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Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
SERVIÇOS PÚBLICOS 
 É válida a interrupção do serviço público por razões de ordem técnica se houve prévio aviso por meio da rádio. 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 Não se aplica a teoria do fato consumado para remoção realizada fora das hipóteses legais. 
 URV e 11,98%. 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
 Competência para instaurar e julgar PAD relacionado com servidor cedido. 
 
DIREITO CIVIL 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 Agressões físicas ou verbais praticadas por adulto contra criança geram dano moral in re ipsa. 
 
CONTRATO DE SEGURO 
 Não é devida a indenização prevista em contrato de seguro de RC D&O caso o segurado tenha praticado insider 
trading. 
 
DPVAT 
 Sucessores do falecido podem cobrar a indenização DPVAT por invalidez permanente que a vítima deveria ter 
recebido quando estava viva. 
 
DIVÓRCIO 
 Ex-cônjuge que está utilizando o bem comum de forma exclusiva poderá ser condenado a indenizar o outro 
mesmo que ainda não tenha havido partilha. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
VÍCIO DO PRODUTO 
 É válida a prática de loja que permite a troca direta do produto viciado se feita em até 3 dias da compra. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 O juízo da recuperação judicial é o competente para decidir sobre os bens da empresa devedora mesmo que 
tramite em outro juízo execução cobrando crédito decorrente de relação de consumo. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS PERICIAIS 
 Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a condenação em custas processuais é possível incluir a 
cobrança dos honorários periciais. 
 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PENAL 
EXTORSÃO 
 A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça feita pelo agente de causar um "mal espiritual" na vítima. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 
 Pagamento da multa tributária não extingue a punibilidade do crime previsto no art. 1º, V, da Lei 8.137/90. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
SOLDADOS DA BORRACHA 
 Antes da Lei nº 9.711/98 bastava a justificação para comprovar o exercício da atividade de seringueiro, não sendo 
necessário início de prova material. 
 
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 
 Incide contribuição do PSS sobre a correção monetária dos valores remuneratórios atrasados recebidos pelo 
servidor público por força de decisão judicial. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
SERVIÇOS PÚBLICOS 
É válida a interrupção do serviço público por razões de ordem técnica 
se houve prévio aviso por meio de rádio 
 
Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem interrupções 
(princípio da continuidade do serviço público). 
Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses 
previstas no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: 
a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso prévio); 
b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que o usuário seja 
previamente avisado; 
c) Por causa de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado. 
Se a concessionária de energia elétrica divulga, por meio de aviso nas emissoras de rádio do 
Município, que haverá, daqui a alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia elétrica 
por algumas horas em virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a exigência da Lei 
nº 8.987/95? 
SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio de 
emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no 
art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info 598). 
 
Princípio da continuidade dos serviços públicos 
Os serviços públicos são considerados essenciais ou necessários à coletividade. Por essa razão, eles não 
devem ser interrompidos. A isso chamamos de princípio da continuidade dos serviços públicos. 
 
Lei nº 8.987/95 
A Lei nº 8.987/95 dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos. 
Em seu art. 6º, essa Lei afirma que a concessão ou permissão deverá ser feita com a prestação de um 
serviço adequado. 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Serviço adequado é aquele prestado com regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, 
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas (art. 6º, § 1º). 
Assim, para que o serviço público seja considerado adequado, ele não poderá ter interrupções. Deverá ser 
prestado com continuidade. 
 
Exceções em que será possível a interrupção do serviço público 
A própria Lei nº 8.987/95 prevê, contudo, situações excepcionais em que poderá haver a interrupção dos 
serviço público (art. 6º, § 3º). 
Assim, em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua. 
Excepcionalmente, será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses (Lei n.º 
8.987/95): 
a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso prévio); 
b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que o usuário seja previamente 
avisado. 
c) Por causa de inadimplemento do usuário, desde que seja previamente avisado. 
 
Veja a redação do art. 6º, § 3º: 
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou 
após prévio aviso, quando: 
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, 
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. 
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine agora a seguinte situação adaptada: 
A empresa concessionária de energia elétrica comunicou, por meio de aviso divulgado em três rádios do 
Município, que haveria, dentro de alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia elétrica por 
algumas horas em virtude de razões de ordem técnica. 
Determinado consumidor não ouviu o comunicado e sentiu-se prejudicado em virtude da interrupção, 
motivo pelo qual ingressou com ação de indenização contra a concessionária. 
O juiz julgou procedente o pedido argumentando que a concessionária não cumpriu seu dever legal de 
prévio aviso previsto no art. 6º, § 3º da Lei nº 8.987/95. Segundo o magistrado, a divulgação por meio de 
estação de rádio não é garantia de que todos os consumidores tenham tomado ciência do desligamento, 
visto que nem todos escutam frequentemente o aparelho ou estavam ouvindo no momento da divulgação. 
 
Agiu corretamente o juiz? 
NÃO. 
A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio de emissoras de 
rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 
8.987/95. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info 598). 
 
Segundo entendeu o STJ, a Lei nº 8.987/95 não explicita a forma como deva ocorrer o aviso de interrupção 
do fornecimento do serviço, razão pela qual a divulgação em emissoras de rádio com cobertura no 
Município dias antes da suspensão satisfaz a exigência prevista na lei. 
O rádio é um dos meios mais populares e o de maior alcance público, e por estas razões há que se 
reconhecer a ocorrência de aviso prévio válido e apto a produzir efeitos. Em sendo assim, não houve 
descumprimento legal por parte da concessionária. 
Assim, considerando que a concessionária atendeu o requisito legal de avisar previamente os 
consumidores do desligamento temporário da energia elétrica, por motivo de ordem técnica, não há 
motivo para condená-la a pagar indenização por danos morais. 
 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Nãose aplica a teoria do fato consumado para remoção realizada fora das hipóteses legais 
 
Atenção! Advocacia Pública 
A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor 
público destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade 
estrita, ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar 
não confirmada por ocasião do julgamento de mérito. 
Em outras palavras, se a pessoa consegue uma decisão provisória garantindo a ela a remoção 
e, posteriormente, esta decisão é revogada, esta remoção terá que ser desfeita mesmo que já 
tenha se passado muitos anos. 
Não se aplica a "Teoria do Fato Consumado" em relação a atos praticados sob contestação 
das pessoas envolvidas, que o reputam irregular e manifestam a existência da 
irregularidade nas vias adequadas, ainda que, pela demora no transcurso do procedimento 
destinado à apuração da legalidade do ato, este gere efeitos no mundo concreto. 
Verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deve ser desfeito, preservando-se apenas aquilo 
que, pela consolidação fática irreversível, não puder ser restituído ao status quo ante. 
Se a Administração Pública, mesmo após a decisão liminar, continuou questionando no 
processo a legalidade da remoção do servidor/autor, não se pode aplicar a teoria do fato 
consumado, devendo o ato ser desfeito, salvo se tivesse havido uma consolidação fática 
irreversível (ou seja, se não fosse mais possível voltar ao "status quo ante"). 
STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/12/2016 (Info 598). 
 
REMOÇÃO 
Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem 
mudança de sede (art. 36 da Lei nº 8.112/90). 
 
Modalidades de remoção previstas na Lei nº 8.112/90: 
 Remoção ex officio: é aquela que ocorre por imposição da Administração Pública (art. 36, parágrafo 
único, I); 
 Remoção a pedido do próprio servidor: como o próprio nome indica, é aquela na qual o servidor 
requer sua mudança (art. 36, parágrafo único, II e III). 
 
Veja a redação dos dispositivos legais: 
Art. 36 (...) 
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção: 
I – de ofício, no interesse da Administração; 
II – a pedido, a critério da Administração; 
III – a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração: 
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da 
Administração; 
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e 
conste do seu assentamento funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial; 
c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número de interessados for superior 
ao número de vagas, de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles 
estejam lotados. 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Remoção para acompanhar cônjuge 
A Lei nº 8.112/90 prevê que o servidor público federal tem direito subjetivo de ser removido para 
acompanhar seu cônjuge/companheiro que tiver sido removido no interesse da Administração. 
Ex: João e Maria, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife. 
João é removido de ofício, no interesse da Administração, para Porto Velho (art. 36, parágrafo único, I da 
Lei nº 8.112/90). Logo, Maria tem direito de também ser removida para Porto Velho, acompanhando seu 
cônjuge. 
Essa regra está prevista no art. 36, parágrafo único, III, “a” da Lei nº 8.112/90: 
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção: 
(...) 
III – a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração: 
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da 
Administração; 
 
Se o cônjuge do servidor público for aprovado em um concurso público e tiver que se mudar para tomar 
posse, este servidor terá direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 
8.112/90? Ex.: Eduardo e Mônica são casados e moram em Boa Vista. Eduardo é servidor público federal 
e Mônica estuda para concurso. Mônica é, então, aprovada para um cargo público federal e sua lotação 
inicial é Fortaleza. Eduardo terá direito de se remover para Fortaleza para acompanhar sua esposa? 
NÃO. De acordo com o art. 36, III, "a" da Lei nº 8.112/90, a remoção para acompanhamento de cônjuge 
exige prévio deslocamento de qualquer deles no interesse da Administração, inadmitindo-se qualquer 
outra forma de alteração de domicílio. 
O STJ considera que se a pessoa tem que alterar seu domicílio em virtude da aprovação em concurso 
público, isso ocorre no interesse próprio da pessoa (e não no interesse da Administração). Assim, não há 
direito subjetivo à remoção do art. 36, III, "a", da Lei nº 8.112/90, considerando que a pessoa estava ciente 
de que iria assumir o cargo em local diverso da residência do cônjuge. 
Veja precedente neste sentido: 
(...) 2. Dispõe a Lei 8.112/80, em seu artigo 36, inciso III, alínea "a" que a remoção a pedido do servidor 
para acompanhamento de cônjuge ou companheiro, independentemente da existência de vaga, exige 
obrigatoriamente o cumprimento de requisito específico, qual seja, que o cônjuge seja servidor público, 
removido no interesse da Administração, não se admitindo qualquer outra forma de alteração de 
domicílio. 
3. Da leitura dos autos, extrai-se que o pedido de remoção foi motivado pela aprovação de um dos 
recorrentes em concurso público para o cargo efetivo de Escrivão da Polícia Federal, tendo sido lotado em 
município diverso do domicílio do casal. 
4. No caso, não se configurou aquele requisito - deslocamento no interesse da Administração, pois o 
cônjuge assumiu cargo em outra localidade de forma voluntária, objetivando satisfazer interesse próprio. 
Ou seja, o caso dos autos versa sobre assunção de forma originária em cargo público federal, após 
aprovação em concurso público, e não de remoção por obra da Administração. 
5. Inevitável perceber, portanto, que os recorrentes não se enquadram entre as hipóteses taxativas do art. 
36 da Lei 8.112/90. (...) 
STJ. 2ª Turma. REsp 1310531/CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 06/11/2012. 
 
Vamos voltar ao exemplo de Eduardo e Mônica: 
Como vimos, Mônica foi aprovada em um concurso público e lotada em Fortaleza. Eduardo pediu a 
remoção para a capital cearense a fim de acompanhar sua esposa, tendo isso sido negado pela 
Administração Pública. 
Eduardo não se conformou e ingressou com ação judicial. O juiz concedeu a tutela antecipada de urgência 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
determinando a remoção do autor para Fortaleza. A Administração Pública cumpriu a decisão 
interlocutória e efetuou a remoção de Eduardo. 
Ocorre que, depois de 10 anos exercendo o cargo em Fortaleza, a ação foi julgada improcedente, com 
trânsito em julgado, tendo a Administração Pública determinado o seu retorno a Boa Vista. 
Diante disso, Eduardo impetrou mandado de segurança pedindo para que continue lotado em Fortaleza 
invocando a teoria do "fato consumado", uma vez que já exercia a função há muitos anos naquela 
localidade. 
 
O pedido de Eduardo será aceito pelo STJ? O STJ admite a aplicação da teoria do fato consumado para 
os casos de remoção determinada por decisão judicial posteriormente revogada? 
NÃO. 
A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidarremoção de servidor público 
destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda 
que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não confirmada por 
ocasião do julgamento de mérito. 
STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/12/2016 (Info 598). 
 
O que é a Teoria do Fato Consumado? 
Segundo esta teoria, as situações jurídicas consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas por decisão 
judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das 
relações sociais (STJ. REsp 709.934/RJ). 
Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e, 
após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída, 
para que não haja insegurança jurídica. 
"A teoria do fato consumado foi construída ao longo dos anos como um mecanismo de estabilização de 
atos ou decisões, em casos excepcionais, nos quais a restauração da estrita legalidade seria faticamente 
impossível ou, ainda que possível, causaria danos sociais de grande monta e irreparáveis, com 
malferimento do postulado da segurança jurídica." (Min. Raul Araújo). 
Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo. 
 
Art. 54 da Lei nº 9.784/99 
A teoria do fato consumado guarda íntima relação com a convalidação dos atos administrativos, 
atualmente regulada pelo art. 54 da Lei nº 9.784/99, que dispõe: 
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para 
os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. 
§ 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do 
primeiro pagamento. 
§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que 
importe impugnação à validade do ato. 
 
Influência do comportamento das partes na aplicação da teoria 
O comportamento das partes influencia na aplicação ou não da teoria do fato consumado. Veja: 
1ª) Se o ato contrário à lei é praticado sem dolo e sem contestação de ninguém, vigorando por anos com 
aparência de legalidade: neste caso, o ato deverá ser preservado em homenagem à segurança jurídica. 
Protege-se, com isso, a boa-fé e o princípio da confiança legítima do administrado. 
 
2ª) Se o ato praticado é questionado pela Administração Pública, que, desde o início defende que ele é 
irregular: neste caso não se deve aplicar a teoria do fato consumado, mesmo que tenha transcorrido muitos 
anos. Nessa segunda hipótese, verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deverá ser desfeito, salvo se tiver 
havido uma consolidação fática irreversível (ou seja, não é possível voltar ao "status quo ante"). 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
No exemplo dado, a Administração sempre apontou a ilegalidade no ato de lotação do servidor. Logo, o 
caso enquadra-se na segunda situação. Assim, nunca houve em relação à remoção do servidor 
concordância da Administração Pública, que se manteve em permanente resistência no plano processual. 
Tampouco houve consolidação de situação fática irreversível. 
Por outro lado, a remoção de servidor fora das hipóteses legais termina por desbalancear o quadro de 
lotação dos órgãos públicos, retirando da Administração a discricionariedade que a lei lhe outorgou na 
distribuição de sua força de trabalho, segundo as reais necessidades do serviço público. 
Em casos análogos, o STF tem rejeitado a aplicação da teoria do fato consumado: 
(...) 1. Lotação inicial em desacordo com as regras do edital. Inexistência de contrariedade ao art. 226 da 
Constituição da República. Precedentes. 2. Inaplicabilidade da teoria do fato consumado. (...) 
STF. 2ª Turma. RE 587934 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/03/2013. 
 
A teoria do fato consumado não se presta, assim, para mitigar a interpretação do art. 36, III, "a", da Lei 
8.112/90, assegurando ao servidor lotação para acompanhamento de cônjuge fora da estrita moldura 
normativa. 
Não se deve perder de vista que a teoria do fato consumado é de aplicação excepcional, e deve ser 
adotada com cuidado e moderação, para que não sirva de mecanismo para premiar quem não tem direito, 
pelo só fato da demora no julgamento definitivo da causa em que fora deferida uma decisão liminar, cuja 
duração deve ser provisória por natureza. 
 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
URV e 11,98% 
 
O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido em cada caso, oriundo das perdas 
salariais resultantes da conversão de cruzeiro real em URV, na remuneração do servidor, deve 
ocorrer no momento em que a carreira passa por uma restruturação remuneratória. 
STJ. 3ª Seção. EREsp 900.311-RN, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/2/2017 (Info 598). 
 
URV 
Antes da moeda que atualmente utilizamos, o "real", a moeda no Brasil era o "cruzeiro real". 
A Lei nº 8.880/94 (fruto da conversão da MP 482/2004) foi que instituiu o Plano real. 
No entanto, antes de concretizar a troca da moeda do Brasil para o "real", esta Lei previu que iria vigorar, 
durante certo tempo, a chamada URV (Unidade Real de Valor). 
Assim, todos os dias o Banco Central dizia o seguinte: 1 URV vale XX cruzeiros reais. 
Isso perdurou até que o "real" começou a ser emitido, substituindo tanto o cruzeiro real como a URV. 
 
Conversão da remuneração dos servidores de cruzeiro real para URV 
No momento em que a remuneração dos servidores foi transformada de cruzeiro real para URV, houve um 
erro de cálculo que fez com que milhares de servidores fossem prejudicados e tivessem um decréscimo de 
11,98% em seus rendimentos. 
Isso aconteceu porque a conversão ocorreu adotando-se a URV do último dia do mês, enquanto o 
pagamento dos servidores ocorria por volta do dia 05, fechando-se a folha de pagamento até o dia 20 de 
cada mês. Em decorrência disso, utilizou-se um divisor maior para se processar a conversão, provocando 
uma redução salarial, em grande parte dos casos, de 11.98% 
Vale ressaltar que, apesar da maioria ter tido prejuízo de 11,98%, esse índice (percentual) era diferente em 
caso de alguns outros servidores públicos. 
Diante deste cenário, milhares de servidores ingressaram com ações judiciais e conseguiram incorporar 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
em seus vencimentos o acréscimo de 11,98% (ou de outro índice obtido em cada caso concreto). 
Tais ações tiveram sucesso e os servidores passaram a receber, todos os meses, 11,98% a mais em sua 
remuneração. 
 
Até quando esse pagamento da incorporação dos 11,98% é devido? Ele é para sempre? 
NÃO. O STF afirmou que o pagamento dessa incorporação deveria durar até o momento em que houvesse 
uma lei reestruturando a remuneração da carreira. Isso porque, neste instante, são criadas novas regras 
remuneratórias que não envolvem esses 11,98%. 
Como explicou o Ministro Luiz Fux: 
"Ressoa destacar, por outro lado, que o aludido percentual não pode permanecer incorporado na 
remuneração do servidor após uma reestruturação remuneratória de sua carreira, sob pena de o 
agente público ficar indevidamente com o que há de melhor dos dois regimes: o regime anterior e 
o posterior à reestruturação. Assim, o termo ad quem da incorporação dos 11,98%, ou do índice 
calculado em processo de liquidação, é a data de vigência da lei que reestruturou a remuneração 
da sua carreira." (RE 561.836/RN). 
 
Enfim, a incorporação dos 11,98% (ou de outro índice específico) dura até que haja reestruturação na 
carreira. Havendo reestruturação, não é mais necessário o pagamento mensal deste índice. 
 
Veja trechos da ementa do julgado do STF que dirimiu essa questão: 
(...) 2) O direitoao percentual de 11,98%, ou do índice decorrente do processo de liquidação, na 
remuneração do servidor, resultante da equivocada conversão do Cruzeiro Real em URV, não representa 
um aumento na remuneração do servidor público, mas um reconhecimento da ocorrência de indevido 
decréscimo no momento da conversão da moeda (...) 
3) Consectariamente, o referido percentual deve ser incorporado à remuneração dos aludidos servidores, 
sem qualquer compensação ou abatimento em razão de aumentos remuneratórios supervenientes. 
(...) 
5) O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido em cada caso, na remuneração deve 
ocorrer no momento em que a carreira do servidor passa por uma restruturação remuneratória, 
porquanto não há direito à percepção ad aeternum de parcela de remuneração por servidor público. (...) 
STF. Plenário. RE 561836, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/09/2013. 
 
O STJ também aderiu ao entendimento e assim decidiu: 
O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido em cada caso, oriundo das perdas salariais 
resultantes da conversão de cruzeiro real em URV, na remuneração do servidor, deve ocorrer no 
momento em que a carreira passa por uma restruturação remuneratória. 
STJ. 3ª Seção. EREsp 900.311-RN, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/2/2017 (Info 598). 
 
 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Competência para instaurar e julgar PAD relacionado com servidor cedido 
 
Importante!!! 
A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer, 
preferencialmente, no órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade. 
Por outro lado, o julgamento e a eventual aplicação de sanção só podem ocorrer no órgão ao 
qual o servidor efetivo estiver vinculado. 
Ex: João é servidor efetivo (técnico judiciário) do TJDFT e foi cedido para um cargo em comissão 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
no STJ. Quando ainda estava prestando serviços no STJ, João praticou uma infração disciplinar. A 
Instauração do PAD deverá ser feita preferencialmente pelo STJ. Por outro lado, o julgamento do 
servidor e aplicação da sanção deverão ser realizados obrigatoriamente pelo TJDFT. 
STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min. João Otávio de 
Noronha, julgado em 16/11/2016 (Info 598). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é servidor efetivo (técnico judiciário) do TJDFT desde 2012. 
Em junho 2013, ele foi cedido para exercer, por dois anos, um cargo em comissão no STJ. Isso significa 
dizer que ele continuou sendo servidor do TJDFT, mas foi designado para exercer uma função no STJ por 
esse período. 
Em maio de 2015, quando ainda estava prestando serviços no STJ, João, por negligência, perdeu um 
processo que estava sob sua responsabilidade. Essa sua conduta configura infração disciplinar. 
Em junho de 2015, terminou a cessão de João e ele retornou ao TJDFT. 
 
Será instaurado um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta de João. Restou, no 
entanto, a dúvida: quem deverá ser o responsável por este PAD: o TJDFT (órgão de origem) ou o STJ 
(órgão no qual o servidor estava quando praticou a infração)? 
 Instauração do PAD: deverá ser feita preferencialmente pelo STJ (órgão no qual foi praticada a 
infração). 
 Julgamento do servidor e aplicação da sanção: deverão ser realizados obrigatoriamente pelo TJDFT 
(órgão ao qual o servidor está vinculado). 
 
A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer, preferencialmente, 
no órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade. Contudo, o julgamento e a eventual 
aplicação de sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado. 
STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min. João Otávio de 
Noronha, julgado em 16/11/2016 (Info 598). 
 
O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: 
1) instauração: com a publicação do ato que constituir a comissão; 
2)inquérito administrativo: que compreende instrução, defesa e relatório; 
3) julgamento. 
 
Tratando-se de conduta praticada pelo agente público durante o período em que esteve cedido, é legítima 
a instauração do processo administrativo disciplinar pelo órgão em que foi praticada a irregularidade. Isso 
se justifica para facilitar a colheita das provas. No entanto, o julgamento e a aplicação da penalidade 
deverão ser feitas pelo órgão de origem, considerando que é com o órgão cedente que o servidor possui o 
vínculo jurídico. 
 
Esta é a orientação do Manual Prático de Processo Administrativo Disciplinar da Controladoria Geral da 
União (CGU): 
"No aspecto espacial, o processo disciplinar será instaurado, preferencialmente, no âmbito do 
órgão ou instituição em que supostamente tenha sido praticado o ato antijurídico, facilitando-se a 
coleta de provas e a realização de diligências necessárias à elucidação dos fatos. No caso de 
infrações cometidas por servidores cedidos a outros órgãos, a competência é do órgão onde 
ocorreu a irregularidade para a instauração do processo disciplinar. Todavia, como o vínculo 
funcional do servidor se dá com o órgão cedente, apenas a este incumbiria o julgamento e a 
eventual aplicação da penalidade (Nota Decor/CGU/AGU n. 16/2008-NMS)." 
 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Assim, cabe ao órgão cessionário: instaurar o processo administrativo disciplinar, rescindir o contrato de 
cessão e devolver o servidor. O julgamento, contudo, deverá ser realizado pelo órgão cedente. 
Vale ressaltar que o julgamento e a aplicação da sanção são um único ato, que se materializa com a edição 
de despacho, portaria ou decreto, proferido pela autoridade competente, devidamente publicado para os 
efeitos legais (arts. 141, 166 e 167 da Lei nº 8.112/90). 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
Agressões físicas ou verbais praticadas por adulto contra criança geram dano moral in re ipsa 
 
A conduta de um adulto que pratica agressão verbal ou física contra criança ou adolescente 
configura elemento caracterizador da espécie do dano moral in re ipsa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/2/2017 (Info 598). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em uma festa de aniversário, Beatriz (10 anos) brincava com Júlia (8 anos). 
Em determinado momento, as duas crianças se desentenderam e começaram a discutir, tendo Beatriz 
puxado o cabelo de Júlia que, chorando, foi contar o ocorrido para sua mãe. 
Eduarda, mãe de Júlia, foi até o local onde estava Beatriz e desferiu um tapa no rosto da menor, dizendo-
lhe a seguinte frase: "nunca mais rele a mão na minha filha, sua desgraçada”. 
Beatriz, representada por sua mãe, ajuizou ação de indenização por danos morais contra Eduarda. 
A ré contestou a demanda afirmando que a autora não demonstrou a ocorrência do alegado dano moral. 
 
O argumento da requerida é aceito pela jurisprudência do STJ? No caso narrado era necessária a 
comprovação do dano moral? 
NÃO. 
A conduta da agressão, verbal ou física, de um adulto contra uma criança ou adolescente, configura 
elemento caracterizador da espécie do dano moral in re ipsa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/2/2017 (Info 598). 
 
Crianças, mesmo pequenas, gozam dos direitos da personalidade 
As crianças, mesmo da mais tenra idade, gozam de proteção irrestrita dos direitos da personalidade. 
Assim, elas fazem jus à indenização por dano moral em caso de violação, nos termos dos arts. 5º, X, in fine, 
da CF/88 e art. 12, caput, do CC (STJ. 3ª Turma. REsp 1037759/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 
23/02/2010). 
Ainda que tenha uma percepção diferente do mundo e uma maneira peculiar de se expressar, a criança 
não permanecealheia à realidade que a cerca, estando igualmente sujeita a sentimentos como o medo, a 
aflição e a angústia. 
 
Dano moral in re ipsa 
Em algumas situações, a doutrina e a jurisprudência afirmam que a demonstração do dano moral não é 
necessária, bastando se demonstrar que houve a prática do ato. Nesse caso, fala-se em damnun in re ipsa, 
também conhecido como dano moral in re ipsa. 
A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente introduziram na nossa cultura jurídica 
uma nova percepção, inspirada pela concepção da criança e do adolescente como sujeitos de direitos e 
cuidados especiais. 
 
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O art. 227 da CF/88 determina como dever da família, da sociedade e do Estado “assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão”. 
A Lei nº 8.069/90 (ECA) estabelece, em seu art. 17, que “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da 
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente”. 
Assim, é assegurada a primazia do interesse das crianças e dos adolescentes, com a proteção integral dos 
seus direitos. 
Diante disso, conclui-se que a agressão, verbal ou física, de um adulto contra uma criança ou adolescente, 
gera dano moral independentemente de prova e caracteriza atentado à dignidade dos menores. 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO 
Não é devida a indenização prevista em contrato de seguro de RC D&O 
caso o segurado tenha praticado insider trading 
 
O seguro de RC D&O (Directors and Officers Insurance) não abrange operações de diretores, 
administradores ou conselheiros qualificadas como insider trading. 
O RC D&O é um tipo de seguro feito por grandes executivos (exs: CEOs) por meio do qual a 
seguradora assume os custos caso eles sejam responsabilizados por algum ato culposo 
praticado durante a gestão da empresa. 
O insider trading ocorre quando uma pessoa (insider), por força do exercício profissional, 
possui informações relevantes sobre a empresa e utiliza tais dados para negociar as ações 
dessa companhia antes que essas informações sejam reveladas ao público em geral. 
O administrador que praticou insider trading não tem direito à cobertura securitária do 
seguro RC D&O por dois motivos: 
1) o insider trading não é um ato culposo, mas sim doloso (fraudulento); 
2) o insider trading não configura ato de gestão, mas sim um ato pessoal do administrador com o 
objetivo de gerar proveitos financeiros próprios, em detrimento dos interesses da companhia. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.555-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
Seguro de responsabilidade civil D&O 
Administrar uma empresa de grande porte não é uma tarefa fácil nem segura. Muitas vezes, o 
administrador toma determinadas decisões que podem, não propositalmente, causar prejuízos a terceiros 
ou à própria empresa. Nestes casos, as pessoas prejudicadas podem processar o administrador exigindo o 
pagamento de uma indenização. Algumas vezes esses processos são instaurados por órgãos de 
fiscalização, como a CVM. 
Em virtude disso, é comum que tais administradores façam um contrato de seguro por meio do qual 
pagam um prêmio à seguradora e esta se compromete a arcar com o pagamento da indenização caso o 
administrador seja responsabilizado por algum ato praticado durante a sua gestão. Alguns desses 
contratos preveem que a seguradora irá, inclusive, arcar com os custos da defesa do administrador no 
processo (advogado, custas processuais etc.). 
Essa espécie de seguro é conhecida como D&O, abreviatura de Directors and Officers Insurance, expressão 
inglesa que poderia ser traduzida como "seguro para diretores e administradores". 
Dessa forma, o RC D&O é um tipo de seguro feito por grandes executivos (exs: CEOs) por meio do qual a 
seguradora assume os custos caso eles sejam responsabilizados por algum ato culposo praticado durante a 
gestão da empresa. 
 
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Esse tipo de seguro constitui instrumento de preservação do patrimônio individual dos que atuam em 
cargos de direção (segurados), o que acaba por incentivar gestões corporativas inovadoras e mais flexíveis, 
as quais ficariam comprometidas ou engessadas com a possibilidade sempre reinante de responsabilização 
civil ou de abertura de processo administrativo sancionador na CVM. Além disso, a natureza dúplice desse 
seguro também favorece a própria empresa tomadora do seguro e seus acionistas, pois o patrimônio 
social poderá ser ressarcido de eventuais prejuízos sofridos em razão de condutas faltosas de seus 
administradores. 
 
Insider trading 
Insider trading é a operação realizada por um insider (diretor, administrador, conselheiro e pessoas 
equiparadas) com valores mobiliários de emissão da companhia, em proveito próprio ou de terceiro, com 
base em informação relevante ainda não revelada ao público. 
Em palavras mais simples, ocorre quando uma pessoa, por força do exercício profissional, possui 
informações relevantes sobre a empresa e utiliza tais dados para negociar as ações dessa companhia antes 
que essas informações sejam reveladas ao público em geral. 
 
Exemplo de insider trading 
Em 2006, a Sadia decidiu fazer uma grande proposta para comprar a Perdigão. 
As reuniões internas na Sadia para decidir o assunto eram confidenciais e somente participavam alguns 
poucos diretores. A fim de manter o sigilo, a Sadia era chamada pelo codinome blue e a Perdigão era a red. 
Depois de acertarem os detalhes, ficou decidido que a proposta seria formalizada no dia 7 de abril. 
João era Diretor de Finanças da Sadia e, em razão de seu cargo, sabia que a proposta seria concretizada 
naquele dia, quando, então, a ideia deixaria de ser sigilosa e se tornaria de conhecimento público. 
Diante disso, João, um dia antes que a informação da compra fosse divulgada, comprou, na Bolsa de 
Valores de Nova Iorque (NYSE), milhares de ações da Perdigão, ao valor de 10 dólares. 
No dia seguinte, com o anúncio da proposta, o valor das ações da sociedade empresária Perdigão na NYSE 
passou para 30 dólares. 
João, que era rico, ficou milionário em um dia. 
Vale ressaltar que, em razão do cargo que exercia, ele tinha que manter sigilo sobre esta informação. 
Neste exemplo, João praticou o chamado insider trading. 
 
Suponhamos que João foi processado pela CVM pela prática de insider trading, tendo sido condenado a 
pagar R$ 1 milhão. Ocorre que João havia feito um seguro de RC D&O. Ele poderá acionar a seguradora para 
que ela pague a indenização? O seguro de RC D&O abrange danos causados pela prática de insider trading? 
NÃO. 
O seguro de RC D&O (Directors and Officers Insurance) não abrange operações de diretores, 
administradores ou conselheiros qualificadas como insider trading. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.555-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
O insider trading é uma prática danosa ao mercado de capitais, aos investidores e à própria companhia, 
devendo haver repressão efetiva contra o uso indevido de informações privilegiadas por insiders que 
visam à obtenção ilícita de vantagem patrimonial ao negociar ações da pessoa jurídica. 
Vale ressaltar, inclusive, que esta conduta configura crime previsto no art. 27-D na Lei nº 6.385/76: 
CAPÍTULO VII-B 
DOS CRIMES CONTRA O MERCADO DE CAPITAIS 
(...) 
Uso Indevido de Informação Privilegiada 
Art. 27-D. Utilizar informação relevante ainda não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da 
qual deva manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou paraoutrem, vantagem indevida, mediante 
negociação, em nome próprio ou de terceiro, com valores mobiliários: 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante da vantagem ilícita 
obtida em decorrência do crime. 
 
O seguro de RC D&O tem por objetivo garantir o risco de eventuais prejuízos causados por atos de gestão 
de diretores, administradores e conselheiros que, na atividade profissional, agiram com culpa. 
 
Dessa forma, esse seguro somente garante cobertura para: 
- atos CULPOSOS de diretores, administradores e conselheiros 
- praticados no exercício de suas funções (ATOS DE GESTÃO). 
 
Isso significa que atos fraudulentos e desonestos de favorecimento pessoal e práticas dolosas lesivas à 
companhia e ao mercado de capitais, a exemplo do insider trading, não estão abrangidos na garantia 
securitária. 
 
No caso hipotético de João, que praticou insider trading, ele não tem direito à cobertura securitária por 
dois motivos: 
1) o insider trading não é um ato culposo, mas sim doloso (fraudulento); 
2) o insider trading não configura ato de gestão, mas sim um ato pessoal do administrador com o objetivo 
de gerar proveitos financeiros próprios, em detrimento dos interesses da companhia. 
 
 
DPVAT 
Sucessores do falecido podem cobrar a indenização DPVAT por invalidez permanente 
que a vítima deveria ter recebido quando estava viva 
 
Determinada pessoa sofreu acidente de trânsito que causou sua invalidez permanente. Ela não 
requereu indenização DPVAT. Meses depois, ela faleceu por outras razões. Seus herdeiros 
poderão cobrar a indenização do DPVAT que ela deveria ter recebido quando estava viva? 
SIM. Os sucessores da vítima têm legitimidade para ajuizar ação de cobrança de pagamento de 
indenização do seguro DPVAT por invalidez permanente ocorrida antes da morte daquela. 
O direito à indenização do seguro DPVAT por invalidez permanente integra o patrimônio da 
vítima e transmite-se aos seus sucessores com o falecimento do titular. Os sucessores, 
portanto, têm legitimidade para propor a ação de cobrança da quantia correspondente. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.907-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
Em que consiste o DPVAT? 
O DPVAT é um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por veículos automotores de via 
terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não. 
Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou 
por sua carga, em via terrestre, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, 
os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. 
Ex.: dois carros colidem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. 
No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois 
motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas 
receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre 
receberão indenização de DPVAT por invalidez. 
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os 
herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente. 
O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais. 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei? 
• no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima) 
• no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima) 
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima. 
 
Quem são os beneficiários do seguro DPVAT? Quem tem direito de receber a indenização? 
• no caso de morte: metade será paga ao cônjuge do falecido, desde que eles não fossem separados 
judicialmente, e o restante aos herdeiros da vítima, obedecida a ordem da vocação hereditária. Não 
havendo cônjuge nem herdeiros, serão beneficiários os que provarem que a morte da vítima os privou dos 
meios necessários à subsistência. 
• no caso de invalidez permanente: a própria vítima. 
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: a própria vítima. 
 
Isso está previsto no art. 4º, caput e § 3º da Lei nº 6.194/74 (Lei do DPVAT). 
 
Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2014, João sofreu um acidente de carro e ficou inválido permanentemente. Na época, ele não sabia 
que existia a indenização do DPVAT e, por essa razão, não requereu o pagamento da quantia. 
Em 2015, João pegou uma forte gripe, que se transformou em pneumonia e ele acabou falecendo. 
Em 2016, Maria, viúva de João, viu uma reportagem na TV que falava sobre o DPVAT. Ela descobriu, então, 
que seu falecido marido tinha direito de ter recebido indenização de até R$ 13.500,00 por conta da sua 
invalidez permanente. 
 
Diante disso, ela procurou a Defensoria Pública com a seguinte dúvida: ela e seu filho, enquanto únicos 
herdeiros de João, têm direito de cobrar a indenização do DPVAT que o falecido deveria ter recebido 
quando estava vivo por ter sofrido acidente de trânsito que o deixou inválido? 
SIM. 
Os sucessores da vítima têm legitimidade para ajuizar ação de cobrança de pagamento de indenização 
do seguro DPVAT por invalidez permanente ocorrida antes da morte daquela. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.907-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
A indenização do seguro DPVAT por invalidez permanente, prevista no art. 4º, § 3º, da Lei nº 6.194/74, não 
é considerada como um direito personalíssimo (intransferível). Ao contrário, trata-se de direito 
patrimonial e, portanto, passível de ser transferido por sucessão causa mortis. Dito de outro modo, 
consiste em direito patrimonial que se transfere normalmente para os herdeiros com a morte do titular. 
 
A partir do momento em que ficou configurada a invalidez permanente da vítima do acidente de trânsito 
(em nosso exemplo, João), o direito à indenização DPVAT passou a integrar seu patrimônio jurídico. Com a 
sua morte, esse direito transformou-se em herança a ser transmitida aos sucessores, que, portanto, têm 
legitimidade para propor ação de cobrança dessa quantia. 
 
Importante deixar claro que os sucessores da vítima irão pedir a indenização DPVAT por causa da invalidez 
permanente e não por conta da morte. O acidente de trânsito causou apenas invalidez. O óbito foi 
decorrência de uma causa absolutamente independente. Assim, a indenização a ser paga do DPVAT levará 
em consideração a invalidez apenas. 
 
 
 
 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
DIVÓRCIO 
Ex-cônjuge que está utilizando o bem comum de forma exclusiva poderá ser condenado a 
indenizar o outro mesmo que ainda não tenha havido partilha 
 
Na separação e no divórcio, o fato de certo bem comum ainda pertencer indistintamente aos 
ex-cônjuges, por não ter sido formalizada a partilha, não representa automático empecilho ao 
pagamento de indenização pelo uso exclusivo do bem por um deles, desde que a parte que toca 
a cada um tenha sido definida por qualquer meio inequívoco. 
Ex: João e Maria eram casados e decidiram se divorciar. Maria foi morar com a sua mãe e João 
continuou no apartamento que pertence ao casal. Vale mencionar que este é o único bem que o 
casal tem a partilhar. O juiz determinou o divórcio e afirmou, na sentença, que o imóvel 
deveria ser dividido igualmente entre os dois (50% para cada um dos ex-cônjuges). Apesar 
disso, a partilha formal do bem ainda não foi feita. Como a partilha ainda não foi realizada, 
Joãocontinuou morando no apartamento. Enquanto a partilha não for concretizada, João 
poderá ser condenado a indenizar Maria, pagando a ela, mensalmente, a quantia equivalente a 
50% do valor arbitrado como sendo o aluguel deste apartamento onde ele está morando. Isso 
ocorre para evitar o enriquecimento sem causa daquele que está utilizando o bem de forma 
exclusiva. 
Suponhamos que o juiz entenda que Maria tem direito à indenização. Ela terá direito de 
receber as parcelas pretéritas desde quando? O termo inicial para o ressarcimento deve ser a 
data da ciência do pedido da parte contrária, ou seja, será a data da citação (caso seja uma 
ação proposta unicamente para isso) ou da intimação (caso a indenização seja requerida em 
pedido reconvencional feito pelo réu na contestação). 
O fato de João ter sido condenado a pagar esta indenização poderá influenciar no valor pago a 
título de pensão alimentícia? Ele poderá pedir a revisão do valor da prestação alimentícia? 
SIM. A indenização pelo uso exclusivo do bem por parte do alimentante pode influir no valor 
da prestação de alimentos, pois afeta a renda do obrigado, devendo as obrigações serem 
reciprocamente consideradas pelo juiz, sempre atento às peculiaridades do caso concreto. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.250.362-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 8/2/2017 (Info 598). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria eram casados e decidiram se divorciar. 
Maria foi morar com a sua mãe e João continuou no apartamento que pertence ao casal. 
Vale mencionar que este é o único bem que o casal tem a partilhar. 
Em março de 2015, o juiz determinou o divórcio e afirmou, na sentença, que o imóvel deveria ser dividido 
igualmente entre os dois (50% para cada um dos ex-cônjuges). Apesar disso, a partilha formal do bem 
ainda não foi feita e João continuou morando no apartamento. 
Além disso, o magistrado condenou João a pagar pensão alimentícia de R$ 2 mil em favor de Maria. 
Passados dois anos, a partilha ainda não foi concretizada. Diante disso, em março de 2017, Maria ajuizou 
ação contra João pedindo para receber uma indenização (uma espécie de "aluguel") pelo fato de ele estar 
morando no apartamento que pertence aos dois. 
João foi citado em 05/04/2017 e contestou o pedido afirmando que, enquanto não for realizada a partilha, 
não é cabível a fixação de indenização ou aluguel em favor da parte que dele não usufrui. Isso porque o 
imóvel pertence aos dois. 
 
O argumento de João encontra amparo na jurisprudência atual do STJ? 
NÃO. 
Na separação e no divórcio, o fato de certo bem comum ainda pertencer indistintamente aos ex-
cônjuges, por não ter sido formalizada a partilha, não representa automático empecilho ao pagamento 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
de indenização pelo uso exclusivo do bem por um deles, desde que a parte que toca a cada um tenha 
sido definida por qualquer meio inequívoco. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.250.362-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 8/2/2017 (Info 598). 
 
Se apenas um dos ex-cônjuges utiliza o bem de forma exclusiva, impedindo assim que o outro também se 
aproveite do bem, aquele que está privado do uso tem o direito de ser ressarcido, sob pena de gerar 
enriquecimento sem causa daquele que está usando o bem (art. 884 do Código Civil). 
 
O fato gerador da indenização não é a propriedade, mas sim a posse exclusiva do bem no caso concreto. 
Em outras palavras, é certo que o bem ainda pertence indistintamente aos dois pelo fato de não ter sido 
formalizada a partilha. No entanto, apesar disso, o ex-cônjuge deverá indenizar o outro pela circunstância 
de estar utilizando sozinho o bem enquanto o outro está privado de seu uso. 
 
Assim, em nosso exemplo, João poderá sim ser condenado a indenizar Maria, pagando a ela, 
mensalmente, a quantia equivalente a 50% do valor arbitrado como sendo o aluguel deste apartamento 
onde ele está morando. 
 
Vale ressaltar que esse direito à indenização não é automático, sendo necessário que o magistrado 
examine as peculiaridades do caso concreto, podendo haver algum fato que afaste a indenização. Ex: o juiz 
poderia negar a indenização se verificasse, no caso concreto, que a partilha ainda não foi realizada porque 
Maria está procrastinando a concretização dessa divisão. 
 
Suponhamos que o juiz entenda que Maria tem direito à indenização. Ela terá direito de receber as 
parcelas pretéritas desde quando? Desde 2015, quando houve a sentença de divórcio? Qual é o termo 
inicial desse ressarcimento? 
NÃO. 
O termo inicial para o ressarcimento deve ser a data da ciência do pedido da parte contrária, ou seja, 
será a data da citação (caso seja uma ação proposta unicamente para isso) ou da intimação (caso a 
indenização seja requerida em pedido reconvencional feito pelo réu na contestação). 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.250.362-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 8/2/2017 (Info 598). 
 
Em nosso exemplo, o termo inicial para ressarcimento será a data da citação (05/04/2017). 
Seria possível, no entanto, imaginar outra hipótese na qual João tivesse ajuizado uma ação contra Maria e 
este, na contestação, houvesse formulado reconvenção, pedindo a indenização. Neste segundo caso, o 
termo inicial para ressarcimento seria a data da intimação de João sobre o pedido reconvencional. 
 
O fato de João ter sido condenado a pagar esta indenização poderá influenciar no valor pago a título de 
pensão alimentícia? Ele poderá pedir a revisão do valor da prestação alimentícia? 
SIM. 
A indenização pelo uso exclusivo do bem por parte do alimentante pode influir no valor da prestação de 
alimentos, pois afeta a renda do obrigado, devendo as obrigações serem reciprocamente consideradas 
pelo juiz, sempre atento às peculiaridades do caso concreto. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.250.362-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 8/2/2017 (Info 598). 
 
Assim, em nosso exemplo, João poderia ingressar com ação pedindo a redução do valor que ele paga a 
título de pensão alimentícia. 
 
 
 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
VÍCIO DO PRODUTO 
É válida a prática de loja que permite a troca direta do produto viciado 
se feita em até 3 dias da compra 
 
Determinada loja adota a seguinte prática: se o produto vendido apresentar algum vício 
(popularmente conhecido como "defeito"), o consumidor poderá solicitar a troca da 
mercadoria na própria loja, desde que faça isso no prazo de 3 dias corridos, contados da data 
da emissão da nota fiscal. Por outro lado, se o consumidor detectar o vício somente após esse 
prazo, ele deverá procurar a assistência técnica credenciada e lá irão verificar a existência do 
vício e a possibilidade de ele ser reparado ("consertado"). 
Essa prática é válida? Sim. 
É legal a conduta de fornecedor que concede apenas 3 (três) dias para troca de produtos 
defeituosos, a contar da emissão da nota fiscal, e impõe ao consumidor, após tal prazo, a 
procura de assistência técnica credenciada pelo fabricante para que realize a análise quanto à 
existência do vício. 
A loja conferiu um "plus", ou seja, uma providência extra que não é prevista no CDC, não sendo, 
contudo, vedada porque favorece o consumidor. Vale ressaltar que a política de troca da loja 
(direito de troca direta do produto em 3 dias) não exclui a possibilidade de o consumidor realizar 
a troca, na forma do art. 18, § 1º, I, do CDC, caso o vício não seja sanado no prazo de 30 dias. Em 
outras palavras, a loja concede uma opção extra, além daquelas já previstas no art. 18, § 1º. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.555-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
Imagine a seguinte situação: 
As Lojas Americanas adotam a seguinte prática: 
Se o produto vendido apresentar algum vício (popularmente conhecido como "defeito"), o consumidor 
poderásolicitar a troca da mercadoria na própria loja, desde que faça isso no prazo de 3 dias corridos, 
contados da data da emissão da nota fiscal. 
Se o consumidor detectar esse vício somente após esse prazo, ele deverá procurar a assistência técnica 
credenciada e lá irão verificar a existência do vício e a possibilidade de ele ser reparado ("consertado"). 
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ajuizou ação civil pública contra a empresa alegando que esta 
conduta seria abusiva, à luz dos arts. 18 e 26 do CDC, que preveem o prazo de 30 dias para o vício ser sanado. 
 
O pedido do MP foi acolhido? A prática acima descrita é abusiva? 
NÃO. 
É legal a conduta de fornecedor que concede apenas 3 (três) dias para troca de produtos defeituosos, a 
contar da emissão da nota fiscal, e impõe ao consumidor, após tal prazo, a procura de assistência técnica 
credenciada pelo fabricante para que realize a análise quanto à existência do vício. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.555-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
O art. 18, § 1º do CDC afirma que o vício existente no produto ou no serviço deverá ser resolvido no prazo 
máximo de 30 dias. Caso isso não aconteça, o consumidor poderá exigir uma das seguintes opções: 
a) a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; 
b) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e 
danos; 
c) o abatimento proporcional do preço. 
 
Desse modo, não há no CDC nenhum dispositivo que confira ao consumidor o direito potestativo de ter o 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
produto trocado antes do prazo legal de 30 dias. A troca imediata do produto viciado, portanto, embora 
prática sempre recomendável, não é imposta ao fornecedor. 
 
Assim, o consumidor somente pode exigir a substituição do produto viciado caso o vício não seja sanado 
no prazo de 30 dias. 
 
No caso das Lojas Americanas, ela oferece, antes da providência do § 1º do art. 18, que o consumidor 
possa trocar diretamente o produto viciado, mas desde que faça isso no prazo de 3 dias depois da compra. 
 
Em outras palavras, a loja conferiu um "plus", ou seja, uma providência extra que não é prevista no CDC, 
não sendo, contudo, vedada porque favorece o consumidor. 
 
Vale ressaltar que a política de troca da loja (direito de troca direta do produto em 3 dias) não exclui a 
possibilidade de o consumidor realizar a troca, na forma do art. 18, § 1º, I, do CDC, caso o vício não seja 
sanado no prazo de 30 dias. 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
O juízo da recuperação judicial é o competente para decidir sobre os bens da empresa devedora 
mesmo que tramite em outro juízo execução cobrando crédito decorrente de relação de consumo 
 
Depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas as ações e execuções 
contra o devedor que está em recuperação judicial ficam suspensas, excetuadas as que 
demandarem quantia ilíquida (§ 1º do art. 6º da Lei nº 11.101/2005) e as execuções fiscais (§ 7º). 
Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas, o destino 
do patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não poderá ser atingido por 
decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob 
pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial. Em outras 
palavras, qualquer decisão que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada 
pelo juízo onde tramita a recuperação. 
O juízo onde tramita o processo de recuperação judicial é o competente para decidir sobre o 
destino dos bens e valores objeto de execuções singulares movidas contra a recuperanda, 
ainda que se trate de crédito decorrente de relação de consumo. 
Ex: João comprou uma geladeira em uma loja. O produto apresentou vício e o consumidor 
propôs, no Juizado Especial, ação de indenização contra o fornecedor. O juiz julgou o pedido 
procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil. Como não houve pagamento espontâneo, 
o magistrado determinou a penhora on line da quantia. Ocorre que, em março de 2017, antes 
que o dinheiro penhorado fosse transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu a 
recuperação judicial da referida loja. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência 
para decidir sobre o patrimônio do devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.702-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/02/2017 (Info 598). 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a 
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, 
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado 
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. 
 
FASES DA RECUPERAÇÃO 
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases: 
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; 
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; 
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. 
 
JUÍZO FALIMENTAR 
A Lei nº 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo 
do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. 
A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. 
 
PLANO DE RECUPERAÇÃO 
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar 
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de 
recuperação em falência. 
Este plano deverá conter: 
 discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); 
 demonstração de sua viabilidade econômica; e 
 laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional 
legalmente habilitado ou empresa especializada. 
 
CRÉDITOS QUE ESTÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
Na recuperação judicial, a empresa devedora, que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus credores 
de uma forma mais “suave”, a fim de que consiga quitar todos os débitos e se manter funcionando. 
Assim, os credores da empresa em recuperação judicial são inscritos no “quadro geral de credores”, e cada 
um receberá seu crédito de acordo com o que for definido no plano de recuperação. 
Um dos temas importantes sobre esse assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, 
ou seja, quais credores irão ter que receber seus créditos conforme o plano de recuperação e quais 
poderão seguir com seus contratos como estavam originalmente previstos. 
 
Regra: 
Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido de 
recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005). 
Ex: a empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9 meses; se o pedido de recuperação 
foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras da recuperação judicial, mesmo que ainda não tenha 
chegado a data do vencimento. 
 
Consequência dessa regra: 
Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação judicial, os credores irão receber conforme o 
plano. Como consequência disso, em regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em 
recuperação são suspensas para poder não atrapalhar a execução doplano. Veja: 
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o 
curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores 
particulares do sócio solidário. 
(...) 
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma 
excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar 
suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial. 
 
Assim, depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas as ações e execuções 
contra o devedor que está em recuperação judicial ficam suspensas, excetuadas as que demandarem 
quantia ilíquida (§ 1º do art. 6º) e as execuções fiscais (§ 7º): 
Art. 6º (...) 
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. 
 
§ 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, 
ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação 
ordinária específica. 
 
O art. 49 da Lei nº 11.101/2005, por seu turno, estipula que estão sujeitos à recuperação judicial todos os 
créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. 
 
Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas pelo juízo onde 
tramita a recuperação 
Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas, o STJ afirma também 
que o destino do patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por 
decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob pena de 
violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial, insculpido no art. 47 da LFRE. 
Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada 
pelo juízo onde tramita a recuperação. Nesse sentido: 
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de soerguimento judicial ou falimentar, como no 
presente caso, não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele da recuperação ou 
da falência. 
STJ. 2ª Seção. CC 137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 28/09/2016. 
 
Trata-se da vis attractiva do juízo universal da recuperação judicial. 
Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei expressamente 
prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido que, embora as ações não se 
suspendam, compete ao juízo universal da recuperação dar seguimento a atos que envolvam a 
expropriação de bens do acervo patrimonial do devedor. Dito de outro modo, depois de deferida a 
recuperação judicial, as execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação deverão ser decididos 
pelo juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira: 
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da recuperação judicial; todavia, fica 
definida a competência do Juízo universal para dar seguimento aos atos constritivos ou de alienação. 
STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 10/08/2016. 
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
João comprou uma geladeira em uma loja de departamentos ("Atacadão dos Eletros"). 
O produto apresentou vício e o consumidor, como não conseguiu resolver a questão, foi obrigado a 
propor, em abril de 2016, ação de indenização por danos morais e materiais contra a loja. 
A ação proposta por João tramita no Juizado Especial. O juiz julgou o pedido procedente, condenando a 
empresa a pagar R$ 10 mil em favor do autor. Como não houve pagamento espontâneo, o magistrado 
determinou a penhora on line da quantia, tendo a medida tido sucesso, ou seja, foi localizado e penhorado 
esse valor em uma das contas bancárias da loja. 
Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro penhorado fosse transferido para João, o Juízo da 
Vara Cível deferiu a recuperação judicial da "Atacadão dos Eletros". 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
 
Neste caso, o juiz do Juizado Especial poderá determinar a transferência do valor para João? 
NÃO. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência para decidir sobre o patrimônio do 
devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial. Conforme decidiu o STJ: 
O juízo onde tramita o processo de recuperação judicial é o competente para decidir sobre o destino dos 
bens e valores objeto de execuções singulares movidas contra a recuperanda, ainda que se trate de 
crédito decorrente de relação de consumo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.702-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/02/2017 (Info 598). 
 
Uma vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada (proibida) a prática de atos 
expropriatórios por juízo distinto daquele onde está tramitando o processo recuperacional. Isso vale 
mesmo para créditos decorrentes de relação de consumo, como no caso do exemplo acima dado. 
 
Mesmo já tendo havido penhora, como no exemplo? 
SIM. Mesmo que a penhora já tenha sido realizada em data anterior ao deferimento do pedido de 
recuperação judicial, ainda assim os próximos atos de expropriação somente poderão ser decididos pelo 
juízo da recuperação judicial: 
A jurisprudência desta Corte assentou-se no sentido de que, decretada a falência ou deferido o 
processamento da recuperação judicial, as execuções contra o devedor não podem prosseguir, ainda que 
exista prévia penhora. Na hipótese de adjudicação posterior levada a efeito em juízo diverso, o ato deve 
ser desfeito, em razão da competência do juízo universal e da observância do princípio da preservação da 
empresa. 
STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/06/2013. 
 
O juízo da recuperação é o que está mais próximo da realidade das empresas em dificuldades, tendo, por 
isso, maiores condições de definir se as medidas constritivas incidentes sobre seus acervos patrimoniais 
podem ou não comprometer o sucesso do plano de reerguimento. 
Admitir a não sujeição de valores objeto de execuções singulares à vis attractiva do foro recuperacional 
representaria clara afronta aos princípios da universalidade e unidade do juízo e da preservação da empresa. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
HONORÁRIOS PERICIAIS 
Mesmo que o dispositivo da sentença mencione apenas a condenação 
em custas processuais, é possível incluir a cobrança dos honorários periciais 
 
A sentença transitou em julgado condenando a parte a pagar "custas processuais", sem falar 
sobre os honorários periciais. É possível que esses honorários periciais sejam cobrados da 
parte sucumbente mesmo não tendo sido expressamente mencionados na sentença? 
SIM. É adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo quando o 
dispositivo de sentença com trânsito em julgado condena o vencido, genericamente, ao 
pagamento de custas processuais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.558.185-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/2/2017 (Info 598). 
Obs: existe precedente em sentido contrário (STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 718.020/RJ, Rel. Min. 
João Otávio de Noronha, julgado em 15/10/2015). No entanto, em provas de concurso é mais 
"seguro" adotar o entendimento acima exposto porque se trata de julgado mais recente e que foi 
divulgado em Informativo. 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João ajuizou ação de indenização contra Pedro. 
Durante a instrução, foi realizada uma perícia. 
Ao final, o juiz julgouo pedido procedente. 
No dispositivo da sentença constou expressamente que Pedro ficava obrigado a pagar: 
a) R$ 100 mil de indenização; 
b) honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação; 
c ) custas processuais. 
 
João iniciou o cumprimento de sentença e cobrou de Pedro também o valor dos honorários do perito que 
o autor teve que pagar durante a fase de conhecimento. 
Pedro defendeu-se alegando que a sentença em nenhum momento o condenou a pagar os honorários do 
perito. A condenação ficou limitada ao valor principal, mais as custas processuais e honorários advocatícios. 
Segundo alegou o executado, os honorários periciais estão dentro do conceito de "despesas processuais", 
o que não se confunde com "custas processuais". Como o juiz mencionou apenas custas, não se pode 
cobrar as despesas processuais (ex: honorários do perito). 
 
Essa tese de Pedro (devedor) é aceita pelo STJ? 
Existe certa divergência no STJ. 
1ª corrente. Entendendo que não é possível incluir os honorários periciais caso a sentença tenha falado 
apenas em custas judiciais: 
(...) Custas são despesas que, previstas em regimentos próprios, estão relacionadas às atividades 
cartorárias. Já os honorários periciais dizem respeito à necessária intervenção externa no processo para o 
encaminhamento processual da causa. Dessa forma, tendo transitado em julgado a decisão no que tange 
apenas à condenação da parte ao pagamento das custas processuais, é incabível a inclusão dos honorários 
periciais em conta de liquidação de sentença. (...) 
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 718.020/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/10/2015. 
 
2ª corrente. Entendendo que é sim possível incluir os honorários periciais: 
É adequada a inclusão dos honorários periciais em conta de liquidação mesmo quando o dispositivo de 
sentença com trânsito em julgado condena o vencido, genericamente, ao pagamento de custas 
processuais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.558.185-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/2/2017 (Info 598). 
 
Custas X despesas processuais 
Realmente custas e despesas processuais não são expressões sinônimas. Existe diferença entre elas. 
Despesas processuais são todos os gastos necessários que têm que ser realizados pelos participantes no 
processo para que este se instaure, desenvolva e chegue ao final. 
Assim, a expressão “despesas processuais” é gênero, abrangendo três espécies: 
a) custas: taxa paga como forma de contraprestação pelo serviço jurisdicional que é prestado pelo 
Estado-juiz; 
b) emolumentos: taxa paga pelo usuário do serviço como contraprestação pelos atos praticados pela 
serventia (“cartório”) não estatizada (as serventias não estatizadas não são remuneradas pelos cofres 
públicos, mas sim pelas partes); 
c) despesas em sentido estrito: valor pago para remunerar profissionais que são convocados pela Justiça 
para auxiliar nas atividades inerentes à prestação jurisdicional. Exs: honorários do perito, despesas 
com o transporte do Oficial de justiça prestado por terceiros (ex: empresa de ônibus, táxi etc.). 
 
Dessa forma, os partidários da 1ª corrente invocam essa diferença entre custas e despesas processuais. 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
 
A 2ª corrente, por sua vez, afirma que a interpretação a ser dada tem que superar o apego ao formalismo. 
O processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a que tem direito. Se a parte 
ganhou a causa, ou seja, teve seu pedido julgado procedente, ela não pode ser obrigada a arcar com as 
custas ou despesas de um processo para cuja formação não deu causa. Surpreender o vencedor da 
demanda com a obrigação de arcar com os honorários periciais apenas e tão somente porque a sentença 
condenava o vencido ao pagamento de “custas” e não “despesas” representa medida contrária ao 
princípio da sucumbência e até mesmo à própria noção da máxima eficiência da tutela jurisdicional justa. 
 
Concurso 
Para fins de concurso, acho mais seguro adotar a 2ª corrente, considerando que se trata da decisão mais 
recente e que foi divulgada em Informativo. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
EXTORSÃO 
A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça feita 
pelo agente de causar um "mal espiritual" na vítima 
 
Importante!!! 
O crime de extorsão consiste em "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e 
com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar 
que se faça ou deixar fazer alguma coisa" (art. 158 do CP). 
A ameaça de causar um "mal espiritual" contra a vítima pode ser considerada como "grave 
ameaça" para fins de configuração do crime de extorsão? 
SIM. Configura o delito de extorsão (art. 158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à 
grave ameaça espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o 
pagamento de vantagem econômica indevida. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.299.021-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/2/2017 (Info 598). 
 
EXTORSÃO 
Extorsão (art. 158 do CP) 
O Código Penal prevê o crime de extorsão nos seguintes termos: 
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou 
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: 
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. 
 
Em que consiste o delito: 
O agente, usando de violência ou de grave ameaça, obriga a vítima a adotar determinado comportamento, 
com o objetivo de obter uma vantagem econômica indevida. 
A vítima é coagida pelo autor do crime a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa. 
Ex.: “A” exige que “B” assine um cheque em branco em seu favor, senão contará a todos que “B” possui 
um caso extraconjugal. 
Ex.2: Golpe do falso sequestro via celular. “A” (de um presídio em SP) liga para “B” (em Brasília) e afirma que 
sua filha foi sequestrada exigindo, por meio de ameaças, depósito de dinheiro em determinada conta bancária. 
Obs: o juízo competente é o do local onde estava a pessoa que recebeu os telefonemas (STF ACO 889/RJ). 
 
Informativo 598-STJ (29/03/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
GRAVE AMEAÇA: AFIRMAR QUE IRÁ CAUSAR UM PREJUÍZO ECONÔMICO À VÍTIMA 
Se o agente ameaça causar um prejuízo econômico à vítima, ainda assim haverá extorsão? A "grave 
ameaça" prevista no art. 158 pode ser econômica? 
SIM. 
A extorsão pode ser feita mediante ameaça de causar um prejuízo econômico. 
Assim, não se exige que a ameaça se dirija apenas contra a integridade física ou moral da vítima. 
Ex: o agente estava com o carro da vítima e exigiu que ela fizesse o pagamento a ele de determinada 
quantia em dinheiro. Caso o pedido não fosse atendido, ele prometeu destruir o veículo. 
Dessa forma, o STJ decidiu que pode configurar o crime de extorsão a exigência de pagamento em troca da 
devolução do veículo furtado, sob a ameaça de destruição do bem. 
STJ. 5ª Turma. REsp 1.207.155-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/11/2013 (Info 531). 
 
GRAVE AMEAÇA: AFIRMAR QUE IRÁ CAUSAR UM MAL ESPIRITUAL À VÍTIMA 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Francisca estava andando na rua quando viu em um poste um cartaz anunciando os serviços de Maria, 
uma mulher que alegava fazer trabalhos espirituais para que a pessoa se livrasse de problemas e 
"encostos" que estivessem atrapalhando a vida. 
Francisca foi até a casa onde Maria atendia e lhe pagou R$ 300,00 para que esta fizesse um trabalho 
espiritual a fim de que sua vida melhorasse. 
Passado um mês, Maria chamou Francisca e disse que tinha um trabalho enterrado no cemitério contra ela 
e seus filhos, mas que ela já havia resolvido. No entanto, agora ela precisava ser remunerada por isso, 
tendo cobrado R$ 2.000,00 por ter feito este trabalho de libertação. 
Francisca recusou-se a pagar. 
A partir

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