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AULA 3 - SOBRE A CIDADANIA Professora Doutora Luscelma O C Craice NO SENTIDO MODERNO Cidadania é um conceito derivado da Revolução Francesa (1789) para designar o conjunto de membros da sociedade que têm direitos e decidem o destino do Estado Essa cidadania moderna liga-se de múltiplas maneiras aos antigos romanos, tento pelos termos utilizados como pela própria noção de cidadão. EM LATIM, A PALAVRA CIUIS GEROU CIUITAS “cidadania”, “cidade”, “Estado”. Cidadania é uma abstração derivada da junção dos cidadãos e, para os romanos, cidadania, cidade e Estado constituem um único conceito – e só pode haver esse coletivo se houver, antes, cidadãos. Ciuis é o ser humano livre e, por isso, ciuitas carrega a noção de liberdade em seu centro. CÍCERO, PENSADOR DO FINAL DA REPÚBLICA ROMANA Afirmava no século I a.C. que “recebemos de nossos pais a vida, o patrimônio, a liberdade, a cidadania.” A descrição daquilo que os pais nos deixam, segundo o estadista romano, é cronológica mas também acumulativa. Recebemos a vida ao nascer; em seguida, a herança, na forma de nossa educação quando crianças, o que nos permite alcançar a liberdade individual e coletiva na vida adulta. Se para os gregos havia primeiro a cidade, polis, e só depois o cidadão, polities, para os romanos era o conjunto de cidadãos que formava a coletividade. Se para os gregos havia cidade e Estado, politeia, para os romanos a cidadania, ciuitas, englobava cidade e Estado. A CIDADE DE ROMA Foi fundada em 753 a.C. Diversidade de povos e costumes: latinos, pastores e agricultores Formou-se sob o domínio etrusco – nome parece derivar de uma estirpe etrusca Ruma Dos etruscos veio a formação da sociedade: nobreza (conselho dos anciãos) e o restante da população (posição subalterna e sem direitos de cidadania). Dos etruscos: papel social das mulheres de elite: podiam assistir aos espetáculos, às representações e aos jogos, e nunca vivam isoladas , como ocorria na Grécia. ENTRE OS ROMANOS Os patrícios agrupavam-se em grandes famílias, conhecidas como gentes – formavam uma oligarquia de proprietários rurais e mantinham o monopólio de cargos públicos e mesmo dos religiosos. Gente – sf. Do lat. Gens gentis – quantidade de pessoas, família, “alguém de importância” XIII. Eram os cidadãos de pleno direito Na guerra combatiam a cavalo e em carros, detendo poder militar. RESTANTE DA POPULAÇÃO Havia o “povo” e a “plebe”, palavras que se ligam à ideia de multidão, massa A noção de plebe como grupo surgiu no processo histórico de luta contra os privilégios dos patrícios. Era um termo para englobar todos os cidadãos romanos sem os mesmos direitos oligarcas Na sua base estavam os camponeses livres de poucas posses, aos quais se juntaram os artesãos urbanos e os comerciantes. Ao que tudo indica, a plebe incluía também descendentes de estrangeiros residentes em Roma. PARA ALÉM DA DICOTOMIA ENTRE PATRÍCIOS E PEBLEUS Havia dois grupos: clientes e escravos Clientes: “aqueles que obedecem a um patrício”, mantinham relação de fidelidade ao patrono, a quem deviam serviços e apoios diversos e de quem recebiam terras e proteção. Clientes podiam ganhar independência e passar a integrar a plebe, e vice-versa, mas isso não era comum. Já os escravos, até o séc. III a.C., eram basicamente domésticos, integrava, o conjunto de propriedades do patriarca e faziam parte da família. A pobreza de camponeses e trabalhadores urbanos levava-os à escravidão. A LUTA ENTRE PATRÍCIOS E PLEBEUS A luta pelos direitos civis dos plebeus foi o grande motor das transformações históricas a partir da República, por dois séculos (V a IV a.C.). Parte da plebe urbana conseguiu acumular riquezas pelo artesanato e pelo comércio, sem que pudesse gozar de igualdade de direitos em relação aos patrícios – preocupavam-se com os direitos políticos e sociais, queriam ocupar cargos, votar no Senado e até mesmo casar-se com patrícios, o que lhes era vedado. Em um movimento paralelo, parte da plebe rural teve as terras confiscadas pelo endividamento e lutava pelo fim da escravidão por dívida e pelo direito a parte da terra conquistada de outros povos. PLEBEUS GANHAM ESPAÇO Em 494 a.C., o povo conseguiu que fosse instituído o Tribunado da Plebe, magistratura com poder de veto às decisões dos patrícios Os plebeus puderam criar suas próprias reuniões, os “concílios da plebe”, assim como adotar resoluções e plebiscitos. Outro grande avanço da cidadania deu-se quando os plebeus conseguiram que todos os romanos fossem divididos em tribos geográficas, e não mais hereditárias. No início eram quatro tribos urbanas e 16 rurais. Os antigos comícios de cúrias dominados pelos patrícios e seus clientes, foram completados por comícios de tribos, nos quais prevalecia a plebe. MEADOS DO SÉCULO V ANTES DE CRISTO Foi publicada a Lei das Doze Tábuas. Embora fosse a codificação da legislação tradicional, que previa grande poder aos patriarcas, estabeleceu-se ali o importante princípio da lei escrita. De fato, o chamado direito consuetudinário, baseado na tradição, gerava grande insegurança – já que, em caso de divergência, a palavra final era sempre dos patrícios. Com a publicação da lei, todos podiam recorrer a um texto conhecido para reclamar direitos sem depender da boa vontade dos poderosos Instituiu-se também a classificação das pessoas pelas posses, isso beneficiou os plebeus ricos, cuja importância social começou a ser reconhecida. NOS SÉCULOS SEGUINTES As conquistas da cidadania romana ligaram-se à expansão militar, causa de modificações profundas e duradouras para a sociedade. Um episódio é sintomático das tensões sociais do período – os celtas assentados ao norte da Península Itálica, no que viria a se chamar de Gália Cisalpina, venceram tropas romanas e, em 387 a.C., chegaram a ocupar Roma por algum tempo Pequenos proprietários foram os que mais sofreram com os saques. Muitos acabaram escravizados por dívida Em consequência disso, as décadas seguintes testemunharam distúrbios sociais contra a ordem patrícia vigente. Começou a forjar-se uma aliança de setores patrícios com plebeus enriquecidos, o que gerou, em 388 a.C., a nomeação de um mestre de cavalaria plebeu por um ditador patrício e a admissão de plebeus em colégios de sacerdotes. NO ANO SEGUINTE FORAM APROVADAS LEIS As relações entre devedores e credores começaram a ser reguladas por lei Nenhum cidadão poderia receber do estado mais do que 500 jeiras (ou hectares) de terras públicas No campo religioso, os livros sagrados (livros sibilinos), antes controlados pelos patrícios, passaram para o cuidado de uma comissão de dez pessoas, os decênviros, cinco dos quais plebeus Essas importantes leis, conhecidas como Licínias Séxtias (367 a.C.), foram votadas pela assembleia popular, com aprovação do Senado. As decisões da assembleia popular podiam, também, ser anuladas pelo Senado – então, em 339 a.C, a Lei Publília restringiu o direito ao veto do senado Em 300 a.C., com a Lei Ogúlnia, os plebeus tiveram, por fim, acesso a todos os cargos – tanto políticos quanto religiosos. Um cidadão condenado à pena máxima passou a ter o direito de recorrer à assembleia popular em busca de perdão ou diminuição de pena – medida importante para que os líderes populares não fossem submetidos aos ditames do patriciado. OS PLEBISCITOS VIRAM LEI A limitação de tamanho para aspropriedades agrícolas representou verdadeira reforma agrária, pois permitiu aos camponeses o acesso às terras advindas das conquistas romanas, o que lhes garantia o sustento e a independência Outra medida igual – ou talvez maior – importância social foi a abolição da servidão por dívida, determinada pela lei Poetélia Papíria, de 326 a.C. Até então os cidadãos pobres não tinham direito de manter a própria liberdade. Escravizados, ainda que temporariamente, perdiam todos os direitos civis. A última grande conquista plebeia foi a aprovação da Lei Hortência, em 287 a.C., resultado de uma série de agitações e secessões. A lei permitia que os plebiscitos tivessem força de lei mesmo sem a aprovação final do Senado. Os grandes conflitos sociais deslocaram-se do choque entre patrícios e plebeus para confrontos entre dominantes e subalternos, romanos e não romanos aliados, senhores e escravos. De uma forma ou de outra, a questão da cidadania sempre esteve em jogo nesses embates, pois mesmo os escravos, por meio da alforria, passavam a fazer parte do corpo de cidadão e a lutar por direitos. No interior da elite dominante, um grupo restrito consolidou- se como uma aristocracia de patrício e plebeus, com privilégios, propriedades fundiárias e fortuna, chamada de “nobreza” (nobilitas). Esse restrito círculo era composto por pouco mais de vinte famílias. ELEIÇÕES E CIDADANIA As eleições, em Roma, constituem outro grande tesouro da cidadania. Os comícios por tribos eram muito importantes, pois elegiam questores (fiscalizam a coleta de impostos), edis (tem a seu cargo a polícia, o abastecimento, a realização de jogos), tribunos militares e tribunos da plebe. À diferença de muitas cidades gregas, em que o direito de voto era restrito, em Roma votavam pobres e mesmo libertos. As funções das assembleias eram tanto eleitorais como legislativas, e o princípio fundamental do voto romano era o voto por grupo, não individual. O voto secreto foi introduzido ao final da República e, para isso, adotou-se o voto por escrito (per tabellam, “em uma cédula”). Além desses comícios eleitorais, havia reuniões prévias (contiones), com participação inclusive de quem não tinha direito a voto. As lutas pela cidadania centraram-se nos embates entre os próprios cidadãos, entre populares e oligarcas que caracterizaram todo o período tardio da República. Os conflitos entre os generais Pompeu e Júlio César representaram bem essa oposição, coma vitória final de César. Ele se tornou ditador em 47 a.C. e, após adotar uma série de medidas administrativas, foi assassinado em 17 de março de 45 a.C. O assassinato de César levou a nova guerra civil e ao triunfo, em 31 a.C. de seu sobrinho, Otávio Augusto, que reorganizou a estrutura política e redimensionou a cidadania romana. Otávio Augusto manteve, na aparência o regime republicano e, de fato o estado conitinuou a chamar-se res publica. Passou, no entanto, a ser dominado pelo príncipe do Senado, conhecido também como general do exército (imperator, de onde deriva nosso conceito moderno de império). Um princípio do direito romano “o que agrada o príncipe (=imperador) tem força de lei, viria a caracterizar, de certa maneira, os limites dos direitos civis romanos, uma vez que a satisfação do imperador passava a ser parâmetro jurídico. Seria a partir de Otávio Augusto que se consolidariam de maneira sintomática o direito romano e as prerrogativas da cidadania. O termo “senhor” (dominus) era usado apenas pelos escravos para se dirigirem a seus donos. Alguns historiadores chegaram a afirmar que o Império Romano nada mais era do que uma imensa federação de cidades autônomas, cada uma com sua cidadania. Cada cidade possuía uma câmara municipal (ordo decurionum) e magistraturas diversas, às vezes abertas até mesmo aos libertos. A importância da cidadania romana não pode ser subestimada, pois era a única a garantir total proteção jurídica. Um bom exemplo disso pode ser observado no caso de Paulo de Tarso, numa passagem do Novo Testamento, da Bíblia: “Quando um tribuno foi prender Paulo, ele disse: ‘é-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado?’ E, ouvindo isso, o centurião foi e anunciou ao tribuno, dizendo: ‘vê o que vais fazer, porque este homem é romano’. E vindo o tribuno, disse- lhe: ‘dize-me, és tu romano?’ E ele disse: ‘sim’. E respondeu o tribuno: ‘eu, com grande soma de dinheiro, alcancei este direito de cidadania.’ Paulo disse: ‘mas eu sou-o de nascimento’. Ao governador da Judeia Festo, em seguida, Paulo dirá: ‘apelo para César’; então Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: ‘para César apelaste, para César irás’. Uma vez em Roma, foi permitido a Paulo morar por sua conta, tendo em sua companhia o soldado que o guardava. Por dois anos permaneceu Paulo em sai própria casa, que alugara, onde recebia a todos os que procuravam.” (Atos dos Apóstolos, 22-28). PRIVILÉGIO COBIÇADO Uma vez obtida, a cidadania romana trazia consigo privilégios legais e fiscais importantes Permitia a seu portador o direito e a obrigação de seguir práticas legais do direito romano m contratos, testamentos, casamentos, direitos de propriedade e de guarda de indivíduos sob sua tutela (como as mulheres da família e parentes homens com menos de 25 anos). CIDADANIA HOJE, LIGA-SE À OPINIÃO PÚBLICA, AOS ANSEIOS E CLAMORES DO CONJUNTO DE CIDADÃOS Haveria opinião pública na cidadania romana? A própria palavra opinião é de origem latina (opinio). Embora no mundo antigo não houvesse comunicação de massa e, menos ainda, pesquisas de opinião pública, foi naquele ambiente que surgiu o conceito de “opinião”. Cícero referia-se a popularis opinio, e opinio tanto era termo usado para traduzir o grego doxa (conjunto de ideias e juízos generalizados e tidos como naturais por uma maioria), por oposição a episteme (ciência), como mais prosaicamente, para designar “impressão”, verdadeira ou falsa. “Impressão” corresponde bem à raiz de dokeo (“parecer, pensar, imaginar”) e, ainda que não saibamos a origem de opinio, transmite a sensação de falta de certeza, imprecisão. Este é o sentido do termo em outra frase de Cícero, apud homines barbaros opinio plus ualet saepe quam res ipsa (“entre os homens bárbaros, a impressão vale, muitas vezes, mais do que a própria realidade”). Expressões como opinio est (“considera-se”) e opiniones omnium (“todos acham”), bem como o sentido de “boato” que a palavra possui, conduzem-nos à percepção de um estado público que permitia a existência não apenas do sentido individual da opinião (ut mea opinio est, “na minha opinião”), como da opinião tornada coletiva. JOGOS E CIDADANIA Os jogos de gladiadores têm origem muito antiga, tendo surgido com os etruscos. Na origem, eram lutas entre guerreiros em honra de um soldado valoroso morto em combate. Tinham, desde o início, um aspecto religioso, pois celebravam a vitória da vida sobre a morte. Ao contrário do que se vê nos filmes, a luta dos gladiadores não se destinava à mera diversão do povo, nem a luta era até a morte. Ao final de cada combate, o perdedor devia retirar o capacete e oferecer o pescoço ao vencedor, que não podia tirar-lhe a vida de motu próprio. também não cabia ao magistrado ou ao imperador decidir o destino do perdedor: apenas os espectadores podiam fazê- lo. A decisão, assim, estava nas mãos da multidão, a testemunhar um ato de soberania popular que só teria equivalência, no mundo moderno, com os referendos e plebiscitos, em que todos se manifestavam. O princípio da soberania popular manifestava-se,na arena, de forma direta e incisiva. A condenação à morte tampouco era o resultado de um simples capricho, da mera avaliação de superioridade física de um lutador sobre o outro. O principal quesito para que o perdedor fosse poupado era ter mostrado valentia. Os romanos possuiam o conceito de “humanidade” (Humanitas), que tinha conotações que ultrapassavam a “urbanidade” (Urbanitas) Humanitas implicava educação liberal, elegância de costumes, hábitos de classe alta. Assim, alguns historiadores que a arena de espetáculos não servia apenas como lugar de integração de romanos ricos e pobres, mas também para separar os civilizados, que frequentavam os espetáculos, dos bárbaros. Daí sua localização próxima ao limite físico que separa o recinto urbano amuralhado do campo, daí sua presença no mundo de fala grega, como sinal de identidade romana. A LIBERDADE E O DIREITO ROMANO Subjacente ao direito de cidadania encontra-se a própria noção de liberdade, definida como a não submissão ou sujeição a outra pessoa, conceito esse que será fundamental para as formulações dos fundadores da cidadania no mundo moderno. Uma fábula de Fedro retrata bem o valor da liberdade para os romanos: p. 72 ler.... Fedro foi um fabulista romano (século I d. C.) nascido na Macedônia, Grécia. Filho de escravos, foi alforriado pelo imperador romano Augusto. Seu nome completo era Caio Júlio Fedro (latim: Gaius Iulius Phaedrus). ESSE AMOR À LIBERDADE ESTAVA NA BASE DA CIDADANIA ROMANA A moderna cidadania, na base da democracia, funda-se na distinção romana da chamada liberdade negativa, ou seja, a liberdade de não se submeter à vontade de outrem. Gaio informa-nos em Institutas que, perante a lei, as pessoas são escravos ou livres: Antes: Gaio (Gaius em latim) foi um jurisconsulto romano do século II, tendo redigido seus principais trabalhos entre 130 e 180 d.C.. Seu nome completo é desconhecido nos dias atuais, sendo Gaio seu prenome. A única obra de sua autoria que chegou até os dias atuais intacta foi as Institutas. PARA SABER: INSTITUTAS DE GAIO (Gai Institutionum Commentarii Quattuor), escrito por volta de 161 d.C., é um manual didático de direito romano, mas que é de inestimável valor pelas informações que fornece sobre o direito romano clássico. Foi descoberto, em 1816, pelo historiador Niebuhr, num palimpsesto, do século V ou VI d.C., da biblioteca da Catedral de Verona (a melhor leitura desse palimpseto é devido ao filólogo Studemund). Em 1927, Hunt publicou três fragmentos, descobertos na cidade de Oxirinco, no Egito, de uma cópia das Institutas de Gaio escritos num papiro do século III d.C. Finalmente, em 1933, Meda Norsa comprou, no Cairo, duas folhas e meia de pergaminho escritas no século V d.C., as quais contêm parte de cópias das mesmas Institutas. TRECHO DO INSTITUTAS “ Algumas pessoas são independentes (personae sui iuris), outras estão submetidas a outrem (alieno iuri subietae). Destas pessoas submetidas, algumas estão sob o poder (in potestate), sob o domínio marital (in manu) ou sob servidão (in mancipio). Examinemos as pessoas subemtidas pois, se soubermos quem é subordinado, saberemos quem é independente. Vejamos primeiro os que estão no poder de outrem. Os escravos estão no poder de seus senhores. Este poder baseia-se no direito dos povos.” ETIMOLOGIA (ORIGEM DA PALAVRA): DO LATIM EMANCIPATIO.ONIS. Na antiguidade romana, um senhor podia emancipare (libertar) um escravo. A palavra era composta pelo prefixo ex (indicando a ideia de "saída" ou de "retirada"), pelo substantivo manus ("mão", simbolizando poder) e pelo verbo capere ("agarrar", "pegar"). Emancipar é "retirar a mão que agarra", é abrir mão do poder sobre alguém. E emancipar-se será, portanto, dizer a quem nos oprime: "tire a sua mão de cima de mim!". O DIREITO ROMANO CONSISTE, PORTANTO Em fundamento essencial das reflexões modernas sobre cidadania Baseava-se no sistema de processo por fórmulas: uma queixa podia ser feita ao pretor que designava um ou mais juízes Para instruir o juiz, o pretor instruía a ação com uma breve declaração, chamada de formula, que indicava o juiz, nomeava as partes na disputa, especificava a questão legal em jogo e solicitava o julgamento Em seguida, o juiz ouvia advogados dos dois lados e emitia um veridicto – lat. Vere dictum “verdadeiramente dito”, verdade. Desde o final d República, dominavam os procedimentos os estudiosos do direito, chamados de jurisconsultos Os juristas, desde Augusto, podiam emitir pareceres jurídicos, verdadeiras respostas a consultas legais (responsa) Os principais instrumentos legais eram as leis (leges), os decretos do Senado (senatusconsulta), além de decretos emanados do príncipe, como os editos (edicta), decretos (dedreta), resposta a petições (rescripta) e instruções a outros magistrados, ou mandados (mandata). CIDADANIA MODERNA E O LEGADO ROMANO Nas últimas décadas estudiosos têm mostrado que a vida política romana era menos controlada pela aristocracia do que se imaginava e, de certa maneira, Roma apresentava diversas características em comum com as modernas noções de cidadania e participação popular na vida social. Os patriarcas fundadores dos Estados Unidos da América tomaram como modelo a constituição romana republicana, com a combinação de Senado e Câmara (no lugar de antigas assembleias) A invenção do voto secreto, em Roma tem sido considerada a pedra toque da liberdade cidadã O Fórum pode ser considerado o símbolo maior de um sistema político com forte participação da cidadania.
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