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A coerência do ordenamento jurídico

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FICHAMENTO
A COERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO 
CURITIBA 
2017
FICHAMENTO – A COERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
	O título do fichamento faz menção ao capítulo III da grande obra `` Teoria Geral do Direito ´´, do filósofo político e senador vitalício italiano Norberto Bobbio. Nesse capítulo, o autor defende que além de uma unidade, o ordenamento jurídico deve apresentar um sistema, que no caso deve ser entendido como uma totalidade ordenada, um conjunto de organismos, sendo que entre eles deve existir certa ordem e compatibilidade entre si. 
	Existem três significados de sistema, o primeiro é aquele mais próximo do significado de sistema na expressão `` sistema dedutivo ´´, onde todas as normas jurídicas daquele ordenamento derivam de alguns princípios gerais. O segundo significado encontra-se na moderna ciência do direito, apurado por Savigny, autor do `` Sistema do Direito Romano Atual ´´, esse é utilizado para indicar um ordenamento da matéria, partindo do conteúdo das normas simples com a finalidade de construir conceito sempre mais gerais, e classificações ou divisões da matéria inteira, realizado através do processo indutivo. Por ultimo, temos o terceiro significado de sistema jurídico, rotulado pelo autor como o mais interessante. Nesse, o sistema jurídico não é um sistema dedutivo, e sim um sistema no sentido menos significativo e negativo, de uma ordem que exclui a incompatibilidade de suas partes singularmente consideradas. Diferente do sistema dedutivo, onde se houver uma contradição de duas normas todo o sistema desmorona, no terceiro, se houver esse mesmo caso de incompatibilidade, o desmoronamento do sistema não irá ocorrer, e sim de uma das normas, ou em alguns casos, das duas. 
	Essa existência de normas que se confrontam é denominada antinomias, algo que o direito não tolera. Para ser considerada antinomia, as duas normas incompatíveis devem pertencer ao mesmo ordenamento e ao mesmo âmbito de validade. No caso do âmbito de validade, distinguem-se em quatro âmbitos: validade temporal, validade espacial, validade pessoal e validade material.
	Uma vez definidas, as antinomias são divididas em: total-total, quando as duas normas incompatíveis possuem o mesmo âmbito de validade; parcial-parcial, onde apenas parte de cada uma das normas está em conflito com a outra; total-parcial, a primeira norma não pode ser em nenhum caso aplicada sem entrar em conflito com a segunda, e a segunda não entra em conflito com a primeira.
	Um aspecto muito interessante contido nesse capítulo, é a comparação que Bobbio faz entre antinomia e injustiça, o que as aproximam e as diferem. De uma forma geral, o que as duas tem em comum é que ambas necessitam de uma correção, mas a razão dessa correção é diferente uma da outra, pois a antinomia produz incerteza e a injustiça promove a desigualdade. 
	Em relação aos critérios para a solução das antinomias, a solução está em eliminar uma das normas, porém o problema também se encontra nesse campo, em saber qual norma será eliminada. Para o autor, isso é o mais grave das antinomias, pois uma coisa é descobrir uma antinomia, e outra é resolvê-la. 
	Portanto, há uma necessidade de caracterizar as antinomias em solúveis ( aparentes ) e insolúveis ( reais ). Há duas razões para nem todas as antinomias serem solúveis: ou não se pode aplicar nenhuma das regras para a solução, ou em casos que se podem aplicar ao mesmo tempo duas ou mais regras em conflito entre si. 
	São três regras fundamentais para a solução de antinomias: o critério cronológico, o hierárquico e o da especialidade. 
	O critério cronológico é aquele que, entre as duas normas incompatíveis, permanece a posterior.
	O critério hierárquico é aquele que, entre as duas normas incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior.
	Por fim, o da especialidade, é aquele que com duas normas incompatíveis, uma geral e uma especial, prevalece a segunda.
	Como conclusão, Bobbio considera que nenhum dos critérios pode resolver o problema de todas as antinomias, pois há casos em que as duas normas são, simultaneamente, contemporâneas, do mesmo nível e ambas gerais, e nesse caso, que é mais frequente do que se possa imaginar, os três critérios não resolvem mais.
	Segundo o autor, não há um quarto critério, mas defende a utilização do critério da forma, onde estabelece uma classificação de prevalência entre as três formas da norma jurídica, que são: imperativas, proibitivas e permissivas. O critério apresentado é o seguinte: se de duas normas incompatíveis uma é imperativa ou proibitiva e outra é permissiva, prevalece a permissiva.
	Em caso de um conflito que não se pode aplicar nenhum dos critérios mencionados até aqui, o autor esclarece que os juristas ou juízes devem interpretar e ter diante de si três possiblidades: eliminar uma delas; eliminar as duas; conservar as duas.
	A terceira via, geralmente a mais seguida pelos intérpretes, pois os juristas e juízes tendem a conservação das normas dadas. Isso, segundo o autor, é sem dúvidas uma regra tradicional da interpretação jurídica que o sistema deve ser mantido com a mínima perturbação, ou, em outras palavras, que a exigência do sistema não deve causar prejuízo ao princípio da autoridade, segundo o qual as normas passam a existir somente pelo fato de ter sido postas.
	Bobbio também comenta sobre os casos de incompatibilidade de segundo grau, como uma incompatibilidade entre norma constitucional anterior e norma ordinária posterior, sendo um caso em que são aplicados o critério hierárquico e o cronológico, e em caso de aplicação do primeiro, a prevalência é da primeira norma; e no caso de aplicação do segundo, a prevalência é da segunda norma. E como não se podem aplicar os dois critérios, temos então uma incompatibilidade de segundo grau. Ou seja, não uma incompatibilidade entre normas, mas sim entre os critérios que serão soluções de incompatibilidade entre normas.
	Essa regra que diz respeito às normas ( de não ter antinomias no direito ), é destinada primeiro ao legislador, para que esse não crie normas que sejam incompatíveis com outras, e ao juiz, para que caso se depare com antinomias, o mesmo deve elimina-las.
	Todo o discurso do capítulo III é voltado para essa incompatibilidade entre normas ou até mesmo critérios, e Bobbio defende todos seus argumentos com exemplos reais, o que deixa o livro com maior facilidade de compreensão.

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