Buscar

Trabalho de história do Direito, Rússia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Universidade Vila Velha
Curso de Bacharelado em Direito
Carlos Renato Souza Lima
Matrícula: 201777210
O Império Russo na época da publicação de “Os irmãos Karamazov”
Vila Velha – ES
2017
RESUMO
Descrição da situação geopolítica e sociocultural do Império Russo durante a publicação do livro “Os irmãos Karamazov” escrito e publicado pelo filósofo e novelista Fiódor Dostoiévski entre 1879 e 1880. O trabalho descreverá o período ocorrido na época, abordando tanto a visão do escritor quanto a política russa no tempo da publicação do livro, momento no qual o império russo era governado pelo Tzar Alexandre II.
Palavras chaves: Império Russo, Fiódor Dostoiévski, História
Introdução
O livro “Os irmãos Karamazov”, publicado entre janeiro de 1879 e dezembro de 1880 pelo escritor russo Fiódor Dostoiévski, foi um romance filosófico terminado quatro meses antes da morte do autor. Dividido em doze livros e um epílogo, o livro trata da história do patriarca Fiódor Pavlovitch Karamazov e seus filhos Ivan, Aliêksei e, principalmente, Dmitri Fiodorovich Karamazov. Os conflitos entre este último e seu pai devido ao amor de Gruchénka levam, no final, à morte de Fiódor e a prisão de Dmitri pelo crime, muito embora o verdadeiro autor do assassinato fosse o ateu Smerdiakov, servo da família.
O livro foi escrito num momento delicado da história do império russo. A publicação do livro em 1880 foi apenas um ano antes do assassinato do Tzar Alexandre II por revolucionários socialistas do grupo Narodnaya Volya (vontade do povo). Muito embora o monarca tenha sido alvo de diversos atentados durante seu governo, seu reinado de quase trinta anos é considerado liberal; com a abolição da servidão em 1861, uma reforma do sistema judicial¹, novo código penal e reforma do direito civil², estabelecimento do zemstvo³, modernização na região da Finlândia (hoje independente) e, apenas um dia antes da sua morte, havia assinado a criação de uma constituição. Ao mesmo tempo, e mesmo com significantes melhorias em termos de alimentação e salário4, os russos ainda sofriam de pobreza e fome.5
História
A Rússia antes de Dostoiévski
Formado em 1547 pelo Tzar Ivan IV, o então Czarado Russo pode ser resumido como uma união dos principados russos medievais unidos sob o jugo do Grão-Ducado de Moscou por meio de conquistas militares. Logo após a unificação, seguiram-se uma série de conquistas, iniciando-se pelos canatos de Kazan e Astracã, a expansão para a Sibéria e a tomada do leste ucraniano (então parte da Polônia-Lituânia e muito importante para a posterior elevação russa como potência global).
Porém, seguindo um conceito que se seguirá até 1945, a Rússia era extremamente atrasada para os padrões europeus da época. Apenas com o governo de Pedro I (conhecido como “O Grande”) que o país passa de uma nação similar às antigas sociedades mongóis para uma nação similar às potências ocidentais, se baseando principalmente na sociedade francesa. As reformas de Pedro I, que os fizeram ir de encontro à nobreza e ao clero russos, sofrer uma revolta causada pelo próprio filho e entrar em guerra com a então potência Suécia, fazem que a Rússia deixe de ser um Czarado (tsarstvo) e se torne um império aos moldes europeus (Rossiyskaya imperiya).
Após a morte de Pedro I, ocorre uma rápida sucessão de monarcas que termina com Catarina II tomando um trono após dar um golpe de estado no próprio marido. Seu governo é marcado por guerras de expansão, especialmente contra o império otomano e Pérsia (anexando a Criméia, assim trazendo o império até o Mar Negro), por fornecer ajuda aos americanos para sua guerra de independência em 1776 e pela continuação do processo de modernização da Rússia iniciado por Pedro I. Mas, provavelmente, o maior momento de seu governo foi a repartição da Polônia entre Rússia, Prússia e Áustria, trazendo as fronteiras do império até a Europa Central. 
Embora considerado competente, o governo de Catarina II aumentou os gastos do Estado a tal ponto que estes eram maiores que a renda do império, que também havia aumentado consideravelmente. A crise econômica subsequente levou a inflação e dívidas com países como a Holanda. Não apenas isso, a Rússia de Catarina gastou com si mesmo, não com a melhoria da situação social do povo (pode ser argumentado que o governo dela piorou a situação das classes menores, resultando em revoltas como a de Pugachev, em 17736), como resultado, o estado russo era, segundo o professor Nicholas Riasanovsky, “um país pobre, atrasado, esmagadoramente agrícola e iliterado”7.
Os governos seguintes se envolveriam diretamente nas guerras Napoleônicas. A saída do sucessor de Catarina, Paulo I, da guerra da segunda coalizão leva à vitória de Napoleão e à deposição do Tzar por movimentos anti-franceses na corte Russa, levando seu filho Alexandre I ao trono, implicado no assassinato de seu pai. 
Embora tenha sofrido derrotas esmagadoras em Austerlitz e Friedland, Alexandre I é o imperador responsável por derrotar Napoleão quando este tentou invadir a Rússia. Suas táticas de terra arrasada e guerra assimétrica foram essenciais para a derrota do Grande Armée, com a contraofensiva russa chegando praticamente aos portões de Paris, resultando na Abdicação de Napoleão e no Congresso de Viena em 1814, presidido por Alexandre I.
O misticismo que Alexandre I adquiriu após as guerras contra Napoleão impediram que o império sofresse reformas liberalizantes no período de seu governo. Ao mesmo tempo, ele alienou os nobres e deu uma constituição ao reino da Polônia (que após as guerras napoleônicas fora totalmente anexada pela Rússia, mas com certo grau de autonomia) enquanto a Rússia continuava sem uma (e só a teria em 1905).8
Seu sucessor, Nicolau I, foi um tzar pragmático com pouco amor a reformas liberais, porém tentou reformar o estado Russo em algum grau, incluindo um parlamento representativo. Com pouco sucesso, essas reformas acabaram dando ainda mais poder ao Tzar e oprimindo inimigos políticos e religiosos. Políticas como a censura de ideias europeias e todo o sistema de servidão russos só serviram para manter a Rússia como um estado inchado, onde corrupção e propina eram a norma, com um sistema educacional quase inexistente e pobreza rompante. Adicionando ainda mais eventos a uma era tão opressora, Nicolau ajudou as potências europeias a debelar rebeliões ocorridas durante a chamada primavera dos povos.
Ainda assim, em 1832, houve a codificação das leis russas liderada por Speransky, reorganização do banco estatal e das finanças por Kankrin e um renascimento da literatura e das artes com nomes como Pushkin, Glinka e Turgenev surgindo mesmo com a censura. A morte de Nicolau I, durante a guerra da Criméia, marca o início de um período turbulento no país.9
Essa codificação serve para mostrar a divisão de classes na Rússia. O sistema social russo, chamado de Sosloviye, divide a população em Dvoryans (nobreza), clero, moradores da cidade e moradores do campo; com subdivisões bem definidas em cada um dos grupos e uma divisão especial para a classe militar. Quem não se encaixava em nenhuma classe se chamava Raznochintsy, um termo que posteriormente adquiriria o significado de pessoa não-nobre que atingiu sucesso na vida, algo bem diferente do que a situação de quem possuía essa definição na época em que esse código de lei estava em vigor.
A Rússia de Dostoievski
Nascido em 1821, Dostoievski viveu por todo o governo de Nicolau I, sendo mais uma vítima do opressivo governo russo. Seu primeiro romance, “Gente Pobre”, foi lançado em 1845, podendo ser descrito como um “romance social”. Seus quatro anos seguintes se entrelaçam com o socialismo russo, devido a suas relações com Vissarion Belinsky e seus associados, e sua entrada no círculo Petrashevski, uma sociedade de intelectuais e jovens oficiais inspirada nos pensamentos de Charles Fourier. Essa sociedade seria o que levaria o jovem Dostoievski a quatro detrabalho forçado na Sibéria.10
O ano de 1849 fora conturbado na Rússia. Nicolau I havia ajudado a debelar revoltas na Áustria apenas três anos antes, parte das várias tentativas de revoluções trazida pela primavera dos povos, e viu essas revoluções como ameaça. Não apenas isso, mas grupos revolucionários e socialistas se espalhavam pelo país, o que deixava o imperador ainda mais paranoico. Um destes revolucionários era Nikolai Speshnev, membro do mesmo grupo de Dostoievski e entusiasta da ideia de uma revolução violenta.11
Em 1949 os membros do círculo foram presos, sendo investigados por uma comissão liderada pelo próprio Tzar, e foram condenados à execução. Embora as penas dos membros do círculo houvessem sido diminuídas para trabalhos forçados, a ordem de execução foi (de propósito) mantida até o último minuto, como parte da punição de Dostoievski e seus companheiros, que serviram a pena em Omsk, na Sibéria.12 e 13
Trabalho forçado era uma pena comum tanto na Rússia imperial quanto na posterior União Soviética. Então conhecida como Katorga, a pena era realizada em locais isolados na Sibéria e no extremo oriente russo, geralmente tratando de trabalhos de mineração ou metalurgia.14 Os anos que Dostoievski passou na Sibéria (contando, claro, o serviço militar forçado que se seguiu à prisão na Sibéria) quase se sobrepõem completamente com os da Guerra da Criméia. Esta foi essencial para mostrar ao mundo (e ao próprio governo russo) o quão atrasado era o regime. A morte de Nicolau I nesse período abriu caminho para uma série de reformas na sociedade russa.
Alexandre II foi o responsável pelas inúmeras reformas que visavam modernizar o sistema russo. Antes de esperar uma revolução violenta acabar com o sistema da servidão, ele mesmo a aboliu em 1861. Essa emancipação trouxe uma massa de plebeus para as cidades, aumentou a classe média, e gerou mão de obra barata para as indústrias, fazendo com que a Rússia entrasse na era industrial que já existia em outras partes da Europa. Porém, como a abolição da servidão ainda trazia termos desfavoráveis aos antigos camponeses, o espírito revolucionário não se aquietou e a violência ideológica continuou piorando.15
Três anos depois ocorreria a Revolta de janeiro, nos territórios da Polônia-Lituânia, onde os revoltosos, sempre em menor número, foram esmagados. Talvez com medo de uma revolta também acontecer na Finlândia, o Tzar convoca uma “Dieta” dando maior autonomia ao povo daquela região. Por fim, seu governo foi o responsável por cometer um genocídio ético dos povos Circassianos no Cáucaso, com fontes estatais estimando um número de mortes que vai de 90 a 97% da população do país conquistado.16
Quando chegamos em 1879, ano em que “Os Irmãos Karamazov” começa a ser publicado, o país aparece numa situação muito diferente daquela vista até o governo de Nicolau I. Em certas províncias, como Iaroslav, o salário de um plebeu era superior até mesmo ao salário de um alemão.4 Ao mesmo tempo, a falha de Alexandre II em dar direitos políticos às classes menores russas fez com que seu reinado, que atingiu o ápice na época da publicação do livro de Dostoievski, fosse marcado por violência, podendo até mesmo ser chamado de berço do terrorismo moderno, um exemplo seria a própria morte de Alexandre após dois atentados a bomba seguidos em 1881.
Conclusão
Embora único, o império russo era um país opressivo, onde a pobreza, o analfabetismo e a corrupção eram visíveis. Não é à toa que o país seria alvo das grandes revoltas que ocorreriam no primeiro quarto do século XX, era o alvo perfeito para elas.
A sociedade imperial vive e respira no trabalho de Dostoievski. É possível notar que ele coloca a si mesmo (ou suas experiências) em suas obras. Em “Os Irmãos Karamazov”, você pode ver algo do autor no personagem Pavel Smerdiakov, “Recordações da casa dos mortos” retrata o seu tempo preso na Sibéria, sua quase execução é retratada em “O Idiota” e os dilemas morais da sociedade da época podem ser vistos em absolutamente todos os livros do autor (com exceção de “Notas de Inverno sobre impressões de verão”, que trata da Europa Ocidental). Estes livros, que influenciaram até Nietzsche17, resumem bem a sociedade tzarista, seus dilemas morais, seus problemas sociais e a vida do cidadão comum. Fiodor Dostoievski é absolutamente o autor mais importante para se entender a história da sociedade russa, e os ensinamentos de seus livros devem ser cuidadosamente analisados pelas sociedades atuais e futuras.
Bibliografia
An Introduction to Russian History (1976), Robert Auty e Dimitri Obolensky, p.238
Enciclopédia Britannica (1911), p. 560
https://en.wikipedia.org/wiki/Zemstvo
Micro-Perspectives on 19th century Russian Living Standards (2007), Tracy Dennison e Steven Nafziger 
https://en.wikipedia.org/wiki/Russian_famine_of_1891-92
http://www.encyclopedia.com/history/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/pugachev-revolt-1773-1775
Nicholas Riasanovsky, A History of Russia (4th ed. 1984), p 284
https://www.britannica.com/biography/Alexander-I-emperor-of-Russia
David Moon, The abolition of serfdom in Russia 1762–1907 (Longman, 2001)
https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_Russia_(1796-1855)#Nicholas_I.2C_1825-55
Philosophy and Phenomenological Research (1946), N.Troyan, p.365
https://en.wikipedia.org/wiki/Nikolay_Speshnev
https://www.britannica.com/biography/Fyodor-Dostoyevsky
http://www.todayifoundout.com/index.php/2015/02/execution-fyodor-dostoevsky/
Katorga: Penal Labor and Tsarist Siberia (2005), Andrew Gentes
https://en.wikipedia.org/wiki/Circassian_genocide
A Note on Nietzsche and Dostoevsky (1969), Janko Lavrin

Outros materiais