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Brexit: Causas e Consequências

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Brexit: Causas e Consequências
Introdução
As visões socialistas e liberal-clássica têm travado batalhas entre si desde os anos 1950. No início, o projeto das Comunidades Europeias era mais fiel à visão liberal-clássica. As Comunidades Europeias eram formadas pela Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que criava um mercado comum para carvão e aço; pela Comunidade Econômica Europeia, que promovia a integração econômica; e pela Comunidade Europeia da Energia Atômica, que criava um mercado especial para energia nuclear, fazendo sua distribuição pela Comunidade.
A Comunidade Europeia era composta por estados soberanos e assegurava as quatro liberdades básicas. Do ponto de vista do liberalismo clássico, algumas das políticas mais marcantes desde o início do projeto integrador eram os subsídios e as intervenções da política agrícola. Da mesma forma, desde seu nascimento, o único poder legislativo pertencia à Comissão Europeia. Assim, uma vez que a Comissão fizesse uma proposta legislativa, o Conselho da União Europeia poderia sozinho, ou em conjunto com o Parlamento Europeu, aprovar a proposta.
Esse arranjo já continha em si as sementes da centralização. Consequentemente, o arranjo institucional, desde seu início, havia sido projetado para acomodar a centralização e o controle sobre as opiniões minoritárias. No entanto, com o decorrer do tempo e a entrada de mais membros no bloco, a unanimidade que se fazia necessária para a tomada de decisões foi sendo relativizada em detrimento do sistema de consenso nas mais diversas áreas de atuação
Com o passar dos anos, houve uma lenta, porém, contínua tendência rumo ao ideal socialdemocrata: os países-membros contrários ao aprofundamento da integração foram sendo obrigados a direcionar cada vez mais dinheiro de impostos de seus cidadãos para custear os orçamentos cada vez maiores da União Europeia; houve uma crescente perda de autonomia nacional, com sua transferência praticamente integral para Bruxelas; e, após a crise financeira de 2008, adotou-se uma nova política regional que efetivamente redistribui riquezas por toda a Europa. Tudo isso culminou na situação atual.
No cenário pós-crise 2008, inúmeras regulamentações econômicas e "harmonizações burocráticas e tributárias" ajudaram a empurrar ainda mais o arranjo para essa direção intervencionista. As políticas intervencionistas e centralizadoras da União Europeia criaram uma sombria situação econômica e financeira para seus alguns países-membros: desemprego em massa, finanças públicas descontroladas, e perspectivas de crescimento desanimadoras são alguns dos problemas que afetaram países como Grécia, Espanha e Portugal.
O Reino Unido, por sua vez, possui um histórico de distanciamento e aproximação com o projeto integrador europeu. Nos primeiros anos da Comunidade Econômica Europeia a descrença com a visão de uma integração que ultrapassasse os objetivos meramente econômicos fez com que a Inglaterra optasse por permanecer fora da integração. Nesse mesmo contexto, como contraposição à CEE, Reino Unido, Islândia, Noruega, Suíça e Lichestein criaram o EFTA (European Free Trade Agreement).
Na década de 70, após uma mudança de percepção dos líderes políticos do Reino Unido e em meio a dificuldades para a integração em um período que se denominou Euroesclerose (crise econômica e estagflação), tem-se o alargamento do bloco da CEE com a entrada de Reino Unido, Irlanda e Dinamarca em 1973. Essa entrada foi possível, principalmente, pela saída de Charles De Gaulle do comando Francês, uma vez que esse político já havia vetado a entrada do Reino Unido no bloco na década anterior.
Em 1992, por meio do tratado de Maastritcht, foi criada a União Europeia, o que representou o mais aprofundado processo de integração regional no mundo. O caráter supranacional de alguns pilares da UE, bem como a manutenção de uma forte política agrícola (fortemente apoiada pela França), diminuíram o grau de autonomia dos países membros. Nesse contexto, o descontentamento Inglês volta à superfície e o país passa a buscar, progressivamente, maior margem de atuação. Exemplo disso é a não adoção do acordo Schengen, que permite a livre mobilidade de pessoas dentro do bloco e do euro como moeda universal.
Somado a todos esses fatores que contribuíram para o desejo separatista do Reino Unido está a recente crise imigratória desencadeada pelos conflitos no Oriente Médio e pelas situações de guerras internas no norte da África.
Causas
Com a recente enxurrada de refugiados e imigrantes entrando na Europa, a pressão dos cidadãos britânicos sobre para a saída aumentou. Os burocratas de UE propuseram espalhar os imigrantes por vários países da Europa de acordo com um plano de reassentamento pré-definido. Naturalmente, os britânicos não gostaram da ideia, pois, além das questões que envolvem a segurança nacional, os novos imigrantes geram uma pressão adicional sobre o estado assistencialista britânico. Mesmo que absolutamente nenhum imigrante fosse realocado para o Reino Unido, os britânicos ainda assim teriam de financiar ao menos parcialmente o reassentamento dos imigrantes no resto da Europa por meio dos impostos que pagam para sustentar a União Europeia.
No entanto, essa questão da imigração é mais antiga. Foi só agora que o caldo entornou de vez, mas os conflitos gerados são antigos. Não apenas o influxo de imigrantes afetou o mercado de trabalho para os trabalhadores britânicos menos qualificados (insuflando os argumentos nacionalistas e protecionistas), como também afetou a cultura britânica, até mesmo o idioma. Já em 2009, o inglês não era o primeiro idioma de mais de meio milhão de estudantes nas escolas primárias da Grã-Bretanha. Isso mexeu com os brios de uma parte da população.
Por toda a Europa, a onda de imigração muçulmana em massa é frequentemente apresentada pelos políticos e intelectuais progressistas como sendo um grande salto para a frente, tornando a Europa uma sociedade mais multicultural (conceito esse que sempre foi promovido por essas pessoas como sendo o ideal).
Entretanto, essa insistente ideia do "multiculturalismo" (uma versão do "marxismo cultural") pouco ou quase nada tinha a ver com diversidade ou interações culturais positivas, como se propagandeava. Em sua essência, políticas de integração forçada, ao criarem inevitáveis conflitos, abrem espaço para os governos intervirem mais amplamente na sociedade sob o pretexto de estar agindo como o protetor daquelas "minorias discriminadas", as quais vão se tornando cada vez mais dependentes do estado.
Políticos adoram esse arranjo, pois ele lhes confere mais poderes discricionários e mais argumentos para se criar novos programas de redistribuição de renda. A divisão social, as tensões e as discordâncias inevitavelmente geradas por esse arranjo criam um terreno fértil para mais restrições sobre as liberdades pessoais e a autonomia do indivíduo.
Consequências 
Para o Reino Unido
Reino “desunido”
O governo escocês anunciou que a saída britânica da União Europeia levará a um novo referendo: desta vez, para decidir sua permanência no Reino Unido. A Escócia é favorável a imigração e economia mais abertas, e votou fortemente contra o Brexit. A restauração fronteiriça promete causar tensões, já que Londres se recusa a aceitar um novo referendo escocês dificultando as relações entre os governos.
Difícil transição econômica
O valor da libra esterlina caiu significativamente desde a aprovação da saída britânica da União Europeia em 2016, estima que a moeda já sofreu uma desvalorização de 15% desde meados de dezembro. A forte desvalorização da libra esterlina acabará afetando o poder de compra das famílias britânicas. Já são previstos ainda uma desaceleração no ritmo do crescimento do país em 2017 e 2018 e um aumento na inflação, muito devido as incertezas que permeiam o tema fazendo empresas britânicas a adiar algumas decisões de investimento representando um empecilho ao desempenho da economia. Isso poderia levar ainda à saída de gigantes financeiras como JPMorgan,
HSBC e outros bancos e seguradoras, que pretendem transferir milhares de postos de trabalho para Paris e Frankfurt.
Crise comercial alimentícia
Algumas empresas, como as do setor de alimentos do Reino Unido e os consumidores poderão enfrentar custos adicionais decorrentes do Brexit. Os custos provavelmente subirão devido ao aumento dos controles nas fronteiras com a União Europeia. É claro que podem surgir vários cenários comerciais com a saída do país da União Europeia, mas independentemente do que vier, é praticamente inevitável a alta de preços de produtos frescos, como frutas e legumes, para os quais o Reino Unido não tem alternativa. A UE é o maior fornecedor de produtos agrícolas importados do Reino Unido, sendo a Holanda, a França, a Espanha, a Alemanha e a Irlanda os que apresentam o maior nível de fluxos comerciais. Como as tarifas de importação dos produtos agrícolas são relativamente altas, os fluxos comerciais serão fortemente influenciados pela saída do país do bloco europeu. Para agravar, o enfraquecimento da libra esterlina poderia aumentar ainda mais a pressão sobre os preços dos alimentos. No entanto, os exportadores de alimentos do Reino Unido para a EU enfrentariam os mesmos custos crescentes quando exportassem para o mercado europeu.
 Evasão de empresas
Atualmente, metade dos investimentos japoneses na União Europeia são destinados para o Reino Unido por meio de empresas como a Nissan, Honda, Mitsubishi, Nomura e Daiwa. Importantes companhias podem deixar o Reino Unido se as leis da União Europeia deixarem de ser aplicadas após a saída do Reino Unido do bloco, muitas receiam ser atingidas por um duplo golpe de tarifas comerciais. Segundo o texto, as empresas temem ser tarifadas pela importação da União Europeia e depois, novamente, por produtos produzidos no Reino Unido e exportados. Outro receio está na exportação a partir do Reino Unido para outros países, já que a União Europeia possui acordos comerciais vantajosos.
Endurecimento da política de imigração
A imigração foi tema central da campanha pró-Brexit, e deve cair significativamente. Espera-se agora que cada solicitação de visto de residência ou trabalho seja avaliada pelas qualificações do solicitante. Com a saída da UE, chega ao fim a livre circulação de pessoas, mas direitos de cidadãos europeus no país ainda estão em jogo. Temos por um exemplo a Espanha que possui 800 mil britânicos vivendo no país e 300 mil cidadãos vivendo no Reino Unido que podem ter suas vidas afetadas conforme os termos das negociações.
Consequências para a União Europeia:
Existem grandes consequências para os países pertencentes a UE, como dificuldades nas importações de produtos, queda nas exportações (principalmente para França, Alemanha e Espanha os quais tem o Reino Unido como principal parceiro comercial) levando no curto prazo em uma queda no crescimento, além de um aumento nas contribuições dos países para o bloco. Há cinco opções que estão sendo levantadas de reforma para a UE após a saída do Reino Unido, estas são:
Continuar como está
O primeiro cenário é seguir com o modelo atual. Uma alternativa considerada difícil de ser aplicada, já que implicaria em conflitos internos recorrentes pelas divergências entre os países centrais e os do Leste em temas como refugiados e fronteiras.
Mercado único
O segundo cenário é reduzir a união para um mercado único, diante da impossibilidade de chegar a acordos em várias áreas políticas. Esta poderia ser uma opção mais fácil, mas a capacidade de atuar em conjunto seria mais limitada, o que pode aumentar a disparidade entre as expectativas da população e os resultados obtidos pela União Europeia.
Avanços nos pontos em comum
O terceiro cenário permite que os países avancem nos pontos em comum em certas áreas. Isso significaria um modelo da União Europeia com diversas frentes, funcionando em velocidades diferentes. É um modelo que possibilita preservar a unidade dos países da UE, mas permitiria uma maior cooperação entre os interessados.
Menos, de uma maneira mais eficiente
O quarto cenário consiste em "fazer menos, mas de forma mais eficiente", focando-se nas áreas onde a União Europeia possa concentrar mais valores, como defesa da democracia e economia comum. Essa é uma opção que deixa dúvidas sobre quais seriam os setores que ficariam de fora do planejamento, como possivelmente a migração.
Federalismo
Por último, o quinto cenário que vem sendo apresentado pelo chefe do Executivo da União Europeia, Jean-Claude Juncker, é o federalismo, onde os países fariam mais juntos a partir de um sistema que preze mais pela soberania nacional. O modelo permitiria tomar as decisões mais rapidamente e evitar impasses de unidade que atrasem o bloco.
Conclusão
Os defensores da saída da União Europeia argumentaram que o Reino Unido havia perdido sua soberania e sua autonomia para tomar decisões — pois estas haviam sido transferidas para Bruxelas —, e estava pagando um alto preço, tanto político quanto econômico, para fazer parte da UE. A crise da imigração e a incapacidade de se adotar políticas nacionais autônomas para lidar com ela foi apenas mais uma manifestação dessa excessiva centralização de poderes em Bruxelas.
Em tese, com sua saída, a população do Reino Unido não mais terá de dar satisfações a uma entidade superior localizada em outro país, vista como intrusiva. Tampouco sua população poderá ser tolhida por essa entidade estrangeira. Os indivíduos poderão agora usufruir uma maior autonomia, podendo, agora localmente, resolver os problemas que são do interesse do povo britânico, e não da conveniência de burocratas em Bruxelas.
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, os britânicos têm em mãos uma oportunidade de frustrar o rolo compressor de Bruxelas, pelo menos por algum tempo, e decidirem com mais autonomia sobre o que realmente querem. No fundo, tudo se resume a esse pergunta: "quem deve decidir por nós?"
Em última instância, o Brexit não foi um referendo sobre livre comércio, imigração, ou regras burocráticas impostas pelo Parlamento Europeu e pela Comissão Europeia. Foi, isso sim, um referendo sobre uma maior autonomia individual e sobre um menor poder a entidades políticas globalistas.

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