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USF_PED_Ética_e_cidadania_Completo

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Prévia do material em texto

PAULO NICCOLI RAMIREZ
SUSANA MESQUITA BARBOSA
RENAN REIS FONSECA 
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
ÉTICA E CIDADANIA
2021
ÉTICA E CIDADANIA
PAULO NICCOLI RAMIREZ
SUSANA MESQUITA BARBOSA
RENAN REIS FONSECA 
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
© 2021 Universidade São Francisco
Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA 
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – 
ORDEM DOS FRADES MENORES
PRESIDENTE 
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL 
Jorge Apóstolos Siarcos 
REITOR 
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM 
VICE-REITOR 
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO 
Adriel de Moura Cabral 
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO 
Dilnei Giseli Lorenzi 
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD 
Renato Adriano Pezenti
GESTOR DO CENTRO DE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CSE
Franklin Portela Correia 
CURADORIA TÉCNICA
Osmair Severino Botelho
DESIGNER INSTRUCIONAL
Paloma Larissa Souza Guimarães de Lima
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Giovana Stimpel Amaral 
Paloma Larissa Souza Guimarães de Lima
PROJETO GRÁFICO
Centro de Soluções Educacionais - CSE
DIAGRAMADORES
Andréa Ercília Calegari
CAPA
Andréa Ercília Calegari
AUTOR
PAULO NICCOLI RAMIREZ
SUSANA MESQUITA BARBOSA
RENAN REIS FONSECA
Possui doutorado (2014) e mestrado (2007) em Ciências Sociais pela Pontifícia Univer-
sidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (respectivamente nas áreas de concentração 
Antropologia e Sociologia), é bacharel em Ciências Sociais pela mesma instituição de 
ensino (2004) e bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) (2007).É 
professor de Filosofia, Sociologia, Antropologia e Ciência Política. Leciona na Escola 
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), na Fundação Escola de Sociologia e Po-
lítica de São Paulo (FESPSP), Casa do Saber e Colégio São Luís. Autor do livro Sérgio 
Buarque de Holanda e a dialética da cordialidade (2011).
Possui bacharel e licenciada em Filosofia (UNICAMP); bacharel em Direito pela Ponti-
fícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); É mestre em Educação pela Uni-
versidade Estadual de Campinas (UNICAMP); doutora em Direito Político e Econômico 
(MACKENZIE) e especialista em “Educação e Tecnologia: Docência no Ensino Supe-
rior” pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Atualmente, é coordenadora 
dos Cursos de História e Filosofia da Universidade São Francisco (USF); professora e 
assessora pedagógica na Faculdade Paulista de Ciências da Saúde (SPDM Educação). 
É também membro da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e parece-
rista de diferentes periódicos. Autora dos livros: História do Direito; Introdução à História 
do Direito; e organizadora das obras Direitos Humanos: perspectivas e reflexões para o 
Século; e Transparência Eleitoral. Autora de capítulos de livros e artigos resultados das 
pesquisas nas áreas de Ética, Filosofia, Direitos Humano, Cidadania e Políticas Públi-
cas e Políticas de Desenvolvimento.
Possui graduação em História (2006-2010) nas modalidades bacharelado e licenciatura 
pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). É mestre (2010-2013) pelo Pro-
grama de Mestrado em Letras, Teoria Literária e Crítica da Cultura (PROMEL), da mes-
ma instituição de ensino. É doutor em História Social (2014-2019) pela Universidade 
de São Paulo (USP). É autor dos livros: O transnacional e o local nas revistas Readers 
Digest e Seleções: relações de gênero nos Estados Unidos e Brasil (1939-1971); Amor 
e Gênero em Revista: os quadrinhos em sua (sub)versão romântica, ambos publicados 
em 2020 pela Editora ApeKu. Possui experiência na área de conservação, organização, 
descrição e indexação em banco de dados de documentos históricos. Possui, também, 
experiência na área docente, como professor de História, Funcionamento do Estado e 
Criação Literária para o Ensino Médio e superior. Atualmente, desenvolve pesquisa nos 
seguintes temas: Histórias em quadrinhos, Estudos culturais, História da Imprensa e do 
mercado editorial, História Cultural, Relações Brasil – Estados Unidos, Imigração. 
HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
Possui doutorado em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita 
Filho (2010) e é especialista em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio 
Grande do Sul (PUC-RS). Tem experiência nas áreas de Sociologia e Ciências Sociais 
e Humanas, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, tecnologia e me-
diação tecnológica, Sociologia Geral e pensamento clássico, Arte, Cultura e Indústria 
Cultural. Professora no Ensino Superior e autora de materiais didáticos. É professora 
orientadora no curso de pós-graduação Especialização na Inovação da Educação Me-
diada por Tecnologias, na Universidade Federal do ABC, financiado pela UAB/Capes.
SUMÁRIO
UNIDADE 01: O ESTUDO INTERDISCIPLINAR E O DESENVOLVIMENTO DE 
COMPETÊNCIAS ....................................................................................................8
1. Conectar ..............................................................................................................8
2. Desenvolver ........................................................................................................9
3. Prativar ................................................................................................................11
UNIDADE 02: ONDE ESTÃO A ÉTICA E A MORAL? ...........................................15
1. Ética e moral .......................................................................................................15
2. O problema do valor e o julgamento ético ...........................................................17
3. Questões éticas e questões morais ....................................................................19
4. A ética como projeto de vida ...............................................................................20
UNIDADE 03: APRENDENDO A DECIDIR COM ÉTICA .......................................25
1. A escolha de caminhos de ação .........................................................................25
2. Modelos éticos na modernidade .........................................................................27
3. Outras perspectivas éticas contemporâneas ......................................................29
UNIDADE 04: SENDO ÉTICO NO DIA A DIA .........................................................35
1. Liberdade, escolha e decisão .............................................................................35
2. Bem individual X bem coletivo ............................................................................38
UNIDADE 05: O QUE SIGNIFICA SER PROFISSIONAL? ...................................45
1. Dialogar com a Realidade ...................................................................................45
2. A necessária e oportuna atualização profissional ...............................................47
3. Compromisso com a Inovação ............................................................................48
4. Compromisso com a ética profissional ................................................................49
UNIDADE 06: A NECESSIDADE DE REGRAS MORAIS .....................................55
1. Os dilemas éticos contemporâneos ....................................................................55
2. Confronto inicial: ética do indivíduo versus ética da profissão ...........................57
3. O intermediador escolhido: os Códigos de Ética Profissional ............................59
4. O confronto final: ética profissional e ética institucional .....................................60
UNIDADE 07: SOCIEDADE TECNOLÓGICA E DIGITAL – PODE-SE TUDO? ...65
1. O mundo tecnológico e a era digital ....................................................................65
2. As redes sociais e os novos aplicativos ..............................................................66
UNIDADE08: CIDADANIA ONTEM E HOJE .........................................................73
1. Conceito de cidadania .........................................................................................73
2. A cidadania a partir da Idade Moderna ................................................................74
3. A cidadania na contemporaneidade ....................................................................77
UNIDADE 09: O ESPAÇO DA CIDADANIA ............................................................81
1. Igualdade e desigualdade na sociedade contemporânea ...................................81
2. O cidadão como detentor de direitos individuais e coletivos ...............................84
3. A atuação profissional e a vivência cidadã: a retomada do protagonismo social 85
UNIDADE 10: É PRECISO CUIDAR! ......................................................................91
1. O homem e o meio ambiente ..............................................................................91
2. Por uma ética animal: o animal humano e os animais não humanos .................94
UNIDADE 11: SER DIFERENTE É SER DESIGUAL? ..........................................99
1. As desigualdades raciais no Brasil ......................................................................99
2. Afinal, o que é racismo? .....................................................................................102
3. Racismo e desigualdade .....................................................................................105
UNIDADE 12: A PROFISSÃO NÃO TEM GÊNERO ..............................................108
1. O que são questões de gênero e por que tratar do tema ...................................108
2. As mulheres e o mercado de trabalho .................................................................113
3. Desafios contemporâneos ...................................................................................115
UNIDADE 13: ENFIM, UMA SOCIEDADE POSSÍVEL ..........................................117
1. Sociedade brasileira ............................................................................................117
2. O direito à participação nos bens sociais ............................................................120
3. O reconhecimento da diferença: base para a igualdade .....................................121
UNIDADE 14: COMPETÊNCIAS E VIVÊNCIA PROFISSIONAL – UMA VISÃO INTER-
DISCIPLINAR ...........................................................................................................125
1. Competências propostas .....................................................................................125
2. Avaliando o próprio desenvolvimento de competências......................................126
3. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil .........................................127
9
UNIDADE 1
O ESTUDO INTERDISCIPLINAR 
E O DESENVOLVIMENTO DE 
COMPETÊNCIAS 
INTRODUÇÃO
Trazemos, de nossa história de estudos, diferentes vivências educacionais; porém, uma 
coisa é certa: quase 100% de nossa experiência vem do ensino presencial. Significa 
que, durante muito tempo, entendemos que a educação apenas era possível dentro do 
modelo que coloca professor e alunos em um mesmo espaço e tempo (sala de aula), 
a partir do que um conteúdo era ensinado. Mas isto não tem nada de novo, já que há 
séculos assim se dá.
A pergunta que fazemos, então, é: se o contexto mudou e diferentes tecnologias foram 
desenvolvidas, por que continuar a realizar a educação do mesmo modo? A Universi-
dade São Francisco – USF entende que, além de importante, a mudança é necessária. 
Mas, já que se trata de uma proposta diferenciada, é importante entender de que modo 
é possível alcançar sucesso nos estudos por meio dela.
Ética e Cidadania é um dos componentes que constituem o Núcleo de Formação Ge-
ral – juntamente com Estudo do Ser Humano Contemporâneo, Iniciação à Pesquisa 
Científica, Direitos Humanos e Empreendedorismo –, que são oferecidos integralmente 
a distância. Estes componentes serão trabalhados de forma interdisciplinar: os conte-
údos de cada um servirão para construir um entendimento de mundo e uma maneira 
de problematizar a realidade. Eles, conjuntamente, oferecerão novas chaves para que 
você possa reinterpretar a realidade.
Esta Unidade I tem o objetivo de apresentar alguns elementos importantes para que 
você bem entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação 
Geral estão estruturados a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendiza-
gem, contribuindo, assim, para sua formação profissional.
1. CONECTAR
Ética e Cidadania e a interdisciplinaridade
Ao pensarmos os conteúdos e problematizações deste componente, é importante en-
tender que ele não pode ser restrito a apenas um âmbito de vivência humana, pois tudo 
o que o ser humano faz tem reflexo (direto ou não) na vivência plural. Enquanto a ética 
busca pensar a ação do indivíduo, pautada por valores, a cidadania amplia a visão e 
tenta enxergar de que modo o individual se transforma em coletivo: a cidadania se re-
10 Ética e Cidadania
U1 O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
fere à maneira como uma comunidade possibilita a participação de seus membros na 
construção de uma vivência coletiva que permita a realização humana.
Deste modo, as temáticas relacionadas às vivências ética e cidadã são, em si mesmas 
interdisciplinares – principalmente quando pensamos a formação profissional. Pense no 
âmbito da sua escolha profissional e nos outros componentes do Núcleo de Formação 
Geral. Vejamos:
 ` Em todas as suas escolhas – acadêmicas ou profissionais – você traz valores aprendidos 
ao longo de sua vida. Onde tais valores encontram fundamento? Você traz como princí-
pios de vida algo que sua vivência familiar e social ensinou. Pode ser por meio dos livros 
aos quais teve acesso; pode ser por meio de uma vivência religiosa; ou, simplesmente, 
por meio da convivência nos diferentes ambientes. Estes âmbitos – ou dimensões huma-
nas – são problematizados em Estudo do Ser Humano Contemporâneo.
 ` Você pretende fazer uma pesquisa? Sabe quais caminhos seguir e de que modo pode 
evitar problemas com seu conteúdo? Uma pesquisa alcançará mais sucesso, quanto mais 
responder aos anseios da sociedade. E é importante entender que, para algumas pesqui-
sas, é necessário submeter o projeto ao Comitê de Ética da instituição. Ainda mais: um 
trabalho autoral, sabendo como se utilizar de fontes de pesquisa, evita graves problemas, 
como o plágio. Estas questões são tratadas em Iniciação à Pesquisa Científica. 
 ` Na vida profissional, possivelmente, você vai lidar com pessoas – mesmo que seja indire-
tamente. Uma reflexão sobre o espaço de vivência para todos na sociedade e no ambien-
te de trabalho é questão de oportunidades e não de capacidades. Não falamos mais de 
‘gosto’, ou ‘preferência’; a igualdade e a não discriminação são pilares de uma concepção 
de cidadania. Temas como estes são problematizados em Direitos Humanos.
 ` Como profissional, é claro que você objetivará alcançar satisfação e sucesso. Mas, será 
que todo caminho é válido? Cada pessoa deve tentar por si mesma um caminho? Vale 
pensar “sucesso a qualquer preço”? Ser profissional é entender que há uma necessidade 
social que precisa ser respondida – lembre-se de que você escolheu uma profissão que 
existe por ser importante neste contexto no qual você vive. Estes temas com viés ético 
estão presentes no componente Empreendedorismo.
Enfim, no Núcleo de Formação Geral, o componente Ética e Cidadania partilha de gran-
des temas que perpassam os demais componentes. As competências objetivadas pelo 
Núcleo buscam auxiliar em sua formação de modo amplo, para ser um bom profissional, 
com conteúdos que vão além do âmbito técnico da área específica do seu curso.
2. DESENVOLVER
O desenvolvimento de competências
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você 
sabe o que é acompetência, ou quando alguém pode se entender competente?
SA
IB
A 
M
A
IS A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na 
vida cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta 
das exigências que as diferentes situações impõem.
U1
11Ética e Cidadania
O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai 
nos apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.
Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se ob-
jetiva é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita 
não é “Eu aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir 
deste caso, e que vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”
Figura 01. O desenvolvimento de competências
Fonte: Elaborado pelo autor / Imagens: Pixabay.com
Desenvolver competências é desenvolver a habilidade de resgatar esquemas men-
tais que possam ser encaixados em diferentes situações. O célebre autor que gran-
demente tratou da temática das competências é Philippe Perrenoud (1944-).
Para conhecer mais, assista ao vídeo Pensadores na Educação: Perrenoud e o 
desenvolvimento de competências:
https://www.youtube.com/watch?v=lYvoCDRCfOw
Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o 
componente Ética e Cidadania incitará:
 ` Desenvolver postura crítica e ética diante do conhecimento, compreendendo os valores 
envolvidos na produção científica.
 ` Valorizar o estudo ativo diante dos conteúdos, posicionando-se dialogicamente em rela-
ção aos autores.
 ` Compreender a ação profissional de modo consciente e segundo princípios éticos, valori-
zando a reflexão sobre os fundamentos da ação humana, pautada nas ideias dos teóricos.
 ` Entender a importância de assumir posicionamento de influência positive sobre o grupo do 
qual participa, atuando segundo hierarquia própria de valores.
 ` Reconhecer a importância da cultura humana em seus valores, identificando a construção 
social de tais valores.
12 Ética e Cidadania
U1 O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
 ` Preparar-se para responder aos impasses éticos e de cidadania de maneira mais cons-
ciente, entendendo as propostas dos pensadores ao longo do tempo.
 ` Conscientizar-se do conjunto de elementos que constituem a teia social, problematizando 
as relações que os indivíduos estabelecem consigo e com o mundo.
 ` Entender a importância de espaços de igualdade para todas as pessoas, compreendendo 
a histórica luta por direitos sociais.
IM
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TE
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IS
Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de 
forma aleatória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF 
acredita, formando você como profissional. São competências possíveis, mas que ape-
nas podem ser desenvolvidas se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.
3. PRATICAR
3.1. DIFERENTES OBJETOS DE APRENDIZAGEM PARA DIFERENTES 
FORMAS DE APRENDER
O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com o 
objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos especí-
ficos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que está sen-
do formado – você! –, não importando a área de conhecimento. Mas, antes dos objetivos 
de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para bem cursar 
um componente oferecido a distância, já que ele é diferente dos tradicionais, presenciais.
E você, sabe como você aprende?
Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto 
outra o faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.
Leia ao artigo:
Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e outros não
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html
3.2. O CONHECIMENTO – TEORIA E PRÁTICA
A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tra-
tam de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e atitu-
de. Dificilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes ele-
mentos como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente curricular 
é entendido e proposto com significativa importância para sua formação profissional. A 
USF entende que ser profissional deve ser mais que ser um fazedor técnico.
U1
13Ética e Cidadania
O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibilitar uma 
prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios da sociedade, 
sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as competências deste 
componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as tem desenvolvidas. Inicie 
o curso deste componente, já tendo em mente suas competências e entendendo que elas 
devem ser metas a se alcançar. No final do semestre, você terá oportunidade de se avaliar, 
verificando quanto aprendeu e desenvolveu, e o que ainda restará como necessidade.
3.3. OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL
No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida 
no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a 
chamada Agenda 2030 – tratou-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o 
desenvolvimento da vida humana e do planeta.
SA
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A 
M
A
IS
IM
PO
R
TA
N
TE
Avalie suas competências, verificando:
 ` Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarão uma 
vivência profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a socie-
dade?
 ` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática 
que seja eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) pro-
fissional?
 ` Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se 
motiva a agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?
Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, pesquisan-
do em:
https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/conhea-mais/a-
agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentvel.html
Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir 
dos quase são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:
https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/conhea-mais/a-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentvel.html
https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/embaixadores-da-juventude/conhea-mais/a-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentvel.html
14 Ética e Cidadania
U1 O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta 
como um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral, 
entendemos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas 
e situações diversas que você como profissional vai enfrentar. Neste sentido, ao longo do 
semestre, os ODS serão trazidos nas problematizações dos componentes curriculares.
SA
IB
A 
M
A
IS Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, pesqui-
sando em:
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-
nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento 
e sucesso na formação profissional!
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
U1
15Ética e Cidadania
O estudo interdisciplinar e o desenvolvimento de competências 
16
UNIDADE 2
ONDE ESTÃO A ÉTICA E A MORAL? 
1. ÉTICA E MORAL
Nesta unidade, debateremos os significados dos termosética e moral, quais as dife-
renças entre eles e a importância do conhecimento desses conceitos para o convívio 
social. Abordaremos os dilemas existenciais e cotidianos que envolvem esses dois con-
ceitos, sobretudo quando refletimos acerca dos limites da ação humana, ou seja, como 
agir diante de determinadas situações que podem afetar nossos valores. Observaremos 
qual a relevância da ética e da moral como um projeto de vida que se articula à vida em 
sociedade, isto é, com os outros.
Quais as diferenças entre ética e moral? Muitas vezes esses conceitos são tratados como 
sinônimos de forma equivocada, de modo que é importante compreender o que elas real-
mente significam.
1.1 O QUE É ÉTICA?
A palavra ética, do grego ethos, foi elaborada pela primeira vez por Aristóteles (384–
322 a.C.), pensador que viveu na Grécia Antiga. Ética significa conduta ou modo de agir, 
sendo também compreendida como reflexão sobre os fundamentos da conduta ou do 
modo de agir. A ética, portanto, é entendida como uma reflexão ou ciência que estuda o 
comportamento dos indivíduos em comunidade. 
Segundo Aristóteles (1992, p. 22), a finalidade da ética deve ser o de promover a fe-
licidade coletiva, o bem comum ou a excelência humana. Na obra Ética a Nicômaco, 
Aristóteles apresenta a concepção dessa expressão empregando os seguintes termos
[...] parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este 
bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa 
de algo mais; mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras 
formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas [...], escolhe-
mo-las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes. 
Ao contrário, ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas de 
excelência, nem, de um modo geral, por qualquer outra coisa além dela mes-
ma (ARISTÓTELES,1992, p. 23).
A ética se relaciona ao uso da racionalidade e do senso-crítico, conduz ao bom senso 
ou moderação. Isso significa afirmar que exige a reflexão, ou seja, deve-se medir os 
prós e os contras, os elementos positivos e negativos de cada ação antes mesmo que 
qualquer decisão seja tomada. Nessa direção, a ética tem como finalidade estabelecer 
a melhor atitude ou ação mais equilibrada para o convívio coletivo.
U2
17Ética e cidadania
Onde estão a ética e a moral? 
SA
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IS
A ética busca estabelecer as melhores formas de conduta perante outros indivíduos. 
Para isso, deve-se refletir sobre os procedimentos e as virtudes que são fundamentais 
para a realização do bem coletivo. O exercício da ética exige a busca do que os gregos 
denominavam como areté, compreendida como melhor ação – portanto, um comporta-
mento virtuoso ou atitudes que buscam a excelência humana. 
1.2 O QUE É MORAL?
É comum que confundamos as palavras ética e moral. Contudo, ambas possuem dife-
renças, por isso, torna-se necessário esclarecermos o que exatamente as distinguem. 
A moral tem origem no latim, moris, e significa costume, tradição ou hábitos. A sua 
diferença com a palavra ética está no fato de que a moral não exige reflexão mais pro-
funda ou senso-crítico, ela não reflete um exame detalhado de uma conduta ou ação. 
Isso ocorre porque a moral é constituída por regras, normas ou costumes que não 
são detalhadamente analisados ou questionados, são, na verdade, transmitidos de ge-
ração a geração como se fossem normais, naturais, de modo que devem ser seguidas 
e obedecidas. 
No que diz respeito à moral, os sujeitos são introduzidos em um conjunto de costumes 
como se eles fossem normais ou como se existissem desde sempre, sem que isso 
implique análises e problematizações profundas sobre a existência de padrões de com-
portamento, formas de ver o mundo e valores. 
O que vem a ser a moral? Um conjunto de valores e de regras de compor-
tamento, um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma 
nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organiza-
ção. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, 
a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes 
sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e 
quais não. (SROUR, 2000, p. 29).
Em linhas gerais, podemos afirmar que a ética é expressa por condutas que têm alcan-
ce universal, geral ou coletivo, pois sua principal intenção é tentar promover a felicidade 
coletiva por meio da reflexão e da razão. A ética mede os elementos favoráveis e desfa-
voráveis de cada ação ou conduta, além de procurar condições que contribuam para a 
convivência entre diversos grupos e diferentes indivíduos, dotados de morais distintas. 
A ética estuda e investiga a moral (os hábitos e costumes humanos) para produzir a 
melhor ação possível, sem desconsiderar a existência de grupos e moralidades que 
Leandro Karnal, no vídeo a seguir referenciado, comenta sobre a obra Ética a 
Nicômaco, de Aristóteles, veja mais em:
KARNAL, Leandro. Ética segundo Aristóteles, 2020. Vídeo (7min. 41seg.). Publicado 
pelo canal Da aula. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=u5cZdWlRejE. 
Acesso em: 30 ago. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=u5cZdWlRejE
18 Ética e cidadania
U2 Onde estão a ética e a moral? 
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são heterogêneas, mas que devem coexistir numa mesma 
sociedade. 
A moral é considerada relativa, pois suas regras e nor-
mas de comportamento podem valer para um gru-
po ou sociedade, mas não necessariamente para ou-
tros. A moral se transforma, ao longo do tempo, e é 
expressa pelos chamados valores (ou juízos morais), 
que norteiam as noções do que é justo ou injusto, 
bem ou mal, o que é virtuoso ou que promove vícios. 
2. O PROBLEMA DO VALOR E O JULGAMENTO ÉTICO
A vida humana é formada por reflexões e ações morais e éticas. Desde governos, em-
presas, relações familiares, passando por jogos, esportes e as demais práticas huma-
nas, todas elas são constituídas de valores morais e condutas éticas. Avaliamos que 
a moral é relativa, porque costumes, hábitos e visões de mundo variam de sociedade 
para sociedade e conforme o período histórico. 
Diante da variabilidade de valores morais presentes em qualquer sociedade e na relação 
entre diferentes povos e culturas, a ética opera não apenas como estudo ou ciência que 
investiga a moral, mas também fornece bases para a prática de julgamentos éticos, que 
visam produzir convivência entre diferentes valores morais presentes nos indivíduos.
Cada ação ética pressupõe a análise de quais são os impactos causados sobre dife-
rentes grupos e comunidades humanas constituídos por valores morais heterogêneos 
e diferentes. A ética parte do pressuposto de que os indivíduos, certas vezes, possuem 
um forte sentimento, vontade ou impulso que surgem como um primeiro impacto quan-
do nos encontramos em situações em que temos que agir de maneira imediata. 
Com indignação, às vezes, engrossamos o tom de voz se uma pergunta ou circuns-
tância chocante está diante de nossa visão. Outras vezes, realizamos juízos sobre as 
ações que presenciamos, sendo que julgamos, demonstramos valores ou comentamos 
o acontecimento que atraiu a nossa percepção. Esses comportamentos são chamados 
de senso moral. 
Figura 01. Moral e ética
Fonte: 123RF.
Quando vemos um indivíduo em condição vulnerável passar fome ou vivendo de ma-
neira miserável e decidimos oferecer alguma ajuda; ou quando vemos um idoso que 
tenta atravessar a rua e de forma imediata e impulsiva, nós o auxiliamos; se somos 
favoráveis ou contrários ao aborto ou legalização do uso de entorpecentes, nessas 
situações, agimos com gritos, gestos bruscos de reprovação ou aceitação, visões e 
expressões mais singelas ou ríspidas. Todos esses valores e comportamentos reve-
lam o que é designado como senso moral.
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19Ética e cidadania
Onde estão a ética e a moral? 
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Com o senso moral não há a necessidade de justificativa imediata, pois o conceito está 
relacionado à formação e aos valoresmorais de um indivíduo, fundamentados em tra-
dições e costumes que originam e caracterizam comportamentos imediatos, portanto, 
fundamentam o próprio senso moral. Situações que não entendemos totalmente ou po-
sicionamentos tomados sem uma análise detalhada da realidade influenciam a prática 
do senso moral. 
Em uma de suas obras capitais para a introdução ao pensamento filosófico, 
intitulada “Convite à filosofia”, Chaui (2000) escreve que esse sentimento 
prova que nós somos seres morais, dotados de um senso de moralidade. 
O sentimento despertado em nós prova a existência de um universo moral 
e nos leva a pensar sobre o que é certo ou errado, justo ou injusto, bom ou 
mau diante de situações de sofrimento e dor, principalmente quando envol-
vem crianças, seres inocentes que nos comovem por conta de sua fragilida-
de (BRAGA JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 42).
Os nossos atos e posicionamentos, sejam contrários ou favoráveis diante de certas 
situações, exigem de nós uma justificativa perante os demais ou à sociedade. Essa 
forma de justificativa é chamada de consciência moral e representa explicações que 
são fornecidas para explicar o senso moral. 
Para saber mais a respeito da ética e o senso moral, recomendamos que você assista 
a aula do professor Washington Soares, referenciada na sequência:
SOARES, Washington. Ética - Senso Moral e Consciência moral, 2020. Vídeo (6min. 
13s.). Publicado na página do Prof. Washington Soares, 2020. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=FE5CZ1DA92s. Acesso em: 30 ago. 2021.
Quando somos questionados sobre a legalização do aborto e caso haja um posi-
cionamento contra a partir de uma perspectiva de uma moral religiosa, será preciso 
justificar este mesmo posicionamento para os indivíduos que nos cercam.
A consciência moral é compreendida, assim, como a justificativa fundamentada a partir 
da moral e fornece sentido às nossas atitudes e percepções de mundo. 
Se procurarmos ajudar a criança com fome ou o idoso que busca atravessar a rua, 
exercermos o chamado senso moral. Quando procuramos justificar aos demais e a nós 
mesmos quais são os motivos que permitiram a ação imediata, exercemos a consci-
ência moral. Esta, por sua vez, permite que os sujeitos se tornem responsáveis pelas 
formas como nos comportamos. 
Senso e consciência moral estão presentes no dia a dia, nos sentimentos, nas inten-
ções e decisões, no que é ou não correto a ser feito. Posto de outra maneira, 
[...] diante de um senso moral, temos emoções e sentimentos que são susci-
tados pelos acontecimentos com base em nossa crença nos padrões morais 
20 Ética e cidadania
U2 Onde estão a ética e a moral? 
que adotamos e que nos orientam. Mas é a nossa consciência moral que 
nos leva a agir e a assumir a responsabilidade por nossos atos (BRAGA 
JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 44).
Os julgamentos éticos são o resultado do estudo e da análise do senso e da consciência 
moral. Ao realizar a capacidade de julgar, a ética leva em consideração os diferentes 
pontos de vista e tem como objetivo produzir equilíbrio e condições de coexistência entre 
posicionamentos heterogêneos, desde que eles promovam o bem comum ou coletivo.
Figura 02. A ética visa o equilíbrio e coexistência entre comporta-
mentos morais heterogêneos
Fonte: 123RF.
3. QUESTÕES ÉTICAS E QUESTÕES MORAIS
Há questões e problemas que dividem opiniões, pois demonstram os dilemas éticos e 
morais. À vista disso, James e Stuart Rachels, na obra Os elementos da Filosofia Moral 
(2013), refletem como no passado havia justificativas que procuravam legitimar a escra-
vidão de seres erroneamente considerados inferiores. Os autores argumentam que, por 
vezes, essas justificativas eram carregadas de argumentos religiosos. 
Sabemos que tais ideias não são mais condizentes com os direitos humanos e igualda-
de jurídica. Isso porque
[n]ossos sentimentos podem ser irracionais: eles podem ser nada mais do 
que produtos do prejuízo, egoísmo ou condicionamento cultural. Em um 
momento, por exemplo, os sentimentos das pessoas lhes disseram que os 
membros de outras raças eram inferiores e que a escravidão era o plano de 
Deus. Ademais, os sentimentos das pessoas podem ser muito diferentes 
(RACHELS; RACHELS, 2013, p. 23).
Debates como o assunto de aborto e de legalização das drogas nos permitem, primeiro, 
identificar diferentes juízos de valor. Via de regra, de um lado, sob uma fundamentação 
moral religiosa, argumenta-se que a vida é um valor sagrado, de modo que abortos não 
deveriam ser legalizados. Por outro lado, movimentos feministas têm como valor as defe-
sas da liberdade de decisão das mulheres e o direito de escolha sobre seus próprios cor-
U2
21Ética e cidadania
Onde estão a ética e a moral? 
PA
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A 
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pos. Além disso, o uso de drogas sob perspectivas morais religiosas é julgado de modo 
negativo, sendo relacionado a uma vida marginal, de degradação e distante de virtudes. 
Nas últimas décadas, no entanto, países como Holanda, Bélgica, Espanha, Uruguai, en-
tre outros, têm concedido liberdade de uso de algumas drogas, como a maconha. Tais 
posturas têm recebido adeptos mundo afora segundo os valores da liberdade individual 
e teses que amenizam os efeitos de certos entorpecentes. A partir dessa oposição de 
valores morais surgem questões éticas, ou seja, reflexões, estudos e condutas em que 
devemos observar, sendo possível promover o bem comum levando em consideração 
a oposição entre diferentes valores morais.
No intuito de verificar valores morais e propiciar uma reflexão acerca de decisões 
éticas possíveis para cada situação, observe, a seguir, outros problemas contempo-
râneos, de ordem ética, que certamente produzem visões morais diferentes quando 
são discutidos: 
 ` A ciência pode desenvolver, de forma autônoma, pesquisas genéticas com embriões 
humanos? 
 ` É possível concordar com a manipulação genética irrestrita? 
 ` Podem os governos e as empresas privadas de tecnologias (redes sociais, apli-
cativos, provedores etc.) terem o controle sobre a privacidade dos seus usuários? 
 ` Devemos preservar o direito à vida ou à liberdade econômica, quando nos defron-
tamos com uma grave pandemia? 
 ` A justiça deve permitir o casamento entre indivíduos do mesmo sexo ou pertencen-
tes aos que se identificam como membros da comunidade LGBTQIA+? 
 ` Proteger o meio ambiente é mais importante do que defender o desenvolvimento 
econômico por meio de práticas predatórias? 
 ` É correto substituir trabalhadores por máquinas nas fábricas? 
4. A ÉTICA COMO PROJETO DE VIDA
Os indivíduos passaram a viver em sociedade, quando surgiram as comunidades e, pos-
teriormente, as cidades criaram regras de convivência social, cujo objetivo é até hoje o de 
produzir o bem e a felicidade a todos. Dessa forma, a ética permite a relação entre proje-
tos de vida coletivos e individuais. Com esses projetos, por exemplo, surgiram normas e 
punições com o propósito de garantir a qualidade de vida individual e da sociedade. 
A ética, sob esse aspecto, afasta-nos de uma vida guiada por impulsos, caprichos e de-
sejos individuais que prejudicam o interesse coletivo. Por meio da elaboração racional 
de princípios, condutas, normas, regras e leis que permitam a civilidade, a ética se torna 
um elemento essencial para a construção do sentido de projetos de vida.
Devemos, neste ponto, destacar a distinção entre normas morais e jurídicas, pois am-
bas permeiam a vida cotidiana e em sociedade. As normas jurídicas são aquelas que 
22 Ética e cidadania
U2 Onde estão a ética e a moral? 
relacionam o indivíduo com o meio externo, ou seja, a sociedade como um todo e são 
reguladas por meio de princípios e obrigações legais (constituição, leis, decretos, entre 
outras normas estabelecidas coletivamente). 
As normas morais pertencem ao campo mais restrito e íntimo dos indivíduos, sendo arti-
culadas com as motivações pessoais. Elas são reguladas pelas relações que concernem 
aos laços familiares, comunitários, religiosos oumesmo grupos cujas tradições e visões 
de mundo representam amplo convívio, proximidade e compartilhamento de valores.
Com isso, percebermos que, desde o nascimento, fomos submetidos a interações so-
ciais que permitiram a vida em sociedade. A partir desses padrões éticos recebidos, 
durante a existência, é que será possível desenvolver projetos que entrelacem a vida 
individual e a coletiva. 
Quando hoje discutimos a preservação do meio ambiente, por exemplo, estamos elabo-
rando um projeto de existência para as gerações futuras a partir de atitudes éticas que 
são urgentes no presente. A forma como falamos, nossos gestos, propósitos profissionais, 
relações de trabalho e modos de agir considerados corretos estão presentes no universo 
de formação das crianças e dos adultos. Todas essas ações podem ser tidas como projetos 
de vida éticos, pois procuram organizar relações sociais em nome da vida em sociedade.
Objetos de aprendizagem
Figura 03. Mapa Conceitual
Fonte: elaborada pelo autor. 
ÉTICA MORAL
Ciência Hábito
Hábito
Reflexão Costume
Costume
Senso 
moral
Universidade Reativismo
Bem 
comum
Felicidade 
coletiva
Estudo das diferentes 
moralidades
Interesse 
coletivo Variabilidade
Heterogeneidade Particularidade
Problematizar Valores
Valores
Senso 
Crítico Tradição
Tradição
Consciência 
moral
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23Ética e cidadania
Onde estão a ética e a moral? 
O filme Advogado do Diabo (1998) trata da vida profissional de Kevin Lomax, um jovem e 
prodigioso advogado norte-americano. Ele se destaca por defender clientes inescrupulosos e 
assassinos por meio de brechas que encontra nas leis. Ele é contratado pelo maior escritório 
de advocacia de Nova York e passa a trabalhar na defesa de casos moralmente condenáveis. 
A obra apresenta uma série de dilemas éticos e morais a respeito do trabalho e vida pessoal 
do personagem. 
Após assistir ao filme, tente identificar três aspectos morais presentes no filme e qual a deci-
são ética foi tomada pelo personagem principal. 
Filme
Texto Complementar
Casos de aplicação
Indicação do livro A Política, de Aristóteles.
Somos animais Políticos
Em A política, Aristóteles define a humanidade como um “animal político por natureza”. De-
ve-se frisar a etimologia em grego de animal político (Zoon Politikon). Politikon não significa 
apenas a atividade política como a ocupação ou exercício de cargos públicos, mas, na reali-
dade, tem um sentido mais amplo para o mundo grego na Antiguidade, pois é a política que 
diferencia humanidade dos demais animais.
A política representa o agir, a reflexão e o aprimoramento da vida em sociedade; está associa-
da à capacidade humana de discernir, estabelecer, criar, construir, refazer e viver (necessaria-
mente em sociedade) o que se entende como justo e o injusto, o bem e o mal, de modo que 
normas e regras são incorporadas coletivamente. A política é produzida por meio do uso da 
razão e das palavras. Sem o uso da razão e da linguagem seríamos incapazes de comunicar e 
muito menos de expor valores, criar costumes e leis. 
O que Aristóteles define como Zoon Politikon (animal político) está relacionado à noção de 
que a política é um elemento natural e vivido de forma intensa socialmente na cidade (Pólis 
em grego). Portanto, a política é o fundamento para a existência da vida moral e ética dos 
sujeitos, pois a existência sempre é dada em sociedade e será por meio dela que se fundam 
juízos, costumes, tradições, regras e leis que constituem o convívio comum.
ARISTÓTELES. A política: 2. ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
Um exemplo para você analisar como a moral esteve arraigada na vida dos indivíduos pode 
ser verificado, a partir do fato histórico no qual, até aproximadamente a década 1960, a 
maioria das sociedades possuía a visão de que as funções sociais das mulheres deveriam se 
resumir aos cuidados domésticos. Ainda hoje é possível ver alguns grupos sociais defendo 
tal postura. No entanto, com o desenvolvimento do mercado de trabalho, a ascensão de mo-
vimentos feministas e maior conscientização da sociedade, as mulheres passaram a ocupar 
lugares importantes no meio social, como no mercado de trabalho, política e meios de co-
municação. Diferentemente de anos atrás, nos dias atuais é impossível imaginar empresas, 
24 Ética e cidadania
U2 Onde estão a ética e a moral? 
universidades e emissoras de rádio e TV sem elas, ainda que visões machistas predominem 
em muitos setores da sociedade. 
Com isso, vemos que a moral está sempre em transformação, de forma que é modificada ou 
varia de acordo com o período histórico, ou conforme cada sociedade ou geração. 
Com base no exposto, elabore um breve texto relatando outros exemplos de transformações de 
visões morais na sociedade. Explique como é possível observar a moral nessas transformações. 
Selecione uma matéria de jornal e revista para fundamentar a sua pesquisa. Pense em questões 
em torno do mercado de trabalho, política, meios de comunicação ou mesmo educação. 
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25Ética e cidadania
Onde estão a ética e a moral? 
26
UNIDADE 3
APRENDENDO A DECIDIR 
COM ÉTICA
1. A ESCOLHA DE CAMINHOS DE AÇÃO 
Nesta unidade, nossos estudos estão focados à análise de comportamentos e escolhas 
éticas, considerando que a vida humana é repleta de dilemas que exigem reflexão e 
cálculo sobre nossas decisões. Investigaremos diferentes posturas éticas elaboradas por 
filósofos ao longo da história da cultura ocidental, incluindo o pensador grego da Anti-
guidade: Aristóteles (384-322 a.C.) e os chamados estoicos, entre os séculos III e I a.C. 
Além disso, investigaremos também outras concepções modernas, como o pensamento 
de Kant (1724-1804) e o seu dever ético; Bentham (1748-1832) e o utilitarismo, que se 
refere à ética consequencialista; contratualismo, hedonismo, relativismo e, no período 
contemporâneo, as possibilidades do diálogo e do consenso ético de Habermas (1929 -). 
Quando estudamos ética, precisamos considerar que existem múltiplas formas de com-
preender nossas escolhas, decisões e os caminhos a serem tomados. Faz-se neces-
sário também levarmos em conta que as ações podem ser múltiplas e como os demais 
indivíduos irão reagir segundo seus valores e preferências. 
A ética é uma ciência que estuda os valores morais e os comportamentos humanos. 
Porém, diferentemente das ciências exatas, trabalha com a multiplicidade de escolhas 
e caminhos a serem seguidos, suas consequências e modos distintos de perceber a 
realidade e a vida com os demais indivíduos. 
Longe de procurar um resultado e respostas únicas e universais, a ética está preocupada em 
desenvolver formas de vida que produzam o bem-estar e o bem comum.
Tais aspectos conduzem à reflexão de que o campo da ação humana é diverso, de 
modo que os indivíduos possuem expectativas distintas e compreensões bem diferen-
tes sobre o que se compreende como certo ou errado, justo ou injusto e bem ou mal. 
À vista disso, veremos aqui diferentes análises e posturas éticas disseminadas pela 
filosofia ocidental que permitirão compreender a complexidade das ações e decisões 
dos indivíduos.
1.1 A ÉTICA DA MEDIANA (ARISTÓTELES)
Aristóteles, pensador grego da Antiguidade, foi o primeiro a definir a palavra ética (do 
grego ethos, significa conduta em relação aos outros), estabelecendo-a, ao mesmo 
tempo, como uma ciência que investiga os comportamentos humanos e como a busca 
de uma conduta que é capaz de gerar equilíbrio. Em outras palavras, o autor defende 
a ética como conduta mediana ou caminho do meio que permite os indivíduos viverem 
U3
27Ética e Cidadania
Aprendendo a decidir com ética
em sociedade, visando o bem comum e a Eudaimonia, palavra que em grego clássico e 
se relaciona à felicidade e promoção da excelência humana realizada de modo coletivo. 
O ethos é a morada do animal e passa a ser a "casa" (oikos) do ser humano, 
não já a casa material que lhe proporciona fisicamente abrigo e proteção, 
mas a casa simbólica que o acolhe espiritualmente e da qual irradia para aprópria casa material uma significação propriamente humana, entretecidas 
por relações afetivas, éticas e mesmo estéticas que ultrapassam suas fina-
lidades puramente utilitárias e a integram plenamente no plano humano da 
cultura. [...] Tal é a historicidade própria do ethos, que nele se exprime como 
necessidade instituída que Aristóteles comparou à e necessidade dada da 
Natureza. (VAZ, 1988, p. 39-40).
Na obra Ética a Nicômaco, Aris-
tóteles partia do pressuposto de 
que toda cidade e sociedade são 
caracterizadas por apresentar in-
divíduos heterogêneos, ou seja, 
com valores, formas de pensar, 
condições econômicas e políticas 
bem distintas. Diante disso, con-
sidera-se que o papel da ética, 
assim como das leis, deve ser o 
de produzir equilíbrio, isto é, con-
dições de coexistência entre gru-
pos diferentes com o objetivo de 
realizar o bem comum. 
Aristóteles, portanto, atribui à éti-
ca a busca do equilíbrio, considerando que desse equilíbrio será possível produzir a 
felicidade, a excelência humana, a justiça e a virtude entre os membros que constituem 
uma sociedade. Logo,
[t]oda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam 
a um bem qualquer, e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a 
que as coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade: 
alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais 
resultam; e onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais 
excelentes do que as últimas (ARISTÓTELES, 1979, p. 49).
1.2 O HEDONISMO
Do grego hedonê (prazer), o hedonismo expressa um modelo de ética que tem como 
principal objetivo para a vida (ou como suprema norma moral) a busca da felicidade e a 
exaltação do prazer. Essa modalidade de ética foi criada pela primeira vez pelo filósofo 
grego Epicuro (341–270 a.C.) e influenciou pensadores romanos da Antiguidade conhe-
cidos como estoicos, entre eles Cícero (106 -43 a.C.), Lucrécio (94-50 a.C.), Horácio (65 
a.C-8 d.C.), Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) e o imperador-filósofo Marco Aurélio (121-180 d.C.). 
Epicuro partia da ideia de que a verdadeira virtude estava na realização dos prazeres. 
Não devemos tomar o epicurismo ou o hedonismo de forma vulgar, pois não se redu-
zem a uma satisfação cega e sem reflexão sobre os prazeres. O prazer deve trazer o 
Figura 01. Ética
Fonte:123RF.
ÉTICA
28 Ética e Cidadania
U3 Aprendendo a decidir com ética
bem-estar. Epicuro fundou um grande jardim na periferia de Atenas, lugar que ficou co-
nhecido como “O Jardim de Epicuro”. O local foi resultado de uma mudança de postura, 
em que o filósofo passou a precisar se distanciar dos problemas da cidade da pretensão 
de promover a virtude no espaço público. A política é fonte de avareza e corrupção.
O jardim reunia discípulos (escravos e cidadãos livres) que procuravam a virtude no equilíbrio 
entre os diferentes prazeres – nas bebidas, amizades, sexo, banquetes e afins. Não se deve 
concentrar o prazer em apenas uma única atividade (caso contrário, produzirá o vício), mas 
equilibrar os diferentes prazeres fornecidos pelo corpo.
Epicuro buscava a chamada ataraxia, conceito que representa o equilíbrio entre os pra-
zeres em seu jardim em meio à natureza e distante dos problemas da cidade. O filósofo 
e poeta romano Horácio (65 a.C. – 8 d.C.), inspirado no epicurismo, concebe o “Carpe 
diem quam minimum credula póstero” (ao qual traduzimos ao português como Aprovei-
ta o dia e confia o mínimo possível no amanhã), concepção incorporada pelo Arcadismo 
(movimento literário do século XVIII).
G
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O Arcadismo foi um movimento literário desenvolvido na Europa, durante o século 
XVIII. Caracterizou-se por valorizar a vida humana em meio à natureza, ou seja, a 
existência bucólica exercida com simplicidade. No Brasil, o movimento se deu em Mi-
nas Gerais também, no século XVIII, e se envolveu com o movimento da Inconfidência 
Mineira. Seus principais autores foram Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da 
Costa e Basílio da Gama.
2. MODELOS ÉTICOS NA MODERNIDADE
A partir dos séculos XVI e XVII, com a ascensão da Modernidade, surgiram novas mo-
dalidades de ética com objetivo de atender novas demandas que surgiam com a nova 
sociedade e formas de pensamento. Entre as transformações que constituem a Moder-
nidade estão o surgimento de uma sociedade capitalista e o fortalecimento da burgue-
sia, industrial e de defesa da liberdade econômica e política. 
2.1. O CONTRATUALISMO
O contratualismo se refere à percepção ética 
surgida entre os séculos XVII e XVIII, que esta-
belece a obrigação de se comportar de acordo 
com as leis ou a burocracia. Trata-se da noção 
de que as relações humanas apenas se tor-
nam possíveis, estáveis, duráveis e seguras, 
por meio da criação de obrigações e exigências 
legais, sem as quais existiriam desconfiança e 
instabilidade social. Entre os pensadores con-
tratualistas, destacamos Hobbes (1588-1679), 
Locke (1632-1704) e Rousseau (1712-1778). 
Temos como exemplos contratos, leis, pactos 
sociais, documentos e impostos. 
Figura 02. Contratualismo
Fonte: 123RF.
U3
29Ética e Cidadania
Aprendendo a decidir com ética
Note como a sociedade moderna garante a sobrevivência de trocas comerciais, acor-
dos políticos ou relações sociais de qualquer espécie, por meio da existência do contra-
tualismo. O contratualismo é, à vista disso, uma forma moderna de ética que visa con-
solidar relações sociais racionais, seguras e legitimadas por meio de pactos, contratos 
ou acordos considerados legais.
2.2 A ÉTICA DO DEVER DE KANT
Entre os séculos XVIII e XIX, com o advento da ciência moderna, do contratualismo, do 
liberalismo e do Iluminismo (depois da consolidação do pensamento burguês) surgiram 
novas análises éticas sobre princípios morais que regulamentam o comportamento do 
bom cidadão e das boas práticas de administração pública. 
Kant (1724-1804) foi um pensador alemão, contemporâneo à Revolução Francesa, que 
demonstrou ser otimista diante das conquistas burguesas. Considerava que superstições 
e formas de interpretações medievais da realidade haviam disso substituídas pela racio-
nalidade da ciência moderna, indústria e direitos individuais. Ele percebia que o poder dos 
reis estava prestes a desaparecer definitivamente, deixando de ser sociedades guiadas 
segundo humores dos tiranos, mas de acordo com a racionalidade e a legalidade.
Na obra Fundamentação metafísica dos costumes (1785), Kant valoriza a razão moder-
na aplicada ao direito e à ética, responsável por se opor à tradição maquiavélica fun-
damentada na teleologia (nos fins). Kant estabelece a deontologia (do grego deon, que 
significa obrigação ou dever moral) (conferir texto complementar e mapa mental) como 
ciência do dever. Isto é, obrigação racional que deve ser realizada necessariamente a 
todo custo, independentemente das consequências, pois considera que tudo que tem 
origem na razão seria benéfico ou positivo à humanidade. 
Kant foi o mais importante pensador alemão a se declarar Iluminista, de modo que ali-
mentava grande crença nos benefícios da razão humana. Dessa forma, importam os 
meios racionais ou mesmo os meios se confundem com os fins, pois confia que a razão 
conduziria a humanidade ao bem e à verdade, não podendo ela ser questionada. 
Com a deontologia, Kant (2009, p. 245) estabeleceu o imperativo categórico, defendendo o 
seguinte lema: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua von-
tade, uma lei universal”.
A expressão afirma o caráter inquestionável da aplicação e obediência à ação racional, 
sendo válida em toda parte e temporalidade, o que demonstra a visão otimista de Kant 
diante da razão. Portanto, o imperativo categórico é uma lei moral e racional que valo-
riza a autonomia do indivíduo e sua racionalidade, com o objetivo de universalizá-la na 
forma de leis e consenso coletivos.
2.3. A ÉTICA DA UTILIDADE (J. BENTHAM E J.S. MILL): A ÉTICA 
CONSEQUENCIALISTA 
O modelo ético utilitarista foi criadoentre os séculos XVIII e XIX pelos filósofos ingle-
ses Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873). Tem como sinônimo a concepção 
30 Ética e Cidadania
U3 Aprendendo a decidir com ética
de maximização, isto é, produzir o maior prazer, ganhos, lucros ou um bem ao maior 
número possível de pessoas, evitando-se ao máximo prejuízos, dores ou perdas. O 
maior bem produzido não significa necessariamente que este abrangerá a maioria das 
pessoas. Segundo Moreira (1999, p. 22):
[a] ideia de maior bem para a sociedade, não leva em conta o número de 
pessoas beneficiadas, mas sim o tamanho do bem. Em outras palavras, em 
uma circunstância na qual o maior bem beneficie poucos, em contraposição 
ao bem menor que possa ser feito a muitos, a primeira atitude deverá ser a 
escolhida.
A maximização é um termo rotineiro no universo administrativo e econômico. Por isso 
esse modelo ético também é designado como consequencialista, ou seja, justifica a va-
lidação de uma determinada ação ou conduta a partir da observação e da identificação 
dos possíveis resultados. Trata-se, portanto, de verificar em qual medida a ação é mo-
ralmente útil a ponto de produzir o prazer ou o bem-estar coletivo, procurando reduzir 
os prejuízos da ação. Além disso, é entendido como o processo que pode reduzir gastos 
em nome do aumento da produtividade ou simplesmente manter o ritmo de produção ou 
a margem de lucro, ainda que para tanto seja necessário demitir alguns funcionários. 
Maximizar pode também implicar, por exemplo, na manutenção do tempo de trabalho, 
ao passo que a quantidade de trabalho ou capital gerado é aumentado. As democracias 
modernas, quando apresentam o “segundo turno”, são um processo de maximização, 
o qual visa produzir o maior bem ao maior número possível de pessoas, evitando-se 
ao máximo prejuízos. Isso justifica porquê é declarado vencedor de uma eleição aquele 
que conseguir 50% dos votos mais 1. 
Há um interessante dilema a respeito da situação hipotética de um trem desgovernado: 
O trem corre em alta velocidade pelos trilhos e está fora de controle. Caso não seja parado 
ou desviado, o trem colidirá com cinco pessoas que estão amarradas aos trilhos. Nessa 
situação, a única possibilidade de salvar as pessoas é mover uma alavanca que desviaria o 
trem para outro trilho. Porém, caso seja desviado e não atropele as cinco pessoas presas nos 
trilhos, o trem irá, fatalmente, em direção a um outro único indivíduo parado na outra pista. 
O que fazer?
Considerando os elementos que constituem a ética utilitarista ou consequencialista, reflita 
qual seria a melhor solução a ser seguida. Elabore sua resposta a partir dos princípios que 
norteiam a ética elabora por Bentham e Mill.
Caso de aplicação 1
3. OUTRAS PERSPECTIVAS ÉTICAS CONTEMPORÂNEAS
Durante o século XX, novos dilemas éticos permitiram o surgimento de novas perspec-
tivas conceituais ou, ao menos, a verificação de questões pertinentes ao diálogo con-
sensual e racional, consumo e relação com outras culturas, considerando a expansão 
da globalização. 
U3
31Ética e Cidadania
Aprendendo a decidir com ética
3.1. A ÉTICA DO DISCURSO (J. HABERMAS)
O alemão Habermas (1929 -) abordou, do ponto de vista ético, o que definiu como te-
oria da ação comunicativa. Segundo o filósofo, o agir comunicativo está relacionado 
ao mundo da vida cotidiana, de modo que está fundamentado em regras de sociabili-
dade e no diálogo, considerando, ainda, que os indivíduos se comunicam por meio de 
diferentes moralidades. Contudo, é possível alcançar consenso e entendimento mútuo 
caso abandonemos relações hierárquicas de dominação e deslegitimação do discurso 
do outro (é o caso de preconceitos, coerção ou mesmo desmerecimento da fala e dos 
valores de indivíduos pertencentes a outros grupos e seus respectivos valores).
Habermas defende que o diálogo, a capacidade de escutar, entender, falar e negociar 
com grupos diferentes alcança a dimensão ética capaz de produzir interações consensu-
ais, ainda que haja a diversidade de sentimentos, expectativas e concepções de mundo.
A teoria da ação comunicativa tem como finalidade produzir concordâncias após a so-
lução e a superação de discordâncias entre os sujeitos. Para tanto, é necessário con-
siderarmos o diálogo racional que tornaria possível a sociabilidade desde os níveis 
familiares, da comunidade, do campo científico, artístico e político. 
Observarmos, assim, que uma sociedade é constituída por uma pluralidade de vozes, de 
modo que uma ação racional é consolidada de maneira coletiva e não individual, desde que 
haja sensibilização e afeto em relação à condição e às percepções daqueles que se apresen-
tam a nós como diferentes.
Devemos, portanto, colocar-nos na condição de nosso interlocutor, compreender seus 
dilemas e buscar entendimento, o que evitaria a posição relativista, que veremos no 
tópico a seguir.
3.2 RELATIVISMO
O relativismo é um princípio que passa a ser promovido, principalmente entre o final do 
século XIX e durante o século XX. Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, é conside-
rado um dos principais teóricos dessa perspectiva. Na Antropologia norte-americana 
do século XX, os pensadores denominados como culturalistas (Franz Boas e Clifford 
Geertz) desenvolveram o chamado relativismo cultural. 
Em linhas gerais, o relativismo resume-se na expressão “cada um é cada um”, ou seja, 
normatiza a condição alheia, ainda que a condição do outro seja degradante. O relativis-
mo anula os valores morais, por isso as noções de verdade, como o bem e mal ou o jus-
to e o injusto. Elas são suspensas, pois há a noção de que nenhum juízo de valor possa 
ser universal ou verdadeiro, de sorte que toda e qualquer ação passa a ser aceita. 
O relativismo elimina a possibilidade de engajamento ou uma ação responsável diante 
de outras pessoas ou sociedades. Empresas e governos que atuam de modo relativista, 
por exemplo, não se preocupam com as condições sociais e de saúde de seus con-
sumidores ou cidadãos. Um sujeito se torna relativista quando não emite juízos sobre 
uma situação, qualquer que seja, pois considera que nenhum valor é válido. Se não nos 
32 Ética e Cidadania
U3 Aprendendo a decidir com ética
importamos com a condição de fome e miséria de um semelhante e julgamos que cada 
um ocupa o lugar que deseja estar, acabamos por enveredar em uma relativista. Dessa 
maneira, o relativismo é uma afirmação absoluta da diferença e da impossibilidade de 
um consenso a respeito dos valores e juízos morais.
SA
IB
A 
M
A
IS
Para saber mais a respeito do relativismo, confira a fala do filósofo brasileiro Mário 
Sérgio Cortella. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VumyyS3THSY. 
Acesso em: 13 out. 2021.
O relativismo não se restringe ao mercado. Podemos relacioná-lo quando não damos 
importância a um acontecimento distante. É o mesmo sentimento de muitas pessoas que 
tendem a observar a pobreza, o desemprego ou as desigualdades sociais como naturais 
ou normais, sem procurar refletir ou fazer absolutamente nada para modificar tal situação.
3.3. FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo ocorre para quem os conceitos, profissões de fé, doutrinas políti-
cas ou deveres morais devem ser extraídos de uma fonte tida como superior e externa 
(Estado, religião, líder, imposições do mercado) ao ser humano. Isso significa afirmar 
que o indivíduo se submete a uma ordem superior à sua própria vontade, pois a julga 
racionalmente correta e inquestionável. Muitas vezes, o fundamentalismo é visto como 
obediência cega diante da autoridade de um terceiro. Do ponto de vista da religião, co-
nhecemos os chamados fundamentalistas religiosos. 
Na esfera política, o exemplo mais evidente é a obediência a um líder político, assim 
como ocorreu na Alemanha nazista de Hitler, quando os seus seguidores obedeciam e 
concordavam com todas as ações de seu líder cegamente. Em relação ao mercado ou 
o capitalismo, podemos observar tal ética dentro dos padrões de moda ou mercadorias 
impostas sobre o comportamento e osobjetivos de vida de consumidores.
Devemos destacar que a ética fundamentalista é, geralmente, criticada pelos filósofos e 
estudiosos, sendo que dificilmente encontraremos reflexões que apontem suas caracte-
rísticas sem problematiza-las. A respeito disso, Boff (2009) situa que o fundamentalismo 
[...] não é uma doutrina, mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. 
É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de 
sua inserção no processo sempre cambiante da história, postura que exige 
contínuas interpretações e atualizações, exatamente para manter sua ver-
dade originária. Fundamentalismo representa a atitude daquele que confere 
caráter absoluto ao seu ponto de vista (BOFF, 2009, p. 49).
Caso de aplicação 2
Nos últimos anos, tem crescido o movimento de consumidores sobre a necessidade de as 
empresas produtoras de alimentos (principalmente os processados) informar sobre a compo-
sição química de seus produtos. Há indícios de uso de agrotóxicos, entre outros elementos 
U3
33Ética e Cidadania
Aprendendo a decidir com ética
químicos nocivos à saúde pública. Esse movimento de consumidores exige que as empresas 
fabricantes desses alimentos informem e alertem nas embalagens os seus consumidores.
Investigue duas reportagens ou matérias em jornais e revistas recentes que ilustrem esta si-
tuação. Em seguida, faça uma análise desses materiais levando em consideração conceitos 
éticos em torno do utilitarismo e relativismo. Aponte quais as soluções éticas poderiam ser 
tomadas a respeito disso.
Objetos de aprendizagem
Filmes
Figura 03. Mapa conceitual
Fonte: elaborada pelo autor. 
KANT MAQUIAVEL
Deontologia
Deontologia Do grego télos, que significa 
propósito ou fim
Do grego deon, que significa dever, 
obrigação
DEVER MORAL 
RACIONAL
CONFIANÇA NA 
RAZÃO
MEIOS MAIS 
IMPORTANTES 
QUE OS FINS
IMPORTAM OS 
FINS
CALCULISMO 
E JOGO DE 
FORÇAS
CERTEZA NAS 
CONSEQUÊNCIAS 
BENÉFICAS
OS FINS 
JUSTIFICAM OS 
MEIOS
O BEM E O MAL, A 
RAZÃO E O 
IRRACIONAL SÃO 
MEIOS DA AÇÃO 
ÉTICA
Teleologia
Um mercado Relativista
O filme The Corporation (2003) mostra três exemplos impactantes do relativismo aplicado 
ao cenário empresarial. Podemos destacar, primeiramente, a Monsanto (uma das maiores 
empresas produtoras de sementes e derivados de leite do mundo e que tem atuação no 
Brasil). Para aumentar a produtividade de vacas leiteiras nos EUA e, consequentemente, os 
seus lucros, a Monsanto é acusada de ter aplicado nesses animais hormônios que signifi-
cativamente elevaram o nível de produção. No entanto, sem se importar com os impactos 
34 Ética e Cidadania
U3 Aprendendo a decidir com ética
causados sobre as vacas e os consumidores, descobriu-se que os hormônios, na verdade, 
facilitam a proliferação de bactérias que levam os animais à morte. O produto contaminado é 
ingerido pelos clientes, sem que a Monsanto preocupe-se com as suas condições.
O segundo exemplo refere-se a IBM, famosa grife de computadores e sistemas empresariais 
de gestão. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, a IBM foi responsável por criar um 
sistema, ainda não informatizado, de geração de códigos entre outras burocracias que contri-
buíram muito para catalogar judeus, ciganos, homossexuais e opositores do ditador alemão, 
Hitler. Uma entre as tantas funções dos sistemas criados pela IBM na Alemanha ajudaram 
a tatuar códigos nos braços desses prisioneiros, que eram levados, em sua grande maioria, 
aos campos de concentração. A IBM nega até hoje qualquer envolvimento com o nazismo. Ao 
se eximir de sua responsabilidade, a empresa adota também uma ética relativista, simples-
mente quando se considera que eram apenas “negócios”.
O terceiro caso mostrado pelo documentário refere-se à espantosa história da Coca-Cola na 
mesma Alemanha Nazista. Após a entrada dos EUA no conflito armado em 1942, o governo 
desse país exigiu que as empresas americanas, sobretudo as de maior destaque, encerras-
sem suas atividades na Alemanha. Em nome da manutenção de seus lucros, a Coca-Cola 
não exprimiu qualquer oposição ao nazismo. O refrigerante Coca-Cola foi substituído, saiu de 
cena e, em vez de fechar a fábrica, a empresa substituiu o antigo refrigerante pela sua mais 
nova invenção: Fanta e rapidamente se tornou o refrigerante mais vendido na Alemanha.
As empresas, por não informarem amplamente e publicamente aos seus clientes e consumi-
dores os riscos em relação ao uso de suas mercadorias adotam o relativismo, cujo princípio 
elementar é dizer “cada um é cada um”!
Texto Complementar
Maquiavel (1469-1527), na obra O Príncipe (publicada de forma póstuma em 1532), passa 
a observar o ser humano como naturalmente dotado de egoísmo, individualismo e nenhuma 
preocupação com o bem comum, a não ser de forma dissimulada, sendo que, na primeira 
oportunidade, poderia trair seus semelhantes. O filósofo parte de um ponto vista negativo 
sobre a natureza humana. Seus questionamentos giravam em torno de como como o prín-
cipe (expressão que se refere a qualquer governo) tem condições de manter o poder e o 
domínio sobre os súditos. Além disso, o pensador investiga como é possível persuadir os 
subordinados à autoridade de um governo e de que forma um príncipe deve agir para conter 
permanentes conflitos internos e com outros governos. 
Maquiavel nunca escreveu a expressão “os fins justificam os meios”, porém, sua obra permite 
relacioná-la com essa ideia, pois julga que, para consolidar o poder, o governante tudo pode 
e deve, como matar, mentir, agir com hipocrisia, demitir, distorcer informações, ser amado 
pelo povo e ser temido pelos inimigos, tornar inimizades em novos amigos ou oposto, promo-
ver e buscar ora a guerra, ora a paz, tudo isso segundo a situação, interesse e conveniência. 
Temos que desmitificar o termo maquiavélico, geralmente associado a fazer ou realizar o mal. 
Na verdade, ser maquiavélico expressa a capacidade de ser calculista ou entender e 
saber medir racionalmente os prós e contras de uma ação. Trata-se da noção de que a ética 
maquiavélica está direcionada aos fins (manter o poder e garantir o apoio popular, pois sem 
ele ninguém se mantém no poder), seja lá quais forem os meios empregados. 
U3
35Ética e Cidadania
Aprendendo a decidir com ética
Com a ética de Maquiavel considera-se que ela visa fins, o que é designado com a palavra 
teleologia (do grego telos, que significa fim, finalidade, objetivo; e logos: discurso, razão ou 
racionalidade). Sendo assim, a teleologia representa o estudo dos fins ou das finalidades, 
sendo um modelo ético em que fins, resultados ou consequências são calculados pelo indiví-
duo, podendo ser utilizado qualquer meio possível. 
Bibliografia:
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 
36
UNIDADE 4
SENDO ÉTICO NO DIA A DIA
1. LIBERDADE, ESCOLHA E DECISÃO 
Nesta unidade, estudaremos a relação da ética com liberdade, escolhas, decisões e 
responsabilidade. A respeito desses elementos, investigaremos o pensamento existen-
cialista de Sartre (1905-1980), pensador francês que refletiu sobre a relação entre ética, 
ações individuais e seus reflexos sobre a coletividade. A filósofa alemã Hannah Arendt 
(1906-1975) trouxe também importantes contribuições a respeito do assunto, sobretudo 
nas ruas reflexões sobre a relação entre regras sociais e os valores dos indivíduos. Ve-
remos a respeito de Jean Paul Sartre, que procurou estabelecer o que se pode designar 
como ética existencialista, relacionando a conduta e todas as ações humanas com as 
noções de liberdade, escolha e decisão. 
Nas obras O Ser e o nada (1943) e O existencialismo é um humanismo (1946), o autor 
afirma que “a existência precede a essência”. A expressão afirma a ideia de que não há 
nada de inato, pronto ou acabado no ser humano, não há uma essência ou natureza hu-
mana predeterminada. Tais elementos explorados por Sartre indicam que ninguém nas-
ce definido ou direcionado naturalmente a ser e agir de alguma forma, ou, muito menos, 
é determinadopor alguma força externa que o obrigue a ocupar uma posição social. 
Na realidade, o ser humano, na visão de Sartre, nasce “condenado a ser livre”, de maneira 
que suas escolhas o tornam livre para a todo instante modificar o seu ser (SARTRE, 1984, 
p. 9). Isso significa que o indivíduo é construído e se constrói por meio do seu vínculo com a 
realidade, com o mundo a sua volta.
Sartre afirma, nessa direção, a liberdade como sinônimo de fazer escolhas e tomar 
decisões. Nossas escolhas e decisões modelam quem somos, são atitudes livres, cuja 
origem é particular a cada indivíduo. O resultado dessa liberdade (nossas escolhas e 
decisões) é a constituição de tudo aquilo que somos e que podemos vir a ser. 
Com a afirmação de que o ser humano se caracteriza pela liberdade, Sartre se opôs 
à noção de natureza humana, entendida como elemento determinista ou fatalista, cuja 
defesa limita a liberdade humana e condena os indivíduos a pensarem que não são o 
resultado de suas próprias escolhas. O autor também se contrapôs à tradição filosófica 
grega e medieval. Os pensadores gregos na Antiguidade, como Platão (428-348 a.C.) e 
Aristóteles (384-322 a.C.), concebiam que o comportamento e as posições sociais eram 
determinados pela natureza. Na Idade Média, teólogos como Tomás de Aquino (1225-
1274 d.C.), afirmavam ser Deus o responsável por determinar quem são os senhores 
e os servos.
U4
37Ética e Cidadania
Sendo ético no dia a dia
A concepção de natureza humana é criticada por Sartre porque, além de renunciar a liber-
dade humana, leva os indivíduos a justificarem passividade diante da realidade em que es-
tão inseridos, desconsiderando que a vida é uma construção em movimento que dialogam 
com nossas escolhas e decisões. Já a condição humana é caracterizada por ser plástica, 
flexível e está em permanente transformação, sendo assim, o conceito é sinônimo de li-
berdade, decisão e escolha. Ela revela que tudo o que o sujeito é ou possa vir a ser acaba 
sendo o resultado da liberdade e de suas escolhas diante do mundo em que vive. 
À medida que Sartre considera que a humanidade vive condenada à liberdade. Posto de 
outro modo, ser livre expressa que a todo instante estamos fazendo escolhas ou projetamos 
nossa subjetividade no mundo a partir de nossas decisões.
Na perspectiva do existencialismo, a liberdade é uma decisão ética constante que im-
põe a cada indivíduo escolhas e a decisões que constituem quem somos e o que repre-
sentamos para a sociedade. Porém, conforme indica na obra O ser e o nada (1997), a 
liberdade provoca o que Sartre designa como náusea ou angústia. Sendo que são dois 
fatores que provocam esse sentimento, a saber:
 ` Cada escolha (liberdade) obriga o abandono ou a anulação de todas as outras pos-
sibilidades de ação. Se, por exemplo, um indivíduo gosta das áreas médicas e das ci-
ências humanas ao mesmo tempo, na juventude, ele é obrigado a escolher um único 
caminho profissional e decide escolher estudos na faculdade de medicina, ele viverá an-
gustiado por ter aberto mão de outra possibilidade de estudos e de vida. Quando decidi-
mos um rumo, abandonamos algumas opções e deixamos outras possibilidades de lado. 
Nossas escolhas profissionais, amorosas, projetos de vida e decisões econômicas que 
estabelecemos ao longo da vida estão sujeitos à angústia e náusea. 
 ` Cada escolha (ou projeto que façamos) não se realizará no futuro tal como o pla-
nejamos originalmente no presente. Isso porque nossas escolhas e liberdades se en-
contram em uma relação de tensão com o mundo a nossa volta, pois há nele incontáveis 
subjetividades dos outros que estão também promovendo escolhas, ações livres e toma-
das de decisões que se chocam com nossos próprios projetos. Por isso, o filósofo afirma 
em diferentes obras que “o inferno são os outros”.
Na perspectiva ética existencialista, a angústia e a náusea têm origem no fenômeno que 
Sartre define como nadificação. Este conceito implica na noção de que o que somos é 
resultado das decisões que conduziram a resultados diferentes ao esperado, além de 
elementos que limitaram nossas escolhas e nos conduziram ao fracasso. Cada decisão, 
cada escolha exercida por um sujeito está em relação de tensão com as liberdades 
dos outros indivíduos. As liberdades e as escolhas presentes e exercidas por todas as 
demais subjetividades entram em contradição ou oposição com as nossas preferências.
Em outras palavras, a nadificação diz respeito a tudo aquilo que barra ou limita a liberdade, 
são ações diferentes daquelas que planejamos ou mesmo desvios que a liberdade opera 
sobre a realidade na qual estamos inseridos, transformando-a.
Embora até aqui o pensamento ético de Sartre pareça ser pessimista, visto que a nadifi-
cação produz resultados diferentes aos projetados por nossa liberdade e fazer escolhas 
38 Ética e Cidadania
U4 Sendo ético no dia a dia
ocasiona em náusea e angústia, porque decidir significa abandonar outras possibilida-
des de vida, o filósofo afirma ser o existencialismo uma posição ética humanista e 
otimista (SARTRE, 1984, p. 3-32). De acordo com o existencialismo, a liberdade é ta-
manha que, apesar da tensão com as escolhas dos outros e os permanentes riscos de 
nadificação, somos suficientemente livres para contornar e superar fracassos, desvios 
e a concorrência que travamos com as decisões dos outros. 
Na visão de Sartre, por sermos livres e por tomarmos decisões a todo instante, temos 
condições de superar as limitações com as quais nossa liberdade se depara. É nesse 
sentido que o existencialismo é considerado um humanismo, posto que apresenta oti-
mismo com a capacidade que possuímos de projetar a liberdade de modo a nos tornar 
seres em constante adaptação e transformação à medida que estamos no mundo e em 
contato com os outros. 
1.1 ÉTICA, LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
Sartre (1984, p. 8-11) aponta que cada es-
colha, decisão ou ato, isto é, cada passo 
nosso no mundo possui reflexos amplos, 
com alcance universal. O filósofo defen-
de, assim, que “fazer escolhas” e “respon-
sabilidade” são termos próximos, configu-
ram a dimensão ética da liberdade, pois, 
ao tomar decisões, somos responsáveis 
pelos outros. Sartre demonstra que nos-
sas decisões estão interligadas com o 
universal, com a subjetividade de todos 
os outros indivíduos, tal como quando es-
colhemos estudar e nossa profissão auxi-
lia a vida de outros sujeitos, passamos a 
nos dar conta de como nossas decisões 
influenciam e são influenciadas pelas es-
colhas dos outros.
Max Weber (1864-1920), no início do século XX, foi outro pensador importante a tecer 
relações entre ética e responsabilidade. Nos seus dois ensaios publicados em 1919, 
Ciência como Vocação e Política como Vocação, o autor diferencia os conceitos que 
definiu como ética da convicção e ética da responsabilidade. Para ele,
[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas 
totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela 
ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer 
que a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e 
a ética da responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata eviden-
temente disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem 
age segundo as máximas da ética da convicção - em linguagem religiosa, 
diremos: "O cristão faz seu dever e no que diz respeito ao resultado da ação 
remete-se a Deus" - e a atitude de quem age segundo a ética da responsa-
bilidade que diz: Devemos responder pelas consequências previsíveis de 
nossos atos (SROUR, 2000, p. 50)
Figura 01. Monumento de Jean-Paul Sartre, em 
Nida, Lituânia
Fonte: 123RF.
U4
39Ética e Cidadania
Sendo ético no dia a dia
A ética da convicção diz respeito a um dever moral que por ser considerado racional 
deve ser realizado independentemente das consequências. Weber remete à deontolo-
gia criada por Kant (1724-1808 d.C.), no final do século XVIII (ver mapa mental), para 
conceber a ética

Outros materiais