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Ponto 2 . Forma e conteúdo das constituições. Classificações e critérios

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PONTO DOIS. Forma e conteúdo das Constituições: escritas e costumeiras, constituições rígidas e flexíveis. As cláusulas pétreas como supremacia de valores. As constituições outorgadas e as constituições populares, ou votadas. Constituições prolixas ou analíticas. Constituições dirigentes.
O quadro das Constituições no século XXI: constituições escritas, rígidas e populares.
Ao conteúdo das constituições corresponde a forma fixada pela época. As constituições escritas surgem como expressão de um pacto entre vencedores e vencidos, ou entre partes que chegaram a um acordo básico, para erigir o Estado liberal, a induzir a codificação do direito e a definição do sistema romano germânico, como expressão da definição do estado nacional unificado. Foram antecedidas pelas Declarações de Direitos.
 A forma escrita é meio de conhecimento para toda a nação, superando os costumes regionais e locais. Atualmente, quase todos os países têm constituições escritas, rígidas e populares. A exceção notável é a Inglaterra, que é baseada no common law. Constituição escrita e costume constitucional, constituição material e formal estão latentemente em contradição.
As constituições escritas foram precedidas, historicamente, por várias Declarações de Direitos, por exemplo: a Magna Carta, 1215, outorgada por João sem Terra; o Bill of Rights, de 13.2.1689, na Inglaterra; A Declaração de Direitos da Virgínia, de 16.6.1776, hoje EUA; A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em Paris, em 26.8.1789. Elas deram norte às constituições escritas, seu conteúdo ideológico, que em geral, se incorporou aos textos constitucionais: direito à vida, propriedade, liberdade, segurança, resistência à opressão, como direitos naturais do homem. As constituições escritas, por sua vez, antecedem o processo de codificação do direito privado e público que se dá a partir do século dezenove. Já no século XX, temos a primeira Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, sob os auspícios da ONU.
As classificações de constituição derivam das alternativas abertas pelo constitucionalismo liberal, pelas revoluções burguesas no século XVIII. Portanto, o critério é histórico e político.
Características das constituições escritas (conforme Jorge Miranda): a) intencionalidade na formação; b) consideração sistemática a se; c) força jurídica própria (que só se define e progressivamente, a partir do controle constitucionalidade, empiricamente).
 
Constituições populares – as constituições liberais passam a ser criadas por um corpo especial de representantes�, em convocação extraordinária, em geral chamado de Assembléia Nacional Constituinte (ou Convenção, como nos EUA) em nome da nação ou do povo, titular do poder constituinte. Resultam do princípio da democracia representativa, para uma constituição legítima�.
Constituições outorgadas - no entanto, na transição do absolutismo ao liberalismo, no século dezenove, reiteradas vezes houve outorga de constituições, por monarcas, sem consulta à população.� Era o meio de se legitimarem, manterem-se no poder e de evitar as revoluções políticas burguesas. No século vinte, as constituições outorgadas� ocorreram, mas representam sempre retrocesso.
As constituições escritas são tendencialmente rígidas�, para preservar sua supremacia e estabilidade, permitindo porém sua indispensável atualização: exigem um procedimento mais complexo e árduo para modificação – quorum, votação, e, às vezes, convocação especiais. É parte do problema da mudança constitucional. 
Atualmente contêm, em geral, cláusulas pétreas, que representam os valores mais considerados mais importantes pelo constituinte e que se expandiram durante o século vinte e não se confundem com os mecanismos de rigidez da Constituição escrita. Ex: art. 60, § 4.º da Constituição do Brasil.
Elas sucedem às constituições costumeiras, como ainda é o caso da Inglaterra. Nestas, as normas são expressas, em conjunto, pela prática reiterada dos parlamentares e dos membros do Governo, pela observação e transmissão oral, pelas decisões dos tribunais e, às vezes, da doutrina.
Constituições analíticas ou prolixas – correspondem às constituições do welfare state. São assim chamadas por terem expandido seu conteúdo, seu texto, com novas conteúdos e princípios, como os direitos sociais dos trabalhadores, a função social da propriedade, previdência e assistência social, educação, saúde, etc.
Constituições compromissórias – também correspondem às constituições do welfare state. Contêm normas e princípios potencialmente contraditórias, em equilíbrio, revelando concepções opostas ou distintas. Necessitam de ser harmonizadas por meio da interpretação.
Constituições dirigentes (p.ex. Portugal, 1976) – buscaram dirigir o estado para metas sociais a ser alcançadas.
No século XXI, as constituições têm em geral todas as características anteriormente apontadas. 
Leituras elementares:
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Estado de direito e constituição; 
Jorge Miranda - Textos históricos constitucionais.
Joaquim Gomes Canotilho, quanto à constituição dirigente e compromissória.
 
� Em sufrágio restrito censitário.
�Porém, freqüentemente, os mesmos que fazem a Constituição continuam como parlamentares, representantes ordinários. Tal problema se examinará na teoria do poder constituinte
� No Brasil, a primeira constituição, de 1824, foi outorgada por Pedro I.
� No Brasil, a de 1937,por Getúlio Vargas; até certo ponto, a de 1967.
� Ver a célebre obra de James Bryce, The American Commonwealth.

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