Buscar

tresdestinação e desapropriação.

Prévia do material em texto

DESAPROPRIAÇÃO 
 
1. Conceito: 
“Desapropriação ou expropriação é a transferência compulsória da propriedade 
particular (ou pública de entidade de grau inferior para a superior) para o Poder 
Público ou seus delegados, por utilidade ou necessidade pública ou, ainda, por 
interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro (CF, art. 5º, 
XXIV), salvo as exceções constitucionais de pagamento em títulos da dívida 
pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, no caso de área 
urbana não edificada, subutilizada ou não utilizada (CF, art. 182, § 4º, III), e de 
pagamento em títulos da dívida agrária, no caso de Reforma Agrária, por interesse 
social (CF, art. 184)” (Hely, p. 569). 
 
“procedimento administrativo pelo qual o Estado transforma compulsoriamente 
bem de terceiro em propriedade pública, com fundamento na necessidade pública, 
utilidade pública ou interesse social, pagando indenização prévia, justa e, como 
regra em dinheiro” (Mazza, p. 558). 
 
2. Fundamentos Jurídico-políticos: 
 
a) Domínio eminente que o Estado exerce sobre todos os bens situados em seu 
território; 
b) Supremacia do interesse público sobre o privado; 
c) Necessidade que todo imóvel atenda à função social da propriedade. 
 
3. Competência para legislar sobre desapropriação: União (Art. 22, II da CF). 
 
4. Competência para desapropriar (declarar a utilidade pública, a necessidade 
pública e o interesse social): União, Estados, Distrito Federal e Municípios. 
 
 
5. Competência para promover a desapropriação (executar atos materiais e 
concretos de transformação de bem privado em público): União, Estados, Distrito 
Federal, Municípios, Territórios, autarquias, concessionárias, permissionárias de 
serviços públicos. 
 
6. Base Constitucional: 
Art. 5º, XXIV: - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade 
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em 
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; 
Art. 22, II; art. 182, § 4º, III; art. 184; art. 182, § 5º; art. 185 e art. 243. 
 
7. Normatização Infraconstitucional (as mais importantes): 
a) Decreto-Lei nº. 3.365/41 – Lei Geral das Desapropriações; 
b) Lei nº. 4.132/62 – Desapropriação por interesse social; 
c) Lei nº. 8.629/93 – Referente à reforma agrária. 
 
8. Analise do conceito de desapropriação: 
a) Procedimento administrativo: 
“A desapropriação opera-se em procedimento administrativo bifásico: a fase 
declaratória, com a indicação do bem, da necessidade, da utilidade pública ou do 
interesse social a ser alcançado, seja por lei ou decreto; a fase executória, com a 
estimativa da justa indenização e a consolidação da transferência do domínio para 
o Poder expropriante” (Elias Rosa, p. 113) 
 
b) Pelo qual o Estado transforma compulsoriamente: 
- Modo imperativo, forçoso e unilateral. 
“(...) a desapropriação só pode ser iniciada pelo Estado, que tem competência 
exclusiva para expedir o decreto expropriatório, mas concessionários e 
permissionários também podem realizar atos materiais de cooperação com o 
Estado durante o procedimento da desapropriação” (Mazza, p. 559). 
c) Bem de terceiro em propriedade pública: 
- Regra: pode alcançar todos os bens; 
- A desapropriação altera em definitivo a propriedade do bem; 
d) Com fundamento na necessidade pública, utilidade pública e interesse 
social: 
- necessidade publica: emergencial; 
- utilidade pública: conveniente; 
- interesse social: função social da propriedade. 
e) pagando indenização prévia, justa e, como regra, em dinheiro: 
- a perda da propriedade é compensada pelo pagamento de indenização ao proprietário 
anterior; 
- há também previsão de pagamento em títulos da dívida, em caso de reforma agrária e 
política urbana. 
 
9. Forma originária de aquisição da propriedade: 
“A desapropriação é forma originária de aquisição da propriedade, porque não 
provém de nenhum título anterior, e, por isso, o bem expropriado torna-se 
insuscetível de reivindicação e libera-se de quaisquer ônus que sobre ele incidissem 
precedentemente, ficando os eventuais credores sub-rogados no preço” (Hely, p. 
570). 
 
10. Fundamentos normativos da desapropriação: 
10.1 Necessidade pública: 
“a necessidade pública surge quando a Administração defronta situações de 
emergência, que, para serem resolvidas satisfatoriamente, exigem a transferência 
urgente de bens de terceiros para o seu domínio e uso imediato” (Hely, p. 577). 
- Hipóteses: segurança nacional, defesa do Estado e socorro público em caso de 
calamidade (art. 5º, a, b e c do Decreto-Lei nº. 3.365/41); 
“o pedido de imissão provisória na posse é indispensável para fazer frente à 
urgência da situação concreta”. 
 
10.2 Utilidade Pública: 
“a utilidade pública apresenta-se quando a transferência de bens de terceiros para 
a Administração é conveniente, embora não seja imprescindível” (Hely, p. 577). 
“Enquanto na necessidade pública a desapropriação é a única solução 
administrativa para resolver determinado problema, na utilidade pública a 
desapropriação se apresenta como a melhor solução” (Mazza, p. 562). 
“No âmbito da legislação ordinária, o direito positivo atual define os casos de 
utilidade pública e interesse social, não mais mencionando as hipóteses de 
necessidade pública (....); estas últimas foram enquadradas entre as de utilidade 
pública. Em síntese, o Decreto-lei nº 3.365/91 fundiu em uma só categoria – 
utilidade pública – os casos de necessidade pública e utilidade pública indicados no 
referido dispositivo do Código Civil” (Di Pietro, p. 171). 
 Art. 5
o
 Consideram-se casos de utilidade pública: 
 a) a segurança nacional; 
 b) a defesa do Estado; 
 c) o socorro público em caso de calamidade; 
 d) a salubridade pública; 
 e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento regular de 
meios de subsistência; 
 f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da 
energia hidráulica; 
 g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, casas de saude, clínicas, 
estações de clima e fontes medicinais; 
 h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos; 
 i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou logradouros públicos; a 
execução de planos de urbanização; o parcelamento do solo, com ou sem edificação, 
para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou ampliação 
de distritos industriais; (Redação dada pela Lei nº 9.785, de 1999) 
 j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo; 
 k) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou 
integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-
lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de 
paisagens e locais particularmente dotados pela natureza; 
 l) a preservação e a conservação adequada de arquivos, documentos e outros bens 
moveis de valor histórico ou artístico; 
 m) a construção de edifícios públicos, monumentos comemorativos e cemitérios; 
 n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso para aeronaves; 
 o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natureza científica, artística ou 
literária; 
 p) os demais casos previstos por leis especiais. 
 
10.3 Interesse social: 
Art. 1º da Lei nº. 4.132/62: A desapropriação por interesse social será decretada para 
promover a justa distribuição da propriedade ou condicionar o seu uso ao bem 
estar social, na formado art. 147 da Constituição Federal. 
- caráter sancionatório por descumprimento da função social da propriedade; 
- exclusivamente relacionado a bens imóveis; 
- os bens expropriados não são destinados à Administração Pública, mas, sim, à 
coletividade ou a determinados destinatários definidos; 
“o interesse social ocorre quando as circunstâncias impõem a distribuição ou o 
condicionamento da propriedade para seu melhor aproveitamento, utilização ou 
produtividade em benefício da coletividade ou de categorias sociais merecedoras 
de amparo específico do Poder Público” (Hely, p. 578). 
- interesse social: desapropriações para política urbana (art. 182, § 4º, III, da CF) e 
reforma agrária (art. 184, da CF). 
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público 
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno 
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus 
habitantes. 
(...) 
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída 
no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não 
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, 
sob pena, sucessivamente, de: 
(...) 
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão 
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em 
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros 
legais. 
- Ver art. 2º da Lei nº. 4.132/62 (hipóteses de interesse social para fins de 
desapropriação). 
 
11. Objeto da desapropriação: 
- qualquer tipo de bem (móvel e imóvel) ou direito; 
-destaque: bens imóveis (maior freqüência); bens móveis (quadro, por exemplo); 
semoventes; posse; usufruto; domínio útil; subsolo; espaço aéreo; águas; ações de 
determinada empresa; bens públicos, cadáveres, etc. 
 
11.1 Exceções (não pode ser objeto de desapropriação): 
- dinheiro (exceto, uma cédula rara, sem função monetária); direitos personalíssimos 
(vida, liberdade, honra, etc); pessoas; órgãos humanos; bens móveis livremente 
encontrados no mercado (do contrário, violaria o dever de licitação). 
-desapropriação para fins de reforma agrária não pode recair: a) bens móveis; b) 
bens imóveis urbanos; c) imóveis rurais produtivos e d) a pequena e média propriedade 
rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra (art. 185, I, da 
CF). 
-desapropriação para política urbana não pode recair: a) bens móveis e b) imóveis 
rurais. 
- desapropriações de bens públicos: só é permitida quando realizada de cima para 
baixo. “O Estado não pode desapropriar bens públicos federais, somente 
municipais” (Mazza, p. 566/567). 
- Art. 2º, § 3º do Decreto-Lei nº. 3.365/41: 
§ 3º É vedada a desapropriação, pelos Estados, Distrito Federal, Territórios e 
Municípios de ações, cotas e direitos representativos do capital de instituições e 
empresas cujo funcionamento dependa de autorização do Governo Federal e se 
subordine à sua fiscalização, salvo mediante prévia autorização, por decreto do 
Presidente da República. 
 
12. Espécies de desapropriação: 
12.1 Desapropriação para reforma agrária (art. 184, CF): 
- Competência exclusiva da UNIÃO; 
- Natureza: Sancionatória (punição) para o imóvel que desatender a função social da 
propriedade rural; 
- Art. 2º, § 1º do Estatuto da Terra (Lei nº. 4.504/64): 
 Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, 
condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. 
 § 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, 
simultaneamente: 
 a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, 
assim como de suas famílias; 
 b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; 
 c) assegura a conservação dos recursos naturais; 
e) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os 
que a possuem e a cultivem. 
CF, Art. 186: 
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, 
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos 
seguintes requisitos: 
I - aproveitamento racional e adequado; 
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio 
ambiente; 
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
- Indenização: prévia e justa, em TÍTULO DA DÍVIDA AGRÁRIA (TDAs), com 
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até 20 anos, a partir 
do segundo ano de sua emissão; 
- Indenização de benfeitorias úteis e necessárias (inclusive cultura e pastagens 
artificiais): Em dinheiro (art. 184, § 1º, CF); 
“Nessa parte, o procedimento expropriatório obedecerá à regra geral, exigindo que 
o expropriante ofereça o preço inicialmente, deposite em juízo se quiser a imissão 
provisória na posse e só obtenha a transferência das benfeitorias com o pagamento 
integral da indenização (Carvalho Filho, p. 883). 
-Indenização de benfeitorias voluptuárias: Titulo da Dívida Agrária; 
- CF, Art. 184, § 5º: § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as 
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. 
 - Art. 185, CF - bens insusceptíveis de reforma agrária: 
a) pequena e média propriedade rural, desde que o dono não possua outra: 
Lei nº. 8.629/93 – 
Art. 4º Para os efeitos desta lei, conceituam-se: 
 I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua 
localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, 
extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial; 
 II - Pequena Propriedade - o imóvel rural: 
 a) de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais; 
 b) (Vetado) 
 c) (Vetado) 
 III - Média Propriedade - o imóvel rural: 
 a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais; 
 b) (Vetado) 
 Parágrafo único. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a 
pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra 
propriedade rural. 
- Acima de 15 módulos rurais, trata-se de grande propriedade rural; 
b) propriedade produtiva: 
Lei nº. 8.629/93 - Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada 
econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de 
eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. 
 
12.1.1 Procedimento da desapropriação rural : LC nº. 76/93. 
“Importantíssimo salientar que os Estados , Distrito Federal e Municípios podem 
desapropriar imóveis rurais com fundamento em necessidade pública ou utilidade 
pública” (Mazza, p. 568). 
 
12.2 Desapropriação para política urbana (art. 182, § 4º, III, da CF): 
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público 
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno 
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus 
habitantes. 
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com 
mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de 
expansão urbana. 
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências 
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa 
indenização em dinheiro. 
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída 
no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não 
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, 
sob pena, sucessivamente, de: 
I - parcelamento ou edificação compulsórios; 
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; 
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão 
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, 
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e 
os juros legais. 
- Competência exclusiva: Municípios; 
- Finalidade: Sancionatória (recaem sobre imóveis urbanos que desatendem sua função 
social – art. 182, § 2º, CF); 
- Pressuposto: “(...) descumprimento, pelo proprietário, da obrigação urbanística 
de aproveitamento do imóvel em conformidade com o que tiver sido estipulado no 
plano diretor” (Carvalho Filho, p. 892). 
- Obrigatoriedade do Plano Diretor: Art. 41 da Lei nº. 10.257/01 
- Indenização: Títulos da Dívida Pública com prazo de resgate de até 10 anos; 
- A desapropriação somente se efetivará após três providências sucessivas e infrutíferas 
na tentativa de forçar o uso adequado do imóvel: a) exigência de promoção do adequado 
aproveitamento; b) ordem de parcelamento, utilização ou edificação compulsória; 
cobrança de IPTU progressivo no tempo durante 5 anos, observada a alíquota máxima 
de 15%; 
- É nulo de pleno direito o ato de desapropriação de imóvel urbano expedido sem o 
atendimento do disposto no § 3º do art. 182 da CF (prévio depósito judicial do valor da 
indenização). 
 
12.3 Desapropriação de Bens Públicos: 
 Art. 2
o
 Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser 
desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. 
 § 2
o
 Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios 
poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em 
qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa. 
 § 3º É vedada a desapropriação, pelos Estados, Distrito Federal, Territórios e 
Municípios de ações, cotas e direitos representativos do capital de instituições e 
emprêsas cujo funcionamento dependa de autorização do Govêrno Federal e se 
subordine à sua fiscalização, salvo mediante prévia autorização, por decreto do 
Presidente da República. (Incluído pelo Decreto-lei nº 856, de 1969) 
“Os bens públicos são passíveis de desapropriação pelas entidades estatais 
superiores desde que haja autorização legislativa para o ato expropriatório e se 
observe a hierarquia política entre estas entidades” (Hely, p. 572). 
“Assim, Estados não desapropriam bens federais, bem como Municípios e o 
Distrito Federal não podem desapropriar bens públicos de nenhuma natureza” 
(Mazza, p. 572). 
 
12.4 Desapropriação indireta: 
“(...) é o fato administrativo pelo qual o Estado se apropria de bem particular, sem 
observância dos requisitos da declaração e da indenização prévia. (...). Trata-se de 
situação que causa tamanho repúdio que, como regra, os estudiosos a têm 
considerado verdadeiro esbulho possessório” (Carvalho Filho, p. 859). 
“Ao proprietário prejudicado pela medida resta a propositura de ação judicial de 
indenização por desapropriação indireta” (Mazza, p. 572). 
 
12.5 Desapropriação por zona: 
- DL nº. 3.365/41: Art. 4
o
 A desapropriação poderá abranger a área contígua 
necessária ao desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas que se valorizarem 
extraordinariamente, em consequência da realização do serviço. Em qualquer caso, a 
declaração de utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-se quais as 
indispensáveis à continuação da obra e as que se destinam à revenda. 
“É aquela desapropriação que abrange áreas contíguas necessárias ao 
desenvolvimento da obra realizada pelo Poder Público e as zonas que vierem a 
sofrer valorização extraordinária em decorrência da mesma obra.....” (Carvalho 
Filho, p. 822). 
“A desapropriação por zona incide em áreas beneficiadas por obras ou serviços 
públicos e que em razão disso sofreram valorização extraordinária. O ato 
declaratório de utilidade pública deverá, antes, consignar as áreas que serão, ao 
término das obras e serviços, alienadas para terceiros (Dec.-Lei n. 3.365/41, art. 
4º)” (Elias Rosa, p. 113/114). 
 
12.6 Desapropriação ordinária: 
 
“É a desapropriação comum realizada por qualquer entidade federativa com 
fundamento na necessidade pública ou utilidade pública. Suas normas gerais estão 
previstas no Decreto- Lei n. 3.365/41, e a indenização é sempre prévia, justa e em 
dinheiro” (Mazza, p. 573). 
 
 
12.7 Desapropriação confiscatória (art. 243, CF): 
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem 
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo 
na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de 
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras 
sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação 
dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) 
- Procedimento: Lei nº. 8.257/91; 
- Desnecessidade de expedição de decreto expropriatório. 
 
13. Fases da Desapropriação: 
 
- O procedimento expropriatório se divide em duas grandes etapas: fase declaratória e 
fase executória, abrangendo, esta última, uma fase administrativa ou judicial. 
 
13.1 Fase declaratória: 
 
“é iniciada com a expedição do decreto expropriatório ou a publicação da lei 
expropriatória” (Mazza, p. 574). 
“A declaração expropriatória pode ser feita por lei ou decreto em que se 
identifique o bem, se indique seu destino e se aponte o dispositivo legal que a 
autorize” (Hely, p 580). 
“A lei geral expropriatória consigna que, mediante declaração de utilidade 
pública, todos os bens podem ser desapropriados pelas pessoas da federação (art. 
2º). A mesma declaração é exigível para a desapropriação por interesse social” 
(Carvalho Filho, p. 825). 
“Só se considera iniciada a desapropriação com o acordo administrativo ou com a 
citação para a ação judicial, acompanhada da oferta do preço provisoriamente 
estimado para o depósito. Até então a declaração expropriatória não tem qualquer 
efeito sobre o direito de propriedade do expropriado, nem pode impedir a normal 
utilização do bem ou a sua disponibilidade, lícito é ao particular explorar o bem ou 
nele construir mesmo após a declaração expropriatória, enquanto o expropriante 
não realizar concretamente a desapropriação, sendo ilegal a denegação de alvará 
de construção (...)” (Hely, p. 581). 
 
13.1.1 Efeitos da expedição do decreto: 
a) Submete o bem a um regime jurídico especial; 
b) Declara a destinação pretendida para o objeto expropriado; 
c) Fixa o estado da coisa para fins de indenização: 
“Em relação a este último efeito, vale a pena serem feitas duas observações. A 
primeira reside em que a indenização somente abrange as benfeitorias necessárias, 
quando feitas após a declaração, e as úteis, quando o proprietário for autorizado 
pelo Poder Público. Em conseqüência, não são indenizáveis as benfeitorias 
voluptuárias feitas após a declaração” (Carvalho Filho, p. 829). 
Ver Súmula 23 do STF. 
d) Autoriza o direito de penetração, de modo que o Estado pode, mediante 
notificação prévia, ingressar no bem para fazermedições. 
DL 3.365/41: Art. 7o Declarada a utilidade pública, ficam as autoridades administrativas 
autorizadas a penetrar nos prédios compreendidos na declaração, podendo recorrer, em caso de 
oposição, ao auxílio de força policial. 
e) Inicia o prazo de caducidade, que será de 5 anos, contados da expedição do 
decreto, para as desapropriações por necessidade ou utilidade pública, e de 2 anos, 
também contados da expedição do decreto, na hipótese de interesse social. 
“Caducidade é a perda dos efeitos jurídicos de um ato em decorrência de certa situação 
fática ou jurídica mencionada expressamente em lei. 
O Decreto-lei nº 3.365/1941, prevê a caducidade do decreto expropriatório no prazo de 
cinco anos, se a desapropriação não for efetivada mediante acordo ou judicialmente nesse 
prazo, sendo este contado a partir da data de sua expedição. 
(...) 
Dispõe, ainda, a lei expropriatória que, no caso de ocorrer a caducidade, „somente 
decorrido um ano poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração‟ (art. 10)” (Carvalho 
Filho, p. 829/830). 
f) Preenchido o requisito legal de comprovada urgência, autoriza a imissão 
provisória na posse. 
DL 3.365/41- Art. 15. Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de 
conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará imití-lo 
provisoriamente na posse dos bens; 
g) Determinar a entidade federativa com precedência sobre o bem. 
Extingue-se em cinco anos o direito de propor ação que vise a indenização por 
restrições decorrentes de atos do Poder Público. 
 
13.2 Fase executória: 
 
“Depois de declarada a utilidade pública do bem cumpre adotar as providências 
para efetivar a desapropriação, procedendo-se à transferência do bem para o 
patrimônio do expropriante. 
(...) 
Após a fase declaratória, o Poder Público passa a agir efetivamente no sentido de 
ultimar a desapropriação. É a fase que se denomina fase executória. É nela que vai 
ser possível completar a transferência do bem para o expropriante e ensejar ao 
proprietário o direito à indenização. 
Como é possível que a transferência do bem suceda de dois modos – sem ação 
judicial e com ela – (...)” (Carvalho Filho, p. 830/831). 
 
13.2.1 Via Administrativa (desapropriação amigável): 
 
“A fase executória será administrativa, quando houver acordo entre expropriante 
e expropriado a respeito da indenização, hipótese em que se observarão as 
formalidades estabelecidas para a compra e venda, exigindo-se, em caso de bem 
imóvel, escritura transcrita no Registro de Imóveis” (Di Pietro, p. 168). 
 
13.2.2 Via Judicial: 
 
“Não havendo acordo, segue-se a fase judicial, iniciada pelo Poder Público, com 
observância do procedimento estabelecido no Decreto-lei nº 3.365/41 (arts. 11 a 
30), aplicável também à desapropriação por interesse social fundada na Lei nº 
4.132/62, (...). Quanto à desapropriação para fins de reforma agrária, o 
procedimento está estabelecido na Lei Complementar nº 76, de 6-7-93, alterada 
pela Lei Complementar nº 88, de 23-12-96” (Di Pietro, p. 168). 
 
“Na ação de desapropriação, nos termos do art. 9º do Decreto-Lei n. 3.365/41, é 
vedado ao Poder Judiciário avaliar se estão presentes, ou não, as hipóteses de 
utilidade pública” (Mazza, p. 575). 
 
DL 3.365/41 
Art. 9
o
 Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação, decidir se se 
verificam ou não os casos de utilidade pública. 
 Art. 20. A contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação 
do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta. 
 
- Outras discussões devem ser realizadas em ação autônoma; 
 
14. A ação de desapropriação: 
 
- Polo ativo: entidade pública que atuou como poder expropriante (inclusive os 
concessionários e permissionários); 
- Polo passivo: proprietário expropriado; 
- Petição Inicial: Requisitos do art. 319 do CPC + oferta do preço + prova de 
publicação do decreto expropriatório + planta ou descrição dos bens e suas 
confrontações; 
- Pedido principal: efetivação da desapropriação; 
- Contestação: Somente poderá ser alegado eventuais ilegalidades, o valor da 
indenização e o enquadramento da desapropriação em uma das hipóteses legais; 
- Imissão Provisória: Requisitos – alegação de urgência e depósito da quantia 
arbitrada; 
- Depósito Prévio: conforme arbitrado pelo juiz após instrução sumária. 
“Por isso, parece justo que a avaliação se faça pela perícia do juízo, 
independentemente da realizada pelo expropriante” (Carvalho Filho, p. 838). 
“A discussão sobre o quantum do depósito prévio não tem qualquer relação com 
sua indispensabilidade: somente mediante o depósito do valor previamente 
arbitrado - providência a cargo do expropriante – pode ser autorizada 
judicialmente a imissão na posse do bem expropriado” (Carvalho Filho, p. 838). 
- Imissão provisória: direito subjetivo do expropriante (não pode ser indeferido pelo 
juiz se forem atendidos os requisitos). 
- DL 3.365/41 – Art. 15 
§ 2º A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a 
requerer a imissão provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) 
dias. (Incluído pela Lei nº 2.786, de 1956) 
§ 3º Excedido o prazo fixado no parágrafo anterior não será concedida a imissão 
provisória. (Incluído pela Lei nº 2.786, de 1956) 
§ 4
o
 A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis 
competente. (Incluído pela Lei nº 11.977, de 2009) 
Art. 33 
 § 2º O desapropriado, ainda que discorde do preço oferecido, do arbitrado ou do fixado 
pela sentença, poderá levantar até 80% (oitenta por cento) do depósito feito para o fim 
previsto neste e no art. 15, observado o processo estabelecido no art. 34. (Incluído pela 
Lei nº 2.786, de 1956) 
- Prova Pericial: 
“A lei expropriatória, inclusive, é expressa no sentido de que, formado o litígio 
entre as partes a respeito da indenização, o juiz determina a produção de prova 
pericial, devendo o perito e os assistentes técnicos apresentar seu laudo até cinco 
dias antes da audiência (art. 23 e parágrafos)” (Carvalho Filho, p. 840). 
- Sentença: 
“o juiz, baseado em laudos periciais, fixa o valor da justa indenização que poderá 
ser levantada pelo expropriado, consumando a incorporação do bem ao 
patrimônio público” (Mazza, p. 577). 
“A sentença expropriatória produz dois efeitos principais: a) permite a imissão 
definitiva do Poder Expropriante na posse do bem; b) constitui título capaz de 
viabilizar o registro da transferência de propriedade no cartório competente” 
(Mazza, p. 577). 
Art. 29. Efetuado o pagamento ou a consignação, expedir-se-á, em favor do 
expropriante, mandado de imissão de posse, valendo a sentença como título habil para a 
transcrição no registro de imóveis. 
“é o pagamento da indenização que dá ensejo à consumação da desapropriação e à 
imissão definitiva na posse do bem pelo expropriante” (Carvalho Filho, p. 842). 
 
15. Retrocessão (art. 519 CC): 
 
“A retrocessão é o direito que tem o expropriado de exigir de volta o seu imóvel 
caso o mesmo não tenha o destino para que se desapropriou” (Di Pietro, p. 188). 
 
CC, Art. 519: 
Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por 
interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em 
obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço 
atual da coisa. 
Retrocessão é direito real ou direito pessoal (resolve-se em perdas e danos)? Para a corrente 
majoritária é direito pessoal. O STF entendeu que é direito real (RT, 620/221). 
Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporadosà Fazenda Pública, não podem 
ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de 
desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. 
 
15.1 Tredestinação: 
 
“A tresdestinação, para alguns „tredestinação‟, corresponde ao desvio de 
finalidade havido na desapropriação. É evidenciada pelo não uso do bem ou 
porque a destinação ulterior não corresponde à indicada no ato expropriatório. É 
fundamental que o destino não corresponda a nenhuma hipótese de necessidade ou 
utilidade pública, ou interesse social para que esteja configurada a „tresdestinação‟ 
(Elias Rosa, p. 118). 
 
16. Indenização: 
- prévia, justa e como regra, em dinheiro; 
- prévia: antes da perda definitiva da propriedade; 
-Justa: 
“Justa quer dizer que o valor da indenização deverá recompor integralmente a 
perda patrimonial experimentada pelo expropriado, abrangendo, se for o caso, o 
valor do terreno, das benfeitorias, do ponto, da freguesia e de todos os demais 
valores materiais e imateriais afetados pela desapropriação, como lucros cessantes, 
danos emergentes, honorários advocatícios e despesas processuais” (Mazza, p. 579). 
 
- Em regra, o pagamento é feito em dinheiro, exceto nos casos de desapropriação por 
reforma agrária e política urbana, bem como na desapropriação confiscatória; 
- Incide também correção monetária, juros moratórios e juros compensatórios; 
 
 
17. Desistência da desapropriação: 
 
- Revogação do decreto expropriatório ou da lei (só pode ocorrer até o momento da 
incorporação do bem ao patrimônio público – tradição no caso de bem móvel e trânsito 
em julgado da sentença ou do título resultante do acordo). 
 
18. Direito de extensão: 
 
“Na hipótese de a desapropriação recair sobre uma parte do imóvel tornando 
inaproveitável o remanescente, tem o proprietário o direito de pleitear a inclusão 
da área restante no total da indenização” (Mazza, p. 581). 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 25ª edição, Atlas, 2012. 
DI PIETRO, Maria Sylvia. Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 309. 
MALTINI. Eliana Raposo. Direito administrativo. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo, 2ª edição, Saraiva, 2012. 
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 27ª edição, Malheiros, 2002. 
ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito Administrativo, Parte I, Coleção Sinopses Jurídicas, v. 19, Saraiva, 
2010. 
SPITZCOVSKY, Celso. Direito administrativo. 5. ed. São Paulo: Damásio de Jesus, 2003.

Continue navegando