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RDD ARTIGO.

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REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: HÁ ALGUM RESPEITO AO PRINCÍPIO 
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA? 
 
Karina Achutti Pedri 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
O presente estudo objetiva a análise acerca da (in) observância do Princípio 
da Dignidade da Pessoa Humana no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). 
 
Diversas razões motivam a escolha do tema objeto desta pesquisa, 
figurando sua importância não apenas para o âmbito acadêmico, mas também para 
os operadores do direito e, via de conseqüência, para a sociedade em geral. 
 
A Lei 10.792 de dezembro de 2003, que modificou a redação da Lei n. 
7.210/84 – Lei de Execução Penal –, introduziu o regime disciplinar diferenciado no 
ordenamento jurídico brasileiro e provocou grande debate, na medida em que tal 
instituto tem se mostrado um tanto rigoroso e cruel e, talvez, além dos limites da 
pessoa humana. 
 
Daí exsurge, para o operador do direito, a relevância da matéria tratada. 
Afinal, não são também estes os responsáveis pela (im) possibilidade de 
confinamento de um ser humano no regime disciplinar diferenciado? 
 
E se é dos operadores do direito que se deve esperar (e, por que não dizer, 
cobrar) análise aprofundada acerca do tema, revela-se aí sua importância para a 
sociedade. 
 
Interessa para a sociedade, como destinatária final da tutela jurisdicional do 
Estado, que a matéria seja enfrentada com a seriedade e a cientificidade que
 
 
2 
encerra, pena de manter-se tudo como esta e, fatalmente, tolerar-se tudo que se 
tolera. 
 
Para tanto, no primeiro capítulo desta pesquisa, abordaremos os principais 
aspectos do regime disciplinar diferenciado, analisando sua origem, os seus 
requisitos e cabimento, de acordo com a lei de execução penal. Neste mesmo 
capítulo apontaremos, ainda, alguns casos concretos em que o RDD foi aplicado aos 
presos que habitam os careceres brasileiros. 
 
Após, realizar-se-á uma breve análise sobre o Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana passando pela gênese de seu conhecimento, pela sua posição nos 
ordenamentos jurídicos internacionais e nacional até sua natureza jurídica e 
relevância social. 
 
Por fim, aprofundaremos o estudo com a análise, em conjunto, do princípio 
da humanidade e do regime disciplinar diferenciado, examinando até onde a 
dignidade do ser humano é observada e respeitada nos interiores dos 
estabelecimentos prisionais e até que ponto a aplicação de penas deveras cruéis 
ressocializa e disciplina os apenados. 
 
É, pois, o que veremos a seguir. 
 
1 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO 
 
 
1.1 ORIGEM E BASE LEGAL 
 
 
Imprescindível, para superar o dogmatismo rasteiro e aprofundar o estudo 
sobre o Regime Disciplinar Diferenciado, ventilar algumas noções acerca da origem 
e da base legal do instituto. Todavia, impõe-se estabelecer um corte histórico que 
permita compreender a procedência e o início da normativização do instituto, de 
forma cientificamente satisfatória, para que não nos percamos em regressões 
infinitas, e, por óbvio, despiciendas. Necessário, por conseguinte, analisar as 
“experiências inspiradoras” como, por exemplo, as conhecidas “solitárias”, e o 
 
 
3 
nascimento do Regime Disciplinar Diferenciado no contexto jurídico-normativo 
brasileiro. 
 
Tocante à fonte de inspiração para o “encarceramento diferenciado”, 
inegável que tenha o instituto encontrado modelo nas chamadas “solitárias”, 
consubstanciadas em celas individuais, com nenhuma acomodação, em que o 
apenado ou preso provisório permanecia (ou permanece?) isolado do restante da 
população carcerária, lhe sendo sonegados direitos fundamentais, tais quais a 
exposição ao sol, à luz, ou o acesso a condições minimamente higiênicas de 
satisfazer necessidades fisiológicas. 
 
De se notar, e parece óbvio que, o Regime Disciplinar Diferenciado não 
surgiu de inopino, tampouco é fruto da imaginação criativa do “iluminismo” 1 do 
legislador pátrio, senão que sua gênese se funda indiscutivelmente nos modelos de 
tortura psicológica já conhecidas e ilimitadamente adotadas em todo o mundo, 
inclusive no Brasil. 2 
 
Aliás, tocante ao reconhecimento, por parte de algumas casas prisionais 
brasileiras, da adoção das medidas de aprisionamento solitário, a pesquisa 3 
demonstrou que zero instituições 4 admitem a prática de tal mecanismo, utilizando 
como justificativa a incontestável superlotação dos presídios, comuns à generalidade 
das casas prisionais brasileiras. 
 
Existente e amplamente adotado o modelo de encarceramento solitário no 
Brasil, sua oficialização parecia um caminho inevitável, mormente considerando o 
panorama contemporâneo da atividade legislativa em matéria penal, indelevelmente 
 
1 LUISI, Luis. Os Princípios Constitucionais Penais. 2. ed. rev. e aum. Porto Alegre: Sergio Antônio 
Fabris Editor, 2003. 
2 Basta recordar as práticas punitivas medievais, largamente empregadas à época da Santa 
Inquisição, em que as reprimendas não se restringiam ao suplício físico dos apenados, senão que a 
tortura psicológica constituía valioso mecanismo de punição. Para uma abordagem extremamente 
mais aprofundada acerca do tema, conferir FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 30. ed. Petrópolis: 
Vozes, 2005. 
3 A pesquisa de que ora tratamos deu-se por procedimento deveras singelo, consistente em contatos 
telefônicos com as instituições prisionais, no período compreendido entre março e maio de 2006. 
4 Os seguintes estabelecimentos prisionais foram consultados, tendo todos refutados à adoção do 
encarceramento solitário: Presídio Central de Porto Alegre/RS; Penitenciária Modulada de 
Charqueadas/RS; Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas/RS. 
 
 
4 
marcada pela legislação do pânico, embriagada no discurso de urgência e, dada a 
respostas simbólicas, como bem anotou Hassemer: 5 
 
(...) há uma tendência do legislador em termos de política criminal moderna 
em utilizar uma reação simbólica, em adotar um Direito Penal simbólico. 
Quero dizer com isso, que os peritos nessas questões sabem que os 
instrumentos utilizados pelo Direito Penal não são aptos para lutar efetiva e 
eficientemente contra a criminalidade real. Isso quer dizer que os 
instrumentos utilizados pelo Direito Penal são ineptos para combater a 
realidade criminal. Por exemplo: aumentar as penas, não tem nenhum 
sentido empiricamente. O legislador – que sabe que a política adotada é 
ineficaz – faz de conta que está inquieto, preocupado e que reage 
imediatamente ao grande problema da criminalidade. É a isso que eu 
chamo de ‘reação simbólica’ que, em razão de sua ineficácia, com o tempo 
a população percebe que se trata de uma política desonesta, de uma 
reação puramente simbólica, que acaba se refletindo no próprio Direito 
Penal como meio de controle social. 
 
De início, o Regime Disciplinar Diferenciado veio regulado em nível estadual, 
disciplinado no Estado de São Paulo pela Resolução da Secretária de Administração 
Penitenciária n° 26, de 04 de maio de 2001, que estipulou as medidas 
administrativas a serem tomadas perante a ocorrência de rebeliões ou qualquer tipo 
de manifestação violenta. A seguir, editou-se a Medida Provisória n° 28, de 04 de 
fevereiro de 2002, que estabelecia, em seu art. 2°, a aplicação do Regime Disciplinar 
Diferenciado exclusivamente como sanção disciplinar destinada a presos ou 
condenados por crimes dolosos. Todavia, a medida provisória foi rejeitada pelo 
Congresso Nacional. 6 
 
Em dezembro de 2003, foi publicada a Lei 10.792, que veio modificar a 
redação da Lei n. 7.210/84 – Lei de Execução Penal –, introduzindo (melhor seria 
dizer, oficializando) o regime disciplinar diferenciado noordenamento jurídico 
brasileiro. Ocorre que a medida acabou por gerar inúmeros debates, seja 
principalmente no meio acadêmico, seja no meio social, vez que se revelou um tanto 
rigorosa e, talvez, além dos limites de suportabilidade da pessoa humana. 7 
 
A edição da referida lei, ao estabelecer o regime disciplinar diferenciado, 
ampliou à esfera nacional a rígida medida disciplinar que já vinha sendo adotada 
 
5 HASSEMER, Winfried. Três temas de direito penal. Porto Alegre: Fundação Escola Superior do 
Ministério Público, 1993, p. 86. 
6 MIRABETE, Julio Fabrini. Execução Penal. 11. ed. rev. atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 149. 
7 Sobre o tema, ver Capítulo III infra. 
 
 
5 
pelas Secretarias de Administração Penitenciária dos estados de Rio de Janeiro e 
São Paulo. 
 
Com a adesão ao Regime Disciplinar Diferenciado, temos, nas palavras de 
Luiz Flávio Gomes8 o quarto regime penitenciário do Brasil. O RDD, considerado um 
regime fechadíssimo, vem com o objetivo de “tranqüilizar” a sociedade, acenando 
(ou iludindo) à população brasileira com a teórica eficiência dos Poderes Legislativo 
e Judiciário, elevando brados aos seus "poderes" de isolar um ser humano durante 
trezentos e sessenta dias por ele representar uma "grave ameaça" à sociedade. 
 
Como referiu Dotti: 
 
(...) a tendência do Congresso Nacional em editar uma legislação de pânico 
para enfrentar o surto da violência e a criminalidade organizada 
caracterizada pelo arbitrário aumento de pena de prisão e o isolamento 
diuturno de alguns condenados perigos durante dois anos – além de outras 
propostas fundadas na artimética do cárcere – revela a ilusão de combater 
a gravidade do delito com a exasperação das penas. 9 
 
Todavia, para não soterrar de vez com mais um dos princípios 
conformadores do direito penal democrático10, qual seja, o postulado da legalidade, 
cuidou o legislador de 2003 em fixar certos limites no que diz com as hipóteses de 
utilização do regime disciplinar diferenciado. É o que veremos a seguir. 
 
 
1.2 CABIMENTO 
 
 
Oficialmente, o Regime Disciplinar Diferenciado, ou regime integralmente 
fechado plus11, foi regulado para trazer maior segurança aos estabelecimentos 
penais, uma vez que se tornam sempre mais constantes as rebeliões no interior dos 
 
8 GOMES, Luiz Flávio. Palestra proferida em 15 de julho de 2004, em Canela. Disponível em: 
<http://www.tj.rs.gov.br/institu/correg/acoes/Encontro_Exec_Canela>. Acesso em: 15 mar. 2006. 
9 DOTTI, René Ariel. Movimento Antiterror e a Missão da Magistratura. Curitiba: Juruá, 2005, p. 
34. 
10 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 8. ed. Rio de Janeiro: Revan, 
2002, p. 61 e ss. 
11 CARVALHO, Salo de. Tântalo no Divã (Novas Críticas às Reformas no Sistema Punitivo Brasileiro). 
Revista do IBCCRIM, São Paulo, a.12, n. 50, Editora Revista dos Tribunais, p. 91-118, set./out. 2004, 
p. 100. 
 
 
6 
presídios, bem assim as fugas, que são comandadas pelos próprios detentos que lá 
habitam. 
 
Conforme dispõe a nova norma (Lei n°. 10.792/03, que alterou a redação do 
art. 52, da Lei de Execuções Penais) podem estar sujeitos ao regime disciplinar 
diferenciado todos os presos provisórios ou definitivos, nacionais ou estrangeiros, 
salvo os segregados em função de medida de segurança. 
 
São três as possibilidades de aplicação do regime disciplinar diferenciado: 
prática de crime doloso que resulte em subversão da ordem ou disciplinas internas; 
presos que ofereçam alto risco para ordem e a segurança do estabelecimento penal 
ou sociedade; ou quando recaírem, sob o preso provisório ou condenado, fundadas 
suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações 
criminosas, quadrilha ou bando. 12 
 
De acordo com o parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e 
Penitenciária, dentre as três hipóteses já referidas de aplicação do RDD, a primeira 
delas – que diz respeito à prática de fato previsto como crime doloso que ocasione 
subversão da ordem ou disciplina internas – é a única em que se percebe uma ação, 
concreta e específica, capaz de ser provada e individualizada, caracterizadora de 
falta grave, de modo a permitir a inclusão do condenado em tal regime. 13 
 
De outro lado, as outras hipóteses que refere o artigo – presos que 
apresentem alto riso para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da 
sociedade ou sobre os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou 
participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando – 
são totalmente imprecisas e abstratas, na medida em que configuram autêntica carta 
branca à Administração para aplicar sanções ao arrepio das diretrizes 
principiológicas do Estado Democrático de Direito. 14 
 
 
12 De acordo com a redação da Lei n°. 10.792/03, art. 52, caput e §§. 
13 CONSELHO Nacional de Política Criminal Penitenciária (site oficial). Disponível em: 
<http://www.mj.gov.br/cnpcp/>. Acesso em: 13 de mar. 2006. 
14 Id. 
 
 
7 
Tocante à parte do dispositivo que alude os presos que “apresentem alto 
risco para a segurança do estabelecimento ou da sociedade” há evidente retorno ao 
Direito Penal do autor (ou da Periculosidade), hoje inadmissível, na medida que a 
aplicação da sanção decorre, não da realização de uma conduta típica ilícita, mas da 
presumível ameaça que a pessoa representa, pelo simples fato de existir. 15 
 
Nesta linha, dissertam ZAFFARONI e PIERANGELI: 
 
O sentimento de segurança jurídica não tolera que uma pessoa (isto é, um 
ser capaz de autodeterminar-se), seja privada de bens jurídicos, com 
finalidade permanente preventiva, numa medida imposta tão-somente pela 
sua inclinação pessoal ao delito sem levar em conta a extensão do injusto 
cometido e o grau de autodeterminação que foi necessário atuar. Isso não 
significa que com a pena nada seja retribuído, mas apenas o 
estabelecimento de um limite à ação preventiva especial ressocializadora 
que se exerce sobre uma pessoa. De outra parte, a inclinação ao delito, 
além de não ser demonstrável, possui o sério inconveniente de, muito 
freqüente, ser resultado da própria ação prévia do sistema penal, com o que 
se iria cair na absurda conclusão de que o efeito aberrante da 
criminalização serve para agravar as próprias conseqüências, e, em razão 
disso, para aprofundar ainda mais sua aberração. 16 
 
Ademais, ainda quanto à hipótese que menciona os presos que oferecem 
alto risco para a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade, ela mostra-
se absolutamente vaga e que deixa margem a tudo quanto é tipo de interpretação e 
de decisão. 17 
 
Importante, também, ressaltar que, na hipótese de aplicação do RDD 
quando existirem suspeitas de participação em organização criminosa, quadrilha ou 
bando, ocorre a violação ao princípio penal non bis in idem, uma vez que a conduta 
descrita, por si só, é crime, devendo ser ela informada à autoridade policial, em vez 
de ser ao apenado imposta a sanção disciplinar. 
 
Também, quanto a possibilidade de adequação da conduta ao tipo 
supramencionado, importa destacar que se trata apenas de suspeitas. Nesta 
contingência, em se tratando tão somente de juízo de probabilidade – e não de 
certeza –, sejam elas “fundadas” ou não, não se pode olvidar que sobre o acusado 
 
15 Id. 
16 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro – 
parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p.117-118. 
17 GOMES, op. cit. 
 
 
8 
não paira ainda condenação,e, assim sendo, impõe-se observar o princípio 
constitucional da presunção de inocência18. Ninguém pode ser castigado 
arbitrariamente e, para que isso não ocorra, deve-se esperar a sentença terminativa, 
para, posteriormente, condenar e incluir o apenado no regime disciplinar 
diferenciado. 19 
 
Para incutir o preso no regime disciplinar diferenciado é necessária uma 
decisão judicial, com direito ao contraditório entre Ministério Público e Defesa,20 
mediante provocação da autoridade administrativa, mais especificamente do diretor 
do estabelecimento prisional. É possível, também, a inclusão cautelar em regime 
disciplinar diferenciado por dez dias, por decisão administrativa. 
 
Importante destacar que o Conselho Nacional de Política Criminal 
Penitenciário posicionou-se contra a aplicação do RDD, ainda por ocasião da 
Resolução SAP 26/01, o que foi tema da Resolução n. 10, de 12 de maio de 2003, 
nos seguintes termos: 
 
Relatado o tema, a Comissão reuniu-se e entendeu, na esteira da 
manifestação contida no MEMO/MJ/CNPCN/Nº 021/2003, que a instituição 
do chamado Regime Disciplinar de Segurança Máxima, é desnecessário 
para a garantia da segurança dos estabelecimentos penitenciários nacionais 
e dos que ali trabalham, circulam e estão custodiados, a teor do que já 
prevê a Lei n. 7.210/84. 
 
Possível detectar, como se observa a partir do parecer do Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária, que até mesmo o órgão administrativo 
retro mencionado, diretamente conectado com a realidade carcerária do Brasil, 
recomenda a não adoção do regime carcerário diferenciado, questionando a real 
eficácia da medida no que diz com os fins a que se propõem as penas, ao que tudo 
indica já atento à falibilidade daquilo que René Dotti denominou “aritmética do 
 
18 Art. 5º, LVII, Constituição Federal de 1988 dispõe que “ninguém será considerado culpado até o 
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Alguns autores preferem utilizar a expressão 
“princípio da não-culpabilidade”, dentre eles Nilo Batista (op. cit.) e Paulo Rangel in Direito 
Processual Penal. 10. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005, p. 24-25. 
19 GOMES, op. cit. 
20 Art. 54, § 2§, Lei 10. 792/2003 dispõe que “A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime 
disciplinar será precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo 
máximo de quinze dias". 
 
 
9 
cárcere” 21, em que a implantação do RDD certamente não seria a melhor solução 
para os presos provisórios ou definitivos que se inserem em alguma das hipóteses 
de aplicação previstas no comando legal, uma vez que mostra-se um regime 
extremamente cruel. 
 
De qualquer sorte, não exitou o legislador brasileiro em oficializar o instituto, 
implementando o regime disciplinar diferenciado no ordenamento jurídico brasileiro, 
estabelecendo, por imposição principiológica, seus requisitos e procedimento. 
 
 
1.3 REQUISITOS E PROCEDIMENTO 
 
 
O Regime Disciplinar Diferenciado consiste no recolhimento dos presos em 
cela individual, por até 360 dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta 
grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada, com direito a 
visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas 
horas. Além disso, o preso terá direito à saída da cela por duas horas diárias para 
banho de sol. 
 
O regime disciplinar diferenciado encaixa-se, ou nos parece, a nosso sentir, 
perfeitamente nas palavras de Dostoievski22, em suas Recordações da casa dos 
mortos: "Suga a seiva vital do indivíduo, enfraquecendo-o a alma, amesquinha-o, 
aterroriza-o, e, no fim, apresenta-no-lo como modelo de correção, de 
arrependimento, uma múmia moralmente dissecada e semilouca". 
 
O RDD nos reporta a Foucault, quando o autor aborda a tecnologia da 
punição, na qual o sentenciado ou preso provisório deve ser colocado em uma 
economia política de corpo, eis que ainda que tal regime não recorra a castigos 
violentos ou sangrentos, mesmo quando utilizam métodos suaves de trancar ou 
 
21 DOTTI, op. cit., p. 34. 
22 DOSTOIEVKI, 2000 apud DOTTI, op. cit., p. 20. 
 
 
10 
corrigir, é sempre do corpo que se trata – do corpo e suas forças, da utilidade e da 
docilidade delas, de sua repartição e de sua submissão.23 
 
Assim, a punição vai se tornando a parte mais velada do processo penal, 
provocando várias conseqüências: deixa o campo da percepção quase diária e entra 
no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade não à sua 
intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime. 24 
 
 
1.4 RDD NO BRASIL: CASOS CONCRETOS 
 
 
Por óbvio, a implantação do Regime Disciplinar Diferenciado, deu-se em 
virtude de alguns episódios ocorridos no interior das prisões brasileiras. 
Acontecimentos esses que aterrorizaram e atemorizaram a população que tomava 
conhecimento, seja através de jornais ou mediante a televisão, das rebeliões 
ocorridas nas penitenciárias, das inúmeras mortes dentro do cárcere e, o que ainda 
parecia mais grave, muitos apenados comandavam assaltos, seqüestros e até 
mesmo o tráfico de drogas do interior dos presídios. 
 
A primeira modalidade de regime disciplinar diferenciado ocorreu em virtude 
de uma rebelião ocorrida no estado de São Paulo, no ano de 2001, que envolveu 
vinte e cinco unidades prisionais da Secretaria da Administração Penitenciária e 
quatro cadeias públicas, sob a responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública 
do Estado. 25 
 
Em dezembro de 2002, ocorreu a primeira experiência do regime disciplinar 
diferenciado no Rio de Janeiro, decorrente da rebelião no presídio de Bangu I, esta 
sendo comandada por Fernandinho Beira-Mar. Logo após o fim da rebelião, os 
líderes do movimento foram isolados para impedir o contato com os demais 
apenados, e o restante dos participantes foram colocados em regime disciplinar 
especial de segurança. Já no ano seguinte – 2003 – a Secretaria da Administração 
 
23 FOUCAULT, op. cit. 
24 Id. 
25 FREIRE, op. cit., p. 127. 
 
 
11 
Penitenciária do Rio de Janeiro reeditou o Regime Disciplinar Diferenciado Especial 
de Segurança em Bangu I, e a partir daí generalizou o modelo disciplinar para outras 
penitenciárias. 26 
 
Como se viu, talvez não tenha sido a inclusão de “Fernandinho Beira-Mar” 
no regime disciplinar diferenciado a solução mais eficaz, haja vista que não houve 
qualquer comprovação do estancamento de suas atividades. 
 
2 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
2.1 BREVE REVISÃO HISTÓRICA 
 
 
O segundo capítulo deste estudo pretende estabelecer algumas noções 
sobre a importância que guarda o princípio da dignidade da pessoa humana em 
nosso modelo social, revisitando suas origens – por óbvio evitaremos regressões 
infinitas –, anotando suas regulamentações e, por fim, destacando seu papel como 
postulado fundante da maioria dos ordenamentos jurídicos contemporâneos. 
 
Uma das características mais marcantes do princípio em comento é aquela 
que assegura um mínimo de respeito ao ser humano somente pelo fato de ser 
homem27, de modo que todas as pessoas são dotadas por natureza de igual 
dignidade. Cabe ressaltar que o respeito à pessoa humana deve estar presente 
independentemente da comunidade, grupo ou classe social a que aquele faça parte. 
 
O princípio da humanidade apresenta suas raízes no pensamento clássico e 
no ideário cristão. Tanto no Antigo Testamento quando no Novo Testamento 
encontramosreferências no sentido de que o homem foi criado à imagem e 
semelhança de Deus. Já no pensamento filosófico e político na antiguidade clássica 
 
26 FREIRE, op. cit., p. 130. 
27 FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de direitos: a honra, a intimidade, a vida privada e a imagem 
versus a liberdade de expressão e informação. Porto Alegre: S. A. Fabris, 1996, p. 49. 
 
 
12 
tem-se a dignidade humana como a posição social ocupada pelo indivíduo e o seu 
grau de reconhecimento pelos demais membros da comunidade. 28 
 
Nas palavras de Karl Loewenstein, em sua Teoria de la Constitución, “os 
direitos humanos, em especial as liberdades individuais (direitos civis e políticos), 
formam um núcleo inviolável do sistema político da democracia constitucional, 
encarnando a dignidade da pessoa humana”. 29 
 
Seguindo este pensamento, decorre que a função do Estado de proteger a 
dignidade humana indica a impossibilidade de lhe conferir hierarquia outra que não a 
constitucional. 30 
 
2.1.1 A Dignidade Pessoal no Ordenamento Jurídico Brasileiro 
 
A Carta Magna de 1988 estabeleceu a importância da dignidade humana em 
nosso Estado Democrático de Direito, vez que diversos dispositivos de nossa 
Constituição cuidam de tal princípio. 
 
O disposto no artigo 1º, inciso III, bem como o artigo 60, parágrafo 4º, inciso 
III, na Constituição Federal de 1988, traz a dignidade da pessoa humana e os 
direitos e garantias individuais, como fundamento no Estado Democrático de Direito. 
 
É complicado definir o que é esta dignidade e até que ponto ela é aplicada 
em nosso ordenamento jurídico. Segundo Ingo Sarlet: “(...) a dignidade é o valor de 
uma tal disposição de espírito, e está infinitamente acima de todo preço. Nunca ela 
poderia ser posta em cálculo ou confronto com qualquer coisa que tivesse um preço, 
sem de qualquer modo ferir a sua sanidade. 31 
 
Também em seu art. 5º, inciso XLIX, a Constituição Federal de 1988, 
assegurou a dignidade pessoal. Em tal dispositivo, está elencado que “é assegurado 
 
28 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. 4. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 30. 
29 LOEWENSTEIN, 1986 apud CONSELHO Nacional de Política Criminal Penitenciária (site oficial), 
op. cit. 
30 CONSELHO Nacional de Política Criminal Penitenciária (site oficial), op. cit. 
31 SARLET, op. cit. 
 
 
13 
aos presos o respeito à integridade física e moral”. Já no inciso L, há comando no 
sentido de que “às presidiárias serão asseguradas as condições para que possam 
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação”. 
 
No entanto, tal princípio assume especial importância no inciso XLVII do 
artigo. 5º, onde disciplina que não haverá penas: 
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; 
b) de caráter perpétuo; 
c) de trabalhos forçados; 
d) de banimento; 
e) cruéis. 
 
Nota-se que o ordenamento jurídico brasileiro possui, nas palavras de Ingo 
Sarlet, uma Constituição de cunho 
 
marcadamente compromissário, que elevou a dignidade da pessoa humana 
à condição de fundamento de nosso Estado democrático de Direito. Nossa 
carta magna é considerada uma Constituição da pessoa humana ainda que 
não raras vezes este dado venha a ser virtualmente desconsiderado.32 
 
Todavia, um importante exemplo onde a Constituição Federal é 
desconsiderada é com relação aos apenados. Sabemos da precariedade das 
instituições penitenciárias e das condições nas quais os presos vivem. 
 
Os cárceres brasileiros são verdadeiros depósitos humanos, onde homens e 
mulheres são "jogados", sem o mínimo de dignidade como seres humanos que são. 
E, além de viverem deste modo extremamente precário, muitas vezes, ainda têm 
que suportarem situações desumanas que podem ser comparadas a verdadeiras 
penas cruéis. 
 
No Brasil, um exemplo de pena cruel é o polêmico regime disciplinar 
diferenciado, introduzido, em dezembro de 2003, pela Lei 10.792, que veio modificar 
a redação da Lei n. 7.210/84 – Lei de Execução Penal. Tal regime, mais conhecido 
como RDD, submete o preso a condições atrozes e desumanas, ferindo 
absolutamente o princípio da dignidade humana. 
 
 
32 SARLET, Ingo Wolgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição 
Federal de 1988. 4. ed. Rev.ampl. Porto Alegre: Livr. Do Advogado, 2006, p... 
 
 
14 
No entanto, não podemos esquecer que no momento em que o apenado é 
apresentado ao sistema prisional, necessário se faz um acompanhamento para que 
sejam respeitados os direitos inerentes ao ser humano. 
 
2.1.2 Ordenamento Jurídico Internacional 
 
A dignidade da pessoa humana passou a ser reconhecida expressamente 
nas Constituições somente após a Segunda Guerra Mundial, depois de ter sido 
consagrada pela Declaração Universal da ONU em 1948. 33 
 
Dentre os países da União Européia que reconhecem a dignidade da pessoa 
humana, tem-se a Constituição da Alemanha (artigo 1º, inciso I), a Constituição da 
Espanha (preâmbulo e artigo. 10.1), a da Grécia (artigo 2º, I), a da Irlanda 
(preâmbulo), a de Portugal (artigo 1º), bem como a Constituição da Itália (artigo 3º). 
 
Por outro lado, no Mercosul, somente as Constituições do Brasil (artigo 1º, 
inciso III) e a do Paraguai (preâmbulo) igualaram o valor da dignidade ao status de 
norma fundamental. Tocante aos demais Estados Americanos, deve-se referir a 
Constituição de Cuba (artigo 8º) e a Constituição da Venezuela (preâmbulo). Na 
Carta Magna Peruana, também encontramos referência à dignidade da pessoa 
humana, onde são reconhecidos demais direitos, que derivem da dignidade da 
pessoa humana, da soberania popular, do Estado social e democrático de Direito e 
da forma republicana de governo. 
 
Desta forma, ainda que expressamente alguns ordenamentos jurídicos 
resistam em reconhecer a dignidade da pessoa humana como postulado 
fundamental dos regimes democráticos, outro caminho não há, se a pretensão é de 
seguir com o modelo de Estado democrático de direito. 
 
 
2.2 NATUREZA JURÍDICA E RELEVÂNCIA JURÍDICO-SOCIAL 
 
 
 
33 Id., p. 62. 
 
 
15 
O legislador Constituinte originário mostrou de modo preciso e absoluto sua 
intenção de outorgar aos princípios fundamentais a qualidade de normas 
embasadoras e informativas de toda ordem constitucional, inclusive das normas 
definidoras de direitos e garantias fundamentais34, que igualmente integram – com 
os princípios fundamentais – aquilo que se pode denominar de núcleo essencial da 
Constituição Brasileira formal e material. 35 
 
O legislador de 1988, inspirando-se no constitucionalismo lusitano e 
hispânico, optou por não incluir a dignidade da pessoa humana na lista dos direitos e 
garantias fundamentais, guindando-a ao posto de princípio (e valor) fundamental – 
artigo 1º, inciso III, CF/1988. 36 
 
Sendo o princípio universal e absoluto, a dignidade da pessoa humana, deve 
ser viabilizada para se tornar realidade, tanto do ponto de vista jurídico, quando do 
social. 37 
 
O enquadramento da dignidade da pessoa humana como princípio 
fundamental, traz a certeza de que o artigo 1, inciso III, da Constituição Federal de 
1988 não possui somente uma declaração de conteúdo ético-moral, mas constitui, 
sim, uma norma jurídico-positiva dotada de status constitucional formal e material e, 
como tal, inequivocamente, carregada de eficácia, alcançando, assim, a condição devalor jurídico fundamental da sociedade. 38 
 
Como anotou Ingo Sarlet: “(...) a dignidade da pessoa humana possui um 
caráter jurídico normativo e, desse modo, deve ser reconhecida sua plena eficácia 
em nossa ordem constitucional, onde foi guindada à posição de princípio – logo, 
sempre terá valor – fundamental de nosso Estado Democrático de Direito”. 39 
 
34 A distinção entre direitos e garantias fundamentais, no direito brasileiro, remonta a Rui Barbosa, ao 
separar as disposições meramente declaratórias, que são as que imprimem existência legal aos 
direitos reconhecido, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa dos direitos, 
limitam o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias; ocorrendo não raro juntar-se, na 
mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia com a declaração do direito. 
MORAES, op. cit., p. 61. 
35 SARLET, op. cit., p. 67. 
36 SARLET, op. cit., p. 67. 
37 COSTA PIRES, op. cit., p. 15. 
38 SARLET, op. cit., p. 70. 
39
Id., p. 71. 
 
 
16 
 
O ser humano precisa de convívio social e os valores internos vêm 
geralmente, de fatores externos que são encontrados na vida social. Dignidade 
humana é o direito da pessoa conviver no ambiente social de acordo com sua 
própria natureza.40 
 
É preciso ter consciência que através da pena a sociedade responde às 
agressões que sofre com a perpetração de um delito. Por conseguinte, o princípio da 
dignidade da pessoa humana não deve obscurecer a natureza aflitiva da sanção 
penal. 41 
 
Seguindo esta linha é importante lição de H.H. Jescheck: 
 
O direito penal não pode se identificar com o direito relativo a assistência 
social. Serve em primeiro lugar a Justiça distributiva, e deve por em relevo a 
responsabilidade do delinqüente por haver violentado o direito, fazendo com 
que receba a resposta merecida da Comunidade. E isso não pode ser 
atingido sem dano e sem dor principalmente nas penas privativas de 
liberdade, a não ser que se pretenda subverter a hierarquia dos valores 
morais, e fazer do crime uma ocasião de prêmio, o que nos conduziria ao 
reino da utopia. Dentro destas fronteiras, impostas pela natureza de sua 
missão, todas as relações humanas disciplinadas pelo direito penal devem 
estar presididas pelo princípio da humanidade. 42 
 
Assim, fatalmente haverá um conflito entre a pena – aqui entendida como 
reprimenda pela violação de uma norma penal – e a necessária garantia à dignidade 
da pessoa humana, na medida em que a aflição da pena, ainda que eventualmente 
necessária, não deve ser ilimitada, porquanto ilimitada não é a suportabilidade 
humana, tampouco desprovido da tutela estatal está o apenado. Por este quadro, 
mesmo que apenado, o sujeito não deixa de ser humano, daí a importância de 
trabalhar o princípio da dignidade da pessoa humana como (de)limitador do poderio 
punitivo do Estado. 
 
40 Id. 
41 LUISI, op. cit., p. 50. 
42 JESCHEK apud LUISI, op. cit., p. 51 
3 REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: HÁ ALGUM RESPEITO AO 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA? 
 
 
Buscou-se, no primeiro capítulo da presente pesquisa, analisar o polêmico 
regime disciplinar diferenciado, ocasião em que explicitamos sua origem, seu 
cabimento, seus requisitos e procedimentos e, por fim, os casos em que o “regime 
fechado plus” 43, foi aplicado aos apenados brasileiros. Já no segundo capítulo, 
apresentamos o princípio da dignidade da pessoa humana, desde sua origem até 
sua aplicação nos ordenamentos jurídicos internacionais e nacional, destacando-se 
a importância de tal postulado, tanto na esfera jurídica quanto na social. 
 
Pretende-se, assim, neste último capítulo, destacar a conexão – e, 
paradoxalmente, o hiato – que invariavelmente se coloca entre o princípio da 
dignidade da pessoa humana e o simbólico44 regime disciplinar diferenciado, 
demonstrando, sem a pretensão de inovar ou desvelar algo ignorado, que vez mais, 
na contramão da história, mas embalado pelo discurso do pânico, o legislador 
brasileiro utiliza o mecanismo mais gravoso de intervenção estatal para solapar 
garantias individuais conquistadas ao longo de tanto tempo e, às custas de muito 
sofrimento: tudo para nada resolver. 
 
 
3.1 A DIGNIDADE HUMANA INTRAMUROS 
 
 
Como já referimos, com o discurso repressivo da necessidade de criarem-se 
soluções legais de contenção do aumento da violência em nosso país, do 
sentimento de insegurança – ou, como denominou Eduardo Cavalcanti 45, da 
“sensibilidade do risco” – e da criminalidade organizada intramuros e extramuros 46, 
motivado principalmente por episódios de extrema violência ocorridos nos Estados 
 
43 CARVALHO, op. cit., p. 100. 
44 Sobre Direito Penal simbólico e suas respostas ineficazes, cf. HASSEMER, op. cit., p. 86. 
45 CAVALCANTI, Eduardo Medeiros. Crime e Sociedade Complexa. Campinas: LZN, 2004, p. 151. 
46 BARBOZA, Leandro de Oliveira. Da inconstitucionalidade do regime disciplinar diferenciado 
por ofensa aos direitos fundamentais: breve histórico legislativo. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 07 jul. 2006. 
 
 
18 
do Rio de Janeiro e de São Paulo, entendeu o legislador brasileiro por criar o regime 
disciplinar diferenciado. 
 
No entanto, o legislador, ao “criar” (ou “oficializar”, ou, ainda, 
“institucionalizar”) tal regime, mais conhecido como RDD, acabou por assumir, de 
forma perniciosa, posição diametralmente oposta aos direitos e garantias 
fundamentais, subvertendo e contrastando os princípios humanizadores de política 
penal e penitenciária, consagrados em nossa Carta Magna e nos Tratados 
Internacionais, os quais o Brasil ratificou. 47 
 
Dentre os direitos fundamentais que o legislador atropelou ao instituir o 
regime disciplinar diferenciado, inequivocamente o mais importante deles – porque o 
mais fundamental – é o princípio da dignidade da pessoa humana, o pilar de toda 
civilização. 
 
Entretanto, o regime disciplinar diferenciado, ao impor o isolamento do 
apenado em cela individual pelo período de trezentos e sessenta dias, afronta 
completamente o princípio em comento, uma vez que inflige ao punido uma pena 
não somente física, mas inegavelmente psicológica, de modo que aniquila por 
completo a sua personalidade, o seu caráter e sua vida. 48 
 
Por conseguinte, esse isolamento intramuros estabelecido de forma mais 
severa do que a já existente, pelo RDD, produzirá nos presos, sejam eles 
condenados ou provisórios, efeitos de grandes dimensões psíquicas que, em sua 
grande maioria, serão irreversíveis. 
 
Veja-se que as condições às quais o preso submete-se quando inserido no 
regime disciplinar diferenciado, sem dúvida, o levam a beirar a loucura, uma vez que 
permanece um ano em cela individual, sem contato com os demais detentos, sem 
acesso às informações do cotidiano e, ainda, sendo permitido contato com a luz do 
dia pelo período de somente duas horas diárias. 
 
 
47 BARBOZA, op. cit. 
48 BARBOZA, op. cit. 
 
 
19 
Esse isolamento celular diuturno de longa duração é um dos mecanismos de 
tortura do corpo e da alma do condenado e manifestamente antagônico ao princípio 
constitucional da dignidade da pessoa humana. 49 
 
Logo, a punição vai se tornando, então, a parte mais importante do sistema 
penal, provocando, assim, diversos malefícios no corpo e na alma do apenado, 
quando, como assevera Nilo Batista, a pena, no mundo contemporâneo, deve ser 
regida pelo princípio da humanidade. 50 
 
A justificação do uso de violência,da imposição de sanções pelo poder 
público, é um dos questionamentos mais clássicos da filosofia e da teoria do direito 
penal, definindo os princípios reitores dos sistemas jurídicos penais e processuais. 51 
Como vaticinou Ferrajoli: 
 
o problema da legitimidade política e moral do direito penal como técnica 
de controle social mediante contrições da liberdade dos cidadãos é, em 
boa parte, o próprio problema da legitimidade do Estado como monopólio 
organizado pela força.52 
 
O desrespeito pela dignidade da pessoa humana já se encontra na própria 
estrutura prisional, uma vez que mantém encarcerados indivíduos que cometeram 
delitos graves juntamente com sujeitos que perpetraram infrações de menor 
potencial ofensivo53, bem assim mantém reincidentes com delinqüentes primários, 
presos cautelares com condenados, o que faz nossas prisões serem conhecidas 
como “universo do crime”. 54 
 
 
49 DOTTI, op. cit., p. 22. 
50 BATISTA, op. cit., p. 98-101. 
51 Id. 
52 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002, p. 234. 
53 A expressão “infrações de menor potencial ofensivo” não é aqui utilizada com o significado 
atribuído àqueles delitos de competência dos Juizados Especiais Criminais, mas com sentido lato, 
mais amplo. 
54 MORETTO, Rodrigo. Crítica Interdisciplinar da Pena de Prisão: controle do espaço na sociedade 
do tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 120. 
 
 
20 
Não é a toa que criminosos inexperientes e primários, depois de uma 
temporada em presídios brasileiros, saem de lá experts no mundo do crime, prontos 
para começarem a delinqüir novamente, só que agora com mais experiência, mais 
aptos a praticar delitos de maior potencial ofensivo, afinal tiveram “bons professores” 
no cárcere. 
 
Possível dizer que, talvez, o maior problema em relação ao regime 
disciplinar diferenciado é que sua implantação no Brasil não foi precedida de 
estudos sérios sobre os efeitos que o isolamento por períodos prolongados pode 
exercer no ser humano. 55 
 
Um exemplo disso é a declaração do Ministro da Justiça, Márcio Tomaz 
Bastos, ao comentar as reclamações do traficante mais conhecido do Brasil, 
Fernandinho Beira-Mar, quando este reclamou do confinamento solitário a que os 
presos submetem-se quando inseridos do RDD. Eis a declaração do Ministro: "se ele 
se recuperar, ótimo. Se ele nunca se recuperar, pelo menos durante o tempo em 
que ele estiver preso não terá condições de se conectar, de dar ordens, de 
comandar suas atividades criminosas". 56 
 
Diante de tal declaração, observa um total despreparo que atinge tanto 
nossos juristas como nossos legisladores – por óbvio sem generalizações –, uma 
vez que os mesmos não têm (ou, talvez propositadamente, aparentam não ter) 
ciência das dramáticas conseqüências psíquicas que o preso inserido no RDD irá 
suportar posteriormente. Ao contrário do que pensam os arautos da repressão e do 
discurso do pânico, a recuperação do apenado não pode, em qualquer hipótese, ser 
alcançada através dessa modalidade de pena extremamente cruel e desumana. 
 
Diante disso, o legislador poderia ter adotado meio diverso que não o regime 
disciplinar diferenciado, para a contenção da criminalidade intramuros, uma 
alternativa que não institucionalizasse a desgraça, a desesperança, o terror 
 
55 PAIXÃO, Ana Clara Victor da. Longe dos olhos, fora do tempo: o confinamento solitário como 
regime especial de cumprimento de pena. Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 10 
jul. 2006. 
56 BASTOS apud GOMES, Luiz Flavio et al. O Regime Disciplinar Diferenciado é Constitucional? 
Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/constitregimedisciplinardifer.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2006. 
 
 
21 
individual, uma solução que não afrontasse os princípios de nossa Constituição 
Federal57, e, em especial, o princípio da dignidade da pessoa humana, porquanto é 
inegável: sem dignidade o ser humano se transmuda de homem a animal, e passa a 
comportar-se como este. 
 
 
3.1.1 Regime Disciplinar Diferenciado: Avaliação do Recluso 
 
O sistema criminal, quando chamado a atuar sobre um sujeito desviante, 
com a intenção de retirar sua liberdade, joga-o para dentro de um mundo à parte, 
um universo com um tempo e uma história própria, em que tanto futuro quanto 
presente – se é que se pode compreendê-los no cárcere – estão ligados a um 
passado 58, o qual o próprio sistema criminal não permite ser esquecido. 
 
Esse passado, para os apenados inseridos no regime disciplinar 
diferenciado, se faz presente em um grau de maior intensidade do que para aqueles 
que estão nas galerias dos presídios em celas apertadas, com muitos detentos 
dividindo o mesmo espaço e o mesmo ar. 
 
Por conseguinte, temos, no cárcere, uma improdução cuja função é 
implementar a passividade, transformando-se em um elemento de insegurança do 
presente e uma incerteza quanto ao futuro, levando o apenado à autodestruição, a 
um processo de “coisificação”. Ao contrário das pessoas que vivem em sociedade, 
na qual o tempo disposto oferece para o indivíduo uma base para que busque, por 
meio de sua iniciativa individual, o imprevisto, ou seja, o incontrolável. No cárcere, a 
rigidez do previsto gera uma situação de imprevisibilidade do próprio hoje. 59 
 
Quanto aos efeitos biopsíquicos, podemos perceber que a grande massa 
dos encarcerados – após penas de longa duração – desenvolvem doenças mentais 
irreversíveis, eis que são obrigados a viver sob regras que se mostram incompatíveis 
com a dinâmica social, muitas vezes obrigados a agir perante os demais detentos de 
 
57 BARBOZA, op. cit. 
58 MORETTO, op. cit., p. 97. 
59 MORETTO, op. cit., p. 106. 
 
 
22 
forma inversa com que agem com a administração da casa prisional, produzindo, por 
conseqüência, choque entre os encarcerados. 60 
 
Do isolamento do indivíduo decorre, invariavelmente, a concentração do 
mesmo, porquanto impõe-se-lhe as aflições de sua própria companhia, vedando-lhe 
a comunicação inerente ao desenvolvimento do próprio ser humano, fulminando a 
essência do seu “sobre-viver”, na medida em que o homem necessita, por natureza, 
não apenas existir, mas fundamentalmente co-existir. 61 
 
Ademais, a concentração impõe ao segregado a lembrança reiterada e 
insistente do próprio delito, do próprio “erro”, de forma a impossibilitar o 
esquecimento das circunstâncias que o levaram ao isolamento, como se a ele fosse 
dado viver solitário, sem qualquer conexão com o mundo exterior ou com os seus 
iguais. E, o pior de tudo: busca-se, com isto, “ressocializá-lo”. 
 
 
3.2 REGIME DISCIPLINAR? 
 
 
O regime disciplinar diferenciado foi implantado no Brasil com o objetivo de 
controlar a violência extrema que acomete nosso país e impedir a ação do crime 
organizado, cujos líderes, embora estivessem presos, continuavam a comandar 
seus exércitos e discípulos dos interiores das prisões. 
 
No entanto, a implantação do regime disciplinar diferenciado tem causado 
grandes problemas. Isto porque a população carcerária está totalmente revoltada e 
inconformada, vendo seus maiores líderes, como Fernandinho Beira-Mar e Marcos 
Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) 
62, enjaulados em tal regime. 
 
60 MORETTO, op. cit., p. 123. 
 
62 O Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma organização de criminosos, criada para 
supostamente defender os direitos de cidadãos encarcerados no Brasil. Surgiu no inícioda década de 
1990 no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, local que acolhia prisioneiros transferidos 
por serem considerados de alta periculosidade pelas autoridades. A organização também é 
conhecida por 15.3.3; a letra "P" é a 15ª letra do alfabeto português e a letra "C" é a terceira. Hoje a 
organização é comandada por Marcos Willians Herbas Camacho, vulgo Marcola, e também por um 
 
 
23 
Diante do isolamento dos líderes, mais uma onda de ataques começou a ser 
executada, principalmente no Estado de São Paulo, para protestar contra a 
implantação do regime disciplinar diferenciado. A onda de violência teve início em 12 
(doze) de maio de 2006, em São Paulo, começando uma série de ataques contra 
bases comunitárias, delegacias, agentes penitenciários, policiais e oficiais da 
Guarda Civil Metropolitana, ataques contra ônibus e agências bancárias. Desse 
ataque, resultaram dezenas de mortos e feridos. 
 
A generalização das rebeliões dos presídios, que cada vez torna-se mais 
constante, serve como demonstrativo da fragilidade dos dispositivos de controle 
disciplinar. Como bem expõe Christiane Russomano 
 
a omissão do poder público, aliada à conivência e aos deficits relativos à 
administração penitenciária e seus agentes, não só não tem conseguido 
conter o avanço do crime organizado, a hegemonia das facções criminosas 
e a corrupção, como colaboram para a disseminação destas práticas.63 
 
Nesta contingência, possível questionar-se até que ponto é válido e oportuno 
a implantação do regime disciplinar diferenciado nas penitenciárias brasileiras. 
 
Ora, será que realmente inserir o apenado no RDD é a melhor solução? 
Será que o preso que se submete a tal regime quando sair dessa tortura vai pensar 
diferente? Vai se arrepender dos crimes que cometeu anteriormente? Será difícil 
uma pessoa que durante 360 dias permaneceu nas condições que o RDD oferece 
se arrepender do cometimento de um crime, mas sim deverá gerar mais revolta no 
apenado que, provavelmente voltará a cometer outros delitos quando sair do 
cárcere. 
 
A implementação do regime disciplinar diferenciado nos presídios brasileiros 
representa muito mais do que um rígido controle disciplinar no interior das prisões. 
Segundo Salo de Carvalho, 
 
outro indivíduo que atende pelo apelido de "Cabeção". O PCC conta com vários integrantes que 
financiam ações ilegais no estado de São Paulo. Disponível em: 
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Comando_da_Capital#Hist.C3.B3ria#Hist.C3.B3ria>. Acesso 
em: 27 ago. 2006. 
63 FREIRE, op. cit., p. 147. 
 
 
24 
...a Lei 10.792/03, ao incorporar o RDD na (des)ordem jurídica nacional e 
alterar a LEP, vinculando o ingresso do preso no regime disciplinar 
diferenciado quando apresentar alto risco a ordem e a segurança do 
estabelecimento penal ou da sociedade (art. 52, §1° da LEP) ou quando 
recaim fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer 
título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando (art. 52, §2° LEP), 
manifesta o sentimento dos Poderes Públicos com práticas arbitrárias, 
regularmente toleradas nas penitenciárias nacionais. 64 
 
Os cárceres, ao invés de serem lugares de ressocialização do homem, 
tornam-se fábricas de criminosos perigosos, de revoltados, de desiludidos, de 
desesperados; de outro lado, quando voltam para a sociedade, ao conseguirem sua 
liberdade, ao invés de solução, enfrentam mais uma “via crucius”, pois são homens 
fisicamente libertos, no entanto, de uma tal forma estigmatizados, que acabam se 
tornando reféns do seu próprio passado.65 
 
Cabe citar Raúl Cervini, para quem aquele que entra no sistema prisional 
sofre uma “fratura chave” em sua vida que jamais o trará de volta, pois o sistema de 
estigmatização e desadaptação é aplicado em grau máximo, fazendo o indivíduo, 
quando posto em liberdade, procurar um grupo em circunstâncias semelhantes às 
suas novas para se introduzir, isto é, que já esteja adaptado às novas regras que lhe 
foram impostas.66 
 
Todo o discurso "re", segundo Zaffaroni está em crise. Isto porque, a pena 
de prisão não ressocializa, não reeduca, tampouco reinsere. Pelo contrário, do 
discurso "re",somente se efetivam a reincidência e a rejeição social. Tal discurso é, 
ao mesmo tempo, real e falso. “É falso o conteúdo, mas o discurso é real, ele existe 
e produz efeitos (legitimantes do poder de punir)”. 67 
 
Certamente, como muito da produção legiferante em nosso País, o RDD 
também foi sancionado no afã de satisfazer a (sanha da) opinião pública (ou 
 
64 CARVALHO, Salo de. Tântalo no Divã (Novas Críticas às Reformas no Sistema Punitivo Brasileiro). 
Revista do IBCCRIM, São Paulo, a.12, n. 50, Editora Revista dos Tribunais, p. 91-118, set./out. 2004, 
p. 102. 
65 MOREIRA, Rômulo de Andrade. Esse monstro chamado RDD. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 12 jul. 2006. 
66 CERVINI, Raúl. Os processos de descriminalização. 2. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002, p. 43. 
67 ZAFFARONI apud LOPES JR., Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal (fundamentos da 
Instrumentalidade garantista) 3.ed. rev. Atul. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 16. 
 
 
25 
publicada?, como já se perguntou) e como uma resposta à violência urbana. Mais 
uma vez utiliza-se de uma solução absolutamente ineficaz para combater a 
criminalidade, cujas raízes, todos temos conhecimento, está na desigualdade social 
que ainda marca o Brasil. 68 
 
A pena de prisão deveria servir como uma forma de intimidação à prática de 
delitos, vislumbrando uma sanção exemplar àqueles que cometem crimes, mas, 
acima de tudo, pretendia-se que ela reintegrasse o apenado à sociedade, até porque 
em nosso Estado Democrático de Direito, felizmente, não admite a prisão perpétua 
tampouco a pena de morte. 69 
 
É preciso – e aqui não temos a pretensão de inovar na apresentação de 
soluções –, primeiramente, abandonar a ilusão de que a penalidade é uma maneira 
de reprimir os crimes e que nesse papel, de acordo com as formas sociais, os 
sistemas políticos ou as crenças, ela pode ser severa ou indulgente, voltar-se para a 
expiação ou procurar obter uma reparação. 
 
Já no século XVIII, Beccaria, em sua clássica obra Dos Delitos e das Penas, 
dizia que: “entre as penalidades e no modo de aplicá-las proporcionalmente aos 
crimes, é necessário escolher os meios mais eficientes e mais perdurável e, 
igualmente, menos cruel no organismo do culpado”. 70 
 
Por conseguinte, de nada adianta querer extrair a solução para às 
atrocidades vistas atualmente, em nosso Estado Democrático de Direito, por meio 
do Direito Penal. Isto porque não seria plausível e nem coerente anunciar normas 
penais mais rigorosas, como, por exemplo, aumento das penas para homicídios 
contra agentes do Estado, aumento das penas em crimes de quadrilha voltadas a 
atos de terrorismo ou, também, a indeterminação do período de isolamento dos 
apenados em regime disciplinar diferenciado. 71 
 
68 MOREIRA, op. cit. 
69 NUNES, Adeildo. A falência da pena de prisão. Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br>. 
Acesso em: 24 mar. 2006. 
70 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Hermus, 1983, p. 03. 
71 NOGUEIRA, Fernando Célio de Brito. Depois do 13 de Maio. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 30 ago. 2006. 
 
 
26 
Basta perguntar-se se com a lei dos crimes hediondos – norma esta um 
tanto rigorosa – houve a diminuição doscrimes nela elencados (latrocínio, extorsão 
mediante seqüestro, homicídio, estupro, tráfico de entorpecentes, entre outros)? 
Indaga-se também: a política de aumentar penas e endurecer o regime de 
cumprimento diminui os números da criminalidade? Certamente não. 72 
 
Segundo Aury Lopes Jr., 
 
a função de prevenção geral desempenhada pela norma penal é mínima ou 
inexistente. Tanto é assim, que a casa dia ocorrem mais delitos de 
latrocínio, extorsão mediante seqüestro (agora na sua versão relâmpago) e 
o tráfico de entorpecentes cresce de forma alarmante, apenas para dar 
alguns poucos exemplos... 73. 
 
Certo é que, nas palavras de René Ariel Dotti, 
 
Não é possível fugir de uma equação simples e deplorável: o crime 
organizado se alimenta da desorganização do Estado. A audácia e o triunfo 
daquele é conseqüência lógica da indiferença e da corrupção deste. Há 
vasos comunicantes entre esses dois mundos, tão fortes e permanentes 
que no Rio de Janeiro e São Paulo, de tempos em tempos, a comunidade 
de delinqüentes, com seus vários departamentos, compõe um estado 
paralelo ao interditar ruas, estabelecimentos comerciais, escolas e impor 
regras de conduta à pessoas de bem. Não foi assim, por exemplo, com a 
ECO 92, quando um acordo entre o Estado e os chefes de comandos 
criminosos “permitiu” a paz na cidade maravilhosa e a segurança de ilustres 
convidados estrangeiros?. 74 
 
Na atual realidade que estamos vivenciando, um Direito Penal mais rigoroso, 
certamente, não resolveria todos os conflitos e tragédias que a população brasileira 
está atravessando. Isto porque não seria possível disciplinar um indivíduo através do 
isolamento ou com a aplicação de penas cruéis, sejam elas físicas ou psíquicas, se 
enquanto o mesmo convivia em sociedade e, portanto, possuía condições “normais” 
de se adaptar ao sistema civilizado, “se entregou” ao negócio do crime e desviou-se 
do pacto social. Se, antes, com as condições de convivência e co-existência normal, 
o indivíduo quedou-se ante a criminalidade, não será, provavelmente, possível 
discipliná-lo apenas maltratando-o, jogando-o entre quatro paredes e mantendo-o 
isolado. 
 
72 LOPES JR., op. cit., p. 15. 
73 Id. 
74 DOTTI, René Ariel. Terrorismo interno - A trágica colheita dos frutos da omissão (I). Disponível 
em: <http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 06 jun. 2006. 
 
 
27 
Além disso, mister ressaltar que a criminalidade, nas palavras de Aury Lopes 
Jr., "é fenômeno complexo, que decorre de um feixe de elementos (fatores 
biopsicossociais), onde o sistema penal desempenha um papel bastante secundário 
na sua prevenção". 75 
 
Por este motivo, uma legislação do pânico, prometida pela mídia em função 
das barbáries vistas nos dias atuais, não irá recuperar a omissão dos governantes 
que, segundo Dotti, “fazem do discurso político a máscara para esconder a 
prevaricação, a corrupção e outros males que pervertem a autoridade, esvaziam as 
leis e atormentam os cidadãos”. 76 
 
De acordo com Zaffaroni, 
 
o aumento das penas abstratas oferecidas pela hipocrisia dos políticos, que 
não sabem o que propor, não tem espaço para propor, não sabem ou não 
querem modificar a realidade. Como não tem espaço para modificar a 
realidade, fazem o que é mais barato: leis penais! 
 
Mostra-se cada vez mais notório que o Estado está ineficiente para impedir 
ou reduzir a multiplicação dos delitos (violentos ou não), uma vez que falta em 
demasia segurança para a população brasileira. Por conseguinte, a lei está 
perdendo o poder da confiança, de modo que, enquanto há um aumento 
considerável dos crimes, há um pequeno volume de meios e métodos estatais para 
enfrentá-los. 77 
 
O objetivo da pena é de recuperar o infrator e não torná-lo pior, uma vez que 
a pena privativa de liberdade é uma evolução em comparação ao antigo sistema de 
execução penal, que punia o criminoso com a mutilação e, por vezes, até com a 
própria morte. 
 
Se isso não acontecer, o futuro certamente será pior, uma vez que os 
meninos e meninas de rua brasileiros, sem qualquer base familiar e educacional, 
 
75 LOPES JR., op. cit., p. 16. 
76 DOTTI, René Ariel. Terrorismo interno - A trágica colheita dos frutos da omissão (I). Disponível 
em: <http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 18 ago. 2006. 
77 Id. 
 
 
28 
estão ingressando, em número casa vez mais expressivo, nas escolas do crime, ou 
seja, as conhecidas instituições para menores. A pós-graduação, segundo Aury 
Lopes Jr., "é quase automática, basta completar 18 anos e escolher algum dos 
superlotados presídios brasileiros, verdadeiros mestrados profissionalizantes do 
crime". 78 
 
O sistema penitenciário brasileiro não está falido, como muitos dizem. O que 
está falida é a pena de prisão, que há muito tempo não vem cumprindo sua real 
finalidade. É justamente por isso que a pena privativa de liberdade deve ser aplicada 
somente para aqueles criminosos considerados de alta periculosidade, que não 
possam viver em sociedade. A pena alternativa carrega um papel preponderante 
para a diminuição da aplicação da pena de prisão, uma vez que, na grande maioria 
dos casos, previne, reprime e recuperada o condenado. 79 
 
Por fim, os episódios dramáticos que estamos vivenciando atualmente 
devem servir para uma reflexão de que temos que investir em um sistema 
penitenciário mais digno e avançado e, sobretudo, apostar no homem, destinatário 
da atividade política e preocupação essencial de um Estado Democrático de Direito, 
"aquele em que governantes e governados se submetem ao império da Lei e que 
tem num de seus pilares o princípio da dignidade da pessoa humana, garantia 
universal contra as injustiças.” 80 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ante todo o exposto, cumpre, neste momento, tecer algumas considerações 
finais sobre a matéria apresentada. 
 
Procurou-se, nesta pesquisa, expor os novos rumos que a execução penal 
está tomando em nosso País. Com o advento da Lei 10.792/03, e a conseqüente 
implantação do regime disciplinar diferenciado em alguns estabelecimentos 
 
78 LOPES JR., op. cit., p. 17. 
79 NUNES, op. cit. 
80 NOGUEIRA, op. cit. 
 
 
29 
prisionais, começou a ser observada, tanto pelos juristas quanto pelos acadêmicos, 
a inconstitucionalidade de tal regime. 
 
Oficialmente, o regime disciplinar diferenciado foi regulado para trazer maior 
segurança aos estabelecimentos prisionais, uma vez que se tornam cada vez mais 
constantes as rebeliões no interior dos presídios. No entanto, como visto alhures, a 
implantação do RDD não afronta somente o princípio da dignidade da pessoa 
humana, mas também tantos outros princípios consagrados em nossa Carta Magna. 
 
O regime disciplinar diferenciado é, atualmente, encarado pela maior 
parcela da população brasileira como uma punição de magnífica importância para a 
segurança da sociedade. Tem-se a ilusão de que o apenado inserido neste regime 
estancará, por completo, suas atividades criminosas ou, pelo menos, enquanto 
estiver isolado e enjaulado, não representará uma ameaça, o que, na realidade, é 
uma utopia, eis que, como já explanado na presente pesquisa, não há notícias que o 
megatraficante Fernandinho Beira-Mar tenha estancado suas atividades somente 
pelo fato de estar cumprindo pena no RDD. Certamente, um dos criminosos mais 
visados no País tem pessoas de extrema confiança que “gerenciam seus negócios”, 
ante sua impossibilidade temporária. 
 
No entanto, há questões deveras mais importantes a serem analisadas do 
que, simplesmente, cogitar se o regimedisciplinar diferenciado é realmente eficiente 
ou não para conter a “indisciplina” dos apenados perigosos que patrocinam rebeliões 
do interior dos estabelecimentos prisionais. 
 
Como vimos ao longo do trabalho, o RDD afronta absolutamente o princípio 
da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição 
Federal de 1988. Isto porque essa modalidade de cumprimento de pena submete o 
ser humano a tratamento indigno e deveras cruel, uma vez que além de atingir as 
condições físicas do preso, também incide sobre o aspecto psíquico, diante do 
isolamento prolongado, o fazendo beirar a loucura. O regime disciplinar diferenciado 
agride o corpo e a alma do apenado, o trata como animal dentro de uma cela, não 
tendo o menor respeito com a dignidade pessoal. 
 
 
30 
O presente trabalho foi proposto no sentido de impulsionar um pensamento 
crítico a respeito da observância do princípio da dignidade humana no regime 
disciplinar diferenciado e, além disso, perquirir até que ponto essa modalidade 
carcerária disciplina o preso. 
 
Questionamos qual foi a real intenção do legislador ao “criar” o RDD, se foi 
apenas para satisfazer a opinião publica ou, na hipótese mais remota, para não dizer 
inexistente, para discipliná-lo e, conseqüentemente, compeli-lo a não praticar mais 
delitos quando sair do cárcere. Concluímos que o RDD não disciplina, pelo contrário, 
gera mais revolta entre aqueles que estão inseridos nesse regime. 
 
Esperamos que as linhas aqui traçadas possam transmitir as divergências 
existentes entre aqueles que ainda defendem que esta modalidade de pena deve 
continuar a ser aplicada e, de outro lado, aqueles que não se restringem a posição 
de meros espectadores com o que está acontecendo no interior dos cárceres e 
lutam para que ocorra alguma mudança. 
 
O Estado deve preocupar-se mais em investir naqueles que estão cumprindo 
pena em nossos estabelecimentos prisionais, eis que, mais cedo ou mais tarde, eles 
sairão da prisão e, certamente, com o tratamento que lhes foi disponibilizado, podem 
voltar à prática delitiva. Primeiro porque saem de lá revoltados e amargos com sua 
atual situação e, ao atravessarem o portão que os separa do “mundo real”, irão 
deparar-se com uma realidade dura, que não fornece oportunidades para aqueles 
que possuíram antecedentes criminais. Segundo porque, na falta de oportunidades, 
poderão voltar a delinqüir para poder suprir as necessidades básicas que o Estado 
deveria fornecer. Já quando forem detidos, não será um problema tão grande, eis 
que os criminosos não têm mais medo da prisão e, justamente por essa razão, na 
falta de uma vida digna, voltam a delinqüir deliberadamente, demonstrando um 
comportamento de não se importar com qualquer conseqüência prisional. 
 
Não podemos esquecer que o Direito anda lado a lado com a justiça e com a 
realidade social. As leis carecem de constantes aperfeiçoamentos e modificações e, 
se algumas atitudes não forem refletidas e repensadas, corremos o risco que o 
 
 
31 
Direito se desvirtue de seu objetivo maior, qual seja, fomentar uma caminhada 
destinada à justiça. 
 
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