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Aula_2_ Meteorologia_Climatologia_UnB_2013_2

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 UNIVERSIDADE de BRASÍLIA 
138037 - Geografia Física 2: Meteorologia e Climatologia. 
 
RESPONSÁVEL: PROF. DR. FÁBIO CUNHA CONDE, DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA. 
Aula 2: Meteorologia e climatologia. Conceitos e fundamentos metodológicos. 
Tempo e Clima. 
 
NORMAIS CLIMATOLÓGICAS DO BRASIL, PERÍODO 1961-1990. 
Fundamentos das Normais Climatológicas 
Em 1872, o Comitê Meteorológico Internacional decidiu compilar valores médios 
climatológicos sobre um período uniforme, a fim de assegurar a compatibilidade entre 
os dados coletados em várias estações, resultando daí a recomendação para o cálculo 
das normais de 30 anos. A Regulamentação Técnica No. 49, Volume 1, Seção B, 
determinou que cada membro estabeleceria e, periodicamente, revisaria as Normais para 
as estações cujos dados climatológicos eram distribuídos pelo Sistema Global de 
Telecomunicações, de acordo com o Manual de Códigos, enviando-as ao Secretariado. 
O período inicial determinado foi 1901-1930, seguindo-se os períodos sucessivos que 
deveriam ocorrer a intervalos de 30 anos, isto é: 1931-1960 1961-1990. 
Em 1956, na Nota Técnica No. 84, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) 
recomendou a atualização das Normais de 30 anos, a cada 10 anos completos, o que 
vem sendo feito por muitos países membros. Contudo, pouca orientação existia, à 
época, no sentido de estabelecer métodos estatísticos para o cálculo das Normais, para 
preencher lacunas de dados, para trabalhar dados errados e períodos incompletos ou 
para definir o número de dados requeridos na distinção entre as Normais-Padrão e as 
Provisórias, lacunas que só mais tarde seriam preenchidas pela própria OMM. 
Em 1989, com o objetivo de estabelecer procedimentos gerais para o cálculo das 
médias mensais e anuais, para o período de 1961 a 1990 e subsequentes, a OMM 
publicou o Documento Técnico WMO-TD/No. 341 (OMM, 1989), que permite obter as 
NORMAIS CLIMATOLÓGICAS PADRONIZADAS e as PROVISÓRIAS, sugerindo 
ainda outras variáveis climáticas. Coerentemente, estabeleceu-se que tais procedimentos 
devam ser seguidos por todos os países membros. 
As Regulamentações Técnicas definem normais como “valores médios calculados 
para um período relativamente longo e uniforme, compreendendo no mínimo três 
décadas consecutivas” e padrões climatológicos normais como “médias de dados 
climatológicos calculadas para períodos consecutivos de 30 anos, iniciando-se em 1º de 
janeiro de 1901 até 31 de dezembro de 1930, 1º de janeiro de 1931 até 31 de dezembro 
de 1960, etc.”. No caso de estações para as quais a mais recente Normal Climatológica 
não esteja disponível, seja porque a estação não esteve em operação durante o período 
de 30 anos, seja por outra razão qualquer, Normais Provisórias podem ser calculadas. 
Normais Provisórias são médias de curto período, baseadas em observações que se 
estendam sobre um período mínimo de 10 anos. 
 
2 
Importância das Normais Climatológicas 
Segundo a própria OMM, os dados climáticos são frequentemente mais úteis quando 
comparados com valores normais padronizados, assim considerados aqueles obtidos 
segundo suas próprias recomendações técnicas. Torna-se, assim, de suma importância o 
cálculo e a publicação das Normais Climatológicas “Padronizadas”. Na ausência destas, 
por escassez ou má qualidade de dados, o uso das Normais “Simples” ou “Provisórias” 
são alternativas aceitáveis. Embora a Agroclimatologia seja a principal área técnica 
beneficiária das informações contidas nesta publicação, praticamente todas as atividades 
humanas dependem das informações climatológicas, do setor produtivo à saúde pública, 
das atividades esportivas ao lazer. 
Normais Climatológicas para o Brasil 
No Brasil, como as observações meteorológicas só começaram a ser realizadas, de 
forma sistemática, a partir de 1910, as primeiras Normais Climatológicas foram 
publicadas pelo Escritório de Meteorologia do Ministério da Agricultura, em 1970, 
correspondentes ao período 1931-1960. Tal publicação restringiu-se aos valores médios 
mensais e anuais das seguintes variáveis: pressão atmosférica, temperatura máxima, 
temperatura mínima, temperatura máxima absoluta, temperatura mínima absoluta, 
temperatura média, umidade relativa, nebulosidade, precipitação total, precipitação 
máxima em 24 horas, evaporação total e insolação total. 
Em 1992, o INMET, então denominado Departamento Nacional de Meteorologia do 
Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, publicou as Normais Climatológicas 
1961-1990, reunindo 209 estações meteorológicas e abrangendo o mesmo conjunto de 
variáveis das Normais 1931-1960. Em face dos limitados recursos computacionais 
disponíveis e da não existência, à época, de uma base de dados centralizada, esta 
iniciativa demandou esforço considerável de uma grande equipe de colaboradores. A 
publicação tem sido até hoje uma referência fundamental para os trabalhos relacionados 
aos estudos climáticos no Brasil. Não obstante, ao longo dos anos, uma série de erros e 
de inconsistências foi sendo registrada no âmbito da própria Instituição. 
No final do ano 2000, foi inaugurado, no INMET, o Sistema de Informações 
Meteorológicas (SIM), um banco de dados relacional de envergadura, que veio 
centralizar e organizar, eficientemente, o acervo de dados meteorológicos digitalizados, 
antes distribuídos entre a Sede e os 10 Distritos Meteorológicos da Instituição, 
localizados em 10 Estados distintos da Federação. Com a implantação do SIM, foram 
criadas as condições objetivas para uma revisão sistemática das Normais 1961-1990. A 
partir de 2006, decidiu-se combinar a publicação de 1992 com as Normais calculadas 
internamente e utilizadas para calibrar os modelo dinâmicos, produtos de climatologia e 
as médias climatológicas oferecidas pelo SIM, de forma a corrigir erros da publicação 
original e, ao mesmo tempo, ampliar, tanto quanto possível, o número de estações e o 
conjunto de variáveis de particular interesse para a Agricultura, como o número médio 
de dias chuvosos, em escalas mensal e decendial, e a frequência de dias consecutivos 
sem chuvas. 
As recomendações da OMM foram observadas sempre que possível, mas não ao 
ponto de se eliminar dados aparentemente de boa qualidade, particularmente no caso de 
variáveis ou regiões geográficas com baixa densidade de informações. A metodologia 
adotada para tal fim é descrita, nesta publicação, no capítulo Metodologia. Para cada 
variável, além de tabelas de dados, decidiu-se, ainda, acrescentar os respectivos mapas 
mensais e anuais. 
3 
Procedimentos de Cálculo 
Em geral, para se determinar as normais de uma variável 𝑋 para determinada 
estação meteorológica, computa-se inicialmente o valor 𝑋𝑖𝑗 correspondente a cada mês 𝑖 
e cada ano 𝑗 pertencente ao período de interesse – no caso, o período de 1961 a 1990. 
Em se tratando de variáveis associadas a valores diários, como temperatura, pressão 
atmosférica, umidade relativa do ar, nebulosidade e vento (Grupo I), o valor Xij é 
computado como: 
𝑋𝑖𝑗 =
∑ 𝑋𝑖𝑗𝑘𝑘
𝑁
 
onde 𝑋𝑖𝑗𝑘 é o valor observado da variável X no dia k, do mês i, do ano j, e N é o número 
de dias no mês i, do ano k, para os quais se dispõe de observações. A OMM recomenda 
que, nestes casos, se adote a “regra 3:5”, já discutida anteriormente, descartando-se os 
meses com ausência de dados em três ou mais dias consecutivos, ou cinco ou mais dias 
alternados. 
No caso de variáveis associadas a valores acumulados no período de interesse, como 
precipitação, evaporação e insolação (Grupo II), computa-se 𝑋𝑖𝑗 como o valor 
acumulado no mês i, do ano j, isto é, a soma de todos os valores diários disponíveis para 
aquele mês e aquele ano, ou seja: 
𝑋𝑖𝑗 = ∑ 𝑋𝑖𝑗𝑘
𝑘Nestes casos, a OMM recomenda que se considerem apenas Meses Completos, isto 
é, meses sem nenhum dado faltante. 
Um caso particular é o cômputo da precipitação decendial, para o primeiro, segundo 
ou terceiro decêndio de cada mês. O valor decendial é calculado pela soma dos valores 
diários para o decêndio em questão. Neste caso, a diretriz da OMM é que se 
considerem apenas Decêndios Completos, isto é, decêndios em que não se registrou 
nenhuma ausência de dado. 
Um terceiro grupo (Grupo III) corresponde a variáveis que representem eventos 
observados em um período de interesse, como o mês ou um determinado decêndio do 
mês. Exemplos são dias com chuva acima de determinado limiar, ou períodos com dias 
consecutivos sem chuva, no mês ou em um dado decêndio do mês. Nesses casos 𝑋𝑖𝑗 
corresponde ao total de observações registradas no mês i, do ano j. Por exemplo, se trata 
do número de dias com chuva maior ou igual a 1 mm no primeiro decêndio do mês, e se 
i corresponde ao mês de março e j ao ano 1975, então 𝑋𝑖𝑗 corresponderá ao número total 
de dias com chuva satisfazendo àquela condição durante os 10 primeiros dias do mês de 
março de 1975. Nestes casos, seguindo-se os procedimentos recomendados pela OMM, 
exige-se que o período de observação esteja completo. Para a média decendial, 
considerar-se-ão apenas os meses para cujo decêndio se disponha de dados de 
precipitação para todos os dias. Analogamente, se se trata de dias com chuva no mês, só 
se deve considerar o mês que possua dados de precipitação disponíveis em todos os 
dias. 
Para vaiáveis em quaisquer dos três grupos, a normal correspondente ao mês i será 
então computada como: 
𝑋𝑖 = ∑ 𝑋𝑖𝑗/𝑚𝑖
𝑗
 
onde 𝑚𝑖 é o número de anos para os quais se dispõe de valores 𝑋𝑖𝑗. 
Pela nomenclatura da OMM, se mi for igual a 30, iniciando-se em 1° de janeiro de 
1961 e terminando em 31 de dezembro de 1990, Xi será uma Normal-Padrão, ou 
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Padronizada. Se mi for inferior a 30, mas igual ou superior a 10, Xi será uma Normal 
Provisória. Caso mi seja inferior a 10, o valor Xi será descartado. 
A normal anual da variável X na estação meteorológica em análise, �̅�, é computada, 
no caso das variáveis do Grupo I, como a média dos 12 valores mensais 𝑋𝑖, i= 1, ...,12. 
Para as variáveis nos Grupos II e III, a normal anual �̅� será computada como a soma 
dos 12 valores mensais. Caso não se disponha de 𝑋𝑖 para algum dos doze meses do ano, 
o valor anual não será computado. 
 
Cômputo do valor diário 
 
As coletas de dados nas estações meteorológicas convencionais do INMET são 
realizadas nos horários de 12, 18 e 24 UTC1. Algumas estações, contudo, têm 
observações em apenas dois horários, normalmente, 12 e 24 UTC. 
Os valores diários 𝑋𝑖𝑗𝑘 utilizados nos cálculos acima descritos resultam dessas 
observações, conforme as regras resumidas a seguir. 
As temperaturas mínima e máxima diárias são registradas em termômetros especiais 
(termômetro de mínima e termômetro de máxima) e lidas pelo observador, usualmente, 
nos horários de 12 UTC e 24 UTC, respectivamente. 
A temperatura média compensada, utilizada nesta publicação, é calculada pela 
fórmula: 
𝑇𝑀𝐶,𝑖𝑗𝑘 = (𝑇𝑚𝑎𝑥,𝑖𝑗𝑘 + 𝑇 𝑚𝑖𝑛,𝑖𝑗𝑘 + 𝑇12,𝑖𝑗𝑘 + 2𝑇24,𝑖𝑗𝑘) 5⁄ 
No cômputo do valor diário da umidade relativa do ar, o INMET utiliza, também, o 
valor de média compensada, dado por: 
𝑈𝑅𝐶,𝑖𝑗𝑘 = (𝑈𝑅12,𝑖𝑗𝑘 + 𝑈𝑅18,𝑖𝑗𝑘 + 2𝑈𝑅24,𝑖𝑗𝑘) 4⁄ 
Para as demais variáveis do Grupo I, a saber, pressão atmosférica, nebulosidade, 
direção e intensidade do vento, o valor diário é calculado pela média aritmética simples 
dos valores registrados nos três horários de observação. No cômputo desses valores 
diários, bem como no cômputo da temperatura média compensada e da umidade relativa 
do ar compensada, a falta de uma das parcelas implica na ausência de valor diário. 
 
Como usar as Normais Climatológicas 
 
Todos os estudos climáticos são baseados nas observações meteorológicas. Portanto, 
as variáveis ambientais apresentadas nesta publicação são baseadas nas observações 
realizadas, diariamente, às 12, 18 e 24 UTC, na Rede de Observações de Superfície do 
INMET, com as limitações quantitativas e qualitativas discutidas na metodologia. 
A Figura 1 mostra a variação média mensal da pressão atmosférica no nível do 
barômetro, para as localidades de Belém-PA e Florianópolis-SC, observando-se maior 
amplitude barométrica em Florianópolis, em contraste com Belém. Tal situação, 
decorrente da diferença de latitude entre as duas localidades, explica em parte as 
diferenças do tempo meteorológico e do clima entre as duas cidades. 
 
 
1 UTC é o acrônimo em inglês para Tempo Universal Coordenado, o fuso horário de referência a partir 
do qual se calculam todas as outras zonas horárias do mundo. É o sucessor do Tempo Médio de 
Greenwich, abreviado por GMT. 
5 
 
Figura 1. Comparação das normais climatológicas da pressão atmosférica no nível do 
barômetro, para Belém-PA e Florianópolis-SC. 
 
De forma análoga, pode-se analisar a temperatura média para localidades situadas 
em diferentes latitudes, como se vê na Figura 2 para Porto Alegre, Belo Horizonte e 
Macapá. Constata-se, também aqui, a influência do fator latitude na marcha mensal da 
temperatura, com amplitudes decrescentes do sul para o norte do Brasil. Enquanto em 
Macapá, no extremo norte do País, as temperaturas médias mensais pouco oscilam, 
mantendo-se valores médios elevados ao longo do ano, em Porto Alegre, no sul do 
Brasil, observa-se uma expressiva variação do verão para o inverno. Belo Horizonte, 
situada em latitude intermediária, apresenta-se entre os dois extremos, com verões e 
invernos mais suaves. 
 
 
Figura 2. Comparação entre as normais climatológicas da temperatura média compensada 
para Belo Horizonte-MG, Macapá-AP e Porto Alegre-PO. 
 
6 
As figuras que seguem mostram outras combinações entre localidades distintas, para 
um mesmo elemento climático e, entre diferentes elementos climáticos, para a mesma 
localidade. A Figura 3 ilustra a diferença marcante entre os regimes pluviais de duas 
localidades situadas em latitudes próximas, mas distantes entre si quanto ao fator 
climático continentalidade. Enquanto Salvador, situada no litoral, mostra chuva 
acumulada anual superior, com máximas precipitações no outono e início do inverno, 
Cuiabá, localidade continental da região Centro-oeste, apresenta chuvas mais escassas, 
com máximos no final da primavera e ao longo do verão. Por outro lado, a Figura 4, 
para Brasília, mostra uma defasagem de quase 180 graus entre as curvas da umidade 
relativa do ar e da evaporação. O verão úmido, com médias mensais de umidade em 
torno de 75%, limita a evaporação a aproximadamente 100 mm mensais, contrastando 
com o inverno seco, próximo de 50%, e elevadas taxas de evaporação, que se 
aproximam de 300 mm mensais. 
 
 
Figura 3. Comparação entre as normais climatológicas da precipitação acumulada mensal 
para Salvador-BA e Cuiabá-MT. 
Comparando as Normais Climatológicas 1931-1960, publicadas pelo INMET, então 
Escritório de Meteorologia do Ministério da Agricultura, em 1970, com as Normais 
Climatológicas 1961-1990, pode-se ter uma idéia da variabilidade climática entre os 
dois períodos, como se vê nas Figuras 5 e 6. Enquanto o regime se manteve e o total das 
chuvas pouco alterou, Figura 5, as temperaturas sofreram um aumento de, 
aproximadamente, 2°C ao longo do ano, Figura 6, o que não deve ser interpretado de 
pronto como eventual mudança climática associada ao aquecimento global, sendo mais 
provável tratar-se de efeitos da urbanização, hipótese que exigirá estudosmais 
detalhados. 
 
7 
 
Figura 4. Comparação entre as normais climatológicas de evaporação e umidade relativa 
do ar para Brasília-DF. 
 
Figura 5. Comparação entre as normais climatológicas dos períodos 1961-1990 e 1931-
1960 para a precipitação acumulada mensal de Manaus. 
 
8 
 
Figura 6. Comparação entre as normais climatológicas dos períodos 1961-1990 e 1931-
1960 para a temperatura média de Goiânia. 
 
O conhecimento da média histórica ou Normal Climatológica é essencial para a 
aplicação do conceito de “desvio” ou “anomalia” de uma variável, diuturnamente 
empregado em meteorologia para significar a diferença entre o valor observado e a 
normal climatológica correspondente. 
As Figuras 7 e 8 ilustram a utilização deste conceito. A primeira mostra o mapa do 
desvio da precipitação acumulada para o mês de julho de 2009, para todo o Brasil, 
destacando-se, a título de exemplo, que neste mês de julho as chuvas observadas 
situaram-se bem acima da Normal Climatológica (anomalias positivas) no Estado do 
Paraná, sudeste de São Paulo e nordeste de Santa Catarina, com menores anomalias em 
Mato Grosso do Sul, em contraste com anomalias negativas em quase todo o Rio 
Grande do Sul. 
A Figura 8 mostra, para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, as 
anomalias de chuvas previstas para o mês de outubro de 2009 e as isoietas 
correspondentes à Normal Climatológica para o mesmo mês. Como as anomalias 
previstas eram todas positivas, obviamente, os acumulados totais esperados resultariam 
da soma dos valores normais e das anomalias previstas. 
 
9 
 
Figura 7. Desvio da chuva acumulada mensal, observada, em relação à Normal 
Climatológica 1961-1990, para o mês de julho de 2009, no Brasil. 
 
Figura 8. Desvio (anomalia) da precipitação acumulada mensal, prevista, em relação à 
Normal Climatológica 1961-1990 (isoietas), para o mês de outubro de 2009, no Rio 
Grande do Sul. Fonte: 8º DISME/INMET e CPPMet/ UFPel) 
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Segue-se um exemplo de informação climatológica indireta, obtida a partir das 
tabelas das Normais Climatológicas 1961-1990, de grande interesse para finalidades 
socioeconômicas, particularmente para a agricultura. Extraindo-se os dados de 
temperaturas e chuvas médias mensais, para a localidade de Rio Verde-GO, e valendo-
se do Método de Thornthwaite e Matter (l948 e 1955), podem-se estimar os termos do 
Balanço Hídrico Climatológico para o período 1961-1990, construindo-se, em seguida, 
os gráficos apresentados nas Figuras 9 e 10, a seguir. 
Na Figura 9 são observadas as componentes do Balanço Hídrico Climatológico para 
a localidade de Rio Verde-GO, com excedentes hídricos ao longo da estação chuvosa, 
de novembro a abril e, déficits hídricos, de maio a setembro. Completando o balanço, 
observam-se as retiradas e as reposições de água no solo, antecedendo e sucedendo, 
respectivamente, o período seco. 
 
Figura 9. Balanço hídrico climatológico baseado nas normais 1961-1990, para a 
localidade de Rio Verde-GO 
 
A Figura 10 mostra o limite superior do conteúdo de água no solo, 100 mm, e a 
curva representativa da disponibilidade hídrica no solo, de abril a novembro, período de 
deficiência hídrica, com consequências negativas para as culturas submetidas ao 
estresse hídrico, atingindo o máximo no início de setembro, mês de transição da estação 
seca para a chuvosa, naquela localidade. 
Tais gráficos devem ser construídos a partir de uma tabela que expressa, 
quantitativamente, todas as componentes do Balanço. 
Na escala decendial, a maior relevância recai sobre as aplicações agrícolas, em 
especial, na escolha de culturas e de práticas agrícolas mais adequadas para uma região. 
A comparação entre o tempo real monitorado e os valores decendiais médios permitirá 
identificar condições favoráveis ou anômalas para as práticas agrícolas, de resto, 
aplicável também a quaisquer outras atividades produtivas ou sociais. Em especial, o 
Balanço Hídrico Decendial é uma ferramenta essencial no monitoramente agrícola, com 
destaque para o cálculo do déficit hídrico e da evapotranspiração, potencial e real, 
parâmetros que permitem quantificar o nível de estresse hídrico a que se acha submetida 
uma cultura, bem como estimar índices de aridez e quebras de produtividade. O 
11 
monitoramento da temperatura de per si é também de grande importância em todas as 
fases fenológicas da cultura, sendo fator crítico em alguns processos como, por 
exemplo, no abortamento de flores da cultura do café, quando os limites térmicos de 
tolerância da planta são superados naquela fase fenológica. 
 
Figura 10. Armazenamento de água no solo baseado nas normais 1961-1990, para a 
localidade de Rio Verde-GO. 
 
Considerando a representatividade regional de cada estação meteorológica, a análise 
criteriosa dos valores mensais e decendiais normais é de grande valia na escolha de 
variedades mais adequadas para a região, na melhor época de semeadura, no manejo e 
nas práticas culturais, bem como nas atividades de colheita e de processamento de 
safras, sem embargo para quaisquer outras aplicações técnico-científicas e 
socioeconômicas. 
A estatística do número de dias chuvosos e secos e dos intervalos consecutivos secos 
são informações úteis para muitas atividades, desde a estimativa de dias trabalháveis 
com máquinas no campo até a quantificação de veranicos ou períodos de invernadas, 
informações relevantes na agricultura, na pecuária, na vida urbana e em tantas outras 
atividades humanas. 
O financiamento de safras agrícolas e as atividades securitárias em geral são 
altamente dependentes do conhecimento das condições climáticas, em especial dos 
eventos extremos, que podem ser identificados pela comparação das condições 
meteorológicas rotineiramente observadas e as médias anuais, mensais e decendiais. 
Sob outro enfoque, os mapas apresentados após as respectivas tabelas conduzem à 
visualização espacial das informações climatológicas, permitindo análises panorâmicas, 
instrumentos úteis para a tomada de decisões por parte das autoridades e dos 
planejadores e executores das atividades agrosilvipastoris, dentre tantas outras. O mapa 
da Figura 11, por exemplo, mostra as chuvas acumuladas anuais normalmente esperadas 
para todo o Brasil. Se determinada cultura exige chuvas anuais acumuladas superiores a 
1500 mm, por exemplo, então um agricultor de Minas Gerais somente poderá cultivá-la 
em algumas áreas do Sul e do Triângulo Mineiro, onde tais montantes são normalmente 
atingidos. É óbvio que outras exigências climáticas devem ser também analisadas, 
12 
principalmente a temperatura. Esta é, aliás, uma análise básica nos zoneamentos 
agrícolas. 
 
 
Figura 11. Normal climatológica da precipitação anual para o período 1961-1990. 
 
 
13 
Figura 12. Previsão probabilística sazonal da precipitação acumulada no trimestre de 
janeiro a março de 2009. 
 
 
Figura 13. Média histórica da precipitação acumulada no período de janeiro a março 
(Referência: Normais 1961-1990) 
O prognóstico climático sazonal ilustra outra importante aplicação dos mapas 
climatológicos trimestrais, que podem ser obtidos a partir da soma dos valores das 
Normais dos meses abrangidos. Como tais prognósticos são, em geral, expressos em 
termos de probabilidades de ocorrência de valores acima, abaixo ou dentro da média 
climatológica, o mapa com a média histórica do período em análise complementa a 
informação do prognóstico, permitindo avaliar, imediata e quantitativamente, o valor do 
parâmetro previsto em qualquer região de interesse, com a respectiva probabilidade de 
ocorrência. As Figuras 12 e 13 ilustram esta observaçãopara o período de janeiro a 
março de 2009. 
A Figura 12 apresenta a previsão elaborada pelo INMET, em dezembro de 2008, 
para o trimestre de janeiro a março de 2009. Indica, por exemplo, uma maior 
probabilidade de ocorrência de chuva acima da média no sudeste de Minas Gerais, 
grande parte de São Paulo e norte do Paraná. 
Consultando o mapa climatológico da Figura 13, o usuário verifica que a chuva 
média, para esse período varia, na região em foco, de 450 a 650 milímetros, segundo as 
normais climatológicas 1961-1990. 
Assim, o prognóstico estaria indicando que, provavelmente, a chuva nessas regiões 
iria situar-se acima deste patamar, no primeiro trimestre de 2009, o que de fato ocorreu 
conforme verificação posterior, ou seja, naquele trimestre, foram registradas anomalias 
14 
positivas na região, variando de 100 até 400 mm de chuva acumulada2, evidenciando a 
relevância da informação para atividades agrícolas e para a defesa civil, dentre outros 
beneficiários. 
Concluindo, é possível afirmar que incontáveis análises podem ser realizadas a partir 
de tabelas e mapas das Normais Climatológicas, dependendo apenas das necessidades 
da pesquisa e da imaginação dos pesquisadores. 
 
Referências Bibliográficas 
ORGANIZAÇÃO METEOROLÓGICA MUNDIAL. Calculation of monthly and 
annual 30-year standard normals. Geneva, 1989. (WMO. Technical document, n. 
341; WCDP, n.10). 
SUGAHARA, S. et al. An assessment of the quality of Brazilian meteorological 
observations. Artigo submetido ao Journal of Climate, 2005. Não publicado. 
THORNTHWAITE, C. W. An approach toward a rational classification of climate. 
Geographical Review, New York, v. 38, p. 55-94, 1948. 
THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. The water balance. Centerton: Drexel 
Institute of Technology/ Laboratory of Climatology, 1955. 104 p. (Publications in 
climatology, v. VIII, n. 1). 
 
 
2Informação disponível no sítio do INMET, www.inmet.gov.br, em Clima> Anomalias de Precipitação> 
Desvio de Chuva Trimestral.

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