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O Positivismo de Auguste Comte

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Aula 29: O Positivismo de Auguste Comte
FILOSOFIA
Auguste Comte (1798 – 1857) 
	Vida e obra
	Auguste Comte viveu em uma cidade localizada no sudeste da França, seu pai era fiscal de impostos e a sua condição financeira não era das melhores, fato este que lhe causava muita indignação. A falta de dinheiro, a condição de saúde frágil do pai e da irmã, somados a necessidade extremada de atenção que a mãe exigia dele, colaboraram para o filósofo francês manter uma relação tempestuosa e conflitiva com a sua família. Aos dezesseis anos ingressou na Escola Politécnica1Foi fundada em 1794 como um fruto da Revolução Francesa, e era um reflexo direto dos processos de Revolução Industrial que se alastravam por toda a Europa durante o século XVIII.
 de Paris que influenciará seu pensamento por toda a vida, pois ele a considerava uma das poucas escolas verdadeiramente científicas da França. Foi muito influenciado pelo pensamento científico de alguns estudiosos da época, tais como: Sadi Carnot2Um físico francês responsável pelo primeiro modelo teórico das máquinas térmicas.
 (1796 – 1832), Lagrange3Famoso matemático italiano.
 (1736 – 1813) e Pierre Simon de Laplace4Astrônomo francês de renome mundial.
 (1749 – 1827). Além da influência científica, Comte inspirou-se nos economistas políticos, Adam Smith (1723 – 1790) Jean-Baptiste Say (1767-1832), também no empirismo de David Hume (1711 – 1776). No entanto, a sua maior fonte de inspiração foi o iluminista francês Marquês de Condorcet (1743 – 1794) que, através da sua obra: “Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano”, foi capaz de traçar um sistema dos progressos científicos e tecnológicos da humanidade, afirmando que os seres humanos caminhariam para um era de progresso, de luzes, uma Época da Razão.
	Em 1817 Comte sai da escola politécnica e vai trabalhar como secretário do famoso industrial francês, Saint-Simon (1760 – 1825), enquanto estudava com ele aprendeu muito, porém, como era recorrente em todas as suas relações humanas, esta não foi diferente, terminando de maneira dramática e drástica. O rompimento aconteceu, porque Comte na época já se sentia independente do seu mentor, todavia, o fenômeno que, na verdade, impulsionou a ruptura foi um choque de ideias entre ambos os pensadores. No início de sua vida, Saint-Simon foi um grande defensor da sociedade industrial do século XVIII, acreditando convictamente que tal realidade levaria o ser humano ao esclarecimento e ao progresso do seu espírito. Nesse momento, Comte era seu discípulo e admirava muito o mestre. Contudo, quando o industrial observou que a sociedade industrial de sua época gerava uma pobreza cada vez mais endêmica5Uma espécie de doença típica de tal região.
 e intensificava o processo de desigualdade social, tornou-se um grande crítico do seu momento histórico e pasou a ser conhecido como um socialista utópico. A partir daí, Comte rompeu com o mestre e passou a desenvolver sua forma de pensar a realidade. 
	A separação definitiva entre Comte e Saint Simon aconteceu em 1824, mas, logo em seguid, o pai do positivismo casou-se com Caroline Massin e começou a ministrar aulas particulares de matemática para sustentar-se. Em 1826 escreve sua primeira grande obra: O curso de filosofia positiva, publicado somente em 1830. Entretanto, seu curso foi interrompido na terceira aula, devido ao fato de o filósofo ter surtado, entrando numa profunda depressão. Em 1838 suas relações conjugais também começaram a ruir, até ruírem por completo quatro anos depois (quando se separou definitivamente da esposa). Em 1844 publicou seu Discurso sobre o espírito positivo, no entanto, a deusa da fortuna parecia não desejar favorecê-lo, pois o filósofo francês perdeu seu emprego6Após perder seu emprego, sua admiração pelos matemáticos transformou-se em ira, passando a enxergar os biólogos e os sociólogos (como ele) na qualidade de nova elite intelectual da época.
 na escola politécnica e teve de ser sustentado por alguns amigos, tais como: o famoso liberal inglês John Stuar Mill (1806 – 1873) e o seu discípulo mais fervoroso Émille Littré (1801 – 1881). Contudo, no mesmo ano sua vida e o seu pensamento jamais seriam os mesmos, tendo em vista que conheceu a senhorita Clotilde de Vaux, por quem se apaixonou profundamente. Entretanto, a srta. Clotilde era casada com um homem preso, na época, e ao qual havia jurado fidelidade, fato este que acabou a transformando, para Comte, em uma espécie musa inspiradora7Essa inspiração aumenta quando Clotilde morre em 1845.
, na qual ele baseou-se para criar sua grande teoria metafísica. A partir de então, seu pensamento se tornou cada vez mais religioso, elaborando, neste momento de sua vida, duas grandes obras: Política positiva ou tratado de sociologia instituindo a religião da humanidade (quatro volumes publicados entre 1851 e 1854) e o Catecismo positivista ou exposição sumária da religião universal (1852). No final das contas, terminou triste, melancólico e solitário, haja vista que até Littré o abandonou, pois discordava da mistura entre ciência e religião. 
Princípios Filosóficos
	Filosofia negativa X filosofia positiva
	Antes de entrarmos na discussão sobre o positivismo comtiano propriamente dito, precisamo levar a cabo alguns questionamentos, tais como: o que é uma filosofia positiva? E uma negativa? Existe alguma relação entre elas? E o que tudo isso tem a ver com a filosofia positivista? Primeiramente, é precisamos ter em mente o fato de tanto a filosofia negativa quanto a positiva existiram em todos os momentos da história. Já o positivismo é fenômeno específico do século XIX. 
	Levando tais observações em consideração, podemos pensar na filosofia negativa, ou nos movimentos negativistas como uma formulação de pensamento crítico da ralidade existente, seja ela qual for. Seu fundamento é negação do fato (ou da realidade), a fim de se chegar a sua essência e, logo em seguida, revela questões e problemas que estavam escondidos ao olhar do senso comum (é uma forma dialética de se pensar). Em resumo, são todos os pensamentos, comportamentos e atitudes que criticam a realidade na qual se vive, pretendendo chegar a um conhecimento novo e diferente do real. Geralmente isso acaba criando movimentos revolucionários ou de resistência e, quanto de trata de uma ação individual, pode gerar uma escola de pensamento. Personagens históricas desviantes, por exemplo, Sócrates, Jesus Cristo, Che Guevara, 2Pac, entre outros, foram grandes precursores de filosofias negativas em suas respectivas épocas. O racionalismo de René Descartes, o iluminismo do século XVIII, os socialismos utópico e científico, os anarquismos, entre outras correntes de pensamento, representam formas negativistas de se pensar e agir. 
	A filosofia positiva, em contraponto, atua de forma extremamente oposta, caso comparada com a filosofia negativa, logo, é possível de ser compreendida como um pensamento que conserva a realidade tal como ela está, independente da realidade que se pretende manter8O nazismo, por exemplo, é o movimento mais positivista que a sociedade humana já conheceu, nunca em toda a história algum governo se apegou tanto, e de forma tão violenta ao capitalismo, como os nazistas o fizeram.
. Sua essência é analisar o fato, tal qual ele é, desconsiderando toda e qualquer questionamento sobre o que ele pode ser (a não ser que for pra aperfeiçoar aquilo que já existe). Em outras palavras, a filosofia positiva agarra-se com unhas e dentes à realidade, defendendo a qualquer custo o status quo, mesmo que para isso tenha que usar de violência para com os membros desviantes da sociedade que querem viver sobre outra realidade. Autoridades vigentes como, Meleto que apresentou a acusação contra Sócrates sob as ordens de Anito; o governo romano que assassinou Jesus, o grupo da CIA responsável pela tortura e morte de Che Guevara, o assassino de 2Pac, entre outras entidades responsáveis pela promoção da filosofia positiva na sociedade. Os defensores
do romantismo no século XVI, do absolutismo no século XVIII e do capitalismo, a partir do século XIX, podem ser entendidos como emblemas de movimentos positivistas.
	Os tês estágios da evolução da humanidade
	O positivismo de Comte pode ser sintetizado em uma lei fundamental que consiste em pensar em todo o conhecimento humano como sendo constituído por meio de um movimento sucessivo e inevitável, dividido em três estágios evolutivos da humanidade: estado teológico ou fictício; estado metafísico ou abstrato e estado científico ou positivo. Isso significa dizer que o ser humano apresenta três visões de mundo distintas que variam de acordo com o momento no qual se encontra a evolução do espírito dos seres humanos. Na ótica de Comte, o primeiro estágio representa a origem de toda a inteligência humana; o segundo, pode ser entendido como o momento de transição para o terceiro período que significa o fim da história, o patamar máximo da evolução humana. Tendo deixado clara a função de cada estágio, precisamos agora discutir sobre as características específicas de cada um deles. Sendo assim, podemos afirmar que no estágio teológico o espírito humano é dirigido essencialmente pelos conceitos e forças sobrenaturais responsáveis pela ordem do universo. Tais ideias surgem da ação e da imaginação dos seres humanos, provenientes da relação direta com seu meio. Já no estágio metafísico, não são mais os seres sobrenaturais que organizam e dão sentido a vida humana, em seu lugar as forças e leis abstratas, tais como a matemática e a ideia da existência de um deus único e todo poderoso ganham legitimidade. A própria razão surge aqui, de uma maneira embrionária e muito misturada com a religião, do mesmo modo, a experiência se origina como uma forma básica de conhecimento. Por fim, no estágio positivo será possível vivenciar o fim de todo pensamento abstrato e metafísico (reflexões sobre Deus, alma humana e a origem do universo), reinando apenas a razão científica que constituirá a única fonte possível de se chegar a verdade última dos fenômenos naturais e sociais. 
	Estática social e dinâmica social
	Outro aspecto essencial da filosofia positivista, além da noção dos “três estágios da evolução do espírito humano”, é entender a noção de Sociologia9A filosofia surge na história sempre de forma negativa, mas Comte queria uma filosofia que fosse essencialmente positiva, por isso fundou a Sociologia, uma espécie de modo de pensar a realidade, o qual tivesse esvaziado todo o seu caráter negativo, bem como, se apegado totalmente a sua tendência positiva, transformando-se assim, em uma ciência. Depois de Comte a sociologia transformou-se muito e a maioria dos sociólogos que surgiram buscavam retomar a sua qualidade filosófica negativa.
 comteana que consiste em duas regras básicas: a estática social e dinâmica social. A primeira regra consiste em compreender os fundamentos da sociedade, ou seja, tudo aquilo que a mantém em harmonia e coesa. A segunda regra, pressupõe a existência de apenas um movimento dentro da sociedade, ou melhor, uma transformação possível para o meio social, isto é, o aperfeiçoamento daquilo que já existe. A sociedade capitalista do século XIX, segundo Comte, havia chegado no ápice de seu desenvolvimento, por isso não poderia mais existir revoluções ou transformações radicais, apenas alguns avanços técnicos para manter o pensamento científico dinâmico. Em resumo, a primeira lei da sociologia pode ser entendida como ordem (deve se manter a ordem atual, não permitindo revoluções ou pensamentos muito radicais) e a segunda lei é o progresso (só há uma transformação possível, ou seja, pequenos aperfeiçoamentos na ciência da época).
	Religião e superação pelo tempo
	O pensamento de Comte no desenrolar da sua vida (já discutida no começo da aula), acabou tornando-se tão metafísico que se metamorfoseou em uma religião. Comte desejava realizar uma reforma nas instituições políticas para que elas proporcionassem a chegada do estado positivo, no qual não haveriam mais guerras, o comércio triunfaria como forma básica de relação social e a paz reinaria sobre os seres humanos. Nesse estágio, os cientistas – principalmente os biólogos e sociólogos – estariam no patamar mais elevado da sociedade, concentrando em si a autoridade absoluta da sociedade, portanto, seriam responsáveis pela arquitetação da ordem social. Mediante a tais ideias, Comte conseguiu cativar alguns corações principalmente de alguns intelectuais conservadores e do exército brasileiro, bem como se tornou o lema da bandeira de nosso país: “ordem e progresso”, derivada do lema positivista: “amor, ordem e progresso”. Contudo, a teoria positivista cai completamente por terra no início do século XX, quando a sociedade capitalista caminhou para guerra, para a barbárie e pra a violência extrema, em vez de caminhar para o progresso, para o desenvolvimento e para a paz, tal como, os positivistas acreditavam.
Referências Bibliográficas
GIANNOTTI, J. A. Vida e obra. IN: COMTE, A. Curso de filosofia positiva; Discurso sobre o espírito positivo; Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista (coleção os pensadores). São Paulo: Editora Abril Cultural, 1978. p. 9 – 32.
COMTE, A. Curso de filosofia positiva (coleção os pensadores). São Paulo: Editora Abril Cultural, 1978. p. 33 – 45.

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