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JUSTIÇA, DIREITO E IDEOLOGIA: DO PRINCÍPIO IDEALIZADO À 
CONCRETUDE DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL 
Jeferson Fernando Celos1 
 
Resumo 
O presente trabalho pretende demonstrar que as concepções de justiça e Direito não são 
neutras, estáticas e distanciadas da realidade histórica na qual são construídas. Ademais, essas 
expressões podem desempenhar uma função paradoxal, conforme atuem na perspectiva da 
manutenção do status quo ou enquanto instrumento de transformação social. Enquanto 
instrumentos de conservação/manutenção desempenham papel ideológico de mascaramento 
da dominação política e exploração econômica. Enquanto instrumento de transformação 
social, a partir de uma abordagem crítico-dialética, colocam-se na base material da sociedade, 
caminhando junto com os movimentos sociais e demais segmentos populares historicamente 
excluídos, objetivando a libertação e emancipação humanas. 
 
Palavras-chaves: Direito – Justiça – Ideologia – Luta de classes – Transformação social – 
Libertação. 
Introdução 
Por longos séculos, a palavra justiça vem suscitando uma série de estudos, 
questionamentos, discussões das mais variadas espécies e sob os mais diversos ângulos de 
análise. Em suas muitas acepções, já assumiu as formas de atributo derivado da divindade, 
ideal absoluto e eterno, direito natural; chegando-se ao ponto de ser banida do direito por uma 
determinada corrente positivista, que a relegava a outras ciências mais específicas, como a 
filosofia por exemplo. 
Outro aspecto que segundo várias opiniões dificultaria a apreciação do tema justiça, é o 
de que é um tema marcado pelo subjetivismo, o que de certa forma constitui um discurso 
reacionário e obstáculo real à efetuação da justiça. 
Quando se escolhe um tema desta amplitude, devem ser evitados objetos, visões, 
definições e conclusões de cunho universalizantes, ou seja, verdades absolutas e 
incontestáveis. Partindo-se do pressuposto de que as partes influenciam o todo e este reflete-
se novamente nas partes, numa ação dialética, os estudos devem ser orientados sobre um dos 
 
1
 O autor é acadêmico do 5º Direito Noturno, membro do Núcleo de Estudos de Direito Alternativo da Unesp 
Franca (NEDA) e do Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão (NUPE). 
 2 
focos do problema, que no entanto, não deve ser separado do conjunto, devendo isso sim, ser 
caracterizado como contribuição e tentativa de transformação. Assim, tendo como norte 
determinado contexto, é preciso trabalhar com as especificidades, sem pontos de partida 
determinados, análises em linha reta, definições ideológicas e tendo como princípio que os 
estudos nunca acabam, nunca vão estar definidos, cabendo sempre uma nova apreciação de 
acordo com as novas exigências. 
Passando-se estes primeiros pontos, cabe aqui um questionamento: qual é a justiça 
pretendida neste artigo? 
A justiça aqui pretendida, é a que se coloca como um dos fatores fundamentais para a 
concreta transformação social. Em síntese, uma justiça que contemple o homem como ser 
social, privado, excluído e espoliado de inúmeros direitos e garantias formalmente instituídas 
ou daquelas que mesmo não elencadas em cartas e códigos, vão sendo construídas nas lutas e 
aspirações diárias, mas que não deixam de constituir-lhes uma prerrogativa. Uma justiça que 
detecte as contínuas omissões e marginalizações, almejando ser um dos possíveis 
instrumentos de transformação, confundindo-se com a própria inclusão social. Busca-se assim 
a concretude do que antes era um princípio, um ideal, uma eterna aspiração… 
Visando expor algumas linhas sobre tão extenso problema, este artigo é dividido em 
duas partes que intrinsecamente relacionam-se e podem ajudar a entender o tema aqui 
proposto. Assim, na primeira parte intitulada “O ordenamento jurídico enquanto ideologia da 
classe dominante é injusto” , tenta-se trabalhar um aspecto do direito ideologicamente 
apropriado pela elite político-econômica e utilizado friamente contra a grande massa 
reprimida: a identificação dogmática entre direito, lei e Estado como forma de justificação e 
manutenção do status quo. Na segunda etapa é trabalhada uma tentativa de negação radical 
das ideologias e práticas conservadoras e excludentes do direito, através da aproximação 
entre a justiça e a inclusão social dando ênfase ao papel transformador que o direito pode 
desempenhar quando atua em conjunto com outro profissionais e áreas do conhecimento, 
inseridos concretamente na realidade social. 
 
Capítulo I – o ordenamento jurídico enquanto ideologia da classe dominante é injusto. 
 
Antes da entrada direta no tema, faz-se necessário entender mesmo que 
superficialmente, o que seria uma sociedade estruturada em classes. Todo este trabalho 
monográfico está em sintonia com a visão marxista do problema; onde a luta de classes é um 
movimento que se deflagra dentro do processo histórico da humanidade. É a luta direta entre 
 3 
uma classe ou grupo sócio-político-econômico dominante e uma classe dominada, partindo 
esta dominação da estrutura sócio-econômica, desencadeada pelo movimento capitalista de 
produção. (Cf MARX; ENGELS, 1986: passim). 
O grupo social dominante é a proprietário dos meios de produção e por conseguinte 
mantém o poder político-econômico. É a classe minoritária que monopoliza o controle da 
estrutura social, através da apropriação do trabalho realizado pela classe majoritária. A classe 
majoritária é por outro lado a dominada da relação capitalista; é proprietária apenas de sua 
forca de trabalho, é explorada incessantemente pela apropriação da mais valia e outras formas 
mais de dominação. 
Transpondo esta luta para o seio da sociedade, é possível fazer a identificação precisa 
dos componentes deste embate. Como protagonistas da classe dominante temos: os 
empresários, os banqueiros, os grandes conglomerados industriais, os proprietários de 
centenas de imóveis, os latifundiários, as empresas multinacionais; concentrando as fortunas 
mundiais construídas pelas mãos e pelo suor de uma infinidade de pessoas, que recebem 
como contraprestação, a exclusão e a não repartição dos frutos proporcionados por essa 
riqueza. Como protagonistas da classe dominada, temos: os operários espoliados em seus 
salários; os desempregados, as pessoas que morrem de fome, os desabrigados, os favelados, as 
crianças dos semáforos, os analfabetos, o agricultor miserável. Em uma palavra, temos os 
oprimidos, aqueles que não tem acesso ao paraíso real dos milionários, pois ficam bloqueados 
pelos pedágio da miséria da fome e da necessidade. 
A classe dominante não teria como se impor e controlar a classe dominada, se não 
dispusesse de meios eficazes e sutis de manipulação. Como permanecer tanto tempo no topo 
da pirâmide social sem ser questionada de forma direta pelos grupos que dão sustentação à 
essa pirâmide? Tornou-se necessário, a elaboração de um discurso que desse legitimidade de 
mando à classe dominante, e que coibisse qualquer tentativa de insurreição da classe 
dominada; imprescindível a criação de um discursos ideológico. 
A ideologia abordada neste trabalho é aquela que, mascara a realidade dissimulando 
uma realidade cruel e desumana, para adquirir a forma de uma situação natural, que está em 
conformidade com a sociedade; uma harmoniosa e distorcida visão sobre a vida. Essa 
ideologia tem a intenção de esconder as lutas de classes que se travam dentro de cada 
comunidade; todas as conseqüências daí decorrentes, são encaradas como quebra provisória 
da ordem e da passividade, provocadas por elementos desordeiros, arruaceiros, criminosos. 
Perde-se a noção global da luta de classes para perpetuar-se a idéia de fenômenos isolados 
distantes e ameaçadores da paz vigente. 
 4 
Para Marilena Chauí 
A ideologia é um conjuntológico, sistemático e coerente de representações 
(idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem 
aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que 
devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem 
sentir, o que devem fazer e como devem fazer (...) cuja função é dar aos 
membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as 
diferenças sociais políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à 
divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção (...) 
apagar as diferenças como de classe e de fornecer aos membros da sociedade o 
sentimento da identidade social... (CHAUÍ, 1984: 113 –114). 
 
Inúmeros são os meios de propagação destas idéias retóricas: o ensino transmitindo nas 
escolas, as mensagens da televisão e do rádio, jornais e revistas que são os maiores veículos 
de comunicação e formação de opiniões; a religião; os partidos e movimentos altamente 
conservadores; um ordenamento jurídico comprometido com o controle social. 
Esses instrumentos ideológicos pretendem criar uma imagem irreal do Brasil e dos 
brasileiros. O Brasil para eles é um imenso país tropical, com lindas paisagens e acima de 
tudo, formando por pessoas pacatas, hospitaleiras; que independente de algumas crises 
passageiras, são pessoas fortes, preparadas para agüentar qualquer sofrimento e continuar 
sorrindo. Deve-se agradecer diariamente a existência de uma democracia, após anos e anos de 
ditadura, todos os esforços devem der feitos para a manutenção dessa ordem democrática; 
qualquer lei vinda do Congresso Nacional é o melhor do que a insegurança dos anos de 
chumbo. 
Os instrumentos ideológicos tornam-se mais aparentes quando se deseja justificar a 
exploração econômica e a miséria. Segundo a ideologia dominante, “é através do trabalho que 
se constrói a felicidade; aqueles que se esforçam e dedicam toda sua vida ao trabalho, irão 
alcançar a riqueza, a mudança de vida, a cultura e alegria. “Todos nascem iguais, mas a 
dedicação e a graça divina abençoam somente um pequeno numero de premiados. Se os 
homens nascem pobres é porque alguma vontade assim o quis; mas se eles tiverem uma vida 
pacifica, de aceitação, eles ganharão o paraíso. “Respeitem a ordem, a lei os bons costumes, a 
vontade soberana dos dirigente, para poderem ser sociáveis, homens de paz, responsáveis pais 
de família”. Todas estas frases resumem-se na seguinte orientação: Aceitem as coisas como 
elas são, para ter uma vida melhor; para manterem seus empregos, evitando o estigma de 
desordeiros, subversivos e principalmente livrar-se do cacetete da polícia, como vitima da 
violência oficial; não sejam utópicos, contentem-se com a realidade. 
A ideologia dominante é insustentável e precisa ser abolida. O aspecto que será 
abordado mais amplamente, neste capítulo é o ordenamento jurídico como instrumento 
 5 
ideológico. Determinada corrente jurídica pretendeu há muito tempo atrás, uma identificação 
entre o direito, a lei e o Estado; é necessário antes de tudo um trabalho de desmistificação e 
dessacralização dessa fonte do direito, colocando-a ao lado e no mesmo patamar das outras 
inúmeras fontes, representando não um fim em si mesma, mas um dos diversos meios para 
entender e aplicar o complexo e dinâmico fenômeno jurídico aos casos concretos. 
A lei quando manipulada pela classe dominante é tendenciosa, pois tenta garantir o 
privilégio daqueles que estão no poder. Há uma profunda identificação entre o discurso 
político-econômico com o discurso jurídico, porque os proprietários daqueles aspectos, são 
os que ocupam os cargos legislativos ou acabam exercendo sobre eles sua influência. O 
ordenamento jurídico serve a esses interesses, devido sua força coativa e legal, é o 
instrumento mais eficiente no controle social. “O direito é sempre instrumento com que a 
sociedade conforma os comportamentos individuais e ou coletivos aos limites desejados, 
autorizados ou simplesmente tolerados pelo consenso social (MIRANDA ROSA, 1980: 19)”, 
que é o da classe dominante. 
Ao exercer esse controle social, a lei é que vai dizer o que está certo ou o está errado; o 
que pode e o que não pode, dentro de certos padrões e parâmetros estabelecidos. O próprio 
conceito de justiça adequa-se a aos interesses dominantes. “A justiça dos vencedores é a única 
idéia de justiça que tem eficácia garantida pelo fato de se traduzirem por meios de normas 
jurídicas (AGUIAR, 1993: 24)”. As demais atividades socais vão conter a mesma disposição: 
a vida social deve ser justa, assim como relações familiares, a religião, as relações 
trabalhistas. 
O problema é que os valores considerados justos são os valores individualistas 
burgueses. Desta forma a propriedade tem mais valor que a posse, mesmo quando esta 
propriedade não atende as exigências sociais a que ela se destina, servindo apenas como valor 
especulativo. O salário pago ao trabalhador deve ser mínimo; deve corresponder aos valores 
que o capitalista deseja pagar, não se destinando a atender às reais necessidades práticas de 
alimentação, transporte, moradia, assim como outros direitos justos, assegurados na 
Constituição (Cf Constituição Federal, art. 5, XXIII) 
Marx disse, que o Direito “é a vontade feita lei da classe dominante, que através de s eus 
próprios postulados ideológicos pretende considera-las como expressão aproximativa da 
justiça eterna (BARBOSA, 1984: 48-49)”. A realidade como ela se apresenta hoje, resumiria 
a justiça possível, aquela que está ao alcance e às disponibilidades da burguesia, ou à imagem 
que ela tenta passar. Uma justiça que nunca se realiza, porque determinado grupo de pessoas 
não precisam de justiça, ou melhor, podem criar justiças de acordo com sua necessidades de 
 6 
manipulação e manutenção de suas regalias. Às vezes, de seus tronos e procurando ser 
“dadivosos” dão pequenas gotas de uma justiça formal que entendem corresponder às 
reivindicações de seus súditos—como se justiça fosse algo que pudesse ser dado... 
Outro aspecto importante desta dominação ideológica é a noção de que lei é sagrada, 
como também devem ser a ordem e a segurança. Sagrados no sentido de que pretendem 
cristalizar-se em dogmas – conceitos imutáveis e inquestionáveis que devem ser aceitos e 
reproduzidos, como forma de manutenção da estabilidade social. Segundo Paupério, para 
perpetuar um regime de exploração, a classe dominante “coroou -o de toda segurança. Foi 
assim que o direito ganhou em segurança o que perdeu em justiça (PAUPÉRIO, 1983: 28)”. 
Por segurança deve-se entender, a segurança da classe dominante, segurança nos negócios, 
nos contratos, na propriedade, no consumismo. A ordem também tem muitos sinônimos e 
amplos significados podendo expressar a paz e o interesse da comunidade. Entenda-se por 
‘paz social, a ordem estabelecida. Para se atingir a ordem e segurança todos os métodos são 
válidos, os atos mais injustos são cometidos e legalizados para fazer prevalecer uma justiça 
que nunca chega, é sempre algo que deve ser perseguido abstratamente. 
A idolatria da lei e da norma, é um culto ao conservadorismo, aos privilégios de uma 
classe sobre a outra. A interpretação literal ou gramatical da lei não é o único instrumento de 
que se deve utilizar o profissional do direito; deve isto sim, ter um pouco de sensibilidade 
para identificar suas reais exigências, sempre voltada para as agitações, reivindicações e 
anseios populares. Deve-se buscar aquele direito que se insurge, que nasce nas ruas, que é 
interpretado e aplicado segundo o sentido dialético e plural do espaço publico pulverizado, em 
pequenas comunidades interpretativas, dinamicamente construído e não apenas o direito como 
aquilo que é posto e imposto coativamente pelo Estado adquirindo um caráter dogmatizador. 
A“fixação na norma também é um posicionamento, político, nitidamente conservador, pois a 
lei não evolui, a lei garante o status quo (HERKENHOFF, 1997: 110)”. A lei esta parada, 
imóvel ela não acompanha o fluxo de modificações da vida ao vivo; quando lei capta os 
movimentos reivindicatórios, realiza um trabalho ideológico tão profundo, que subverte a real 
natureza daquelas modificações. 
A crença na infalibilidade do ordenamento jurídico, é uma forma de reduzir a 
responsabilidade dos juristas perante os problemas sociais. Dizer que a lei resolve tudo que 
está em sua esfera de ação e que os anseios de justiça devem ser deixados à outras ciências, é 
pratica ideológica reducionista. Os legalismos, os positivismos em nada contribuíram para 
solucionar as injustiças freqüentes na historia; pelo contrário, foram formas jurídicas que 
deram legitimidade a injustiças ainda maiores. O nazismo para os legalistas era legitimo, 
 7 
porque, obedecia à Constituição alemã. Da mesma forma, os decretos imperiais e 
vergonhosos de Calígula, que fazia uso do poder investido na figura real, e por isso mesmo 
legitimo. Assim, todos os atos praticados na ditadura militar foram legítimos porque 
praticados sob a constituição por eles mesmos confeccionada e posteriormente “remendada” – 
1967 – 1969 respectivamente. 
O problema não está apenas no procedimento dogmático da lei, mas também no fato de 
que a legislação brasileira é contraria ao povo, é anti-popular “Reconhece -se que toda uma 
legislação individualista, consagradora de privilégios, arcaica, anti-povo, martiriza as grandes 
maiorias, acorrentado-as a uma circulo vicioso de miséria insuportável, geração sobre geração 
(HERKENHOFF, 1997: 135).” 
A própria lei oferece os instrumentos para a manutenção das injustiças sociais, criando 
em seus textos uma serie de distinções, contrariando o principio da isonomia, que diz que 
todos são iguais perante a lei. “O direito vigente aqui é um direita injusto, porque encara a 
produção como um processo que deve privilegiar o capital (HERKENHOFF, 1993: 29)”. É a 
lei que pune com mais incidência, a grande e pobre população; uma lei estigmatizadora, no 
caso do pobre é auto-aplicativa, mas no caso dos crimes do “colarinho branco”, é convertida 
em pena alternativa. Pune-se mais o pobre, para que ele possa servir de exemplo aos demais 
integrantes de sua classe, servindo teoricamente para coibir novas tentativas futuras. 
Teoricamente, porque essa violência institucionalizada gera uma reação daqueles que a 
sofreram; que por conseguinte, cria novas formas de violências escrita, oficial, formando um 
circulo de estigmatização, miséria, violências de parte a parte. 
O processo de exclusão popular, começa no próprio sistema representativo atual. O 
processo representativo como pedra de toque do liberalismo individualista burguês é 
insuficiente, tendencioso em sua tarefa de transformar os anseios populares em leis, não 
existem canais eficazes para o povo expressar e reivindicar seus interesses (Cf MACHADO; 
GOULART, 1992: 19). O que existe é um falho processo eleitoreiro, que se manifesta de 4 
em 4 anos; é a única possibilidade de um contato entre o futuro legislador e a base popular 
marginalizada. É um processo viciado pelos coronelismo, clientelismo, paternalismo, troca de 
cestas básicas e dentaduras ou caixões por votos. 
O pobre não legisla, não tem acesso aos meios legislativos, aos instrumentos que vão 
materializar suas aspirações, e pôr termo aos seus sofrimentos. A lei diz que qualquer cidadão 
brasileiro poder ser candidato a um cargo público; sendo assim, o acesso do pobre aos cargos 
legislativos, à Câmara dos Deputados e Senado Federal, estariam pavimentados. Mas a 
realidade presenciado é completamente diferente, os “donos” das cadeiras das Assembléias 
 8 
Estaduais e o Congresso Federal são também proprietários de diplomas, de latifúndios, de 
imóveis urbanos, do capital. Eles não legislam em causa própria, mas não permitem por 
exemplo, a efetiva reforma agrária: incentivam a função da propriedade, não a função social, 
mas sim a função especulativa. A lei não exprime a verdadeira justiça do povo”... pois o que é 
dito nada tem a ver com o que é concretamente vivido. Assim, a justiça passa a ser justiça 
“deles” não a nossa justiça (AGUIAR, 1993: 18)”. 
Além da exclusão do processo criador de leis (nomogenético) povo também sofre 
quando o assunto é a efetiva aplicação destas leis. Os órgãos judiciários como já foi visto 
privilegiam os interesses de certa classe mais forte política e economicamente. Ao exercer 
esta tarefa está realizando o papel de um poderoso instrumento ideológico. “O aparelho 
judicial é assim, parte do largo sistema de instrumentos pelos quais se afirma e reafirma a 
ideologia dominante em dado momento histórico... (MIRANDA ROSA, 1980: 55)”. O 
controle ideológico realiza-se sob a forma de um poder neutro, equânime, que defende as com 
o mesmo peso e sem nenhum outro interesse, se não o do prevalecimento da justiça – imagem 
da justiça: uma mulher segurando em umas das mãos a balança, em outra a espada, tendo a 
visão tapada por uma venda. Mas por trás destas figuras neutras existem seres humanos 
pertencentes a uma determinada classe social e que de forma consciente ou inconsciente 
aplicará a lei em concordância com sua visão do que é certo, do que é justo. “Não existe 
terceiro neutro (...) só existe uma idéia de justiça que está a serviço de uma ordem posta, e 
outra idéia de justiça que está a serviço da contestação, da mudança (AGUIAR, 1993: 18)”. 
O trabalho ideológico conclui-se com aceitação e a reprodução dos valores dominantes 
na mente e na pratica de uma parcela considerável da população. Os valores dominantes 
prendem-se tão fortemente no interior do dominado, que tudo aquilo que é injusto, ruim, 
passe a ser considerado como normal, como a ordem natural das coisas. Diz Herkenhoff. “O 
próprio povo oprimido interioriza os valores apreensivos da lei, porque há todo um 
mecanismo de informação, de condicionamentos (HERKENHOFF, 1993: 45)”. 
A classe dominante usa esta aceitação, esta indiferença provocada pela ideologia, para 
justificar, legitimar a opressão. Se o povo está pacifico, se ninguém demonstra indignação é 
porque todos estão de acordo: quem cala consente. “A passividade das massas como o 
estabelecimento duma legalidade não importa, por si só, na legitimidade do poder (LYRA 
FILHO, 1982: 104)”. A passividade ou indiferença do povo não pode mais continuar sendo 
apregoada como algo natural, ninguém mais pode ser explorado, ser humilhado, aceitar essa 
situação só pelo fato de ser pobre. As desigualdades e diferenças devem cessar, o que deve 
 9 
prevalecer nas relações humanas é o reconhecimento real do valor de cada pessoa e não o 
poder material. 
Lincoln “Engana -se uma parte do povo todo o tempo, todo o povo uma parte do tempo; 
nunca porém todo o povo todo o tempo (LYRA FILHO, 1982: 96)”. 
A máscara deve cair, para quer o povo possa enxergar a verdadeira dimensão dos 
problemas. Toda vez que há uma crise econômica, uma escândalo político, inicia-se uma 
indignação, mas esse pequeno esboço de reação não é suficiente. É necessário um trabalho de 
contra-ideologia, de prevalecimento da cultura popular autêntica e não daquela que recebe o 
nome de folclore. Deve-se buscar a conscientização através da luta e de um processo de 
tomada de consciência, aberta as palavras e valores contrários ao modelo vigente; um canal 
que demonstre como se dão as práticas de alienação e dominação dentro desse sistema e 
coloque sua proposta, sem coação, sem imposição, sem pretensão de absolutismo e verdade, 
sem medo. 
A lei não pode expressar valores ideológicos e conservadores; esta deve estar dentro do 
processo histórico, aliando-se aos fatores sociais, culturais, políticoseconômicos. A lei não 
deve ser superior à justiça, deve ser um dos instrumentos necessários para uma justiça 
comprometida absolutamente com a transformação social. Não comprometida com políticos, 
cartéis nacionais e internacionais, latifundiários, ladrões engravatados; comprometida com o 
marginalizado, com o faminto, com o miserável, com as crianças vendendo balas na ruas. 
Capítulo II – justiça e inclusão social: justiça dos oprimidos. 
Neste capítulo será colocada a questão da inclusão social como um dos objetivos 
fundamentais de uma justiça concreta. Justiça que deverá ser desempenhada através de uma 
nova concepção do Direito, um direito comprometido com a parte explorada da sociedade, 
vista esta sob o ângulo marxista da luta de classes. O Direito como ciência humana não deve 
fechar os olhos para a questão social, pelo contrario, deve ser um dos instrumentos 
necessários ao extermínio real da exclusão social. 
Cabe aqui, antes da abordagem direta do assunto, uma definição jurídica de exclusão 
social colhida num texto de Carmem Lúcia Antunes Rocha: 
... o fenômeno denominado de exclusão social transgride a ordem 
jurídica, agride o Direito e fere o sentimento de justiça e o sentido 
que ele adota na base do ordenamento jurídico posto pelo Estado à 
universalidade dos homens. Por exclusão social entende-se a situação 
que deixa à margem do processo político, social, participativo, 
econômico e portanto, das garantias jurídicas fundamentais, uma 
pessoa ou grupo social. Os excluídos tem desrespeitados até mesmo 
 10 
aos seus direitos fundamentais, despojados que são do núcleo mínimo 
de seu patrimônio jurídico que lhes garantiria a dignidade humana 
(ROCHA, 1997: 37). 
 
A realidade social brasileira é um triste retrato do grau de degradação e desrespeito, de 
que são vítimas todos aqueles colocados à margem da sociedade. Os pobres, os miseráveis, os 
oprimidos , os excluídos, todos são grupos criados pelo vergonhoso processo de exploração 
humana, desenvolvido pela prática capitalista, onde as pessoas tem valor e reconhecimento 
quando possuem bens econômicos. 
A exploração do homem pelo homem assume um aspecto vergonhoso e deplorável, à 
medida que tenta transformar os oprimidos e excluídos em seres diferentes, que devem ser 
afastados, despojados da condição digna e humana de vida. O meio através do qual os 
exploradores afastam estas pessoas é a indiferença, tentam mostrar que a miséria, a fome, a 
pobreza, são conseqüências naturais e até necessárias a vida. A imagem de pessoas dormindo 
em bancos de praça; pedindo esmolas nas ruas; enfrentando filas e senhas para terem 
atendimento médico, não causa a mínima indignação ou tentativa de alguma mudança na 
mente de algumas pessoas; que passam isto sim , horas e horas desenvolvendo novos 
mecanismos e técnicas de exclusão social. 
A exclusão social é a forma mais cruel de injustiça, pois ataca o homem justamente no 
ponto que deveria defende-lo: o das garantias fundamentais previstas na constituição, alem 
dos danos morais. A contestação desta agressão é o mínimo que pode ser feito para se alterar 
o quadro atual; o empenho e prática social voltados à extinção desta situação, serão os meios 
necessários para a instalação desta situação real e efetiva, que irá valorizar e reconhecer a 
pessoa humana em sua essência. Os abusos diariamente observados e impunemente mantidos, 
precisam ser destruído, para que em seu lugar nasça o respeito e o reconhecimento; onde o ter 
não mais prevaleça sobre o ser. 
O Direito como mais adiante será visto deverá desempenhar um papel transformador 
dentro da estrutura social. Como ciência humana deverá ocupar-se das dores e privações dos 
homens, e elaborar e aplicar leis que estejam em concordância com esse objetivo 
transformador. Uma atuação conservadora e excludente não atende mais às fortes exigências 
populares. Somente o direito compreendido como fenômeno complexo -- político, cultural, 
econômico e jurídico – inserido dentro do processo histórico atenderá essas reivindicações. 
Segundo Warat “o sentido do direito é o de ser parte do sentido de uma prática social (apud 
MACHADO; GOULART, 1992: 06)”. O direito não está acima ou fora da problemática 
social, como pretendeu determinada corrente. Muito pelo contrário, ele é uma das partes que 
 11 
influem e recebem influência da conjuntura significativa da sociedade. As práticas se 
interligam, são interdisciplinares, precisamos trabalhar lado a lado com o assistente social, 
com o historiador, com todos os outros profissionais, com os movimentos socialmente 
insurgentes ou novos sujeitos coletivos de direito. Precisamos sair dos muros da faculdade e 
dos gabinetes; prática é participação efetiva, sem a ambição de ensinar, conscientizar ou dar 
educação, também devemos ser alunos daquele tal saber achado nas ruas. 
Essa prática social dever ser parcial, visando garantir os interesses dos desfavorecidos, 
se ela fosse neutra imparcial, só contribuiria para a manutenção do status quo e da exclusão. 
“No domínio da justiça não há de falar -se em neutralidade. Esta quando não é covardia é 
inconsciência (PAUPÉRIO, 1983: 04)”. O comprometime nto, será o primeiro passo para que 
a questão possa ser encarada de forma modificadora; a indiferença só serve aos interesses 
dominantes e exploradores. Nas palavras de Roberto A. R. Aguiar “...essa virtude não é 
eqüidistante, não é neutra, não é equilibrada. Ela nos força a cada momento a tomar partido a 
ser parcial, tendo a parcela maior dos seres humanos como fundamento (AGUIAR, 1993: 
122)”. Torna -se inadmissível aceitar que a maior parcela da população receba a mínima parte, 
isto é quando recebem, dos frutos produzidos dentro da sociedade. 
Este compromisso é a resposta que se espera daqueles que não suportam tanta 
injustiças e humilhações cometidas contra os excluídos; daqueles que se esforçam por uma 
transformação efetiva das estruturas de poder, que só fazem aumentar a desigualdade entre as 
classes. Esta postura que tenta privilegiar os oprimidos é arriscada perante o conservadorismo 
que reina na comunidade. É por isso, que toda tentativa de mudança é desqualificada pelos 
detentores do poder, por alguns meios de comunicação que compactuam com os poderosos e 
pelos próprio povo quando este reproduz a ideologia dominante. Aqueles que tentam alguma 
mudança são chamados de desordeiros perturbadores da ordem, anarquistas, promotores 
moderninhos, o arbítrio dos juizes. “O caminho para essa segunda justiça é arriscado podendo 
mesmo ser acoimado de não cientifico, e utópico , não realista ou simplesmente subversivo” 
(AGUIAR, 1993: 53)”. Por segunda justiça, entenda -se a justiça, comprometida com os 
desfavorecidos, aquela que os dominantes tentam dissuadir tirando seu caráter contestador, 
para lhe associar ao crime, à violência ou a movimentos artificiais. 
A afirmação e o êxito desse movimento só será obtido através da luta incessante dos 
desfavorecidos em fazer valer sua condição humana e digna de reconhecimento. Uma luta 
real, travada dentro do processo histórico, uma luta comprometida como o lado mais fraco da 
relação de exploração capitalista: o lado dos oprimidos, dos desfavorecidos, dos reprimidos, 
 12 
dos marginalizados. Luta que pode ser retirada de uma passagem de Ihering fazendo depois 
uma interpretação atual: 
Todos os direitos da humanidade foram conquistados na luta; todas as regras 
importantes do direito devem ter sido na sua origem, arrancadas àquelas que ela 
se opunham, e todo o direito, direito de um povo ou direito de um particular, faz 
presumir que se esteja decidido a mantê-lo com firmeza (IHERING, 1997: 01). 
 
 Transpondo esta passagem para o momento atual e fazendo uma interpretação social: 
se a ordem vigente é injusta e provoca a exclusão, deve ser derrubada para o estabelecimentode uma igualdade real que estabeleça a inclusão social e justiça. Não aquela justiça metafísica, 
jusnatural, positiva ou formal, mas aquela que nasça das contradições e da luta dentro da 
historia. Dessa forma a justiça dos opressores não pode ser aceita, deve ser arrancada das 
mãos opressoras através da luta dos oprimidos. A justiça não deve ser entregue como um 
presente ou uma dádiva ou uma ação de boa vontade dos mandatários do poder. “ O 
oprimido deve ser agente de sua própria libertação. Uma justiça paternalista não se ajusta a 
essa visão (HERKENHOFF, 1997:134)”. 
 A inclusão dever ser a palavra de ordem no combate para a efetivação da 
justiça. Esta luta deverá ser travada em todos os ramos da sociedade, derrubando as injustiças 
econômicas, políticas, culturais, jurídicas. Por este ser um trabalho de caráter jurídico, a 
inclusão social será vista nesta ultima parte, sob o ângulo do comprometimento do direito e de 
seus operadores com a luta e os interesses da maioria desfavorecida e oprimida. 
 Esta postura transformadora do direito requer antes de tudo um pensamento 
crítico aliado a uma práxis social transformadora. Dentro do pensamento crítico, torna-se 
necessário um conhecimento transformador, que não fica estático diante dos problemas; tem 
que ser um pensamento vivo, que vá além da lei e da rigidez da norma, englobando várias 
vertentes e visões, sempre questionando as formas injustas que encontrar pelo caminho. É o 
saber que precisa ser repassado nas faculdades, um saber dinâmico que futuramente irá 
orientar a conduta dos advogados, magistrados, promotores. A conduta ou práxis social só 
será modificadora, se estiver dialeticamente embasada num saber crítico. 
Gramsci: “ a visão dialética precisa alagar o foco do Direito, abrangendo as pressões 
coletivas que emergem na sociedade civil e adotam posições vanguardeiras (LYRA FILHO, 
1982: 10-11)”, como os sindicatos, setores da igreja, associações profissionais e culturais e 
outros veículos de engajamento progressista. 
 13 
A práxis social dos jurista deverá influir na elaboração e aplicação das leis. A 
generalidade abstrata na maioria das vezes não atende as exigências sociais, principalmente 
dentro de um sistema jurídico que tenta eliminar os conflitos sem solucioná-los. Segundo 
Júlio César Tadeu Barbosa “À medida que as desigualdades sociais se tornam gritantes a 
obtenção da justiça ,só se dará mediante um tratamento individualizado a cada caso 
(BARBOSA,1984: 19-20)”, isto é semp re privilegiando o grupo desfavorecido. 
O sistema jurídico brasileiro é recheado de contradições, leis que ora garantem, ora 
agridem os interesses sociais privilegiado minorias. Essas contradições ocorrem, porque, as 
minorias que controlam o poder, para não provocar a indignação ou revolta populares, 
colocam em seu ordenamento diversas leis de proteção aos direitos e garantias fundamentais. 
Assim, existem abstratamente, belíssimas leis como na Constituição – os art. 5º ao 17º em 
algumas outras leis complementares ou ordinárias. O problema, é que essas leis aparecem 
como soluções demagógicas, uma vez feitas não se aplicam como estão no papel. Muitos 
alegam que são preceitos muito evoluídos e complexos, por isso ainda difíceis de serem 
postos em prática. Tal concepção é vergonhosa, pois as leis que podem beneficiar os 
desfavorecidos existem e algumas como as normas constitucionais são auto aplicativas. 
Um nova postura dos aplicadores é exigida, uma postura alternativa às práticas 
opressoras vigentes. É preciso fazer um uso alternativo do direito burguês, para torna-lo 
democrático. Ainda nesse sentido, Lyra Filho “Uso alternativo do direito positivo e estatal em 
proveito não da classe e grupos dominantes, mas dos espoliados e oprimidos (LYRA FILHO, 
1982: 62)”. Se o ordenamento vigente contém demagogias, justo é tornar esses preceitos em 
realidade, através de uma interpretação axiológica e comprometida com o grupo dominado. 
“Justo é o poder que procura elaborar normas a serviço das maiorias e que as cumpre 
(AGUIAR, 1993: 79)”. As posturas acima colocadas são chamadas de uso alternativo do 
direito --que procura fazer um uso não burguês do direito burguês— e positivismo de 
combate – onde a luta é pela efetivação das tais leis que não pegam, além da luta para 
positivação de inúmeros direito e garantias denegados ao povo. Mas o direito alternativo 
ainda pode ser entendido sob o prisma do pluralismo jurídico, que destrói o mito do monismo 
jurídico estatal, percebendo e reconhecendo como legítimas diversas manifestações jurídicas à 
margem do Estado; é o direito ubiquitário nascendo e modificando-se nas comunidades, nos 
lugares onde vivem as pessoas de carne e ossos, dos conflitos e necessidades reais. 
Como foi visto em todo este trabalho, a mitigação de todas as desigualdades é 
condição necessária para erradicar a exclusão social. Os profissionais do direito tem uma 
grande responsabilidade no que diz aos problemas sociais; são eles que trabalham com as leis, 
 14 
os códigos, julgamentos, tutelas. Estes profissionais não podem trancar-se em um mundo 
abstrato, estático, auto-poiético e absoluto. Os intelectuais do direito não podem virar as 
costas ou serem indiferentes às contradições, às humilhações e privações dos desfavorecidos ; 
os explorados econômica e socialmente. Pelo contrario, os juristas devem misturar-se ao 
povo, serem do povo. 
Torna-se muito cômodo para os poderes públicos principalmente o legislativo e o 
judiciário – colocarem-se acima de qualquer crítica, ditando abstratamente e superficialmente 
as supostas normas que vão resolver os problemas sociais. Não basta tomar conhecimento 
destas questões através da tela da televisão, de textos de revistas e jornais. A tela e as letras 
não falam, elas não choram desnutridas, vivendo em um corpo de pele e osso. São na 
verdade instrumentos que transmitem por alguns segundos ou num página o sofrimento das 
pessoas. Mas essa transmissão é focalizada de forma distante, afastada e que reproduz em 
seus destinatários uma postura de meros telespectadores. O que acaba ocorrendo, é que estas 
imagens chocam-lhes por alguns instantes, e justamente por serem fortes e reais são muitas 
vezes evitadas, desligando-se a televisão, trocando os canais ou passando a página. 
Para se falar em transformação social é preciso colocar-se efetivamente dentro da 
problemática questão social; é preciso indagar o faminto, conversar como os analfabetos ir 
aos acampamentos dos sem-terra, colhendo seus sentimentos em sua essência; diretamente da 
boca do explorado para os ouvidos dos legisladores e aplicadores do direito. Não aquela visita 
em caráter eleitoreiro e assistencialista, que trocam cestas básicas por mandatos, esquecendo 
o prometido logo após a posse. Não se deve falar em promessa e sim em compromisso com o 
oprimido; esse comprometimento deve ser aquele feito “cara a cara” com o desfavorecido e 
não através da impessoalidade dos contratos. “como fruto da aliança entre as multidões 
massacradas e os juristas vai se delinear um novo perfil de juristas e de juizes 
(HERKENHOFF, 1993: 38)” 
 
Conclusão 
 
Após a análise cuidadosa do tema é necessário dar termo a estas poucas linhas. Esse 
fecho, não deve ser entendido como uma conclusão absoluta, pois num trabalho que se 
pretende crítico, dialético seria uma impropriedade e até um absurdo pensar nessa 
possibilidade; o que aqui se pretendeu foi levantar alguns questionamentos e indignações 
sobre o atual estágio das coisas, sem qualquer pretensão de validade universal ou 
esgotamento da matéria. Dessa forma, as próximas linhas podem muito ser consideradas 
 15 
como modestas conclusões parciais ou conclusões inconclusas de um jovem, preocupado e 
inquieto estudante do Direito diante de tão problemática questão. 
Assim, só se poderáfalar em justiça e de sua real efetivação, como instrumento para o 
fim da opressão, da exploração, da miséria, em suma, da degradação humana. Qualquer outra 
conceituação de justiça, não se adequada aos anseios e às exigências sociais, e por isso mesmo 
não se pode chamá-los de justiça efetiva e real. A realidade brasileira não é a harmonia 
possível como querem algumas pessoas; muito pelo contrario, esta é a realidade que precisa 
ser alterada, sob pena de num futuro não tão distante, não existir mais nenhuma realidade para 
ser modificada. Não podem ser tolerados sistemas e regimes indiferentes ou “ne utros” à 
questão da verdadeira justiça social. Como em todos os outros ramos sociais, o problema 
também está presente dentro do direito, e por seus profissionais e operadores devem ser 
solucionados, e não se “jogar” a questão social para outras ciências af ins. 
A inclusão social pede um compromisso sério e verdadeiro para se estabelecer o 
reconhecimento da dignidade humana e o respeito que se deve estabelecer entre os homens. 
Pede dentro do direito: leis justas, descompromissadas com a classe dominante; uma atuação 
progressista e critica dos juristas; a negação dos sistemas e idéias conservadoras que só fazem 
pelo retrocesso de uma justiça legitima. Pede um trabalho conjunto e humilde com todos os 
outros profissionais das mais diversas áreas do conhecimento e da prática, constituindo-se um 
esforço efetivo, tendente a trabalhar e a apreender o conhecimento, a solidariedade e a 
contestação que nascem de forma autêntica no chão das comunidades. Pede enfim, um 
contato direto com a base popular, com o pobre, o miserável, o mendigo, o sem – terra, um 
contato sem idéias preconceituosas ou dogmatizadoras, mas que nasçam destes encontros e se 
modifiquem, sempre moldando-se as reivindicações concretas. 
É uma tarefa difícil, complexa, mas que não deve desanimar nem aqueles que estão no 
principio do conhecimento – como os estudantes de Direito – nem aqueles que estão bem 
adiantados em suas carreiras, mas que podem, refaze-la baseando-a segundo os parâmetros 
sociais. Esse compromisso deve romper as barreiras do dinheiro, do interesse, da demagogia e 
da autopromoção; deve isto sim , trabalhar para promover a grande parcela da população que 
está excluída de qualquer benesse da vida. 
É uma luta apaixonante; ela na deve estacionar-se nesta artigo, deverá basear toda 
uma conduta profissional; que estará com certeza comprometida verdadeiramente na 
derrubada de todos os regimes de opressão e inaugurar a efetiva inclusão social: a legitima 
justiça sem exploradores e oprimidos, dominantes e dominados, mas formada de homens 
iguais na dignidade e no reconhecimento. 
 16 
Para encerra este artigo e frisar o teor desse compromisso a transcrição de uma 
monumental passagem de Herkenhoff deve ser deixada e constantemente praticada; 
exemplificando o novo papel dos juristas: 
... Juizes e juristas atentos aos gemidos dos pobres insones ante o sofrimento das 
multidões marginalizadas; 
Juizes e juristas que morram de dores que não são suas, profetas da Esperança, 
bem aventurados por terem fome e sede de justiça; 
Juizes e juristas que nunca lavem as mãos em tributo à omissão, mas que 
desçam, ao povo, que sejam do povo; 
(...) Juizes e juristas que se recusem a colocar amarras, impedir vôos, 
compactuar com maquinações opressivas: 
Juizes e juristas que abram as janelas do Amanhã e construam sem se deter ante 
martírios que lhes impuserem, o Direito da Libertação (HERKENHOFF, 1997: 
137). 
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