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Departamento de Engenharia Civil Escola de Minas Universidade Federal de Ouro Preto CIV 403 Programa Analítico 1 – Ações e Segurança nas Estruturas 1.1 – Introdução 1.2 – Método do Coeficiente de Segurança Interno 1.3 – Método do Coeficiente de Segurança Externo 1.4 – Método das Tensões Admissíveis 1.5 – Introdução aos Métodos Probabilísticos 1.6 – Método dos Estados Limites 1.7 – Tipos e Natureza das Ações 1.8 – Ação do Vento 2 – Tipologia das Estruturas 2.1 – Histórico da Engenharia Estrutural 2.2 – Classificação dos Sistemas Estruturais (Dimensões) 2.3 – Classificação dos Sistemas Estruturais (Natureza dos Esforços) 2.4 – Fios e Cabos 2.5 – Arcos 2.6 – Treliças 2.7 – Vigas 2.8 – Pilares 2.9 – Grelhas 2.10 – Estruturas de Superfície Bibliografia • NBR 8681 – Ações e Segurança nas Estruturas – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) • NBR 6321 – Forças devidas ao Vento nas Edificações – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) • NBR 8800 – Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) • NBR 6118 – Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) • Fundamentos Estatísticos da Segurança das Estruturas – Fusco, P. B. • Fundamentos do Projeto Estrutural – Fusco, P. B. • Probabilidade: Aplicações à Estatística – Meyer, P. L. • Vocabulário de Teoria das Estruturas – Associação Brasileira de Concreto Portland(ABCP) • Structural Analysis & Design of Tall Buildings – Taranath, B. S. • Structural Principles – Engel, I. • Structural Concepts and Systems for Architects and Engineers – Lin, T. Y and Stotesboury, S. D. • Structural Engineering for Architects – Lauer, K. R. • Structural Analysis for Engineers – Willems, N. and Lucas Jr., W. M. • Sistemas Estruturais: Segurança nas Estruturas – Sáles, J. J.; Gonçalves, R. M. e Malite, M. Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, USP. Publicação 041/93. • Sistemas Estruturais: Elementos Estruturais - Sáles, J. J.; Gonçalves, R. M. e Malite, M. Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, USP. Publicação 014/94. • Ação do Vento nas Edificações – Sáles, J. J.; Gonçalves, R. M. e Malite, M. Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, USP. Publicação 015/94. • Construções Metálicas e de Madeira (Notas de Aula) – Reis, M. V. M. Departamento d4e Engenharia Civil, Escola de Minas, UFOP. APRESENTAÇÃO Estas notas de aula foram elaboradas para a implementação da disciplina eletiva Sistemas Estruturais, do currículo de graduação do Curso de Engenharia Civil, oferecido pelo Departamento de Engenharia Civil da Escola de Minas/UFOP. Exceto por pequenos detalhes e ligeiras correções, a presente versão é ainda a primeira, desenvolvida ao longo do primeiro semestre letivo de 1999. É importante ressaltar que o mesmo baseia-se, quase integralmente, nas publicações do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos/USP referentes aos assuntos abordados. Por esta razão, considerando o desprendimento dos autores das mencionadas publicações, manifesto meus mais sinceros agradecimentos aos professores José Jairo de Sáles, Maximiliano Malite e Roberto Martins Gonçalves. Ouro Preto, agosto de 1999 Prof. Dr. Luiz Fernando L. Ribeiro Departamento de Engenharia Civil – Escola de Minas Universidade Federal de Ouro Preto CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 1. AÇÕES E SEGURANÇA NAS ESTRUTURAS 1.1 – Introdução: A palavra estrutura tem significado de considerável amplitude, podendo ser definida, de modo genérico, como o modo de disposição das diferentes partes que compõem um corpo. Assim, referimo-nos à estrutura atômica para definir a disposição de átomos de uma molécula. De modo figurado, também utiliza-se esta palavra para designar a ordem, a disposição ou a distribuição das diversas partes que compõem uma obra literária, artística, ou trabalho científico (artigo técnico, monografia, dissertação ou tese, etc.). Na Engenharia Civil, a palavra estrutura é utilizada para designar a composição, construção, organização e disposição arquitetônica de um edifício, compreendendo todas as partes que o compõem, incluindo as fundações, lajes, vigas, pilares, paredes, revestimentos, cobertura, pintura, etc. De modo ainda mais particularizado, tanto na Engenharia Civil quanto na Arquitetura, a palavra, por definição, representa as partes que suportam as cargas de uma construção e as transmitem às fundações, constituindo-se nos elementos fundamentais do chamado sistema estrutural. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 2 A conceituação apresentada, por si só, já caracteriza a importância do sistema estrutural de uma edificação. Porém, em inúmeras ocasiões, a estrutura é também explorada sob ponto de vista estético, assumindo uma dualidade de funções que impõe a necessidade, qualquer que seja o profissional envolvido no projeto, de sólido conhecimento do funcionamento dos sistemas estruturais, bem como de uma profunda interação entre os profissionais de diferente formação (arquiteto e projetista estrutural) envolvidos no projeto. A necessidade deste conhecimento e/ou desta interação é tão mais visível se imaginarmos que, na etapa criativa, este processo é basicamente CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 3 intuitivo, sendo fundamental a ligação da intuição consciente com a formulação matemática para a compreensão e a representação da realidade física. O caráter intuitivo da concepção de uma estrutura é evidente em vários fatos da vida cotidiana, como por exemplo, ao escolhermos o ângulo correto para posicionarmos uma escada de mão, bem como ao verificarmos, intuitivamente, se as dimensões de suas peças são suficientes para suportar o nosso peso. A importância do sistema estrutural está, portanto, na mesma razão da compreensão de seu funcionamento quanto de sua concepção, com toda a simplicidade possível, mesmo abstendo-nos de recorrer ao conhecimento formal de fórmulas matemáticas e questões referentes às características físicas dos materiais, sem que isso signifique tratar o problema de forma simplificada, mas sim reconhecer, nas situações arquitetônicas práticas, os pontos mais delicados do projeto estrutural, proporcionar-lhe as dimensões e as proporções adequadas, deixando para o projetista estrutural a parte matemática e o detalhamento. No projeto de uma estrutura, desde as mais complexas até as mais simples, como as constituídas por um único elemento, é fundamental que exista a preocupação de que a mesma desempenhe as funções a que se destina com o máximo de ECONOMIA e EFICIÊNCIA. O caráter econômico da estrutura deve ser assegurado através de uma análise dos materiais e das tecnologias disponíveis, comparando-se os custos de matérias primas, distâncias de transporte, consumo de materiais e de mão-de-obra, tempo de execução, etc. Definido o material e a tecnologia, deve-se procurar a otimização do sistema estrutural a ser adotado, buscandoo equilíbrio entre o consumo de material e de mão-de-obra. Em muitos projetos é possível obter bons resultados com a padronização das dimensões dos elementos, mesmo que às custas de um CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 4 consumo maior de material, uma vez que, com a padronização, é possível diminuir-se consideravelmente o emprego da mão-de-obra. Centro Esportivo – Itaperuna/RJ Para assegurar a eficiência de uma estrutura deve-se buscar um projeto econômico mas que permita que a estrutura tenha CONDIÇÕES DE SEGURANÇA, o que significa apresentar-se resistente, estável e duradoura. O conceito de segurança em estruturas costuma ter dois aspectos que, algumas vezes, podem ser confundidos entre si. O primeiro é qualitativo, dizendo-se que uma estrutura possui ou não possui segurança. O segundo é quantitativo, buscando-se atribuir um valor ao nível de segurança alcançado ou desejado. Qualitativamente, diz-se que uma estrutura é segura quando ela é capaz de suportar, sem sofrer danos, todas as ações que vierem a solicitá- la, desde a fase de construção até o final de sua vida útil, entendendo-se como ações as causas externas capazes de produzirem esforços internos e deformações na estrutura. Incluem-se nesse caso as forças provenientes dos pesos próprios dos elementos estruturais e construtivos, a ação do vento, as variações de temperatura, a movimentação das fundações (recalques de apoios), a circulação de pessoas, veículos, líquidos, gases, etc. Em termos de vida útil das estruturas, pode-se dizer que ela varia de acordo com a finalidade da construção. Para as catedrais medievais, por exemplo, acredita-se que elas possuam vida útil da ordem de 1000 anos, enquanto as usinas hidrelétricas são projetadas para durarem, no mínimo, CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 5 100 anos. No caso das construções industriais, como as usinas siderúrgicas, os pólos petroquímicos, as fábricas e oficinas são concebidas para uma vida útil de 50 anos, assim como edifícios e demais construções comerciais, residenciais e agrícolas. Durante o período previsto para a sua vida útil, uma estrutura não deve apresentar deformações e/ou deslocamentos excessivos, trincas, perda de equilíbrio, colapso ou ruína ou seja, não deve apresentar falhas que impeçam ou mesmo prejudiquem a utilização para a qual foi projetada. A principal questão relativa ao aspecto quantitativo é a dificuldade encontrada na mensuração da segurança oferecida por uma estrutura, verificando-se que vários métodos foram desenvolvidos e aperfeiçoados para esta finalidade. Na Antigüidade o método utilizado pelos construtores, que pode ser denominado Método Intuitivo, procurava somente obter construções seguras, sem a preocupação de quantificar o grau de segurança. Com isso, introduzia-se um conceito de segurança traduzido por meio de concepções estruturais baseadas na intuição dos projetistas e construtores, condicionada puramente nos sucessos e insucesso de construções similares já executadas. A aplicação desse método primitivo, via de regra, conduzia a estruturas que hoje seriam consideradas antieconômicas mas era obrigatória face ao quase total desconhecimento das teorias quantitativas do comportamento estrutural. Com o desenvolvimento da Mecânica das Estruturas, foram sendo criadas teorias quantitativas que reproduziam, cada vez melhor, os diversos comportamentos estruturais, tanto na definição do comportamento reológico dos materiais, quanto na determinação dos esforços internos, deformações e deslocamentos produzidos por um dado carregamento, ou na definição dos critérios de resistência dos materiais. Através dessas teorias, empregando-se processos analíticos, numéricos ou gráficos, pode-se determinar, com vários graus de realismo, os esforços internos, as deformações e os deslocamentos nas estruturas, CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 6 permitindo a sua comparação com os critérios de resistência. O desenvolvimento dos métodos experimentais também contribui para que sejam obtidas definições cada vez mais completas e claras dos aspectos comportamentais dos materiais e das estruturas, permitindo a verificação experimental das teorias quantitativas, possibilitando, até hoje, uma integração circular que proporciona o desenvolvimento dos métodos que buscam atribuir valores à segurança das estruturas. Assim, os métodos experimentais constituem-se em um quarto processo de análise de estruturas, podendo ser denominado processo analógico, proporcionando uma nova alternativa para a determinação das deformações e deslocamentos das estruturas e possibilitando a aferição dos esforços internos. É importante ressaltar que todas as teorias mencionadas baseiam-se na hipótese fundamental de que o comportamento estrutural de um certo elemento é determinístico, ou seja: “Para um mesmo elemento, com as mesmas vinculações, a aplicação de uma certa solicitação, de acordo com uma certa lei de variação ao longo do tempo, se pudesse ser repetida diversas vezes, produziria, em todas as aplicações, os mesmos esforços internos, as mesmas deformações e os mesmos deslocamentos” Um outro parâmetro, muito importante para a quantificação da segurança, é a intensidade das ações, assumidas como invariáveis em alguns casos. Entretanto, é muito fácil de perceber que até mesmo o peso próprio de uma estrutura pode variar ao longo do tempo ou por influência de reformas, manutenções ou mesmo de condições climáticas. Estabelecido o arcabouço quantitativo, surge o problema de como deve ser introduzida a segurança no projeto estrutural. A seguir são apresentados os diversos métodos adotados para esta finalidade, comentando-se, criticamente, a sua formulação e buscando-se mostrar, dentro das perspectivas atuais, o potencial desses métodos. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 7 1.2 – Método do Coeficiente de Segurança Interno Este método resultou da contínua evolução experimentada no século XIX pela Teoria da Elasticidade. A introdução da segurança no projeto estrutural, por este método, é feita através do coeficiente de segurança interno , impondo-se a condição de que as maiores tensões que ocorram por ocasião da utilização da estrutura não podem ultrapassar o valor das correspondentes tensões, divididas por , de ruptura ou de escoamento dos materiais, cujo valor resultante é denominado tensão admissível de ruptura ou de escoamento, respectivamente. O método eqüivale, portanto, à imposição de um limite superior para as máximas tensões atuantes, as quais não podem ultrapassar as correspondentes tensões admissíveis, ou seja: Os valores a serem adotados para devem levar em consideração as inevitáveis variabilidades tanto das tensões de ruptura ou de escoamento dos materiais, quanto das intensidades das ações, assim como expressar a “responsabilidade” da estrutura e outros fatores que serão ainda discutidos. A determinação dos coeficientes de segurança internos é empírica, justificando-se seus valores pelos resultados disponíveis de estruturas projetadas com a sua utilização, os quais também orientam a alteração dos coeficientes, permitindoum progresso gradual e seguro dos critérios de projeto, de modo a atender aos aspectos econômicos que exigem a minimização dos valores de . Para estados múltiplos de tensões podem ser definidas grandezas que caracterizam os diferentes critérios de resistência adotados para cada CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 8 tipo de material, relativamente às quais são introduzidos os coeficientes de segurança internos, verificando-se o mesmo para outros fenômenos como, por exemplo, a fadiga em estruturas. Analisando-se criticamente o método, percebe-se que não são feitas considerações separadas a respeito das incertezas do sistema ou dos parâmetros, da natureza da estrutura ou das conseqüências da ruína. Além disso, as ações são, geralmente, especificadas por outras normas, sob a forma de valores médios para as cargas permanentes, valores máximos estimados para as acidentais e valores estatísticos estimados para a ação do vento. Quanto às incertezas, cabe apenas ao calculista levá-las em consideração, introduzindo, informalmente, hipóteses conservadoras a respeito do seu modelo teórico e, formalmente, através da adoção de valores para as ações e para as tensões admissíveis. Um outro aspecto muito importante a considerar é o fato de que as tensões máximas calculadas na estrutura ocorrem em pontos singulares, constituindo-se em efeitos isolados. No caso de uma viga biapoiada submetida a um carregamento uniformemente distribuído, por exemplo, o momento máximo ocorre no ponto médio do vão, e a tensão máxima ocorrerá também nesse ponto, mas apenas para as fibras longitudinais superiores e inferiores. A maioria das estruturas não entra em colapso simplesmente pelo fato de existirem tensões altamente localizadas, ocorrendo redistribuição dessas tensões para as regiões menos solicitadas da seção transversal ou do elemento. Esse é o caso, por exemplo, de uma viga metálica bi-engastada, com seção transversal “I”. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 9 Observa-se na figura acima que, à medida que cresce a solicitação (momento fletor) na seção transversal, crescem as tensões nos pontos mais afastados da linha neutra, verificando-se, em determinada situação (M = My), que a máxima tensão normal na seção transversal é igual à tensão de escoamento do material (σy). Com o aumento da solicitação, ocorre uma redistribuição de tensões para pontos em que a tensão atuante ainda é menor que σy, até que todos os pontos da seção estejam solicitados pela mesma tensão σy, dizendo-se que a seção atingiu a plastificação total, para solicitação igual ao momento fletor de plastificação total (M = Mp). Analisando-se o comportamento da viga bi-engastada, observa-se que o momento fletor é máximo nos engastes, ocorrendo então, nesses pontos, a formação de rótulas plásticas quando Meng = Mp. A viga, portanto, considerando-se que não há mais resistência à rotação nos apoios, passa a comportar-se como uma viga biapoiada, “transferindo” para outras seções CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 10 transversais a “responsabilidade” pela resistência ao acréscimo da solicitação. O valor máximo do carregamento uniformemente distribuído será aquele correspondente à solicitação de momento fletor de plastificação total da seção do meio do vão, uma vez que, formada nesse ponto uma nova rótula, ocorre a formação de um mecanismo e a viga sofre colapso. Face ao exposto, o coeficiente de segurança iγ deve procurar representar uma série de incertezas e imprecisões que vão definir o grau de segurança de uma estrutura. No estudo dos fatores que devem ser levados em consideração na análise da segurança estrutural, as comparações entre solicitações e resistências serão feitas por meio dos esforços solicitantes, o que é válido apenas para as estruturas reticuladas (elementos que podem ter seu estudo reduzido ao comportamento de seu eixo longitudinal) e de superfície (estudo do comportamento do plano médio dos elementos). No caso de estruturas que possuam as três dimensões da mesma ordem de grandeza, a comparação deve ser feita por meio das ações, sendo necessário englobar-se os grupos (a) e (b), descritos a seguir, em um mesmo grupo de fatores que influenciam a resistência das estruturas. (a) Fatores que influem nas ações - variabilidade da intensidade das ações; - probabilidade da ação simultânea das diversas ações que a estrutura deve suportar. (b) Fatores que influem nos esforços solicitantes - erros da análise estrutural: decorrentes da atribuição de um esquema teórico de comportamento à estrutura real - erros numéricos de cálculo: decorrentes da análise de estruturas complexas que exigem a solução de grandes sistemas de equações, podendo atingir de 5% a 10%. IMPORTANTE: Não se consideram previsões para enganos ou erros nos cálculos. - imprecisões geométricas construtivas: CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 11 decorrentes de deformações iniciais (ou residuais) nos eixos das barras ou na superfícies médias dos elementos de superfície (placas, cascas, etc.) e do posicionamento das armaduras, entre outros. - variabilidade das características mecânicas dos materiais em laboratório: são inevitáveis e decorrentes dos processos de caracterização do material. - variabilidade das características mecânicas dos materiais, do laboratório para a obra: no caso de estruturas metálicas este fator praticamente não existe, enquanto para estruturas de concreto ele depende essencialmente do controle de qualidade dos materiais recebidos na obra, da dosagem (c) Fatores que influem na responsabilidade da estrutura - tipo e montante dos danos produzidos pela eventual ruína da estrutura - capacidade de redistribuição dos esforços e de aviso de ruína iminente: a capacidade de redistribuição dos esforços e de aviso de ruína iminente pode minorara responsabilidade da estrutura, relativamente a uma outra que não possua tais características, por permitir uma redução do montante dos danos e, principalmente, por permitir a eliminação, ou pelo menos a minimização de perdas de vidas humanas, no caso de uma eventual ruína A seguir são apresentados alguns exemplos de estruturas que permitirão discutir e esclarecer alguns conceitos básicos ligados à segurança estrutural, considerando-se apenas materiais com comportamento reológico CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 12 representado pelo diagrama tensão-deformação abaixo representado, caracterizando um comportamento elasto-plástico perfeito (EP). Quanto aos critérios de resistência, admite-se que o material satisfaça ao Critério da Máxima Energia de Distorção (Hencky / Von Mises) Exemplo 1: Determinar a maior força P que pode ser suportada pelo tirante da figura, com seção transversal constante, sendo σy = 30 kN/cm2 e adotando coeficiente de segurança γi = 3. Solução: Sendo A = b.h, a tensão máxima na estrutura é P /A e a condição de segurança, decorrente do método é: 22 1 3τσσ +≥adm , onde σ1 é a tensão normal máxima e τ tem valornulo. Portanto: iyadm adm AP e γσσσ σσ //max max =≤= ≤ Desse modo: CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 13 kNxxAP iy 40003 401030/max ==≤ γσ Exemplo 2: A viga da figura é constituída por material com sendo σy = 30 kN/cm2. Determinar o máximo valor de P que pode ser suportado pela viga, com γi = 2. Solução: A maior tensão normal na estrutura é dada por: l hM 2 max max =σ Sabendo-se que o momento máximo ocorre na seção transversal correspondente ao engaste e vale M x l, tem-se: kN xx xxPou l hb P hb lP i y i y adm 120 24006 401230 6 6 2 max 2 max2 == =∴=≤ γ σ γ σσ Uma outra verificação que pode ocorrer aos mais detalhistas, é a do esforço cortante. Entretanto, analisando-se as distribuições de tensões para as duas solicitações, encontra-se a distribuição apresentada na figura a seguir, onde observa-se que, quando uma tensão o seu valor máximo, a outra é nula. Pelo critério de resistência adotado, para o cisalhamento, tem- se: 22 _ 3τσσ +≥ e, para 0=σ , encontra-se: σσστ 4,06,03/ ___ =≅= , que é, aproximadamente, o valor utilizado em diversas normas. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 14 Do exemplo, para V = Pmax = 120 kN, tem-se: bI QV . . max =τ Sendo ( ) ( ) 12/8/4/2/ 3hbIehbhxhbQ === , obtém-se: 2 _ 2 max /12304,04,0 /375,05,1 8 12 cmkNxe cmkN A V bh V y === === στ τ Portanto, no cisalhamento: 32 375,0 12 max _ === τ τγ i Este valor permite a constatação que, nos casos normais de flexão, o fator limitante é a tensão normal ( )σ . A tensão de cisalhamento ( )τ só é limitante em vigas com vãos pequenos, submetidas a ações muito altas e que possuam pequena largura (b), como no caso de vigas metálicas. Pode parecer importante, ainda, a verificação em pontos onde ambas as tensões não são nulas. Entretanto, uma vez que o valor da tensão normal ( )σ varia muito mais rapidamente que o da tensão de cisalhamento ( )τ , conclui-se que somente ocorrem máximos nos pontos mais afastados da linha neutra. Exemplo 3: CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 15 Determinar a máxima força P que pode ser suportada pela viga mostrada acima, com seção transversal constante, considerando 2/18 cmkNy =σ e 2=iγ . Solução: O momento máximo, bem como as tensões máximas, ocorrem na seção do meio do vão, obtendo-se: PP xx x hb xPl 0125,0 60204 660006 4 22max ===σ A condição de segurança do método permite escrever: kNP Pouiy 720 2/180125,0/ _ max ≤∴ ≤=≤ γσσσ Nos problemas anteriores, conhecia-se o material e as dimensões das barras e buscava-se o maior valor que a força aplicada poderia atingir, com determinado iγ . Diversos problemas de Engenharia apresentam-se desta forma, mas, na grande maioria dos casos, conhece-se o carregamento, o material e o coeficiente de segurança interno iγ , buscando-se dimensionar a seção transversal, como será apresentado nos problemas a seguir. Exemplo 4: Para a viga biapoiada, com seção transversal constante, mostrada na CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 16 figura, determinar a mínima altura “h” necessária para suportar o carregamento “p”, com 4=iγ , utilizando material com 2/20 cmkNy =σ . Solução: Também neste exemplo o momento máximo e as tensões máximas ocorrem no meio do vão, obtendo-se: cmcmh cmkNh hxxhbMxWM cmkNxlpM iy 1105445,109 5 60000 /54/20//60000 20/2000006./6/ .2000008/400108/ 2 _ 2 max 22 maxmaxmax 22 max ≅=≥∴ ===≤= === === γσσσ σ Exemplo 5: Determinar o diâmetro da viga de seção transversal constante da figura, confeccionada com material que possui MPay 400=σ , utilizando 67,1=iγ . Solução: O momento máximo, neste caso, ocorre nos apoios, sendo calculado por kNmxplM 2412/6812/ 22max === , obtendo-se, para as tensões máximas: ( ) max3maxmax /32/ MxDWM πσ == Substituindo-se os valores e impondo-se a condição de segurança do método: 67,1 40240032 _ 3max =≤= σπσ xD CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 17 cm x xxD 100683,10 40 24003267,1 ≅==∴ π Exemplo 6: A estrutura da figura é formada por barras iguais, de material com mlecmkNxEcmAcmkNy 2/102,10,/24 2422 ====σ . Determinar o máximo carregamento P que pode ser aplicado à estrutura, com 3=iγ . Solução: Neste exemplo é essencial a aplicação da teoria de 2ª ordem, para obter-se o equilíbrio da estrutura na posição deslocada. Desse modo, encontra-se: lflfffl lLL //.sen. 2===Δ Δ+= α e, pelas equações da Estática, aplicadas na posição de equilíbrio: f lP L lx f LPNHH f LP f LxPlHLVN PVVV BA A BA 22 cos 22 /cos/ 2/ ==== ==== === α α Como são desconhecidos os valores de f, L e N, busca-se, inicialmente no triângulo ACD, as relações: EAlNLf EAlNLffl /.. /./sen. 2 2 =∴ ===Δ α que, substituída na equação de N, após elevá-la ao quadrado, fornece: CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 18 lN LAEP lNL AELP f LPN 444 222 2 22 2 === l LxAEPN 4 2 3 =∴ Admitindo-se que 1/ ≅lL , obtém-se: 3 263,0 AEPN = Esta equação, pela aproximação feita, conduz a um certo erro, mas possui resolução mais simples que a solução exata, obtida através da solução de uma equação de 4º grau. O erro cometido fica em torno de 1 a 2%, o que pode ser considerado desprezível. Impondo-se que _ max/ σσ ==AN encontra-se: 22 max 3_ /25,0 AExP=⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛σ ou, escrevendo-se em função de Pmax: EAP /2 3_ max ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛=⇒ σ e, para os valores numéricos do exemplo: ( ) kNxxP 2,3102/3/24102 43max ==⇒ CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 19 1.3 – Método do Coeficiente de Segurança Externo Em 1849, dois anos após o colapso de uma ponte sobre o Rio Dee (Inglaterra), construída com treliças de ferro fundido, ainda era discutida a utilização desse material na construção de pontes. Vários eminentes engenheiros deparavam-se com a pergunta: “Qual o múltiplo da maior carga atuante em uma estrutura deve ser considerada como carga de ruptura da mesma?”. Brunel e Robert Stephenson, entre outros destacados calculistas da época, passaram a interessar-se pelo comportamento das estruturas no caso de ocorrer uma sobrecarga, realizando provas de carga de modo a assegurar-se de que a estrutura fosse capaz de suportar as cargas de serviço. Esses engenheiros possuíam uma intuição que parece inibida nos profissionais modernos, distraído pela exatidão da teoria da elasticidade e pelo uso consequente das tensões admissíveis. Se, por um lado, não pode ser negado o sucesso da engenharia através da utilização e do desenvolvimento dateoria da elasticidade, por outro é lamentável que essa teoria tenha sido tão sufocante. No século atual, com o desenvolvimento cada vez maior da teoria da plasticidade aplicável às estruturas de aço e da teoria da ruptura utilizada nas de concreto, tem ocorrido uma espécie de retorno ao método de avaliação da segurança que se revelou com aquela pergunta feita em 1849. A teoria da plasticidade tornou oportuno lembrar que, para avaliar-se a segurança da estrutura, é importante conhecer as condições de colapso. Decorre daí a introdução de um fator de carga em alguns métodos de dimensionamento e sua definição como carga de colapso, dividida pela carga de serviço, exatamente a mesma relação utilizada há 150 anos. A única diferença é que hoje, faz-se uma estimativa da carga de colapso por cálculo teórico, enquanto, naquela época, somente era possível estimar-se o CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 20 seu valor através de provas de carga. Embora a determinação da carga de colapso, por meios teóricos (adotando-se modelos simplificados), seja menos precisa que a obtida por meio de provas de carga, hoje pode-se contar com os ensaios em modelos reduzidos, eliminando-se a necessidade de construção da estrutura para obter-se a carga de colapso (ou a existência de estruturas similares, já construídas, para a execução da prova de carga). Se as estruturas apresentassem resposta linear durante toda a sua “história” de carregamento proporcional e crescente, ou seja, se elas apresentassem, em todas as condições, proporcionalidade entre a intensidade do carregamento e a intensidade das tensões correspondentes, em todos os pontos e em todos os planos, seria possível dar uma interpretação externa ao coeficiente de segurança interno iγ , que passaria a ser um coeficiente que, ao multiplicar o carregamento de utilização da estrutura, definiria um carregamento proporcional ao mesmo, produzindo ruptura ou colapso da estrutura. A resposta linear de uma estrutura, porém, somente existe enquanto as relações tensão-deformação do seu material permanecerem lineares (linearidade física), enquanto sua geometria ficar pouco alterada pelos deslocamentos produzidos pelo carregamento (linearidade geométrica) e enquanto todas as ações na estrutura permanecerem proporcionais entre si. Entretanto, a maioria das estruturas sujeitas a um carregamento proporcional, mesmo apresentando resposta linear em uma certa faixa desse carregamento, antes de atingir a ruptura ou o colapso, deixa de CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 21 apresentar tal tipo de resposta, quer por perder, sensivelmente, a linearidade geométrica, quer por perder a linearidade física, ao deixar de seguir a Lei de Hooke em alguns de seus pontos. Observa-se que, a rigor, são poucas as estruturas que não perdem linearidade geométrica, adotando-se a teoria linear como uma aproximação do comportamento não-linear das mesmas. No entanto, existem estruturas em que esse afastamento teórico é pouco sensível, até que elas atinjam a ruptura ou o colapso. Como conseqüência, a interpretação externa que se poderia dar a iγ e que, quase certamente, estava implícita na conceituação de seus introdutores, perde significado. Para “medir-se, externamente”, a distância entre as condições de utilização da estrutura e as correspondentes condições de ruptura ou colapso, define-se como coeficiente de segurança externo eγ de uma estrutura, sujeita a um certo carregamento, ao valor pelo qual deve-se multiplicar as intensidades desse carregamento, proporcional ao primeiro, de forma a produzir a ruptura ou o colapso da estrutura. Exemplo 7: Determinar o coeficiente de segurança externo eγ da estrutura do Exemplo 1, agora comprimida, submetida ao carregamento P = 4000 kN. Utilizar 2/30 cmkNe =σ e E = 20000 kN/cm2 Solução: A tensão normal máxima correspondente ao carregamento de utilização especificado é ( ) 2/101040/4000 cmkNx ==σ . Se a estrutura CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 22 mantivesse resposta linear até a ruptura, teríamos 0,3== ei γγ , uma vez que 0,310/30/ ==σσ e . No entanto, ao ser atingida a carga de flambagem da estrutura, o comportamento da estrutura deixa de ser linear, verificando-se um crescimento das tensões, a partir de então, muito mais rapidamente que o das ações. Assim sendo, a ruptura da estrutura se dá com um carregamento muito pouco superior a flP , podendo ser, na prática, confundido com este valor, ou seja: kN xx xxxx l IEPfl 34,4112200412 1040102 4 3 342 2 2 === ππ e, portanto, 028,1 4000 34,4112 === P Pfl eγ Isto mostra que a aplicação do método do coeficiente interno, neste caso, conduziu a uma distância insuficiente entre o carregamento de utilização da estrutura e o de ruptura, já que ambos foram praticamente coincidentes. Este fato, devido à perda da linearidade geométrica da estrutura, produzida pela flambagem, foi o primeiro grande argumento levantado contra o método do coeficiente de segurança interno, conduzindo, já de longa data, à utilização de eγ em estruturas sujeitas à flambagem. A figura seguinte ilustra o comportamento altamente não-linear da estrutura considerada. É possível, porém, determinar o valor de P para que se tenha CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 23 0,3=eγ . Para isto, basta fazer: kNPP elfadm 13713/34,4112/ ≅== γ Uma outra opção, mantendo-se o valor de P = 4000 kN, seria redimensionar a seção transversal da barra, para obter-se 0,3=eγ , ou seja: kNxPP eadmlf 1200034000. ==≥ γ ou kNlIE 120004/ 22 ≥π ( ) 83,972620000/20041200012/ 223 ≅≥= xxxbhI π Como h = 40 cm, b = 10 cm e a flambagem ocorrerá segundo o eixo de menor inércia (paralelo a h), aumentando-se b a inércia aumenta muito mais rapidamente. cmb bxI 29,14 83,972612/40 3 ≥ ≥=∴ CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 24 1.4 – Método das Tensões Admissíveis: Este é o método que serviu de base às normas de dimensionamento das estruturas até quase os dias de hoje mas, devido a algumas falhas que serão discutidas mais adiante, vem sendo substituído por outros métodos. Este método introduz a segurança no dimensionamento, de duas maneiras distintas: a) Nos elementos submetidos a solicitações estabilizantes, como as de tração, utiliza o coeficiente de segurança interno iγ ; b) Nos elementos que podem apresentar flambagem, como por exemplo, em pilares ou vigas que não possuem adequadas contenções laterais, o método utiliza o coeficiente de segurança externo, só que dividindo o carregamento teórico de ruptura ou de colapso para obter o valor admissível. Exemplo 8: Determinar a tensão admissível do pilar calculado no exemplo 7, para obter 0,2=eγ . Solução: A tensão admissível, nesse caso, nada mais é do que a tensão de flambagem dividida pelo coeficiente de segurança externo, ou seja: cmkN xxe lf adm /4895,1023,1440 12000 === γ σσ Esta tensão conduz a uma carga admissível (Padm) de: kNxxAxP admadm 60003,14404895,10 ≅== σ quecorresponde, exatamente, ao valor da carga dividido por eγ , ou seja: kNPP elfadm 60002/12000/ === γ CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 25 Conforme já visto, através dos coeficientes de segurança, o método das tensões admissíveis procura: a) Estabelecer uma medida da segurança das estruturas; b) Estabelecer uma sistemática para a introdução da segurança nos projetos estruturais. No que diz respeito à medida da segurança introduzida, pode-se, de imediato, observar que ela é bastante deficiente. Como já afirmado, o coeficiente de segurança iγ deve depender, entre outros fatores, da variabilidade das resistências dos materiais, crescendo com o crescimento das dispersões correspondentes. Este fator justifica a utilização de 2=iγ em uma estrutura metálica e a utilização de 4=iγ , por exemplo. A simples consideração deste exemplo permite concluir que iγ não é uma boa medida de segurança, uma vez que, quando se projeta uma estrutura de madeira com 4=iγ , não se deseja e nem se consegue que ela tenha uma segurança maior do que a de uma estrutura metálica projetada com 2=iγ , mas sim, que as duas estruturas tenham a mesma segurança ou, pelo menos, segurança da mesma ordem de grandeza. Por outro lado, a constatação de que apenas o valor de iγ não define a segurança de uma estrutura acaba por mostrar a deficiência de tal medida de segurança. Para exemplificar, se duas estruturas, uma de madeira e outra metálica, possuírem 2=iγ , a primeira terá segurança menor que a Segunda, embora ambas tenham o mesmo iγ . No que diz respeito à sistemática para a introdução da segurança nos projetos estruturais que o método das tensões admissíveis estabelece, podem ser feitas críticas ainda mais contundentes. Inicialmente, cabe a crítica de que há uma preocupação apenas com o estabelecimento de uma conveniente distância entre a situação de utilização da estrutura e aquela que corresponderia a uma ruptura da estrutura (desagregação do material) ou a um colapso da mesma (perda da capacidade portante da estrutura, por se tornar parcial ou totalmente CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 26 hipostática). Não há preocupação com a verificação de outras condições que possam invalidar a utilização da estrutura, como por exemplo o aparecimento de deformabilidade exagerada da mesma. Esta crítica não é, contudo, a mais grave, pois outras condições que possam colocar a estrutura inadequada à utilização, poderiam ser satisfeitas por meio de verificações adicionais, em separado. A principal crítica que se pode e que se deve fazer ao método das tensões admissíveis é justamente a respeito da distância que ele introduz entre a situação de utilização da estrutura e aquela que corresponderia a uma ruptura ou a um colapso da mesma. A medida da distância entre as situações mencionadas fica muito mais bem definida quando procura-se estabelecer uma relação entre os carregamentos correspondentes a elas ( )eγ do que procurando-se estabelecer a relação entre as tensões correspondentes a tais situações ( )iγ . As estimativas teóricas são seguras, desde que a idealização do comportamento da estrutura seja feita de forma conservadora. Além disso, a carga de colapso é obtida de modo muito mais rápido e econômico que a obtida por prova de carga. O maior avanço do método do coeficiente externo, em relação ao método do coeficiente interno, é que nele, tenta- se considerar a forma de comportamento da estrutura ou seja, como o modelo ideal da estrutura se comportaria se essa estrutura fosse construída. Entretanto, o método ainda apresenta muitos defeitos, como por exemplo, o fato de não existir uma separação entre as incertezas do sistema e a incerteza dos parâmetros. Além disso, as ações são especificadas da mesma forma que para o método do coeficiente interno ou seja, uma mistura de médias, máximas e valores estatísticos estimados. Existe, também neste método, uma confusão filosófica e falta de rigor, não existindo uma estrutura lógica de raciocínio, por meio da qual possam ser examinados todos os estados limitativos da estrutura. Como conseqüência, o método das tensões admissíveis não retrata com boa precisão a condição de colapso, nem permite que seja feita uma avaliação confiável dessa condição. O método, contudo, representa uma CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 27 sub-estimativa da segurança, ou seja, um limite inferior de segurança, além de ser um método simples, direto e de fácil utilização, desde que os coeficientes de segurança sejam adequadamente escolhidos. Entretanto, como não é um método realista, poderia apresentar perigo nos casos em que o calculista, baseando-se em uma análise mais sofisticada da estrutura, imaginasse ser possível a redução do coeficiente de segurança. Isso somente seria possível caso fosse feito um estudo mais rigoroso a respeito das incertezas do sistema e dos parâmetros. Adicionalmente, é óbvio que outros efeitos, que não sejam tensões, dever ser analisados no projeto de uma estrutura, como, por exemplo, deformações, controle de fissuras, etc. Não obstante as normas tratarem desses efeitos, o método permanece obscuro e desprovido de unidade filosófica, apresentando uma ênfase excessiva às tensões elásticas e pouca às restrições que devem ser impostas à utilização da estrutura. Em resumo, a moderna Engenharia já ultrapassou este método. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 28 1.5 – Introdução aos Métodos Probabilísticos Os conceitos e as análises apresentadas parecem indicar que um método de introdução de segurança em uma estrutura deve levar em consideração a completa conceituação de segurança, observando-se todos os seus aspectos e adotando-se, para medida de segurança, o coeficiente de segurança externo. Um método com estas características, porém, permite a crítica fundamental de que, além da premissa de que o comportamento estrutural é um fenômeno determinístico, considera-se que os parâmetros mecânicos e geométricos da estrutura também o são. A primeira premissa, relativa ao comportamento estrutural determinístico é lógica e verificada experimentalmente, não se conhecendo situações que a contradigam. Entretanto, a hipótese não é verificada experimentalmente no que se refere aos parâmetros mecânicos e geométricos, observando-se, por exemplo, que a tensão correspondente ao limite de escoamento de um material ( )yσ é uma variável aleatória contínua, à qual deve-se associar uma lei de distribuição de densidade de probabilidade. Esta constatação, inclusive, é suficiente para que possa-se formular uma idéia fundamental: eγ também não é uma medida satisfatória da segurança de uma estrutura uma vez que, mesmo considerando-se que apenas yσ não tenha um comportamento determinístico, duas estruturas geometricamente iguais e igualmente solicitadas, projetadas com o mesmo eγ , mas construídas com materiais cujos yσ apresentam diferentes dispersões, apresentarão nível de segurança diferente, sendo menor a segurança da estrutura cujo material apresentar yσ com maior dispersão. Por exemplo, uma estrutura metálica e uma de madeira, geometricamente CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________29 iguais e igualmente solicitadas, ambas projetadas com 3=eγ , possuem diferentes níveis de segurança, sendo menos segura a estrutura de madeira por apresentar maior dispersão para yσ . A conclusão apresentada, obtida com a consideração de que apenas yσ comporta-se como variável aleatória, fica reforçada com a consideração de que todas as características geométricas e mecânicas da estrutura também são variáveis aleatórias e, ainda mais, com a consideração adicional de que as ações também o são. Exemplo 9: Considere a viga do exemplo 2 construída com um material com yσ apresentando uma distribuição log-normal de média 2/30 cmkNm =σ e coeficiente de variação de 15%. Determinar os valores de P e as correspondentes probabilidades de ruína, para coeficientes de segurança internos iguais a 1, 2 e 3. Solução: Suponhamos que, para a determinação de mσ tenham sido realizados 200 ensaios de caracterização do material da viga, obtendo-se os resultados apresentados na tabela. Dispondo-se os valores em ordem crescente, e tomando-se o número de valores encontrados dentro de intervalos, por exemplo de 2 kN/cm2, pode-se traçar um gráfico relacionando a freqüência relativa dos valores de yσ (número de ocorrências dividido pelo número total de valores da amostra) com os valores médios de cada intervalo. Se, no limite, reduzirmos o valor dos intervalos a zero, obtemos a função densidade de probabilidade (f.d.p.) dos valores de yσ , tal que: CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 30 Amostra σy Amostra σy Amostra σy Amostra σy 1 18,96 51 26,89 101 29,76 151 32,89 2 20,96 52 26,97 102 29,80 152 32,98 3 21,46 53 27,01 103 29,85 153 33,03 4 21,85 54 27,09 104 29,89 154 33,13 5 22,15 55 27,13 105 29,93 155 33,23 6 22,41 56 27,21 106 30,02 156 33,28 7 22,65 57 27,25 107 30,07 157 33,38 8 22,85 58 27,33 108 30,11 158 33,48 9 23,06 59 27,37 109 30,16 159 33,58 10 23,19 60 27,41 110 30,20 160 33,63 11 23,37 61 27,49 111 30,25 161 33,73 12 23,54 62 27,54 112 30,34 162 33,83 13 23,68 63 27,62 113 30,38 163 33,93 14 23,79 64 27,66 114 30,48 164 34,03 15 23,93 65 27,74 115 30,52 165 34,08 16 24,04 66 27,78 116 30,57 166 34,19 17 24,18 67 27,82 117 30,61 167 34,29 18 24,29 68 27,91 118 30,70 168 34,44 19 24,40 69 27,95 119 30,75 169 34,54 20 24,51 70 28,03 120 30,80 170 34,65 21 24,62 71 28,07 121 30,89 171 34,75 22 24,69 72 28,12 122 30,93 172 34,86 23 24,80 73 28,20 123 30,98 173 34,96 24 24,92 74 28,24 124 31,03 174 35,12 25 24,99 75 28,28 125 31,12 175 35,22 26 25,07 76 28,37 126 31,17 176 35,38 27 25,18 77 28,41 127 31,26 177 35,49 28 25,25 78 28,45 128 31,31 178 35,64 29 25,33 79 28,50 129 31,35 179 35,75 30 25,40 80 28,58 130 31,40 180 35,91 31 25,48 81 28,62 131 31,49 181 36,07 32 25,59 82 28,67 132 31,54 182 36,23 33 25,67 83 28,75 133 31,63 183 36,40 34 25,75 84 28,80 134 31,68 184 36,56 35 25,82 85 28,84 135 31,73 185 36,78 36 25,86 86 28,88 136 31,82 186 37,00 37 25,98 87 28,97 137 31,87 187 37,22 38 26,02 88 29,01 138 31,97 188 37,44 39 26,10 89 29,05 139 32,01 189 37,67 40 26,17 90 29,10 140 32,11 190 37,89 41 26,25 91 29,14 141 32,16 191 38,23 42 26,29 92 29,23 142 32,21 192 38,52 43 26,37 93 29,27 143 32,30 193 38,87 44 26,45 94 29,32 144 32,35 194 39,27 45 26,53 95 29,40 145 32,45 195 39,75 46 26,57 96 29,45 146 32,54 196 40,28 47 26,65 97 29,49 147 32,59 197 41,01 48 26,73 98 29,54 148 32,64 198 42,00 49 26,77 99 29,62 149 32,74 199 43,60 50 26,85 100 29,67 150 32,79 200 46,42 CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 31 ∫∞∞− =σσ ∞<σ<∞−≥σ 1d)(fe para0)(f yy yy 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Fr eq uê nc ia (% ) Tensão (kN/cm2) Se a f.d.p de uma variável aleatória, yσ por exemplo, que tome todos os valores reais ∞<<∞− yσ , é da forma ( ) 2 2 1 2 1 ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ −− = δ σσ πδσ y ef y diz-se que ela tem uma distribuição normal. 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 4,0 0,00 0,05 0,10 0,15 Distribuição Normal y Média = Moda f.d .p . σ Se analisarmos a f.d.p. de yσ , para os valores apresentados na tabela, observa-se que há diferença entre a moda (maior valor da CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 32 distribuição) e a média. 15 20 25 30 35 40 45 50 0 10 20 30 40 σy Moda = 29 Média = 30,06 f.d .p . Uma distribuição log-normal de densidade de probabilidade para a variável aleatória yσ é uma distribuição tal que ln yσ apresenta uma distribuição normal de densidades de probabilidade. A figura a seguir apresenta a f.d.p para os dados do problema. 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 0 5 10 15 20 25 30 Média = 3,39 ln (σ) Sendo mσ e c, respectivamente a média e o coeficiente de variação da distribuição log-normal. A distribuição normal de ln yσ apresenta média ln β e desvio padrão δ dados por: CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 33 ( ) 2/2 21 δσβδ −=+= eecnl y No caso de ter-se c = 0,15 (15%), vem: ( ) 39,3ln cm/kN6681,29ex30 1492,015,01nl 22/)1492,0( 2 2 =β∴ ==β =+=δ − A partir da máxima tensão que ocorre na estrutura pode-se obter o correspondente valor de P: l6 hbP hb lP6 2 2 σ=∴=σ Fazendo-se iy / γσ=σ=σ , para os valores de iγ do problema, obtém-se: iγ σ (kN/cm2) P (kN) 1,0 30 240 2,0 15 120 3,0 10 80 Para calcularmos as probabilidades de ruína correspondentes aos valores de P obtidos, deve-se considerar a forma reduzida da f.d.p. de yσ , da forma ( ) π=σ − 2 e)(lnf 2/u y 2 , onde δ β−σ= nlnlu . A probabilidade da variável yσ situar-se em um intervalo (a,b) será expressa por: ( ) ( )yba 2/uy de21bap 2 σπ=≤σ≤ ∫ − que é representada pela área hachurada da figura, entre os valores “a” e “b”. Analogamente, fixada uma certa probabilidade “p”, pode ser CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 34 determinado o intervalo em torno da média (no caso βln ) dentro do qual devem estar situados todos os valores da variável, definindo-se tal intervalo em função do parâmetro u(p%) e do desvio padrão δ . ba δδ ln ( ) + u(p%)ββln ( ) - u(p%) βln ( ) = = p % ( )σln y de ns id ad e de p ro ba bi lid ad e Entretanto, esta integral não pode ser calculada pelos meios comuns, uma vez que não é possível encontrar uma função cuja derivada seja igual a 2/u2e− , sendo necessário recorrer a métodos de integração numérica que permitem a tabulação dos valores de “p” em função de “u”. Por exemplo, para o concreto, as normas prevêem que a probabilidade de que, em apenas 5% dos casos, a resistência do concreto possa apresentar valor inferior à resistência característica calculada. Assim, o quantil de 5% (p = 0,05) deve ser procurado na tabela da distribuição normal para obter-se o correspondente valor de “u”. Utilizando-se, por exemplo, a tabela apresentada por Meyer, P.L. (Probabilidade: Aplicações à Estatística, p.369-370), obtém-se: - para p = 0,9495 ⇒ u = 1,64 - para p = 0,9505 ⇒ u = 1,65 Interpolando-se os valores, linearmente,tem-se: - para p = 0,95 ⇒ u = 1,645 Portanto, a resistência característica do concreto deve ser calculada como: δ−= 645,1ff cjck CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 35 - onde fcj é a resistência média dos corpos de prova ensaiados e δ é o desvio padrão do lote ensaiado. Para o caso do exemplo, utilizando as tabelas, obtém-se: - ( ) ( ) ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ ⇔= =−=⇒=σ %97,525297,0p 0745,0 1492,0 6681,29ln30lnu cm/kN30 2 - ( ) ( ) ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ ⇔= −=−=⇒= − %001,010 5712,4 1492,0 6681,29ln15ln /15 5 2 p u cmkNσ - ( ) ( ) ⎪⎩ ⎪⎨ ⎧ ⇔= −=−=⇒=σ − %000000001,010p 2888,7 1492,0 6681,29ln10lnu cm/kN10 11 2 Deve-se observar que a variação da probabilidade de ruína, embora tenha uma relação direta com o valor da tensão máxima atuante na estrutura ou à carga P aplicada, não é diretamente proporcional a ela, ou seja, uma redução de 50% na tensão máxima atuante (de 30 para 15 kN/cm2) reduziu a probabilidade de ruína de 52,97% para 0,001%, correspondente a uma redução de 99,8%. Para melhor observação desse fenômeno, vamos considerar ainda os valores 1,5 e 1,515 para de iγ , obtendo-se: iγ σ (kN/cm2) P (kN) u p (%) 1,5 20 160 -2,64 0,41 1,515 19,8 158,4 -2,71 0,34 0,8 37,5 300 1,57 94,18 Observa-se que a redução de 1% na carga aplicada resultou em 17%, aproximadamente, de redução da probabilidade de ruína. A última linha da tabela acima foi incluída para que seja observado que probabilisticamente, o fato de a tensão máxima atuante ter superado a tensão média 22 /30/5,37 cmkNcmkN m =>= σσ não implica, necessariamente, em ruína da estrutura, havendo 94,18 % de probabilidade de que isto venha a acontecer. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 36 Existem ainda outras idéias fundamentais que podem ser agora introduzidas, como por exemplo, as interpretações físicas da probabilidade de ruína de uma estrutura. A probabilidade “p” de um certo evento pode ser entendida como o limite para o qual tende a freqüência relativa da ocorrência daquele evento, quando o número de repetição das situações em que ele pode ocorrer tende para infinito. Assim sendo, se forem construídas e carregadas “n” estruturas igualmente especificadas e controladas, se o número de ruínas for “r”, à medida que “n” crescer, a relação r/n tenderá a “p”, podendo-se, para um “n” suficientemente grande, supor npr = . Por exemplo, se 410p −= , para “n” suficientemente grande, 1 em cada 10000 estruturas construídas deverá atingir a ruína. Por intermédio da probabilidade de ruína de uma estrutura, pode-se chegar a uma medida conceitualmente perfeita da segurança de uma estrutura. Sendo “p” a probabilidade de ruína, (1 – p) pode expressar a segurança, levando em consideração todos os fatores que influem na mesma. Entretanto, devido aos valores assumidos por “p”, a possibilidade de sobrevivência de uma estrutura apresenta uma faixa de variação muito estreita, por exemplo, entre 0,999 e 0,999999, o que torna inconveniente a sua utilização corrente, face à sua falta de sensibilidade numérica. Para contornar esse inconveniente, diversas medidas da segurança podem ser introduzidas, sendo uma delas, perfeitamente satisfatória, o índice de segurança, definido por s = colog p. Do exemplo 8 pode-se, então extrair os seguintes valores de “s”: iγ p s 0,8 0,9418 0,026 1,0 0,5297 0,28 1,5 0,0041 2,39 1,515 0,0034 2,47 2 10-5 5 3 10-11 11 CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 37 Portanto, dentro da concepção probabilística que, obrigatoriamente, deve ser introduzida nos métodos de dimensionamento, os conceitos de coeficientes de segurança devem ser abandonados, por não representarem, efetiva e satisfatoriamente, o conceito de segurança desejado. Apesar disso, será visto a seguir, que no estágio atual de desenvolvimento dos métodos probabilísticos de dimensionamento, ainda parecer ser conveniente a manutenção dos coeficientes de segurança, principalmente em face das grandes dificuldades ainda existentes para o cálculo de “s” nos casos reais de projeto. No entanto, a sua manutenção só pode e somente deve ser feita sabendo-se que ela é provisória, é formalmente imperfeita e deve subordinar-se, sempre que possível, aos métodos probabilísticos. A conclusão de que a segurança estrutural é um problema probabilístico tem implicações conceituais, éticas e econômicas. O conceito de que uma estrutura, ao ser projetada e construída, apresenta sempre uma probabilidade de ruína pode parecer chocante a muitas pessoas e mesmo a muitos engenheiros. Durante muitos e muitos anos, a teoria das estruturas deu a falsa sensação de que era possível alcançar uma segurança absoluta, especialmente se houvesse um controle operacional das ações que viessem a agir sobre a estrutura. Embora desde 1936 já estivesse clara a conceituação probabilística, apenas recentemente ela vem impondo-se de uma forma mais ampla. Assim, resta aos engenheiros projetar e construir estruturas que apresentem baixas probabilidades de ruína, comparáveis àquelas probabilidades de risco inevitáveis, ligados a outras atividades humanas. Por exemplo, a probabilidade de uma pessoa ser morta em acidentes de estradas é de 0,7%, igual à probabilidade de sofrer um acidente uma pessoa que voa 10 horas por ano. Para uma pessoa que faz 300 viagens de trem por ano, a probabilidade de acidente é de 0,2%, enquanto a probabilidade de que qualquer pessoa, em perfeitas condições físicas e mentais venha a falecer, antes de terminar o dia, é da ordem de 10-5. Considerações desse tipo acabam por levar à conclusão de que são CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 38 normalmente admissíveis para as estruturas probabilidades de ruína entre 10-3 e 10-6, ou seja, valores do índice de segurança “s” de 3 a 6. Sob o aspecto ético, cabe ao engenheiro definir as probabilidades de ruína aceitáveis em cada situação, levando em consideração não só os riscos humanos e materiais envolvidos mas, principalmente, considerando o fato consumado de que o risco é inevitável. Por outro lado, cabe à sociedade passar a entender e a julgar os engenheiros, considerando a inevitabilidade desse risco e a não pressupor que eles trabalham com segurança absoluta. Porém, para que isso possa efetivamente ocorrer, é essencial que os próprios engenheiros distingam, clara e corajosamente, no caso de acidentes, aqueles devidos a erros de projeto ou de execução, daqueles devidos à aleatoriedade inevitável dos fatores de que a segurança depende. Sob o aspecto econômico, cabe ao engenheiro tomar uma decisão perante a incerteza, fixando a probabilidade de ruína “p” com que irá projetar e construir uma certa estrutura, levando em consideração os custos da construção e o montante de danos decorrentes de uma eventual ruína da mesma. CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 39 1.6 – Método dos Estados Limites O conceito de dimensionamento nos estados limites foi desenvolvido na Rússia, de 1947 a 1949, aprovado em 1955 e introduzido na Engenharia Civil em1958. Foi a primeira tentativa de disciplinar todos os aspectos da análise de estruturas, incluindo a especificação de ações e a análise da segurança. É um critério utilizado para definir um limite acima do qual um elemento da estrutura não poderá mais ser utilizado (estado limite de utilização), ou acima do qual será considerado inseguro (estado limite último). Portanto, quando um elemento da estrutura tornar-se inadequado para utilização, ou quando uma estrutura deixar de satisfazer a uma das finalidades de sua construção, diz-se que ela atingiu um estado limite, ou, por extensão, que atingiu a ruína. Combinando-se esta definição com a conceituação de segurança, pode-se dizer que segurança de uma estrutura é a capacidade que ela apresenta de suportar as diversas ações que vierem a solicitá-la durante a sua vida útil, sem atingir qualquer estado limite. Como visto, os estados limites podem ser classificados em duas categorias: - estados limites últimos - estados limites de utilização Os estados limites últimos são aqueles correspondentes ao esgotamento da capacidade portante da estrutura, podendo ser originados, em geral, por um ou vários dos seguintes fenômenos: - perda da estabilidade de equilíbrio de uma parte ou do conjunto da estrutura, assimilada a um corpo rígido. Por exemplo, tombamento, arrancamento de suas fundações, etc.; CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 40 - colapso da estrutura, ou seja, transformação da estrutura original em uma estrutura parcial ou totalmente hipostática, por plastificação; - perda da estabilidade de uma parte ou do conjunto da estrutura, por deformação; - deformações elásticas ou plásticas, deformação lenta e fissuração (no caso de concreto estrutural) que provoquem uma mudança de geometria que exija uma substituição da estrutura; - perda de capacidade se sustentação por parte de seus elementos, ruptura de seções, por Ter sido ultrapassada a resistência do material, sua resistência à flambagem, à fadiga, etc.; - propagação de um colapso que inicia-se em um ponto ou região da estrutura, para uma situação de colapso total (colapso progressivo ou falta de integridade estrutural); - grandes deformações, transformação em mecanismo, instabilidade global. De forma geral, pode-se dizer que os estados limites últimos estão relacionados ao colapso da estrutura ou de parte dela (colapso real ou convencional), com uma probabilidade muito pequena de ocorrência, uma vez que terá como conseqüência a possível perda de vidas humanas e da propriedade. Um estado limite último também pode ocorrer devido à sensibilidade da estrutura aos efeitos da repetição das ações, do fogo, de uma explosão, etc. Estas causas devem ser consideradas por ocasião da concepção da estrutura e os estados limites últimos a elas associados deverão ser obrigatoriamente verificados, mesmo não estando previstos explicitamente nas normas de dimensionamento. Os estados limites de utilização estão relacionados à interrupção da utilização normal da estrutura, aos danos e à deterioração da mesma. Para esses estados limites poderá ser tolerada maior probabilidade de ocorrência, CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 41 pelo fato de não representarem situações tão perigosas quanto os estados limites últimos. Em última análise, os estados limites de utilização correspondem às exigências funcionais e de durabilidade da estrutura, podendo ser originados, em geral, por um ou vários dos seguintes fenômenos: - deformações excessivas para uma utilização normal da estrutura como, por exemplo, flechas ou rotações que afetam a aparência da estrutura, o uso funcional ou a drenagem de um edifício, ou que possam causar danos a componentes não estruturais e aos seus elementos de ligação; - deslocamentos excessivos, sem perda de equilíbrio; - danos locais excessivos (fissuração, rachaduras, corrosão, escoamento localizado ou deslizamento) que afetam a aparência, a utilização ou a durabilidade da estrutura; - vibração excessiva que afeta o conforto dos ocupantes da edificação ou a operação de equipamentos. O dimensionamento pelo método dos estados limites é um processo que envolve: 1) a identificação de todos os modos de colapso ou maneiras pelas quais a estrutura poderia deixar de cumprir as finalidades para as quais foi projetada (estados limites); 2) a determinação de níveis aceitáveis de segurança contra a ocorrência de cada estado limite; 3) a consideração, pelo calculista da estrutura, dos estados limites significativos. No projeto de edifícios comuns, os itens (1) e (2) são contemplados pelas normas, como por exemplo a NBR 8800/86 – Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios, que indica os estados limites que devem ser considerados. Para estruturas corriqueiras, o calculista é responsável pelo item (3), geralmente começando-se pelo estado limite mais crítico. Dentre as etapas enumeradas acima, a etapa (2) é aquela que CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 42 envolve a introdução da segurança aceitável ou desejável, relativamente a cada estado limite pertinente, baseando-se em métodos probabilísticos para levar em consideração a variabilidade das ações e das resistências, embora, no projeto de uma estrutura, o calculista não tenha que trabalhar, explicitamente, com o cálculo de probabilidades. As principais vantagens do método de dimensionamento baseado no conceito de estados limites (método dos estados limites) são as seguintes: • confiabilidade mais coerente entre as várias situações de projeto, uma vez que a variabilidade das resistências e das ações é representada, de forma explícita e independente, para resistências e ações; • possibilidade de escolha do nível de confiabilidade, de tal forma que possa refletir as consequências do colapso; • melhor possibilidade de compreensão, por parte do calculista, dos requisitos a serem atendidos pela estrutura e do comportamento estrutural necessário para que esses requisitos sejam atendidos; • simplicidade do processo de dimensionamento; • permite ao calculista a avaliação de situações não rotineiras de projeto; • permite, de maneira mais racional, a atualização das normas de dimensionamento, em função dos avanços na determinação das variabilidades das ações e das resistências; • utiliza variáveis probabilísticas, refletindo melhor o caráter dos fenômenos envolvidos. 1.6.1 – Verificação de projeto No dimensionamento de uma estrutura, o objetivo do calculista é assegurar-se, com razoável nível de probabilidade, que, no todo ou em parte, a estrutura não atingirá um estado limite, durante a sua construção ou CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 43 durante o período previsto para sua utilização (vida útil). Para alcançar este objetivo, o dimensionamento pelo método dos estados limites consiste, essencialmente, na determinação das ações, ou sua combinação, cujos efeitos conduzem a estrutura a um estado limite e garantir que são superiores às ações, determinadas probabilisticamente, a que ela pode estar sujeita nesse período. Na prática, o processo de verificação é, no entanto, inverso e baseia- se no conceitode efeito das ações (Sd) e no conceito de resistência correspondente (Rd) e em garantir-se que : dd RS ≤ O caráter semi-probabilístico da verificação da segurança e das boas condições de serviço (confiabilidade) é introduzido definindo-se as ações e as resistências dos materiais através de seus valores característicos (Sk e Rk) determinados estatisticamente ou baseados na prática de projeto. Por sua vez, os valores de cálculo (ou de projeto) das ações (ou seus efeitos) e das resistências são obtidos dos correspondentes valores representativos, afetados por fatores de segurança, respectivamente fγ e mγ , determinados por considerações probabilísticas para cada tipo de estado limite, geralmente como produtos de coeficientes parciais. A subdivisão em coeficientes γ parciais tem por objetivo quantificar, separadamente, as várias causas de incerteza, umas quantificáveis CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 44 probabilisticamente e outras dependentes de opções subjetivas. O fator fγ paras as ações (F) e efeitos S(F) e’, geralmente, considerado como produto de três fatores: - 1f γ ⇒ para levar em consideração a possibilidade de ocorrência de ações que se afastem do valor característico; - 2f γ ⇒ chamado fator de combinação, cuja função é traduzir a probabilidade reduzida de todas as ações, que atuam combinadas, atingirem valores elevados simultaneamente. Este fator é, usualmente, identificado como 0ψ ; - 3f γ ⇒ para levar em consideração a imprecisão na determinação dos efeitos das ações (solicitações ou tensões) e o efeito da variação das dimensões nos esforços gerados na montagem ou execução. Para quantificação dos vários fγ e, para o estabelecimento das regras de combinação, as ações são classificadas, segundo sua variabilidade ao longo do tempo, em três categorias: - permanentes (G) - variáveis (Q) - excepcionais (E) As ações permanentes são aquelas cuja variação no tempo é desprezível em relação ao tempo médio de vida útil da estrutura, podendo ser divididas em duas classes: - diretas ⇒ são consideradas ações permanentes diretas os pesos próprios da estrutura e de todos os elementos construtivos permanentes, os pesos dos equipamentos fixos e os empuxos devidos ao peso próprio de terras não removíveis e de outras ações sobre elas aplicadas e, em casos particulares, os empuxos hidrostáticos também podem ser considerados como permanentes; - indiretas ⇒ são consideradas como ações permanentes CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 45 indiretas a protensão, os recalques de apoio e a retração dos materiais. São consideradas como ações variáveis as cargas acidentais das construções, bem como seus efeitos, tais como forças de frenagem, de impacto e centrífugas, os efeitos do vento, das variações de temperatura, do atrito nos aparelhos de apoio e, em geral, as pressões hidrostáticas e hidrodinâmicas. Em função de sua probabilidade de ocorrência durante a vida útil da construção, as ações variáveis são classificadas em normais ou especiais. As ações variáveis normais são aquelas cuja probabilidade de ocorrência é suficientemente grande para que sejam, obrigatoriamente, consideradas no projetos das estruturas de um determinado tipo de construção, enquanto são classificadas como ações variáveis especiais as ações sísmicas ou cargas acidentais de natureza ou intensidades especiais, atuantes em tipos particulares de estruturas. Exemplos: • nos edifícios habitacionais - sobrecarga devido à utilização da edificação (pessoas, objetos, mobiliário, etc.) e forças devidas à pressão do vento. • nos edifícios industriais e comerciais - sobrecarga de utilização (equipamentos, pessoas, etc.) e forças devidas à pressão do vento • nas pontes e passarelas - sobrecarga de utilização (pessoas e veículos) e forças devidas ao vento • nas barragens e centrais nucleares - efeitos de natureza sísmica São consideradas como ações excepcionais as decorrentes explosões, choques de veículos, incêndios, enchentes ou sismos excepcionais. Os incêndios, ao invés de serem tratados como causa de ações excepcionais, também podem ser levados em consideração por CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 46 intermédio de redução do valor das propriedades físicas dos materiais constitutivos da estrutura. Tendo em vista as diversas ações levadas em consideração no projeto, o índice do coeficiente fγ pode ser alterado para identificar a ação considerada, resultando nos símbolos gγ , qγ , pγ e εγ , respectivamente para as ações permanentes, variáveis, de protensão e para os efeitos de deformações impostas (ações indiretas). Os valores representativos das ações, como já comentado, podem ser valores característicos, característicos nominais, reduzidos de combinação, convencionais excepcionais, reduzidos de utilização e valores raros de utilização, de acordo com o estado limite em questão. Assim, para os estados limites últimos, são considerados os seguintes valores representativos: 1. valores característicos • os valores característicos Fk das ações são definidos em função da variabilidade de suas intensidades; • os valores característicos das ações variáveis, estabelecidos por consenso e indicados em normas específicas, correspondem a valores que têm 25% a 35% de probabilidade de serem ultrapassados no sentido desfavorável, durante um CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________ 47 período de 50 anos; • para as ações permanentes que produzam efeitos desfavoráveis na estrutura, o valor característico corresponde ao quantil de 95% da respectiva distribuição de probabilidade (valor característico superior) e, para as aquelas que produzem efeitos favoráveis o valor característico corresponde ao quantil de 5% de suas distribuições (valor característico inferior). 2. valores característicos nominais • para as ações que não tenham sua variabilidade adequadamente expressa por distribuições de probabilidade, os valores característicos são substituídos por valores nominais, convenientemente escolhidos. 3. valores reduzidos de combinação • são determinados a partir dos valores característicos, pela expressão k0 FΨ e são empregados nas condições de segurança relativas a estados limites últimos, quando existem ações variáveis de diferentes naturezas, levando em consideração a baixa probabilidade de ocorrência simultânea dos valores característicos de duas ou mais dessas ações; • por simplicidade, qualquer que seja a natureza das ações variáveis, o valores de 0Ψ é único. 4. valores convencionais excepcionais • são valores arbitrados para as ações excepcionais, estabelecidos por consenso entre o proprietário da construção e as autoridades governamentais que nela tenham interesse. Para os estados limites de utilização, os valores representativos são: 1. valores reduzidos de utilização • são determinados a partir dos valores característicos, pelas expressões k1 FΨ e k2 FΨ , e empregados, respectivamente, na verificação da segurança em relação a estados limites de CIV 403 – Sistemas Estruturais _________________________________________________________________________________________________________________
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