Buscar

Joan Wallach Scott resenha

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA SOCIAL
DISCIPLINA: GÊNERO E SEXUALIDADE
Nome:Gabriela Camboim Nunes
Número do Cartão: 170295
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. In: Educação & Realidade, 1995, pp.71-99.
Resenha do Texto Gênero: uma categoria útil de Análise Histórica de Joan Scott
Joan Wallach Scott é historiadora Norte-americana, nascida em 18 dezembro de 1941 no Brooklyn, cujo trabalho, inicialmente dedicado à história francesa (movimento operário e história intelectual) foi direcionado na década de 1980 para a história das mulheres a partir da perspectiva de gênero. Seu trabalho influente, muito além dos limites de sua própria disciplina, foi caracterizado pela sua integração da historiografia ,filosofia e teoria do gênero. Scott é uma crítica influente da tradição empirista na historiografia americana, ela se refere ao seu trabalho como uma forma de "história crítica", "história da diferença" e "história do presente". 
Seus estudos combinaram a pesquisa arquivista com os insights das teorias críticas tais como desconstrução e psicanálise. Inspirada pelo trabalho do filósofo francês Michel Foucault, ela se aproximou história intelectual não como um inquérito sobre as origens de um presente de outra forma um dado adquirido, mas sim como uma maneira de questionar suposições contemporâneas e para destacar as históricas contingências de categorias como gênero. Alguns dos trabalhos de Scott incluem o artigo: ""Gênero: uma categoria útil de análise histórica"" (1986) e os livros Sexo e a política da História (1988), Só Paradoxos para oferecer: As feministas francesas e os Direitos do Homem (1996) e A Fantasia da História feminista (2011). Ela recebeu inúmeros prêmios e honrarias. Scott escreveu dezoito livros significativos e mais de 80 artigos. Entre as publicações mais notáveis de Scott está o artigo ""Gênero: uma categoria útil de análise histórica"", publicado em 1986 na revista American Historical Review, sendo um dos artigos mais lidos e citados na história da revista. O artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica foi essencial na formação de um campo de história de gênero dentro dos estudos históricos anglo-americanos. Ele é referência teórica importante no estabelecimento dos estudos de gênero no Brasil.
O artigo Gênero: uma categoria útil de Análise Histórica de Joan Scott, é uma obra que exige do leitor um certo amadurecimento teórico sobre os estudos de gênero para poder compreender com completa nitidez a sua mensagem e a sua proposta teórica epistemológica. Ele em poucas páginas descreve muitas vertentes teóricas sobre os estudos de gênero, realizando uma crítica epistemológica sobre a utilização desse termo e também expõe a importância da análise sobre gramática na maneira como utilizamos o conceito de gênero. Ela expõe que, “A referência à gramática é ao mesmo tempo explícita e plena de possibilidades não-examinadas” (SCOTT; 1995; p.72). Essa ênfase na linguagem para o significado do conceito sobre gênero se encontra também presente no texto de Haraway (2004) “Gênero” para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra, em que ela expõe a importância da analise linguística para se analisar as questões de gênero em diferentes culturas e países. Tanto, Scott como Haraway(2004), expõe que as palavras possuem história. “Aquelas pessoas que se propõem a codificar os sentidos das palavras lutam por uma causa perdida, porque as palavras, como as idéias e as coisas que elas pretendem significar, têm uma história”(SCOTT; 1995; p. 71). 
Expondo, equívocos que vários intelectuais cometeram ao fazer um uso deliberadamente errôneo sobre a referência gramatical. “Na gramática, o gênero é compreendido como uma forma de classificar fenômenos, um sistema socialmente consensual de distinções e não uma descrição objetiva de traços inerentes” (SCOTT; 1995; p.72). Ademais, Scott expõe que, as classificações de gênero sugerem um relação entre categorias que torna possível distinções ou agrupamentos separados. Scott ao longo desse artigo problematiza o conceito de gênero e a maneira pela qual vários autores utilizaram e/ou utilizam esse conceito. “Na sua utilização mais recente, o termo “gênero” parece ter feito sua aparição inicial entre as feministas americanas, que queriam enfatizar o caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no sexo”(SCOTT; 1995; p. 72). Escrevendo um pouco sobre os desdobramentos dos estudos de gênero, expondo que inicialmente os estudos de gênero enfatizavam definições normativas da feminilidade, que estavam preocupadas pelo fato de que a produção de estudos sobre mulheres se centrava nas mulheres de maneira muito estrita e separada, desse modo, as feministas norte americanas dessa vertente teórica, utilizaram o termo “gênero” para introduzir uma noção relacional em nosso vocabulário analítico. “Segundo esta visão, as mulheres e os homens eram definidos em termos recíprocos e não se poderia compreender qualquer um dos sexos por meio de um estudo inteiramente separado” (SCOTT; 1995; p. 72). Este tipo de argumento se encontra também no texto de Maria Izilda Matos (2009), História das mulheres e gênero: usos e perspectivas. 
Scott cita ao se referir a essa vertente teórica- Natalie Davis, que em 1975 afirma que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens como das mulheres, e que não deveríamos tratar somente do sexo sujeitado, pois esse tipo de abordagem analítica é limitada e não abrange a análise de todo o problema, e que devemos compreender a importância dos dois sexos, dos grupos de gênero no passado histórico; e o objetivo que ela defende nesses estudos sobre gênero é descobrir, através, do leque de papéis e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e períodos, qual era os seus sentido e como eles funcionavam para manter a ordem social ou para mudá-la.
Scott aborda, nesse texto, um pouco sobre os desdobramentos dos estudos sobre gênero e sobre as mulheres, “ [...] o que é talvez mais importante, “gênero” era um termo proposto por aquelas que sustentavam que a pesquisa sobre as mulheres transformaria fundamentalmente os paradigmas disciplinares” (SCOTT; 1995; 73). Scott afirma nesse texto que as pesquisadoras feministas assinalaram desde o início que o estudo das mulheres, traria novas abordagens epistemológicas para o trabalho científico existente. Esse tipo de argumentação também é encontrado no artigo de Matos(2009), Historia das mulheres e Gênero: usos e perspectivas, o qual Matos (2009), expõe que a história das mulheres trouxe para a historiografia uma nova forma epistemológica de à desenvolver. Ademais, em seu texto Gênero: uma categoria útil de Análise Histórica, Scott expõe que “A maneira pela qual esta nova história iria, por sua vez, incluir a experiência das mulheres e dela dar conta dependia da medida na qual o gênero podia ser desenvolvido como uma categoria de análise”. (SCOTT; 1995; p.73) , nesta perspectiva as analogias com a classe e com a raça eram explícitas; e as pesquisadoras feministas que tinham uma visão política mais global, invocavam regularmente essas categorias como cruciais para a escrita de uma nova história. 
O interesse por estas categorias (classe, raça e gênero), assinalava, “o envolvimento do/a pesquisador/a com uma história que incluía as narrativas dos/a oprimidos/as e uma análise do sentido e da natureza de sua opressão e, [...], uma compreensão de que as desigualdades de poder estão organizadas ao longo de, no mínimo, três eixos”(SCOTT; 1995; p.73), quais sejam, classe, raça e gênero. Todavia, Scott expõe que, embora, “classe, raça e gênero” sugira uma paridade entre eles, na verdade, esses termos não possuem um estatuto equivalente. “Enquanto a categoria “classe” tem seu fundamento na elaborada teoria de Marx [...], “raça” e “gênero” não carregam associações semelhantes” (SCOTT; 1995; p. 73). Além disso, Scott expõe que não existe nenhuma unanimidadeentre aqueles que utilizam o conceito de classe. Ademais, Scott expõe que não existe nenhuma clareza ou coerência parecida com a que há na utilização da categoria classe para a categoria de raça ou para a de gênero. “No caso do gênero, seu uso implicou uma ampla gama tanto de posições teóricas quanto de simples referências descritivas à relações entre os sexos” (SCOTT; 1995; p. 73). Scott, expõe no mesmo parágrafo que os historiadores/as feministas, que embora estejam mais treinados para estarem mais à vontade com a descrição do que com a teoria, têm, procurado, cada vez mais, encontrar formulações teóricas utilizáveis, exemplificando as razões, pelas quais estes historiadores procuram por isto. 
Expondo, que isto se dá porque a proliferação de estudos de caso, na história das mulheres, tende a exigir uma perspectiva sintética que possa explicar as continuidades e descontinuidades e dar conta das persistentes desigualdades, assim como de experiências sociais radicalmente diferentes. “Em segundo lugar, porque a discrepância entre a alta qualidade dos trabalhos recentes de história das mulheres e seu status marginal em relação ao conjunto da disciplina (que pode ser avaliado pelos manuais, programas universitários e monográfias) mostram os limites de abordagens descritivas que não questionam os conceitos de modo a abalar seu poder e, talvez, a transformá-lo (SCOTT, 1995; p. 74). Scott traz a esse artigo um excelente debate sobre a importância de se analisar os conceitos; a gramática e o contexto na hora de se narrar uma história, dando ênfase nesse texto sobre a história das mulheres. Esse tipo de argumentação também se encontra no texto de Maria Izilda Matos, História das mulheres e gênero: usos e perspectivas, em que Matos (2009), expõe que a história sobre as mulheres adquiriu uma epistemologia mais consistente a partir do surgimento dos estudos de gênero. Scott expõe também, que “Para os/as historiadores/as das mulheres, não tem sido suficiente provar que as mulheres participaram das principais revoltas políticas da civilização ocidental”(SCOTT; 1995; p.74).Realizando uma crítica na maneira pela qual historiadores não feministas descrevem a história das mulheres.
Desse modo, Scott expõe que o desafio à essas colocações é, em última análise, um desafio teórico. “Isso exige uma análise não apenas da relação entre a experiência masculina e a experiência feminina no passado, mas também da conexão entre a história passada e a prática histórica presentes. Como o gênero funciona nas relações sociais humanas? Como o gênero dá sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico?”(SCOTT;1995; p.75). Scott expõe que respostas a essas perguntas dependem de uma discussão do “gênero” como categoria analítica. Problematizando nesse texto os velhos quadros de referência tradicional das Ciências Sociais, que segundo ela são baseadas em explicações causais universais. Scott expõe que estas teorias tiveram, no melhor dos casos, um caráter limitado, porque elas têm tendência “a incluir generalizações redutivas ou muito simples, que se opõem não apenas à compreensão que a história como disciplina tem sobre a complexidade do processo de causação social, mas também aos compromissos feministas com análise que levem à mudança”( SCOTT;1995; p.74). Expondo, que um exame crítico destas teorias fará com que apareça os limites destas e permitirá propor uma abordagem alternativa. Realizando uma crítica aos historiadores que se preocupam apenas em descrever os fatos históricos. Scott expõe que o uso do termo “gênero” visa oferecer a erudição e a seriedade de um trabalho, pois o termo gênero tem uma conotação mais objetiva e neutra do que o termo mulher. “Gênero parece se ajustar à terminologia científica das Ciências Sociais, dissociando-se, assim, da política [...] do feminismo” (SCOTT;1995; p.75). 
Scott diferencia, gênero, de história das mulheres, expondo que na utilização acadêmica o termo gênero “não implica necessariamente uma tomada de posição sobre a desigualdade ou o poder, nem tampouco designa a parte lesada [...]. Enquanto o termo “história das mulheres” proclama sua posição política ao afirmar [...] que as mulheres são sujeitos históricos válidos”(SCOTT;1995; p.75). Scott escreve que o termo gênero constitui um dos aspectos do que se poderia chamar de busca por legitimidade acadêmica para os estudos feministas dos anos 80. Todavia, Scott expõe que este é apenas um aspecto do termo gênero. Gênero é também utilizado “para sugerir que qualquer informação sobre as mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um implica o estudo do outro. Essa utilização enfatiza o fato de que o mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens, que ele é criado nesse e por esse mundo masculino”(SCOTT;1995;p.75). Ela rejeita a validade interpretativa da ideia de esferas separadas e sustenta que estudar as mulheres de maneira isolada faz perpetuar o mito de que uma esfera, a experiência de um sexo, tenha muito pouco ou nada a ver com o outro sexo. “Além disso, o termo gênero também é utilizado para designar as relações sociais entre os sexos”(SCOTT;1995; p.75).
Desse modo, Scott expõe nesse texto a sua percepção sobre o que é o gênero. “O termo gênero torna-se uma forma de indicar “construções culturais”- a criação inteiramente social de idéia sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres” (SCOTT;1995;p.75). Scott expõe que segundo esta definição Gênero é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Expõe, também, que “com a proliferação dos estudos sobre sexo e sexualidade, “gênero” tornou-se uma palavra particularmente útil, pois oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis sexuais atribuídos às mulheres e aos homens” (SCOTT;1995;p.75). Problematizando, a maneira pela qual, pesquisadores utilizam o conceito de gênero e de sexualidade. “Expondo os desdobramento desses usos que os historiadores e pesquisadores do tema realizaram do termo “gênero”, afirmando que a medida que os historiadores utilizavam o termo gênero alguns temas começaram a se tornar relevantes na historiografia. Scott problematiza nesse texto a utilização do termo gênero que alguns pesquisadores utilizam sustentados por categorias teóricas tradicionais. 
Scott expõe, nesse texto, que o uso que esses pesquisadores realizavam do termo gênero referia-se apenas àquelas áreas, tanto estruturais quanto ideológicas, que envolviam as relações entre os sexos. Desse modo, como, ilusoriamente, as relações da guerra, da diplomacia e da alta política, parecia para esses teóricos não ter a ver explicitamente com o gênero, parecia à esses pesquisadores que gênero não se aplicava a estes objetos, “continuando, assim, o gênero, a ser irrelevante para o pensamento dos historiadores preocupados com questões de política e poder. Scott, desse modo, põe em cheque nesse texto as limitação do termo gênero para promover a mudança social, e expõe que ele é um termo acadêmico analítico. “Ainda que, nessa utilização, o termo “gênero” sublinhe o fato de que as relações entre os sexos são sociais, ele nada diz sobre as razões pelas quais essas relações são construídas como são, não diz como elas funcionam ou como elas mudam”(SCOTT; 1995; p.76). Scott expõe que o, gênero, é um novo domínio da pesquisa histórica, mas ele não tem poder analítico suficiente para questionar e mudar os paradigmas históricos existentes. Scott, expõe que alguns historiadores estavam cientes desse problema, e tentaram readaptar as suas teorias aos estudos de gênero e dar conta da mudança histórica., “o desafio consistia em reconciliar a teoria, que estava concebida em termos universais e gerais, com a história, que estava comprometida com o estudo da especificidade contextual e da mudança fundamental”( SCOTT; 1995; p.76). Scott expõe que o resultado disso foi diversificado e com enfoques que enfraquecem o poder analítico de uma teoriaparticular, sem obter os objetivos pretendidos com essa tentativa teórica, ainda mais por enfoque ser inspirado por teorias universais.
Scott expõe que somente através do exercício, de explicitar todas as implicações das teorias, nas quais os historiadores se inspiraram, pode-se avaliar a utilidade dessas teorias, e, talvez, começar a formular uma abordagem teórica mais potente. Scott expõe que essas teorias, podem ser resumidas à três posições teóricas diferentes. “A primeira, uma tentativa inteiramente feminista, empenha-se em explicar as origens do patriarcado. A segunda se situa no interior de uma tradição Marxista [...]. A terceira, fundamentalmente dividida entre o pós-estruturalismo francês e as teorias anglo-americanas de relações do objeto” (SCOTT; 1995; p77). Desse modo, Scott expõe, nesse texto, algumas os desdobramentos dessas teorias, as quais os historiadores têm-se inspirado na analise sobre os “gênero”, apresentando às suas limitações epistemológicas citando diversos autores sobre o tema, e apresentando também o porque que para os historiadores estas teorias apresenta problemas. Scott defende que não se pode utilizar o conceito de gênero analiticamente sem conceder uma certa atenção aos sistemas de significado, aos modos pelos quais as sociedades representam o gênero, servem-se dele para articular as regras de relações sociais ou para construir o significado da experiência. 
Para Scott a identificação de gênero é extremamente instável e traz uma série de obstáculos para aqueles que querem teorizar sobre as relações de gênero, expondo que as ideias de feminino e masculino variam de acordo com as utilizações contextuais. Scott defende, também, a utilização da linguagem como objeto de analise e que os sujeitos estão em um processo constante de construção. Scott expõe que se sente incomodada pela fixação exclusiva em questões relativas ao sujeito individual e pela tendência a reificar, como dimensão central do gênero, “o antagonismo subjetivamente produzido entre homens e mulheres. Além do mais, mesmo que a maneira pela qual “o sujeito” é construído permaneça aberta, a teoria tende a universalizar as categorias e as relações entre masculino e feminino” (SCOTT; 1995; p.83), expondo que essa metodologia reduz os dados há mera descrição sobre os fatos do passado. Scott expõe que esse tipo de teoria não permite introduzir uma noção de especificidade e de variabilidade histórica, Scott afirma que nesse tipo de teoria o sujeito é sempre descrito de maneira generalizada. Além disso, Scott realiza uma crítica aos autores que estão presos ao binarismo ao se referir ao gênero. “Ao insistir sempre nas diferenças fixadas [...], as/os feministas reforçam o tipo de pensamento que desejam combater. Ainda que insistam na reavaliação da categoria do “feminino” [...], elas não examinam a oposição binária em sí” (SCOTT; 1995; p.84) .
Scott defende, nesse texto, que devemos rejeitar o caráter fixo e permanente da oposição binária, empregada por muitos pesquisadores sobre o termo “gênero”, de uma historicização e de uma desconstrução dos termos da diferença sexual. “Devemos nos tornar mais auto-conscientes da distinção entre nosso vocabulário analítico e o material que queremos analisar. Devemos encontrar formas [...] de submeter sem cessar nossas categorias à crítica e nossas análises à auto-crítica” (SCOTT; 1995; p.84) .Scott expõe os desdobramentos do termo gênero como uma categoria analítica. Expondo, que grande parte das teorias tradicionais não tinha incorporado gênero em suas analises, devido o desenvolvimento tardio na academia desse conceito e que este atraso pode explicar em parte a dificuldade que tiveram as feministas contemporâneas de incorporar o termo “gênero” às abordagens teóricas existentes e de convencer os adeptos de tais teorias que o gênero fazia parte de seu vocabulário. “O termo “gênero” faz parte da tentativa empreendida pelas feministas contemporâneas para reinvindicar um certo terreno de definição, para sublinhar a incapacidade das teorias existentes para explicar as persistentes desigualdades entre as mulheres e os homens”(SCOTT; 1995; p.85). Scott expõe que o termo gênero surge em um período de grande efervescência epistemológica nas ciências sociais, argumentação essa também encontrada no texto de Maria Izilda Matos (2009), História das mulheres e gênero: usos e perspectivas. 
Scott expõe que a partir desse debate, posicionado ao lado da crítica da ciência desenvolvida pelas humanidades e da crítica do empirismo e do humanismo desenvolvido pelos/as pós- estruturalistas, “as feministas não somente começaram a encontrar uma voz teórica própria; elas também encontraram aliados acadêmicos/as e políticos/as. É dentro desse espaço que nós devemos articular o gênero como uma categoria analítica” (SCOTT; 1995; p.85) Scott afirma que devemos examinar atentamente os nossos métodos de análise, classificar nossas hipóteses de trabalho, e explicar de maneira mais adequada os processos de mudança. “Em vez da busca de origens únicas, temos que pensar nos processos como estando tão interconectados que não podem ser separados”(SCOTT; 1995; p.85). Realizando um excelente debate epistemológico nesse texto. Scott expõe que devemos ter um maior senso crítico ao se analisar o passado, para descobrir como ele se passou. Scott defende que “devemos buscar não uma causalidade geral e universal, mas uma explicação baseada no significado”(SCOTT; 1995; p.85), das relações sociais para se entender o lugar da mulher na sociedade. “Para buscar o significado, precisamos lidar com o sujeito individual, bem como a organização social, e articular a natureza de suas interrelações, pois ambos são cruciais para compreender como funciona o gênero, como ocorre a mudança”(SCOTT; 1995; p.86). Além disso, Scott expõe que é preciso substituir a noção de que o poder social é unificado, coerente e centralizado por algo como o conceito de poder de Michel Foucault. 
Desse modo, Scott expõe a sua definição de gênero expondo que ela tem duas partes e diversos subconjuntos, que estão inter-relacionados, mas devem ser analiticamente diferenciados. “O núcleo da definição repousa numa conexão integral entre duas proposições: (1) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder”(SCOTT; 1995; p.86). Expondo, os desdobramentos dessa sua teorização sobre o conceito de gênero. Scott afirma que o desafio da nova pesquisa histórica consiste em fazer explodir a noção de fixidez, descobrindo a natureza do debate ou da repressão que leva à aparência de uma permanência intemporal na representação binária do gênero. “Esse tipo de análise deve incluir uma concepção de política bem como uma referência às instituições e à organização social – este é o terceiro aspecto das relações de gênero” (SCOTT; 1995; p.87). Realizando um debate crítico da maneira pela qual certos pesquisadores utilizam o conceito de gênero. Ademais, Scott expõe que “ o gênero é construído através do parentesco, mas não exclusivamente; ele é construído igualmente na economia e na organização política, que, pelo menos em nossa sociedade, operam atualmente de maneira amplamente independente do parentesco” (SCOTT; 1995; p.87). Além disso, Scott expõe que em sua definição de gênero o quarto aspecto é a identidade subjetiva, todavia, Scott realiza um crítica a pretensão universal da psicanálise. 
Além disso, Scott expõe que os historiadores precisam examinar as formas pelas quais as identidades generificadas são substantivamente construídas e relacionar seus achados com toda um série de atividades, de organizações e representações sociais historicamente especificadas. Desse modo, Scott expõe que a primeira parte da definição de gênero é composta por 4 elementos, quais sejam: os símbolos culturalmente disponíveis que evocam representações simbólicas; evidência das interpretações dos sentidos dos símboios; inclusão deuma concepção de política bem como uma referência às instituições e à organização social; a identidade subjetiva. Sendo que, nenhum dentre eles pode operar sem os outros. “No entanto eles não operam simultaneamente, como se um fosse um simples reflexo do outro. De fato, é uma questão para a pesquisa histórica saber quais são as relações entre esses quatro aspectos”( SCOTT; 1995; p.88). 
Expondo que essa definição de gênero que ela expõe nesse texto, é um esboço que pode ser utilizado para analisar raça, classe, etnia ou qualquer processo social. Scott expõe que o objetivo nessa primeira parte de sua definição sobre gênero foi, “clarificar e especificar como se deve pensar o efeito do gênero nas relações sociais e institucionais, porque essa reflexão nem sempre tem sido feita de maneira sistemática e precisa. A teorização do gênero, entretanto, é desenvolvida em minha segunda proposição”( SCOTT; 1995; p.88 ). Scott expõe que para a sua teorização gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder. A autora expõe que embora o gênero não seja o único campo por meio do qual o poder é articulado, ele parece ter sido uma forma persistente e recorrente de possibilitar a significação do poder no ocidente, nas tradições judaico-cristãs e Islâmicas. Todavia, Scott expõe que os conceitos de poder, embora baseados no gênero, nem sempre se referem literalmente ao gênero, em sí mesmo. 
A autora expõe que as funções de legitimação do gênero agem de várias maneiras. Citando autores que teorizam sobre isso. Scott expõe que o gênero. “fornece um meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre várias formas de interação humana” (SCOTT; 1995; p.89).Ademais, Scott expõe que o gênero e a sociedade possuem natureza recíproca e que há formas particulares e contextualmente específicas pelas quais a política constrói o gênero e o gênero constrói a política. Todavia, a autora expõe que a política é apenas uma das áreas na qual o gênero pode ser utilizado para a análise histórica. Scott expõe que escolheu para expor nesse texto sobre essa conceituação de gênero, exemplos ligados à política e ao poder, no sentido mais tradicional, isto é, naquilo que enfatizam o governo e o Estado-nação, pois esse tipo de estudo são raros na historiografia, e a história política, tradicional dominante, cria obstáculos para a inclusão de matérias ou questões sobre as mulheres e o gênero. Expondo esses desdobramentos historiográficos.
Scott expõe que a categoria gênero é importante também para se analisar outros fatores históricos. Além disso, ela, afirma que o gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder político tem sido concebido, legitimado e criticado. Scott expõe que para proteger o poder político, a referência ao gênero deve parecer certa e fixa, fora de toda a construção humana, utilizando-o como ordem natural e divina. “Desta maneira, a oposição binária e o processo social das relações de gênero tornam-se parte do próprio significado de poder; pôr em questão ou alterar qualquer de seus aspectos ameaça o sistema inteiro”( SCOTT; 1995; p.92) . 
Expondo, desse modo, que para mudar a ordem social de dominação das mulheres deve-se criticar a metodologia de analise das relações de gênero. Desse modo, deve-se haver um desapego há velhos conceitos e teorias impregnados por essas relações de poder sobre às mulheres, todavia a autora também expõe o porque que esses processo pode ter efeitos colaterais. Scott expõe a escrita da historia como paralela às transformações sociais, expondo que o surgimento de novos tipos de símbolos culturais pode “tornar possível a reinterpretação ou, mesmo, a reescrita da narrativa edipiana, mas ela pode também servir para reatualizar esse terrível drama em termos ainda mais eloquentes ”( SCOTT; 1995; p.93 ), afirmando que são os processos políticos que vão determinar o que prevalecerá, e que deve ser analisado esse processo individualmente através dos sujeitos que os compõe. Scott expõe que esse processo só pode ser escrito no tempo e no espaço, que nós só podemos escrever a história desse processo se reconhecemos que “homem” e “mulher” são, ao mesmo tempo, categorias vazias e transbordantes. “Vazias, porque não têm nenhum significado último, transcendente. Transbordante, porque mesmo quando parecem estar fixados, ainda contêm dentro delas definições alternativas, negadas ou suprimidas” (SCOTT; 1995; p.93). Scotto afirma que a história política tem jogado no terreno do gênero, mas que esse processo não é fixo e está em fluxo. 
Em suma, esse artigo de Scott trás uma excelente debate teórico epistemológico não só aos historiadores que se aventuram nos estudos sobre as mulheres, mas para os historiadores em geral e para os cientistas sociais. Expondo os cuidados que devem ser tomados na hora de se utilizar o conceito gênero, o papel da gramática na análise sobre as realidades histórias, problematizando velhos paradigmas epistemológicos. A presentando a complexidade de se analisar as relações de gênero e expondo a sua própria definição de gênero que pode ser utilizada para a analise de outras realidades históricas. Embora, o conceito gênero defendido por Scott nesse texto seja muito relevante ele não é o único conceito de gênero relevante para se analisar as relações entre homens e mulheres. Na literaturas a diversos tipos de conceitos sobre gênero cada um com seu potencial e suas limitações. Deve-se, desse modo, analisar bem a realidade que se quer investigar e abordar para assim escolher qual conceito de gênero que melhor aborda a realidade que se pretende investigar. 
 
Referência
HARAWAY, Donna. 2004. “‘Gênero’ para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra”. In: Cadernos Pagu (22). Campinas: Unicamp.
MATOS, Maria Izilda. História das mulheres e gênero: usos e perspectivas. Olhares Feministas. Brasília: Ministério da Educação: UNESCO, 2009. pp. 277 – 289.
MUNRO, André. Joan Wallach Scott: American historian. In: Encyclop/edia Britannica. 2015. Disponível em: <https://global.britannica.com/biography/Joan-Wallach-Scott>. Acesso em: 5 jan. 2017.
WIKIPÉDIA. Joan Scott. 2013. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Joan_Scott>. Acesso em: 5 jan. 2017.

Continue navegando