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Da abstração e da Metafísica

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1 
 
Se a abstração como Aristóteles estudou 
é ou não o fundamento da Metafísica 
Mário Ferreira dos Santos 
 
(Transcrição do áudio “da abstração e da metafísica”: Rodrigo Peñaloza, em 18/06/2017) 
 
 
Pergunta 
A próxima pergunta que temos aqui à mão é a seguinte: se a 
abstração como Aristóteles estudou é ou não o fundamento da Metafísica. 
 
Resposta 
Aristóteles estudou a abstração e atribuiu-lhe diversos graus. Esses 
graus foram depois estudados melhor pelos escolásticos e foram 
caracterizados em três graus abstrativos, três graus do intelecto (da parte 
intelectual do homem). 
Aristóteles 
estabeleceu três 
graus de abstração 
Esses três graus são estabelecidos da seguinte maneira. O primeiro 
grau de abstração do intelecto é quando é tomado o objeto abstraído da 
mera singularidade. Assim, por exemplo, tomado um corpo, abstrai-se das 
suas propriedades, abstrai-se dos seus acidentes e vai-se considerá-lo na 
sua generalidade, na sua universalidade. Como é, por exemplo, a 
abstração de primeiro grau, que é assim, como a abstração de casa, a 
abstração de árvore, a abstração de homem etc. 
Primeiro grau de 
abstração 
As abstrações de segundo grau são aquelas em que a mente, além de 
abstrair a matéria, abstrai também as propriedades sensíveis, mas 
mantém e conserva apenas a extensão das coisas sob o seu aspecto 
contínuo ou discreto: o aspecto quantitativo. Essas abstrações de segundo 
grau são precisamente as abstrações da Matemática. A contínua nos dá 
as figuras geométricas e a discreta nos dá a parte dos números. 
Segundo grau de 
abstração 
O terceiro grau de abstração é aquele que, além de abstrair toda a 
matéria singular e sensível e também inteligível, vai-se tomar apenas o 
objeto nos seus aspectos mais universais, que são as abstrações de 
terceiro grau, como são, por exemplo, as categorias: uma é a categoria da 
quantidade, outra a da substância, categoria de causa, de efeito etc. Essas 
são as abstrações de terceiro grau. 
Terceiro grau de 
abstração 
Precisamente as abstrações de primeiro grau pertencem ao campo 
da Ciência, as abstrações de segundo grau pertencem ao campo da 
Matemática e as abstrações de terceiro grau pertencem ao campo da 
Metafísica. De forma que, para Aristóteles, a Metafísica era fundada nas 
abstrações de terceiro grau, quer dizer, ela funcionava com as abstrações 
de terceiro grau. 
Ciência, 
Matemática e 
Metafísica 
Quanto à justificação dessa gama abstrativa, Aristóteles não 
precisava nada mais do que partir da própria experiência humana, porque 
[pel]a experiência humana o homem realmente é apto a realizar esses 
graus de abstração - a nossa linguagem também nos revela -, quer dizer, 
Justificativa para as 
abstrações: entes 
rationis in re 
2 
 
ele se fundava nalguma coisa real e era esse o sentido [com] que ele 
procurava se cuidar na Metafísica, que a Metafísica tivesse suas bases na 
própria realidade do homem, ela não trabalharia com entes ficcionais, mas 
com entes que tinham um fundamento real, como tem um ente de razão 
como causa, um ente de razão substância. São entes de razão, mas que 
têm um fundamento real nas coisas. Esse era o sentido da metafísica 
aristotélica. 
Quanto a esse fundamento real, quanto a essa justificação, é 
matéria especial que tem tido uma grande controvérsia em torno dela, mas 
nós podemos apenas dizer que mesmo aqueles que procuram detratar a 
abstração aristotélica, eles procedem do modo aristotélico, eles também 
fazem as abstrações, raciocinam com elas, trabalham com elas e não 
podem também pensar nem realizar uma crítica sem usá-las, porque elas 
são bem fundadas, são fundadas no próprio desenvolvimento da ação 
intelectual humana, que mesmo aqueles que combatem, assim procedem. 
Fundamentação 
dos graus de 
abstração 
Tem o exemplo da gota d’água, que eu dou, numa folha. A gota 
d’água pode ser olhada como uma mera gota d’água. Mas ela também 
pode ser olhada apenas como uma gota, ela também pode ser olhada 
como um corpo, ela pode ser olhada como um objeto sensível, ela pode 
ser olhada sob muitíssimos aspectos específicos. Na ordem desses 
aspectos específicos, nós veremos que alguns são aqueles que estão 
mais ligados aos objetos da nossa experiência e outros vão pondo de lado, 
vão afastando, vão abstraindo determinados aspectos para se considerá-
los sob um aspecto de grau mais elevado. Assim, por exemplo, o conceito 
de corpo já é um conceito de terceiro grau, já é um conceito metafísico, 
enquanto que o conceito de gota d’água, por exemplo, já seria de primeiro 
grau, porque o corpo enquanto corpo não tem um representante corpo, 
tem corpos que são especificamente distintos. O corpo é alguma coisa que 
nós abstraímos dos diversos seres que nós chamamos corpos. 
O exemplo da gota 
d’água 
Quer dizer, a Metafísica de Aristóteles é uma metafísica bem 
fundada, inclusive para aqueles que a combatem. Por que a combatem? 
Porque a desconhecem. Porque eles julgam que a Metafísica de 
Aristóteles não é isso que eu estou dizendo. Eles julgam que a Metafísica 
de Aristóteles é construída sobre entes ficcionais, entes de imaginação, 
coisas que o ser humano cria, mitos! Mas não é isso. Aristóteles nunca 
defendeu isso. Se eles lessem e estudassem Aristóteles, eles 
compreenderiam. 
Do erro dos críticos 
Agora, não se admirem de eu dizer uma coisa dessas, porque há 
grandes filósofos, grandes mentes que nunca leram Aristóteles. Por 
exemplo, Kant nunca leu Aristóteles. Descartes não conhecia Aristóteles. 
De maneira que são suficientes esses exemplos para mostrar que não é 
de admirar que alguns modernos também não o conheçam e que criem 
então uma concepção completamente fora da realidade do pensamento 
Aristotélico. 
Desconhecimento 
da metafísica 
aristotélica por 
parte dos 
modernos 
Creio que satisfiz àquela pergunta, vamos agora ver outras.

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