais, religiosos e políticos, o item 7 tratava da pilhagem de propriedade 
dos judeus, o item 8 resumia todos os feitos novamente como “crimes de guerra” porque 
foram cometidos, em sua maioria, durante a guerra. 
Os itens 9 a 12 tratava de crimes contra não-judeus: o 9 pela expulsão de centenas de 
milhares de poloneses de suas casas, o item 10 pela expulsão dos eslovenos da Iugoslávia, o 
item 11 pela deportação de milhares de ciganos para Auschwitz (mas ficou consignado que ele 
não sabia que estava deportando para o extermínio, razão pela qual não foi caracterizado o 
termo “genocídio”). O item 12 tratava da deportação das 93 crianças de Lidice, aldeia tcheca 
cujos habitantes foram massacrados depois do assassinato de Heydrich (porém, ele foi 
absolvido do assassinato dessas crianças). 
Os últimos três itens o acusavam de ser membro de três das quatro organizações que o 
julgamento de Nuremberg havia classificado de “criminosas” – a SS, o SD (Serviço de 
Segurança) e a Polícia Secreta do Estado, ou Gestapo. Todos os crimes de 1 a 12 levavam à 
pena de morte. 
Eichmann insistiu que era culpado de “ajudar e instigar” a realização dos crimes de que era 
acusado, mas que ele próprio nunca havia cometido nenhum ato aberto. De fato, conforme o 
julgamento, um complexo crime como este, em que várias pessoas participaram, em vários 
níveis e em várias espécies de atividade – planejadores, organizadores, aqueles que 
executavam os atos – não havia muito propósito em se usar os conceitos normais de 
aconselhar e assistir a perpetração de um crime. Porque esses crimes foram cometidos em 
massa, não só em relação ao número de vítimas, mas no que diz respeito ao número dos que 
perpetraram o crime, e a medida na qual eles estavam próximos ou distantes das vítimas nada 
significava no que tangia à medida de suas responsabilidades. Conforme foi colocado, ao 
contrário, o grau de responsabilidade aumenta quanto mais longe nos colocamos do homem 
que maneja o instrumento fatal com suas próprias mãos. 
Conforme a defesa, Eichmann tinha realizado “atos de Estado” e que o que aconteceu com 
ele poderia acontecer no futuro com qualquer um, todo o mundo civilizado enfrenta esse 
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problema. Eichmann era então um bode expiatório. Além disso, nenhuma pena de morte 
poderia ser aplicada, porque ela havia sido abolida incondicionalmente na Alemanha. 
O presidente de Israel no época, Ben-Zvi, recebeu o pedido de clemencia de Eichmann, 
quatro páginas manuscritas, redigidas “segundo instruções de meu advogado”. Ele também 
recebeu centenas de cartas e telegramas do mundo todo pedindo clemencia: Conferência 
Central dos Rabinos Norte-Americanos, corpo representativo do judaísmo reformado naquele 
país; grupo de professores da Universidade Hebraica de Jerusalém, liderados por Martin 
Buber. Ben-Zvi rejeitou todos os pedidos de clemencia, dois dias depois de a Suprema Corte 
ter pronunciado seu julgamento, poucas horas depois, no mesmo dia, Eichmann foi enforcado, 
seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas no Mediterrâneo, fora das águas israelenses. 
Isto é, a execução ocorreu menos de duas horas depois e Eichmann ser informado que seu 
pedido de clemencia havia sido recusado. A rapidez para a execução da pena talvez seja 
explicada pelas tentativas da defesa: um pedido a uma corte da Alemanha Ocidental para 
forçar o governo a pedir a extradição do Eichmann e uma ameaça de invocar o Artigo 25 da 
Convenção para Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais. 
A sentença de morte foi expedida e não havia ninguém para contestá-la, mas as coisas 
ficaram diferentes quando se soube que os israelenses já a tinham executado. O argumento 
mais comumera que os atos de Eichmann desafiavam a possibilidade de punição humana, que 
não fazia sentido impor a sentença de morte para crimes dessa magnitude. Martin Buber 
chamou a execução de um “erro de proporções históricas”, porque podia servir para expiar a 
culpa sentida por tantos jovens na Alemanha. 
Arendt também enfatiza a grotesca tolice das ultimas palavras de Eichmann. Ele começou 
dizendo enfaticamente que era um Gottgläubiger, expressão utilizada pelos nazistas para dizer 
que ele não era cristão e não acreditava na vida depois da morte. E continuou: dentro de 
pouco tempo, senhores, iremos encontra-nos de novo. Esse é o destino de todos os homens. 
Viva a Alemanha, viva a Argentina, viva a Áustria. Não as esquecerei”. Diante da morte, ele 
encontrou um clichê utilizado na oratória fúnebre, esquecendo-se que era seu próprio funeral. 
Foi como se naqueles últimos minutos estivesse resumindo a lição que esse longo curso de 
maldade humano nos ensinou: da temível banalidade do mal, que desafia as palavras e o 
pensamento. 
EPÍLOGO 
Arendt frisa as inúmeras irregularidades e anormalidades do julgamento de Jerusalém. As 
objeções levantadas contra o julgamento de Eichmann eram de três tipos. 
(i) Objeções levantadas contra os julgamentos de Nuremberg, que se repetiam: 
Eichmann sendo julgado por uma lei retroativa e era trazido à corte dos vitoriosos. A resposta 
da corte foi simples: julgamentos de Nuremberg como precedente válido. Se um crime antes 
desconhecido (genocídio) aparece, a própria justiça exige julgamento segundo uma nova lei, 
no caso de Nuremberg, foi a Carta (Acordo de Londres de 1945); no caso de Israel, foi a Lei de 
1950. O problema não residia na retroatividade da lei (se estavam legislando), o que era 
inevitável, mas sim na sua adequação, sua aplicação a crimes antes desconhecidos. A Carta 
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criava jurisprudência para três tipos de crimes: contra a paz, crimes de guerra e contra a 
humanidade. Só este último era novo e sem precedentes. A principal dificuldade de 
Nuremberg estava no fato indiscutível de que o argumento tu-quoque era aplicável: a Rússia, 
que nunca assinou a Convenção de Haia, era mais do que suspeita de maus tratos a 
prisioneiros, pior ainda o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, que constituíam claramente 
crimes de guerra no sentido da Convenção. A violação da Convenção de Haia pelos Aliados 
nunca foi discutida em termos legais porque os Tribunais Internacionais Militares eram 
internacionais apenas no nome, eram cortes dos vitoriosos. 
(ii) Objeções que se aplicavam à corte de Jerusalém, questionavam sua competência ou 
incapacidade de levar em conta o ato do rapto. A resposta foi a seguinte: uma vez que os 
judeus tinham território próprio, o Estado de Israel, eles evidentemente tinham tanto direito 
de julgar os crimes cometidos contra o seu povo quanto os poloneses tinham de julgar os 
crimes cometidos na Polônia. Todas as objeções eram legalistas ao extremo. A corte, para 
justificar a sua competência, não deveria ter precisado invocar o princípio da personalidade 
passiva – que as vítimas eram judeus e só Israel tinha direito de falar em seus nomes – nem o 
princípio da jurisdição internacional aplicando a Eichmann por ele ser hostis generis humani 
(regra aplicável em analogia a da pirataria). O princípio da jurisdição universal, dizia-se, era 
aplicável porque crimes contra a humanidade são semelhantes ao velho crime de pirataria e 
quem comete se torna, como o pirata na lei internacional, hostis humani generis. No entanto, 
se Isral o raptou apenas por isso e não por ser hostis judaeorum, seria difícil justificar a 
legalidade de sua prisão. A exceção do pirato ao princípio territorial não é feita porque ele seja 
inimigo de todos, podendo ser julgado por todos, mas porque seu crime é cometido em alto-
mar (que é terra de ninguém). A analogia entre genocídio e pirataria não é nova (na própria 
Convenção sobre Genocídio, 1948, que rejeita a alegação de jurisdição universal e prove em 
seu lugar que pessoas acusadas de genocídio devem ser julgadas por tribunal competente nos 
Estados em cujo território o ato foi cometido ou por um tribunal penal internacional que tenha 
jurisdição). Ou seja, Israel deveria ter procurado instaurar um tribunal internacional ou 
reformular o princípio territorial de tal forma que se aplicasse a Israel. O que vamos fazer 
amanha se algum Estado africano resolver mandar seus agentes ao Mississippi para raptar um 
dos lideres do movimento segregacionista local? A justificativa era a falta de precedentes do 
crime e do surgimento do Estado judeu. 
(iii) Objeções à própria acusação, que afirmava que Eichmann cometeu crimes “contra o 
povo judeu”, em vez de dizer “contra a humanidade”, e, portanto, à lei sob a qual estava 
sendo julgado. Conclusão de que a única corte adequada para julgar esses crimes seria um 
tribunal internacional. A resposta foi a seguinte: foi a catástrofe dos judeus que levou os 
Aliados a conceberem a ideia de “crime contra a humanidade”, em Nuremberg só Julius 
Streicher foi condenado a morte pela acusação de crime contra a humanidade. A expulsão de 
cidadãos já é, por si, um crime contra a humanidade, se por “humanidade” se entende não 
mais que a política de boa vizinhança. A expulsão e o genocídio, embora sejam crimes 
internacionais, devem ser distinguidos: o primeiro é crime contra as nações irmãs, enquanto o 
último é um ataque à diversidade humano enquanto tal, isto é, uma característica do “status 
humano”, sem a qual a simples palavra “humanidade” perde o sentido. Na medida em que as 
vítimas eram judeus, era certo que uma corte judaica pudesse conduzir o julgamento; mas na 
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medida em que o crime era um crime contra a humanidade, era preciso um tribunal 
internacional para fazer justiça a ele. 
Assim como um assassino é processado porque violou a lei da comunidade, e não porque 
privou a família de seu marido/pai, assim também esses assassinatos modernos empregados 
pelo Estado devem ser processados porque violaram a ordem da humanidade e não porque 
mataram milhões de pessoas. Arendt fala sobre a emergência de um código penal 
internacional que se encarregue desses crimes, da ilusão de que o genocídio seja apenas um 
crime de assassinato. 
Parte do fracasso da corte de Jerusalém deve-se ao apego a utilizar os precedentes de 
Nurembergsempre que possível, basicamente não tomando as rédeas de três itens 
fundamentais: 
(i) Problema da predefinição da justiça na corte dos vitoriosos: a corte de Jerusalém, ao 
contrário de Nuremberg, não admitiu testemunhas de defesa, essa foi a falha mais séria nos 
procedimentos. 
(ii) Definição válida de crime contra a humanidade: as conclusões da corte de Jerusalém 
foram muito melhores do que as de Nuremberg nesse sentido, porque coloca que esses crimes 
não foram cometidos unicamente com o propósito de eliminar a oposição, mas para se livrar 
de populações nativas inteiras. A grande vantagem de um julgamento de um crime contra o 
povo judeu era fazer emergir a diferença entre crime de guerra (fuzilamento de guerrilheiros, 
assassinato de reféns) e atos desumanos (expulsão e aniquilamento para permitir colonização) 
e crimes contra a humanidade, cujo intento era sem precedente. Mas em nenhum momento o 
tribunal de Jerusalém chegou a mencionar a possibilidade de o extermínio de grupos étnicos 
inteiros ser mais do que um crime contra o povo judeu ou polonês ou cigano. 
(iii) Reconhecimento claro do novo tipo de criminoso que comete esse crime. 
O problema de Eichmann, nesse julgamento espetáculo, era que ele era exatamente como 
qualquer outro, era assustadoramente normal, do ponto de vista de nossas instituições e 
padrões morais de julgamento. E essa normalidade era muito mais apavorante do que todas as 
atrocidades juntas, esse era um tipo novo de criminoso, que comete seus crimes em 
circunstâncias que tornam praticamente impossível para ele saber ou sentir que está agindo 
de modo errado. 
Nesse sentido, potencialmente quase todos os alemães eram culpados. O que quer dizer 
que onde todos ou quase todos são culpados, ninguém é culpado. Isso nada tem a ver com a 
recém-nascida ideia de “culpa coletiva”, segundo a qual as pessoas são culpadas ou se sentem 
culpadas de coisas feitas em seu nome, mas não por elas. Não estão sendo discutidas 
responsabilidades pessoais, só num sentido metafórico alguém pode dizer que sente culpa por 
aquilo que não ele, mas seu pai ou seu povo fizeram. Culpa e inocência diante da lei são de 
natureza objetiva, e mesmo que 8 milhões de alemães tivessem feito o que Eichmann fez, isso 
não seria desculpa. Existe um abismo entre a realidade do que foi feito e a potencialidade do 
que os outros poderiam ter feito. 
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“Assim como você apoiou e executou uma política de não partilhar a Terra com o povo 
judeu e com o povo de diversas outras nações – como se você e seus superiores tivessem o 
direito de determinar quem devia e quem não devia habitar o mundo – consideramos que 
ninguém, nenhum membro da raça humana, haverá de querer partilhar a Terra com você. Esta 
é a única razão pela qual você deve morrer na forca.” 
PÓS ESCRITO 
Quando Arendt fala em banalidade do mal, fala num nível estritamente factual, 
apontando um fenômeno que colocado de frente no julgamento. Eichmann não era nenhum 
monstro ou vilão, a não ser por sua extraordinária aplicação em obter progressos pessoais, ele 
não tinha nenhuma motivação. Ele simplesmente nunca percebeu o que estava fazendo. Ele 
não era burro, foi pura irreflexão. 
Além disso, o conceito de genocídio utilizado na corte não foi inteiramente adequado, 
porque os massacres de povos inteiros não são sem precedentes. Eram a ordem do dia na 
Antiguidade, e os séculos de colonização e imperialismo fornecem muitos exemplos de 
tentativas desse tipo. A expressão “massacres administrativos” é a que parece melhor definir o 
fato. Vale lembrar que é bem sabido que Hitler começou seus assassinatos brindando aos 
“doentes incuráveis” uma “morte misericordiosa”. 
A essência dos governos totalitários e talvez a natureza da burocracia seja transformar 
homens em funcionários e meras engrenagens, desumanizando-os. Em relação aos conceitos 
de “ato de Estado” e “por ordens superiores”, Arendt diz que a teoria de ato de Estado tem 
por base o argumento de que um Estado soberano não pode julgar outro. Esse argumento já 
havia sido descartado em Nuremberg, porque se fosse aceito nem Hitler poderia ser acusado, 
então isso teria violado o mais elementar senso de justiça. 
Por trás do conceito de ato de Estado existe a teoria da razão de Estado, pela qual as 
ações do Estado não são sujeitas às mesmas regras que os atos dos cidadãos do país. A razão 
de Estado apela para a necessidade, e os crimes de Estado cometidos em seu nome são 
considerados medidas de emergência, concessões feitas a fim de preservar o poder e assim 
garantir a continuação da ordem legal como um todo. No entanto, em um Estado fundado em 
princípios criminosos, a situação se inverte, não é a existência do Estado que está em jogo. 
Qual seria a natureza da soberania de tal entidade? 
Segundo Arendt, é bastante concebível que certas responsabilidades políticas entre 
nações possam algum dia ser julgadas em uma corte internacional, o que é inconcebível é que 
tal corte venha a ser um tribunal criminal que declare a culpa ou a inocência de indivíduos. 
Portanto, a obra visava questionar até que ponto a corte de Jerusalém esteve à altura das 
exigências de justiça. 
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