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Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 12 ARTIGO ORIGINAL RESUMO Objetivo: Analisar os tipos de alimentos consumidos em um grupo de adolescentes da zona urbana, a relação com o estres- se e a orientação familiar. Métodos: Estudo de campo, transversal descritivo. A amostra foi composta por 139 adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos de um município do Sul de Minas Gerais. Para avaliar o consumo de alimentos utilizou-se um questionário autoavaliativo e para avaliar a sintomatologia de estresse utilizou-se a Escala de Estresse para Adolescentes - ESA. Resultados: 81,3% dos adolescentes relataram consumir arroz, feijão e carne. Destes, 88,6% não foram classifi ca- dos como estressados. Observou-se que 66,4% dos pais orientavam os adolescentes a consumir arroz, feijão e carne com frequência. Conclusão: A maioria dos adolescentes consumiu arroz, feijão e carne e apresentou ausência de sintomas de estresse e não houve relação da ausência de sintomas de estresse com o tipo de alimentos consumidos. PALAVRAS-CHAVE Alimentação, adolescente, estresse psicológico, orientação familiar, escala de estresse, questionário autoavaliativo. ABSTRACT Objective: To analyze the types of foods eaten by a group of urban teenagers, relationships with stress and family counseling. Methods: Field study, cross-sectional. The sample consisted of 139 adolescents aged 10 to 19 years in a municipality in southern Minas Gerais State. Food consumption was assessed through a self-rating questionnaire; stress symptoms were measured through the Stress Scale for Adolescents (ESA). Results: 81.3% of adolescents reported eating rice, beans and meat, with 88.6% of them rated as not stressed, while 66.4% of parents urged teenagers to consume rice, beans and meat often. Conclusion: Most adolescents eat rice, beans and meat and show no symptoms of stress, with no link between the absence of stress symptoms and the types of food eaten. KEY WORDS Food, adolescent, psychological stress, family counseling, stress scale, self-rating questionnaire. Alimentação na adolescência e a relação com o estresse Food in adolescence and relationship with stress Cirlene das Graças Ferreira1 Patrícia Costa dos Santos da Silva2 Claudia Umbelina Baptista Andrade3 Evelise Aline Soares4 Gema Mesquita5 1 Acadêmica do curso de Psicologia. Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil. 2 Mestre (Docente na disciplina Semiologia e Semiotécnica). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil. 3 Mestre em Saúde (Docente na disciplina Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil. 4 Doutora em Anatomia Humana (Docente do Curso de Psicologia). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil. 5 Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente (Docente do Curso de Psicologia). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil). Patrícia Costa dos Santos da Silva (patriciacostaunifenas@hotmail.com) - Rua Euclides da Cunha, 202, Jardim São Carlos - Alfenas, MG, Brasil. CEP 37130-000 Recebido em 17/08/2011 - Aprovado em 11/01/2012 > > > > Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 Adolescência & Saúde 13ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE Ferreira et al. INTRODUÇÃO A nutrição desempenha papel importante na fase da adolescência. O adolescente poderá sofrer infl uência no crescimento e no desenvol- vimento se não tiver uma dieta adequada1. Feijó et al.2 chamam a atenção para a importância da consolidação de hábitos alimentares e de estilo de vida saudáveis na adolescência. É nessa fase que os hábitos alimentares são estabelecidos e muitas vezes mantidos na vida adulta. Os hábi- tos alimentares adquiridos durante a infância e a adolescência têm importantes repercussões no estado de saúde dos indivíduos e no seu bem- estar físico e emocional1,2. Estudos anteriores1,2,3 advogam o papel da boa alimentação para o equilíbrio físico e emocional. Tendo em conta que a adolescência apesar de ser um período complexo do desen- volvimento humano e de considerável risco de aquisição de comportamentos não saudáveis, também constitui um período muito favorável à manifestação de sintomas de estresse. Por- tanto, nessa fase as intervenções educativas para promoção da saúde desempenham um importante papel. O Ministério da Saúde4 informou, no Guia Alimentar para a População Brasileira, que comer feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, cinco vezes por semana, é de fundamental impor- tância para a saúde e para o bom desenvolvimen- to, pois a composição destes nutrientes é uma combinação completa de proteínas e elementos essenciais para a saúde. Neste sentido pode-se pensar no papel da boa alimentação para o de- senvolvimento e crescimento dos adolescentes, ainda mais que a adolescência é uma fase da vida que se caracteriza por mudanças comportamen- tais e físicas, as quais trazem desequilíbrios, com aumento de sintomas de estresse5,6. O estresse no adolescente, pode-se apresentar como “um dos” principais sintomas observados pelos espe- cialistas, com a presença constante do quadro de insônia, de desânimo, dores de cabeça, falta de concentração, entre outros7. Devido às alterações na homeostasia ocor- ridas na adolescência, a alimentação correta é fundamental para o amadurecimento cognitivo e o crescimento físico, atenuando os aspectos de ansiedade, depressão, atenção e défi cit de aprendizagem8. A família é a primeira instituição e tem ação direta sobre os hábitos alimentares, responsabili- zando-se pela compra e preparo das refeições, e ainda, é marcante a presença e participação dos pais nas escolhas alimentares dos fi lhos9,10. Neste contexto, o objetivo do estudo foi analisar os tipos de alimentação consumidos por um grupo de adolescentes, a relação com o es- tresse e a orientação familiar. MÉTODOS Trata-se de um estudo de campo com abor- dagem quantitativa, a partir de uma amostra de conveniência de adolescentes matriculados em escolas públicas de ensino médio e fundamen- tal de um município localizado no Sul de Minas Gerais, Brasil. Foram avaliados 139 participantes, na faixa etária de 10 a 19 anos, atendidos no período de janeiro a abril de 2010. Os critérios de inclusão foram: ter entre 10 e 19 anos, ser residente no município de estudo, estar matriculado em uma escola pública de ensino fundamental ou médio, ter disponibilidade para participar do estudo e aceitar participar voluntariamente do estudo. Os participantes foram convidados a res- ponder questionário objetivo e autoavaliativo re- ferente à alimentação consumida e aos sintomas de estresse. Os questionários foram preenchidos pelos pesquisadores em forma de entrevista, sem que houvesse interferência nas respostas. Para aplicação dos questionários, evitou-se o agrupamento dos participantes para não haver comentários nas respostas. Essa entrevista ocor- reu nas dependências físicas das escolas, após agendamento, nos horários próximos às aulas e sem que houvesse interferência nas atividades. > > Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 14 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE Ferreira et al. Para o hábito alimentar foi perguntado aos adolescentes sobre o tipo de refeições rea- lizadas: salgadinhos, frutas, batata frita/refri- gerante, fast-foods, arroz, feijão e carne, pizza, verduras/legumes. Para avaliar o estresse, foi utilizada a Escala de Stress para Adolescentes – ESA11, instrumen- to validado usado para identifi car a frequência em que os sintomas de estresse aparecem. Esta escala é composta por 44 itens relacionados às referidas reações do estresse. Foramincluídos, para participação nesta pesquisa, adolescentes, voluntários, cujos pais ou responsáveis confi rma- ram aceitação através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) con- forme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Pesquisa. Os sujeitos foram informados sobre a garantia da privacidade, anonimato e sigilo das informações e que os resultados obtidos se- riam divulgados em eventos científi cos. A coleta de dados foi realizada após a aprovação do Co- mitê de Ética em Pesquisa da Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS, como consta no Parecer nº 237/2.009. Os dados obtidos foram analisados, com- putados e armazenados em uma planilha do Ex- cel; por se tratar de uma pesquisa quantitativa, utilizamos a estatística descritiva e trabalhamos com uma margem de erro de 5%. A análise descritiva foi realizada através de medidas de posição e dispersão para variáveis contínuas e tabelas de frequência para variáveis categóricas. Para verifi car associação ou comparar pro- porções foi utilizado o Teste X (Qui-quadrado) ou teste exato de Fisher, para comparar as pro- porções usamos o teste X2(qui-quadrado) ou teste exato de Fisher. Utilizou-se o Software R12. RESULTADOS Observamos que 51 indivíduos (63,3%) eram do gênero masculino e 88 indivíduos (63,3%), do gênero feminino. A Tabela 1 mostra a relação entre os tipos de alimentos consumidos entre os adolescentes dos gêneros masculino e feminino. Pode-se observar que no gênero mas- culino 1,9% declara consumir salgadinhos, 3,9% frutas, 1,9% batata frita/refrigerante, 88,4% ar- roz, feijão e carne e 3,9% verduras e legumes. Em relação ao gênero feminino, 3,4% men- cionaram ingerir salgadinhos, 5,7% frutas, 4,5% batata frita/refrigerante, 77,3% arroz, feijão e carne e 9,1% verduras e legumes. > Tabela 1. RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE ALIMENTOS CONSUMIDOS ENTRE OS ADOLESCENTES DOS GÊNEROS MASCULINO E FEMININO DA ZONA URBANA, MINAS GERAIS, 2011. ALIMENTOS CONSUMIDOS GÊNERO TOTAL masculino feminino n % n % n % Salgadinhos 1 1,9 3 3,4 4 2,8 Frutas 2 3,9 5 5,7 7 5,1 Batata frita/refrigerante 1 1,9 4 4,5 5 3,6 Arroz, feijão e carne 45 88,4 68 77,3 113 81,3 Verduras/legumes 2 3,9 8 9,1 10 7,2 TOTAL (n=139) 51 100 88 100 139 100 Gênero masculino e feminino (0,0%) declaram não consumir fast-foods e pizza (p= 0,00006). Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 Adolescência & Saúde 15ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE Ferreira et al. Na Tabela 2, observamos a relação entre os tipos de alimentos consumidos pelos adolescen- tes e a presença de sintomas de estresse. Avalian- do a presença de sintomas de estresse, verifi ca- mos que 16 adolescentes apresentaram sintomas de estresse e 123 não apresentaram sintomas de estresse. Dos adolescentes que apresentaram sin- tomas de estresse, 6,25% consumiram salgadi- nhos, 6,25% frutas, 81,25% arroz, feijão e carne e 6,25% verduras e legumes. Quando analisados estatisticamente, não houve diferença signifi cati- va em relação aos tipos de alimentos consumidos, porém foi signifi cativamente maior o número de adolescentes que consomem arroz, feijão e carne e que não apresentaram sintomas de estresse. Observamos que os pais orientavam cons- tantemente os adolescentes a consumirem ar- roz, feijão e carne, e a minoria orientava uma alimentação baseada em batata frita/refrigeran- te e salgadinhos. Tabela 2. RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE ALIMENTOS CONSUMIDOS E O ESTRESSE NOS ADOLESCENTES DA ZONA URBANA, MINAS GERAIS, 2011. ALIMENTOS CONSUMIDOS ESTRESSE TOTAL sim não n % n % n % Salgadinhos 1 6,25 3 2,44 4 2,8 Frutas 1 6,25 6 4,87 7 5,1 Batata frita/refrigerante 0 0 5 4,08 5 3,6 Arroz, feijão e carne 13 81,25 100 81,3 113 81,3 Verduras/legumes 1 6,25 9 7,31 10 7,2 TOTAL (n=139) 16 100 123 100 139 100 DISCUSSÃO Em nosso estudo, entre os adolescentes, observamos que o gênero feminino apresen- tou diferenças signifi cativas quando analisada a questão do consumo de salgadinhos, batata fritas/refrigerantes e verduras/legumes em rela- ção ao gênero masculino. Entretanto, em rela- ção ao consumo de arroz, feijão/carne e frutas, não foram observadas diferenças signifi cativas entre estes. Ruela e Souza Junior13, analisando adolescentes com a faixa etária semelhante à do nosso estudo, observaram que no sexo feminino há maior frequência de consumo de verduras 34,3%, legumes 37,3%, frutas ou sucos natu- rais 57,2%, óleos e gorduras 65,9%, doces e guloseimas 37,2%, bebidas (refrigerante/café/ chá) 41,5% todos os dias. No sexo masculi- no observaram maior frequência do consumo diário dos grupos: pães, cereais e tubérculos 74,6%, verduras 24%, legumes 24%, frutas ou sucos naturais 56%, óleos e gorduras 68%, do- ces, salgadinhos e guloseimas 46%, bebidas (re- frigerante/café/chá) 56% todos os dias. Quando relacionado o tipo de alimenta- ção com os sintomas de estresse, observou-se que foi signifi cativamente maior a ausência de sintomas de estresse os quais independem do tipo de alimentos consumidos. Não encontra- mos na literatura variáveis coincidentes com as do estudo aqui presente, que nos permitissem comparações; entretanto, o estresse foi avaliado > Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 16 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE Ferreira et al. > entre os adolescentes no estudo de Mesquita e Reimão14 em 2007. Nesse, 46,88% da amostra não apresentam sintomas de estresse e 53,13% apresentam sintomas de estresse. Outra característica de nossos dados foi que a maioria dos adolescentes investigados declarou alimentar-se de arroz, feijão e carne e uma mino- ria de frutas e hortaliças, e também, o consumo de batatas fritas, refrigerantes e fast-foods estive- ram presentes na minoria dos participantes. Em se tratando do consumo diário de ar- roz, feijão e carnes, nossos dados mostram-se concordantes aos de Rego Filho et al.15 em que o almoço era adequado em 86% e o jantar em 67% e a substituição dessas refeições por lanche ocorreu em 26%. Entretanto, discordamos dos autores quanto à ingestão calórica diária, pois estava, na maioria dos adolescentes, abaixo do recomendado, com maior ingestão de glicídeos e menor ingestão de lipídeos. Como também discordamos de estudos anteriores13,16,17 em que a alimentação dos adolescentes mostrou-se ina- dequada, caracterizada pelo consumo excessivo de açúcares simples e gorduras, mas concorda- mos quanto à ingestão insufi ciente de frutas e hortaliças. Entretanto, nenhum desses autores relaciona a alimentação com estresse. No que concerne à qualidade da alimen- tação, no presente estudo, existe uma grande proporção de alunos que não consomem vege- tais e frutas, alimentos que consideramos impor- tantes para uma alimentação completa e equi- librada. Observamos no estudo de Carvalho et al., 20073, que 6,5% dos alunos nunca comem vegetais. Por outro lado, o consumo de refrige- rantes, todos os dias, esteve em 70% dos alu- nos, sendo esse comportamento predominante. Estes dados mostram-se discordantes do nos- so estudo em que a minoria dos adolescentes declararam consumir refrigerantes. Num outro estudo de Carvalho et al., 200618, realizado em duas escolas da mesma região, verifi caram que os alunos tomavam todos os dias, no almoço (85% e 100%) e no jantar (100%), proporções semelhantes às do presente estudo. Por outro lado, a proporção de alunos do estudo de Carvalho et al., 200618, que declara- ram ingerir todos os dias vegetais (20%) e frutas (25%) ainda é superior à do presente estudo. Mezono (2002)19 aponta outro fator im- portante a observar: a diminuição da utilização das folhas na alimentação dos brasileiros.Para o brasileiro, as saladas e hortaliças não têm gosto, não têm sabor, “não matam a fome”, e servem somente para enfeitar o prato. Nós acreditamos que a maioria dos ado- lescentes, aqui investigados, terem declarado que consomem diariamente arroz, feijão e car- ne possa ter ocorrido porque o município em que ocorreu o estudo é uma cidade de peque- no porte que oferece poucas opções de tra- balho para as mulheres; neste sentido, muitas mães ainda se ocupam do preparo das refei- ções para os fi lhos. Nossos dados demonstraram, ainda, que a orientação dada aos adolescentes pelos familia- res para ingerir salgadinhos, frutas, batata frita, refrigerante, arroz, feijão e carne esteve rela- cionada com maior frequência ao item cons- tantemente. Segundo Bleil (1998)20, a família infl uencia e determina os valores alimentares. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Nosso estudo limita-se pelo número redu- zido de participantes e por ter sido realizado le- vantamento de campo em apenas uma cidade do interior de Minas Gerais, o que não nos per- mite inferir generalizações. Por outro lado, este estudo tem a vantagem de levantar hipóteses para estudos posteriores. CONCLUSÃO Em nosso estudo observamos que não hou- ve relação signifi cativa entre o tipo de alimenta- ção diária e a presença de sintomas de estresse. > > Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 16 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE Ferreira et al. Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012 Adolescência & Saúde 17ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE Ferreira et al. > entre os adolescentes no estudo de Mesquita e Reimão14 em 2007. Nesse, 46,88% da amostra não apresentam sintomas de estresse e 53,13% apresentam sintomas de estresse. Outra característica de nossos dados foi que a maioria dos adolescentes investigados declarou alimentar-se de arroz, feijão e carne e uma mino- ria de frutas e hortaliças, e também, o consumo de batatas fritas, refrigerantes e fast-foods estive- ram presentes na minoria dos participantes. Em se tratando do consumo diário de ar- roz, feijão e carnes, nossos dados mostram-se concordantes aos de Rego Filho et al.15 em que o almoço era adequado em 86% e o jantar em 67% e a substituição dessas refeições por lanche ocorreu em 26%. Entretanto, discordamos dos autores quanto à ingestão calórica diária, pois estava, na maioria dos adolescentes, abaixo do recomendado, com maior ingestão de glicídeos e menor ingestão de lipídeos. Como também discordamos de estudos anteriores13,16,17 em que a alimentação dos adolescentes mostrou-se ina- dequada, caracterizada pelo consumo excessivo de açúcares simples e gorduras, mas concorda- mos quanto à ingestão insufi ciente de frutas e hortaliças. Entretanto, nenhum desses autores relaciona a alimentação com estresse. No que concerne à qualidade da alimen- tação, no presente estudo, existe uma grande proporção de alunos que não consomem vege- tais e frutas, alimentos que consideramos impor- tantes para uma alimentação completa e equi- librada. Observamos no estudo de Carvalho et al., 20073, que 6,5% dos alunos nunca comem vegetais. Por outro lado, o consumo de refrige- rantes, todos os dias, esteve em 70% dos alu- nos, sendo esse comportamento predominante. Estes dados mostram-se discordantes do nos- so estudo em que a minoria dos adolescentes declararam consumir refrigerantes. Num outro estudo de Carvalho et al., 200618, realizado em duas escolas da mesma região, verifi caram que os alunos tomavam todos os dias, no almoço (85% e 100%) e no jantar (100%), proporções semelhantes às do presente estudo. Por outro lado, a proporção de alunos do estudo de Carvalho et al., 200618, que declara- ram ingerir todos os dias vegetais (20%) e frutas (25%) ainda é superior à do presente estudo. Mezono (2002)19 aponta outro fator im- portante a observar: a diminuição da utilização das folhas na alimentação dos brasileiros. Para o brasileiro, as saladas e hortaliças não têm gosto, não têm sabor, “não matam a fome”, e servem somente para enfeitar o prato. Nós acreditamos que a maioria dos ado- lescentes, aqui investigados, terem declarado que consomem diariamente arroz, feijão e car- ne possa ter ocorrido porque o município em que ocorreu o estudo é uma cidade de peque- no porte que oferece poucas opções de tra- balho para as mulheres; neste sentido, muitas mães ainda se ocupam do preparo das refei- ções para os fi lhos. Nossos dados demonstraram, ainda, que a orientação dada aos adolescentes pelos familia- res para ingerir salgadinhos, frutas, batata frita, refrigerante, arroz, feijão e carne esteve rela- cionada com maior frequência ao item cons- tantemente. Segundo Bleil (1998)20, a família infl uencia e determina os valores alimentares. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Nosso estudo limita-se pelo número redu- zido de participantes e por ter sido realizado le- vantamento de campo em apenas uma cidade do interior de Minas Gerais, o que não nos per- mite inferir generalizações. Por outro lado, este estudo tem a vantagem de levantar hipóteses para estudos posteriores. CONCLUSÃO Em nosso estudo observamos que não hou- ve relação signifi cativa entre o tipo de alimenta- ção diária e a presença de sintomas de estresse. REFERÊNCIAS 1. Albano RD, Souza SB. Ingestão de energia e nutrientes por adolescentes de uma escola pública. J Pediatr (Rio J). 2001;77(6):512-1. 2. 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