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Saúde Familiar Filipa Sofia Sampaio 1/1/17 Licenciatura em Enfermagem 1 CONTENTS Hábitos Saudáveis ............................................................................................................................................................................ 2 Plano da Consulta ............................................................................................................................................................................. 4 Exame físico ....................................................................................................................................................................................... 5 Consulta Hipertensão..................................................................................................................................................................... 11 Consulta Diabetes........................................................................................................................................................................... 21 Doença renal crónica ..................................................................................................................................................................... 46 Consulta de Planeamento Familiar .............................................................................................................................................. 49 Sexualidade ................................................................................................................................................................................. 50 Contracepção .............................................................................................................................................................................. 54 Interrupção voluntária da gravidez .......................................................................................................................................... 70 Consulta pré-concepcional ....................................................................................................................................................... 73 Autovigilância da mama ............................................................................................................................................................ 84 Autovigilância dos testículos .................................................................................................................................................... 86 Rastreio Oncológico ................................................................................................................................................................... 86 Infecções Sexualmente Transmissíveis .................................................................................................................................... 87 Menopausa ...................................................................................................................................................................................... 88 Andropausa ..................................................................................................................................................................................... 94 Plano nacional de vacinação (PNV) .............................................................................................................................................. 97 2 HÁBITOS SAUDÁVEIS Alimentação Saudável Dieta equilibrada e variada que vai de encontro às necessidades de cada pessoa, nomeadamente, peso, sexo, idade e estilo de vida. Adoptar alimentação saudável não implica fazer uma alimentação restritiva ou monótona, mas sim variada, uma vez que diferentes alimentos contribuem com diferentes nutrientes. Nº de refeições por dia o Tomar sempre pequeno almoço o Deve ser 5 a 6 refeições por dia, de 3 em 3 horas Composição da alimentação o Aumentar consumo de frutas e legumes – 5 porções de frutas e legumes por dia (300 a 4000 gr por dia) o Aumentar consumo de alimentos ricos em fibra (frutas, legumes, cereais integrais, feijão, frutas secas) o Aumentar consumo de peixe, carnes brancas, alimentos menos processados o Aumentar consumo de água – deve ser 1,5l por dia (aprox. 8 copos) o Utilizar azeite em vez de óleo o Diminuir consumo de alimentos hipercalóricos o Diminuir consumo de gordura – consumir menos alimentos ricos em gorduras como fast food, fritos o Diminuir consumo de sal – não deve exceder os 5 gr por dia o Diminuir consumo de açúcar – não deve exceder os 50gr por dia (12 colheres de café) o Diminuir consumo de álcool – não deve exceder os 20 a 30gr diários no homem (2 copos de vinho) e os 10 a 20 gr diários na mulher (1 copo de vinho). Semanalmente, os homens não devem ingerir mais do que 140gr e as mulheres mais do que 80gr Atenção aos sumos ou refrigerantes – 1 Iced Tea de limão, com 330 ml, tem 13 gr de açúcar. 1 compal light com 330 ml tem 13 gr de açúcar. 1 compal com 330 ml tem 31 gr de açúcar. 1 sumol, pepsi ou 7up com 330 ml tem 35 ou 36 gr de açúcar. Etc, etc. Exercício/ Actividade física 4 a 7 vezes por semana, durante 30 a 60 minutos, de acordo com a condição física da pessoa. Segundo a Prefeitura de Londrina (2006), os benefícios da prática de actividade física são: 3 Diminui a Pressão arterial Diminui a resistência à insulina Melhora a força muscular Melhora a mobilidade articular Melhora o perfil lipídico Melhora a resistência física Aumenta a densidade óssea Controla o peso corporal Diminui o risco cardiovascular 4 PLANO DA CONSULTA Plano 1. Iniciar a consulta a. Preparar o contexto b. Receber o cliente c. Estabelecer o plano da consulta d. Questionar o cliente sobre como se tem sentido, se tem tido queixas, se há algum assunto que gostaria de abordar e. Propor tópicos importantes do ponto de vista clínico 2. Recolha de dados a. Entrevista i. Explorar queixas, assuntos que o cliente queira abordar ii. Avaliar conhecimento, adesão, atitude relativamente a: 1. Processo patológico 2. Regime medicamentoso 3. Regime dietético 4. Regime de exercício 5. Autovigilância 6. Cuidados aos pés b. Exame físico i. Avaliar pressão sanguínea ii. Avaliar glicemia capilar iii. Avaliar peso iv. Avaliar perímetro abdominal v. Avaliar pé 3. Intervenções a. Ensinar, explicar, instruir b. Negociar 4. Encerrar a sessão a. Sumarizar b. Confirmar e rever plano c. Agendar próximo contacto Ao longo da consulta Avaliar a perspectiva do cliente 5 Pontos de vista Crenças Impacto no seu dia-a-dia Reacções emocionais Expectativas Redes de suporte Demonstrar empatia EXAME FÍSICO Avaliar a pressão sanguínea De acordo com a DGS (2011), no consultório, o diagnóstico de hipertensão arterial faz-se com base na elevação persistente da pressão sanguínea (≥140/90mmHg) em várias medições e em diferentes ocasiões (pelo menos duas consultas diferentes com um intervalo mínimo entre elas de uma semana). Assim, preconizam-se as seguintes classificações da pressão arterial: o Hipotensão – <90/60 mmHg o Óptimo – <120/80 mmHg o Normal – 120-129/80-84 mmHg o Normal alta – 130-139/85-90 mmHg o HTA grau 1 – 140-159/90-99 mmHg o HTA grau 2 – 160-179/100-109 mmHg o HTA grau 3, grave, crise hipertensiva – ≥ 180/110 mmHg o HTA sistólica isolada – ≥ 140 mmHg sistólica e < 90 mmHg diastólica. 6 Em indivíduos diabéticos ou com insuficiênia renal – aconselhável valores <130/80mmHg Segundo a DGS (2011), de acordo com os valores encontrados,a pressão sanguínea deve ser reavaliada com a seguinte periodicidade: o Se PA < 130 / 85 mmhg, reavaliar até dois anos; o Se PA 130-139 / 85-89 mmhg, reavaliar dentro de um ano; o Se PA 140-159 / 90-99 mmhg, confirmar dentro de dois meses; o Se PA 160-179 / 100-109 mmhg, confirmar dentro de um mês; o Se PA ≥ 180 / 110 mmhg, avaliar e iniciar tratamento imediatamente, ou avaliar dentro de uma semana, de acordo com o quadro clínico. Procedimento o Em ambiente calmo e acolhedor o Sem pressas o Após 5 ou 10 minutos de descanso o Não ter praticado atividade física nos últimos 60 a 90 minutos o Após 30 min sem fumar ou ingerir cafeína o Com a bexiga vazia o Posição sentada, com as costas e pés apoiados, pernas descruzadas, imóvel e relaxada, sem falar o Braço apoiado sobre a mesa, desnudado e ao nível do coração o A avaliação deve ser realizado no membro superior em que houve um registo de valores mais elevados de PA. o Registo dos valores da pressão sanguínea , o braço em que foi medida, a braçadeira utilizada, a hora da medição e, alguma circunstância particular, como stress, febre ou agitação. 7 Avaliar o peso e Calcular IMC De acordo com a DGS (2011), é importante, no tratamento da hipertensão, o controlo e manutenção de peso normal, isto é, índice massa corporal igual ou superior a 18,5 mas inferior a 25. A utilização do IMC para o diagnóstico de obesidade é importante, uma vez que providencia uma medida da gordura corporal total mais fiável quando comparada com a medição do peso corporal apenas. Este é calculado a partir do peso e altura do indivíduo (National Institutes of Health, 2000). Segundo a DGS (2013), na avaliação do peso a pessoa deve estar descalça e com roupa leve, sem acessórios, procedendo o enfermeiro da seguinte forma: o Solicitar à pessoa que suba devagar para a plataforma e que fique parada, com os pés colocados em posição parelela, com o peso igualmente distribuído pelos dois pés no centro da plataforma. o Solicitar à pesoa que mantenha posição vertical, imóvel, com a cabeça erecta, olhar fixo em frente e braços estendidos ao longo do corpo, com as palmas das mãos voltadas para dentro e que mantenha nessa posição. o Avaliar cada observação em quilogramas até à primeira casa decimal, isto é, os 100g mais aproximados. o Para cálculo do peso a registar, subtrair 0,5kg (peso relativo ao uso de roupa leve) o Registar o peso Valores de peso: o Peso normal – IMC entre 18,5 e 24,9 o Peso comprometido – IMC < 18,5 o Excesso de peso – IMC > 25 o Obesidade – IMC > 30 Avaliar o perímetro abdominal O excesso de gordura abdominal é um importante fator preditivo do risco de obesidade ou excesso de peso. A medição do perímetro abdominal é um fator que contribui para o diagnóstico de obesidade. Homens com perímetro abdominal > 102 cm e mulheres com perímetro abdominal > 89 cm têm maior risco de desenvolver diabetes, dislipidemia, hipertensão e doenças cardiovasculares devido ao excesso de gordura abdominal (American Association For The Advancement Of Science, 2006). 8 Segundo a DGS (2013), a avaliação do perímetro abdominal permite valorizar clinicamente o peso, na perspectiva do risco de complicaçãoes metabólicas. De acordo com a DGS (2011), é importante, no tratamento da hipertensão, o controlo e manutenção de um perímetro da cintura inferior a 94 cm, no homem, e inferior a 80 cm, na mulher. Segundo a DGS (2013), a avaliação do perímetro abdominal deve ser feita da sequinte forma: o Sobre a pele abdominal, solicitando à pessoa que não tenha qualquer roupa nessa região e verificando que não é exercida qualquer força sobre a zona a analisar; o Colocar a pessoa com o tronco na vertical, imóvel, com o abdómen relaxado, praços pendentes ao longo do corpo, com as palmas das mãos viradas para dentro, cabeça erecta, pés unidos e o peso do corpo igualmente distribuído pelos dois pés; o A medição deve ser efectuada no ponto médio entre o bordo inferior da última costela palpável e o bordo superior da crista ilíaca; no entanto, de forma a diminuir a margem de erro, propõe-se fazer a medição na zona mais estreita do abdómen, a cintura natural, com a fita métrica colocada paralelamente ao chão, sempre no final do ciclo respiratório, sem que a fita métrica exerça qualquer compressão sobre a pele mas fique a ela ajustada. o Calças e cinto desapertados o Registar cada medição até ao mais próximo 0,1cm Valores de perímetro abdominal normal: o Homem – < 94 o Mulher – < 80 Avaliar a glicemia De acordo com a Diabetes.co.uk (2017): Valores de glicemia normal: o Para indivíduos não diabéticos: Antes das refeições – 72 a 108 mg/dl 2h após as refeições – < 140 mg/dl o Para indivíduos diabéticos: Antes das refeições – 72 a 126 mg/dl (DM 1 e DM 2) 2h após as refeições – <162 mg/dl (DM1) / < 153 md/dl (DM2) 9 Hiperglicemia o Antes da refeição – > 126 mg/dl o 2h após a refeição – ≥ 200 mg/dl Hipoglicemia o < 70 mg/dl Avaliação do pé diabético Segungo o Ministério da Saúde brasileiro (2016), a avaliação e acompanhamento de pessoas com DM reduzem as taxas de amputações. Assim, assumem especial importância: A educação das pessoas com DM, para a prevenção da ocorrência de úlceras dos pés. 10 O exame periódico dos pés das pessoas com DM, que permite identificar precocemente as alterações, e iniciar o tratamento adequado de forma oportuna, evitando o desenvolvimento de complicações. De acordo com Afonso et al (2014), a perda da sensação dolorosa, térmica, táctil, vibratória e de pressão constituem fatores de risco importantes para a ulceração nos pés das pessoas diabéticas. No exame neurológico do pé diabéticom são utilizados, habitualmente, 2 testes para avaliar a neuropatia: Monofilamento de 10g de Semmes-Weinstein – Testa a sensibilidade de pressão. Teste de eleição para avaliar risco de ulceração. o A avaliação deve ser realizada num ambiente calmo e relaxante; o Começar por aplicar o monofilamento nas mãos, cotovelo ou testa do cliente, de modo a que este perceba o que deve esperar sentir; o O cliente deve fechar os olhos para não conseguir ver onde o examinador aplica o monofilamento; o Aplicar o monofilamento ao longo do perímetro do pé, e não no local da úlcera, calosidade, cicatriz ou tecido necrótico; o Aplicar o monofilamento perpendicularmente à superfície da pele com uma força suficiente para que dobre o A duração total da aproximação (contacto com a pele e a remoção do monofilamento) deve ser de cerca de dois segundos; o Perguntar ao cliente o Se sente a pressão aplicada (sim / não); o Onde sente a pressão aplicada (pé esquerdo / pé direito); o Repetir a aplicação duas vezes no mesmo local, mas alternar com pelo menos, uma aplicação "simulada", na qual não é aplicado o monofilamento; Diapasão de 128 Hz – Testa a sensibilidade vibratória. o A avaliação deve ser realizada num ambiente calmo e relaxante; o Começar por aplicar o diapasão nos pulsos, cotovelo ou clavícula do cliente, de modo a que este perceba o que deve esperar sentir; o O cliente não deve conseguir ver onde o examinador aplica o diapasão, nem em que local; o Aplicar o diapasão sobre parte óssea do lado dorsal da falange distal do 1º dedo do pé, perpendicularmente e com uma pressão constante. 11 o Repetir a aplicação 2 vezes, incluindo, pelo menos, uma aplicação "simulada", na qual o diapasão não está a vibrar; o Se o cliente não consegue sentir a vibração no 1º dedo, o teste deve ser repetido num local mais proximal; Classificação de Wagner do pé diabético Grau 0 – Pé sem lesão, mas insensível e deformado.É um pé em risco. Grau 1 – Úlcera que vai até à derme mas não a ultrapassa. Grau 2 – Úlcera profunda mas não complicada. Atinge tendões, cápsula articular ou osso. Grau 3 – Úlcera profunda complicada. Há abcesso, osteomielite ou artrite séptica. Grau 4 – Gangrena localizada no ante-pé ou calcâneo. Grau 5 – Gangrena de todo o pé. CONSULTA HIPERTENSÃO De acordo com as orientações técnicas da Direcção Geral de Saúde, a periodicidade recomendada destas consultas é de 6/6 meses (num total de 2 consultas por ano), porém é variável de acordo com o controlo tensional do utente. O que é a pressão arterial A pressão arterial corresponde à pressão com que o sangue circula nas artérias. A pressão atingida quando o coração contrai (sístole) e expulsa o sangue corresponde à pressão sistólica, enquanto que a pressão atingida quando o coração relaxa (diástole) corresponde à pressão diastólica. 12 A pressão arterial varia ao longo do dia e depende das respostas às atividades diárias bem como às emoções. A pressão arterial é determinada pelo produto do débito cardíaco e da resistência vascular periférica. O débito cardíaco é influenciado pela contratilidade e relaxamento do miocárdio, o volume sanguíneo circulante, o retorno venoso e a frequência cardíaca. A resistência vascular periférica, por sua vez, é influenciada por mecanismos vasoconstrictores e vasodilatadores como o sistema nervoso simpático, o sistema renina angiotensina e a modulação endotelial, e sofre ainda influência da espessura da parede das artérias, existindo um aumento do estímulo vasoconstrictor nos vasos nos quais há um espessamento das paredes. O mecanismo da hipertensão arterial resulta, em alguns casos, do aumento do débito cardíaco, noutros resulta da elevação da resistência vascular periférica, e noutros, ainda, resulta de uma combinação do aumento do débito cardíaco e aumento da resistência vascular periférica. O que é a Hipertensão – pressão arterial mais elevada do que o normal/adequado. Considera-se que um indivíduo é hipertenso quando Tem uma pressão arterial repetidamente igual ou superior a 140mmHg para a sistólica e/ou 90mmHg para a diastólica. (Só podemos afirmar que uma pessoa é hipertensa quando a sua pressão arterial apresenta o resultado igual ou superior a PAS140/PAD90 em 2 consultas diferentes, com um intervalo mínimo de 1 semana, ou em situações de repouso e tranquilidade). Para certos doentes, como os diabéticos ou renais ou já com doença cardiovascular, recomenda-se que tenham valores inferiores a 130/80mmHg. Nas crianças, considera-se que valores acima de 110/70 mmHg são suspeitos antes dos 10 anos de idade. Todos os doentes com HTA grau 3, assim como todos os doentes com grau 1 e 2 com risco cardiovascular (CV) alto ou muito alto, são candidatos a tratamento farmacológico precoce. Causas de HTA Hipertensão primária – 90 a 95% dos casos – não há causa orgânica, sendo causada por: o Predisposição genética/hereditariedade o Factores internos de risco Idade (mais comum em idade > 60 anos) 13 Género e etnia (mais comum em homens e indivíduos de cor negra) o Factores externos de risco Dislipidemia – Hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia – concentração de lípidos no sangue persistentemente alta, que predispõe a aterosclerose. Alimentação Composição – consumo excessivo de gorduras, sal e açúcares Número de refeições Consumo de álcool Tabagismo Sedentarismo Obesidade Stress Uso de anticoncepcionais Hipertensão secundária – 5 a 10% dos casos – são provocados por doenças orgânicas ou distúrbios hormonais (distúrbio da tiróide, suprarrenal, síndrome de apneia obstrutiva do sono, etc). Sintomas de HTA Muitas vezes não apresenta sintomas, excepto se os valores forem muito elevados Cefaleias Tonturas Hemorragias nasais (epistaxis) Visão turva Zumbido no ouvido Dor no peito Consequências da HTA – A pressão arterial persistentemente elevada pode provocar: Danos nos vasos sanguíneos,principalmente dos principais órgãos vitais do organismo tais como o coração, cérebro e rim. Remodelação das artérias – a remodelação das artérias em resposta à elevação da pressão arterial reduz a proporção entre diâmetro do lúmen e espessura da parede e aumenta a resistência vascular periférica. Maior predisposição para aterosclerose. Doença vascular periférica 14 Hipertrofia do ventrículo esquerdo – como a hipertensão exige um maior esforço por parte do coração, pode levar a uma hipertrofia ventricular e, posteriormente, a uma dilatação. Insuficiência cardiaca – hta aumento da pós-carga aumento do trabalho do coração e o seu consumo de O2 hipertrofia ventricular esquerda (aumento da espessura da parede muscular do ventrículo e, posteriormente, dilatação do ventrículo) o coração torna-se menos eficiente a bombear o sangue, diminuindo a fracção de ejecção insuficiência cardíaca o corpo redistribui o sangue que o coração consegue bombear de maneira a que seja preservada a irrigação sanguínea de órgãos vitais. Insuficiência renal o Presença de PA elevada, associada à rigidez das artérias aumento da pressão nas arteríolas aferentes renais diminuição progressiva da função excretora do rim ocorrem mudanças na estrutura e na função dos nefrónios, que se adaptam à lesão, de modo a tentar manter o equilíbrio aumento do volume de filtração glomerular e do aporte sanguíneo dos nefrónios remanescentes – hiperfiltração e hiperperfusão glomerular Por vezes, essas mudanças adaptativas tornam-se excessivas ou ineficientes, acelerando a progressão da doença. o Glomeruloesclerose isquémica estreitamento do lúmen e diminuição no fluxo sanguíneo glomerular declínio da função renal. Angina de peito – hta aumento da pós-carga aumento do trabalho do coração e o seu consumo de O2 consumo de O2 superior ao suprimento isquemia Aneurisma dissecante da aorta – parede arterial enfraquecida pela pressão arterial elevada pode ceder e dilatar-se, formando um pequeno balão, que chamamos aneurisma. EAM AVC Fibrilhação auricular Disfunção eréctil Tratamento Objectivo do tratamento – reduzir o desenvolvimento de uma doença mais séria em: Coração (angina pectoris, EAM, arritmias e insuficiência cardíaca) Vasos sanguíneos (desenvolvimento aterosclerótico) 15 Sistema nervoso central (AVC com hemorragia e trombose) Rins (insuficiência renal). Metas tensionais TA <140/90mm Hg em todos os doentes; TA <130/80mm Hg nos doentes de alto risco, doentes diabéticos, doentes com insuficiencia renal. Em ambos os casos deverá tentar alcançar-se o menor valor possível com conservação de uma boa qualidade de vida; Insistir no controlo sistólico que é mais difícil de alcançar sobretudo em doentes diabéticos ou nos idosos; Controlar precocemente a TA antes de se desenvoverem lesões cardiovasculares. As medidas não farmacológicas que demonstram eficácia para diminuir a TA ou o risco Cardiovascular são: Deixar de fumar (tabaco está associado a maior risco cardiovascular) Redução e estabilização do peso corporal; Redução do consumo exagerado de álcool; Exercício físico Redução do consumo de sal; Aumentar o consumo de frutas e de verduras e reduzir as gorduras saturadas. Importante Salientar que o objectivo não é apenas o controlo da pressão sanguínea, mas sim reduzir o risco cardiovascular, a morbilidade e mortalidade.~ Regime medicamentoso Mecanismos do tratamento As drogas utilizadas no tratamento da hipertensão atingem os seus efeitos através de um ou mais dos seguintes mecanismos: Redução do débito cardíaco Redução da resistência no sistema vascular, causando dilatação dos esfíncteres précapilares Redução do volume de sangue circulante 16 Aumento da acumulação de sangue no lado venoso do circuito (tratamento de emergência). Grupos de drogas relevantes Tiazidas (diuréticos) B-bloqueadores (vasodilatadores) IECAs (vasodilatadores) Bloqueadores dos receptores de angiotensina II (vasodilatadores) Bloqueadores dos canais de cálcio (vasodilatadores) Na escolha dos fármacos é importante ter em conta: Os ß-bloqueantes, sobretudo em combinação com as tiazidas, não devem ser utilizados em doentes com síndrome metabólico ou elevado risco de desenvolver diabetes mellitus. Os efeitos adversos dos medicamentos são a principal causa de abandono da terapêutica. Deve dar-se preferência aos fármacos de acção prolongada que façam a cobertura das 24 horas com uma única dose, de modo a prevenir a subida matinal da pressão sanguínea e proteger, sem picos lesivos devido ao esquecimento de uma dose. Assume especial importância ter em conta as experiências anteriores de cada cliente com os medicamentos. Escolher os fármacos que promovam melhores resultados sobre o risco global de saúde do cliente e não apenas sobre a pressão sanguínea. Ter em conta as interacções medicamentosas, principalmente em indivíduos polimedicados (ex.: os AINE diminuem os efeitos dos IECA, ARA-II e diuréticos) Ter em conta o custo do medicamento. O tratamento farmacológico deve sempre iniciar-se por monoterapia ou associação de fármacos com baixa dosagem. A prescrição das doses deve ser mais lenta em hipertensos não complicados e em idosos. Em hipertensos de elevado risco deve-se chegar às metas mais depressa. A monoterapia inicial pode ser uma boa opção em hipertensos ligeiros e com risco cardiovascular baixo ou moderado. 17 As associações de fármacos devem ser preferidas logo desde o início em hipertensos nos graus 2 e 3, ou em doentes com risco elevado ou muito elevado. Regime dietético De acordo com a DGS (2011) é recomendado: Adoptar uma dieta variada, nutricionalmente equilibrada, rica em legumes, leguminosas, verduras e frutas e pobre em gorduras (totais e saturadas); Limitar o consumo de álcool (máximo 2 bebidas/dia); Diminuir o consumo de sal (valor ingerido inferior a 5,8 g/dia); Segundo a OMS (2015), a Associação Portuguesa dos Nutricionistas (2011) e Sociedade Portuguesa de Hipertensão (2014), existem medidas que se podem adotar para ter uma alimentação saudável, como por exemplo: Tomar sempre pequeno-almoço; Fazer 5 a 6 refeições por dia; Consumir mais água ao longo do dia (cerca de um litro e meio, que corresponde a 8 copos); Comer cinco peças de fruta e legumes por dia; Consumir mais peixe; Consumir mais alimentos ricos em fibra como os cereais integrais, as frutas, os legumes, as leguminosas; Iniciar as refeições principais com sopa; Comer devagar e mastigar bem os alimentos; Preferir temperos naturais: limão, ervas, alho, cebola, salsa e cebolinha Aumento da ingestão de alimentos ricos em potássio: Feijões, ervilha, vegetais de cor verde escura, banana, melão, cenoura, beterraba; Frutas secas, tomate, batata inglesa, laranja; Evitar que o consumo de gorduras exceda 30% da ingestão calórica total, preferindo o consumo de gorduras insaturadas em vez de gorduras saturadas; Reduzir o consumo de sal para o nível inferior ao recomendado de 5 a 6 gramas diárias; Reduzir o consumo de açúcar para menos de 10% da ingestão calórica diária, correspondendo a cerca de 50 gramas ou 12 colheres de café de açúcar, ou, idealmente, para menos de 5%, que corresponde a 25 gramas; 18 Homens hipertensos que bebem álcool devem ser aconselhados a limitar o seu consumo diário para 20-30 g, e as mulheres hipertensas devem limitar o seu consumo para 10-20 g de etanol por dia. O consumo total de álcool não deve exceder 140 g por semana para os homens e 80 g por semana para as mulheres. Açúcar, sal e hipertensão O alto consumo de sal/sódio pode provocar aumento de 4mmHg/2mmHg na pressão sanguínea; O alto consumo de açúcares adicionados (principalmente frutose) na dieta pode provocar aumento de 7mmHg/5mmHg na pressão sanguínea, variabilidade da pressão sanguínea, aumentar a frequência cardíaca e a exigência de O2 do miocárdio e contribuir para a inflamação, resistência insulínica e disfunção metabólica maior; De acordo com DiNicolantonio, 2014, a sacarose e frutose estimulam o sistema nervoso simpático, levando a aumento da frequência cardíaca, secreção de renina, retenção renal de sódio e resistência vascular periférica, resultando num aumento da pressão sanguínea. Regime de Exercício De acordo com Baptista et al (1997), indivíduos hipertensos com níveis leves e moderados de hipertensão e sem lesões de órgãos-alvo podem participar de desportos de maior intensidade e de competição, enquanto que indivíduos com hipertensão grave e acometimento de órgãos-alvo devem praticar exercícios de baixa intensidade, estando a competição desaconselhada. De acordo com Baptista et al (1997), Nogueira et al (2012) e a Sociedade Portuguesa de Hipertensão (2014), a actividade física regular pode ser benéfica para a prevenção e tratamento da hipertensão e para a redução do risco cardiovascular. A combinação de exercícios aeróbios associados a exercícios resistidos dinâmicos possibilita reduções significativas na pressão arterial média e frequência cardiáca de repouso, sendo que os benefícios são superiores relativamete à realização de cada uma das modalidades de exercício de forma isolada. Exercícios aeróbios Caminhadas, corridas, natação, ciclismo 19 Actividades realizadas por longos períodos de tempo em menor intensidade. Exercícios como caminhar, correr, nadar e pedalar requerem grande quantidade de oxigénio para gerar energia por período prolongado de tempo. São geralmente os preferidos, pelos seus conhecidos efeitos condicionantes cardiocirculatórios. A natação, além de ser uma atividade aeróbia, mantém a FC em níveis mais baixos e, portanto, pacientes sintomáticos poderiam exercitar-se mais, além do que não sofre ação da gravidade e facilita o retorno venoso; há baixas incidências de lesões osteomusculares e tem menor custo energético, sendo, portanto, uma opção favorável. O treino aeróbico intervalado também demonstrou uma redução da pressão sanguínea. Os doentes hipertensos devem ser aconselhados a participar em pelo menos 30 minutos de exercício aeróbico dinâmico de intensidade moderada (caminhada, corrida, ciclismo ou natação) em 5-7 dias por semana. Exercícios resistidos ou anaeróbios (musculação) Musculação, sprints, saltos Exercícios que consistem de movimentos de alta intensidade e pouca duração (rápidos). São geralmente usados por atletas para desenvolver força e bodybuilders para construir massa muscular. Estudos têm demonstrado efeitos benéficos de sua realização em programas de reabilitação cardíaca O treino de resistência pode levar a uma redução do trabalho cardiovascular, ajudando a reduzir o risco de enfarte agudo do miocárdio e doenças coronárias. A prática de musculação com hipertensos deve ser cuidadosamente controlada, sendo que as principais recomendações expostas na literatura científica apontam para a não realização de exercícios isométricos e de alta intensidade, devido ao aumento súbito e imediato da pressão arterial. Devem então ser realizados exercícios de resistência dinâmicos, 2 a 3 vezes por semana, em dias não consecutivos e preferencialmente acompanhados. Não utilizar cargas elevadas Controlar a respiração durante os movimentos Após a musculação, fazer uma sessão de 10 a 15 minutos de alongamento, pois além da melhora da postura, ajudam a oxigenar a musculatura, trazendo um relaxamento e uma sensação de bem estar. 20 A prática da musculação não deve consistir como modalidade de treino primária para hipertensos, devendo ser combinada com o treino aeróbio. Efeitos do exercício físico: Os efeitos fisiológicos do exercício físico podem ser classificados em agudos imediatos, agudos tardios e crónicos. Efeitos agudos imediatos – são os que ocorrem no período peri e pós-imediato do exercício físico, como elevação da freqüência cardíaca, da ventilação pulmonar e a sudorese. Efeitos agudos tardios – acontecem ao longo das primeiras 24 e 48 horas (às vezes, até 72 horas) que se seguem a uma sessão de exercício e podem ser identificados na discreta redução dos níveis tensionais, especialmente nos Hipertensos, na expansão do volume plasmático, na melhora da função endotelial e na potencialização da ação e do aumento da sensibilidade insulínica na musculatura esquelética. Efeitos crónicos – também denominados de adaptação, resultam da exposição frequente e regular às sessões de exercícios e representam aspectos morfofuncionais que diferenciam um indivíduo fisicamente treinado de outro sedentário, tendo como exemplos típicos a bradicardia relativa de repouso, a hipertrofia muscular, a hipertrofia ventricular esquerda fisiológica e o aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo). Autovigilância da pressão sanguínea Importância/ vantagens da autovigilância da pressão arterial Possibilidade de efectuar medições frequentes, ao longo do dia, durante vários dias, semanas ou meses; o Permite perceber os efeitos do tratamento em diferentes alturas do dia e durante períodos mais longos; o Permite ao cliente perceber o que pode provocar alterações na sua PA (a alimentação, o stress, o exercício físico e a medicação) e qual a melhor maneira para a controlar; Permite estabelecer um perfil tensional da pessoa mais fidedigno, visto que, muitas vezes, em contexto de consulta, os valores de PA podem estar alterados – Inexistência de reacção de alerta à medição da PA (detecção do efeito de bata branca e da hipertensão mascarada); 21 Método cómodo Baixo custo relativo; Maior facilidade de utilização (dos dispositos semi-automáticos); Maior envolvimento do cliente na gestão da doença; Maior compromisso do cliente relativamente ao tratamento; Maior adesão ao tratamento; Melhoria do controlo dos valores tensionais Possibilidade de armazenamento digital, impressão, download ou teletransmissão dos valores de PA (em alguns dispositivos / sistemas). A auto-avaliação da Pressão arterial deve ser realizada da seguinte forma: Na avaliação inicial, avaliação do tratamento, e sete dias antes da cada ida ao consultório: o Duas avaliações por dia, durante sete dias, de manhã e à tarde (antes de tomar a medicação e em jejum), sendo que em cada avaliação devem ser feitas duas medições com um intervalo de 1 a 2 minutos entre elas. o As avaliações do primeiro dia não devem ser tidas em consideração. Acompanhamento a longo prazo o Duas avaliações por dia (de manhã e à tarde, antes de tomar a medicação e em jejum), uma a duas vezes por semana, sendo que em cada avaliação devem ser feitas duas medições com um intervalo de 1 a 2 minutos entre elas. CONSULTA DIABETES De acordo com a Direcção Geral de Saúde, a periodicidade recomendada é de 4/4 meses (num total de 3 consultas por ano), porém é variável de acordo com o controlo glicémico do utente. O que é a diabetes – De acordo com a Diabetes Monitor (2012), e a International Diabetes Foundation (2015), a diabetes é um distúrbio metabólico crónico que afecta a capacidade do corpo utilizar a glicose para produzir energia. Isto pode ocorrer devido a: Produção insuficiente de insulina Utilização anormal/ resposta celular anormal da insulina 22 A insulina é uma hormona produzida no pâncreas, que permite que a glicose presente na corrente sanguínea entre nas células para ser utilizada como energia. Na diabetes, a falta ou ineficácia da insulina faz com que a glicose não seja capaz de entrar nas células e, como resultado, a glicose permanece na corrente sanguínea e os seus níveis aumentam, provocando hiperglicemia. Há três tipos principais de diabetes: DM tipo 1 DM tipo 2 Diabetes gestacional DM tipo 1 Ocorre provavelmente devido a um processo autoimune, em que o sistema imunitário ataca e destrói as células beta pancreáticas (linfócitos T reagem contra células dos ilhéus), responsáveis pela produção de insulina, podendo também ser provocado por uma infecção viral. Passa a haver uma produção insuficiente de insulina, resultando em insulinopenia absoluta (ausência de insulina). Menos comum, corresponde a 5 a 10% dos casos. Mais frequente em crianças, adolescentes e adultos jovens. Desenvolve-se frequentemente de forma súbita, originando sintomas como boca seca, sede, maior frequência de micções, falta de energia, cansaço extremo, fome, perda súbita de peso, visão enevoada. DM tipo 2 Este tipo de diabetes está associado a factores de risco como excesso de peso, etnia, história familiar de diabetes, idade avançada, etc. Inicia-se tipicamente com uma resistência à insulina, em que as células não conseguem responder à insulina de forma adequada, e esta se torna ineficaz. É uma doença progressiva na qual, à medida que o tempo passa, o pâncreas vai perdendo a sua capacidade de produzir insulina, havendo então uma produção insuficiente de insulina. Mais comum, corresponde a 90 a 95% dos casos. Mais comum em adultos, mas tem vindo a aumentar a sua incidência entre crianças e adolescentes. 23 Os sintomas mais comuns incluem maior frequência de micções, sede, perda de peso e visão enevoada. Muitas pessoas com diabetes tipo 2 passam um longo período de tempo desconhecendo que têm essa patologia, uma vez que os sintomas são geralmente menos marcados do que os sintomas da diabetes tipo 1 e desenvolve-se durante anos, demorando a serem identificados. Diabetes gestacional Hiperglicemia que é diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez, no segundo ou terceiro trimestre. Esta diabetes não estava presente antes da gestação e desaparece, normalmente, após o parto. É feito um rastreio utilizando o teste de tolerância a glicose oral entre as 24 e 28 semanas de gestação. A hiperglicemia durante a gravidez aumenta o risco de hipertensão arterial e macrossomia fetal. A terapêutica inclui dieta saudável, exercício físico ligeiro e monitorização dos valores da glicemia. Em alguns casos, poderá ser necessária a utilização de medicamentos via oral ou insulina. Diagnóstico O diagnóstico de diabetes é feito com base nos seguintes parâmetros (DGS,2011): Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl; ou Sintomas clássicos + glicemia ocasional ≥ 200 mg/dl; ou Glicemia ≥ 200mg/dl às 2h na prova de tolerância à glicose oral (PTGO) com 75 g de glicose; ou Hemoglobina glicada A1c (HbA1c) ≥ 6,5%. (Hemoglobina Glicada é uma forma de hemoglobina presente naturalmente nos eritrócitos humanos que é útil na identificação de altos níveis de glicémia durante períodos prolongados. Este tipo de hemoglobina é formada a partir de reacções não enzimáticas entre a hemoglobina e a glucose. Quanto maior a exposição da hemoglobina a concentrações elevadas de glucose no sangue, maior é a formação dessa hemoglobina glicada). O diagnóstico de diabetes numa pessoa assintomática não deve ser realizado com base num único valor anormalde glicemia em jejum ou de hemoglobina 24 glicada, devendo ser confirmado numa segunda análise, após uma ou duas semanas. O diagnóstico de hiperglicemia intermédia ou rismo aumentado para desenvolvimento de diabetes é feito com base nos seguintes parâmetros: Glicemia de jejum ≥ 110 e < 126 mmg/dl; Glicemia ≥ 140 e < 200 mg/dl às 2h na prova de tolerância à glicose oral (PTGO) com 75g de glicose. O diagnóstico de diabetes gestacional é feito com base nos seguintes parâmetros: Glicemia de jejum, avaliada na 1ª consulta de gravidez, ≥ 92mg/dl e < 126 mg/dl. Se glicemia de jejum < 92mg/dl, realizar prova PTGO com 75 g de glicose às 24 a 28 semanas de gestação. Aí, é diagnosticada diabetes gestacional se: o Às 0h, glicemia ≥ 92 mg/dl; o À 1h, glicemia ≥ 180 mg/dl; o Às 2h, glicemia ≥ 153 mg/dl. 25 Sinais e sintomas Poliúria – devido à hiperglicemia, que leva a um aumento da glucose na urina, resultando em poliúria osmótica. Polidipsia – aumento do consumo de água devido à hiperosmolaridade e perda de água decorrente da poliúria. Estes processos estimulam a sede. Polifagia – devido a um estado catabólico induzido pela falta de glucose nas células, resultando na quebra de gorduras e proteínas para produção de energia. O doente tem uma grande quantidade de glucose no sangue, mas esta glucose não entra nas células. Perda de peso, fadiga, fraqueza, visão turva, má cicatrização, susceptibilidade a infecções, parestesias. Factores de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2: Excesso de peso (IMC entre 25 e 30) e obesidade (IMC ≥ 30). Perímetro abdominal ≥ 94 cm nos homens e ≥ 80 cm nas mulheres. Idade ≥ 45 anos em pessoas da europa e ≥ 35 anos em pessoas de outra região do mundo Vida sedentária História familiar de diabetes, principalemente de familiar de primeiro grau História de doença cardiovascular prévia Hipertensão arterial Dislipidemia Intolerância à glicose em jejum e diminuição da tolerância à glicose prévias Consumo de fármacos que predisponham para o desenvolvimento de diabetes FINDRIKSK o risco de vir a desenvolver diabetes em 10 anos pode ser avaliado através da aplicação do Finish Diabetes Risk Score, que inclui parâmetros como idade, IMC, perímetro abdominal, prática de actividade física (pelo menos 30 min/dia), consumo de vegetais e fruta, toma de medicamentos para a HTA, presença de níveis elevados de glicemia anteriormente, existência de membros da família a quem tenha sido diagnosticado diabetes. Pontuação < 7 – risco baixo Pontuação 7 a 11 – risco ligeiro 26 Pontuação 12 – 14 – risco moderado Pontuação 15 a 20 – risco alto Pontuação > 20 – risco muito alto Em função da pontuação, deve proceder-se da seguinte forma: Pontuação < 11 – reavaliação a 3 anos Pontuação 12 a 14 – intervenção anual sobre estilos de vida, avaliação e correcção de factores de risco. Pontuação ≥ 15 – marcação de consulta médica e de enfermagem nos 60 dias imediatos. 27 28 Complicações Pâncreas – redução do número e tamanho dos ilhéus (tipo 1); deposição de proteína amilóide (tipo 2) (Amyloid is an abnormal protein that is usually produced in your bone marrow and can be deposited in any tissue or organ). Vasos sanguíneos – aterosclerose, arteriosclerose, hipertensão. Doença vascular periférica, hipoperfusão nas extremidades, o que prejudica a cicatrização. Rim – proteinúria, microalbuminúria, nefropatia diabética, pielonefrite Olho – retinopatia, cataratas, glaucoma GI – diarreia, obstipação, gastroparesia GU – disfunção eréctil, candidíase vaginal Sistema nervoso – neuropatias simpática, motora e sensitiva periféricas (perda sensitiva mais do que perda motora); diminuição da sensibilidade leva a uma maior susceptibilidade de lesões. Pele e tecidos moles das extremidades – úlceras, gangrena, infecções, má cicatrização, necessidade de amputação das extremidades. Dentes – doença periodontal. Cetoacidose diabética Coma hiperosmolar não cetónico Cetoacidose diabética Complicação aguda que afecta 25% dos doentes com diabetes mellitus tipo 1 , mas pode afectar também doentes com diabetes mellitus tipo 2 Hiperglicemia , glucose > 250mg/dl Cetose Acidose metabólica com anion gap aumentado Patogénese o Produção e utilização deficiente de insulina, associada a excesso de glucagon (glucagon induz lipólise em condições de depleção de insulina, como a diabetes mellitus tipo 1), provoca hiperglicemia. o As lipases são activadas em resposta aos altos níveis de adrenalina e glucagon. As lipases vão promover a lipólise, isto é, quebra dos triglicerídeos em ácidos gordos livres e glicerol, resultando na libertação dos ácidos gordos armazenados no tecido adiposo e mobilização hepática de ácidos gordos livres. o Ocorre a conversão de gorduras em glicose, com consequente libertação de corpos cetónicos. 29 o A diurese osmótica causada pela hiperglicemia leva a uma depleção de volume severa e desequilíbrios electrolíticos. o A insuficiência de insulina e a acidose levam a uma mobilização do potássio do compartimento intracelular para o sangue. Assim, o potássio sérico está geralmente normal ou elevado apesar das grandes perdas de urina. A infusão rápida de insulina pode resultar em hipocaliémia profunda. Sinais e sintomas – náuseas, vómitos, sede, dor abdominal, fadiga, fraqueza, taquicardia, pele seca e ruborizada, hálito cetónico, alteração do estado de consciência. Coma hiperosmolar não cetónico Hiperglicemia marcada Não ocorre acidose ou cetose Maior desidratação que na cetoacidose Hiperosmolaridade Glucose > 600 Osmolalidade sérica >320 Hipoglicemia Caracterizada por níveis de glicemia < 70 mg/dl É geralmente causada por comer pouco ou menos frequentemente do que o normal, maior actividade física do que o normal, toma excessiva de medicamentos hipoglicemiantes, etc. Os sintomas de hipoglicemia incluem nervosismo, irritabilidade, tremores, sudorese, palidez, cansaço, confusão, síncope, convulsões. No caso de hipoglicemia, a pessoa deve consumir 10 a 15 gr de um hidrato de carbono (aproximadamente um copo de sumo de fruta, 2 a 3 pacotes de açúcar, 4 colheres de chá de mel, 3 a 5 rebuçados, etc), reavaliar a glicemia capilar após 15 min e, se os valores ainda estiverem abaixo dos 70mg/dl, ir consumindo 10 a 15gr de hidrato de carbono a cada 15 min até que os níveis de glicemia aumentem. Em pessoas que não podem engolir, é aconselhável a utilização de pasta de açúcar ou, se possível, a administração de glucagon. Após a estabilização, dentro de 10 a 15 minutos deve fazer uma refeição rica em hidratos de carbono de absorção lenta, como pão, massas, bolachas de água e sal ou tostas. 30 É importante que familiares e amigos saibam identificar os sinais de hipoglicemia e saibam como proceder. A pessoa deve ser aconselhada a não conduzir na presença de sintomas de hipoglicemia, e deve transportar consimo algum tipo de hidrato de carbono que possa consumir caso os níveis de glicemia baixem (como 3 a 4 pacotes de açúcar na carteira) e ainda transportar algo que a identifique como diabética (na carteira, por exemplo) e os medicamentos que utiliza. Hiperglicemia Caracterizada por valores ≥ 200 mg/dl É geralmente causada por consumir excesso de hidratos de carbono, ter menor actividade do que o normal, atraso ou esquecimento na toma de medicamentos hipoglicemiantes, doença, infecção, stress. Pessoas com diabetes tipo 2 podem não sentir sintomas de hiperglicemia com valores inferiores a 300mg/dl. Valoressuperiores a 300 mg/dl aumentam o risco de desidratação. Sintomas de hiperglicemia incluem boca seca, sede, poliúria, cansaço, visão enevoada, perda de peso, dor de estômago, vómitos, pele seca e ruborizada. A actuação nestes casos inclui a administração de insulina e hidratação – caso a pessoa não tenha problemas renais graves ou problemas de coração que causem edema, é aconselhável beber bastante água, uma vez que isso ajuda o organismo a eliminar o excesso de glicose no sangue. Se a pessoa tiver valores de glicemia acima dos 200mg/dL e sentir mal-estar ou sem forças/prostrado, deve contactar o médico ou ligar 112. Medidas para controlar os valores de glicemia capilar (Controlar a diabetes, 2017): Manter uma rotina e horários diários de refeições e exercício físico, e não esquecer de tomar a medicação. Verificar os níveis de glicemia e registar. Estabelecer, em conjunto com os profissionais de saúde, objetivos para o peso, atividade física, níveis de glicemia e HbA1C. Usar um objeto que informe as outras pessoas que sofre de diabetes, em caso de emergência, como um fio, pulseira ou cartão. Ter sempre hidratos de carbono de absorção rápida (como rebuçados ou pacotes de açúcar) para poder tratar em qualquer altura as hipoglicemias. 31 Pé diabético De acordo com Afonso et al (2014) e Revilla et al (2007), as disfunções nos pés dos diabéticos e consequentes lesões são desencadeadas por uma tríade de patologias: Neuropatia (simpática, sensorial, motora) Vasculopatia (doença vascular periférica) Alterações imunológicas e infecção Neuropatia – A hiperglicemia prolongada, por mecanismos ainda não completamente conhecidos, atua sobre as fibras nervosas provocando degenerescência dos axónios. Primeiro são atingidas as fibras simpáticas, porque são quase desprovidas de mielina, seguindo-se as grossas fibras somáticas, sensitivas e motoras. A neuropatia simpática tem como consequência a vasodilatação (devido à perda de tónus vasoconstritor) ao nível de artérias e arteríolas e o bloqueio da produção de suor pelas glândulas sudoríparas, dando origem a um pé mais quente e edemaciado, mas de pele seca e quebradiça, favorecendo a formação de fissuras, possíveis portas para entrada das bactérias patogénicas. A neuropatia motora provocada pela lesão dos axónios e das bainhas de mielina dos nervos motores é responsável pela atrofia dos pequenos músculos intrínsecos do pé, dando origem a alterações estruturais da arquitetura do pé, que são responsáveis pelo desenvolvimento de áreas de hiperpressão intrínseca ou áreas de fácil hiperpressão extrínseca, áreas potenciais de formação de calosidades e úlceras. A neuropatia sensitiva impede o doente de se defender das agressões quer intrínsecas quer extrínsecas antes que estas conduzam à formação de úlcera por traumatismo direto, extrínseco, como seja o sapato inadequado, a queimadura, ou outro. Angiopatia – A doença arterial periférica caracteriza-se pela presença de aterosclerose (que por sua vez leva a diminuição da perfusão distal ou isquemia devido à estenose e obstrução arterial) e calcificação da túnica média, produzindo um vaso rígido sem estreitamento do lúmen. A pessoa diabética com doença arterial periférica pode estar assintomática, sofrer claudicação intermitente, ter dor isquémica em repouso, úlceras e gangrena. A doença arterial periférica predispõe ainda a alterações ungueais (das unhas), tais como unhas engrossadas. O espessamento ungueal seguido de trauma provoca, com frequência, infecção no tecido subjacente à unha. As alterações 32 ungueais levam ao aparecimento de outras doenças da unha como, por exemplo, as onicomicoses. Onicomicoses – Intervêm na etiologia das onicomicoses as alterações no sistema imunitário e a vasculopatia, por diminuir a capacidade do organismo em combater este tipo de infeção. Qualquer alteração provocada pelas infeções micóticas (lesões vesiculares, rotura da pele, maceração interdigital) pode favorecer o início de uma infeção bacteriana. Factores de risco no pé diabético (Revilla et al, 2007): Úlcera ou amputação prévia Complicações tardias da diabetes Diminuição da acuidade visual Desconhecimentos dos riscos da doença Condições socioeconómicas deficientes Depressão Pele seca do pé Presença de calosidades, gretas ou onicomicoses Presença de edema Deformidade dos dedos ou rigidez articular Neuropatia Doença arterial periférica Uso inadequado de meias e calçado Identificação do pé em situação de risco (Revilla et al, 2007): Baixo risco – ausência de factores de risco – vigilância anual; Médio risco – um ou mais factores de risco, excepto neuropatia, DAP, deformação, ulceração ou amputação prévias – vigilância semestral; Alto risco – existência de neuropatia, DAP, deformação, ulceração, amputação prévias – vigilância mansal a trimestral. Tratamento A intervenção terapêutica na diabetes tem como objectivos a ausência de sintomas de descompensação aguda, a diminuição de complicações tardias vasculares e o aumento/manutenção da qualidade de vida. O objectivo relativamente à hemoglobina glicada é manter valores < 6,5%. 33 Regime Medicamentoso DM 1 – de acordo com a International Diabetes Foundation (2015), a terapêutica principal é a insulina, associada a monitorização regular da glicemia, manutenção de dieta saudável e prática regular de exercício físico. A insulinoterapia é indispensável nestes casos, para assegurar a sobrevivência, devido ao estado de insulinopenia absoluta. DM 2 – de acordo com a International Diabetes Foundation (2015), e a DGS (2013), a terapêutica principal é a adopção de dieta saudável, actividade física regular, e manutenção de peso corporal adequado. No entanto, a maioria das pessoas necessita de intervenção farmacológica. A escolha do grupo farmacológico ou fármaco antidiabético oral deve ter em conta a efectividade terapêutica, os efeitos extraglicémicos capazes de modular a longo prazo a história natural de diabetes, as complicações, a segurança, a tolerabilidade, a facilidade de administração e o custo. A eficácia do antidiabético oral depende das caracteríscias do medicamento, das características do indivíduo, da duração da diabetes, do valor basal inicial de glicemia, das terapêticas anteriores, comorbilidades, etc. O tratamento farmacológico inicia-se com antidiabéticos orais, sendo a metformina o fármaco de eleição (especialmente em pessoas com excesso de peso) em regime de monoterapia, em doses crescentes, desde que não haja contraindicação ou intolerância, sendo introduzidos outros antidiabéticos orais e/ou insulina se os objectivos terapêuticos não forem atingidos. Deve considerar-se a opção por um secretagogo de insulina ou de outro sensibilizador de insulina nas pessoas com DM 2 com intolerância ou contraindicação para o uso de metformina. Fármacos mais utilizados: Inibidores da alfa glicosidase – diminuem velocidade de degradação e absorção dos hidratos de carbono – acarbose, miglitol, voglibose, etc. Secretagogos de insulina – sulfonilureias – estimulam libertação de insulina – clorpropamida, tolezamida, tobutamide, glibenclamida, gliclazida, etc. Secretagogos de insulina – meglitinidas – estimulam libertação de insulina – nateglinide, repaglinide, etc. Sensibilizadores de insulina – tiazolidinedionas – Aumentam a sensibilidade à insulina principalmente no músculo – proglitazona, rosiglitazona. 34 Sensibilizadores de insulina – biguanidas – Aumentam a sensibilidade à insulina principalmente no fígado – metformina Agonistas e produtos miméticos do GNP1 (receptor do peptídeo glucagon símile 1, aumenta a secreção de insulina) – exenatide, sitagliptina. Análogos de somatostatina – octreozide Outros – insulina exógena, glucagon exógeno, diazóxido. Notas relativas à insulinoterapia A dose de insulina deve ser individualizada e titulada para que os objetivos terapêuticos definidos sejam: o Glicemia em jejum ≤ 100 mg/dl (≤ 5.6 mmol/l); o HbA1c < 7 %. Em doentes idosos ou com doença cardiovascular grave deve optar-se por objetivos terapêuticos menos exigentes. Recomenda-se que a titulação da dose de insulina tenha por base algoritmos publicados e reconhecidos, onde é recomendado que a insulina basal seja aumentada duas a três unidades cada três dias, caso os alvos terapêuticos definidos não sejam atingidos. Quando há necessidade de intensificação da terapêutica insulínica, esta deve ser sempre individualizada e acordada com a pessoa com diabetes. Qualquer que seja o esquema terapêutico de insulina utilizado recomenda-se a terapêuticaconcomitante com metformina, caso não exista contraindicação médica, tendo em conta o efeito positivo no controlo do aumento de peso e a sua ação insulinossensibilizadora 35 36 Regime dietético De acordo com a DGS (2013), a manutenção de peso adequado é de extrema importância para a prevenção e tratamento da diabetes, principalmente DM2. Assim, segundo a OMS (2015), Controlar a Diabetes (2017), Associação Portuguesa dos Nutricionistas (2011), ULSM (2011) e DGS (2011, 2013), a alimentação do cliente diabético deve cumprir as seguintes recomendações: Consumir regularmente alimentos ao longo do dia, fazendo cerca de 5 a 6 refeições por dia, não esquecendo o pequeo almoço e não ultrapassando as 3h entre cada refeição. Comer devagar e mastigar bem os alimentos; Dieta variada, nutricionalmente equilibrada, rica em hortícolas e frutas, de modo a atingir no mínimo 400mg/dia, o que equivale a cerca de 2 a 3 peças de fruta por dia e 2 sopas pequenas de legumes, às refeições principais. Começar as refeições principais por uma sopa rica em legumes e hortaliças. Não ingerir fruta isoladamente. Consumir mais alimentos ricos em fibra como os cereais integrais, as frutas, os legumes, as leguminosas; Consumir mais peixe; Preferir fontes de proteína com menos gordura, como leite meio gordo, frango, peru Consumir mais água ao longo do dia (cerca de um litro e meio, que corresponde a 8 copos); Reduzir o consumo de gorduras, especialmente a de origem animal, dando preferência ao azeite para temperar e cozinhar. Evitar que o consumo de gorduras exceda 30% da ingestão calórica total, preferindo o consumo de gorduras insaturadas em vez de gorduras saturadas; Reduzir do consumo de sal (valor ingerido inferior a 5,8 g/dia); Usar ervas aromáticas (aipo, alecrim, alho, cebolinho, coentro, estragão, hortelã, louro, salsa, orégão, etc.) e especiarias (açafrão, baunilha, canela, caril, colorau, noz-moscada, etc.) para que os cozinhados fiquem mais saborosos. Reduzir o consumo de açúcar para menos de 10% da ingestão calórica diária, correspondendo a cerca de 50 gramas ou 12 colheres de café de açúcar, ou, idealmente, menos de 5%, que corresponde a cerca de 25 gramas; Ler cuidadosamente os rótulos dos alimentos é fundamental na seleção de alimentos com reduzido teor de açúcares, gorduras e sal. Sob a designação de 37 açúcares engloba-se, por exemplo, sacarose (vulgar açúcar de mesa), glucose, dextrose, frutose, maltose, lactose, açúcar invertido, mel, xarope de glicose, xarope de milho, etc. Poderão ser utilizados adoçantes ou edulcorantes em substituição do açúcar, mas sempre em pequenas quantidades. Estes dividem-se em energéticos (ex.: frutose, sorbitol, xilitol, manitol) e não energéticos (ex.: sacarina, ciclamato de sódio, aspartame, acessulfame de potássio, sucralose). Estes últimos praticamente não fornecem calorias e não interferem nos níveis de glicemia. Poderá ser utilizado stevia, que é um adoçante de origem vegetal. Reduzir o consumo de álcool (máximo 30ml/dia ou 2 copos/dia para os homens e 15ml/dia ou 1 copo/dia para as mulheres) . Reduzir o consumo de café (máximo 300mg/dia ou 2 a 3 cafés/dia). O consumo de alimentos especialmente ricos em açúcar, como os refrigerantes, bolos, pastéis, gelados, chocolates, mel, compotas e outros doces, deve ser feito, preferencialmente, no final das refeições, e a sua ingestão não deve ser diária mas sim reservada para consumos ocasionais e de festa. Nestas situações, pode optar por partilhar a sobremesa com alguém e/ou servir-se de menos arroz/ massa/ batata/ leguminosas. Cessação tabágica De acordo com a American Diabetes Association (2013), tanto a quantidade como o índice glicémico do hidrato de carbono influenciam os níveis glicémicos, pelo que estar atento a estes factores é importante para melhorar o controlo glicémico. Índice glicémico (IG): O índice glicémico diz respeito à forma como o hidrato de carbono aumenta o nível de glicose na corrente sanguínea. Alimentos com alto índice glicémico aumentam mais a glicose na corrente sanguínea do que alimentos com baixo ou médio índice glicémico. O índice glicémico de um alimento é influenciado por diferentes factores, tais como: o Quantidade de fibra – maior quantidade de fibra leva a um menor o índice glicémico o Processamento – comidas menos processadas contêm menor índice glicémico: peça de fruta tem menor índice glicémico do que o sumo; batata tem menor índice glicémico do que puré; etc. o Maturação – frutos e legumes mais verdes têm menor índice glicémico. 38 o Método de cozedura – menor tempo de cozedura leva a menor índice glicémico. Exemplos de comidas com baixo índice glicémico incluem feijões, lentilhas, vegetais, batata doce, grande parte das frutas, cereais integrais, etc. Regime de exercício De acordo com a DGS (2013), a actividade física melhora o controlo glicémico e a sensibilidade à insulina e diminui o risco cardiovascular. Segundo a ULSM (2011), o indivíduo portador de diabetes deverá praticar actividade física regularmente, por exemplo, caminhar 30min/dia, 5-7 dias/semana. De acordo com a DGS (2013) e CDC (2016) , a actividade física deverá ser adequada à situação de saúde: Pessoas com DM 1 deverão praticar uma caminhada diária de 30 a 40 min/dia ou exercícios equivalentes. Pessoas com DM 2 deverão praticar 90 a 150 min/semana de actividade física aeróbia fraccionada (nunca menos do que 10 min de cada vez) e com intensidade moderada, intercalada com exercícios de resistência/força, 3 vezes por semana, se não existirem contraindicações. Numa pessoa que não esteja habituada a praticar exercício físico, é importante começar com exercícios simples, ligeiros, de curta duração (10 min de cada vez, por exemplo), e ir aumentando progressivamente o nível de dificuldade, complexidade e duração. É mais benéfico realizar actividade física diariamente, ainda que durante pouco tempo, sendo preferível andar 10 a 20 min/dia do que 1h/semana,por exemplo. Autovigilância da glicemia capilar De acordo com o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (2016), a autovigilância da glicemia capilar permite que a pessoa perceba se a diabetes está controlada e quais os factores que promovem alteração nos níveis glicémicos, promovendo assim uma melhor gestão da doença. Para a autovigilância da glicemia capilar, é utilizada uma máquina que avalia uma pequena gota de sangue do dedo da pessoa para medir os níveis de glicemia. 39 A frequência da vigilância da glicemia capilar depende da patologia e da terapêutica utilizada. Os momentos comuns de avaliação da glicemia capilar são: de manhã em jejum, antes das refeições, 2h após as refeições e antesde deitar. Os valores alvo de glicemia capilar são definidos pelo médico. Geralmente são: antes da refeição – 80 a 130 mg/dl; 2h após a refeição: < 180 mg/dl. De acordo com a Diabetes.co.uk (2017): Valores de glicemia normal: o Antes das refeições – 72 a 126 mg/dl (DM 1 e DM 2) o 2h após as refeições – <162 mg/dl (DM1) / < 153 md/dl (DM2) Hiperglicemia o Antes da refeição – > 126 mg/dl o 2h após a refeição – ≥ 200 mg/dl Hipoglicemia o < 70 mg/dl Autovigilância dos pés De acordo com Maia e Silva (2005), o cliente diabético deve vigiar os pés diariamente, procurando por calosidades, fissuras, micoses e/ou ferimentos. Cuidados aos pés (Afonso et al, 2014): Inspecção diária dos pés, incluindo entre os dedos, para procura de calosidades, rachaduras, micoses e ferimento (pelo doente ou outra pessoa); Lavagem diária dos pés e confirmar previamente a temperatura da água (deve ser inferior a 37º, evitar lavar com água quente, pois os clientes acometidos com neuropatia possuem perda de sensibilidade, não conseguem avaliar devidamente a temperatura da água e, consequentemente, têm risco de queimadura. Testar temperatua da água com o cotovelo, por exemplo); Pés devem ser cuidadosamente secos, nomeadamente entre os dedos; Utilizar creme hidratante se a pele estiver seca (não aplicar entre os dedos, pois esta zona deve ser mantida seca); Não expor os pés a temperaturas extremas; Não cortar ou utilizar produtos químicos ou adesivos para remover as superfícies córneas ou calosidades (apenas deve ser realizado por especialistas); Cortar as unhas a direito, não muito rentes; 40 Evitar andar descalço e não utilizar calçado sem meias; Mudar diariamente de meias; Utilizar as meias com as costuras para fora ou, de preferência, sem qualquer costura; Certificar-se de que as meias não ficam com dobras; Utilizar meias de preferência de fibras naturais (lã ou algodão), a fim de absorverem a umidade dos pés, pois materiais sintéticos podem causar transpiração excessiva, tornando os espaços interdigitais locais propícios para o crescimento de fungos Utilizar meias claras como forma de despiste fácil de qualquer serosidade reveladora de lesão não percepcionada pelo doente; Utilizar calçado apropriado: o Cómodo o Leve o De biqueira larga e redonda (para que a zona digital não seja comprimida e não haja risco de lesão e alterações morfológicas como dedos em garra, hállux valgus, etc). o Fundo, perfeitamente adequado ao pé (nem muito apertado nem muito largo), às suas deformações e alterações biomecânicas., utilizando palmilhas para aliviar a pressão se necessário. o Deve ter atacadores ou tiras de velcro, para permitir a adaptação às alterações de volume dos pés devido ao edema. O calçado tipo mocassim (sem atacadores) deve ser banido do dia-a-dia do diabético porque não possui forma de ajustar ao pé e a solução para que não escorregue ou chinele é utilizar um tamanho mais pequeno levando a uma compressão digital. o Altura do tacção deve medir 2 a 3 cm com uma base ampla para evitar a instabilidade da marcha e facilitar o relaxamento da musculatura posterior da perna. o A palmilha do sapato deve ser amovível, para permitir colocar a palmilha ortopodológica. o Interior do sapato deve ser liso e sem costuras, para evitar lesões. Comprar os sapatos de preferência à tarde. Um sapato que de manhã está ajustado, à tarde pode ficar apertado pelo edema. Não podemos esquecer de reforçar ao doente, e seus familiares, que a sua sensibilidade está comprometida impedindo-o de se defender das agressões extrínsecas; 41 Inspeccionar e palpar diariamente o interior dos sapatos antes de os calçar para evitar calçá-los com objetos estranhos no seu interior. Fazer exercício físico moderado e adequado à sua situação clínica (ex: caminhadas diárias); Não fumar; Controlar a glicemia, tensão arterial e lípidos (controlar a alimentação); Assegurar-se que os pés são observados regularmente por um profissional de saúde; Informar imediatamente o profissional de saúde no caso de surgirem flictenas, fissuras, arranhões, dor, alterações da cor ou outras alterações neurocirculatórias. Controlo metabólico no DM Hemoglobina glicada A1c – alvo 6,5% ou menos. Glicemia pré-prandial – 90-130 mg/dl Glicemia pós-prandial - < 140 mg/dl Tensão arterial – alvo deverá ser <130/80 (se insuficiência renal, proteinúria > 300 mg/24h, TA alco deverá ser < 125/75). Lípidos sanguíneos o LDL =/< 100 mg /dl o HDL Homem > 40 mg/dl Mulher > 46 mg/dl o Triglicerídeos < 150 mg/dl Cessação tabágica obrigatória (permite diminuir o risco cardiovascular) Actividade física regular Controlo de peso IMC < 25 (em caso de excesso de peso, redução de pelo menos 5%) Perímetro da cintura o Homem < 94 cm o Mulher < 80 cm. De acordo com as orientações técnicas da Direcção Geral de Saúde, a periodicidade recomendada é de 4/4 meses (num total de 3 consultas por ano), porém é variável de acordo com o controlo glicémico do utente. 42 43 44 45 46 DOENÇA RENAL CRÓNICA A doença renal crónica (DRC) é definida por lesão renal caracterizada por alterações estruturais ou funcionais dos rins com ou sem redução da taxa de filtração glomerular (TFG), manifestadas por alterações patológicas ou indícios de lesão renal em exames de sangue, de urina ou de imagens, irreversíveis, que podem evoluir progressivamente para uremia, insuficiência renal crónica (IRC) e falência renal. A definição de DRC engloba um conjunto misto de processos fisiopatológicos associados a uma função renal anormal e a um declínio progressivo da taxa de filtração glomerular (TFG). A TFG normal varia de acordo com a idade, sexo, superfície corporal. Nos adultos jovens é cerca de 120-130 ml/min/1,73m2. Diminui com a idade, sendo a partir dos 70 anos aproximadamente 75ml/min/1,73m2. Estádios de DRC – As directrizes da National Kidney Foundation (NKF) definem 5 estádios de DRC com base na TFG: Estádio 1 (TFG igual ou superior a 90 ml/min, com proteinúria ou hematúria) – lesão renal com TFG normal ou aumentada. Estádio 2 (TFG 60-89 ml/min, com proteinúria ou hematúria) – lesão renal com diminuição leve da TFG. Estádio 3 (TFG 30-59 ml/min) – redução moderada da TFG. Estádio 4 (TFG 15-29 ml/min) – redução grave da TFG. Estádio 5 (TFG inferior a 15 ml/min) – falência grave. Nas fases iniciais da doença há uma hiperfunção renal patológica, traduzida por uma TFG elevada. Aparece inicialmente a microalbuminúria, que depois evolui para macroalbuminúria, e a TFG diminui progressivamente para um valor <60ml/min/1,73m2. Nesta fase aumenta significativamente o risco cardiovascular. Insuficiência renal crónica – A IRC corresponde aos estádios 3,4 e 5 da DRC, isto é, quando a TFG é menor que 60 mL/min/1,73 m2, por três meses ou mais, com ou sem lesão renal. Caracteriza-se por redução irreversível e significativa da quantidade de nefrónios (unidades básicas do rim), visível através da reduzida TFG. Depois de estabelecida a DRC, a disfunção renal, geralmente, permanece estável por meses ou declina vagarosamente no decorrer de meses a anos. Estima-se que cerca de 5 a 10% da população sofra de DRC. Esta constitui por si só um factor de risco 47 cardiovascular independente, aumentando de forma significativa a morbilidade e mortalidade dos doentes. Factores de Risco Determinados factores aumentam o risco de desenvolver DRC, tais como HTA Diabetes Doenças auto-imunes Idade avançada, > 65 anos Descendência africana História familiar de doençarenal Episódios anteriores de insuficiência renal aguda Existência de proteinúria, sedimento urinário anormal ou anormalidades estruturais do trato urinário. Doenças que predispõem para DRC A nefropatia diabética constitui a causa mais comum de DRC, geralmente secundária à Diabetes tipo 2, seguindo-se a HTA secundária como a segunda principal causa de DRC. Diabetes Mellitus Hipertensão Glomerulnefrite Doença Vascular Doença Renal Poliquística 48 Consequências da doença renal crónica: Calcificação cardiovascular (quando está em excesso, o fósforo sanguíneo liga- se ao cálcio circulante, formando o fosfato de cálcio, uma substância insolúvel que precipita nos vasos sanguíneos e provoca a calcificação destes vasos, obstruindo o normal fluxo de sangue); Calcificação dos tecidos moles; Hiperparatiroidismo secundário; Hiperfosfatemia Hiperpotassemia Alterações da glicemia Dor nos ossos, nas articulações e nos músculos Danos aos nervos de pernas e braços (neuropatia periférica) Osteopenia (diminuição da massa óssea); Aumento do risco de fracturas; Anemia; Hipertensão; Prurido (comichão) intenso e difuso que pode levar a lesões cutâneas graves e impedir um descanso profícuo (devido à hiperfosfatémia). Olhos vermelhos; Disfunção sexual. 49 CONSULTA DE PLANEAMENTO FAMILIAR Principais objectivos das consultas de Planeamento Familiar: Promover a vivência da sexualidade de forma saudável e segura; Regular a fecundidade segundo o desejo do casal; Preparar para uma maternidade e paternidade responsáveis; Reduzir a mortalidade e a morbilidade materna, perinatal e infantil; Reduzir a incidência das DTS e as suas consequências, nomeadamente a infertilidade; Melhorar a saúde e o bem-estar dos indivíduos e da família. Podem ser inscritos na consulta de planeamento familiar: Indivíduos em idade fértil: o Mulheres até aos 54 anos; o Homens, sem limite de idade. Aconselha-se a primeira consulta de planeamento familiar no início da adolescência (puberdade), antes da primeira relação sexual. Periodicidade das consultas: Preconiza-se a realização de 1 consulta médica e 2 consultas de enfermagem por ano. Em que consiste a consulta: Preenchimento do boletim de planeamento familiar (livrinho laranja) e ficha de planeamento familiar. A pessoa deverá levar sempre o seu boletim de PF quando se dirigir a esta consulta. Avaliação do estado de saúde geral (avaliação da pressão sanguínea, peso, IMC). Abordagem de temas sobre sexualidade, consoante os conhecimentos e necessidades da pessoa. Fornecimento de informação sobre métodos contraceptivos (quais existem, vantagens e desvantagens, etc). 50 SEXUALIDADE A sexualidade é um aspecto inerente ao ser humano, que inclui várias vertentes, tais como o sexo, a identidade de género, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução, e é vivenciada e expressa de diferentes formas, como pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, papéis, comportamentos e relacionamentos. A sexualidade é influenciada por diferentes factores, de ordem biológica, psicológica, social, económica, política, ética, legal, histórica, religiosa e espiritual. Dimensão psicológica da sexualidade Diferença entre amigo/colega, namorar/curtir, amor/paixão. Dimensão biológica da sexualidade Hormonas sexuais Substâncias produzidas nas gónadas a partir da puberdade, sendo responsáveis pelo aparecimento das características sexuais secundárias. Testosterona o Produzida nos testículos o Desempenha um papel importante no desejo e comportamento sexual. o Existe tanto no homem como na mulher, em níveis que se mantêm mais ou menos constantes ao longo da vida. o Homens possuem quantidades superiores comparativamente às mulheres, pelo que os homens se mostram mais resistentes à diminuição do desejo sexual. Estrogénios o Produzidos nos ovários o Presentes na mulher, estimulam o desejo sexual o São inibidos pelas hormonas prolactina e progesterona Progesterona o Produzida nos ovários A produção destas hormonas ocorre devido a estímulos emitidos pelo hipotálamo (região do cérebro com função reguladora de processos metabólicos), liberando fatores hormonais gonadotróficos, com ação na hipófise (glândula do sistema 51 nervoso) que libera FSH (hormona folículo estimulante) e LH (hormona luteinizante), atuando sobre as gónadas. FSH e LH nos testículos – nos testículos, o FSH estimula as células dos tubos seminíferos a desencadearem o processo de divisão meiótica para produção de espermatozóides, enquanto o LH estimula as células intersticiais na produção de testosterona afirmando os caracteres sexuais secundários. FSH e LH nos ovários – o FSH e LH estimulam o crescimento e amadurecimento das células foliculares, bem como o aumento da secreção de estrógeneo pelos folículos em desenvolvimento. A inibição de FSH causa morte dos folículos não dominantes. O pico de LH inicia a ovulação (ruptura do folículo maduro, o oócito é lentamente expelido) e determina a transformação do folículo eclodido em corpo amarelo/lúteo. Puberdade A adolescência corresponde ao período de desenvolvimento que decorre entre o início da puberdade e o estado adulto, durante o qual ocorre crescimento do indivíduo a nível psicológico e biológico, envolvendo o desenvolvimento da identidade, a modificação do corpo e a maturação a nível sexual (Abreu, 2010). A puberdade diz respeito ao período em que é atingida a maturação dos órgãos sexuais, que se tornam biologicamente competentes para a reprodução. Durante este período, os jovens despertam para a sexualidade, vivenciando as primeiras paixões e a intensificação do desejo sexual (Abreu, 2010). O período da puberdade (Papalia, Olds e Feldman, 2000) A duração do período da puberdade é semelhante para ambos os sexos, sendo aproximadamente de 4 anos. Tem inicio em tempos distintos para o sexo masculino e feminino o O sexo feminino atinge, geralmente, a puberdade entre os 9,5 e os 14,5 anos o O sexo masculino a atinge a puberdade entre os 10,5 e os 16 anos As mudanças que ocorrem durante a puberdade, decorrentes do desenvolvimento das características sexuais secundárias, incluem: 52 Aparecimento de pilosidade, alterações na voz, aparecimento de acne; Sexo masculino – crescimento do pénis, dos testículos e do escroto, aparecimento da barba, primeira ejaculação, acentuamento do odor corporal; Sexo feminino – aumento do útero, da vagina, do clítoris e dos lábios vaginais, distribuição da gordura pelo corpo, com a formação da silhueta feminina, primeira menstruação (o desenvolvimento da estatura estagna a partir da primeira menstruação); De acordo com Abreu (2010) e Papalia, Olds e Feldman (2000),o período da puberdade é marcado por atracção pela novidade, vontade de experimentar sensações novas e elevada impulsividade, podendo conduzir a situações de risco como a prática de actividade sexual desprotegida. Tem-se verificado uma tendência para a primeira relação sexual acontecer cada vez mais cedo. Ejaculação Segundo Mattos (2005), a ejaculação corresponde à libertação de esperma e está dependente da erecção do pénis, que é estimulada por um aumento do afluxo sanguíneo aos tecidos nessa região. Após uma primeira ejaculação há um perído de tempo durante o qual pode ocorrer uma segunda ejaculação, que varia entre minutos a horas (Silva, 2012). De acordo com a FPA (2014) e Warren (2013), o tempo de sobrevivência dos espermatozóides no sistema reprodutor feminino após a penetração seguida de ejaculação é, em condições
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