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O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 1 O equilíbrio no médio prazo O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego Prof. Carlos Henrique Horn Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Ciências Econômicas Departamento de Economia e Relações Internacionais ECO-02/236 – Teoria Macroeconômica I Estrutura da exposição Referência: Blanchard (2011): cap. 6 O ponto examina as flutuações e o equilíbrio no mercado de trabalho e descreve a taxa natural de desemprego. 1. Fluxos no mercado de trabalho. 2. Movimentos do desemprego. 3. Determinação de salários. 4. Determinação de preços. 5. Taxa natural de desemprego. Há várias observações do professor que não se encontram na referência básica. 2 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 2 Fluxos no mercado de trabalho Força de trabalho, taxa de atividade e taxa de ocupação • População em Idade Ativa (PIA): pessoas potencialmente disponíveis para o trabalho. Em geral, definida com base em um limite inferior de idade: – EUA: pessoas com idade maior do que 16 anos, excluídas as que servem às Forças Armadas e as que estão presas. – Brasil: pessoas com idade maior do que 10/14 anos. • População Economicamente Ativa (PEA) ou força de trabalho (L): parcela da PIA que se encontra ocupada (N) ou desempregada (U). L = PEA = N + U – Taxa de atividade ou Taxa de participação: PEA (L) / PIA – Taxa de ocupação: Ocupados (N) / PEA 3 Fluxos no mercado de trabalho Grupos que não possuem ocupação e taxa de desemprego • População Não Economicamente Ativa (PNEA) ou Inativos: parcela da PIA que não se encontra ocupada e não procura trabalho. PNEA = PIA – PEA = PIA – (N + U). • Desempregados (U): pessoas que não possuem ocupação e que procuram trabalho. – Taxa de desemprego (u): Desempregados (U) / PEA (L) 4 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 3 Fluxos no mercado de trabalho População, força de trabalho e desemprego nos EUA, 2006 5 Fluxos do mercado de trabalho Há uma constante movimentação entre os três grandes grupos: ocupados, desempregados e inativos (PNEA) 6 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 4 Movimentos do desemprego Evidências para os EUA desde 1948 (Figura 6.3) • Flutuação da taxa de desemprego no intervalo 3%-7%, sem tendência de crescimento ou de redução, entre o final da 2ª Guerra e o início dos anos 1970. Tendência de crescimento da taxa de desemprego entre o início dos anos 1970 e meados dos anos 1980 (até 10%). Tendência de redução entre meados dos anos 1980 e meados da década de 2000 (abaixo de 5%). • Flutuações da taxa de desemprego em sintonia com períodos de recessão econômica. 7 Movimentos do desemprego Evidências para os EUA desde 1948 8 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 5 Movimentos do desemprego Como a taxa de desemprego agregado afeta os trabalhadores Empresas ajustam-se em resposta a reduções na demanda: • Reduzem a admissão de novos empregados, o que diminui a probabilidade de um desempregado encontrar emprego (ver Figura 6.4). Ajuste básico sob expectativa de redução transitória da demanda. Questão da retenção de empregados. • Decidem por despedidas (involuntárias), o que aumenta a probabilidade de um empregado perder o emprego (ver Figura 6.5). Ajuste básico sob expectativa de redução prolongada na demanda. 9 Movimentos do desemprego Aumento no desemprego diminui probabilidade de encontrar emprego 10 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 6 Movimentos do desemprego Aumento no desemprego aumenta probabilidade de perder emprego 11 Determinação de salários Como são fixados os salários nominais (arranjos institucionais)? • Unilateralmente pelo empregador (caso do “pegar ou largar” nos segmentos de baixa qualificação). • Negociação individual entre o trabalhador e o empregador (caso de trabalhadores de alta qualificação e gestores). • Negociação coletiva entre empregadores (ou seus representantes) e sindicatos (ou outro tipo de representante dos trabalhadores). • Política governamental (salários mínimos, taxa de correção geral dos salários, servidores públicos). Alta variedade institucional Provável combinação de métodos 12 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 7 Determinação de salários Hipóteses teóricas básicas • Salários normalmente excedem o salário reserva. Salário reserva: salário que torna o trabalhador indiferente entre trabalhar ou permanecer desempregado. – Trabalhadores (mesmo individualmente) possuem algum poder de negociação que permite obter salários acima do salário reserva. – Empresas podem desejar pagar salários acima do salário reserva (hipótese do salário-eficiência). • Salários dependem das condições do mercado de trabalho. 13 Determinação de salários: trabalhador O que determina o poder de negociação do trabalhador? O poder de negociação individual do trabalhador depende de: • Custo de substituir o trabalhador se ele deixar a empresa. Ou seja, depende da capacitação do trabalhador e da natureza do trabalho. • Dificuldade de obter outro emprego se ele deixar a empresa. Ou seja, depende das condições do mercado de trabalho. Ambos os motivos levam a: Menor desemprego → Maior poder de negociação → W↑ Maior desemprego → Menor poder de negociação → W↓ 14 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 8 Determinação de salários: empresa Por que empresas pagam salários acima do salário reserva? • Empresas podem usar salários mais altos para: – Incentivar maior produtividade. – Reter trabalhadores (processos seletivos complexos, tempo de aprendizado longo, ambientação à “cultura” da empresa). • Decisão das empresas depende de: – Natureza do trabalho (posto de trabalho e setor de atividade). – Condições do mercado de trabalho. Ambos os motivos levam a: Menor desemprego → W↑ Maior desemprego → W↓ 15 Determinação de salários Determinação do nível geral de salários nominais • A discussão anterior sugere a seguinte relação: W = PeF(u , z) (– , +) Onde: W = Salário nominal Pe = Nível esperado de preços Empresas e trabalhadores preocupam-se com os salários reais (W/P) u = Taxa de desemprego z = Outras variáveis [institucionais] que afetam a fixação dos salários (por ex.: seguro-desemprego; salário mínimo; garantia de emprego) 16 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 9 Determinação de salários Operacionalização do salário nominal (W) • Na relação W = PeF(u , z), a variável W expressa o salário como renda do trabalhador. As flutuações em W refletem variações no nível geral de salários nominais. • Como operacionalizar W? Medida de tendência central da distribuição salarial. W = Salário médio por trabalhador (ŵ) W = Total de salários ou Massa salarial / Número de trabalhadores W = ŵ = (ŵN) / N 17 Determinação de preços • A regra de fixação de preços pelas empresas é dada por: P = (1 + μ)W Onde: P = Preço fixado pela empresa μ = Margem (mark-up) do preço sobre o custo direto de produção A margem é fixada com o objetivode cobrir custos indiretos (depreciação do capital fixo, custos administrativos, juros, tributos etc.) e assegurar um lucro à empresa. W = Salário nominal O custo das matérias-primas (custo direto) será considerado na sequência. 18 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 10 Determinação de preços • Na regra de fixação de preços P = (1 + μ)W, a variável W expressa o salário como custo das empresas. • Como operacionalizar W? Custo direto unitário (por quantidade produzida) do trabalho. W = Total de salários / Quantidade produzida W = ŵN / Y Dado que PMeN = Y / N, temos: W = ŵ / PMeN 19 Determinação de preços Distribuição dos ganhos de produtividade • Temos: P = (1 + μ) (ŵ / PMeN) • Quais os efeitos possíveis dos ganhos de produtividade? – Transmissão integral aos salários nominais (maior ŵ), mantendo constante o custo salarial direto (W) e aumentando os salários reais (ŵ/P). Neste caso, P e não variam. – Transmissão integral aos lucros (aumento nos lucros) por meio de aumento no mark-up () uma vez que P e ŵ não variem. – Transmissão integral aos preços (redução nos preços), com benefícios aos consumidores, uma vez que e ŵ não variem. 20 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 11 Determinação de salários e de preços A variável W nas relações de salários e de preços • Na relação de fixação de salários W = PeF(u , z): – Salário W é renda do trabalhador. – Operacionalização: W = ŵ. • Na relação de fixação de preços P = (1 + μ)W: – Salário W é custo de produção das empresas. Para as empresas, há uma tensão permanente, pois W também é mecanismo de retenção de trabalhadores e de incentivo à produtividade (salário eficiência). – Operacionalização: W = ŵ / PMeN. • Portanto: variações em W são iguais em ambas as relações apenas se PMeN = cte. Neste caso, correspondem a variações em ŵ. 21 Taxa natural de desemprego • Blanchard discute a seguinte questão: Quais as implicações da determinação de salários e de preços sobre o desemprego? • O argumento que segue pressupõe que os salários nominais (W) dependam do nível de preços efetivo (P) em vez do nível de preços esperado (Pe). Sob tal pressuposto, fazemos: Pe = P. 22 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 12 Taxa natural de desemprego Relação de fixação de salários • A fixação do salário nominal agregado é dada por: W = PF(u , z) Dividindo ambos os lados por P, temos: W / P = F(u , z) (– , +) • Portanto: – Quanto maior a taxa de desemprego (u), menor o salário real definido pelos fixadores de salários (W/P). Esta é a relação de fixação de salários. – Quanto maior z, maior o salário real (W/P). 23 Taxa natural de desemprego Relação de fixação de preços • Dada a regra de fixação de preços: P = (1 + μ)W • Dividindo ambos os lados por W, temos: P / W = (1 + μ) • Invertendo nos dois lados para obter o salário real (W/P): W / P = 1 / (1 + μ) As decisões de fixação de preços determinam o salário real correspondente a um dado mark-up: um aumento generalizado em μ, mantido o salário nominal, diminui o salário real, e vice-versa. Esta é a relação de fixação de preços. 24 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 13 Taxa natural de desemprego Equilíbrio no mercado de trabalho • A condição de equilíbrio no mercado de trabalho é dada pela igualdade entre o salário real da relação de fixação de salários e o salário real da relação de fixação de preços: F(un , z) = 1 / (1 + μ) • A taxa de desemprego correspondente ao equilíbrio é chamada de taxa natural de desemprego (un). A taxa natural de desemprego faz com que o salário real resultante da fixação de salários nominais (lado esquerdo) iguale o salário real resultante da fixação de preços (lado direito). • A ilustração gráfica está na Figura 6.6 25 Taxa natural de desemprego Salários (FS), preços (FP) e a taxa natural de desemprego (un) 26 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 14 Taxa natural de desemprego Salários (FS), preços (FP) e a taxa natural de desemprego (un) • A relação de fixação de preços (FP) mostra o nível do salário real (W/P) compatível com o mark-up () desejado. • A relação de fixação de salários (FS) mostra o nível do salário real (W/P) como uma função inversa da taxa de desemprego (u). Menor u cria maior dificuldade às empresas em reter ou substituir trabalhadores e aumenta o poder de negociação do lado do trabalho. Pressiona W↑. Maior u cria menor dificuldade às empresas em reter ou substituir trabalhadores e diminui o poder de negociação do lado do trabalho. Pressiona W↓. 27 Taxa natural de desemprego Salários (FS), preços (FP) e a taxa natural de desemprego (un) • Apenas no ponto A temos equilíbrio no mercado de trabalho, estabilizando os salários monetários: F(un , z) = 1 / (1 + μ) • Nas situações de desequilíbrio: – Se u < un, o salário real negociado é maior do que o salário real compatível com o mark-up desejado (). Isto leva a uma pressão sobre P↑ a fim de obter desejado. – Se u > un, o salário real negociado é menor do que o salário real compatível com o mark-up desejado (). Isto leva a uma pressão sobre P↓ compatível com desejado. 28 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 15 Taxa natural de desemprego Aumento do seguro-desemprego leva a um salário real maior. Uma taxa de desemprego maior é necessária para trazer o salário real ao nível que as empresas estão dispostas a pagar (mecanismo de disciplina) 29 Taxa natural de desemprego Afrouxamento da legislação anti-truste leva a maiores preços e a um salário real menor. Uma taxa de desemprego maior é necessária para fazer os trabalhadores aceitarem o menor salário real (mecanismo de disciplina) 30 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 16 Taxa natural de desemprego Nível natural de emprego • Seja a taxa de desemprego (u): u = (U / L) = (L – N) / L = 1 – (N/L) Rearranjando, para isolar o total de ocupados (N), temos: N = L(1 – u) • Sendo un a taxa natural de desemprego, encontramos o correspondente nível natural de emprego (Nn): Nn = L(1 – un) 31 Taxa natural de desemprego Nível natural de produto • Seja a função de produção: Y= AN Onde: A = produtividade média do trabalho (produto por trabalhador) Supondo A = 1, temos Y = N. • Neste caso, o nível natural de produto (Yn) é dado por: Yn = Nn = L(1 – un) • O nível natural do produto associado ao equilíbrio no mercado de trabalho é dado por: F[1 – (Yn/L) , z] = 1 / (1 – μ) 32 O mercado de trabalho e a taxa natural de desemprego ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 17 Resumo • O salário real (W/P) resultante da fixação de salários nominais (W) é uma função decrescente da taxa de desemprego (u). • O salário real (W/P) resultante da fixação de preços (μ) é constante. • O equilíbrio no mercado de trabalho requer que o salário real resultante da fixação de salários seja igual ao salário real resultante da fixação de preços. • Isso determina a taxa de desemprego de equilíbrio – a taxa natural de desemprego (un). • Relacionados com a taxa natural de desemprego, estão o nível natural de emprego (Nn) e o nível natural de produto(Yn). 33
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