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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NO SETOR PÚBLICO Geanison Ramiro de Jesus1 Claudia Márcia Pereira Loureiro2 RESUMO Este estudo versa sobre a avaliação de desempenho no setor público como ferramenta de gestão, visando à eficiência e eficácia dos serviços públicos. O procedimento metodológico utilizado caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica, através de um referencial teórico obtido em levantamento bibliográfico. Como resultado, os estudos mostram que a avaliação do desempenho vem, sendo lentamente, aplicada na administração pública, visando cumprir o princípio da Eficiência, determinado pela Constituição Federal de 1988. Apesar dos desafios que o setor público enfrenta para a aplicabilidade da avaliação de desempenho, ela representa um instrumento a serviço da aprendizagem organizacional, por isso, deve ser consagrada como estratégia eficiente para conhecer a realidade da instituição e dos servidores, conduzindo o gestor a encontrar os melhores procedimentos para o alcance do desempenho almejado, garantindo maior produtividade no setor público. Palavras-Chave: Administração Pública; Avaliação de Desempenho; Setor Público. ABSTRACT This study deals with the evaluation of performance in the public sector as a management tool, aiming at the efficiency and effectiveness of public services. The methodological procedure used was characterized as a bibliographical research, through a theoretical reference obtained in a bibliographical survey. As a result, studies show that performance evaluation is slowly applied in public administration, aiming to comply with the principle of Efficiency, determined by the Federal Constitution of 1988. Despite the challenges that the public sector faces for the applicability of performance evaluation, It represents an instrument in the service of organizational learning, so it should be consecrated as an efficient strategy to know the reality of the institution and the servers, leading the manager to find the best procedures to achieve the desired performance, ensuring greater productivity in the sector public. Keywords: Public Administration; Performance evaluation; Public sector. 1Graduando do Curso de Administração da Universidade Estácio de Sá. Aracaju/SE. 2 MsC. Orientadora da Universidade Estácio de Sá 1 INTRODUÇÃO A avaliação de desempenho no ambiente organizacional é considerada, no momento, uma estratégia empresarial de ponta. Nas empresas, administradores, diretores, gerentes ou gestores têm manifestado sua preocupação quanto ao baixo rendimento dos colaboradores. Em resposta a essa situação, construiu-se uma significativa literatura a nível mundial, fruto de intensas pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas, dentre elas, os estudos voltados para os fatores que influenciam o desempenho organizacional. Nesse contexto, a avaliação de desempenho tem sido um dos caminhos para avaliar os serviços executados pelos trabalhadores em seu ambiente profissional, a fim de levá-lo ao sucesso, ou então maximizar os resultados na organização. Pesquisadores reportam-se a essa ferramenta como eficiente, por permitir a medição e comparação entre o aguardado e o efetivamente alcançado, fazendo correções e aperfeiçoamentos (PEREIRA; LUCENA, 2013). No setor privado a avaliação de desempenho acontece de forma intensa, quase sempre direcionada a resultados positivos, visando os lucros nos empreendimentos; diferentemente, como ela acontece na administração pública, já que esse setor teve, por muito tempo, suas funções direcionadas ao cumprimento das obrigações legais, não avaliando os aspectos gerenciais fundamentais ao desempenho dos serviços públicos, e consequente atendimento de toda a sociedade (MAUGER et al., 2011). A aplicação da avaliação de desempenho no setor público ainda é recente no Brasil, isso porque a administração pública vem passando por um processo de transição, ou seja, de um modelo extremamente técnico, burocrático e racional vem sendo obrigada a prestar serviços com mais qualidade e eficiência. Devido a isso, a avaliação de desempenho foi inserida na Constituição Federal de 1988, por meio do princípio da Eficiência, sendo inclusa na Emenda Constitucional 19/98, que estabeleceu a avaliação periódica de desempenho dos agentes públicos (LUCENA, 2011). O contexto público apresenta uma série de desafios que dificultam a aplicação da avaliação de desempenho em seus servidores, principalmente, no que diz respeito a avaliação da gestão de pessoas, em virtude da falta de direcionamento estratégico nos moldes da que ocorre nas organizações privadas. O que se observa é a existência de muitas dificuldades e desafios para medir o desempenho das instituições públicas, todavia, em virtude das novas exigências do mercado por mais eficiência e eficácia nos serviços, a avaliação de desempenho tende a ser mais utilizada (LUCENA, 2011). Diante dessa realidade, observa Vergara (2012), um dos caminhos para superar esses obstáculos é desenvolver, treinar, recompensar e capacitar as pessoas que compõem o quadro funcional. Desse modo, é imprescindível que as instituições públicas comecem a medir o desempenho dos serviços prestados a sociedade. Os aspectos descritos justificam o interesse pelo estudo do tema avaliação do desempenho no setor público, a fim de identificar os fatores que podem influenciar positivamente o desempenho dos serviços públicos prestados à sociedade, agregando à opinião de vários autores que estudam essa temática. Baseando-se nos aspectos descritos, este estudo tem como objetivo analisar a avaliação de desempenho no setor público como ferramenta de gestão, visando a eficiência e eficácia dos serviços públicos. Para alcançar o objetivo proposto acima, o procedimento metodológico utilizado caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica, a partir das leituras realizadas, através de um referencial teórico obtido em levantamento bibliográfico, recorrendo-se ao uso de materiais como livros, revistas, artigos e periódicos e bancos de dados indexados em bases eletrônicas, tendo por buscar um aprofundamento dos aspectos que constitui o objeto da pesquisa. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Uma análise sobre a avaliação de desempenho dos servidores públicos demanda uma reflexão sobre alguns parâmetros presente nos serviços prestados pela administração pública, como: os servidores, a abrangência dos serviços públicos e a eficiência da prestação destes serviços. Por conta disso, este estudo analisa, inicialmente, alguns conceitos que possibilitarão a compreensão dos parâmetros que norteiam a avaliação de desempenho no setor público no campo da administração empresarial. 2.1 OS SERVIÇOS PÚBLICOS A administração pública tem como responsabilidade a prestação dos serviços à população. Para tanto, possui servidores que desempenham suas funções de acordo com os imperativos da população ou de interesse público. Partindo desse pressuposto, a administração pública objetiva a realização do interesse público, consoante jurista Bandeira de Mello (2014), em sua obra clássica Curso de Direito Administrativo, o interesse público é o “resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem”. Saraiva (2010) entende que para a realização do interesse público, a administração pública necessita de pessoas (agentes públicos) que, no exercício dos poderes que lhe são inerentes, possam realizar serviços em prol da comunidade, ou seja, o bem-estar social. Assim, o agente público, de acordo com o art.37, Constituição Federal, “é toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração Indireta”. Nota-se que, a administração pública é dirigida através de seus agentes públicos, cujo desempenho é imputado à pessoa jurídica a que pertence. Meirelles (2014, p. 173), conceitua agentes públicos como todas “as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal”. Eles podem ser divididos em três tipos: O estatutário, o empregado público e o temporário. O primeiro é dirigido pelo estatuto da instituição que faz parte e tem cargo público. O segundo é contratado sob o regime da legislação trabalhista (CLT e demais normas) e tem emprego público. O terceiro é contratado para prestar serviços por prazo determinado e detém uma função pública (MEIRELLES, 2014, p. 173). Mesmo quando o Estado atua no âmbito privado, “através de fundações, sociedades de economia mista, empresas públicas, os seus funcionários, à luz da CF são considerados agentes públicos” (SOUZA, 2012, p. 26). Os agentes políticos são aqueles que ocupam cargos na Administração Pública por meio da vontade do povo; os servidores estatais são todos que mantém uma relação profissional contínua com a Administração Pública; e por último os particulares em atuação com o poder público são os que exercem atividade pública, independentemente de ser pessoa jurídica de direito público ou pessoa jurídica de direito privado (MELLO, 2014). O que se observa é que, independentemente da classe em que se englobe o agente público, o importante é o fato de ele executar serviço público, representando o Estado no desempenho de suas funções, pois só assim, o Poder Público terá o dever de indenizar os danos causados por eles. Nesse contexto, a responsabilidade da Administração Pública se manifesta através dos atos de seus agentes, através de poderes e atribuições oriundos do Estado. Quanto às formas e meios de prestação dos serviços públicos, estes podem ser prestados de forma centralizada, descentralizada e desconcentrada, sendo que sua execução pode ser direta ou indireta. Na execução direta, a administração realiza os serviços por seus próprios meios, sem a contratação de terceiros. Na forma de execução indireta há contração de terceiros para a execução do serviço público (SOUZA, 2012). Para que a administração pública possa desempenhar uma relação de coordenação e subordinação entre os órgãos públicos com competência administrativa, mister necessário prover atribuições hierárquicas, cujo fim é “disseminar as funções entre seus órgãos, coordenar a atuação dos seus servidores públicos, como também constituir uma relação de sujeição entre o pessoal administrativo”(MEIRELLES, 2014, p. 175). Nesse diapasão é que a finalidade da Administração se opera, na medida em que se busca é o interesse público. Desse modo, ganha destaque a questão da avaliação do desempenho no serviço público, que demanda uma eficiência em toda atividade executada pela Administração Pública ou por seus delegados, visando à satisfação de necessidades coletivas. Assim, o campo da administração pública é, também, composto pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo das condutas e desempenho dos agentes públicos. Os valores devem ser uma prerrogativa de todos os atos da administração pública, devendo estar atrelados à ideia de honestidade, à eficiência, respeito e zelo. Sendo estes termos indissociáveis, devendo caminhar lado a lado, haja vista que, um desempenho eficiente por parte dos servidores representa valorização e crescimento, da gestão pública (CARVALHO FILHO, 2014). Seguindo as tendências administrativas das organizações privadas e uma maior cobrança de resultados por parte da sociedade em geral, a administração pública vem, ainda que timidamente, desenvolvendo estratégias para avaliar a eficiência de seus processos de trabalhos, de modo a melhorar o desempenho dos serviços prestados à sociedade (SILVA, 2010). Todavia, a aplicação da avaliação de desempenho no setor público ainda é recente no Brasil, isso porque a administração pública foi estruturada dentro de modelos estáticos, técnico, burocrático e racional sem margens às mudanças organizacionais. E, lentamente, vem sendo obrigada a prestar serviços com mais qualidade, eficiência e eficácia. 2.2 A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL PÚBLICO A literatura sobre a avaliação de desempenho tem crescido nos últimos anos à medida que se observa uma maior competitividade entre as empresas, a partir do avanço da globalização da economia mundial que gerou um aumento no número de empresas e multinacionais e, consequentemente, uma maior competição. E, para se destacarem frente ao mercado e promoverem a satisfação de seus clientes, estas empresas passaram a investir na qualidade nos serviços prestados, através de uma melhor organização dos seus processos de trabalhos para que, assim, pudessem aumentar a produtividade e superar as expectativas do mercado consumidor. A produtividade é um conceito muito mais amplo que o quociente de certa quantidade física pelo recurso usado para obtê-la, sendo assim, o conceito de produtividade é abrangente e envolve vários aspectos, que de certa forma estão na frente da concorrência e atingem alto lucro (OLIVEIRA, 2011). Em uma organização pública, a produtividade está relacionada à prestação do serviço, tanto no aspecto qualitativo como quantitativo. Na estrutura departamental das organizações públicas, em geral, os processos de gestão e os recursos humanos estão inteiramente relacionadas com a produtividade do serviço público. Conforme Lucena (2011), a prestação de serviços vem passando por um processo de transição, nas últimas décadas, vem ocorrendo uma mobilização em torno da aplicação de estratégias de qualidade nas empresas sejam elas públicas ou privadas, objetivando um aumento no gerenciamento dos recursos humanos e, consequente melhoria no desempenho dos colaboradores. Em virtude do exposto, se discutem, hoje, o desempenho dos processos de gestão, bem como avalia-se o desempenho dos colaboradores. Nesse contexto, são analisadas as práticas de avaliação vigentes nas empresas e suas vinculações com concepções tradicionais, assim como são propostas novas abordagens ao processo de avaliação do desempenho. Medir o desempenho dos colaboradores remota os tempos antigos, especialmente, quando se avaliava os resultados dos exércitos nas sociedades antigas, como feito pelo imperador Alexandre “O Grande”, quando analisava o desempenho de seus soldados pelas conquistas e estratégias de guerra aplicadas (RODRIGUES,2007). O passar dos séculos transformou a avaliação de desempenho é uma estratégia muito aplicada no setor privado, principalmente, na Europa, no início do iluminismo, em virtude do abandono da superstição e a aplicabilidade da razão, e consequentemente, a modernização e o avanço cientifico cederam lugar para aplicação de novos modelos de gestão, transformando a avaliação de desempenho em uma ferramenta de gestão nas organizações privadas (MAUGER et al., 2011). Sobre essa questão Chiavenato (2014) esclarece que parte significativa das organizações foi estruturada dentro de novos modelos estáticos, gerando, ao longo das décadas, mudanças organizacionais que redefiniram a avaliação do desempenho. Esse autor descreve três fases distintas de modelos organizacionais desenvolvidos, ao longo do século XX, através das fases: Industrial, Industrial Neoclássica e a da Informação. A visão das características de cada uma delas permite compreender a concepção de avaliação de desempenho que permeou o comportamento organizacional. A primeira, a industrialização clássica, teve como principais características: Muitos níveis hierárquicos e coordenação centralizada, departamentalização funcional para assegurar especialização; padrões rígidos de comunicação e cargos definitivos e limitados, pequena capacidade de processamento da informação, cargos individuais especializados com tarefas simples e repetitivas, ênfase na eficiência da produção, no método e na rotina, adequado para ambiente estável e imutável e tecnologia fixa e permanente, nenhuma capacidade para mudança e inovação (CHIAVENATO, 2014, p. 21). Nessa época, o comportamento organizacional era baseando em uma visa mecanicista, em que prevalecia a concepção de que o empregado deveria ser obediente em extremo, e executar as tarefas sem questionar, e o chefe detinha o poder absoluto sobre seus subordinados, por meio de um controle centralizado. Nesse paradigma, as empresas adotavam uma cultura organizacional burocrática, piramidal e centralizador, centrando-se na departamentalização, na hierarquia e no estabelecimento de regras e regulamentos internos para fazer obedecer e uniformizar o comportamento das pessoas (CHIAVENATO, 2014). Neste contexto, a avaliação de desempenho limitava-se ao rendimento produtivo do empregado, não estava vinculada a formação profissional e aprendizagem contínua, só buscava melhorar a produtividade e, consequentemente, os lucros, através do aprimoramento das ações propostas em determinado contexto organizacional. Mais tarde, foi à vez da industrialização neoclássica (de 1950 a 1990). Nessa era houve “uma vertiginosa mudança nas transações comerciais que passaram da amplitude local para regional, e de regional para internacional, tornando-se cada vez mais intensas e menos previsíveis, acentuado a competição entre as empresas” (CHIAVENATO, 2014, p. 21). Avaliar o funcionário era sinônimo do cumprimento estrito de regras procedimentais. A avaliação de desempenho priorizava “uma organização centralizada, com ênfase em procedimentos e em insumos” (SUZIKI; GABBI, 2011, p. 3). Todavia, as transformações sociais e a conjuntura econômica advinda da década de 1990 levaram as empresas a priorizar não mais uma lógica procedimental, e sim a lógica de resultados. Esse contexto também foi modificado pelos grandes avanços tecnológicos que transformaram o modo de executar determinadas funções e avaliação dos cargos. Sendo assim, a avaliação foi sendo concebida como: Uma etapa anterior que é a de monitoramento ou de medição de resultados. A seleção de indicadores é algo que não está limitado à etapa de monitoramento, ocorrendo também nas etapas de Diagnóstico, Formulação, Implementação e Avaliação. Cada uma dessas etapas pode ser mais bem realizada mediante criteriosa seleção dos indicadores, em que pesem as tipologias e as propriedades de cada indicador. Na etapa de implementação, onde ocorre o monitoramento da execução do programa, cabem indicadores de insumo, processo, resultado e impacto. Já na etapa de avaliação, os indicadores devem ser sensíveis e específicos, isto é, capazes de refletir mudanças nas condições que afetam o problema e capazes de refletir alterações estritamente decorrentes das ações realizadas (JANNUZZI, 2005, p.78). Na modernidade, o mundo vive uma era de ruptura e mudanças e o ambiente empresarial se depara com: mercados globais, tecnologia da informação, ambientes ambíguos, concorrências acirradas, consumidores exigentes, obsessão pela qualidade, fusões e aquisições de empresas, informações em excesso, fim do emprego tradicional, evolução da consciência humana, consumo excessivo de recursos, deterioração do ambiente, entre outros. Neste cenário, a presença da avaliação de desempenho passou a ser bem requisitada, e adquiriu os seguintes objetivos: Tornar dinâmico o planejamento da empresa; Conseguir melhorias voltadas à produtividade, qualidade e satisfação dos clientes, bem como em relação aos aspectos econômicos e financeiros; Estabelecer os resultados esperados das pessoas na organização; Obter o comprometimento das pessoas em relação aos resultados desejados pela empresa; Melhorar a comunicação entre os níveis hierárquicos na organização, criando clima de diálogo construtivo e eliminando dissonâncias, ansiedades e incertezas; Dar orientação constante sobre o desempenho das pessoas, buscando melhorias; Estabelecer um clima de confiança, motivação e cooperação entre os membros das equipes de trabalho; Servir como instrumento para levantamento de necessidades de treinamento e desenvolvimento (PONTES, 2006, p. 24). Com o avanço da globalização da economia foi imposta a busca da competitividade nas empresas sob pena de essas não sobreviverem. Essa busca incessante demandou, além de reestruturação profunda, novos modelos de avaliação visando medir os resultados decorrentes da qualidade, produtividade e satisfação dos clientes. Nesse sentido, a avaliação de desempenho faz com que: A empresa torna-se homogênea em seus objetivos presentes e futuros, pois o funcionário por mais operacional que seja estará ciente das metas de seu cargo e consequentemente terão uma visão mais global do negócio da organização e da importância de cada atividade que desenvolve para que a empresa tenha sucesso (PONTES, 2006, p. 15). Na visão de Azzi (2016), a avaliação de desempenho é considerada um processo sistemático de obtenção e análises de informações sobre uma realidade organizacional, buscando na apreensão dessa realidade as informações que permitem a interferência consciente daqueles que dela participam, visando aos objetivos e aos fins da organização. Ela é também um processo sistemático que põe em destaque os fatos, as ações, os resultados parciais dos processos de trabalho, mostrando não só o que são, mas também porque são deste modo. Atualmente, o que se busca é transformar todas as pessoas dentro da organização, estejam elas em qualquer cargo, sendo gerenciadoras e não apenas cumpridoras de suas tarefas. Nesse contexto, a avaliação de desempenho tem como objetivo principal, segundo Rocha-Pinto et al (2016, p.33), ajudar os colaboradores a “descobrir quais são seus interesses de realização, proporcionando, também as condições necessárias pra que o trabalho seja executado em consonância com esses interesses, difundindo cooperação entre as pessoas que atuam nas organizações”, visando o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais. Nesse cenário, a avaliação de desempenho configura-se em: Um sistema de gestão do desempenho, pois tem o objetivo da melhoria global do desempenho e da produtividade das pessoas ao longo do tempo. Tal sistema deve ser compreendido como um processo que impõe uma divisão de responsabilidades pela gestão de pessoas na organização e, mais especificamente, pelos esforços de melhoria de desempenho em que a área de recursos humanos apoia e gerencia o sistema, mas seus principais atores são, de fato, os avaliadores e os avaliados (HIPOLITO; REIS, 2002, p. 73). Portanto, a avaliação do desempenho é um instrumento a serviço da aprendizagem organizacional, da melhoria dos processos de trabalho, do aprimoramento da organização. Nesse instrumento, o ato de avaliar aumenta a compreensão dos objetivos organizacionais, das práticas de gestão e dos conhecimentos dos colaboradores. Para Oliveira (2011), neste tipo de avaliação, afere-se, também, para esclarecer a respeito de seus pontos fortes e fracos, dos aspectos que merecem mais atenção, onde devem centrar esforços. Portanto, avaliação, nesse sentido, permite a tomada de consciência de como o trabalho está sendo realizado. Avaliar para qualificar a aprendizagem do funcionário, identificar problemas, encontrar soluções, rumos, e acertar o passo de todos e de cada um. Mauger et al (2011) destacam que a utilização da avaliação de desempenho como uma ferramenta de gestão no setor privado não é novidade, contudo, no setor público ela é bem recente, cuja aplicabilidade vem sendo utilizada timidamente. A esse respeito comenta Pereira e Lucena (2013, p. 49) que: Na história antiga até aos dias atuais, a avaliação de desempenho se mostrou mais abundante no setor privado, talvez por buscar resultado positivo em face à sua finalidade lucrativa, diferentemente, da postura histórica do poder público, uma vez que durante muito tempo este setor esteve adormecido, com a impressão de dever cumprido ao apenas obedecer a suas obrigações legais, deixando na maioria das vezes de considerar aspectos gerenciais importantes para seu desenvolvimento e de toda a sociedade. No setor público, Lucena (2011) afirma ser uma tarefa difícil, medir o desempenho de instituições públicas. Silva (2010) descreve as dificuldades, no que diz respeito a avaliação da gestão de pessoas no serviço público, em virtude da falta de direcionamento estratégico nos moldes da que ocorre nas organizações privadas, pouco poder do gestor público na tomada de decisão com base na competência daquele a quem gerencia. O aumento da carga de trabalho é compartilhado por muitos servidores públicos, em razão da redução do pessoal e dos novos imperativos de desempenho e produtividade. Em estreita relação com a carga de trabalho, própria do funcionário serviço público, notadamente para aqueles e aquelas que estão em contato direto com o público, nota-se uma pressão maior da parte dos usuários dos serviços oferecidos (CHANLAT, 2002). Completa Chanlat (2002), esta pressão tem várias origens: “discurso sobre a importância do cliente, exigências crescentes dos cidadãos para com sua administração, dificuldades sociais crescentes (desemprego, precariedade, pobreza, miséria,...) subida da incivilidade (ensino, transporte,...)”. O que se observa é a existência de muitas dificuldades e desafios para medir o desempenho das instituições públicas, todavia, em virtude das novas exigências do mercado por mais eficiência e eficácia nos serviços, a avaliação de desempenho tende a ser mais utilizada, como bem explicita Abrucio (1998), que em decorrência de pressões por mais eficiência e eficácia, a avaliação de desempenho evolui e foram surgindo novas necessidades de controle de resultados. Explica ainda o autor: Até a década de 1980, vários países ocidentais começaram a adotar medidas para aperfeiçoar a eficiência e melhorar a efetividade do serviço público. Até então, o modelo típico de Estado era pautado por uma ativa intervenção na economia, pela expansão dos serviços de bem estar social e pelo funcionamento interno nos moldes do modelo burocrático weberiano. Um conjunto de fatores contribuiu para detonar o modelo de Estado em vigor: a crise econômica mundial na década de 1970 e 1980, ligada aos choques do petróleo em 1973 e 1979; a crise fiscal dos Estados, que se deparavam diante de crescentes atribuições e menos recursos; a globalização e as inovações tecnológicas, resultando na perda do poder dos Estados nacionais de ditarem políticas macroeconômicas; e uma mudança no contexto intelectual da época que se tornou contrário à burocracia, com a ascensão de teorias críticas como a Public Choice e o ideal neoliberal hayekiano (ABRUCIO, 1998, p. 183). No poder público Brasileiro, a avaliação de desempenho está presente no artigo 37 da Constituição Federal de 1988, representado no princípio da Eficiência, sendo este incluído pela Emenda Constitucional 19/98. Ainda no texto constitucional, o artigo 41 estabelece a avaliação periódica de desempenho dos agentes públicos (PEREIRA; LUCENA, 2013). Aferir o desempenho no setor público está relacionado ao estabelecimento de metas e objetivos que visam otimizar a eficiência dos órgãos públicos. O princípio da eficiência foi acrescentado ao texto constitucional brasileiro pela Emenda n.º 19 de 1998, em seu art. 3º, alterando o caput do art. 37 da Constituição Federal. De acordo com Meirelles (2014), este princípio exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. Souza (2012) assinala que a eficiência pública carrega em seu bojo a relação custo-benefício, a rapidez, a efetividade na prestação de serviços e a concepção da boa administração. Segundo Carvalho Filho: O núcleo do princípio da eficiência é a procura de produtividade e economicidade e, o que é mais importante, a exigência de reduzir os desperdícios de dinheiro público, o que impõe a execução dos serviços públicos com presteza, perfeição e rendimento funcional (CARVALHO FILHO, 2014, p. 29). Para alguns autores, dentre estes Figueiredo (2013) e Faria (2011) não há diferença entre a administração agir com eficiência ou com eficácia, possuindo ambas as atividades o mesmo significado para estes autores. Contudo, necessário se faz distinguir os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade, os quais, segundo Carvalho Filho, podem ser assim distintos: A eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa; a ideia diz respeito, portanto, à conduta dos agentes. Por outro lado, eficácia tem relação com os meios e instrumentos empregados pelos agentes no exercício de seus misteres na administração; o sentido aqui é tipicamente instrumental. Finalmente, a efetividade é voltada para os resultados obtidos com as ações administrativas; sobreleva nesse aspecto a positividade dos objetivos (CARVALHO FILHO, 2014, p. 31). Conclui-se que eficiência é cumprir as atividades da forma estabelecida em lei, com habilidade, presteza e de maneira satisfatória. A eficácia vai além, pois implica atingir os resultados esperados, ou seja, o interesse social. Consiste, portanto, a eficiência na Administração Pública assegurar a defesa do interesse público e o interesse da coletividade. Azzi (2016), a avaliação de desempenho no contexto público orienta-se pela atividade administrativa em que estão inseridos os servidores. Resguardadas as características próprias administração pública, a avaliação do servidor deve ter como referência básica a avaliação contínua, formativa e somativa. Portanto, o processo de avaliação de desempenho labora como um instrumento eficiente que permitirá conhecer a real da instituição e dos servidores, a fim de encontrar as melhores estratégias para o alcance do desempenho almejado, garantindo maior desenvolvimento pessoal e profissional no setor público (OLIVEIRA, 2011). Cabe acrescentar que a avaliação não pode ser vista isoladamente de uma proposta organizacional, de um projeto empresarial que traga em seu bojo um processo de transformação, uma proposta de eficiência e produtividade nos serviços prestados à sociedade. Behn (2003) descreve oito motivos que justificam a aplicação da avaliação de desempenho no âmbito das organizações públicas: 1) Avaliar se a organização possui boa performance; 2) Controlar, conhecendo se os gestores e seus subordinados estão fazendo a coisa certa; 3) Saber em quais programas, pessoas ou projetos o orçamento deve ser gasto; 4) Motivar, na medida em que se conhece o que é necessário fazer para melhorar a performance da organização; 5) Promover a organização, divulgando aos superiores, legisladores, stakeholders, jornalistas e cidadãos que a organização está fazendo um bom trabalho; 6) Comemorar o sucesso, sabendo-se quais realizações merecem esse importante ritual organizacional; 7) Aprender o que está ou não funcionando na instituição; e 8)Aprimorar, conhecendo-se o que se deve fazer diferentemente para melhorar a performance da organização. Todavia, a escolha do método de avaliação de desempenho dependeria inerentemente do propósito a ser alcançado com tal avaliação, no âmbito das organizações públicas (BEHN, 2003). Com essas estratégias são esperados com resultados a implementação de estratégias para avaliar o desempenho dos servidores públicos no ambiente de trabalho, a fim de sanar as barreiras para o sucesso das organizações públicas. O setor público está inserido em meio um cenário organizacional permeado por mudanças, competitividade, inovações tecnológicas, exigências dos consumidores, satisfação do cliente, entre outros aspectos, por isso é imprescindível que as organizações públicas invistam em estratégias diferenciadas (LOTTA, 2002). Nesse cenário, vem ganhando destaque uma variedade de termos, tais como, gestão do conhecimento, gestão por competência, gestão de processos, gestão de desempenho, dentre outros, ocupando um papel relevante nas agendas empresariais advindo das profundas mudanças ocorridas no mundo globalizado, pautado no desempenho por meio das competências de aprendizagem permanente. Souza (2012) destaca a importância dos programas de treinamento, tais como, o trainee que é um programa de desenvolvimento profissional e pessoal contínuo com objetivos de longo prazo, cujos participantes recebem treinamento contínuo ministrado por profissionais especializados, passando estes por monitoria e avaliação constantes quanto ao seu desempenho, vinculação com a empresa e suas potencialidades. Diante das análises é importante ressalvar que o sucesso de uma instituição pública tem dependido do desenvolvimento de métodos e ferramentas de desenvolvimento da gestão de processos, visando garantir produtividade e eficiência, o que só é possível se existir envolvimento, motivação e satisfação destes quanto ao ambiente interno de trabalho. Quinn et al. (2012) revela que a implantação da avaliação de desempenho com intuito de avaliar os fatores humanos que interferem no desenvolvimento de um projeto organizacional cria vantagem competitiva sustentável, uma vez que está enraizada nos servidores, e não em recursos físicos. De igual modo, Merli (2008) enfatiza que o investimento nas pessoas deve ser uma estratégia gerencial adotada pelas instituições preocupadas com os processos gerenciais, tendo como principal propósito, que a instituição possa atingir com eficiência seus objetivos. Por essa razão, as organizações precisam ter cuidado ao mapear competências e habilidades humanas e organizacionais, garantindo maior competitividade no mercado em constante evolução. Para a administração pública há um enfretamento de um grande desafio, que consiste em: Uma redefinição estrutural, priorizando em lideranças qualificadas e preparadas na função de avaliar, mudar e influenciar o comportamento humano nas relações profissionais. Isso requer esforço permanente, de readaptação e de assimilação de novos conhecimentos. Sendo estes procedimentos instrumentos poderosos para resolver problemas de desempenho e melhorar a qualidade de trabalho e vida dentro das organizações. Com isso fica evidente que estas práticas aplicadas com eficácia e eficiência dentro das instituições públicas poderão alavancá-las rumo a uma prestação de serviços públicos de qualidade, oferecendo maior comodidade e bem estar aos usuários e beneficiários dos serviços públicos (OLIVEIRA, 2011, p. 56). Portanto, no caso específico da atividade pública, toma-se necessária, por exemplo, a avaliação institucional, buscando não apenas a necessária reestruturação dos processos e tarefas, que permita desenvolver as capacidades dos profissionais, melhorando sua responsabilidade e formas de comunicação, mas também, visando a estruturação de uma identidade profissional consistente e crítica, buscando entender o seu papel profissional e formatar seus objetivos humanos frente a este papel e aos objetivos da sua organização de trabalho. Além disso, o uso de estratégias para administração do tempo, priorização de problemas, desenvolvimento da capacidade de planejamento, podem solucionar conflitos e criar um clima favorável às instituições e ao desenvolvimento produtivo dos trabalhadores públicos. Para tanto, técnicas do campo da Psicologia Organizacional ou da Administração de Recursos Humanos (ARH) são de grande valia (CHIAVENATTO, 2011). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi exposto neste estudo, verifica-se que o excesso de burocratização e tecnicismo sempre foram um problema que afligiam o processo de avaliação de desempenho na administração pública. Diferentemente desse setor, a avaliação de desempenho no setor privado tem sido um dos caminhos para avaliar os serviços executados pelos trabalhadores, visando sucesso da organização, ou então maximizar os resultados na organização. Como observado na literatura, o setor público, em virtude de suas funções burocratizadas, extremamente técnicas, racionais e direcionadas ao cumprimento das obrigações legais, as instituições públicas, quase sempre não avaliam o desempenho dos serviços prestados à sociedade. Assim, lentamente, a administração pública vem sendo obrigada a prestar serviços com mais qualidade, eficiência e eficácia. Além disso, a aplicação da avaliação de desempenho no setor público ainda é recente no Brasil, notadamente, a partir da Constituição Federal de 1988, por meio do princípio da Eficiência, sendo inclusa na Emenda Constitucional 19/98, que estabeleceu a avaliação periódica de desempenho dos agentes públicos. O que se observa na literatura é que o contexto público apresenta uma série de desafios que dificultam a aplicação da avaliação de desempenho em seus servidores, principalmente, no que diz respeito à avaliação da gestão de seus servidores. Diante dessa realidade, sugere a literatura como um dos caminhos para superar esses obstáculos do processo de avaliação de desempenho no setor público é desenvolver, treinar, recompensar e capacitar às pessoas que compõem o quadro funcional das organizações públicas. Neste contexto, é necessário que se busque transformar todas as pessoas dentro da organização, estejam elas em qualquer cargo, sendo gerenciadoras e não apenas cumpridoras de suas tarefas. Os estudos vêm mostrando que a avaliação do desempenho representa um instrumento a serviço da aprendizagem organizacional seja no setor público ou privado, atuando na melhoria dos processos de trabalho e no aprimoramento da organização. Com esse instrumento, a organização transforma o ato de avaliar em práticas de gestão e dos conhecimentos dos colaboradores. Portanto, a avaliação de desempenho no setor público deve ser consagrada como um instrumento eficiente para conhecer a realidade da instituição e dos servidores, conduzindo o gestor a encontrar as melhores estratégias para o alcance do desempenho almejado, garantindo maior produtividade no setor público. Frente aos aspectos descritos, é preciso considerar que na administração pública, o bem comum é sua finalidade primordial, por isso fica evidente a presença marcante dos princípios constitucionais nos processos de trabalho, de tal forma que o desempenho dos servidores seja praticado, visando o interesse da coletividade. E nesse sentido, avaliar suas condutas e procedimentos deve ser uma estratégia rotineira, a fim de garantir maior eficiência nos serviços prestados à sociedade. REFERÊNCIAS ABRUCIO, F. L. Os avanços e dilemas do modelo pós-burocrático: a reforma da administração pública à luz da experiência internacional recente. In. BRESSER PEREIRA, L. C.; SPINK, P. (Org.). Reforma do Estado e administração pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 1998. p. 178-192. AZZI, Sandra. Avaliação de desempenho. Curso de Formação de Professores. Minas Gerais: Secretaria Estadual de Educação, 2016. BEHN, R. D. As grandes questões da gestão pública. 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