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iA Economia e a Terra Eco-Economia ii Publicaçıes UMA/ Worldwatch Estado do Mundo 1999 a 2003 (Relatório do Worldwatch Institute sobre o Avanço em Direçªo a uma Sociedade SustentÆvel) Sinais Vitais 2000 e 2001 - TendŒncias Ambientais que Determinarªo nosso Futuro Lester R. Brown Revista do World Watch - Ediçıes Novembro/Dezembro 1999 Janeiro/Fevereiro - Março/Abril - Maio/Junho - Julho/Agosto - Setem- bro/Outubro e Novembro/Dezembro 2000 e 2001 (Trabalhando para um Futuro SustentÆvel) e Janeiro 2002 As publicaçıes em portuguŒs poderªo ser adquiridas enviando nome e endereço completos para: UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica e-mail: uma@uma.org.br ou, Caixa Postal 7119, CEP 41811-970 Salvador - Bahia - Brasil Solicite tambØm pela internet, no site: www.uma.org.br iii ECO-ECONOMIA Construindo uma Economia para a Terra Lester R. Brown EARTH POLICY INSTITUTE UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica UMA - Editora Salvador - Bahia - Brasil Eduardo Athayde, Editor Associado R iv Titulo original: Eco-Economia Traduçªo: Henry J. Mallett e CØlia Mallet Revisªo TØcnica: Eliane Souza Pinheiro Produçªo: Creusa M. Porto Copyright ' 2003 Earth Policy Institute Todos os direitos desta ediçªo reservados à UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica Av. Frederico Pontes 375, CEP 40460-001 - Salvador - BA - Fone/fax (71) 312-7897 e-mail uma@uma.org.br As marcas ECO-ECONOMY e EARTH POLICY INSTITUTE estªo registradas no U.S. Patent and Trademark Office. Composiçªo pelo Earth Policy Institute Publicado no Brasil pela UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica 2003 Primeira Ediçªo B878 Brown, Lester R. Eco-Economia: construindo uma economia para a terra / Lester R. Brown. - Salvador: UMA. 2003. 368 p. ; 23,5cm. ISBN 85-87616-08-0 1. Ecologia. 2. Economia I. Título CDD 330 v A Roger e Vicki Sant, que compartilham a visªo vi vii Agradecimentos Quem escreve um livro tem uma dívida de gratidªo com um grande nœmero de pessoas pela assistŒncia na pesquisa, idØias, revisªo, ediçªo e publicaçªo. Na publicaçªo, hÆ muito sou grato a W.W. Norton & Company. Quando estava compilando a lista para a pÆgina de Ou- tras Publicaçıes da Norton por Lester R. Brown, no início deste livro, percebi que Norton publicou 38 livros onde eu apareço como autor principal ou autor, inclusive 18 relatórios Estado do Mundo, 9 ediçıes de Sinais Vitais e 11 outros títulos. Numa Øpoca quando Ø comum ouvir-se estórias de horror na lida com editoras, essa uniªo com Norton deve ter sido concebida no paraíso. Essa relaçªo maravilhosa, que jÆ se estende por 28 anos, começou quando George Brockway, entªo Presidente, foi o nosso contato, passando posteriormente para Ivª Ashner e hoje Amy Cherry. Trabalhando neste livro, tambØm nos beneficiamos do trabalho com Lucinda Bartley, do departamento editorial, e da equipe de produçªo, liderada por Andrew Marasia, que colocou Eco-Economia nos trilhos. Foi um prazer trabalhar com todos. Escrever Eco-Economia e lançar o Earth Policy Institute no mesmo ano nªo teria sido possível sem a ajuda de Reah Janise Kauffman, minha assistente hÆ 15 anos. Como Vice-Presidente do Earth Policy Institute, ela cuidou de inœmeros detalhes para a criaçªo da organizaçªo desde o projeto e decoraçªo dos escritórios atØ o trabalho com os designers do website. Com ela assumindo a responsabilidade por todas essas questıes, fiquei livre para concentrar-me no livro. AlØm do seu incansÆvel entusiasmo por este livro, desde o início, Reah Janise transcreveu todo o manuscrito das fitas que ditei. Ao fazŒ-lo, às vezes editava. Ela tambØm leu o manuscrito completo pre- parado em trŒs minutas sucessivas, dando sugestıes œteis a cada es- tÆgio e ajudando na formataçªo final. Janet Larsen, com diploma do programa Earth Systems da Universi- dade de Stanford, um ano atrÆs, ajudou na pesquisa desde o início. TambØm fez a resenha do manuscrito à medida que evoluía, ajudan- do-me nas anÆlises de muitos dos temas discutidos aqui. AlØm da sua viii diligŒncia e competŒncia, trouxe uma maturidade de julgamento da qual vim a depender. Shane Ratterman se tornou membro da equipe do Earth Policy justamente no momento de ajudar a supervisionar a instalaçªo do sistema de informÆtica. Ele uniu-se ao projeto do livro jÆ pela me- tade, ajudando na pesquisa e revisªo do manuscrito durante a reta final. Este livro se fundamenta em algumas associaçıes novas, como Janet e Shane, e vÆrios relacionamentos antigos. A lista dos meus livros que a redatora independente Linda Starke editou durante os œltimos 20 anos inclui praticamente todos que constam na lista da Norton. Ela contribuiu com sua eficiŒncia e disciplina costumeiras para a ediçªo de Eco-Economia. AlØm das suas especializaçıes editori- ais, seu conhecimento acumulado sobre questıes ambientais foi ines- timÆvel. Somos gratos a Maggie Powell, nªo apenas pelo excelente traba- lho de layout e design do livro, mas tambØm por sua disposiçªo de trabalhar dentro de um cronograma apertado. Usufruímos dos seus anos de experiŒncia em design. Muitas pessoas prestaram informaçıes sobre uma vasta gama de temas. Meus agradecimentos vªo para Earle Amey, U.S. Geological Survey; Donald Bleiwas, U.S. Geological Survey; Eileen Claussen, Pew Center on Global Climate Change; Richard Dirks, Centro Naci- onal de Pesquisa AtmosfØrica; Daniel Edelstein, U.S. Geological Survey; Robert Engleman, Population Action International; Ned Habich, Departamento do Interior, E.U.A.; William Heenan, Steel Recycling Institute; Jeffrey Kenworthy, Universidade Murdoch, Aus- trÆlia; Rattan Lal, Universidade do Estado de Ohio; Bill Liefert, De- partamento de Agricultura, E.U.A.; Paul Maycock, PV Energy Systems; Iris Perticone, International Geothermal Association; Patricia Plunkert, U.S. Geological Survey; Brian Reaves, Departamento de Justiça, E.U.A.; Karyn Sawyer, Centro Nacional de Pesquisa Atmos- fØrica; Robert Sohlberg, Universidade de Maryland; Karen Stanecki, Departamento do Censo, E.U.A.; Randall Swisher, American Wind Energy Association; Kenneth Visser, Departamento do Interior, E.U.A.; e Hania Zlotnik, Divisªo de Populaçªo das Naçıes Unidas. Muitos dos meus colegas no Worldwatch tambØm forneceram informaçıes œteis em vÆrias ocasiıes durante o trabalho, incluindo Lori Brown, Agradecimentos ix Seth Dunn, Christopher Flavin, Gary Gardner, Brian Halweil, Anne Platt McGinn, Lisa Mastny, Ashley Mattoon, Danielle Nierenberg, Michael Renner e Molly OMeara Sheehan. Pelas informaçıes e discernimento, sou extremamente grato aos meus colegas do Worldwatch Institute, cujo trabalho tem sido inesti- mÆvel. A freqüŒncia com que sªo citados neste livro Ø indicaçªo da qualidade e abrangŒncia da pesquisa do Worldwatch ao longo dos anos. E, desnecessÆrio dizer, tenho me valido dos meus muitos anos de trabalho no Worldwatch para realizar esta obra. Devido ao seu escopo, Eco-Economia recebeu a ajuda de um nœme- ro bem maior de revisores do que a maioria dos livros. William Mansfield, do nosso Conselho, contribuiu com seus anos de experi- Œncia no Programa das Naçıes Unidas para o Meio Ambiente, anali- sando o manuscrito durante trŒs etapas distintas. Outra Conselheira do EPI, Judy Gradwohl, trouxe sua perspectiva como bióloga e curadora do Smithsonian Institute para analisar o manuscrito na reta final. Scott McVay, Presidente da Chautauqua Institution e tambØm Membro do Conselho do EPI e apoiador entusiÆstico deste livro, fez comentÆrios sobre a minuta intermediÆria. Toby Clark, com seus anos de experiŒncia em política ambiental na AgŒncia de Proteçªo Ambiental e no Conselho de Qualidade Ambiental dos Estados Unidos, contribuiu com vÆrias pÆginas de comentÆrios sobre uma das minutas finais do manuscrito. Seus co- mentÆrios sobre a interface entre economia e ecologiaforam de espe- cial valia. Maureen Kuwano Hinkle, que trabalhou durante 18 anos como lobista agrícola da Audubon Society, leu a minuta intermediÆria e final, encorajando-nos ao longo do caminho. Minha colega Dianne Saenz, nossa Diretora de Comunicaçıes, fez comentÆrios œteis sobre vÆrios capítulos. Liz Abbett, especializando- se em ciŒncia ambiental em Cornell, juntou-se a nós durante o verªo fornecendo comentÆrios valiosos sobre duas minutas distintas do manuscrito, inclusive algumas boas sugestıes estruturais. Tanto Liz quanto Millicent Johnson, nossa bibliotecÆria e Gerente de Vendas, ajudaram na coleta de informaçıes para o livro. Entre os que leram partes do manuscrito e forneceram comentÆri- os estªo: Carl Haub, Population Reference Bureau; Ashley Matoon, Worldwatch Institute; Sandra Postel, Global Water Policy Project; Mohan Agradecimentos x Wali, Universidade do Estado de Ohio; e John Young, consultor em política de materiais. Meus agradecimentos a todos que revisaram o manuscrito. E, obviamente, sou o œnico responsÆvel pelo produto final. Finalmente, meus agradecimentos a Roger e Vicki Sant, que con- cederam uma generosa subvençªo inicial para o Earth Policy Institute, permitindo que concentrasse minhas energias neste livro durante os primeiros meses do Instituto. Lester R. Brown Agradecimentos xi ˝ndice Agradecimento vii PrefÆcio xv 1. A Economia e a Terra 3 Economia Autodestrutiva 7 Liçıes do Passado 15 Liçıes da China 17 A Aceleraçªo da História 20 A Escolha: Reestruturar ou Decair 22 I. UM RELACIONAMENTO ESTRESSADO 2. Sinais de Estresse: Clima e `gua 29 Aumento da Temperatura 30 Degelo 33 Elevaçªo dos Oceanos 37 Tempestades Mais Destrutivas 40 Exaustªo dos Rios 42 Queda dos Lençóis FreÆticos 46 Enfrentamento à Escassez Hídrica 49 3. Sinais de Estresse: A Base Biológica 53 Colapso Pesqueiro 55 Recuo das Florestas 59 Deterioraçªo de Pastagens 64 Erosªo dos Solos 67 Desaparecimentos das EspØcies 74 Sinergias e Surpresas 77 xii II. A NOVA ECONOMIA 4. A Feiçªo da Eco-Economia 83 Ecologia Sobre a Economia 84 Uma Tarefa Gigantesca 87 Reestruturaçªo da Economia 89 Novas Industrias, Novos Empregos 92 A Maior oportunidade de Investimento da História 100 5. A criaçªo de uma Economia Solar e de HidrogŒnio 103 A Base da EficiŒncia EnergØtica 105 Controlando o Vento 109 Transformando a Luz Solar em Eletricidade 114 Explorando o Calor da Terra 117 GÆs Natural: O Combustível da Transiçªo 119 Alcançando a Economia da HidrogŒnio 121 6. Projeto para uma nova Economia de Materiais 129 Produtos DescartÆveis 132 Os Materiais e o Meio Ambiente 134 O Ônus Tóxico da Terra 140 A Funçªo da Reciclagem 144 O Replanejamento da Economia de Materiais 147 7. Alimentando todos Bem 153 Relatório de Situaçªo 155 Elevando a Produtividade das Terras Cultivadas 158 Elevando a Produtividade Hídrica 163 Reestruturando a Economia ProtØica 167 A Erradicaçªo da Fome: Uma EstratØgia Ampla 173 8. Protegendo os produtos e serviços florestais 179 Combustível, Madeira e Papel 180 Serviços Florestais 182 Silvicultura SustentÆvel 186 Aliviando a Carga 189 O Papel da Silvicultura 192 Recuperando a Terra 195 ˝ndice xiii 9. Replanejando Cidades para Pessoas 199 Uma EspØcie Urbanizadora 200 Expansªo Urbana Centrada no Automóvel 204 Urbanizaçªo e Obesidade 208 Sistemas Urbanos de Ferrovias e Ciclovias 212 Projetando Cidades para Pessoas 215 III. COMO CHEGAR L` 10. Reduzir Fertilidade para Estabilizar Populaçıes 225 Avançar ou Retroceder 227 A `frica em Colapso 231 Preenchendo a Lacuna do Planejamento Familiar 235 O Papel da Educaçªo Feminina 240 O Uso de Novelas e Seriados 242 Parando em Dois 243 11. Ferramentas para a Reestruturaçªo da Economia 249 O Leme Fiscal 250 Remanejamento Fiscal 252 Remanejamento dos Subsídios 256 Selo Ecológico: Votando com Nossos Bolsos 261 Licenças NegociÆveis 265 Apoio à Reestruturaçªo Fiscal 267 12. Acelerando A Transiçªo 271 Liderança das Naçıes Unidas 273 Novas Responsabilidades dos Governos 275 Novo Papel para a Mídia 277 O Interesse Corporativo 280 As ONGs e as Pessoas 284 Cruzando o Limiar 288 HaverÆ Tempo Suficiente? 294 Notas 297 ˝ndice xiv xv PrefÆcio A idØia para este livro me ocorreu um pouco mais de um ano atrÆs, logo após ter deixado a PresidŒncia Executiva e assumir a PresidŒn- cia do Conselho de Administraçªo do WWI-Worldwatch Institute, uma organizaçªo que fundei em 1974. Nessa nova funçªo, e com mais tempo disponível para pensar, trŒs coisas se tornaram mais evi- dentes. Uma, estamos perdendo a guerra para salvar o planeta. Duas, precisamos de uma visªo de como seria uma economia ambientalmente sustentÆvel uma eco-economia. E trŒs, necessitamos de um novo tipo de organizaçªo de pesquisa uma que ofereça nªo apenas uma visªo de uma eco-economia, mas tambØm avaliaçıes constantes do avanço na concretizaçªo dessa visªo. Quando o WWI deu início às suas atividades, nos preocupÆvamos com o encolhimento das florestas, expansªo dos desertos, erosªo dos solos, deterioraçªo dos pastos e desaparecimento das espØcies. EstÆ- vamos apenas começando a nos preocupar com os pesqueiros em colapso. Hoje, a lista de preocupaçıes Ø significativamente maior, incluindo níveis crescentes de dióxido de carbono, queda de lençóis freÆticos, aumento da temperatura, desaparecimento de rios, destrui- çªo do ozônio estratosfØrico, tempestades mais destrutivas, derreti- mento de geleiras, elevaçªo do nível do mar e morte de recifes de coral. Ao longo do œltimo quarto de sØculo, muitas batalhas foram gan- has, mas a distância entre o que precisamos fazer para conter a dete- rioraçªo ambiental do planeta e o que estamos fazendo continua a aumentar. De alguma forma, precisamos reverter essa tendŒncia. No momento, nªo existe uma visªo consensual nem dentro da comunidade ambientalista, quanto mais na sociedade em geral. Se nªo conseguirmos uma visªo de onde queremos ir, provavelmente nunca chegaremos lÆ. O objetivo deste livro Ø delinear nossa visªo de uma eco-economia. A boa notícia Ø que, quando começamos o WWI, sabíamos que uma economia ambientalmente sustentÆvel era possível, mas tínha- mos apenas uma idØia abstrata de como seria. Hoje, podemos efeti- xvi vamente descrever com confiança nªo apenas como seria, mas como funcionarÆ. Vinte e sete anos atrÆs, a moderna indœstria da energia eólica nªo havia ainda surgido. Agora, mundialmente jÆ percorre- mos uma dØcada fenomenal com 24% de crescimento. Graças ao InventÆrio Nacional de Recursos Eólicos do Depar- tamento de Energia dos Estados Unidos, sabemos que Dakota do Norte, Kansas e Texas tŒm energia eólica suficiente para satisfazer as necessidades nacionais de eletricidade. Nos Estados Unidos, a geraçªo de energia eólica estÆ projetada para crescer mais de 60% em 2001. Com a eletricidade de baixo custo gerada pelas turbinas eólicas, temos a opçªo de eletrolizar a Ægua para produzir hidrogŒ- nio, o combustível ideal para motores a cØlulas de combustível, que estªo sendo desenvolvidos por todas as grandes montadoras. As turbinas eólicas estªo substituindo as minas de carvªo na Europa. A Dinamarca, que proibiu a construçªo de usinas a car- vªo, obtØm hoje 15% da sua eletricidade do vento. Em algumas comunidades no norte da Alemanha, 75% da demanda Ø satisfeita pela energia eólica. HÆ uma geraçªo, sabíamos que cØlulas de silicone podiam con- verter a luz solar em eletricidade, porØm o material de cobertura so- lar desenvolvido no Japªo, que transforma os telhados nas usinas elØtricas dos imóveis, ainda estaria por vir. Agora, mais de 1 milhªo de lares em todo o mundo obtØm sua eletricidade de cØlulas solares. As grandes corporaçıes estªo compromissadas com uma reciclagem abrangente, com o fechamento do ciclo da economia dos materiais. STMicrolectronics,na ItÆlia e Interface, nos Estados Unidos, líder na fabricaçªo de carpetes industriais, estªo empenha- dos em atingir emissıes zero de carbono. Shell Hydrogen e DaimlerChrysler colaboram com a Islândia para transformar esse país na primeira economia movida a hidrogŒnio. O que ficou evidente para mim, em minhas reflexıes um ano atrÆs, foi que, para atingir esses objetivos, precisaríamos de um novo tipo de instituto de pesquisa. Assim, em maio deste ano, jun- tamente com as colegas Reah Janise Kauffman e Janet Larsen, for- mei o Earth Policy Institute. Eco-Economia: Construindo uma Eco- nomia para a Terra Ø nosso primeiro livro. Demos início tambØm à ediçªo de Earth Policy Alerts, matØrias de quatro pÆginas tratan- do de temas como o desenvolvimento mundial da energia eólica e PrefÆcio xvii o dust bowlN T que estÆ se formando no noroeste da China. Essas matØrias destacam as tendŒncias que afetam nosso caminho em dire- çªo a uma eco-economia. NinguØm que eu conheça tem as qualificaçıes para escrever um livro com essa abrangŒncia. Eu, certamente que nªo, mas alguØm pre- cisa tentar. Cada capítulo poderia ser um livro. Na realidade, seçıes individuais tŒm sido objeto de livros. AlØm da gama de temas cober- tos, nªo Ø fÆcil realizar uma anÆlise que integre Æreas completas de conhecimento, especialmente quando abrange ecologia e economia duas disciplinas que jÆ partem de premissas contrÆrias. As pessoas aparentam estar Ævidas por uma visªo, por uma con- cepçªo de como poderíamos reverter a deterioraçªo da Terra. Um nœmero cada vez maior de pessoas deseja se envolver. Quando dou palestras sobre o estado do mundo em vÆrios países, a pergunta que mais ouço Ø: O que posso fazer? As pessoas reconhecem a necessida- de de açªo e querem fazer algo. Minha resposta Ø sempre que precisa- mos fazer mudanças pessoais envolvendo tudo, desde um uso maior da bicicleta e menor do automóvel, atØ a reciclagem dos nossos jor- nais diÆrios. PorØm, nªo seria suficiente. Temos que mudar o sistema. E, para fazŒ-lo, precisaremos de uma reforma fiscal, reduzindo im- postos sobre a renda e aumentando impostos sobre atividades ambientalmente destrutivas, para que os preços reflitam a verdade ecológica. Qualquer pessoa que deseje reverter a deterioraçªo do pla- neta terÆ que se empenhar na reforma fiscal. Este livro nªo Ø a palavra final. É uma obra em andamento. Con- tinuaremos a desenvolver os temas, atualizar os dados e refinar a anÆlise. Caso o leitor, ou leitora, tenha interesse em receber o Earth Policy Alert, visite nosso website <www.earth-policy.org>, onde po- derÆ se inscrever para recebŒ-los logo que publicados. Nosso objetivo Ø publicar este livro nos principais idiomas do mundo. AlØm da ediçªo norte-americana, haverÆ tambØm uma edi- çªo para o Reino Unido/Comunidade Britânica destinada à maioria dos países anglófonos. No leste asiÆtico, jÆ estªo sendo providencia- das ediçıes em chinŒs, japonŒs, coreano e italiano. TambØm haverÆ ediçªo em portuguŒs, publicada pelo nosso parceiro de longa data NT “Dust Bowl”, no sudoeste dos EUA, uma região que, durante a grande depressão da década de 1930, sofreu secas prolongadas com tempestades de poeira. PrefÆcio xviii Eduardo Athayde, diretor da UMA-Universidade Livre da Mata Atlân- tica, no Brasil. E temos conhecimento que Hamid Taravaty, do Irª, Membro do Conselho da EPI, estÆ planejando uma ediçªo em persa. Este livro pode ser baixado, gratuitamente, do nosso site parceiro no Brasil www.uma.org.br. Licença para reimpressªo ou extratos do manuscrito podem ser obtidos atravØs do e-mail uma@uma.org.br. Teremos prazer em receber sua contribuiçªo na anÆlise desses te- mas. Caso tenham opiniıes, trabalhos ou artigos recentes que gosta- riam de compartilhar conosco, apreciaríamos recebŒ-los. Lester R. Brown 1A Economia e a Terra Eco-Economia 2 ECO-ECONOMIA 3A Economia e a Terra 1 A Economia e a Terra Em 1543, o astrônomo polonŒs Nicolau CopØrnico publicou Das Revoluçıes dos Mundos Celestes, onde contestava a opiniªo que o Sol girava em torno da Terra, defendendo o inverso, que a Terra girava em torno do Sol. Com seu novo modelo do sistema solar, deu-se início a um extenso debate entre cientistas, teólogos e outros. Sua alternativa ao modelo anterior de Ptolomeu, que mantinha a Terra como centro do Universo, levou a uma revoluçªo do pensamento, a uma nova visªo mundial.1 Hoje, precisamos de igual mudança em nossa visªo mundial, na forma como vemos o relacionamento entre a Terra e a economia. A questªo agora nªo Ø qual corpo celeste gira em torno de qual, e sim se o meio ambiente Ø parte da economia ou a economia Ø parte do meio ambiente. Os economistas vŒem o meio ambiente como um subconjunto da economia. Os ecólogos, por outro lado, consideram a economia como um subconjunto do meio ambiente. Da mesma forma que a visªo de Ptolomeu, a visªo dos economis- tas confunde os esforços para um melhor conhecimento do nosso mundo moderno. Criou-se uma economia fora de sincronia com o ecossistema do qual ela depende. 4 ECO-ECONOMIA A teoria econômica e os indicadores econômicos nªo explicam como a economia estÆ perturbando e destruindo os sistemas naturais da Ter- ra. A teoria econômica nªo explica por que o gelo do Mar `rtico estÆ derretendo. Nªo explica por que os prados estªo se transformando em desertos no noroeste da China, por que os recifes de coral estªo mor- rendo no Pacífico Sul ou por que os pesqueiros de bacalhau em Terra Nova entraram em colapso. TambØm nªo explica por que estamos vendo o início da maior extinçªo de plantas e animais desde o desapare- cimento dos dinossauros, hÆ 65 milhıes de anos. Entretanto, a economia Ø essencial para se medir o custo destes excessos para a sociedade. Pode-se comprovar que a economia estÆ em conflito com os siste- mas naturais da Terra nas notícias diÆrias de colapso de pesqueiros, encolhimento de florestas, erosªo de solos, deterioraçªo de pradarias, expansªo de desertos, aumento constante dos níveis de dióxido de carbono (CO 2 ), queda de lençóis freÆticos, aumento da temperatura, tempestades mais destrutivas, derretimento de geleiras, elevaçªo do nível do mar, morte de recifes de coral e desaparecimento de espØcies. Essas tendŒncias, que assinalam uma relaçªo cada vez mais estressada entre a economia e o ecossistema da Terra, estªo causando prejuízos econômicos cada vez maiores. A certa altura, isso poderÆ subjugar as forças mundiais do progresso e levar ao declínio econômico. O desafio de nossa geraçªo Ø reverter essas tendŒncias, antes que a deterioraçªo ambiental conduza a um declínio econômico de longo prazo, como ocorreu com tantas outras civilizaçıes anteriores. Essas tendŒncias, cada vez mais visíveis, indicam que, se a operaçªo do subsistema, a economia, for incompatível com o comportamento do sistema maior o ecossistema da Terra , ambos virªo a sofrer. Quanto mais a economia se tornar relativa ao ecossistema e quanto mais pressionar os limites naturais da Terra, mais destrutiva serÆ esta incompatibilidade. Uma economia ambientalmente sustentÆvel uma eco-economia requer que os princípios da ecologia estabeleçam o arcabouço para a formulaçªo de políticas econômicas e que economistas e ecólogos tra- balhem, em conjunto, para modelar a nova economia. Os ecólogos entendem que toda atividade econômica, efetivamente toda vida, de- pende do ecossistema da Terra o complexo de espØcies individuais vivendo em harmonia, interagindo entre si e seus habitats físicos. Es- sas milhıes de espØcies existem dentro de um equilíbrio delicado, in- terligadas numa trama de cadeias alimentares, ciclos de nutrientes, ci- 5A Economia e a Terra clo hidrológico e sistema climÆtico. Economistas sabem como trans- formar metas em políticas. Economistas e ecólogos, trabalhando con- juntamente, podem projetar e construir umaeco-economia que possa sustentar o progresso. Da mesma forma que o reconhecimento de que a Terra nªo era o centro do sistema solar abriu caminho para os avanços da astronomia, física e ciŒncias afins, tambØm o reconhecimento de que a economia nªo Ø o centro do nosso mundo criarÆ as condiçıes para sustentar o progresso econômico e melhorar a condiçªo humana. Após CopØrnico ter delineado sua teoria revolucionÆria, surgiram duas visıes de mun- do extremamente diferentes: aqueles que mantiveram a visªo de Ptolomeu viam um mundo, e aqueles que aceitaram a visªo de CopØrnico viam outro, bastante diferente. O mesmo se pode dizer hoje das visıes díspares de mundo de economistas e ecológos. Essas diferenças entre ecologia e economia sªo fundamentais. Por exemplo, ecólogos se preocupam com limites, enquanto economistas tendem a nªo reconhecer quaisquer controles. Ecólogos, pegando a dica da natureza, pensam em termos de ciclos, enquanto economistas sªo mais propensos a pensar em termos lineares, ou curvilíneos. Os economistas tŒm imensa fØ no mercado, enquanto os ecólogos freqüentemente deixam de considerar o mercado adequadamente. Ao se iniciar um novo sØculo, a distância que separa economistas de ecólogos em sua percepçªo do mundo nªo poderia ser maior. Eco- nomistas olham o crescimento sem precedentes da economia global e do comØrcio e investimento internacionais e vŒem um futuro promis- sor em expansªo contínua. Observam com orgulho justificÆvel que, desde 1950, a economia global cresceu sete vezes, aumentando a pro- duçªo de bens e serviços de US$ 6 trilhıes para US$ 43 trilhıes, em 2000, incrementando os padrıes de vida em níveis antes impensÆveis. Os ecólogos olham para esse mesmo crescimento e percebem que Ø produto da queima de gigantescas quantidades de combustíveis fós- seis, artificialmente baratos, num processo que estÆ desestabilizando o clima. Olham à frente e vŒem ondas mais intensas de calor, tempesta- des mais destrutivas, degelo da calota polar e um nível do mar em elevaçªo, o que reduzirÆ a Ærea de terra enquanto as populaçıes conti- nuam a crescer. Enquanto economistas vŒem prósperos indicadores econômicos, ecólogos vŒem uma economia que estÆ alterando o clima, com conseqüŒncias totalmente imprevisíveis.2 6 ECO-ECONOMIA À medida que o novo sØculo avança, os economistas olham para os mercados de grªos e vŒem os preços atingindo os níveis mais baixos em duas dØcadas um sinal seguro de que a capacidade de produçªo estÆ ultrapassando a demanda efetiva e que, tªo cedo, controles de oferta provavelmente nªo serªo necessÆrios. Enquanto isso, ecólogos vŒem lençóis freÆticos caindo nos principais países produtores de ali- mentos e sabem que 480 milhıes das 6,1 bilhıes de pessoas no mundo estªo sendo alimentadas com grªos produzidos pela extraçªo predató- ria dos aqüíferos. Estªo preocupados com os efeitos da exaustªo pre- visível dos aqüíferos sobre a produçªo de alimentos.3 Economistas dependem do mercado para orientar tomadas de de- cisªo. Respeitam o mercado porque este pode alocar recursos com uma eficiŒncia que um planejamento centralizado jamais poderia igua- lar (como os soviØticos aprenderam a um custo tremendo). Ecólogos vŒem o mercado com menos reverŒncia porque vŒem um mercado que nªo fala a verdade. Por exemplo, ao comprar um litro de gasolina, o usuÆrio efetivamente paga pela extraçªo do petróleo, refino e entre- ga ao posto. Nªo paga, porØm, pelo tratamento de doenças respiratóri- as causadas pela poluiçªo atmosfØrica, nem pelos custos da perturba- çªo climÆtica. Ecólogos vŒem o crescimento econômico recorde das œltimas dØ- cadas, mas tambØm vŒem uma economia cada vez mais conflitante com seus sistemas de apoio, uma economia que rapidamente dilapida o capital natural da Terra, direcionando a economia global para um caminho ambiental que, inevitavelmente, conduzirÆ ao declínio eco- nômico. VŒem a necessidade de uma reestruturaçªo maciça da econo- mia para que se mescle ao ecossistema. Sabem que uma relaçªo estÆvel entre a economia e o ecossistema da Terra Ø essencial para a sustentabilidade do progresso econômico. Criamos uma economia que nªo pode sustentar o progresso eco- nômico, uma economia que nªo pode nos conduzir ao destino deseja- do. Da mesma forma que CopØrnico teve que formular uma nova cosmologia astronômica, após vÆrias dØcadas de observaçıes celestiais e cÆlculos matemÆticos, nós tambØm devemos formular uma nova cosmologia econômica, baseada em vÆrias dØcadas de observaçıes e anÆlises ambientais. Embora o conceito de que a economia deve estar integrada à eco- logia possa parecer radical para muitos, provas se acumulam indicando 7A Economia e a Terra que Ø a œnica abordagem que reflete a realidade. Quando as observa- çıes nªo mais apóiam a teoria, Ø chegada a hora de mudar a teoria o que o historiador científico Thomas Kuhn chama de mudança de paradigma. Sendo a economia um subconjunto do ecossistema da Ter- ra, como este livro sustenta, a œnica formulaçªo de política econômica que terÆ sucesso Ø uma que respeite os princípios da ecologia.4 A boa notícia Ø que os economistas estªo adquirindo maior conscientizaçªo ecológica, reconhecendo a dependŒncia inerente da economia ao ecossistema da Terra. Por exemplo, cerca de 2.500 eco- nomistas incluindo oito PrŒmios Nobel endossam a introduçªo de um imposto do carbono para estabilizar o clima. Mais e mais econo- mistas estªo buscando formas de fazer com que o mercado fale a verdade ecológica. Essa conscientizaçªo em expansªo Ø evidente no crescimento acelerado da International Society of Ecological Economics, que conta com 1.200 membros e representaçıes na AustrÆlia/Nova Zelândia, Brasil, CanadÆ, ˝ndia, Rœssia, China e por toda a Europa. Seu objetivo Ø integrar o pensamento dos ecólogos e economistas numa transdisciplina voltada à criaçªo de um mundo sustentÆvel.5 Economia Autodestrutiva Os indicadores econômicos do œltimo meio sØculo revelam um pro- gresso extraordinÆrio: como mencionado anteriormente, a economia aumentou sete vezes, entre 1950 e 2000; o comØrcio internacional cres- ceu mais rapidamente ainda; o ˝ ndice Dow-Jones, indicador largamen- te utilizado para as açıes negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, subiu de 3.000 em 1990 para 11.000 em 2000. Era difícil nªo ficar otimista quanto às perspectivas econômicas de longo prazo, ao se iniciar o novo sØculo.6 Mas esse otimismo desapareceria se houvesse uma anÆlise dos indi- cadores ecológicos. Praticamente cada indicador global estava orienta- do na direçªo errada. As políticas econômicas que geraram o cresci- mento extraordinÆrio da economia mundial sªo as mesmas que estªo destruindo seus sistemas de apoio. Por qualquer medida ecológica que se possa conceber, sªo políticas fracassadas. Um manejo inadequado estÆ destruindo florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas os quatro ecossistemas que fornecem nosso alimento e, com exceçªo dos minerais, toda nossa matØria-prima tambØm. Embora muitos de nós vivamos numa sociedade urbana de alta tecnologia, dependemos dos 8 ECO-ECONOMIA sistemas naturais da Terra da mesma forma que nossos ancestrais ca- çadores catadores dependiam. A fim de colocar os ecossistemas em termos econômicos, um siste- ma natural, como um pesqueiro, funciona como uma poupança. A receita de juros da poupança continuarÆ perpØtua contanto que a pou- pança seja mantida. Caso haja saque, a receita se reduz. Se a poupança por fim se exaure, a receita de juros desaparece. Assim Ø com os siste- mas naturais. Caso a extraçªo sustentÆvel de um pesqueiro seja excedi- da, os estoques começam a encolher e finalmente acabam por comple- to quando entram em colapso. O fluxo de caixa dessa poupança tam- bØm desaparece. Ao iniciarmos o SØculo XXI, nossa economia estÆ destruindo len- tamente nossos sistemas de apoio, consumindo sua poupança de capi- tal natural. As demandasda economia em expansªo, como ora Ø estruturada, estªo suplantando a produçªo sustentÆvel dos ecossistemas. Um terço das Æreas agrícolas mundiais estªo perdendo, com extrema facilidade, a camada superior do solo num ritmo que solapa sua produtividade a longo prazo. Chega a 50% a Ærea mundial que sofre pastoreio predató- rio, deteriorando-se em desertos. As florestas mundiais encolheram pela metade, desde a aurora da agricultura, e continuam encolhendo. Dois terços dos sítios pesqueiros oceânicos estªo sendo explorados alØm da sua capacidade; a pesca predatória hoje Ø a regra e nªo a exce- çªo. E a extraçªo exagerada da Ægua subterrânea Ø comum nas princi- pais regiıes produtoras de alimentos.7 Em grandes Æreas do mundo, a perda da camada superior do solo causada pela erosªo eólica e hídrica hoje suplanta a formaçªo natural de novos solos, drenando gradativamente a fertilidade da terra. Num esforço para conter esse dano, os Estados Unidos estªo desativando Æreas agrícolas altamente erodíveis, anteriormente lavradas em exces- so, para aumentar a produçªo de alimentos. Esse processo teve início em 1985 com o Conservation Reserve Program, que pagava aos agriculto- res para desativarem 15 milhıes de hectares, ou aproximadamente um dØcimo das Æreas agrícolas dos Estados Unidos, reconvertendo-os em pastos ou florestas, antes que se transformassem em deserto.8 Nos países que nªo dispıem desses programas, agricultores sªo forçados a abandonar terras altamente erodíveis, que perderam grande parte da sua camada superficial. Na NigØria, a desertificaçªo conquista mais de 500 quilômetros quadrados de terra produtiva a cada ano. No 9A Economia e a Terra Casaquistªo, onde foi implantado o Projeto SoviØtico de Terras Vir- gens nos anos 50, metade da Ærea agrícola foi abandonada a partir de 1980, quando a erosªo do solo diminuiu sua produtividade. Isso redu- ziu a colheita de trigo do Casaquistªo de aproximadamente 13 mi- lhıes de toneladas em 1980 para 8 milhıes em 2000 uma perda econômica de US$ 900 milhıes ao ano.9 Os pastos que fornecem grande parte da proteína animal mundial tambØm estªo sob pressªo excessiva. À medida que a populaçªo hu- mana cresce, tambØm aumenta o tamanho dos rebanhos. Com 180 milhıes de pessoas hoje no mundo tentando sobreviver, criando 3,3 bilhıes de cabeças de bovinos, ovinos e caprinos, as pastagens estªo simplesmente entrando em colapso com tamanha demanda. Como conseqüŒncia do excesso pecuÆrio, os pastos estªo se deteriorando em grande parte da `frica, Oriente MØdio, `sia Central, norte do subcontinente indiano e grande parte do noroeste da China. A pasta- gem predatória Ø atualmente a causa principal de desertificaçªo, a trans- formaçªo de terras produtivas em desertos. Na `frica, a perda anual da produçªo pecuÆria devido à degradaçªo cumulativa dos pastos Ø estimada em US$ 7 bilhıes, um valor quase equivalente ao produto interno bruto da Etiópia.10 Na China, uma combinaçªo de lavragem e pastagem excessivas para atender às necessidades crescentes de alimentos estÆ criando uma re- giªo Ærida, propensa a tempestades de poeira, como ocorreu nos Esta- dos Unidos nos anos 30 porØm em maiores dimensıes. Num esforço desesperado para manter sua auto-suficiŒncia em grªos, a China la- vrou extensas regiıes do noroeste em Æreas altamente erodíveis, que nunca deveriam ter sido aradas.11 À medida que a demanda do país por produtos pecuÆrios carne, couro e lª aumentou, tambØm cresceu a quantidade de gado, exce- dendo, em muito, os Estados Unidos, um país com igual capacidade de pastagem. AlØm do dano direto causado pelo excesso de aragem e pastagem, a regiªo norte da China estÆ literalmente secando à medida que os aqüíferos sªo exauridos por excesso de extraçªo.12 Essas tendŒncias convergem para formar algumas das maiores tem- pestades de poeira jamais registradas. As imensas plumas de poeira, indo para o leste, afetam as cidades de nordeste da China obstruindo o sol e reduzindo a visibilidade. Ventos que sopram para o leste tam- bØm levam camadas do solo do noroeste da China para a península 10 ECO-ECONOMIA coreana e Japªo, onde as populaçıes constantemente se queixam das nuvens de pó que bloqueiam a luz solar e cobrem tudo de poeira. Caso a China nªo reverta as tendŒncias de aragem e pastagem predatórias que estªo criando uma regiªo Ærida, essas tendŒncias poderªo provocar migraçªo maciça para as cidades jÆ abarrotadas do nordeste, solapan- do o futuro econômico do país.13 O mundo tambØm caminha para um dØficit hídrico. A extraçªo excessiva de aqüíferos, hoje comum em todos os continentes, vem causando quedas em lençóis freÆticos, quando o bombeamento exce- de a capacidade de recarga pela precipitaçªo atmosfØrica. Os proble- mas de irrigaçªo sªo tªo antigos quanto a própria irrigaçªo, mas esta Ø uma nova ameaça, que evoluiu no œltimo meio sØculo com o advento de bombas a diesel e bombas elØtricas potentes. Os lençóis freÆticos estªo caindo sob extensas Æreas nos trŒs princi- pais países produtores de alimentos China, ˝ndia e Estados Unidos. Sob a Planície Norte da China, responsÆvel por 25% da safra chinesa de grªos, o lençol freÆtico estÆ se reduzindo a um ritmo de aproxima- damente 1,5 metro ao ano. O mesmo ocorre sob grande parte da ˝n- dia, particularmente a regiªo do Punjab, o celeiro do país. Nos Estados Unidos, os lençóis freÆticos estªo encolhendo sob os estados produto- res de grªos ao sul das Grandes Planícies, reduzindo a Ærea irrigada.14 O desvio da Ægua para abastecer a irrigaçªo e as cidades tambØm Ø excessivo, deixando os rios praticamente sem volume de Ægua. O Colorado, o principal rio do sul dos Estados Unidos, hoje mal chega ao mar. O Rio Amarelo, o berço da civilizaçªo chinesa, seca durante parte do ano, privando os agricultores da jusante de Ægua de irrigaçªo. O Indus e o Ganges mal atingem o mar durante a estaçªo seca. Pouca Ægua do Nilo chega ao Mediterrâneo, em qualquer Øpoca do ano. A drenagem dos rios desestrutura a simbiose entre oceanos e continen- tes. Os oceanos regam os continentes quando as massas atmosfØricas, carregadas de umidade, se dirigem para o interior, e os continentes nutrem os oceanos com nutrientes nas Æguas que retornam.15 As demandas econômicas das florestas tambØm sªo excessivas. ` r- vores estªo sendo derrubadas ou queimadas mais rapidamente do que podem se regenerar ou ser plantadas. Colheitas predatórias sªo co- muns em muitas regiıes, inclusive no Sudeste da `sia, `frica Ociden- tal e a Amazônia brasileira. Mundialmente, as florestas encolhem mais de 9 milhıes de hectares ao ano, uma Ærea equivalente a Portugal.16 11A Economia e a Terra AlØm da colheita excessiva, algumas florestas tropicais estªo hoje sendo destruídas pelo fogo. Florestas tropicais sadias nªo queimam, mas a extraçªo de madeira e assentamentos ao longo das estradas abertas pelas madeireiras fragmentaram e secaram as florestas tropicais a pon- to de queimarem-se com facilidade, seja devido a raios ou queimadas provocadas por proprietÆrios, agricultores e pecuaristas oportunistas, desejosos de mais terras. No final do verªo de 1997, durante uma estiagem provocada pelo El Niæo, as florestas tropicais de BornØu e Sumatra queimaram descontroladas. Essa conflagraçªo foi manchete mundial porque a fu- maça que se espalhou por centenas de quilômetros afetou populaçıes nªo apenas da IndonØsia, mas tambØm da MalÆsia, Cingapura, Vietnª, Tailândia e Filipinas. Cerca de 1.100 vôos foram cancelados devido à fumaça. Motoristas dirigiam com faróis acesos durante o dia, tentando achar caminho atravØs da grossa neblina. Milhıes de pessoas adoeceram.17 O desmatamento pode custar caro. Enchentes recordes da Bacia do YangtzØ, durante o verªo de 1998, desabrigaram 120 milhıes de pes- soas. Embora denominado inicialmente como um desastre natural, a remoçªo de 85% da cobertura arbórea original da bacia havia deixado poucavegetaçªo para reter as fortes chuvas.18 O desmatamento tambØm diminui a reciclagem de Ægua no interior, reduzindo, dessa forma, a precipitaçªo atmosfØrica. Quando a chuva cai sobre uma densa Ærea florestal, cerca de um quarto escoa, retornando ao mar, enquanto trŒs quartos evaporam, seja diretamente ou atravØs da transpiraçªo. Quando Æreas sªo desmatadas para agricultura ou pas- to, ou para exploraçªo de madeira, essa relaçªo Ø inversa trŒs quartos da Ægua retornam ao mar e um quarto evapora. À medida que o desmatamento avança, o mecanismo natural para irrigar o interior de grandes continentes como `frica e `sia se enfraquece.19 Nos oceanos, pode-se tambØm perceber a presença das demandas humanas excessivas. À medida que essa demanda por proteína animal aumentou, ao longo das œltimas dØcadas, começou a exceder a produ- çªo sustentÆvel dos pesqueiros oceânicos. Conseqüentemente, dois ter- ços das Æreas pesqueiras oceânicas estªo hoje sendo explorados no limite ou alØm da sua produçªo sustentÆvel. Muitas estªo em colapso. Em 1992, a Ærea de pesca do bacalhau, em Terra Nova, que vinha suprindo peixes por vÆrios sØculos, caiu subitamente, desempregando 40.000 canadenses. Apesar de uma proibiçªo subseqüente à pesca, quase 12 ECO-ECONOMIA uma dØcada depois, a Ærea pesqueira ainda nªo se recuperou.20 Mais ao sul, a Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos, sofreu uma queda semelhante. Um sØculo atrÆs, esse estuÆrio extremamente pro- dutivo produzia mais de 45 mil toneladas de ostras ao ano. Em 1999, rendeu cerca de 1.400. O pesqueiro do Golfo da Tailândia tambØm sofreu um declínio dramÆtico: exaurido pela pesca predatória, o pesca- do caiu em mais de 80%, desde 1963, levando o Departamento de Pesca tailandŒs a proibi-la em extensas Æreas.21 O planeta tambØm estÆ perdendo sua diversidade biológica à medi- da que espØcies da flora e da fauna sªo destruídas mais rapidamente do que evoluem. Esse empobrecimento biológico da Terra Ø conseqüŒn- cia da destruiçªo de habitats, poluiçªo, alteraçªo climÆtica e caça. Em cada atualizaçªo do seu Livro Vermelho das EspØcies Ameaçadas, a World Conservation Union-IUCN mostra como estamos avançando em di- reçªo a um período de extinçªo em massa. Na œltima avaliaçªo, publicada em 2000, a IUCN divulga que uma em cada oito das 9.946 espØcies de aves no mundo estÆ sob ameaça de extinçªo, como tam- bØm uma em quatro das 4.763 espØcies de mamíferos e quase um terço de todas as 25.000 espØcies de peixes.22 Alguns países jÆ sofreram perdas enormes. A AustrÆlia, por exem- plo, perdeu 16 das 140 espØcies de mamíferos ao longo dos œltimos dois sØculos. No sistema fluvial do Rio Colorado, no sudoeste dos Estados Unidos, 29 das 50 espØcies nativas de peixe desapareceram devido, em parte, a seus habitats terem secado. EspØcies perdidas nªo podem ser recuperadas. Como diz, com muita propriedade, um adesi- vo de pÆra-choque, Extinçªo Ø para sempre.23 Sªo incontÆveis os benefícios econômicos da variada gama de vida na Terra. Eles incluem nªo apenas o papel de cada espØcie na manu- tençªo do ecossistema específico do qual Ø parte, como tambØm pa- pØis econômicos, como a oferta de medicamentos e germoplasma. À medida que a diversidade diminui, a farmÆcia natural encolhe, privan- do geraçıes futuras de novas descobertas. Ao tempo em que a atividade econômica em expansªo cria dØficits biológicos, perturba parte dos equilíbrios bÆsicos da natureza em ou- tras Æreas. Após o gigantesco crescimento da queima de combustíveis fósseis desde 1950, as emissıes de carbono superaram a capacidade do ecossistema da Terra de fixar o dióxido de carbono. O conseqüente aumento dos níveis atmosfØricos de CO 2 Ø considerado por uma vasta 13A Economia e a Terra gama de cientistas atmosfØricos como responsÆvel pela elevaçªo da temperatura da Terra. Os 14 anos mais quentes, desde que foram ini- ciados os registros em 1866, ocorreram a partir de 1980.24 Uma das conseqüŒncias do aumento das temperaturas Ø uma maior intensidade das tormentas. TrŒs fortes tempestades na França, em de- zembro de 1999, destruíram milhıes de Ærvores, algumas das quais cen- tenÆrias. Milhares de prØdios foram derrubados. Estas tempestades, as mais violentas jamais registradas na França, causaram prejuízos superio- res a US$ 10 bilhıes US$ 170 para cada cidadªo francŒs. A natureza impôs seu próprio imposto sobre a queima de combustíveis fósseis.25 Em outubro de 1998, o Furacªo Mitch uma das tempestades mais fortes a se originar no Atlântico atravessou o Caribe e estacio- nou por vÆrios dias sobre o litoral da AmØrica Central. LÆ, agiu como uma poderosa bomba, extraindo Ægua do oceano e despejando-a na terra. `reas de Honduras registraram 2 metros de chuva em poucos dias. Tªo poderosa foi esta tempestade e tªo volumosa a quantidade de Ægua despejada sobre a AmØrica Central que alteraram a topografia, transformando montanhas e colinas em imensos rios de lama que sim- plesmente inundaram povoados inteiros, ceifando cerca de 10.000 vi- das. Quatro quintos das lavouras foram destruídos. O imenso fluxo de Ægua removeu toda a camada superior do solo em muitas Æreas, impos- sibilitando o cultivo nessas terras por toda uma vida.26 O efeito econômico geral da tempestade foi devastador. A destruiçªo em massa de rodovias, pontes, prØdios e outras infra-estruturas causou um retrocesso de dØcadas ao desenvolvimento de Honduras e NicarÆ- gua. O prejuízo estimado de US$ 8,5 bilhıes na regiªo aproximou-se do produto interno bruto de ambos os países conjuntamente.27 Desastres naturais estªo aumentando. Munich Re, uma das maiores resseguradoras do mundo, divulgou que ocorreram trŒs vezes mais catÆstrofes naturais durante os anos 90 do que nos anos 60. Perdas econômicas aumentaram oito vezes. Prejuízos cobertos por seguro multiplicaram-se 15 vezes. Embora a classificaçªo da Munich Re nªo distinga entre catÆstrofes causadas pela natureza e pela açªo humana, grande parte do aumento parece ser devido a catÆstrofes (incluindo tempestades, secas e incŒndios florestais) agravadas ou causadas por atividades humanas.28 As companhias seguradoras tŒm plena consciŒncia de que mesmo mudanças modestas do clima podem causar saltos quânticos em per- 14 ECO-ECONOMIA das. Por exemplo, um aumento de 10% na velocidade do vento de uma tempestade pode dobrar o dano que inflige. O custo de enfrentamento da elevaçªo do nível do mar causado por um aumento modesto da temperatura pode facilmente subjugar a economia de muitos países.29 Andrew Dlugolecki, um alto executivo do Grupo Segurador CGMU o maior da Grª-Bretanha informa que danos mundiais à proprie- dade estªo crescendo aproximadamente, 10% ao ano. Ele acredita que estamos apenas vendo o início do declínio econômico causado pela mudança climÆtica. Nesse ritmo, atØ 2065, o volume de danos excede- rÆ o produto bruto mundial projetado. Muito antes disso, observa Dlugolecki, o mundo entrarÆ em falŒncia.30 Talvez a conseqüŒncia mais perturbadora do aumento da tempera- tura seja o degelo. Nos œltimos 35 anos, a espessura do gelo do Mar `rtico reduziu-se em 42%. Um estudo por dois cientistas noruegueses projeta que, dentro de 50 anos, nªo haverÆ gelo na Øpoca do verªo no Mar `rtico. A descoberta de mar aberto no Pólo Norte por um navio quebra-gelo de cruzeiro, em meados de agosto de 2000, causou um impacto profundo na comunidade científica.31 Esse degelo específico nªo afeta o nível do mar porque o gelo que se derrete jÆ estÆ no oceano. Mas, a manta de gelo da Groelândia tam- bØm começa a derreter. A Groelândia tem trŒs vezes a Ærea do Texas e a manta de gelo tem uma espessura de 2 quilômetros em algumas Æreas. Um artigo em Science observa que, caso toda a manta de gelo derretesse, seria elevado o nível do mar em cerca de 7 metros, inun- dando as cidades costeiras mundiais e as planícies ribeirinhas cultiva- das com arroz na `sia. AtØ mesmouma elevaçªo de 1 metro cobriria metade dos arrozais de Bangladesh, reduzindo a produçªo de alimen- tos para abaixo do nível de sobrevivŒncia de milhıes de pessoas.32 Ao se iniciar o SØculo XXI, a humanidade estÆ sendo espremida entre desertos, que avançam, e mares, que invadem terra adentro. A civilizaçªo estÆ sendo forçada a recuar por forças que ela mesma criou. À medida que populaçıes aumentam, as porçıes habitÆveis do Plane- ta encolhem. AlØm da mudança climÆtica, os efeitos econômicos da destruiçªo e perturbaçªo ambientais tŒm sido, em sua maioria, localizados pes- queiros em colapso, terras agrícolas abandonadas e florestas em declínio. Mas, se os danos locais continuarem a acumular, acabarªo por afetar as tendŒncias econômicas globais. Numa economia global cada vez mais 15A Economia e a Terra integrada, o colapso de ecossistemas locais poderÆ ter conseqüŒncias econômicas globais. Liçıes do Passado Em The Collapse of Complex Civilizations, Joseph Tainter descreve o declínio das civilizaçıes antigas e especula sobre as causas. Teria sido devido à degradaçªo do seu meio ambiente, mudança climÆtica, con- flitos civis, invasores estrangeiros? Ou, pergunta, haverÆ alguma dinâ- mica misteriosa para a ascensªo e queda de civilizaçıes?33 Enquanto reflete sobre os contrastes entre as civilizaçıes que ou- trora prosperavam e a desolaçªo dos locais que ocuparam, ele cita o arqueólogo Robert McC. Adams, que descreveu o sítio da antiga civi- lizaçªo sumØria, localizado na baixada central do Eufrates, uma regiªo vazia, desolada, hoje fora das fronteiras de cultivo. Adams o descreveu como um emaranhado de dunas, diques hÆ muito em desuso e mon- tes de cascalho de antigos assentamentos revelando apenas um relevo baixo, sem destaques. A vegetaçªo Ø escassa e, em muitas Æreas, quase totalmente ausente... Entretanto, outrora isso foi a base, o coraçªo, a civilizaçªo urbana e culta mais antiga do mundo.34 A antiga civilizaçªo sumØria do quarto milŒnio a.C. foi notÆvel, superando qualquer outra que a tenha antecedido. Seu sistema de irri- gaçªo, baseado em conceitos sofisticados de engenharia, criou uma agricultura altamente produtiva que permitiu aos agricultores gerarem um superÆvit de alimentos que sustentou a formaçªo das primeiras cidades. O manejo do sistema de irrigaçªo exigiu uma organizaçªo social complexa, que possivelmente foi a mais sofisticada que jamais existiu. Os sumØrios criaram as primeiras cidades e a primeira língua escrita, a escrita cuneiforme. Provavelmente estavam tªo entusiasma- dos com ela como estamos hoje com a Internet.35 Foi uma civilizaçªo extraordinÆria, porØm havia uma falha ambiental do desenho do sistema de irrigaçªo, que viria a solapar a economia agrícola. A Ægua detrÆs das barragens era desviada para a terra, aumen- tando a produtividade das lavouras. Parte da Ægua era utilizada pela agricultura, parte evaporava na atmosfera e parte infiltrava-se no solo. Ao longo do tempo, essa infiltraçªo elevou lentamente o lençol freÆtico atØ que chegou à superfície. Quando estava a poucos metros da super- fície, começou a conter o desenvolvimento de culturas bem enraizadas. Um pouco mais tarde, quando o lençol chegou a poucos centímetros 16 ECO-ECONOMIA da superfície, começou a evaporar na atmosfera. Nesse momento, o sal da Ægua ficou para trÆs. Ao longo do tempo, o acœmulo do sal reduziu a produtividade da terra. A falha ambiental foi nªo haver previsªo para a drenagem da Ægua que se infiltrava para baixo.36 A reaçªo inicial dos sumØrios ao declínio de produçªo de trigo foi mudar para cevada, mais tolerante ao sal. Mas, a produçªo da cevada tambØm veio a cair. O conseqüente encolhimento do abastecimento minou a base econômica dessa grande civilizaçªo.37 A contrapartida dos sumØrios no Novo Mundo foi a civilizaçªo Maia, que se desenvolveu nas baixadas de onde Ø hoje a Guatemala. Prosperou desde 250 d.C. atØ seu colapso, em torno de 900 d.C. Da mesma forma que os sumØrios, os maias desenvolveram uma agricul- tura sofisticada, altamente produtiva, em lotes elevados de terra cerca- dos por canais que forneciam Ægua.38 TambØm com os Maias, seu desaparecimento estava aparentemente ligado a um fracasso do suprimento de alimento. Para esta civilizaçªo do Novo Mundo, foi o desmatamento e erosªo do solo que solapou a agricultura. A escassez de alimentos, por sua vez, pode ter provocado conflitos civis entre as diversas cidades maias na competiçªo por ali- mentos.39 Nos œltimos sØculos da civilizaçªo Maia, uma nova sociedade evo- luiu na Ilha de PÆscoa, uma Ærea com cerca de 166 quilômetros qua- drados no Pacífico Sul, aproximadamente 3.200 quilômetros a oeste da AmØrica do Sul e 2.200 quilômetros da Ilha Pitcairn, a regiªo habi- tada mais próxima. Assentada em torno de 400 d.C., essa civilizaçªo prosperou numa ilha vulcânica com solos ricos e vegetaçªo viçosa, com Ærvores de 25 metros de altura e troncos de 2 metros de diâmetro. Registros arqueológicos dªo conta que os ilhØus se alimentavam princi- palmente de frutos do mar, particularmente golfinhos um mamífero que só podia ser capturado com arpıes lançados de grandes canoas oceânicas, uma vez que nªo apareciam localmente em grande nœmero.40 A sociedade da Ilha de PÆscoa prosperou durante vÆrios sØculos, atingindo uma populaçªo estimada em 20.000. À medida que seus nœmeros cresciam, a derrubada de Ærvores superava a recuperaçªo sus- tentada das florestas. Finalmente, desapareceram as grandes Ærvores necessÆrias para a construçªo das grandes e resistentes canoas oceâni- cas, privando os ilhØus do acesso aos golfinhos e reduzindo, dessa for- ma, o suprimento alimentar da ilha. Os registros arqueológicos mos- 17A Economia e a Terra tram que, a certa altura, ossadas humanas se misturaram às ossadas dos golfinhos, sugerindo uma sociedade desesperada que recorreu ao canibalismo. Hoje, a ilha Ø habitada por cerca de 2.000 pessoas.41 Essas sªo apenas trŒs das antigas civilizaçıes que desapareceram, aparentemente porque, a certa altura, seguiram um caminho econômi- co ambientalmente insustentÆvel. Nós tambØm estamos caminhando nesta mesma direçªo. Qualquer uma das vÆrias tendŒncias de degrada- çªo ambiental poderÆ minar a civilizaçªo como a conhecemos. Da mesma forma que os sistemas de irrigaçªo que definiram a antiga eco- nomia sumØria tinham uma falha, o sistema energØtico baseado no combustível fóssil que define nossa economia moderna tambØm a tem, pois estÆ elevando os níveis de CO 2 na atmosfera e alterando o clima da Terra. Seja pela salinizaçªo do solo na SumØria, a erosªo do solo dos Maias ou a perda da pesca em alto-mar dos habitantes da Ilha de PÆscoa, o colapso das civilizaçıes antigas parece estar associado a um declínio do suprimento alimentar. Hoje, o acrØscimo de 80 milhıes de pessoas anu- almente à populaçªo mundial, numa ocasiªo quando os lençóis freÆticos estªo em queda, indica que o suprimento de alimentos novamente poderÆ ser o elo vulnerÆvel entre o meio ambiente e a economia.42 Os sumØrios nem tinham conhecimento da existŒncia do Novo Mundo, quanto mais que iriam um dia sustentar civilizaçıes prósperas como a dos Maias. Os Maias nªo tinham idØia de que a Ilha de PÆscoa existia. Cada uma dessas civilizaçıes entrou em colapso isoladamente, sem efeito nas outras. Mas hoje, numa economia global integrada, um colapso em um país ou regiªo afetarÆ todos nós. Mesmo uma desvalo- rizaçªo da moeda num país em desenvolvimento, como a IndonØsia, pode provocar ondas de choque em Wall Street, meio mundo distante. Uma pergunta irrespondível sobre aquelas civilizaçıes antigas era se sabiam o que estava causando seu declínio. SerÆ que os sumØrios sabiam que o teor crescente de sal no solo estava reduzindo sua pro- duçªo de trigo? Se souberam, serÆ que nªo conseguiram reunir o apoio político necessÆrio para abaixar os lençóis freÆticos, da mesma forma quenos empenhamos hoje, sem sucesso, para baixar as emissıes de carbono? Liçıes da China O fluxo de informaçıes surpreendentes da China nos ajuda a enten- 18 ECO-ECONOMIA der porque nossa economia nªo pode nos conduzir para onde deseja- mos. A China nªo Ø apenas o país mais populoso do mundo, com quase 1,3 bilhªo de pessoas, mas, desde 1980, tambØm Ø a economia com crescimento mais acelerado quase quadruplicando. Na realida- de, a China estÆ distendendo a história, demonstrando o que acontece quando um grande nœmero de pessoas pobres se torna repentinamen- te mais abastado.43 À medida que a renda cresceu na China, tambØm o consumo au- mentou. Os chineses jÆ alcançaram os americanos no consumo per capita de carne suína, e agora concentram suas energias em aumentar a produçªo da carne bovina. Para elevar o consumo per capita da car- ne bovina na China aos níveis do americano mØdio, serªo necessÆrios 49 milhıes de toneladas adicionais. Se tudo isto fosse produzido com gado confinado, no estilo americano, seriam necessÆrias 343 milhıes de toneladas anuais de grªos, um volume igual a toda a colheita dos Estados Unidos.44 No Japªo, à medida que crescia a pressªo populacional sobre a ter- ra, durante uma fase comparÆvel do seu desenvolvimento econômico, os japoneses voltaram-se ao mar para obter sua proteína animal. No ano passado, o Japªo consumiu quase 10 milhıes de toneladas de fru- tos do mar. Caso a China, com uma populaçªo 10 vezes superior à do Japªo, seguisse o mesmo caminho, precisaria de 100 milhıes de tonela- das de produtos do mar todo o pescado mundial.45 Em 1994, o governo chinŒs decidiu que o país desenvolveria um sistema de transportes centrado no automóvel e que a indœstria automotiva seria um dos impulsionadores do futuro crescimento eco- nômico. Beijing convidou grandes montadoras como Volkswagen, General Motors e Toyota a investirem na China. Mas, se o objetivo de Beijing se materializasse e cada chinŒs possuísse um ou dois carros em cada garagem e consumisse petróleo no ritmo dos Estados Unidos, a China necessitaria de mais de 80 milhıes de barris de petróleo ao dia ligeiramente superior aos 74 milhıes de barris diÆrios que o mundo produz atualmente. A fim de oferecer as vias e estacionamentos neces- sÆrios, precisaria tambØm pavimentar cerca de 16 milhıes de hectares de terra, uma Ærea equivalente à metade dos 31 milhıes de hectares de terra atualmente produzindo a safra anual de 132 milhıes de toneladas de arroz, seu alimento bÆsico.46 Consideremos tambØm o papel. À medida que a China se moderni- 19A Economia e a Terra za, seu consumo de papel cresce. Caso o consumo anual de papel na China, de 35 quilos per capita, aumentasse para o nível dos Estados Unidos, de 342 quilos, a China necessitaria de mais papel do que o mundo produz atualmente. E lÆ se iam as florestas mundiais.47 Estamos aprendendo que o modelo de desenvolvimento industrial do ocidente nªo Ø viÆvel para a China, simplesmente porque nªo hÆ recursos suficientes para tal. Os recursos globais de terra e Ægua nªo poderªo atender às necessidades crescentes de grªos da China caso continue seguindo o caminho atual de desenvolvimento econômico. Como tambØm a economia energØtica baseada em combustíveis fós- seis nªo irÆ fornecer a energia necessÆria, simplesmente porque a pro- duçªo mundial de petróleo nªo estÆ projetada a crescer muito acima dos níveis atuais nos anos futuros. AlØm da disponibilidade de petró- leo, se as emissıes per capita de carbono na China alcançarem o nível dos Estados Unidos, só isso duplicarÆ as emissıes globais, acelerando o aumento da concentraçªo atmosfØrica do CO 2 .48 A concepçªo de uma estratØgia de desenvolvimento Ø um gigantes- co desafio para a China em vista da sua densidade populacional. Em- bora ocupe quase a mesma Ærea de terra que os Estados Unidos, a maioria da sua populaçªo de 1,3 bilhªo vive numa faixa de 1.500 qui- lômetros nos litorais leste e sul. Para chegar a uma densidade idŒntica nos Estados Unidos, seria necessÆrio espremer toda a populaçªo para o leste do Mississipi e multiplicÆ-la por quatro.49 Curiosamente, a adoçªo do modelo econômico ocidental para a China estÆ sendo contestada internamente. Um grupo de cientistas renomados, inclusive muitos da Academia de CiŒncias da China, subs- creveram uma declaraçªo questionando a decisªo governamental de desenvolver um sistema de transportes centrado no automóvel. Assi- nalaram que a China nªo tem Ærea suficiente para alimentar sua popu- laçªo e fornecer as vias, rodovias e estacionamentos necessÆrios para acomodar o automóvel. Observaram ainda a alta dependŒncia do pe- tróleo importado que seria necessÆrio, como tambØm a poluiçªo at- mosfØrica e congestionamentos potenciais que resultariam caso seguis- sem o caminho dos Estados Unidos.50 Se a economia do descarte, baseada no combustível fóssil e centrada no automóvel, nªo funcionarÆ na China, entªo nªo funcionarÆ para 1 bilhªo de pessoas na ˝ndia, ou para outras 2 bilhıes de pessoas no mundo em desenvolvimento. Num mundo com um ecossistema com- 20 ECO-ECONOMIA partilhado e uma economia global cada vez mais integrada, acabarÆ por nªo funcionar tambØm para as economias industrializadas. A China estÆ demonstrando que o mundo nªo poderÆ continuar mais seguindo o caminho econômico atual. EstÆ enfatizando a urgŒn- cia para reestruturar a economia global, construindo uma nova econo- mia uma economia projetada para a Terra. A Aceleraçªo da História O ritmo de mudança estÆ atingindo uma velocidade extraordinÆria movido, em parte, pelas inovaçıes tecnológicas. Bill Joy, co-fundador e cientista-chefe do Sun Microsystems, alertou num artigo do início de 2000, na revista Wired, que os avanços acelerados da robótica, genômica e nanotecnologia poderªo gerar problemas potencialmente ingovernÆveis. Sua preocupaçªo maior Ø que nossa dependŒncia cres- cente de computadores cada vez mais inteligentes irÆ, um dia, fazer com que eles nos dominem.51 A tecnologia em rÆpido desenvolvimento estÆ acelerando a história, dificultando seu manejo eficiente por parte das instituiçıes sociais. Isso tambØm ocorre com o crescimento populacional mundial sem precedentes, o crescimento econômico ainda maior e os choques cada vez mais freqüentes entre a economia em expansªo e os limites dos sistemas naturais do Planeta. O ritmo atual de mudança nªo tem pre- cedente. AtØ pouco tempo atrÆs, o crescimento populacional era tªo lento que pouca atençªo despertava. Mas, a partir de 1950, acrescentamos mais pessoas à populaçªo mundial do que durante os 4 milhıes de anos desde que nossos ancestrais se firmaram em duas pernas. A ex- pansªo econômica nas Øpocas antigas tambØm foi lenta. Como ilustra- çªo, o crescimento da economia mundial durante o ano 2000 ultrapas- sou o crescimento de todo o SØculo XIX.52 AtravØs de grande parte da história da humanidade, o crescimento populacional, o aumento da renda e o desenvolvimento de novas tecnologias foram tªo lentos que eram imperceptíveis durante o espa- ço de uma vida. Por exemplo, o aumento da produtividade do cultivo de grªos, de 1,1 tonelada por hectare em 1950 para 2,8 toneladas por hectare em 2000, supera o aumento de 11.000 anos, desde o início da agricultura atØ 1950.53 O crescimento populacional moderno nªo tem precedentes. Du- 21A Economia e a Terra rante a maior parte da nossa existŒncia como espØcie, nós Øramos me- didos em milhares. Hoje, somos medidos em bilhıes. Nossa evoluçªo nos preparou para lidar com muitas ameaças, porØm talvez nªo com a ameaça que criamos para nós mesmos com o crescimento descontro- lado de nossos próprios nœmeros. A economia mundial cresce ainda mais rapidamente. A produçªo global de bens e serviços aumentou sete vezes, desde 1950 minimizando tudo na história. Nos primórdios da Revoluçªo Industrial, a expansªo econômica mal excedia 1 ou 2% aoano. Países em desenvolvimento que estªo se industrializando hoje o fazem muito mais rapidamente que seus predecessores, simplesmente porque nªo precisam inventar as tecnologias necessÆrias a uma sociedade industrial moderna, como usi- nas elØtricas, automóveis e refrigeradores. Podem simplesmente usufruir a experiŒncia e tecnologia daqueles que os precederam.54 Instituiçıes financeiras mais sofisticadas permitem que sociedades mobilizem o capital necessÆrio para investimentos com maior facilida- de que no passado. Conseqüentemente, os países que se industrializa- ram com sucesso no final do SØculo XX o fizeram em ritmo recorde. O crescimento econômico nos países em desenvolvimento do Leste da `sia, por exemplo, registrou uma mØdia de quase 7% anuais desde 1990 muito maior do que as taxas de crescimento dos países indus- trializados em qualquer Øpoca de suas histórias.55 Em outro exemplo de mudança acelerada, a partir de 1974, cerca de 28 novas doenças infecciosas foram identificadas desde o HIV, que ceifou 22 milhıes de vidas, à nova variedade da doença de Creutzfeldt-Jakob, a forma humana da encefalopatia espongiforme bovina (doença da vaca louca), com quase 100 casos conhecidos. Alguns agentes sªo novos; outros, que foram localizados em regiıes remotas, estªo simplesmente se interligando ao resto mundo atravØs dos sistemas modernos de transportes.56 O ritmo da história tambØm estÆ se acelerando, quando as imensas demandas humanas se chocam com os limites naturais da Terra. Líderes políticos nacionais estªo se ocupando mais com as conseqüŒncias dos choques descritos acima pesqueiros em colapso, lençóis freÆticos em queda, carŒncia de alimentos e tempestades cada vez mais destrutivas juntamente com um fluxo internacional cada vez maior de refugiados ambientais e os muitos outros efeitos da ultrapassagem dos limites naturais. À medida que as mudanças aceleraram, a situaçªo evoluiu de 22 ECO-ECONOMIA uma etapa em que indivíduos e sociedades raramente mudam, para outra em que mudam continuamente. Mudam nªo apenas em resposta ao próprio crescimento, mas tambØm em resposta às conseqüŒncias do crescimento. A questªo crucial Ø se a mudança acelerada, que faz parte da nossa paisagem moderna, estÆ começando a exceder a capacidade das nossas instituiçıes sociais de lidarem com mudanças. Mudanças sªo particu- larmente difíceis para instituiçıes que lidam com questıes internacio- nais ou globais, o que, para terem sucesso, exige um esforço conjunto, cooperativo, de muitos países com culturas contrastantes. Por exem- plo, a sustentaçªo do pescado oceânico existente só poderÆ ser possí- vel se acordos forem realizados entre países quanto aos limites a serem estabelecidos para a pesca em pesqueiros oceânicos individuais. Mas, serÆ que governos, trabalhando juntos em nível global, poderªo se mexer com a rapidez necessÆria para estabilizar o clima antes que este con- turbe o progresso econômico? A questªo nªo Ø se sabemos o que precisa ser feito ou se temos a tecnologia para fazŒ-lo. A questªo Ø se nossas instituiçıes sociais serªo capazes de realizar a mudança no tempo disponível. Como H.G. Wells escreveu em The Outline of HistoryN T, A história humana se transfor- ma, mais e mais, numa corrida entre educaçªo e catÆstrofe.57 A Escolha: Reestruturar ou Decair Independente de estudarmos ou nªo a corrosªo ambiental das antigas civilizaçıes, ou de observarmos ou nªo como a adoçªo do modelo industrial do Ocidente pela China afetaria o ecossistema terrestre, Ø evidente que o modelo econômico industrial moderno nªo poderÆ sustentar o progresso econômico. Em nossos esforços imediatistas de sustentaçªo da economia global, como os estruturados hoje, estamos dilapidando o capital natural da Terra. Gastamos muito tempo nos preocupando com nossos dØficits econômicos, mas sªo os dØficits eco- lógicos que ameaçam nosso futuro econômico de longo prazo. Os dØficits econômicos sªo o que tomamos emprestados uns dos outros; os dØficits ecológicos sªo o que retiramos das geraçıes futuras.58 Herman Daly, o pioneiro intelectual da economia ecológica, um campo em rÆpido crescimento, observa que o mundo passou de uma NT Publicado em português, em 1961, sob o título O Contorno da História. 23A Economia e a Terra era em que o capital criado pelo homem representava o fator limitador do desenvolvimento econômico (um mundo vazio), para uma era em que capital natural, cada vez mais escasso, o substituiu (um mundo pleno). Quando nossos nœmeros eram pequenos em relaçªo ao ta- manho do Planeta, o capital criado pelo homem Ø que era escasso. O capital natural era abundante. Hoje, isso mudou. À medida que o em- preendimento humano continua a expandir, os produtos e serviços fornecidos pelo ecossistema da Terra sªo cada vez mais escassos, e o capital natural estÆ rapidamente se transformando no fator limitador, enquanto o capital criado pelo homem Ø cada vez mais abundante.59 A transformaçªo da nossa economia ambientalmente destrutiva para uma que possa sustentar o progresso dependerÆ de uma mudança copØrnica em nossa mentalidade econômica, um reconhecimento de que a economia Ø parte do ecossistema da Terra e só poderÆ susten- tar o progresso caso seja reestruturada de forma que seja compatível com ele. O desafio preeminente da nossa geraçªo Ø planejar uma eco- economia que respeite os princípios da ecologia. Uma economia re-pla- nejada pode ser integrada ao ecossistema, de forma que estabilize a rela- çªo entre os dois, permitindo que o progresso econômico continue. Infelizmente, a economia moderna nªo fornece o arcabouço conceitual necessÆrio para se construir essa economia. TerÆ que ser planejada com um conhecimento dos conceitos ecológicos bÆsicos, como produçªo sustentÆvel, capacidade de suporte, ciclos de nutrien- tes, ciclo hidrológico e o sistema climÆtico. Os planejadores tambØm deverªo saber que os sistemas naturais nªo apenas fornecem bens, mas tambØm serviços serviços que sªo freqüentemente mais valiosos que os bens. Sabemos o tipo de reestruturaçªo que serÆ necessÆrio. Em termos muito simples, nossa economia do descarte, baseada em combustíveis fósseis e centrada no automóvel, nªo Ø um modelo viÆvel para o mun- do. A alternativa Ø uma economia energØtica solar e de hidrogŒnio, um sistema de transportes urbanos que enfoque sistemas ferroviÆrios avan- çados e que dependa mais da bicicleta e menos do automóvel, e uma economia abrangente de reutilizaçªo e reciclagem. E precisaremos es- tabilizar a populaçªo o mais rapidamente possível. Como poderemos realizar esta transformaçªo econômica quando todos os tomadores de decisıes econômicas sejam líderes políticos, planejadores corporativos, banqueiros de investimento ou consumidores 24 ECO-ECONOMIA individuais sªo orientados por sinais do mercado e nªo pelos princí- pios da sustentabilidade ecológica? Como poderemos integrar a conscientizaçªo ecológica na tomada de decisıes econômicas? SerÆ que todos nós, que tomamos decisıes econômicas, podemos pensar como ecólogos, entender as conseqüŒncias ecológicas das nossas de- cisıes? A resposta provavelmente Ø nªo. Simplesmente, talvez nªo seja possível. Mas, poderÆ haver outra abordagem, uma forma mais simples de atingir nosso objetivo. Todos que tomam decisıes econômicas depen- dem de sinais do mercado para se orientarem. O problema Ø que o mercado freqüentemente nªo fala a verdade ecológica. Ele constante- mente barateia os produtos e serviços ao deixar de incorporar seus custos ambientais de fornecimento. Comparemos, por exemplo, o custo da eletricidade eólica com o custo de uma usina elØtrica a carvªo. O custo da eletricidade eólica reflete os custos da fabricaçªo da turbina, sua instalaçªo, manutençªo e fornecimento de energia aos consumidores. O custo da eletricidade a carvªo inclui a construçªo da usina, a mineraçªo do carvªo, transportepara a usina e distribuiçªo da eletricidade aos consumidores. O que deixa de incluir Ø o custo da perturbaçªo climÆtica causada pelas emis- sıes de carbono da queima do carvªo sªo mais tempestades destrutivas, calotas degelando, nível oceânico elevando-se ou ondas recordes de calor. TambØm nªo inclui o dano a lagos de Ægua doce e florestas, causado pela chuva Æcida, ou os custos de tratamento de doenças respiratórias causadas pela poluiçªo atmosfØrica. Assim, o preço de mercado da eletricidade a carvªo minimiza enormemente seu custo para a sociedade. Uma forma de remediar essa situaçªo seria reunir cientistas ambientais e economistas para que, juntos, calculassem o custo da per- turbaçªo climÆtica, chuva Æcida e poluiçªo atmosfØrica. Esse cÆlculo poderia entªo ser incorporado como um imposto sobre a eletricidade a carvªo, que, adicionado ao preço corrente, representaria o custo real do uso do carvªo. Esse procedimento, generalizado, significaria que todos os tomadores de decisıes econômicas governos e consumido- res individuais teriam a informaçªo necessÆria para tomarem deci- sıes mais inteligentes e ecologicamente responsÆveis. Podemos ver agora como reestruturar a economia global de forma que restaure a estabilidade entre a economia e o ecossistema sobre o 25A Economia e a Terra qual se fundamenta. Quando ajudei a criar o conceito de desenvolvi- mento econômico ambientalmente sustentÆvel, cerca de 27 anos atrÆs, no recØm-formado Worldwatch Institute, tinha uma idØia geral de como seria a nova economia. Hoje, podemos ver muito mais detalhes. Pode- remos construir uma eco-economia com as tecnologias existentes. Se- ria economicamente viÆvel se conseguíssemos que o mercado nos in- formasse o custo total dos produtos e serviços que compramos. A questªo nªo Ø quanto irÆ custar para realizar essa transformaçªo, e sim quanto custarÆ se falharmos. Øystein Dahle, Vice-Presidente aposentado da Esso (Noruega e Mar do Norte), observa: O socialis- mo ruiu porque nªo permitiu que os preços falassem a verdade econô- mica. O Capitalismo poderÆ ruir porque nªo permite que os preços falem a verdade ecológica.60 Este livro tem trŒs finalidades. A primeira Ø defender o princípio de que nªo temos alternativa senªo reestruturar a economia, se Ø que desejamos que o progresso econômico continue nas dØcadas futuras. A segunda Ø descrever nªo apenas a estrutura geral da eco-economia, mas tambØm alguns dos seus detalhes. E a terceira Ø traçar uma estra- tØgia para atingir este objetivo no tempo que temos disponível. A construçªo de uma eco-economia Ø empolgante e recompensadora. Significa podermos viver num mundo onde a ener- gia venha de turbinas eólicas, e nªo de minas de carvªo; onde as indœs- trias de reciclagem substituam indœstrias de mineraçªo; e onde as cida- des sejam planejadas para pessoas e nªo para carros. E, mais importan- te talvez, ter a satisfaçªo de construir uma economia para sustentar, e nªo solapar as geraçıes futuras. 26 ECO-ECONOMIA 27A Economia e a Terra I UM RELACIONAMENTO ESTRESSADO 28 ECO-ECONOMIA 29Sinais de Estresse: Clima e `gua 2 Sinais de Estresse: Clima e `gua Em 19 de agosto de 2000, o New York Times divulgou que um navio quebra-gelo de cruzeiro havia chegado ao Pólo Norte e constatado que esse famoso ponto gelado da Terra era agora mar aberto. Para uma geraçªo que cresceu lendo os relatos penosos de exploradores, como o americano Richard Byrd, tentando alcançar o Pólo Norte en- frentando frio intenso, gelo e neve, essa nova visªo parecia inconcebí- vel.1 Em suas muitas viagens anteriores ao Pólo Norte, o navio de cru- zeiro permitia o desembarque de passageiros para serem fotografados, de pØ, sobre o gelo. Nessa ocasiªo, o navio teve que seguir por vÆrios quilômetros atØ encontrar gelo espesso o suficiente para a sessªo de fotos. Caso os exploradores de um sØculo atrÆs explorassem o Pólo Norte no verªo de 2000, teriam que nadar os œltimos quilômetros. Reportagens da mídia sobre o degelo, caracteristicamente, enfocam geleiras específicas ou calotas, porØm o gelo estÆ se derretendo pratica- mente por toda parte. Considerando que os 14 anos mais quentes, desde que foram iniciados registros em 1866, ocorreram a partir de 1980, isso nªo deve causar surpresa.2 A escassez hídrica tambØm Ø manchete. Alguns dos grandes rios 30 ECO-ECONOMIA mundiais estªo secando, deixando de alcançar o mar. Entre eles estÆ o Colorado, o rio principal do sudoeste dos Estados Unidos. Na China, o Rio Amarelo, o mais ao norte entre os dois maiores do país, nªo chega mais ao mar durante certa Øpoca do ano. Na ` sia central, o Amu Darya às vezes nªo consegue atingir o Mar de Aral devido à drenagem a montante para irrigaçªo.3 Poços estªo secando em todos os continentes. À medida que a po- pulaçªo se expande e a renda aumenta, a demanda pela Ægua simples- mente suplanta a oferta em muitos países. Os mais ricos perfuram poços cada vez mais profundos, buscando Ægua solo adentro. Os que nªo dispıem de recursos para aprofundarem seus poços ficam em desvantagem. A tendŒncia Ø a situaçªo se tornar bem mais precÆria, uma vez que as 3.2 bilhıes de pessoas que serªo acrescentadas à populaçªo mundial atØ 2050 nascerªo em países que jÆ estªo enfrentando escassez hídrica. Com 40% dos alimentos mundiais produzidos em terras irrigadas, a escassez hídrica causa impacto diretamente à segurança alimentar. Se estivermos diante de um futuro de escassez hídrica, estamos tambØm diante de um futuro de escassez alimentar.4 Aumento da Temperatura Desde o início da agricultura, o clima da Terra tem se mantido extra- ordinariamente estÆvel. Hoje, a temperatura estÆ em elevaçªo devido aparentemente ao efeito estufa o aquecimento resultante do aumen- to da concentraçªo de gases retentores de calor, principalmente o dióxido de carbono (CO 2 ), na atmosfera. Esse aumento de concentraçªo do CO 2 tem duas origens: a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Anualmente, mais de 6 bilhıes de toneladas de carbono sªo liberadas na atmosfera com a queima de combustíveis fósseis. As estimativas da liberaçªo de carbo- no pelo desmatamento variam muito, mas se concentram em 1,5 bi- lhªo de toneladas/ano.5 A liberaçªo de CO 2 dessas duas fontes estÆ simplesmente suplan- tando a capacidade da natureza de fixar o dióxido de carbono. Quan- do a Revoluçªo Industrial iniciou, em 1760, as emissıes de carbono da queima de combustíveis fósseis eram insignificantes. Mas, jÆ em 1950, haviam atingido 1,6 bilhıes de toneladas anuais, um volume que jÆ incrementava os níveis atmosfØricos de CO 2 . Em 2000, totalizavam 31Sinais de Estresse: Clima e `gua 6,3 bilhıes de toneladas. (Vide Figura 2-1.) Esse aumento quÆdruplo, a partir de 1950, estÆ no cerne do efeito estufa que estÆ aquecendo a Terra.6 As emissıes de carbono de combustíveis fósseis específicos variam. A queima de carvªo libera mais carbono por unidade de energia pro- duzida do que o petróleo, e o petróleo mais do que o gÆs natural. A frota global de 532 milhıes de automóveis a gasolina juntamente com as milhares de usinas elØtricas a carvªo sªo literalmente as forças mo- trizes da mudança climÆtica.7 AlØm disso, nos œltimos anos, o mundo vem perdendo 9 milhıes de hectares de floresta por ano. As florestas armazenam, com facilidade, 20 vezes mais carbono por hectare do que a terra agrícola. Se parar- mos com a eliminaçªo de florestas, essa fonte de emissıes de carbono desaparecerÆ. No hemisfØrio norte, a Ærea florestal estÆ, na realidade, aumentando ao ritmo de 3,6 milhıes de hectares anuais. O grande desa- fio Ø conter e reverter o desmatamento nos países em desenvolvimento.8 No início da Revoluçªo Industrial em 1760, a concentraçªo atmos- fØrica de CO 2 era estimada em 280 partes por milhªo (ppm). Em 2000, havia atingido 370 ppm, um aumento de 32 %
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