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I. Arquivo Da liberdade dos antigo6 comparada à dos modernos Benjamin Constant Senhores, Proponho-me submeter a vosso julgamento algumas distinções, ainda bastante novas, entre duas formas de liberdade, cujas diferenças até hoje não foram percebidas ou que, pelo menos, foram muito pouco observadas. Uma é a liberdade cujo exercício era tão caro aos povos antigos; a outra, aquela cujo uso é particularmente útil para as naçws modernas. Esta análise será interes- sante, salvo engano, sob um duplo aspecto. Primeiro, a confusão destas duas espécies de liberdade foi, entre nós, durante épocas por demais conhecidas de nossa revolução, a causa de muitos males. A França viu-se molestada por experiências inúteis cujos autores, irri- tados pelo pouco êxito que alcançaram, tentaram forçá-la a usufruir de um bem que ela não desejava e contestaram-lhe o bem que ela queria. Em segundo lugar, levados por nossa feliz revolução (eu a chamo feliz, apesar de seus excessos, porque atento para seus resultados) a desfrutar os benefícios de um governo representativo, é interessante e útil saber por que este governo, o único sob o qual podemos hoje encontrar alguma liberdade e tranqüilidade, foi inteiramente desconhecido para as nações livres da antigui- dade. Sei que pretendeu-se descobrir marcas desse governo em alguns povos antigos, na república da Lacedemônia por exemplo, e em nossos ancestrais, os gauleses; mas é um engano. O governo da Lacedemonia era uma aristocracia monacal, de modo ne- nhum um governo representativo. O poder dos reis era limitado, mas o era pe- los Éforos, e não por homens investidos de uma missão semelhante à que a eleição confere em nossos dias aos defensores de nossas liberdades. Sem dúvi- da, os Éforos, depois de terem sido instituídos pelos reis, foram nomeados pe- lo povo. Mas eram apenas cinco. Sua autoridade era religiosa tanto quanto po- lítica; participavam do próprio governo, quer dizer, do poder executivo; por isso, sua prerrogativa, como a de quase todos os magistrados populares nas an- tigas repúblicas, longe de ser simplesmente uma barreira contra a tirania, tor- nava-se, às vezes, ela própria uma tirania insuportável. O regime dos gauleses, que se parecia bastante com aquele que um certo 1 partido desejaria nos devolver, era ao mesmo tempo teocrático e guerreiro. Os I padres gozavam de um poder sem limites. A classe militar, ou a nobreza, pos- 1 suía privilégios insolentes e opressivos. O povo não tinha direitos nem garan- tias. Em Roma, os tribunos tinham até certo ponto uma missão representati- va. Eles eram os porta-vozes dos plebeus que a oligarquia, que é a mesma em todos os séculos, havia submetido, derrubando os reis, a uma escravidão durís- sima. No entanto, o povo exercia diretamente uma grande parte dos direitos políticos. Ele se reunia para votar as leis, para julgar os patrícios acusados de delito: só havia, portanto, em Roma, fracos traços do sistema representativo. Este sistema é uma descoberta dos modernos e vós vereis, Senhores, que a condiçao da espécie humana na antiguidade não permitia que uma institui- I $80 desta natureza ali se introduzisse ou instalasse. Os povos antigos não po- diam nem sentir a necessidade nem apreciar as vantagens desse sistema. A or- I ganização social desses povos os levava a desejar uma liberdade bem diferente da que este sistema nos assegura. É a demonstrar-vos esta verdade que a leitura desta noite será consagra- \ da. I Perguntai-vos primeiro, S e n h o ~ s . o aue em nossos dias um inglês, um frances, um habitante dos Estados Unidos da América entendem pela palavra liberdade. É para cada um o direito de não se submeter senão às leis, de não poder ser preso, nem detido, nem condenado, nem maltratado de nenhuma maneira, pelo efeito da vontade arbitrária de um ou de vários indivíduos. É para cada um o direito de dizer sua opinião, de escolher seu trabalho e de exercê-lo; de dispor de sua propriedade, até de abusar dela; de ir e vir, sem necessitar de permissão e sem ter que prestar conta de seus motivos ou de seus passos. É pa- 1 ra cada um o direito de reunir-se a outros indivíduos, seja para discutir sobre seus interesses, seja para professar o culto que ele e seus associados preferi- / rem, seja simplesmente para preencher seus dias e suas horas de maneira mais condizente com suas inclinações, com suas fantasias. Enfim, é o direito, para cada um, de influir sobre a administração do governo, seja pela nomeação de I I L ções, às quais a autoridade é mais ou menos obrigada a levar em consideração. Comparai agora a esta a liberdade dos antigos. Esta Última consistia em exercer c01etiva~ma~ diretapente, várias partes da soberania inteira, em deliberar na praça pública sobre a guerg e-apaz, em concluir com os estrangeiros tratados de aliança, em votar as leis, em pronun- ciar julgamentos, em examinar as contas, os atos, a gestão dos magistrados; em fazê-los comparecer diante de todo um povo, em acusá-los de delitos, em condená-los ou em absolvê-los; mas, ao mesmo tempo que consistia nisso o que os antigos chamavam liberdade, eles admitiam, como compatível com ela, completa do indivíduo à autoridade do todo. Não encontrareis tre eles quase nenhum dos privilégios que vemos fazer parte da liberdade Todas as acões privadas estão suieitas a s&era vigilân_cia. Nada é concedido à independência individual. nem me-ere à religião. A faculdade de escolher seu culto, faculdade que consideramos como um de nossos mais preciosos direitos, teria parecido um crime e um sacrilégio para os antigos. Nas coisas que nos parecem mais insignificantes, a autoridade do corpo social interpunha-se e restringia a vontade dos indivíduos. Em Espar- ta, Terpandro não pode acrescentar uma corda à sua lira sem ofender os Éfo- ros. Mesmo nas relações domésticas a autoridade intervinha. O jovem lacede- mônio não pode livremente visitar sua jovem esposa. Em Roma, os censores vigiam até no interior das famílias. As leis regulamentavam os costumes e, co- mo tudo dependia dos costumes, não havia nada que as leis não regularnentas- sem. . / J w m , entre OS antigos, o indivíduo, quase semqre ssberano nas q u e s - b tões públicas, é escravo em todos seus assuntos privados. Como cidadão, ele decide sobre a paz e a guerra; como particular, permanece limigd~~observa- do, reprimido em todos seus movimentos;~omo porcão do corpo coletivo, ele inter~oga, destitui, con-dena, despoja, exila, ginge mortalmente seus magistra- dos ou seus superio~es; como sujeito ao core0 coletivo, ele pode, por sua vez, ser privado &sua posicão, despojado de suas honrarias, b-inido, condenado, pela vontade arbitrária do todo a c q u g pertence. Entre os modernos, ao contrário, o indivíduo, independente na vida pri- vada, mesmo nos Estados mais livres, só é soberano em aparência. Sua sobera- nia é restrita, quase sempre interrompida; e, se, em épocas determinadas, mas raras, durante as quais ainda é cercado de precauções e impedimentos, ele exerce essa soberania, é sempre para abdicar a ela. Devo aqui, Senhores, deter-me um instante para prevenir uma objeção que me poderia ser feita. Há na antiguidade uma república na qual a escraviza- ção da existência individual ao corpo coletivo não é tão completa como acabo de descrevê-la. Esta república é a mais célebre de todas; podeis deduzir que dbr. main 4pe:mbimm.dm quab a lei mgulwfasrnolas e -as*- AWUWSd - $ubd.Mo c--a os belos s h i q da r-m- dmie-, g q m BOp- 8nTmbar, nmb aparenta I& qire mii~lhqgmtto aa- ~ ~ ~ e a d a p c m f o a n a v a u m a ~ a ~ ~ ~ a 8 S a ~ ~ f a mil&+ uma massa I hmm exi~te~qpmrnb dlfeirantm.namd, sab climsm -- va db- &ter por acordo amo que nãn @-deseja ma98 wiaquhtar pela vtoh- d a . ~ h ~ q u e fasesempre omisfartenuma~riaaIdblõdo~am82-do. a apeMnda - pmvando que a guerra, isto d, o emprego da f q a ron- I , dois flbh,, que próprius Mo. ~ ~ ~ ~ ~ d a d a : o a i w dwrnrdifl- -'h, -O, ,-M a r$vauii*d p o n m -, ~ w w a t w t u w em minha a h lMtd,-i ~h,-jurlma m.-w I iim- gmds, h-m. Quandm o awm me íaz apmntsmnt~~~cme~rdar wnn- 8 eh::em ,mn- bnieo ponto, b& da mim -:-er pata consolar-me de -,,p um btanb, L sua opinião, mim uma única B pardal guwtiTo, _ w ~ * @ ~ d a s - ~ , - w - p r i ~ a ~ w , pQulo,@wi d a s a o w . d r q d d . r d e p c i r ~ . O ~ P o a f e i t 0 1 1 1 - bszdade sm myos dias, anWdaen=dpqSo daFmup,eratambémopom mafs afeitoatodos os pwem d a v i d a ; e q ~ s u * l i b s r d a d e ~ I gom via nelaa garantia das maaerep que mema. &Ummente, ondm havia liberdade, podia* wiportsr.~ pd-; m a , ondPhspnvaFggo,d p m h a ~ d ã o p a r a q u e ~ m w ~ a a e l a ~ m a i s f 8 d l h o j e b r m p ~ ~ i o & e s p a t t m a a d o q w e d n c a r ~ p m a ~ d & . Ou homeas que foram Bwados psfa onda dos mntedmmtos a lidwar riam rev&@o s s h m q em cons%qWcb da 4wçiTo cpishaviam~~~~M&, ~ p ó r t o ~ r e a l e e * A ~ d a ~ , a o i n ~ d a q u s r ~ i a u l 1 ~ , ~ ~ ~ ~ , m ~ m I ~ e ~ d e u m a ~ ~ ~ a ~ O l l & b l j r , m a i n t ~ s s u W i o a t o d m s s ~ ~ 1 ~ d o e ~ ~ ~ ~ . d a e s f o ~ e d e m u ~ ~ h s r ó f - I ~ q w a a e ~ ~ 8 o . B q u s 0 p e d a r s g C i a f f s p 9 a a n ~ o d o e o s ~ d o s I ~h&pd&hclaWssm,oontsdo,eJ$sa-.Am n ã o ~ v a q u e i p n a ~ i d o a l a m i i m a m b e r a n i a ~ a E a ~ ~ s a c r l f i - dwqw iht p a d b . E m v l l r i r e p e n i a m 4 h e c o m ~ u : s s l o i s d a i í b ~ 38EOmnwzwr~a~&qit~dduK)oJup~tir8110s.Ela~aceitava cssag kds austtraa e, em mu boontenhmento, psnasia L vezas que o jugo &s Umm ssria preferivei. A ~~ a dempmou. B1ii viu qw a arbitra- dsdrdsbhamsnsaapiorahdaqwas*W.kiuiIshtamWmds- - t .: ' nãoserpataobterdebosmdmp- *eã d t a m dela oslaagm ca* que- seguir. A r e i i a amMm &r D&Wnw da unidade de d d h d nses que sacdbmm W t m por admir@o par certai femhísc8ii- que rios dhtiquem da antiguidade conseqüências t p m enfragumcer, d a relpilfa que B l f f h 'que deseja renunciar; d a Tibarda- formas de liirdade politica. Os govsr. fôm h-olnão tlaham anttgamente, o direito de atribuir-se um h o . bwãprsrrwi que brotam de fonte Isgltima t8m ainda me- a 8 & m w o direito de exercer sobre os IndIviduos uma supre. ~ ~ ~ ' ~ ~ , ~ , n ~ 0 w ~ a m o s . S o r ~ t o ~ ~ ~ ~ u m ~ :gg?4W!bd~-~ali-@~ ~ @ m l i n r f f ~ b ~ & J b&& ~Irtjca? Rsnumh a ela, Wihores, seria lauaya . @ ~ ~ i ~ b @ ~ ~ ~ f t a r m ~ a a d g r , p W tiu@sqbre.aaDeia um aáüid'a m fua&ç&s. Dè A, Senhór#, mr8 memo =rãde que s fclkidaâe, d8 s + @ & q w & . ~ o e r , ~ o ~ ~ d o ~ - ~ ? sá?t, @kbmw mip muito emita e dafno m4tu pouw IW w p m y e pmCmb - cam- ~ b m w + e mc f4.b. W, W bmp as.pw~@nW, mkè ed@e e la i40aeqWe ds&udQde iot4 ~ w f @ a d 6 d a e o p & t r d e ~ r ú i p o w ~ - I As&, vede oom~ uma crema mm a primeira instituigüo qw'l dmlw o e m i d o miar da Uba&âe poli- Vede nosas eid&qs l d 4 a s a ~ c h w s , Q t o ~ ~ ~ , ~ & d o ~ h ~ & ~ l ~ ~ ~ t r % ~ ~ lu&, de ma indhtriri privada, encontrar* & repente ao nivel das fua@ @pMWtes que a cwwi4@a fie oúa&a, ~ l h e r e m dis*eahmw, #h&rn m, &&I it -,a& a ~ 9 , miah '&-O. Vede o pakiotiemo pm, pr&m& e shwm triunfando em dai ~ ~ a t d ~ ~ , ~ ~ d o n ~ ~ , ~ &-a- cãmpos, impqmdo do mümento de nossa d k b e dpd cwsWi de -tias o espirito @to e do muitordüi e do nega& h&II>.qw, oonheoedores atravda da W i a âos males que sufmramn, 9 d ~ d . n d d a i a a b r s a r ~ ~ i s a a l n u l a i s l d a s m , a b n o a n n ~ 1- a* r Fraga inttoince, tüstdbuidoror do rccalihscimento nacion~l,re* W@&Wltie ddadm h d PQ dmL nWd, tmplata quinddqen~ tmari 6- tsin- sstâ mwtmte; ainda miti muita &&a &r. a &a#o mot't dg d&&s, R#- &QS:JW&~~~, prmte&endo wi i n h m ~ , MO pertiir- yb, &aAPn,no entanto, consagrar r Mtr&i&,d9111 mbr& a w w a $&ici$w*do wexy:fdo~do poder, ma& der de&- @mt@Ik adbito ds controle s d e l ~ o i a pafarnaW&- b ~ a . , prepmridbwr ím&+ *Ia prPW, patrl bg~ri J&$IWW ~ o . f r n p a O desejo e iflCYl&de de bxatttá- doi wmUiid#s de B m i n Cunstant , ormimdo par YB~L. ae+b u W t e C& des Marlgnrgs . (u Uvre de m e , ,CI)I~BC- 3 iYSr- .--h A 1-1 - I plr~irn*rrri bj,kl,~ IPY t-
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